No dia em que o Brasil registrou a perda de 1.188 vidas em 24 horas, no qual o total de mortos cruzou a linha dos vinte mil e o número de vítimas dobrou em 12 dias, o presidente Jair Bolsonaro procurou enfim parlamentares e governadores pedindo trégua. “Quero exaltar a forma com que essa reunião está sendo conduzida”, afirmou o governador paulista João Doria, durante a teleconferência. Bolsonaro pedia apoio para manter no Congresso os vetos a reajustes dos funcionários públicos. “A cota de sacrifício dos servidores, pela proposta que está aqui, é não ter reajuste até 31 de dezembro do ano que vem”, pediu. “É assim que vamos construir nossa política, nos entendendo cada vez mais.” Em contrapartida, prometeu soltar ajuda financeira a estados e municípios, o que foi cobrado pelo presidente da Câmara, Rodrigo Maia. “A união de todos no enfrentamento à crise vai criar com certeza as condições para que no segundo momento possamos tratar do pós-pandemia da recuperação econômica, da recuperação dos empregos.” (G1)
Cristiana Lôbo: “ O ministro da Fazenda, Paulo Guedes, disse ter sentimento de alívio com o resultado da reunião entre o presidente Jair Bolsonaro e governadores. ‘Nossa democracia é barulhenta, mas é virtuosa. E faz as entregas necessárias’, disse o ministro, numa referência aos conflitos que marcam a relação entre os poderes. Para ele, na hora necessária, todos convergiram. ‘Parecia que o presidente Bolsonaro era só economia e que os governadores eram só saúde. Agora, está todo mundo junto’, disse o ministro a respeito do aval dos governadores ao veto presidencial à possibilidade de aumento dos servidores públicos.” (G1)
Pois é... Mas a pressão por volta às ruas, ao trabalho cotidiano, se manteve. Após reunião pessoal com o presidente, no Planalto, o prefeito carioca Marcello Crivella saiu falando em reabrir a cidade. O pedido lhe foi feito pelo próprio Bolsonaro. Crivella foi ao encontro precisando de ajuda. Não tem em caixa os R$ 1,1 bilhão necessários para pagar o funcionalismo público municipal este mês, informa Berenice Seara. (Extra)
A ofensiva política em busca de base que o sustente tem frentes por todo lado. Ao todo, os cargos oferecidos pelo Planalto a PP, PL, Republicanos e PSD — o Centrão — somam um orçamento de R$ 86 bilhões. Só o Fundo Nacional de Desenvolgimento da Educação, do MEC, tem em caixa R$ 54 bilhões. (Globo)
Marcelo de Moraes: “O clima de beligerância alimentado pelo presidente e por seus seguidores contra Congresso, Judiciário e governadores produziu uma crise política que deixou o Brasil vulnerável na luta para conter os efeitos do coronavírus. Por isso, os presentes ao encontro fizeram questão de lembrar da importância que essa paz seja estabelecida para valer e os gestos sejam os mesmos diante e distante das câmeras. É sintomático que o agravamento da crise, a sombra de investigações e a queda nas pesquisas de opinião pública resultem num movimento de tentativa de reaproximação política da parte de Bolsonaro. O presidente nunca esteve tão pressionado e desgastado como acontece neste momento. E os grupos que foram alvos constantes dos seus ataques não esqueceram como foram tratados. O fim para valer da guerra política vai depender dos próximos gestos do presidente.” (BR Político)
Bolsonaro está sob pressão de criar notícias boas, e não à toa — o decano do Supremo, ministro Celso de Mello, decide até 17h de hoje se levanta o sigilo na íntegra ou parcialmente do vídeo que registra a reunião ministerial na qual sobraram palavrões, ofensas ao STF e à China, e principalmente ameaça de intervenção na Polícia Federal. Segundo testemunho de quem assistiu, o presidente queria proteger filhos e um amigo. (Estadão)
Aliás... Moro falou à Time sobre a possibilidade de ser candidato. Disse não com discurso pronto. “Não estou preocupado com isso no momento”, afirmou, “acabou de deixar o governo. Preciso restabelecer minha vida pessoal e estamos no meio de uma pandemia. Não entrei no governo para servir a um mestre, mas para servir a meu país e à lei.” (Time)
Regina Duarte: “Ao aceitar o convite para ocupar a Secretaria Especial da Cultura, tinha plena consciência de que minha gestão seria alvo de críticas. Assumi a missão com a firme convicção de que, para contribuir com a cultura brasileira, teria que enfrentar interesses entrincheirados em ideologias cujo anacronismo não parece suficiente para sepultá-las. O que me causa espanto, isto sim, é a total ausência de substância das sentenças condenatórias que me dirigem na praça pública das redes sociais – esse potente megafone usado por grupos organizados dentro e fora da classe artística. Com o Brasil irremediavelmente polarizado, o posto de projeção que ocupei parece ter servido de instrumento a enfurecidos gladiadores entrincheirados nos dois extremos do espectro político. Amo meu país, sim, e tenho deixado isso sempre bem claro, a ponto de, numa recente entrevista à TV, ter cantado a conhecida marchinha dos anos 70, que fala de ‘todos ligados na mesma emoção’. Nada a ver com defesa da ditadura, como quiseram alguns, mas com o sonho de brasilidade e união que venho defendendo ao longo de toda a minha vida. E me desculpo se, na mesma ocasião, passei a impressão de que teria endossado a tortura, algo inominável e que jamais teria minha anuência, como sabem os que conhecem minha história. Dito isso, não será o veneno destilado nas redes sociais que me fará silenciar nem renegar amor à minha pátria. O que mais me dói é ver o Brasil à mercê de uma ignóbil infodemia, termo cunhado para designar a pandemia de informações tendenciosas em que conta o viés de quem as veicula e não o factual isento, não a verdade.” (Estadão)
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