segunda-feira, 18 de maio de 2020

Análise de Mídia 18/05

DOS JORNAIS DE HOJE: As capas destacam diferentes aspectos da crise brasileira. Folha e O Globo chamam atenção para a relevância da entrevista concedida pelo empresário Paulo Marinho à Folha, no domingo. A PGR decidiu investigar se houve contato entre a PF e o clã Bolsonaro. O Estadão destaca que existe uma “bola de neve” fiscal nas contas públicas e o Valor Econômico mostra que as empresas estão sofrendo perdas bilionárias.
O noticiário político da Folha de S. Paulo informa sobre as repercussões da entrevista de Paulo Marinho e das manifestações do último domingo. Em Brasília, Jair Bolsonaro foi ao ato acompanhado de 11 ministros, muitos deles militares da reserva. As faixas de apoio a pautas antidemocráticas foram escondidas, de acordo com o jornal. Mesmo assim foi possível ver algumas. No jornal O Globo, o noticiário sobre política mostra como o negacionismo presente no governo prejudica o país e aponta também que perfis virtuais falsos espalham mensagens defendendo e incentivando o uso da cloroquina no combate ao coronavírus. O jornal apresenta também a íntegra do artigo redigido pela Comissão Arns sobre a impossibilidade de que Jair Bolsonaro continue no cargo. No Estadão, o caderno sobre política denuncia que o governo federal esconde gastos do cartão corporativo. Já o Valor Econômico mostra que a incógnita sobre Hamilton Mourão breca a possibilidade de um processo de impeachment de Bolsonaro. A reportagem tem um trecho que deixa evidente o golpe de 2016. O jornal também publica reportagem mostrando que militares de baixa patente não apoiam o ideal golpista do presidente da República.
O noticiário econômico de segunda-feira costuma ser mais vazio. A Folha trata da retomada das atividades por algumas montadoras e traz a perspectiva do secretário da Fazenda sobre a atual crise. O jornal O Globo publica reportagem sobre concessões de estradas e aeroportos. O governo deve rever contratos. O Estadão trata da situação fiscal da economia brasileira e publica reportagem sobre o grande temor do mercado financeiro: a demissão de Paulo Guedes. Já o Valor Econômico informa que os mais pobres podem perder 30% da renda. O jornal publica artigo assinado por Armínio Fraga e Ilan Goldfajn em defesa do sistema financeiro brasileiro.
 
CAPA – Manchete principal: *”PF investigará relato sobre alerta a Flávio Bolsonaro em 2018”*
EDITORIAL DA FOLHA - *”Salvo-conduto”*: As decisões concretas de Jair Bolsonaro, com exceções cada vez mais raras, são guiadas pelo objetivo de proteger suas tropas —ele próprio, família, aliados e corporações do serviço público, em particular policiais e Forças Armadas. Publicada na quinta-feira (14), a medida provisória 966, que pretende aumentar a imunidade de servidores contra processos civis e administrativos, é um exemplo dessa exorbitância corporativista. Entre especialistas do direto, o texto foi considerado de baixa qualidade técnica e vago o bastante para, no limite, conceder carta branca a funcionários do Estado —e talvez também a Bolsonaro e seus auxiliares de primeiro escalão. A MP determina que, no enfrentamento da pandemia de Covid-19 e seus impactos sociais e econômicos, agentes públicos somente poderão ser responsabilizados “se agirem ou se omitirem com dolo ou erro grosseiro pela prática de atos relacionados, direta ou indiretamente, com as medidas”. Diz ainda o texto que o “mero nexo de causalidade entre a conduta e o resultado danoso não implica responsabilização do agente público”. Soa como um salvo-conduto, em que provas de ação daninha são tornadas quase irrelevantes. A responsabilidade deixa de ser objetiva? Consultados em reserva, ministros do Supremo Tribunal Federal consideram que a medida atenta contra a Constituição.
Os critérios de enquadramento das atitudes dos servidores se mostram fluidos. Institui-se um princípio de irresponsabilidade jurídica e, em decorrência, um incentivo para o cometimento de irregularidades, dada a frouxidão do dispositivo legal baixado por Bolsonaro. Parece inviável, por exemplo, comprovar o que constitui um erro “grosseiro”. Trata-se de “erro manifesto, evidente e inescusável praticado com culpa grave, caracterizado por ação ou omissão com elevado grau de negligência, imprudência ou imperícia”, lê-se na MP. A uma subjetividade essencial são juntados predicados vaporosos. Com boa vontade, pode-se dizer que a MP parece derivada, em tese, da boa intenção de evitar a paralisia decisória devido a rigorismos indevidos na fiscalização de atos de agentes públicos. O mesmo objetivo deu origem à controversa lei 13.655/18, de teor semelhante —contestada pela comunidade jurídica e por órgãos de controle, bem como alvo de questionamento no Supremo. Se pode existir o problema, a emenda piorou o soneto, com o acréscimo de insegurança jurídica. Não será por meio de mais uma tentativa de estabelecer um excludente de ilicitude —para usar um termo da agenda policial cara a Bolsonaro— que vão se corrigir falhas legais ou punições extravagantes de funcionários públicos. No fim das contas, o presidente mexeu de modo açodado com uma legislação estabelecida e orientada pela Constituição. Causa indignação, mas não espanto.
PAINEL - *”Para ministros e procuradores, relato de vazamento a Flávio reforça suspeita de que Bolsonaro temia investida contra filhos”*: Procuradores e ministros de tribunais superiores avaliam que o relato de Paulo Marinho à Folha, sobre o vazamento de uma investigação ao senador Flávio Bolsonaro (Republicanos-RJ), filho de Jair Bolsonaro (sem partido), gera mais implicações políticas para o mandatário. A análise é que a acusação do empresário corrobora a suspeita de que o presidente se referia a preocupações sobre investigações da Polícia Federal contra a família quando tratou do tema em reunião ministerial no dia 22 de abril. Para esses integrantes do MPF e magistrados, a investigação sobre o vazamento, que já é feita por um grupo de procuradores do Rio de Janeiro, deverá se encontrar com o inquérito do STF (Supremo Tribunal Federal) sobre as acusações de Sergio Moro de que Bolsonaro tentou interferir na PF. Segundo transcrição do vídeo do encontro com ministros, Bolsonaro disse: "Já tentei trocar gente da segurança nossa no Rio de Janeiro oficialmente e não consegui. Isso acabou. Eu não vou esperar f. minha família toda de sacanagem (...)". O presidente tem dito que se referia à troca na equipe da segurança pessoal da família.
PAINEL - *”Bolsonaro indica a aliados que pode demorar para escolher novo ministro da Saúde”*: O presidente Jair Bolsonaro disse a aliados neste final de semana que não quer ser açodado na escolha do futuro ministro da Saúde que entrará no lugar de Nelson Teich, que pediu demissão na última sexta (15). Por isso, cresce entre assessores do presidente a avaliação de que o general Eduardo Pazuello, ministro interino, ficará à frente da pasta por pelo menos mais uma semana. O presidente indica que, enquanto não tiver segurança na escolha, pode deixar Pazuello no comando até o fim da pandemia. Avalia que seria menos traumático do que ter de promover mais uma troca na chefia do ministério. Nos últimos dias, mais nomes foram levados ao crivo de Bolsonaro. O pediatra e toxicologista Anthony Wong e o virologista Paolo Zanotto, professores da USP, passaram a ser citados como opções, apoiados pelo núcleo ligado ao clã Bolsonaro. Ambos já deram declarações favoráveis ao uso da cloroquina em casos leves de coronavírus. Médicos consultados pelo Ministério da Saúde dizem que está pronta a nova diretriz da pasta que autoriza o uso da cloroquina em quadros leves de covid-19 mesmo sem evidências científicas que apontem eficácia. O documento segue o modelo do parecer do CFM (Conselho Federal de Medicina) e libera o remédio a critério médico e desde que o paciente seja informado dos riscos que corre.
+++ Os militares se portam como sendo figuras dignas de respeito e honradas, simplesmente, por serem integrantes das Forças Armadas. Entretanto, cabe questionar qual é o significado de um militar que apenas cumpre as ordens genocidas de um desequilibrado na presidência da República. Os militares que integram o governo precisam arcar com consequências por fazer parte da equipe de Jair Bolsonaro
PAINEL - *”Integrantes do STJ relatam a deputados incômodo com possível criação de novo TRF”*
*”Polícia Federal vai investigar relato sobre vazamento de operação a Flávio Bolsonaro”* - A Polícia Federal vai investigar o relato do empresário Paulo Marinho à Folha sobre suposto vazamento de uma investigação da Polícia Federal ao senador Flávio Bolsonaro (Republicanos-RJ), filho do presidente Jair Bolsonaro (sem partido). Além de apurar o vazamento, a pedido da PGR (Procuradoria-Geral da República) a PF vai ouvir o depoimento de Marinho no inquérito já aberto para investigar, com base em acusações do ex-ministro Sergio Moro (Justiça), se o presidente Bolsonaro tentou interferir indevidamente na corporação. O caso agora passa a ser objeto da investigação instaurada com autorização do STF (Supremo Tribunal Federal) a partir do rompimento entre Moro e o presidente. Ainda não há data para esse depoimento. Após apuração da PF nesse inquérito, a PGR avalia se haverá acusação contra Bolsonaro. Caso isso ocorra, esse pedido vai para a Câmara, que precisa autorizar sua continuidade, com voto de dois terços. Em caso de autorização, a denúncia vai ao STF —que, se aceitar a abertura de ação penal, leva ao afastamento automático do presidente por 180 dias, até uma solução sobre a condenação ou não do investigado.​
Neste domingo, em nota, a PF afirmou que a reportagem aponta "a eventual atuação em fatos irregulares, de pessoa alegadamente identificada como policial federal, no bojo da denominada operação". "Todas as notícias de eventual desvio de conduta devem ser apuradas e, nesse sentido, foi determinada, na data de hoje [17], a instauração de novo procedimento específico para a apuração dos fatos apontados." Segundo a PF, a operação policial foi deflagrada no Rio em 8 de novembro de 2018, tendo os mandados judiciais sido expedidos pelo TRF-2 (Tribunal Regional Federal da 2° Região), a partir de representação do Ministério Público Federal, em 31 de outubro, "portanto, poucos dias úteis antes da sua deflagração". Também neste domingo o juiz federal Abel Gomes, relator da operação Furna da Onça no TRF-2, afirmou em nota que operação foi adiada para não interferir no resultado das eleições de 2018. “[A operação] poderia suscitar a ideia de uso político de uma situação que era exclusivamente jurídico-criminal, com o objetivo de esvaziar candidatos ou até mesmo partidos políticos, quaisquer que fossem, já que os sete deputados alvos da Furna da Onça eram de diferentes partidos.” “Tratou-se de precaução lídima, lógica e correta das autoridades envolvidas na persecução penal: a Justiça Federal, o Ministério Público Federal e a Polícia Federal”, completou o juiz. Ainda segundo a PF, uma notícia anterior de vazamento da operação foi apurada por meio de um inquérito já relatado —a nota da PF não diz quais foram as conclusões dessa apuração.
A pedido da PGR, Miguel Ângelo Braga Grillo, o coronel Braga, chefe de gabinete de Flávio, também terá de prestar depoimento à PF. Segundo disse Marinho, ele teria recebido um telefonema desse delegado da PF e ido até o local em que a informação sobre a operação foi vazada. Outro pedido da PGR é para a obtenção da cópia integral, em meio digital, do inquérito da PF que já apurou, em outra oportunidade, supostos vazamentos relativos à Furna da Onça. Em reação às revelações feitas à Folha, senadores e deputados cobraram neste domingo investigação para apurar se Flávio foi informado antes pela Polícia Federal sobre a operação. Líder da minoria no Senado, o senador Randolfe Rodrigues (Rede-AP) classificou as declarações como "gravíssimas" e afirmou que elas revelam "a interferência de Bolsonaro e de sua família na PF antes mesmo do início de seu governo". Assim como Randolfe, a defesa do ex-ministro da Justiça Sergio Moro também estudava pedir o depoimento de Marinho no inquérito. A avaliação é a de que o relato pode reforçar a narrativa de Moro. O ex-ministro da Justiça disse em depoimento à PF que Bolsonaro queria interferir na corporação. "Espero que os fatos revelados, com coragem, pelo Sr. Paulo Marinho sejam totalmente esclarecidos", afirmou Moro em seu perfil no Twitter neste domingo.
Oposicionistas também foram às redes sociais para propor a criação de uma CPI e a anulação da última eleição. O candidato derrotado no pleito presidencial de 2018, Fernando Haddad, postou em rede social: "Conforme suspeita, suplente de Flávio Bolsonaro confirma que PF alertou-o, entre o 1° e o 2° turno, de que Queiroz seria alvo de operação, que foi postergada para evitar desgaste ao clã durante as eleições. Isso se chama fraude!" O deputado federal Marcelo Freixo (PSOL-RJ) usou a mesma rede social para se manifestar. "Fraude eleitoral! A operação que revelou o esquema das rachadinhas gerenciadas pelo Queiroz no gabinete do Flávio Bolsonaro foi adiada pela PF para depois da eleição presidencial para não prejudicar o chefe da máfia, Jair Bolsonaro. CPI já para investigar esse crime", escreveu o congressista. O deputado federal Kim Kataguiri (DEM-SP), do MBL (Movimento Brasil Livre) afirmou que a denúncia é grave. "Sendo comprovada, o TSE pode cassar a chapa de Bolsonaro e Mourão, dando margem para que ainda em 2020 haja novas eleições presidenciais, pois se trata de uma clara interferência da PF do Rio no pleito", publicou Kataguiri. Essa não é a primeira vez que é levantada a suspeita de vazamento na operação Furna da Onça. No momento da prisão dos investigados em novembro de 2018, os policiais encontraram um cenário com casas sem computadores, WhatsApp sem conversas e um investigado vestindo roupa social às 6h com um diploma devidamente separado. Com base nesses indícios, o juiz federal Abel Gomes converteu em prisão preventiva (sem prazo para acabar) a prisão temporária de dez investigados, entre eles seis deputados. Na ocasião, o magistrado também manteve outros três parlamentares na cadeia.
*”Oposição e Moro cobram, e PGR estuda investigar relato de vazamento a Flávio Bolsonaro”*
*”PGR pede, e empresário que relatou vazamento a Flávio Bolsonaro vai depor à Polícia Federal”*
*”Oposição mira Flávio Bolsonaro e quer ouvir empresário sobre vazamento da PF no caso Queiroz”* - (...) Para Orlando Silva (SP), líder do PC do B na Câmara, as declarações do empresário também explicam a “obsessão” de Bolsonaro em interferir na PF. “Paulo Marinho indica que essa é a razão da obsessão de Jair Bolsonaro em interferir na Polícia Federal, particularmente na superintendência do RJ. Lembram quando ele disse que "não iria visitar o filho na Papuda"? Pois é, talvez ainda acabem sendo companheiros de cela”, disse, em publicação no Twitter. O líder do PSOL na Câmara, Ivan Valente, afirmou que, se comprovadas as acusações, o interesse do presidente na PF do Rio estaria explicado. “Quando o delegado da PF ‘vazou’ para Flávio a operação que pegaria Queiroz, Ramagem [Alexandre Ramagem, diretor-geral da Abin] já era o responsável pela segurança do Jair Bolsonaro. O que ele tem a dizer sobre isso? O fortíssimo interesse na Superintendência do Rio está mais do que explicado”, disse. Para Valente, as acusações provam que houve fraude nas eleições. “Sim, houve fraudes nas eleições. Mas, o óbvio, não foi quem perdeu quem fraudou”, disse pelas redes sociais. “Num país com 'instituições funcionando' levaria à cassação da chapa e novas eleições”, afirmou Valente.
Ramagem, citado por Valente, é o atual chefe da Abin, agência federal de inteligência. Bolsonaro tentou colocá-lo como diretor-geral da Polícia Federal, mas a nomeação foi barrada pelo Supremo. A troca n comando da PF foi o estopim para o pedido de demissão de Sergio Moro do Ministério da Justiça. Ramagem é homem de confiança do presidente e de seus filhos. Delegado de carreira da Polícia Federal, o delegado se aproximou da família Bolsonaro durante a campanha de 2018, quando comandou a segurança do então candidato a presidente. Em 2017, Ramagem integrou a equipe responsável pela investigação e inteligência de polícia judiciária na Operação Lava Jato. Ramagem foi o responsável na PF pela Operação Cadeia Velha, que prendeu em novembro de 2017 três deputados estaduais da cúpula do MDB-RJ (Jorge Picciani, Paulo Melo e Edson Albertassi). Na ocasião, o delegado era o responsável por coordenar o trabalho da PF junto ao Tribunal Regional Federal da 2ª Região, no Rio de Janeiro —foro no qual os deputados foram investigados. A segunda fase dessa investigação foi a Furna da Onça, cujo início contou com o relatório federal que citava as movimentações suspeitas de R$ 1,2 milhão de Queiroz e outros 74 assessores de deputados da Assembleia. Ramagem não atuou na Furna da Onça na PF e encerrou seu relatório sobre a Cadeia Velha em dezembro de 2017. O relatório federal de inteligência financeira que indicou a movimentação de Queiroz foi produzido e enviado aos órgãos de investigação em janeiro de 2018.
+++ A reportagem também trazia a perspectiva de Randolfe Rodrigues, mas é a mesma já exposta em reportagem anterior nessa mesma edição.
*”Flávio Bolsonaro reage a declarações de empresário e aponta 'invenção de alguém desesperado e sem voto'”* - O senador Flávio Bolsonaro (Republicanos-RJ) classificou a entrevista à Folha de seu suplente, Paulo Marinho, de "invenção de alguém desesperado e sem votos". Em nota neste domingo, Flávio disse que Marinho "preferiu virar as costas a quem lhe estendeu a mão" e trocou a família Bolsonaro pelos governadores João Doria (PSDB), de São Paulo, e Wilson Witzel (PSC), do Rio de Janeiro. O ex-aliado de Bolsonaro é pré-candidato à prefeitura do Rio pelo PSDB. Flávio também alega que Marinho tem interesse em lhe prejudicar, já que, em caso de algum impedimento do hoje senador, é o seu substituto na Casa. "Ele sabe que jamais teria condições de ganhar nas urnas e tenta no tapetão. E por que somente agora inventa isso, às vésperas das eleições municipais em que ele se coloca como pré-candidato do PSDB à Prefeitura do Rio, e não à época em que ele diz terem acontecido os fatos, dois anos atrás?", escreve Flávio.
*”Chefe da Comunicação de Bolsonaro vê 'enredo de ficção' em fala sobre vazamento no caso Queiroz”* - O chefe da Secom (Secretaria de Comunicação da Presidência), Fabio Wajngarten, chamou neste domingo (17) de "incrível enredo ficcional" as declarações à Folha do empresário Paulo Marinho (PSDB-RJ) sobre uma suposto vazamento de investigação da Polícia Federal ao senador Flávio Bolsonaro (Republicanos-RJ), filho do presidente Jair Bolsonaro (sem partido). Em rede social, ele afirmou ser “inverossímil a narrativa de oportunistas que buscam holofotes a qualquer preço”. “Precisam contratar um bom roteirista para dar credibilidade a esse incrível enredo ficcional. Meu apoio ao senador @FlavioBolsonaro e ao PR @jairbolsonaro por mais essa tentativa de atingi-los.”
*”Polícia volta a prender manifestantes bolsonaristas acusados de ameaçar ministro do STF”* - A Polícia Civil de São Paulo cumpriu mandados de prisão preventiva na noite deste sábado (16) contra dois manifestantes bolsonaristas que já haviam sido detidos no último dia 2, em manifestação em frente à casa do ministro do STF (Supremo Tribunal Federal) Alexandre de Moraes. Segundo a ordem de prisão, Antônio Carlos Bronzeri e Jurandir Pereira Alencar descumpriram as medidas restritivas a que estavam submetidos por conta da sua primeira detenção, da qual foram liberados após pagarem fiança. Eles não poderiam sair de casa à noite e nem se aproximar do ministro do STF. As prisões foram reveladas pelo G1 e confirmadas pela Folha. ​ No último dia 11, a dupla foi denunciada pelo Ministério Público de São Paulo por suspeita de ameaça, injúria e difamação contra o ministro do STF. No dia seguinte, a Justiça aceitou a denúncia, tornando-os réus. ​As prisões deste sábado são resultado de um novo inquérito da Polícia Civil. A dupla foi presa pelos crimes de desobediência, descumprimento de medida sanitária e incitação ao crime. Bronzeri e Alencar estavam em um acampamento de protesto contra o governador João Doria (PSDB) em frente à Assembleia Legislativa de São Paulo quando foram levados pela polícia ao 15º DP. Segundo apoiadores da dupla, eles não descumpriram medida restritiva porque deram às autoridades o endereço do acampamento como sendo seu endereço residencial.
Bronzeri faz parte da Frente Brasileira Conservadora e é figura conhecida em protestos recentes na capital paulista a favor do presidente Jair Bolsonaro, contra Doria e contra as medidas de isolamento social. Ele é um dos negacionistas do coronavírus —discursa nos atos afirmando que a doença não existe. A manifestação em frente à casa de Moraes foi em protesto pela sua decisão de suspender a nomeação de Alexandre Ramagem, feita por Bolsonaro, para a chefia da Polícia Federal. A Folha não conseguiu contato com a defesa dos manifestantes neste sábado, mas apoiadores afirmaram que a defesa irá fazer um pedido de habeas corpus.
*”Bolsonaro provoca nova aglomeração, evita ataque a Poderes e fala em resgate de valores”* - Ao voltar a participar neste domingo (17) de um ato com aglomeração em meio ao coronavírus, o presidente Jair Bolsonaro (sem partido) disse que o governo federal “tem dado todo o apoio” para atender doentes da Covid-19 e que o país sairá mais forte após essa pandemia.​ Antes da chegada de Bolsonaro ao protesto, seguranças da Presidência pediram aos manifestantes a retirada de faixas contra o Congresso e o STF (Supremo Tribunal Federal). Uma delas chamava os dois órgãos de “sabotadores” e pedia uma nova Constituição. “Manifestação pura da democracia. Estou muito honrado com isso. O governo federal tem dado todo o apoio para atender as pessoas que contraíram o vírus e esperamos brevemente ficar livre dessa questão, para o bem de todos nós. O Brasil, tenho certeza, certeza, voltará mais forte”, declarou Bolsonaro. Num aceno ao Congresso, alvo de ataques em atos anteriores, Bolsonaro falou em proporcionar “dias melhores para a nossa população, em especial pelos poderes Legislativo e Executivo”. Ele não citou, contudo, o Judiciário, que tem barrado algumas de suas medidas. O STF (Supremo Tribunal Federal) impediu a nomeação de Alexandre Ramagem, chefe da Agência Brasileira de Inteligência, para a direção-geral da Polícia Federal —Ramagem é próximo à família Bolsonaro.
Outro ponto de atrito com a corte é o inquérito que visa apurar se Bolsonaro tentou interferir indevidamente na PF. Ele foi autorizado pelo ministro Celso de Mello, após o ex-ministro da Justiça, Sergio Moro, romper com o governo fazendo acusações de ingerência na corporação. Nas últimas semanas, após sucessivos episódios de embate, Bolsonaro tem buscado uma aproximação com o centrão — grupo de partidos que tem maioria na Câmara — para formar uma base de apoio na Casa e evitar derrotas em projetos de seu interesse, além do avanço de um eventual processo de impeachment. Esse movimento envolve o loteamento de cargos no governo federal e em estatais. Bolsonaro atraiu para a sua base o presidente nacional do PTB, Roberto Jefferson, um dos condenados no esquema do mensalão. Na sexta (15), o presidente reconduziu para o conselho de Itaipu Binacional o ex-ministro Carlos Marun (MDB), um dos principais aliados do ex-presidente Michel Temer (MDB) e, quando deputado, integrante da tropa de choque do ex-presidente da Câmara Eduardo Cunha (MDB), condenado por corrupção na Lava Jato.
Também foi reconduzido aso colegiado o ex-deputado José Carlos Aleluia (DEM) —antigo cacique do partido e aliado próximo do prefeito de Salvador, ACM Neto. As tratativas com o centrão também envolveram a nomeação de de Fernando Marcondes de Araújo Leão como diretor-geral do Dnocs (Departamento Nacional de Obras Contra as Secas). O padrinho da indicação foi o deputado federal Sebastião Oliveira (PL-PE), alvo, no último dia 8, de uma operação da Polícia Federal contra desvio de recursos em obras na BR-101. Bolsonaro também fez gesto de reconciliação com o presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ), após estimular protestos contra o deputado e sugerir que ele lhe tramava um golpe. Na quinta (14), horas depois de acusar o congressista de querer ferrar o governo por entregar relatorias de projetos do Executivo à oposição, Bolsonaro “se reuniu com ele no Planalto. “Voltamos a namorar. Está tudo bem com o Rodrigo Maia", disse, na ocasião. “Queremos fazer um Brasil melhor para todos, agradeço a esse povo maravilhoso que está aqui, ao qual devo lealdade absoluta. É aquele que deve ditar as nossas normas e nosso norte. É o que precisamos: política ao lado do povo, tendo o povo como patrão”, afirmou o presidente na manifestação deste domingo.
​Em meio a uma crise política, o mandatário foi à rampa do Palácio do Planalto, juntamente com ministros e ao menos dois de seus filhos —o deputado Eduardo e o vereador Carlos— para saudar os manifestantes. Estavam com Bolsonaro os ministros Augusto Heleno (Gabinete de Segurança Institucional), Jorge Oliveira (Secretaria-Geral da Presidência), Bento Albuquerque (Minas e Energia), Tereza Cristina (Agricultura), Onyx Lorenzoni (Cidadania), Wagner Rosário (Controladoria-Geral da União), André Mendonça (Justiça) e Marcos Pontes (Ciência e Tecnologia). Bolsonaro baixou a máscara para falar em um momento, pegou bebês no colo e levantou as mãos de ministros, descumprindo recomendações de distanciamento social. Em vários momentos da manifestação, os participantes entoavam música exaltando a cloroquina, medicamento que o presidente defende com o panaceia na pandemia, mas sem comprovação de eficácia contra a Covid-19. Desde o início da pandemia, Bolsonaro tem minimizado o impacto do coronavírus e se colocado contra medidas de distanciamento social, atitude que culminou na demissão de dois ministros da Saúde no intervalo de um mês, Luiz Henrique Mandetta e Nelson Teich. Apesar de dizer lamentar as mortes, o presidente tem dado declarações às vezes em caráter irônico quando questionado sobre as perdas humanas com a Covid-19. Como na ocasião em que afirmou não ser coveiro ou quando disse: "E daí? Lamento. Quer que eu faça o quê? Eu sou Messias, mas não faço milagre."
Antes de descer para cumprimentar o público, ele declarou que, desta vez, não há “nenhuma faixa, nenhuma bandeira que atente contra a Constituição, contra o Estado Democrático de Direito”. Protestos anteriores, investigados pela PGR (Procuradoria-Geral da República), tinham pleitos antidemocráticos, como um golpe militar. “O que nós queremos é resgatar os valores que formam a nossa nacionalidade, respeitar a família”, afirmou o presidente. Antes da chegada de Bolsonaro ao ato, porém, seguranças do Planalto pediram a manifestantes a retirada de faixas contra o Congresso e o STF. A ação foi coordenada pelo general Luiz Fernando Baganha, secretário de segurança e coordenação presidencial do Planalto. Barganha, pessoalmente, pediu a um grupo de apoiadores afastar uma manifestante mais exaltada. A Folha presenciou Barganha orientando os seguranças sobre a maneira da abordagem. "Cheguem com calma. Peçam a retirada. Expliquem que uma conversa prejudicial ao presidente. Ele está muito preocupado com esse tipo de mensagem", afirmou Baganha a seus auxiliares. Os seguranças abordaram um grupo autointulado "Paraquedistas de Bolsonaro" que estava no local fazendo formação militares. Eles pediram que qualquer tipo de material potencialmente lesivo fosse retirado. Os militantes, uniformizados com camisas pretas e boina vermelhas, carregavam estiletes, canivetes e sprays de pimenta".
Durante o ato, uma apoiadora do presidente Jair Bolsonaro agrediu a repórter Clarissa Oliveira, da Band, com o mastro de uma bandeira do Brasil. A jornalista aguardava para gravar quando foi atingida na cabeça. De acordo com Clarissa, outros manifestantes vieram socorrê-la após o episódio. A Folha presenciou a exaltação da agressora contra a imprensa em dois momentos antes da agressão. A todo momento ela gritava “Globo lixo” e “jornalistas lixos”. A segurança do Planalto chegou a pedir para que manifestantes acalmassem a agressora, que chegou a sair do local do ato, mas voltou até a chegada de Bolsonaro.
+++ Jair Bolsonaro está se adaptando à nova realidade do país. Ele está pressionado pelo seu discurso radical, preso a uma lógica que é alvo de críticas e desapontamentos dos que o apoiavam ou não viam muito problema na sua forma de governar. Diante da mudança de postura do presidente, a Folha mantém a estratégia de apontar as contradições dele.
*”Ex-ministros da Defesa lançam manifesto e rechaçam pedidos de golpe militar a favor de Bolsonaro”* - Um grupo de ex-ministros da Defesa divulgou uma nota exortando as Forças Armadas a ignorar os pedidos por uma intervenção militar em favor do governo do presidente Jair Bolsonaro. Sem citar o atual ocupante do Palácio do Planalto, os ex-ministros pedem que os militares sigam a Constituição, que no seu artigo 142 determina que as Forças Armadas só podem ser convocadas a intervir para manter a ordem em caso de anarquia por algum dos Poderes constituídos. Nas últimas semanas, o presidente prestigiou dois atos de apoiadores de seu governo que pediam a ação dos militares na política, visando fechar o Supremo Tribunal Federal e o Congresso Nacional, instituições que na visão de governistas têm obstruído o Executivo. Neste domingo, houve nova manifestação na praça dos Três Poderes, mas os apoiadores de Bolsonaro foram orientados pela Presidência a retirar as faixas contra o Supremo presentes. O presidente também foi mais comedido na sua fala. Entre a ala militar do governo, a ideia de que há um cerco contra o Planalto é aceita, mas nota do ministro Fernando Azevedo (Defesa) após Bolsonaro ter participado de ato golpista no dia 3 passado buscou reafirmar o compromisso democrático das Forças. Tal leitura de cerceamento do governo federal é compartilhada pelos ministros militares, mas não é corrente na cúpula fardada do país até aqui. O manifesto dos ex-ministros ressalta o papel central que as Forças Armadas têm tido no combate da pandemia da Covid-19 e relembra o compromisso democrático do estamento militar com a Constituição. O texto diz que os apelos à intervenção militar merecem "veemente condenação". A Folha pediu a opinião de Azevedo sobre os termos do manifesto, mas ele preferiu não responder.
A interlocutores, o ministro se disse muito contrariado com a nota, que avaliou desconsiderar as duas manifestações anteriores que ele mesmo havia feito, apesar de o teor dos textos ser bastante semelhante no que tange o papel constitucional dos militares. O manifesto revelado pela Folha circulou por grupos de políticos, militares e membros do Judiciário ao longo do domingo (17). Três ministros do Supremo, que pediram para não serem identificados, consideraram a nota um marco importante na delimitação das tensões no país. Políticos e dois oficiais-generais da ativa ouvidos foram na mesma linha. O texto coroa uma semana complexa no campo militar. Na quinta passada (14), um artigo no jornal O Estado de S. Paulo do vice-presidente, general Hamilton Mourão, criticava duramente outros Poderes que não o Executivo, além da mídia, na condução da crise do coronavírus. Ao citar o risco à segurança que a crise pode criar, Mourão promoveu rumores de que estaria buscando intimidar o mundo político e judiciário, o que negou em conversas posteriores. Assinam o manifesto seis ex-ministros da Defesa, cinco de governos do PT e um, Raul Jungmann, da gestão de Michel Temer (MDB). Ficaram de fora os já mortos Élcio Álvares, Waldir Pires e José Alencar, além de Geraldo Quintão e Joaquim Luna e Silva, antecessor de Azevedo e hoje diretor-geral da Itaipu Binacional.
NOTA
As Forças Armadas são instituições de Estado com importante papel na fundação da nacionalidade e no desenvolvimento do país. Sua missão indeclinável é a defesa da pátria e a garantia de nossa soberania. Merecidamente, desfrutam de amplo apoio e reconhecimento da sociedade brasileira. Diante das imensas dificuldades decorrentes da crise imposta pela pandemia do coronavírus, cujos efeitos se alastram, de forma trágica, pelo Brasil, as Forças Armadas cumprem importante papel no enfrentamento das adversidades e na manutenção da unidade e do ânimo da população.
A democracia no Brasil, mais que uma escolha, conforma-se como um destino incontornável, que necessita da contribuição de todos para o seu aperfeiçoamento. A Constituição estabelece no seu artigo 142 que as Forças Armadas “destinam-se à defesa da pátria, à garantia dos poderes constituídos e, por iniciativa de qualquer destes, da lei e da ordem”. Não pairam dúvidas acerca do compromisso das Forças Armadas com os princípios democráticos ordenados pela Carta de 1988. A defesa deles tem sido, e continuará sendo, fundamento de sua atuação. Assim, qualquer apelo e estímulo às instituições armadas para a quebra da legalidade democrática –oriundos de grupos desorientados– merecem a mais veemente condenação. Constituem afronta inaceitável ao papel constitucional da Marinha, do Exército e da Aeronáutica, sob a coordenação do Ministério da Defesa.
É o que pensamos na condição de ex-ministros de Estado da Defesa que abaixo subscrevemos.
Aldo Rebelo
Celso Amorim
Jaques Wagner
José Viegas Filho
Nelson Jobim
Raul Jungmann
*”Resultado de teste de Mourão para Covid dá negativo, mas vice deve permanecer em isolamento”*
*”Na pandemia, deputados gastam com combustível, hotel e até posts privados”*
CELSO ROCHA DE BARROS - *”Em 2018, venceu quem fugiu da polícia”*
ENTREVISTA - *”Candidato do PT à Prefeitura de SP, Tatto quer tarifa zero e vê Covas sem liderança”*: Escolhido candidato do PT à Prefeitura de São Paulo neste sábado (16), por margem apertada de 312 a 297 votos contra o deputado federal e ex-ministro Alexandre Padilha, Jilmar Tatto critica a atuação do prefeito Bruno Covas (PSDB) na pandemia do coronavírus e defende propostas como tarifa zero para o transporte. Ex-deputado federal e ex-secretário de Transportes nas gestões petistas de Fernando Haddad e Marta Suplicy na prefeitura, Tatto foi definido em votação restrita num colégio de dirigentes partidários onde tem maioria de apoiadores —o que gerou protestos dos adversários na prévia. As palavras de ordem do agora pré-candidato são "diálogo" com partidos de esquerda para alinhar programas e fazer oposição ao presidente Jair Bolsonaro (sem partido) e "rede de proteção" da população vulnerável na pandemia. Tatto afirma que vai implementar a renda básica em São Paulo e que a recuperação da economia depende de um Estado forte. "Não podemos ter o Estado mínimo mais. Esse debate está vencido", afirma em entrevista à Folha. Para Tatto, Covas é um preposto do ex-prefeito e atual governador João Doria (PSDB) —e a dupla representa o Estado mínimo. O petista defende ainda a saída de Bolsonaro. "O prefeito não está à altura do cargo. O momento exige líderes, e isso não acontece no governo federal, não acontece no governo estadual e não está acontecendo na cidade de São Paulo", completa. Tatto diz considerar o ex-presidente Lula (PT) como um pai e defende o partido, que vem de sucessivas derrotas nas urnas. "A população começa a perceber que, na hora do aperto, é com o PT que pode contar", afirma. Sobre a acusação de que teria favorecido perueiros ligados à facção criminosa PCC, diz que se trata de um absurdo e que dedicou a vida a enfrentar a máfia dos transportes.
CORONAVÍRUS
Os governos precisam liderar esse processo. Estamos em estado permanente de guerra, o que exige unidade de ação. Isso não está acontecendo em relação ao governo Bolsonaro. E percebo que não está havendo coordenação na cidade de São Paulo, no sentido de otimizar recursos públicos, não pensar duas vezes antes de implementar uma cesta básica para todos ou criar uma renda básica da cidadania. Porque é uma cidade rica e isso não está acontecendo.
MEDIDAS
É preciso ampliar a rede de transporte, colocar 100% da frota de ônibus em circulação. Você anuncia que as pessoas têm que deixar o carro em casa e ao mesmo tempo não aumenta a frota, colocando em risco a segurança delas. O prefeito [Bruno Covas] não está à altura do cargo. O momento exige líderes, e isso não acontece no governo federal, não acontece no governo estadual e não está acontecendo na cidade de São Paulo. O prefeito travou as principais avenidas, fazendo com que pessoas que tinham que trabalhar em serviços essenciais não conseguissem circular. Depois teve que voltar atrás.
LOCKDOWN
Se a gente não tiver uma rede de proteção para as pessoas ficarem em casa, elas não vão ficar. Essa coisa de travar tudo [lockdown], quem ter que dizer são as autoridades de saúde. Se for necessário, tem que fazer. Para isso tem que ter coragem. A gente percebe que por parte do [governador João] Doria e do Bruno eles não estão tendo essa coragem. Primeiro tem que garantir que as pessoas fiquem em casa para não precisar disso. As pessoas estão saindo porque não estão sendo protegidas, é um problema anterior.
TRANSPORTES
Enfrentamos uma verdadeira máfia e reorganizamos o sistema, implantamos o Bilhete Único, 400 km de faixas exclusivas de ônibus, linhas noturnas e passe livre dos estudantes. Os corredores fizemos 92 km [a meta anunciada no início do governo de Fernando Haddad era 150 km]. Teve uma crise no governo federal, entraram com processo de deslegitimar o segundo mandato da Dilma [Rousseff]. E o corredor é caro, depende de recurso do governo federal. Mesmo assim, fizemos mais de 40 terminais de ônibus. Tinha outros programados, mas é uma área que eu tenho muito orgulho de ter participado.
PASSE LIVRE
Vou implementar tarifa zero de forma progressiva. Você tem vários financiamentos. Subsídio é um. Vale-transporte universal é outro, acabar com os 6% que o empregado paga. Tem recursos dos aplicativos [de transporte]. Você pode pegar das operações urbanas e ter uma Cide municipal [cobrada sobre combustíveis], que exige lei federal. Eu sei onde buscar os recursos. Quando você dá o transporte gratuito, aquece a economia. Pode começar a fazer de madrugada, aos domingos, às segundas para quem vai buscar emprego.
IMPOSTOS
A questão do IPTU progressivo sempre foi uma bandeira nossa. Quem ganha mais paga mais. Do ponto de vista proporcional, a mansão do Doria paga muito pouco. Vamos rever isso, além de rever toda a política de ISS [Imposto sobre Serviços]. Vamos rever todos os contratos. Há muita gordura nessas OSs [Organizações Sociais], empresas terceirizadas.
ESTADO MÍNIMO
Me comprometi com [o vereador Eduardo] Suplicy e nós vamos implantar a renda básica da cidadania na cidade. A visão que a gente tem é que não podemos ter o Estado mínimo mais. Esse debate está vencido. Mais do que nunca a população vai depender do Estado, e a prefeitura tem essa capacidade. Vou interromper as privatizações. Dilapidação do patrimônio público nunca é alternativa. Para retomar economia, precisamos do Estado forte e protetor.
ALIANÇAS
Temos que criar uma frente democrática e popular para derrotarmos o fascismo. [Com] Todos que estarão nesse projeto nós vamos dialogar. O PT tem uma força fantástica, tem experiência. Hoje mesmo conversei com o Orlando Silva [pré-candidato do PC do B], vou ligar para o Boulos [do PSOL], para a Marta [do Solidariedade], quero verificar como está o PDT, tenho uma boa relação com o Márcio França [do PSB]. Não é uma questão específica de São Paulo. Tem a ver com o Brasil.
PT
Quando o PT governou, a população reconheceu as coisas boas que fez. Esse auxílio emergencial, a proposta do PT era R$ 1.043. O Bolsonaro queria R$ 200. Acabou passando R$ 600. A proposta de garantia do emprego foi do PT. A população começa a perceber que na hora do aperto, é com o PT que podem contar.
MARTA VICE?
Conheço a Marta desde quando implementamos a merenda escolar, as subprefeituras, ressuscitamos o transporte. Fui secretário de Governo dela. Ela é querida ainda na cidade de São Paulo. Não sei nem se é candidata a prefeita ou a vice. Vou conversar com ela no sentido de criarmos um programa. Ainda não é o momento de falar de vice.
BOLSONARO E DORIA
Bolsonaro é um genocida. Ele tem de sair do governo, coloca em risco a vida das pessoas. Quer fechar STF, Congresso, não respeita o trabalho dos governadores, indica medicamentos fora da lista da OMS [Organização Mundial da Saúde]. Agora, a disputa em São Paulo é contra Doria também. Ele tirou o leite das crianças, não terminou os hospitais de Brasilândia e Parelheiros. Acabou com o passe livre dos estudantes. Covas é um preposto do Doria. A eleição tem três blocos: o nosso, o do fascismo e o do Estado mínimo.
LULA
O Lula é um líder mundial. Para mim é um grande conselheiro, é como um pai. Não tem dúvida nenhuma que vai estar na campanha. Assim como o Haddad. Fizemos muitas coisas boas juntos.
RELAÇÃO COM PERUEIROS
É um absurdo [a acusação de ter favorecido perueiros ligados ao PCC quando era secretário de Transportes]. Eu fui vítima. Não tem nem inquérito sobre isso. Nunca fui ouvido. Fui ameaçado de morte. Minha vida foi enfrentar a máfia dos transportes. Nem sei qual é a acusação. Na época foi perseguição do PSDB. Quem entende de PCC é o PSDB, não sou eu.
*”Home office na pandemia amplia desequilíbrio de gênero na Justiça”* - É uma conta que não fecha. Isoladas em casa, magistradas, advogadas, promotoras e servidoras do Judiciário buscam manter o ritmo de produção pré-pandemia enquanto lidam com os desafios de acesso e estrutura do trabalho remoto e acumulam tarefas domésticas e de cuidados com os filhos. Agora sem os tradicionais amparos de escola, redes de apoio ou trabalhadoras domésticas. Apesar de ter alterado profundamente a rotina da vida privada e as dinâmicas de trabalho, a pandemia do coronavírus não mudou um fator fundamental nessa equação: o dia continua a ter 24 horas. Antes da pandemia, mulheres gastavam, em média, o dobro de horas semanais que homens em atividades de cuidados com pessoas e com a casa, segundo pesquisa do IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística). Com o confinamento, a tendência é que esse abismo tenha se agravado, sobrecarregando ainda mais as mulheres. "Fomos encharcados por temas trabalhistas e temos a sensação de que o trabalho é algo permanente", afirma Noemia Porto, 48, presidente da Anamatra (Associação Nacional dos Magistrados da Justiça do Trabalho). "Mesmo a magistrada, em tese numa carreira que implica poder, faz audiências por videoconferência ao mesmo tempo em que cuida de filhos e pessoas idosas, ouvindo, aqui e acolá, que a produtividade é importante", diz ela, que se divide entre julgamentos, sessões virtuais do Conselho Nacional de Justiça, lives, tarefas da casa e demandas dos cinco filhos e da mãe. "Sou juíza do trabalho e sei, dos processos, como a falta de separação entre trabalho e casa gera sofrimento e angústia. Tento aplicar esse conhecimento a mim mesma, mas não é fácil."
Para ela, o que explica "a quantidade extravagante de homens dominando lives" na sua área, justamente aquela com maior presença de juízes do sexo feminino (47%), é o machismo estrutural, que torna homens e mulheres formalmente iguais mas substancialmente diferentes. "A sobrecarga doméstica traz dificuldades para que a mulher consiga se apresentar com tanta frequência no espaço público porque ela está absorvida pelo espaço privado." A divisão por gênero da Justiça é equânime entre servidores e advogados. Entre magistrados, à exceção da Justiça do Trabalho, ele é bastante desigual e também varia de acordo com a evolução da carreira: mulheres estão mais na base e menos no topo. Apenas 18% dos ministros e 23% dos desembargadores do país são mulheres. O Supremo Tribunal Federal, órgão máximo da Justiça do país, criado em 1890, teve apenas três ministras mulheres. Com isso, o Brasil tem a quarta menor taxa de mulheres em tribunais de cúpula dentre 39 países iberoamericanos analisados pelo Observatório de Igualdade de Gênero das Nações Unidas. "A baixa representatividade da mulher nas instâncias de poder e decisão do Judiciário faz com que sua perspectiva, diferente em razão de contextos históricos, sociais, culturais, não seja considerada", diz a juíza federal Tani Wurster, diretora da comissão que trata de igualdade de gênero na Ajufe (Associação dos Juízes Federais do Brasil). "Precisamos introduzir uma lente de gênero no exercício da prestação jurisdicional. Do contrário, ele pode violar direitos das mulheres."
A advogada Isabela Del Monde, 34, co-fundadora da Rede Feminista de Juristas (deFEMde) diz que essa é uma das causas de uma medida que criou uma situação injusta para as profissionais mulheres: a retomada dos prazos regulares em processos que tramitam em meio eletrônico. "Se a mulher está sobrecarregada com novas demandas, como ela vai dar conta dos mesmos prazos de antes?" A retomada dos prazos pelo CNJ foi feita após ação da OAB Federal, cuja diretoria é composta exclusivamente por homens. "O prazo é das coisas mais sérias e importantes do meio jurídico, e esse debate poderia ter ouvido as mulheres." Em nota a OAB informou que promoveu uma consulta online sobre o tema e que reconhece a necessidade "construir uma situação de equidade de gênero" na Ordem. Diante dos desafios impostos pela pandemia, magistrados, juristas e servidores têm lidado com questões essenciais à garantia de direitos: da viabilidade de teleaudiências à regulamentação de medidas de combate ao vírus, do aumento da violência doméstica à efetiva entrega da renda emergencial a quem mais precisa. "O sistema teve de se desdobrar, e estamos trocando o pneu com o carro andando", avalia Silvia Chakian, 45, promotora de Justiça do Gevid (Grupo Especial de Enfrentamento à Violência Doméstica e Familiar contra a Mulher), que viu aumentarem as notificações e medidas protetivas. "Eu estou com uma demanda gigantesca porque, além do aumento das notificações, as delegacias estão com menos atendimento e têm tirado o atraso de investigações, acelerando o andamento dos processos digitais", afirma ela, que transforma a mesa de jantar em escritório quando precisa acompanhar o homeschooling dos dois filhos. "Falta um olhar para a mulher que está em casa com os filhos e tem de cumprir os mesmos prazos de antes."
Para Silvia, o cenário é mais delicado entre servidoras e advogadas, muitas sem estrutura operacional e acesso a tecnologia para atuar no novo modelo. "A quarentena escancara esses abismos", diz ela, que, mesmo dividindo as tarefas domésticas e parentais com o marido, se sente sobrecarregada. "Sei que sou muito privilegiada, e isso me traz um pouco de culpa. Tem coisa muito mais grave por aí." Segundo Claudia Luna, presidente da comissão da mulher advogada da OAB-SP, "as profissionais do direito se vêem assoberbadas com o próprio trabalho, os afazeres domésticos, para os quais não têm mais suporte, nos quais se amparavam para alavancar suas carreiras, e se vêem assoberbadas com os cuidados com os filhos, sem creche e sem escola". "As mulheres são sub-representadas e sub-remuneradas e não conseguem encontrar soluções individuais para um problema estrutural", diz Tani, da Ajufe. "Precisamos achar soluções coletivas, ou vamos continuar ficando para trás." A advogada Thayná Yaredy, 33, mãe solo de um menino de 12 anos, nunca pode terceirizar nada além da educação do filho. "Sou uma mulher negra, mas sou advogada. Estudei, mas continuo precarizada. Se tivesse condições econômicas de ter alguém limpando a casa e fazendo comida, já teria feito meu doutorado", diz ela, que cursa mestrado em ciências humanas e sociais. "Moro no meu escritório e mal tenho tempo de comer. Se eu vacilar, coloco em risco nossas possibilidades de sobrevivência", diz.
Mesmo sub-representadas, as mulheres hoje ocupam a presidência de 3 das 7 principais associações de classe. A juíza Vanessa Mateus, 45, primeira mulher a presidir a Apamagis (Associação Paulista de Magistrados), maior entidade de juízes da América Latina, avalia que a mudança em direção a uma maior igualdade de gênero na Justiça caminha "num compasso muito lento". Sem deslocamentos nem interrupções da vida pré-pandemia, Vanessa, assim como muitos colegas, tem visto sua produtividade aumentar no período de home office. "Todo dia é segunda-feira. E vejo muita gente trabalhando no contraturno", diz. O grande desafio para ela é que trabalho e serviços da casa se misturam e ocorrem simultaneamente. "Você não consegue mais fazer essa separação. Fui pra cozinha fazer um arroz no final de uma reunião e deu tudo errado: errei na quantidade, errei no sal. E meus filhos tiveram de dividir um pouquinho de arroz pra cada um." "Tem um falseamento de valorização do home office porque você não se desloca, mas ele implica a possibilidade do que chamamos de autoexploração, um processo invisibilizado em que a pessoa fica na posição de produzir o tempo inteiro e com muita dificuldade de disciplina mental para organizar o tempo do rendimento do trabalho das demais atividades da vida", explica Noemia Porto, da Anamatra. Para ela, a produtividade em termos numéricos é um instrumental antigo —porque uma mente sobrecarregada é menos criativa e pior na busca de soluções. "Nada disso está sendo considerado agora", pondera ela, que chama atenção para o fato de as políticas elaboradas sobre o trabalho não terem contado com a participação de representantes mulheres.
A juíza federal Luciana Ortiz, 49, foi mais feliz na sua dobradinha reunião-produção do almoço. "A reunião não acabava. Fechei a câmera e comecei a fazer o almoço. Quando precisei me manifestar, desliguei o fogo, e voltei", conta. "É possível conciliar, mas confesso que estou cansada e sobrecarregada", diz ela, cofundadora do primeiro laboratório de inovação do Judiciário no Brasil e que vem trabalhando em soluções para teleaudiências. "Com três filhos, tenho um parceiro que efetivamente divide a estrutura familiar, mas é inegável que muitas mulheres têm uma cobrança maior em relação à casa e aos filhos, dificultando a atividade profissional", declara. Para a promotora Silvia Chakian, este é o momento de repensar o papel do cuidado. "O custo do papel de heroína, da mulher que dá conta de tudo, precisa ser debatido, porque faz mulheres adoecerem. Neste contexto, os homens são enaltecidos por fazer o que às mulheres foi ensinado como vocação. E esses valores não são mais compatíveis com a sociedade de hoje."
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*”Montadoras retomam atividade com ritmo reduzido e protocolo sanitário contra coronavírus”* - Abril já faz parte da história e seu resultado não deve se repetir em maio. Após o pior mês de produção nos 63 anos da automotiva nacional, as montadoras retomam lentamente as atividades. As fábricas começam a operar em turnos limitados e com novos protocolos de segurança sanitária. O reinício tímido ocorreu na virada do mês e agora começa a ganhar corpo, apesar de limitadas pela realidade de mercado. Há estoque suficiente para suprir quatro meses de comercialização no ritmo atual do varejo. Além disso, as vendas diretas a frotistas, que representam quase 50% do negócio, estão estagnadas. As locadoras, principais clientes desse segmento, estão recebendo milhares de carros de volta, devolvidos por motoristas de aplicativo. Os emplacamentos diários, que beiravam as 10 mil unidades antes da pandemia, caíram para cerca de 3.000. A Renault reabriu a fábrica de São José dos Pinhais (PR) no dia 4. Os funcionários encontraram tapetes para higienização dos calçados e divisórias de acrílico nos refeitórios para aumentar o distanciamento. A FCA Fiat Chrysler retoma a produção em Betim (MG) e Goiana nesta segunda (11). A empresa chama de Esquadrão SWAT Covid-19 o grupo de funcionários responsável pela higienização emergencial do ambiente. A equipe entra em ação caso seja detectado um caso suspeito na linha de montagem. Segundo a montadora, o perímetro em que o funcionário estava deve ser esterilizado com equipamentos e produtos específicos. Os responsáveis pela tarefa precisam vestir roupas semelhantes às usadas por profissionais da saúde nos hospitais de campanha.
A Hyundai do Brasil retomou a produção em Piracicaba (interior de São Paulo) na quarta (13). Apenas um dos três turnos voltou a funcionar, com 700 funcionários. O objetivo é abastecer as concessionárias de cidades em que o comércio permanece aberto. Um protocolo comum a todas as fabricantes prevê distância mínima de 1,5 metro entre os trabalhadores na linha de montagem, uso de máscara, diminuição do número de empregados por turno e medição diária da temperatura. As empresas negociaram reduções de carga horária e de salário com os sindicatos. Grande parte dos trabalhadores segue em lay-off (suspensão temporária do contrato de trabalho). As fábricas de caminhões da Mercedes-Benz em São Bernardo do Campo (Grande São Paulo) e Juiz de Fora voltaram a operar na semana passada. Segundo Philipp Schiemer, presidente da montadora na América Latina, metade dos funcionários voltou às linhas de produção. O executivo diz que a empresa vai concluir seu ciclo atual de investimentos —R$ 2,4 bilhões aplicados entre 2018 e 2022—, mas projetos futuros estão congelados. O faturamento da empresa caiu 80% no último mês. Schiemer afirma que as brigas políticas minaram a credibilidade do Brasil perante investidores e, por consequência, influenciaram a desvalorização do real. A Mercedes tem tido problemas com o câmbio, pois os conteúdos tecnológicos de seus caminhões mais modernos são importados. O executivo diz que, apesar da queda abrupta nas vendas, o segmento de veículos pesados tem sido menos afetado que o de carros leves. As razões disso estão no agronegócio e nas áreas que mantêm atividade em meio à pandemia, como os setores farmacêutico e de bebidas.
As exportações de modelos de carga também continuam, embora restritas. Esse foi um dos motivos que fez a Scania retomar a produção em São Bernardo do Campo no dia 27 de abril, junto com a Volkswagen Ônibus e Caminhões, que tem fábrica em Resende (RJ). Ambas as empresas fazem parte do grupo Traton. Cerca de 25% dos trabalhadores dessas empresas retornaram às linhas de montagem. As linhas de produção de veículos pesados da DAF e da Volvo no Paraná também voltaram à ativa. O retorno ocorreu no dia 4. No segmento de veículos leves, a produção na fábrica da Volkswagen de São José dos Pinhais (PR) recomeça nesta segunda (18). O principal veículo montado na unidade é o utilitário compacto T-Cross. As fábricas localizadas em São Paulo voltarão a produzir no dia 25. Essa é também a data prevista pela Moto Honda da Amazônia. Outras montadoras planejam retornar em junho, entre elas estão Ford, General Motors, Honda Automóveis e Toyota.
AÇÕES ADOTADAS PARA REABERTURA
Mais ônibus para transporte de funcionários
Controle de temperatura corporal em todas entradas
Distribuição de EPIs (máscaras, luvas, visores) com orientações sobre higienização e descarte
Kits de limpeza e desinfecção em cada estação de trabalho
Desinfecção frequente de todas as áreas, equipamentos e veículos
Aumento de quantidade turnos e espaçamento nas estações de trabalho e nos refeitórios
Centros médicos transformados em ambulatórios de campanha
Novas regras de ventilação nos ambientes
*”'Fomos atingidos por um meteoro que impacta o equilíbrio fiscal', diz secretário da Fazenda”* - O secretário especial da Fazenda do Ministério da Economia, Waldery Rodrigues, disse à Folha neste domingo (17) que o país foi atingido "por um meteoro que impacta a trajetória de equilíbrio fiscal", em referência aos efeitos da pandemia do novo coronavírus nas contas públicas. A equipe econômica pressiona o Palácio do Planalto a vetar pontos do projeto de lei de auxílio a estados e municípios, aprovado pelo Congresso e que aguarda a sanção do presidente Jair Bolsonaro. O secretário afirma que dois trechos precisariam ser vetados. Um deles amplia o número de carreiras que fica de fora do congelamento de reajuste salarial para servidores até o fim de 2021. Caso o presidente não vete o trecho, o governo deixará de economizar R$ 88 bilhões –o impacto da medida passaria de R$ 130 bilhões para R$ 42 bilhões. Entre as carreiras que ficam de fora do congelamento, estão militares, policiais, profissionais de limpeza urbana, de serviços funerários, de assistência social, da educação pública e da saúde. "Vamos fazer uma pausa, cuidar da saúde, dos mais vulneráveis, mas depois temos que voltar às diretrizes anteriores", afirmou Rodrigues.
O secretário enfatizou que os vetos são essenciais para assegurar a saúde fiscal do país depois da pandemia. "Enviamos notas técnicas à Presidência, e os argumentos são muito defensáveis. É muito importante pensar também no pós-crise", frisou. Rodrigues destacou que ainda há incertezas sobre a duração da crise. "Temos que saber como a sociedade como um todo estará após o coronavírus, não sabemos qual será a extensão da crise, trabalhamos com a temporalidade em 2020, mas pode ultrapassar para 2021. Será necessário diálogo", ponderou. Ele não descartou, no pós-crise, que os servidores sejam chamados a dar uma cota de sacrifício por meio da aprovação da PEC (Proposta de Emenda à Constituição) em tramitação no Senado que prevê corte de 25% no salário do servidor público. O texto estabelece que a redução seja acompanhada por diminuição proporcional de jornada, em situações de desajuste fiscal, cenário esperado nos próximos meses em razão da crise gerada pela pandemia. O texto foi batizado de PEC do pacto federativo. "Está na PEC 188, item que será analisado à frente. O impacto dela [da medida] para a união de até R$ 10,5 bi, pode ser menor porque o corte seria de até 25%, tem que ser analisada", explicou. Outro veto recomendado pela equipe é aquele que impede a União de executar as garantias contratuais no caso de estados e municípios não pagarem empréstimos firmados com bancos e organismos multilaterais internacionais. "A União arcaria com os empréstimos, mas os governos regionais seriam negativados e perderiam acesso a essas linhas, que são as mais baratas do mercado ", explicou. Nos cálculos do ministério, o custo com o trecho poderá variar entre R$ 9 bilhões e R$ 22,8 bilhões. No início do mês, o Senado aprovou a ajuda aos entes federados de R$ 125 bilhões durante a crise da Covid-19. Com isso, a União terá de repassar diretamente (distribuído de forma proporcional) R$ 60,15 bilhões aos estados e municípios.
O restante do socorro será por meio de renegociação de dívidas com a União, com bancos públicos, com organismos internacionais e com a suspensão de pagamento de dívidas previdenciárias. "A operacionalização do repasse leva um tempo e já estamos providenciando enquanto há o debate sobre os vetos. Na próxima semana já estaremos aptos a fazer o pagamento", adiantou o secretário. Dois dias depois da aprovação do projeto de socorro aos estados, que teve o aval de Bolsonaro, o presidente voltou atrás e afirmou que iria vetar o trecho da lei que libera reajustes salariais a servidores públicos. "Eu sigo a cartilha de Paulo Guedes na Economia. Não é de maneira cega, é de maneira consciente e com razão. Se ele [Guedes] acha que deve ser vetado esse dispositivo, assim será feito", disse Bolsonaro na ocasião. O presidente fez o anúncio do veto à iniciativa do Senado e da Câmara após uma visita surpresa ao presidente do STF (Supremo Tribunal Federal), ministro Dias Toffoli, em 7 de maio. Ele estava acompanhado do ministro Paulo Guedes (Economia) e empresários. Na última semana, no entanto, Bolsonaro novamente levantou a possibilidade de garantir os reajustes ao funcionalismo e disse que o assunto precisará ser discutido com o Congresso e os governadores. Na sexta (15), Guedes fez um apelo a prefeitos, governadores e, em especial ao Congresso, para que não haja reajuste dos salários do funcionalismo. Ele disse que se valer do momento de crise para elevar custos é fazer palanque político em cima de cadáveres. As recomendações da equipe econômica já foram enviadas ao presidente, que tem até 27 de maio para sancionar a lei. ​
+++ A reportagem é típica do jornalismo fragmentado que trata de um assunto limitado. O governo defende suas ideias, mas não há qualquer contraponto no mesmo texto. O jornal que se mostra extremamente crítico a Jair Bolsonaro, não é capaz de criticar a condução econômica de austeridade que vem levando desespero a diferentes parcelas da sociedade. A Folha é incapaz de mostrar que o governo age como se uma tragédia não estivesse acontecendo no país, faz contas como se não tivesse qualquer responsabilidade. Por fim, o jornal não mostra que governadores e parlamentares tentaram proteger os servidores que estão na “linha de frente” do combate à pandemia e que o governo federal demonstra não se importar com coisa alguma.
RONALDO LEMOS - *”A escola home office não deu certo”*
*”Japão entra em recessão e cenário para o futuro é ainda pior”*
*”China recomenda estoques maiores de alimentos por medo de surto de coronavírus no Brasil”*
ENTREVISTA DA 2ª - *”Ampliação do uso da cloroquina pode provocar mortes em casa, diz Mandetta”*
*”Covas troca rodízio radical pelo normal e pede antecipação de feriados para 'parar' cidade frente ao coronavírus”*
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*”Após 2 meses, Brasil não sabe a cor de 29% dos mortos pela Covid-19”*
*”Ocupações em São Paulo se organizam para evitar transmissão de Covid-19”*
*”Preço que governo paga pela matéria-prima da cloroquina explode”*
*”Coronavírus avança pelo interior do Amazonas e cria desafio logístico”* - A pouco mais de 1.000 km de Manaus em linha reta, as comunidades indígenas de Iauaretê e Pari-Cachoeira, na fronteira com a Colômbia, estão entre os lugares mais remotos do Brasil. Para chegar, costuma-se levar dois dias de barco desde São Gabriel da Cachoeira (AM). Nesta sexta (15), ambos os lugares registraram os primeiros casos de Covid-19. “Estamos confusos. Tivemos gripe forte que deixou na rede duas semanas. Portanto, estamos confusos. Neste momento, essa gripe atacou em todas as comunidades aqui no Alto Tiquié”, escreveu a uma amiga, via WhatsApp, Antônio Marques, do povo tucano e morador da comunidade Caruru, próximo a Pari-Cachoeira, às margens do rio Tiquié. Desde meados de março, quando houve o primeiro caso no Amazonas, o novo coronavírus já chegou a 60 dos 62 municípios do estado. Agora, começa a se espalhar pelo interior dos vastos municípios, criando um complexo desafio logístico para o tratamento de pacientes em caso grave. Apesar da dimensão do Amazonas (o território equivale ao Sul e ao Sudeste somados), só a capital, Manaus, tem serviço de UTI. A rede estadual colapsou em abril e hoje opera com 82% da capacidade. Em breve, o interior deve superar Manaus em número de casos. Dos 19.677 casos confirmados no Amazonas até este sábado (16), 48% são de fora da capital. Funcionários do hospital de referência, Delphina Aziz, relatam que o número de pacientes removidos está crescendo nos últimos dias. “A nossa maior preocupação é com as comunidades indígenas”, diz o secretário de Saúde de São Gabriel, Fabio Sampaio. “O município é do tamanho de um país. Tem comunidade que demora 1 hora de avião Caravan pra chegar.”​
O coronavírus se espalhou rapidamente no município, com área equivalente à da Inglaterra. O primeiro caso foi confirmado em 26 de abril e, 20 dias depois, a cidade mais indígena no país acumulava 292 confirmados e 12 óbitos. “Agora está muito próximo de nós, parentes”, afirma a liderança Margarida Maia, em mensagem distribuída por WhatsApp em Iauaretê, às margens do rio Uaupés e com cerca de 2.500 pessoas. “Fiquemos atentos, precisamos seguir as orientações dos profissionais de saúde.” Por se tratar de terra indígena, a responsabilidade pela remoção é da Sesai (Secretaria Especial de Saúde Indígena), do Ministério da Saúde. Procurado pela Folha, o órgão não respondeu sobre se existe um plano de contingência. Para atender aos pacientes fora das terras indígenas, o governo do Amazonas possui apenas seis UTIs aéreas e seis ambulâncias. É o dobro da frota disponível antes da epidemia, mas há relatos de pacientes da Covid-19 que morrem antes da remoção. Por dia, é possível remover apenas seis pacientes por via área. Já as ambulâncias terrestres intermunicipais realizam até dez viagens diárias. Segundo a Secretaria de Saúde, a escolha de quem é removido leva em conta “prioridade por gravidade, condições climáticas, distância, acesso ao município e disponibilidade de leitos na capital”. A remoção aérea, única alternativa para a maioria dos municípios amazonenses, tem custo elevado. Segundo o governo, cada quilômetro custa de R$ 19,50 a R$ 26,30. A viagem de um paciente de Iauaretê até Manaus sairia por pelo menos R$ 21 mil. Em Manacapuru (98 km de Manaus), nem o acesso por terra significa uma transferência mais rápida. No final de abril, ao menos três pacientes morreram enquanto esperavam a remoção. A cidade de cerca de 100 mil habitantes acumula 60 óbitos por Covid-19, mais do que seis estados e o Distrito Federal.
Apesar da pressão dos municípios pela criação de leitos de UTI, a Secretaria de Saúde descarta a medida. “O plano de governo garante o atendimento de pacientes graves nas salas de estabilização das unidades de saúde até a remoção para Manaus por transporte sanitário”, afirma a secretaria. “O interior conta com 625 leitos clínicos e 82 leitos de Unidade de Cuidados Intermediários (UCI) para Covid-19. Os leitos de UCI possuem suporte avançado de vida com respiradores, monitores multiparamétricos e demais equipamentos, porém não podem ser classificados como UTI porque não há profissionais intensivistas (médicos e enfermeiros), além de outros equipamentos, exames de alta complexidade e diversas especialidades necessárias no interior”, diz a secretaria. “Por isso, a necessidade de remoção de pacientes graves para a capital.”
*”Cortes no orçamento da ciência impactam pesquisa sobre Covid-19”* - A pandemia trouxe mais verbas para pesquisas relacionadas ao novo coronavírus, mas, segundo algumas das principais entidades científicas do país, as verbas ainda estão longe de serem suficientes. Além disso, os cortes passados de investimentos se refletem agora na dificuldade do país em lidar com a Covid-19. O governo federal destinou pelo menos R$ 100 milhões, provenientes do FNDCT (Fundo Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico), para o enfrentamento científico da pandemia, parte desse recurso destinado a projetos de pesquisa. No dia 7 de maio, durante a Marcha Virtual pela Ciência, o ministro Marcos Pontes anunciou outros R$ 352 milhões em recursos para projetos de pesquisa, inovação e infraestrutura no combate a pandemias, valor que deve ajudar a criar laboratórios de biossegurança nível 4 (o mais elevado e dedicado ao trabalho com patógenos que podem ser transmitidos pelo ar). Mesmo com os novos investimentos, entretanto, pesquisadores afirmam que o volume ainda não é suficiente, levando em conta ainda os cortes que o orçamento da ciência sofreu nos últimos anos. A ideia de representantes da SBPC (Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência) e da ABC (Academia Brasileira de Ciências) é da liberação integral dos valores do bilionário FNDCT. Segundo Helena Nader, vice-presidente da ABC, são positivos os investimentos atuais contra a pandemia, mas os valores ainda são baixos. “Eu acho que o coronavírus mostra que a ciência é potente e está dando respostas”, avalia ela. “A parte de saúde coletiva, epidemiologia, mostra a força que o país tem. É uma área que vem da época do Oswaldo Cruz. Mas o recurso, mesmo para o coronavírus, é pífio na minha visão.”
Ildeu de Castro Moreira, professor da UFRJ (Universidade Federal do Rio de Janeiro) e presidente da SBPC, afirma que sociedades científicas tinham proposto um valor de pelo menos R$ 500 milhões (valor que se aproxima ao anunciado por Pontes). “Certamente foi um avanço importante [o valor anunciado pelo ministro]. Mas continuamos insistindo na liberação integral dos recursos do FNDCT, que serão muito importantes também para a saída da crise econômica”, afirma Moreira. “Ele [o fundo] é um reserva de contingência. Se é um momento que estamos precisando de reserva para enfrentar essa situação crítica, é agora. Estamos tentando através de várias maneiras convencer a liberação”, completa. Os valores do fundo poderiam ser aproveitados, segundo Moreira, para fomento à inovação tecnológica, em particular em pequenas e médias empresas e para a infraestrutura de laboratórios que devem ser recuperados e atualizados, o que pode ajudar em questões de saúde e em outras nas quais o país sofre de dependência tecnológica. O baixo investimento em ciência nos últimos governos pode ser visto na prática nos problemas do país com os testes para o novo coronavírus. “O fato da ciência ter sido ‘desfinanciada’ nos últimos anos fez com que muitos laboratórios tivessem dificuldade. No momento, ter que importar insumos, com o mundo inteiro tentando enfrentar a pandemia, fica mais difícil, com preços mais caros”, diz o presidente da SBPC. Moreira afirma que o país precisa aproveitar o momento, que trouxe a percepção que a ciência é importante para a sobrevivência literal das pessoas, os motores da economia. Acrescenta ademais que o recurso integral do FNDCT não é importante só para o combate contra a Covid-19 neste momento, mas também para o processo posterior à pandemia. “Parar de investir em ciência foi a maior burrice que o país fez”, afirma Nader.
O MCTIC (Ministério da Ciência e Tecnologia) afirma que já em fevereiro começou a se mobilizar, escutar pesquisadores e instituir ações prioritárias quanto a Covid-19 —uma delas, a liberação dos R$ 100 milhões do FNDCT. O MCTIC colocou em ação contratações diretas de grupos de pesquisa na área de sequenciamento do vírus, disse Marcelo Morales, secretário de políticas para formação e ações estratégicas do MCTIC, em webnar sobre financiamento de pesquisa produzido pelo Instituto Serrapilheira (primeira instituição privada de fomento à ciência do país). O secretário também afirmou que o MCTIC investiu em produção de insumos para fabricação de testes diagnósticos, área que ainda enfrenta profundos problemas de escassez no Brasil. Também foram destinados recursos para produção de vacinas em São Paulo e Minas Gerais e para pesquisa de drogas. Além disso, houve investimento do setor privado para pesquisas, como é o caso do Serrapilheira e do Idor (Instituto D’Or de Pesquisa e Ensino). No caso do Serrapilheira, o instituto, durante a pandemia, mudou a sua abordagem de fomento à pesquisa. “A ciência que vai ser feita agora para resolver a crise, na urgência, não é uma ciência de grandes descobertas, é aplicar o que já se sabe fazer” disse Hugo Aguilaniu, diretor presidente da instituição. “Precisamos de respostas simples e rápidas.”
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CAPA – Manchete principal: *”PGR investigará denúncia de vazamento de operação da PF”*
EDITORIAL DO GLOBO - *”Pauta bomba ameaça a recuperação”*: Menos difícil será a reconstrução do país se governo e políticos tomarem as decisões certas sobre o que fazer e também o que não fazer. Este é o momento de se evitarem fórmulas fáceis na aparência, mas que criarão ainda mais dificuldades, postergando a retomada do crescimento. Em vez disso, a economia voltará ao estado de semiestagnação em que se mantinha até o fim do ano passado. Uma questão-chave será como enfrentar um gigantesco déficit fiscal que já cresce — os R$ 124 bilhões negativos do ano passado devem ser multiplicados por seis ou sete —, com um programa de ajuste bem formulado, reformas, algumas das quais já desenhadas e sem populismo.
A pauta do Congresso é o espelho dos anseios da sociedade, em que se misturam propostas bem fundamentadas e projetos que, se aprovados, explodirão como bombas à frente. É preciso desativá-las. Deputados e senadores têm deliberado sobre projetos de urgência, para permitir o atendimento a milhões de trabalhadores informais, às pequenas e médias empresas etc., afim de preservar sinais vitais da economia, para se manter uma base a partir da qual a roda da produção volte a girar no mais curto espaço de tempo possível. Mas, se uma série de propostas que tramitam no Congresso longe da atenção geral for aprovada, a crise da saúde passará, e a econômicas e aprofundará. Projetos que constituem uma pauta-bomba de grande poder de destruição estão em diversos estágios de discussão no Legislativo. Costumam fazer sentido aos menos informados e deixam transparecer uma boa intenção em defesa dos pobres, principalmente das vítimas indefesas da crise deflagrada pelo novo coronavírus. Mas, na verdade, emperrarão a volta do crescimento e, sem empregos e salários, a economia não gira. Prejudicarão os pobres. Os bancos estão sendo um setor especialmente visado nesta corrida de políticos em busca de recursos para socorrera receita tributária dos governos. Há uma cesta de propostas: limitação dos juros do cartão de crédito e do cheque especial —agora por lei —, proibição de execuções judiciais cíveis de consumidores, com retroatividade a janeiro, quando não havia registro de Covid-19 no país; novo aumento da Contribuição sobre o Lucro Líquido (CSLL) das instituições financeiras, desta vez para 50%; moratória no crédito consignado.
De imagem historicamente antipática, não só no Brasil, talvez pelo grande volume de dinheiro que passa por ele, o setor bancário, se estrangulado tributariamente — os bancos já sustentam uma carga tributária de 45%, contra 34% na indústria —, disseminará dificuldades na economia, pelo aumento na seletividade na concessão de crédito, por exemplo. A indesejada tendência à concentração bancária também ganhará um reforço. Resultado: mais dificuldades para os tomadores de empréstimos. O avanço sobre a receita de pessoas jurídicas e renda das físicas é um caminho insano na recessão. Entre diversos projetos que buscam a ilusória bala de prata contra a crise fiscal reaparece um indefectível empréstimo compulsório sobre as empresas em geral, resgatado do baú da década de 80 do século passado. Cobrado sobre combustíveis e venda de veículos novos, jamais foi devolvido. Hoje aconteceria o mesmo, por suposto. Além disso, incidiria sobre lucros em queda — se eles existirem. Se aprovado, levará empresas à falência. Devedoras de bancos, forçarão estes a fechar as portas. Falências, crise bancária, o caminho mais curto para uma depressão histórica. Deve ficar entendido que não há saídas fáceis. As soluções existem e precisam ser entendidas pelos políticos.
*”PGR investiga influência na PF – Suplente diz que Flávio foi avisado de operação”*
*”Flávio rebate Marinho: ‘desesperado e sem votos’”*
*”Postagens em série – Perfis replicam texto a favor da cloroquina”* - Uma série de perfis no Twitter replicou ontem uma mesma mensagem em defesa ao uso da cloroquina para tratamento da Covid-19. O padrão de mensagens repetidas é um indício típico do uso de robôs nas redes sociais. As publicações acontecem dois dias depois da demissão, a pedido, de Nelson Teich do Ministério da Saúde. Contrariando a posição do presidente Jair Bolsonaro, Teich era contra a liberação do uso da cloroquina em pacientes com sintomas leves da doença. A mensagem replicada na rede era: “Minha filha pegou Covid no trabalho (Bancária), e meu genro pegou dela, tomaram AZT+HCQ+Zinco logo no início dos sintomas, com 4 dias estavam zerados. Não vejo motivo pra tanta polêmica, um medicamento tão antigo e que até grávida pode tomar. Simples... ñ acredita ñ toma!!!” Perfis que se comportam como robôs ajudam a turbinar pautas bolsonaristas nas redes. O uso desse mecanismo seria usado, inclusive, pelo que já foi chamado “gabinete do ódio”, que é alvo da CPI das Fake News no Congresso. O grupo é, supostamente, formado por assessores do Palácio do Planalto ligados ao núcleo duro da família Bolsonaro. Eles seriam encarregados de coordenar ataques virtuais e disseminação de notícias falsas nas redes sociais. A deputada e ex-líder do governo no Congresso Joice Hasselmann (PSL-SP) disse à CPI das Fake News, em dezembro do ano passado, que o deputado Eduardo Bolsonaro (PSL-SP) é um dos coordenadores da estrutura montada pelo grupo de apoiadores do presidente Jair Bolsonaro para fazer ataques virtuais. Segundo a deputada, Eduardo está “amplamente envolvido” no esquema, do qual também fazem parte assessores dele e de outros deputados federais e estaduais, além de integrantes do Planalto.
Desde o início da epidemia, parte da comunidade científica se manifestou de forma cética em relação aos supostos benefícios da cloroquina e da hidroxicloroquina no tratamento do novo coronavírus. Pelo menos dois estudos internacionais já demonstraram a ineficácia do medicamento em pacientes com Covid-19. No Brasil, a droga é amplamente usada no tratamento de doenças como malária e lúpus. Médicos alertam para efeitos colaterais, como arritmias, que podem ser fatais em pacientes com problemas cardíacos. Um estudo realizado no Amazonas chegou a ser parcialmente suspenso após a morte de pacientes que receberam doses altas de cloroquina. Apesar das controvérsias, o presidente defendeu em diversos discursos o uso da droga. O Conselho Federal de Medicina (CFM) emitiu um parecer afirmando que não há evidências de que a droga tenha benefícios no tratamento da Covid-19, mas liberou médicos a prescrevê-la em algumas situações e sempre após informar o paciente sobre os riscos da droga.
*”Bolsonaro leva ministros a ato pró-governo”*
*”Efeitos do negacionismo – Além da saúde, governo põe em risco economia”* - Atravessando a maior pandemia do século, o Brasil assistiu em menos de um mês à queda de dois ministros da Saúde, enquanto os casos da Covid-19 no país ultrapassavam ontem 241 mil. As saídas de Nelson Teich e de Henrique Mandetta foram consequências de divergências que tiveram com o presidente Jair Bolsonaro sobre como lidar com a doença. O presidente, que desde o início tratou a Covid-19 como uma “gripezinha”, sempre ignorou em sua conduta as normas de distanciamento social preconizadas pela Organização Mundial da Saúde (OMS). Ele insiste em tratar a hidroxicloroquina como um remédio milagroso contra o novo coronavírus, apesar da falta de evidências científicas que comprovem sua eficácia. Em seguidas manifestações e pronunciamentos, Bolsonaro voltou-se contra as medidas adotadas por governadores e prefeitos para tentar conter a progressão do contágio e evitar o colapso dos hospitais. Alegando defender a economia, Bolsonaro incluiu academias e salões de beleza na lista de atividades essenciais e, na última quintafeira, conclamou empresários a pressionarem o Congresso e os gestores estaduais e municipais pela retomada das atividades. Para estudiosos ouvidos pelo GLOBO, as escolhas que Bolsonaro tenta impor ao país diante da pandemia terão efeitos contrários aos apregoados por ele, pondo em risco, além da saúde, a própria recuperação econômica e a posição internacional do Brasil.
*”Executivo entra em rota de colisão com cientistas”* - A estratégia de reação à Covid-19 defendida pelo presidente Jair Bolsonaro, que insiste no uso da cloroquina como tratamento em todos os casos e demonstra resistência ao isolamento social, aliena o Executivo federal brasileiro da comunidade médica e científica nacional e global. A menção mais proeminente numa revista médica de prestígio foi uma referência à reação de Bolsonaro à aceleração no número de mortes, no início do mês, quando ele disse: “E daí?”. “A maior ameaça à resposta do Brasil contra a Covid-19 é seu próprio presidente”, disse em editorial a “Lancet”. A OMS tem evitado conflito direto com o governo, mas médicos influentes partem para o confronto mais aberto. Alexandre Kalache, do Centro Internacional de Longevidade, do Rio, qualificou a proposta de “isolamento vertical” como “gerontocídio”, pela ineficácia de supostamente proteger os idosos quando o resto da população mais jovem sai às ruas.
—Ele está em atitude anticientífica, insiste que isolamento é besteira e está ouvindo o conselho de médicos que não têm crédito no meio, como o Osmar Terra —diz Kalache.
A Jama, revista da Associação Médica Americana, publicou o primeiro grande estudo bem controlado sobre o uso cloroquina contra a Covid-19, mostrando que o medicamento não reduziu a letalidade do vírus entre os pacientes voluntários do teste, mas teve efeitos colaterais graves, como o dobro de número de paradas cardíacas para quem usava a droga em combinação com o antibiótico azitromicina.
—Em janeiro ou fevereiro, ainda fazia sentido testar a cloroquina —conta o infectologista Mauro Shechter, professor da UFRJ. — Mas já existem vários dados apontando que em princípio não deve ser uma boa opção.
Médico compara proposta de ‘isolamento vertical’ a ‘gerontocídio’
*”Cidades e estados sofrem com desarticulação”* - Estados e municípios sofrem com a falta de articulação com o governo federal e com os efeitos provocados por discursos do presidente Jair Bolsonaro que minimizam a Covid-19 e semeiam desconfiança das ações dos governadores e prefeitos na luta contra a pandemia. O cientista político Adriano Codato, do Núcleo de Pesquisa em Sociologia Política Brasileira da Universidade Federal do Paraná, afirma que essa desarticulação política, que gera uma guerra federativa, prejudica todo o Brasil.
—Há ainda uma desarticulação simbólica. Cada um fala uma coisa. O presidente, o ministro da Saúde, os governadores, os negacionistas, os grupos de WhatsApp —diz Codato.
Paulo Feldmann, professor da Faculdade de Economia e Administração da USP, afirma que a falta de coordenação do Ministério da Saúde é o primeiro fator a prejudicar os estados. Ele lembra que a compra de 40 milhões de testes anunciada pelo ex-ministro Henrique Mandetta não aconteceu e, sem a testagem, fica difícil abrir mão da quarentena:
—O teste tem que ser comprado pelo governo federal porque é caro. Ao adquirir em grande quantidade, ele consegue descontos.
Feldmann afirma ainda que a falta de coesão nacional no enfrentamento da pandemia fará com que o isolamento, no Brasil, dure mais tempo: de três a quatro meses, quando, na maioria dos países, ele durou, em média, 75 dias. Ele lembra que os estados ainda não receberam o pacote de ajuda aprovado pela Câmara dos Deputados.
—O pacote está parado na mesa do presidente. Os recursos são indispensáveis para tratar as pessoas. Essa falta de entrosamento, de alinhamento, mata pessoas —resume.
Falta de coesão fará com que isolamento dure mais tempo do que em outros países
*”Retomada econômica tende a demorar mais”* - Uma retomada agora das atividades não essenciais da economia, ainda que gradual, é vista com preocupação por especialistas. O efeito, dizem, pode ser oposto ao almejado pelo governo federal: mais desemprego e um número ainda maior de mortos. O economista Otaviano Canuto, ex-diretor do Fundo Monetário Internacional (FMI) e diretor do Center for Macroeconomics and Development, faz uma alusão à gripe espanhola do início do século XX para lembrar que cidades americanas que mantiveram a economia aberta, como Filadélfia, tiveram desempenho tão ruim quanto as que pararam as atividades, como St. Louis. A principal diferença foi o número de mortos, maior onde não houve quarentena. Canuto alerta que a retomada da economia não é garantia de aumento nos negócios, uma vez que a redução da demanda continuará, com as pessoas evitando aglomerações até que o número de casos e mortes comece a cair. Também houve queda de renda, limitando o potencial de consumo.
—Enquanto não houver sinais de que a doença está perdendo força, as pessoas não irão a restaurantes ou entrarão em aviões —disse.
Istvan Kasznar, professor da FGV, ressaltou que esse comportamento dos consumidores faz com que as empresas corram o risco de fecharem logo após reabrirem.
—Falar em abrir a economia no atual momento não é uma política racional —afirmou.
Canuto lembra que países que não adotaram a quarentena para toda a população, como a Coreia do Sul, fizeram testes e rastreamento em massa, isolando novos casos, o que não ocorre no Brasil. Outras nações que retomam aos poucos as atividades, como a Alemanha, determinaram regras rígidas para o comércio e as escolas e para a circulação do público.
Choque da demanda vai continuar, com as pessoas evitando aglomerações
*”País ruma para isolamento internacional”* - A gestão da crise da Covid-19 por Jair Bolsonaro projeta uma imagem tóxica do Brasil para o exterior, que retira prestígio do país em todos os âmbitos, avaliam analistas. Chefes de Estado, diplomatas, investidores e agências de análise de risco percebem uma nação desgovernada com riscos de implosão.
—Há uma percepção péssima do governo, de descontrole, que pode ter consequências muito graves. Os brasileiros vão ter facilidade para entrar em outros países, se o país for um foco de transmissão? O intercâmbio comercial também depende de segurança sanitária, e investimentos exigem um planejamento de médio e longo prazo que não existe —afirmou Letícia Pinheiro, internacionalista do Iesp/Uerj.
Segundo Dawisson Belém Lopes, professor de Relações Internacionais da UFMG, a posição de Bolsonaro traz “prejuízos políticos, diplomáticos, econômicos e sobretudo médico-científicos”.
—As relações internacionais dependem muito da percepção. A postura de Bolsonaro assusta o mundo. Isso afasta vizinhos, investidores, torna o Brasil negativo para tudo.
Os governos de Argentina, Colômbia, Paraguai e Uruguai já tomaram medidas para reforçar a segurança das fronteiras com o Brasil. Os EUA afirmaram que estudam restringir voos. No sábado, Ian Bremmer, presidente do influente Eurasia Group, afirmou que “Bolsonaro é de longe o mais incompetente líder de uma democracia na resposta ao coronavírus”.
—A maneira como Bolsonaro está reagindo contribui para agravar o isolamento e o desprestígio no exterior. A primeira condição para se ter uma política externa séria é ser objetivo, realista e pragmático no reconhecimento dos fatos —afirmou o embaixador aposentado Roberto Abdenur.
Chefes de Estado e investidores percebem uma nação desgovernada
ARTIGO – COMISSÃO ARNS DE DIREITOS HUMANOS - *”O presidente perdeu a condição de governar”*: O momento é grave. É hora de dar um basta ao desgoverno. Hoje é preciso falar ao conjunto dos brasileiros, nossa população multiétnica, multirracial, com diversidade cultural e distintas visões políticas, 210 milhões de cidadãs e cidadãos. Hora de falar ao povo, detentor e destinatário dos rumos do país. Assistimos em 2019 ao desmanche de instituições e estruturas de Estado, em nome de alinhamentos ideológicos e guerras culturais. A partir de fevereiro último, com a chegada da pandemia em nosso território, ao grande desmanche somaram-se ataques à ordem constitucional, à democracia, ao Estado de Direito. Não podem ser banalizados, muito menos, naturalizados. Como alertaram os cientistas, a Covid-19 encontraria no Brasil campo fértil para o seu alastramento: um país continente com enorme desigualdade social e concentração de renda, sistema de saúde fragilizado por cortes e tetos orçamentários, saneamento básico precário, milhões de brasileiros vivendo em bairros, comunidades e distritos sem infraestrutura, sucateamento da educação pública, desemprego na casa das 13 milhões de pessoas e uma economia estagnada.
Acrescente-se a esse quadro as características próprias da atual pandemia — um vírus com alta velocidade de transmissão e sintomatologia grave, para o qual ainda não há remédio ou vacina eficazes. Talvez imune ao vírus, mas com toda certeza imune ao sofrimento humano, o Presidente da República, Jair Bolsonaro, tem manifestado notória falta de preocupação com os brasileiros, com o risco das aglomerações que estimula, com a volta prematura ao trabalho, com um sistema de saúde que colapsa aos olhos de todos e até com o número de óbitos pela Covid-19, que totalizam, hoje, muitos milhares de casos — sobre os quais, aliás, já se permitiu fazer ironias grosseiras e cruéis. Mas a sanha do presidente não para por aí. Enquanto o país vive um calvário, Jair Bolsonaro insufla crises entre os Poderes. Baixa atos administrativos para inibir investigações envolvendo a sua família. Participa de manifestações pelo fechamento do Congresso e do Supremo Tribunal Federal. Manipula a opinião pública, e até as Forças Armadas, propagando a ideia de um apoio incondicional dos militares como blindagem para os seus desatinos. Enfim, o presidente deixa de governar para se dedicar à exibição diária de sua triste figura, em pantomimas familiares e ensaios golpistas.
Preocupado com o amanhã e sob o peso do luto, o Brasil precisa contar com um governo que coordene esforços para a superação da crise, começando por ouvira voz que vem das casas, das pessoas que sofrem, em todas as partes. Não há como aceitar um governante que ouve apenas radicais fanáticos, ressentidos e manipuladores, obcecado que está em exercer o poder de forma ilimitada, em regime miliciano-militar que viola as regras democráticas e até mesmo o sentido básico da decência. Só resta sublinhar o que já ficou evidente: Jair Bolsonaro perdeu todas as condições para o exercício legítimo da Presidência da República, por sua incapacidade, vocação autoritária e pela ameaça que representa à democracia. Ao semear a intranquilidade, a insegurança, a desinformação e, sobretudo, ao colocar em risco a vida dos brasileiros, seu afastamento do cargo se impõe. A Comissão Arns de Defesa dos Direitos Humanos entende que as forças democráticas devem buscar, com urgência, caminhos para que isso se faça dentro do Estado de Direito e em obediência à Constituição. José Carlos Dias, presidente da Comissão Arns de Defesa dos Direitos Humanos e ex-ministro da Justiça (governo FHC), Claudia Costin, ex-ministra de Administração e Reforma (governo FHC), José Gregori, ex-ministro da Justiça (governo FHC), Luiz Carlos Bresser-Pereira, ex-ministro da Fazenda (governo Sarney), ministro da Administração e Reforma do Estado e ministro da Ciência e Tecnologia (governos FHC), Paulo Sérgio Pinheiro, ex-ministro da Secretaria de Estado dos Direitos Humanos (governo FHC), Paulo Vannuchi, ex-ministro de Direitos Humanos (governo Lula), todos fundadores e aqui representantes da Comissão Arns.
*”Governo do estado sob pressão – Secretário de saúde do Rio é exonerado em meio a investigações sobre fraudes”*
*”Evento com prefeito provoca aglomeração na Pavuna”*
*”Efeito coronavírus – Governo dá aval para revisão de contratos de estradas e aeroportos”* - O governo federal planeja revisar os contratos de concessão na área de infraestrutura devido à queda abrupta de demanda, provocada pelo avanço do novo coronavírus. A revisão será feita caso a caso e pode incluir até reajuste de tarifas cobradas dos usuários. As conversas já estão adiantadas com as operadoras de aeroportos privados, nos quais o movimento chegou a cair mais de 90% em abril. Concessionárias de rodovias igualmente registraram perdas significativas nas últimas semanas e devem ser contempladas. A revisão é chamada tecnicamente de reequilíbrio econômico-financeiro dos contratos. Será permitido aumentar o período de concessão, reduzir a obrigação de investimentos, alterar os valores de outorga e até mesmo subir o valor das tarifas. Também será possível organizar uma combinação entre essas soluções. Cada contrato será avaliado separadamente pela respectiva agência reguladora. Em abril, os voos domésticos transportaram 399 mil passageiros, queda de 94% ante igual período do ano passado, segundo dados da Agência Nacional de Aviação Civil (Anac). Nas rodovias concedidas à iniciativa privada, o tráfego no mês passado foi 44% inferior a 2019, segundo a Associação Brasileira de Concessionárias de Rodovias (ABCR).
Segundo a secretária de Fomento, Planejamento e Parcerias do ministério da Infraestrutura, Natália Marcassa, não será permitido ampliar o prazo dos contratos de concessões que estão no fim. É o caso da Via Dutra, que tem leilão previsto para este ano. O contrato com a CCR, que administra a rodovia, termina em 2021. Para concessões recentes, também não haverá extensão do contrato, porque isso teria pouco impacto para as empresas no curto prazo.
— Cada contrato tem seu elenco para ser avaliado. A gente vai fazer as contas. Cada contrato, cada modal e cada época de uma concessão faz mais sentido usar um parâmetro ou outro —disse ela, acrescentando: — O que a gente não quer é que contratos que estão próximo do vencimento tenham prazo maior.
Para permitir a revisão dos contratos, um parecer da Advocacia-Geral da União (AGU) reconhece que a queda na receita foi causada por evento de “força maior” ou “caso fortuito”. Ou seja, o prejuízo não faz parte dos riscos assumidos pela iniciativa privada e deve ser compensado pelo governo. Isso vai desencadear uma onda sem precedentes de pedidos de reequilíbrio econômico-financeiro. “Entendo que o atual estado de coisas decorrente da pandemia não configura evento cujo risco possa ser considerado comum ou normal ao negócio desempenhado pelos concessionários de infraestrutura de transportes. A situação que o mundo está vivenciando foge claramente a qualquer padrão de normalidade”, diz o parecer da AGU. Para Claudio Frischtak, da Inter B. Consultoria, é necessário reequilibrar os contratos, porque o choque na demanda causada pelo coronavírus era imprevisível.
—O que não dá é para ter oportunismo de parte a parte. Por isso é preciso ver caso a caso, fazer a conta, e estabelecer qual o componente da queda de demanda que pode se atribuir ao choque da pandemia — disse ele, acrescentando: — Do ponto de vista do consumidor, possivelmente a melhor maneira é estender o contrato de concessão, a não ser que o contrato esteja perto de vencer.
A revisão dos contratos vai resolver o problema das concessionárias no longo prazo. Diante da redução abrupta nas receitas, o governo editou medidas também para reduzir as despesas das empresas, como suspensão do pagamento de outorgas, empréstimos via BNDES e outras obrigações, e aliviar as companhias agora. As concessionárias de aeroportos privados, por exemplo, conseguiram a postergação para dezembro do pagamento de cerca de R$ 2 bilhões em outorgas devidas para maio, junho e julho. Até o fim do ano, os técnicos do governo e da Anac vão estudar critérios para medir as perdas financeiras decorrentes da pandemia. A expectativa das empresas é de uma amortização de ao menos 50% do valor das outorgas.
— É um mecanismo eficiente de reequilibrar contratos no curto prazo — afirmou Dyogo Oliveira, presidente da Aneaa, associação das concessionárias de aeroportos.
CARGAS EM FERROVIAS
Nas contas de César Borges, presidente da ABCR, as associadas amargam prejuízos mensais de R$ 500 milhões. Os maiores tombos estão nas estradas onde o fluxo de veículos de passeio é maior que o de cargas. Na rodovia dos Tamoios, principal acesso ao litoral norte de São Paulo, por exemplo, o movimento caiu 60% ante o período pré-pandemia.
— Por isso, os pedidos de reequilíbrio de contratos deverão ser feitos caso a caso —disse ele.
Leonardo Vianna, presidente da CCR, concessionária de estradas relevantes como Dutra, Via Lagos e a Via Rio, além de estar em ativos de aeroportos e trilhos urbanos, defende que o ideal seria um mecanismo para garantir compensações imediatas pela perda de receitas:
— Desta forma as concessionárias teriam um fôlego de caixa para sobreviver.
Menos afetadas, as ferrovias viram uma queda de 7% no primeiro trimestre, segundo a ANTF, a associação de concessionárias do setor. A redução menor que as dos demais modais é explicada pelo fato de que a demanda por grãos e minérios, itens que compõem mais de 80% do transporte sobre trilhos no país, segue elevada na China, principal destino das commodities.
— O impacto da Covid-19 no setor deve ser sentido com mais força nos próximos meses, com a queda na demanda por itens no mercado doméstico, como combustíveis — projeta Fernando Paes, diretor-executivo da ANTF, que pede ao governo o adiamento por tempo indeterminado do pagamento das outorgas e arrendamentos devidos em 2020, uma quantia estimada em R$ 500 milhões.
MAIS CRÉDITO A EMPRESAS
Nas concessões de mobilidade urbana (trens, metrôs e VLT do Rio), a queda no fluxo de passageiros chegou a 80% em abril na comparação com o mesmo período de 2019. Para Joubert Flores, presidente do conselho da ANPTrilhos, associação do setor, as perdas chegam a R$ 150 milhões por mês. Para sobreviver, essas concessionárias estão postergando a amortização de dívidas com bancos e renegociando contratos. Num cenário de avanço da pandemia e retomada ainda incerto da economia, Flores defende novas linhas de crédito às empresas do setor, além de novas fontes de receitas para compensar a perda de receitas com tarifas.
—Outras fontes de financiamento do transporte coletivo poderiam vir de pedágios urbanos ao transporte individual e regras mais simples para a exploração imobiliária no entorno de estações de trens e metrôs.
 
 
CAPA – Manchete principal: *”Estados dão reajustes para funcionalismo em meio à crise”*
EDITORIAL DO ESTADÃO - *”Bolsonaro e as atividades essenciais”* - À medida que governadores e prefeitos de cidades de grande e médio portes são obrigados a ampliar as medidas de isolamento social, adiando a reabertura do comércio, o presidente Jair Bolsonaro vai fazendo o oposto. Depois de ter baixado no dia 7 de maio um decreto que inclui atividades industriais e construção civil como atividades essenciais, em meio ao avanço da pandemia da covid-19, na semana passada ele assinou outro decreto, desta vez incluindo academia de ginástica, salão de beleza e barbearia no rol de serviços essenciais. “Academia é vida. As pessoas vão aumentando o colesterol, tem problema de estresse (sic). Vai ter vida mais saudável. Fazer cabelo e unhas é questão de higiene”, alegou. Um dia antes de anunciar o novo decreto ele informou que já tem outras atividades em mente para listar como essenciais. “Devo botar mais profissões como atividades essenciais. Vou abrir a economia”, disse ele a apoiadores, em frente ao Palácio do Planalto. Ao todo, a lista já contém 57 atividades classificadas como essenciais.
Ao serem classificadas como essenciais, do ponto de vista da União essas atividades e serviços ficam autorizados a continuar em operação no período de quarentena. O problema é que a estrutura federativa do País confere aos Estados e municípios prerrogativas legais para que, em suas jurisdições, possam fazer o oposto, adotando sistemas mais drásticos de rodízio de automóveis e circulação de pessoas e exigências mais severas para reabertura de fábricas e lojas. Têm poderes, inclusive, para adotar planos de emergência, restringindo o acesso da população ao transporte público para reduzir risco de contágio. O compartilhamento de prerrogativas faz parte da estrutura descentralizada do federalismo – um modelo político-administrativo que está em vigor desde a primeira Constituição republicana brasileira, promulgada em 1891. Inspirada no modelo adotado nos Estados Unidos, essa estrutura descentralizada deixa para os poderes locais e regionais a responsabilidade sobre o cotidiano da vida econômica e social, ao mesmo tempo que atribui à União a responsabilidade pela articulação dessas atividades no plano nacional. Esse modelo pressupõe equilíbrio, diálogo e negociação entre municípios, Estados e União. O exemplo mais conhecido entre nós está na área da educação, na qual os secretários municipais e os secretários estaduais de Educação criaram duas entidades para representá-los nas negociações com a União.
Portanto, quando decide alargar o rol de atividades essenciais, como forma de limitar o âmbito de ação de prefeitos e governadores, Bolsonaro está cometendo um erro crasso. Por maior que seja a amplitude de seus decretos, ele não dispõe de prerrogativa legal para interferir na autonomia dos prefeitos e governadores. Com suas iniciativas demagógicas, Bolsonaro pode incitar politicamente patrões e empregados contra os governos municipais e estaduais. Mas não pode ir além dessa atitude deletéria. Fosse mais responsável e conhecesse a Constituição que jurou cumprir, em vez de dificultar o combate à pandemia ele estaria exercendo um papel de articulador, estabelecendo marcos normativos e diretrizes nacionais em matéria de saúde pública, contribuindo para que o Brasil adotasse uma política racional e eficiente de combate ao avanço da covid-19. Nem mesmo nos Estados Unidos, o país que tem a maior estrutura político-administrativa federativa do mundo, o presidente Donald Trump – ídolo de Bolsonaro – teve sucesso quando pressionou governadores republicanos para suspender as medidas de isolamento social. Alguns governadores chegaram a antecipar o retorno às aulas, mas o fizeram levando em conta os laudos técnicos de suas assessorias, e não os apelos de Trump. É por isso que de nada adianta Bolsonaro insistir em ampliar o rol de atividades essenciais e pressionar as instâncias superiores do Judiciário a obrigar prefeitos e governadores à obediência. Isso só serve para desorientar os cidadãos expostos ao vírus letal.
*”Bolsonaro muda tom e vai a ato com ministros militares”* - Pressionado pela crise na área de saúde e ameaçado de impeachment, o presidente da República, Jair Bolsonaro, participou ontem de um ato de apoio ao seu governo, em Brasília. Da rampa do Palácio do Planalto, Bolsonaro posou para fotos com 11 de seus 22 ministros, cantou o hino nacional e adotou um discurso ameno em uma transmissão ao vivo do ato. “Nenhuma faixa, nenhuma bandeira que atente contra nossa Constituição, contra o Estado de Direito”, disse o presidente, em relação aos manifestantes. O comentário marca uma diferença em relação à postura adotada em atos anteriores, como o do dia 19 de abril, quando Bolsonaro participou de manifestação contra o Supremo Tribunal Federal (STF) e o Congresso, em frente ao quartel-general do Exército. Outra diferença foi a presença de ministros militares, como o general Luiz Eduardo Ramos (Secretaria de Governo), que é da ativa, o general Augusto Heleno (Gabinete de Segurança Institucional), o almirante Bento Albuquerque (Minas e Energia) e Marcos Pontes (Ciência e Tecnologia), coronel da Aeronáutica. O Estado apurou que o presidente fez chegar aos líderes do ato de apoio ao seu governo um pedido para que evitassem faixas e palavras de ordem contra o STF e o Congresso. Bolsonaro, segundo um auxiliar direto, fez o pedido pessoalmente, justificando que a insurgência contra os demais poderes não o estava ajudando. Organizadores da manifestação foram incumbidos de pedir aos apoiadores que recolhessem as faixas. Apesar disso, alguns cartazes permaneceram.
Faixas. Em frente ao palácio, centenas de pessoas empunhavam bandeiras do Brasil e faixas de apoio ao presidente. Mas algumas delas também traziam provocações, como “Nossa bandeira jamais será vermelha”, em referência aos partidos de esquerda, e “Cloroquina já”, em defesa do uso do medicamento no tratamento de infectados com a covid-19. Havia ainda um caixão com o nome do ex-ministro da Justiça Sérgio Moro. Uma faixa dizia: “Soldados Especialistas da Aeronáutica apoiam Bolsonaro”. O Ministério da Defesa não se manifestou a respeito. Bolsonaro chegou à rampa acompanhado dos ministros e de um dos filhos, o deputado federal Eduardo Bolsonaro (PSL-SP). O vereador Carlos Bolsonaro (Republicanos-RJ) também apareceu depois no local. Ele cobrava a participação dos ministros de origem militar no apoio mais ostensivo ao governo do pai. Para inflamar os manifestantes, Carlos ergueu os braços de vários ministros, como se os estivesse apresentando ao público pela primeira vez. “Deixa ver se você tem moral”, chegou a dizer o presidente a um ministro antes de apresentá-lo. Entre os ministros, estava a da Agricultura, Teresa Cristina, que entrou recentemente na lista de autoridades com cargos ameaçados, assim como Marcos Pontes. Em Brasília, especula-se que Pontes pode dar lugar a um representante do Centrão, que se aproximou recentemente do presidente. O Ministro da Economia, Paulo Guedes, não participou do ato.
Na rampa, Bolsonaro chegou a ficar por cerca de 4 minutos em silêncio, apenas observando os manifestantes. Eles cantaram o hino nacional e entoaram gritos de apoio. Após fazer transmissão ao vivo em suas redes sociais, Bolsonaro pegou no colo uma criança vestida com roupa do Batalhão de Choque da PM de Minas Gerais. Com a criança, desceu a rampa e andou próximo à grade do palácio, mais perto do público. Ao contrário do visto em episódio anterior, no entanto, Bolsonaro não deu as mãos aos apoiadores, mantendo distância. Ele estava de máscara, assim como os ministros.
*”Ex-ministros da Defesa se manifestam contra golpe”*
*”MPF vai apurar denúncia contra Flávio”*
*”Governo esconde até gasto aeroportuário”* - Com uma fatura de cartão corporativo que representa o dobro de anos anteriores, o governo de Jair Bolsonaro decidiu esconder até mesmo quanto pagou em taxas aeroportuárias na operação que buscou 34 brasileiros na cidade de Wuhan, na China, em fevereiro, quando o país asiático ainda era o epicentro do coronavírus. Embora o presidente nem ninguém de sua família tenham viajado junto, os pagamentos foram classificados como sigilosos pelo Gabinete de Segurança Institucional (GSI). A viagem, feita com aeronaves da Força Aérea Brasileira (FAB), foi usada pelo presidente para justificar o aumento nos gastos sigilosos da Presidência neste início de ano. Desde dezembro, o governo tem ignorado uma decisão do Supremo Tribunal Federal (STF) e se recusa a explicar como tem usado o dinheiro público via cartões corporativos. A Presidência tem justificado, nos pedidos feitos via Lei de Acesso à Informação, que a abertura dos dados e notas fiscais poderiam colocar em risco a segurança do presidente e de familiares. Como mostrou o Estadão na semana passada, a conta de janeiro a abril dos cartões vinculados à Secretaria Especial de Administração da Presidência, que bancam as despesas de Bolsonaro e de sua família, foi de R$ 3,76 bilhões, o dobro do que gastaram, em média, seus antecessores no cargo, Michel Temer e Dilma Rousseff. No dia seguinte à publicação da reportagem, o presidente disse que a alta nada tinha a ver com gastos pessoais, mas se devia aos custos da viagem à China, em que três aviões da FAB vinculados à Presidência foram usados. No mesmo dia, publicou nas redes sociais que pagou R$ 739,6 mil da operação de resgate.
Segundo o Palácio do Planalto, o valor se refere a taxas cobradas pelos aeroportos em que os aviões pousaram e serviço de comissária aérea da viagem – alimentação dos tripulantes das aeronaves. Questionado quanto cada item representou na conta, informou não ser possível detalhar as despesas, pois são sigilosas. A reportagem também questionou o GSI com base em qual norma estes gastos – que não estão vinculados ao presidente ou a seus familiares – foram classificados como de acesso restrito, mas não obteve qualquer resposta.
Escalas. As aeronaves usadas na operação de resgate dos brasileiros na China saíram da Base Aérea de Anápolis, em Goiás, e fizeram quatro paradas antes de chegar a Wuhan, na China. Com baixa autonomia em comparação com aviões comerciais, os jatos presidenciais pararam em Fortaleza, em Las Palmas, que fica nas Ilhas Canárias (Espanha), na capital polonesa, Varsóvia, e na cidade de Ürünqi, já em território chinês. Com exceção de Fortaleza, onde os aviões da FAB são isentos, em todos os outros aeroportos são cobradas taxas aeroportuárias. O valor é tabelado e leva em consideração o tempo de permanência das aeronaves (maior custo), abastecimento de água, limpeza, e demais serviços compreendidos no denominado “handling”. Na operação foram utilizados dois aviões presidenciais Embraer 190 (VC-2) que trouxeram 17 repatriados cada e dois jatinhos de apoio para troca de tripulação Embraer 135 Legacy 600 (VC-99B), da frota do Grupo de Transporte Especial (GTE) – usados por ministros e presidentes do Legislativo e do Poder Judiciário. Documentos do Comando da Aeronáutica revelados pelo Estadão em março mostraram que a operação de resgate dos brasileiros na China custou ao todo cerca de R$ 4,6 milhões aos cofres públicos – valor que inclui gastos com o confinamento dos brasileiros na Base Aérea de Anápolis e a estimativa baseada na “hora voo” de cada aeronave.
*”Vírus intensifica rivalidade e reproduz entre China e EUA clima de Guerra Fria”*
*”Visão negativa sobre chineses cresce entre americanos”*
*”Trump rebate Obama e esquenta disputa eleitoral”* - O presidente dos EUA, Donald Trump, rebateu ontem as declarações de seu antecessor Barack Obama, que havia criticado, no sábado, a resposta de seu governo à pandemia de coronavírus. “Ele (Obama) foi um presidente incompetente. É tudo o que eu posso dizer”, afirmou Trump, ao ser questionado por jornalistas sobre os comentários do ex-presidente. A discussão entre presidente e ex-presidente é rara na política americana. Embora Trump tenha rompido com a tradição e venha criticando Obama desde que tomou posse, em janeiro de 2017, o democrata nunca havia publicamente criticado a Casa Branca. No sábado, Obama proferiu um discurso virtual para 27 mil formandos de 78 faculdades e universidades. Durante a cerimônia, o ex-presidente fez críticas pontuais à forma de o governo atual lidar com a crise de saúde pública nos EUA. “Mais do que tudo, essa pandemia finalmente acabou com a noção de que muitas das pessoas no poder sabem o que estão fazendo”, afirmou Obama. “Muitas delas nem sequer fingem que estão no comando.” As declarações do ex-presidente esquentaram uma campanha presidencial que foi completamente abafada pela pandemia. O candidato democrata, Joe Biden, que foi vice-presidente durante os dois mandatos de Obama, vem fazendo campanha online. Trump, habituado a arrastar multidões para seus comícios, teve de cancelar os eventos e passou a arrecadar dinheiro pela internet.
Até agora, as pesquisas favorecem Biden, que lidera com pouco mais de 4 pontos porcentuais as sondagens nacionais. A eleição americana, no entanto, é decidida de forma indireta, por um colégio eleitoral de 538 votos, que são alocados para os Estados, de acordo com a população – o que torna o resultado final mais imprevisível. Com mais de 1,5 milhão de casos confirmados e 90 mil mortos nos EUA, Trump vem tendo dificuldades para manter a imagem de que a resposta de seu governo foi rápida e eficaz. Diante da pressão, assessores, secretários e aliados republicanos tentam outras alternativas, como responsabilizar a China ou o governo de Obama, acusado de ter adotado políticas que dificultavam a implementação de testes para covid-19. No fim de semana, os comentários de Obama foram a primeira resposta aos ataques do presidente. Em seu discurso virtual, o democrata também aproveitou para tentar reunir a base eleitoral do partido a seis meses da eleição, referindo-se a valores historicamente defendidos pelos democratas, como atendimento universal à saúde, igualdade econômica e defesa do meio ambiente.
*”Bibi assume e renova promessa de anexar partes da Cisjordânia”*
ENTREVISTA: JOÃO DORIA JR., governador de SP - *”Teremos lockdown se houver necessidade”*
*”Covas recua em rodízio e quer feriados”*
*”SP não terá como evitar lockdown, dizem especialistas”*
*”Aumento na inadimplência de empresas preocupa bancos e entra no radar do BC”*
*”Calote em alta pode dificultar a retomada econômica”*
*”Saída de Guedes é o maior temor do mercado financeiro”* - O pedido de demissão de Nelson Teich do cargo de ministro da Saúde, na manhã da última sexta-feira, não chegou a ser uma surpresa. Ele não se mostrou disposto a ceder à pressão do presidente Jair Bolsonaro em dois aspectos importantes envolvendo a pandemia do coronavírus: o uso da cloroquina no tratamento de pacientes com a Covid-19 e o relaxamento das medidas de isolamento social, que tentam conter a disseminação do vírus. “O mercado financeiro já tomou isso como dado: o próximo ministro da Saúde será alinhado à visão de Bolsonaro, que ignora completamente a ciência”, afirma Solange Srour, economista-chefe da ARX Investimentos. “E isso vem no pior momento da pandemia no País, com expectativa de que o número de mortos suba muito nos próximos dias.” Na opinião de Rafael Panonko, chefe de análises da Toro Investimentos, a instabilidade política é ainda mais preocupante para o mercado do que a posição adotada pelo próximo ministro da Saúde. Ele critica a falta de alinhamento e comunicação do presidente com seus ministros, o Legislativo, os Estados e municípios. “Isso atrasa a recuperação, as coisas ficam para o ano que vem. E isso tem um custo. O crescimento torna-se pífio, muito abaixo do esperado”, comenta ele.
Como consequência, o investidor reage com desconfiança – sendo que o estrangeiro passa a preferir direcionar o seu dinheiro para outros países – e a Bolsa entra no que Panonko chama de “zona de congestão”. A saída de Teich marca a nona baixa de um ministro no governo Bolsonaro e a terceira após o início da pandemia do coronavírus. Antes dele, Luiz Henrique Mandetta, que também ocupava a cadeira da Saúde, e Sérgio Moro, que estava no Ministério da Justiça e da Segurança Pública, divergiram do presidente e deixaram o cargo. Agora, o que continua preocupando os principais agentes do mercado financeiro é o futuro de Paulo Guedes, ministro da Economia. “Não existe hoje outra pessoa ou entidade que possa fazer o trabalho dele: alguém do Congresso mais alinhado com o presidente, ou um cara forte no Senado que puxasse votos para a aprovação das reformas. Quem pode manter as reformas em pauta é apenas o Paulo Guedes”, diz Rodrigo Franchini, sócio da Monte Bravo. “Sem ele, Bolsonaro pode querer dar uma guinada populista para tentar se reeleger.” Fernando Borges, gestor de ações da Garde Investimentos, compartilha a mesma opinião. “Bolsonaro está vivendo aquele ‘momento Dilma’, quando ela se viu obrigada a mudar o rumo do governo para permanecer no poder”, compara ele. “Que ele faça um ajuste em menor escala, então. Mas não vá em direção à expansão fiscal.”
Na cabeça do gestor. Para sentir os temores dos principais gestores do País, o Bradesco BBI tem feito periódicas consultas neste período de pandemia. Durante os dias 4 e 5 de maio, 101 representantes das principais casas de gestão de recursos do Brasil avaliaram as perspectivas para os mercados e a economia do País. Esse foi o terceiro levantamento da instituição desde que a pandemia começou. Os anteriores foram feitos em março e abril. Nesta nova pesquisa, o Bradesco BBI verificou que a saída de Paulo Guedes do governo é o principal risco que o País corre, na visão dos agentes do mercado financeiro. Além disso, houve uma nítida piora na avaliação sobre o tempo necessário para a volta à normalidade e, consequentemente, sobre o desempenho esperado da economia.
O E-Investidor listou as principais conclusões que o Bradesco BBI fez com base nas respostas das gestoras:
Principal risco. Segundo o levantamento, o principal risco que os gestores enxergam para o País no momento é o ministro da Economia sair do governo (40,6%). Em seguida, estão a segunda onda da Covid-19 (34,7%) e a falência das empresas brasileiras (14,9%). Sobre a probabilidade de Guedes deixar o cargo, 41,6% acreditam que há entre 10% e 30% de chances. Outros 24,8% responderam que essa possibilidade está entre 30% e 50%, enquanto 14,9% apontaram entre 50% e 70%. Demora na retomada. Há também uma nova avaliação sobre a retomada da economia. No levantamento feito há um mês, 16% dos consultados acreditavam que as atividades voltariam ao normal até o fim de maio e 56% somente de julho em diante. Agora, ninguém espera que isso ocorra até o fim de maio: 68% creem que ocorra no terceiro trimestre do ano e 24% somente depois de setembro.
Dólar alto. Na primeira enquete, 30,7% dos gestores acreditavam que o valor da moeda americana no final do ano seria entre R$ 4,91 e R$ 5,10 ou acima de R$ 5,10. Agora, 40% deles acreditam que a cotação será acima de R$ 5,30 no final deste ano, 27% entre R$ 5,10 e R$ 5,30 e 23% entre R$ 4,91 e R$ 5,10. Há um mês, o valor esperado para a moeda americana era de R$ 5 no final de 2020. A cotação atual é de R$ 5,86. Varejo em alta. Segundo dados da enquete de abril, o top 3 de setores que os gestores comprariam para adicionar ao seu portfólio seriam o elétrico (20,2%), o de bancos (20,2%) e o do varejo (16%). Na pesquisa do mês de maio, o top 3 continua o mesmo, mas em ordem diferente. Segundo os dados, agora os gestores têm preferência para adicionar ao seus portfólios ações de empresas do setor de varejo (20,2%), bancos (18,2%) e elétrico (15,2%).
Fugindo do risco. Os dados do segundo levantamento mostraram que 65,3% dos gestores responderam “não” quando perguntados se pretendiam aumentar o beta (maior risco para buscar mais retorno) do seu portfólio nos próximos dez dias. Já na terceiro, 80,08% responderam que “não” têm a intenção de aumentar o beta do seu portfólio nos próximos 30 dias.
Ofertas secundárias. Perguntados na pesquisa do Bradesco BBI se teriam interesse em participar de ofertas secundárias de ações e de quais setores, 40% dos gestores responderam que estão de portas abertas para a área da saúde. Na sequência, 37,9% indicaram preferência pelo varejo.
 
CAPA – Manchete principal: *”Alta do dólar traz perdas bilionárias às empresas”*
*”Brasil pode ficar no fim da fila para receber vacina contra covid-19”* - Com a imagem bastante deteriorada, o Brasil é visto com espanto no exterior e ainda mais agora, com demissões de dois ministros da Saúde em um mês em plena pandemia
*”Brasil ultrapassa 240 mil infectados e 16 mil mortes”* - Taxa de letalidade da covid-19 no país é de 6,7%, apurada pela relação entre casos confirmados e óbitos pela doença
*”Cenário econômico piora, com país à deriva”* - País caminha para número alto de mortes e recessão gravíssima
*”Mais pobres podem perder 30% da renda”* - O impacto negativo da crise econômica gerada pela pandemia da covid-19 sobre os trabalhadores menos qualificados e com menor renda pode ser, no mínimo, o dobro daquele sobre os de maior ganho e qualificação, segundo exercício feito pelo Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea). Num cenário em que a restrição à atividade econômica dure dez meses, o mais pobre pode perder quase 30% da renda em 12 meses. O estudo leva em conta quatro cenários, com três deles considerando que as restrições à atividade econômica durem seis meses e, em um, dez meses. Também leva em consideração uma medida de intensidade da crise, dada pela probabilidade de saída do mercado de trabalho, a partir da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílio (Pnad) de 2016, segundo ano do último período de recessão no país. Segundo o técnico em planejamento do Ipea Ajax Moreira, autor do estudo, todos os trabalhadores perdem com a crise, mas no primeiro cenário, com uma crise mais leve e duração de seis meses, aqueles no primeiro estrato de renda perdem 9% de seus ganhos em 12 meses, enquanto na ponta mais rica a perda é de 3%. No cenário de dez meses de restrições à atividade econômica, os trabalhadores mais pobres chegam a perder 28% da renda anual, enquanto mais ricos perdem 11%. Nesse mesmo cenário de dez meses, quando a perda de renda é medida no domicílio, esses números são respectivamente de queda de 11% e de 24%. O resultado por domicílio afere o efeito sobre toda a população, que inclui inativos e crianças.
Segundo o técnico, o exercício é uma primeira avaliação, feita com os dados disponíveis, sobre o potencial impacto da quarentena sobre a renda e o emprego, levando em conta os diversos graus de vulnerabilidade do trabalhador brasileiro. Os dados de renda foram retirados da Pnad 2019 que só tinha disponível, naquele momento, a renda do trabalho, e da Pnad 2018, onde já havia informações sobre valores do Bolsa Família, Benefício de Prestação Continuada (BPC, voltado para idosos de baixa renda e pessoas com deficiência) e aposentadorias. O modelo também mostra que quanto maior a instrução, maior a probabilidade de estar ocupado na crise. Assim, na simulação em que as restrições à atividade duram seis meses, a probabilidade de um trabalhador sem instrução estar ocupado é de 13% menor, em média, enquanto a de um trabalhador com mais de 15 anos de instrução é 8% menor. No cenário em que as medidas de restrição duram dez meses, a chance de um trabalhador sem instrução estar ocupado é 23% menor, em média, e a de um trabalhador mais instruído é 16% menor. Em ambos os cenários, a faixa que sente menos o desemprego é a dos trabalhadores com 15 anos ou mais de estudo. Abaixo disso, os percentuais são bem parecidos nas várias faixas de escolaridade. “O que os resultados mostram é que o impacto sobre os trabalhadores menos qualificados e com menor renda são em média o dobro do impacto sobre os situados nos estratos superiores. Também mostram que, para o efeito sobre a renda, a duração da crise é mais importante do que a velocidade da demissão do trabalhador”, diz Moreira. O estudo ressalta que o impacto da pandemia, evento sem precedentes na história recente, depende essencialmente da duração das restrições à atividade e que, numa população de trabalhadores heterogênea como a brasileira, os efeitos negativos também são de intensidades diversas e, assim, pedem políticas públicas diversas. “Essa questão é especialmente importante no Brasil, que tem um importante segmento informal que não é protegido por leis sociais, e é especialmente vulnerável ao ciclo econômico”, diz o pesquisador.
*”Desigualdade salarial piora no 1º tri”* - Índice de Gini teve pequena alta, com disparidade voltando a apontar para uma piora
*”Cientista vê chance do número de mortes no Brasil superar em breve o dos EUA”* - Países como Argentina, Uruguai, Paraguai e Chile tomaram medidas que conseguiram evitar até agora o que Brasil não alcançou, o colapso da saúde, diz Alexandre Kalache
ARTIGO: Por Armínio Fraga e Ilan Goldfajn - *”O sistema financeiro é a nossa ponte com o futuro”*: Estamos no meio de uma das piores crises de saúde pública das nossas vidas com consequências graves sobre a economia global, e em particular a brasileira. Este momento exige responsabilidade. As consequências da crise ultrapassam o presente. Os governos, empresas e cidadãos sairão endividados. O sistema financeiro - bancos, cooperativas, instituições, de pagamento, etc. - é que permite fazer a difícil ponte do presente com os recursos disponíveis no futuro. Ao oferecer crédito, intermediando os recursos de quem tem poupança para aqueles que o precisam, o sistema financeiro ajuda a manter as pessoas e a economia funcionando na pandemia. Como quase tudo em uma economia moderna, na área financeira os preços têm um papel crucial na alocação de recursos. A taxa de juros básica da economia (a Selic, no caso do Brasil) ajuda a equilibrar poupança e investimento, dentro de um arcabouço de controle da inflação. As taxas de juros dos empréstimos bancários ou aqueles feitos através do mercado de capitais são maiores do que a Selic pois refletem o risco de cada operação. Contribuem assim para que o capital seja alocado da forma mais produtiva. Em condições adequadas de concorrência, o chamado prêmio de risco reflete os custos da intermediação, inclusive de análise, e os riscos de cada operação. Mesmo se exigindo dos bancos mais capital e provisões contra perdas adequadas, crises financeiras têm ocorrido com frequência, e em crescente magnitude. Cientes das trágicas lições da Grande Depressão, os bancos centrais entraram em campo com monumentais injeções de liquidez e crédito, evitando assim o que poderia ter sido uma nova grande depressão. Tal ação, no entanto, levou ao entendimento de que o sistema favorece os bancos e seus credores, num jogo de cara eles ganham, coroa a sociedade perde.
Além dessa vantagem indevida, prevalece desde Shakespeare uma certa raiva dos cobradores de empréstimos, e das taxas cobradas pelos bancos. Tal é o caso do sistema brasileiro, que por várias razões exibe ainda taxas de juros na ponta do tomador elevadas para padrões internacionais. Tal fato é de conhecimento geral, e vem há muitos anos sendo objeto de ações do Banco Central (por exemplo, dentro da Agenda BC+ ou BC#) e de outras áreas de governo. O Congresso Nacional tem sido instrumental para a queda dos juros bancários nos últimos anos. Entre as ações que tiveram apoio legislativo podemos incluir diversas medidas que visaram a melhoria da qualidade das garantias (fator fundamental no mundo inteiro para o custo do crédito), incentivo a concorrência bancária, mais eficiência e menores custos no sistema, entre outros esforços. Como resultado, as taxas caíram bastante e exibem tendência de queda, mas ainda permanecem elevadas. Na atual crise é natural a preocupação com o custo e a disponibilidade de crédito para as pessoas e empresas. O Congresso nacional tem se esforçado para atender essa demanda da sociedade. Mas há que se ter todo cuidado com as consequências indesejadas de várias das medidas que estão tramitando, que não somente podem trazer resultados contrários ao desejado, como também podem fragilizar o sistema financeiro. Exemplos recentes são o PL 1328/2020 que suspende por 120 dias o pagamento das parcelas mensais do empréstimo consignado, incluindo para os servidores e aposentados que não tiveram redução de salário (esses últimos representam R$ 370 bilhões de um total de R$ 393 bilhões); o PL 911/2020 que aumenta a Contribuição Social sobre o Lucro Líquido (CSLL) dos bancos de 20% para 50% (levando a uma das maiores alíquotas do país e do mundo); o PL 1116/2020 que fixa um teto de 20% ao ano para as taxas de juros do cheque especial e congela os limites de crédito; e o PL 675 que proíbe aos bancos negativar o cliente que parou de pagar, devendo suspender as execuções judiciais cíveis propostas contra consumidores, retroativo a 1º de janeiro 2020, anterior à pandemia no Brasil. As consequências dessas pautas são graves. A tentativa de regular preços e congelar as quantidades disponíveis levará à contração do crédito, na medida em que o sistema tenta evitar prejuízos que possam ameaçar a sua sobrevivência. Esse mecanismo de defesa aprofundará a recessão e aumentará o desemprego na crise, ao contrário do pretendido. Aumento de impostos vai na contramão das medidas adotadas no resto do mundo, reduzindo o capital disponível aos bancos e encarecendo o crédito.
Algumas dessas medidas podem piorar a concentração no mercado. Melhor seria perseverar com a agenda estrutural e sustentável. Talvez o maior risco associado a essas medidas seria fragilizar o sistema financeiro, nesse momento crítico. O Brasil tem hoje um sistema bancário bem capitalizado e bem provisionado. Ainda bem. Só nos faltava acrescentar uma crise bancária às crises sanitária e econômica que já nos assolam.
*”Desembolsos do BNDES caem ao menor nível desde 1997”*
*”Desvalorização do câmbio dá ganho fiscal de R$ 598 bilhões para o país”*
*”Commodities ganham espaço e já são 67% das exportações”*
*”Bolsonaro e Flávio enfrentam nova crise após denúncia de ex-aliado”* - Com Ministério da Saúde acéfalo, Bolsonaro aguarda a definição do ministro Celso de Mello sobre a divulgação do polêmico vídeo da reunião ministerial e é alvo de acusações de Paulo Marinho
*”Investigadores veem pretensão política de Moro”* - Desde que pediu demissão do ministério, Moro tem sido assediado por vários partidos e incentivado a disputar a Presidência em 2022
*”Ex-ministros pedem afastamento de Bolsonaro”* - Sem mencionar impeachment, integrantes da Comissão Arns dizem que “é hora de dar um basta ao desgoverno”
*”‘Risco Mourão’ afasta impeachment de Bolsonaro”* - O vice-presidente Hamilton Mourão deixou a postura de discrição e foi a público posicionar-se na crise do novo coronavírus nas últimas semanas. O tom moderado do vice contrasta com a postura do presidente Jair Bolsonaro, que vem se indispondo diariamente com governadores, adversários e jornalistas. Mourão mandou recados em videoconferências com empresários e entrevistas coletivas, onde também fez acenos aos políticos. Agora o vice fará uma pausa nessas aparições, até sair a contraprova dos exames para aferir se ele contraiu o coronavírus. O resultado divulgado ontem do primeiro teste foi negativo. Nas últimas três semanas, Mourão participou de seis videoconferências com empresários: em 27 de abril, três dias após a saída de Sergio Moro do governo, participou de live a convite da Arko Advice; em 7 de maio, foi o convidado de live do Instituto Brasil 200, que reúne grandes varejistas, como Havan, Centauro e Riachuelo; em 12 de maio, foi o convidado de live da XP Investimentos; no dia 13 de maio, falou à Câmara de Comércio Árabe Brasileira (CCAB); no dia 14, esteve em live da Associação Brasileira da Infraestrutura e Indústria de Base (ABDIB); e no dia 15, interagiu com a Federação das Indústrias do Rio Grande do Sul (FIERGS).
Apesar do acirramento da crise política - agora com o novo capítulo relativo às denúncias do empresário Paulo Marinho - parlamentares influentes insistem que é prematuro falar em impeachment de Bolsonaro, por ao menos três razões: o presidente mantém o apoio de cerca de 30% da população; a economia ainda não colapsou e o governo tem atuado para evitar o agravamento do quadro; e Mourão é uma incógnita. Um deputado influente, do círculo do presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ), pondera que nos dois impeachments da história recente do país, foi possível combinar o jogo com o sucessor porque este era do meio político. No afastamento de Fernando Collor em 1992, o então vice Itamar Franco era ex-senador, que foi atuante na Assembleia Constituinte e nas Diretas Já. No impedimento de Dilma Rousseff em 2016, Michel Temer era um expoente do parlamento, que havia sido três vezes presidente da Câmara e era presidente do PMDB. Mourão, no entanto, é um general de Exército, respeitadíssimo na caserna. Há um consenso entre lideranças das duas Casas de que se o impeachment se revelar incontornável, seria preciso exigir de Mourão o mesmo compromisso que Temer selou com o PSDB para arregimentar o apoio dos tucanos: Mourão teria de se comprometer a não disputar a reeleição. Uma espécie de acerto, entretanto, considerado utópico na política. Esse pacto foi firmado por Temer com o senador Aécio Neves (PSDB-MG) - na ocasião um de seus interlocutores mais frequentes. O “Joesley Day” tornou a reeleição uma meta inviável para Temer. Mas se não fosse esse episódio, e a economia tivesse se recuperado, não haveria por que Temer não buscar novo mandato.
Lideranças do Congresso veem o vice com desconfiança. Um exemplo de conduta do vice considerada ambígua é o artigo publicado na quinta-feira no jornal “O Estado de S. Paulo”. O texto foi classificado por parlamentares como “pendular” porque Mourão teria se alinhado a Bolsonaro na crítica aos demais Poderes e à imprensa. Segundo uma liderança da Câmara, Mourão discorreu de “forma enviesada” sobre o federalismo americano. Citou o modelo para defender a concentração do poder da União, enquanto nos Estados Unidos, o ente nacional é coordenador das ações, mas os governos estaduais são autônomos. “Ninguém sabe quem é Mourão”, alerta este deputado. “Ele faz gestos de estadista democrata, mas tem tradição de vias autoritário e vez por outra deixa escapar esse viés”. Mourão ainda é lembrado entre políticos como o general que em duas oportunidades - em 2015 e 2017 - defendeu a intervenção militar como solução para liquidar a corrupção na política. Antes do artigo, Mourão havia criticado a inobservância dos limites pelos outros Poderes em entrevista à Rádio Gaúcha, no dia 4 de maio. “Hoje existe uma questão de disputa de poderes entre os diferentes poderes, existe uma pressão muito grande em cima do poder Executivo”, afirmou. À rádio, Mourão criticou a suspensão da nomeação do diretor-geral da Polícia Federal e da expulsão dos diplomatas venezuelanos pelos ministros do STF. “Os poderes têm de buscar se harmonizar mais e buscar entender o limite da responsabilidade de cada um”. Em contrapartida, a defesa da aliança com o Centrão nas lives com a Arko Advice e a XP foi interpretada como aceno de diálogo aos partidos, caso o impeachment seja deflagrado.
No evento da XP, Mourão disse que o Executivo errou ao não ter construído antes uma base aliada no Legislativo. “Temos de buscar uma coalizão programática. É óbvio que cargos, emendas e essas coisas fazem parte da negociação entre Executivo e Legislativo. Não adianta querer tapar o sol com a peneira”, sustentou. Um senador influente, que participa das conversas de bastidores sobre o acirramento da crise política, disse que Mourão funciona como blindagem a Bolsonaro. “Mourão para o Centrão é risco, é mais fácil combinar o jogo com o rei morto, mas não posto”, resumiu. A máxima se aplica também aos presidenciáveis de 2022, como Sergio Moro e o governador João Doria (PSDB): melhor disputar com rei morto. Procurado por meio de sua assessoria de imprensa, o vice-presidente não quis se manifestar.
*”Militares de baixa patente não endossam golpismo”* - Militares de baixa patente que votaram em massa no presidente Jair Bolsonaro em 2018 - e que constituem a ampla maioria do contingente das Forças Armadas - estão divididos em relação a seu governo e em relação à perspectiva de voltar a apoiá-lo nas próximas eleições. É essa a avaliação repetida por integrantes de associações de militares ouvidos nos últimos dias pelo Valor. Eles afirmam também que nos quartéis a maciça maioria de soldados, cabos, tenentes e sargentos rejeita a bandeira de intervenção militar para fechar o Congresso Nacional e o Supremo Tribunal Federal, defendida por grupos bolsonaristas minoritários. Bolsonaro teria começado a perder o apoio hegemônico de que dispunha das tropas no ano passado quando o governo sancionou a lei 13.954, que reestruturou as carreiras militares. “A ruptura, em alguns aspectos, aconteceu aí. Muitas pessoas passaram a considerar o presidente Bolsonaro como um traidor da tropa”, diz Márcio Rodrigues de Carvalho, da Federação Nacional dos Graduados Inativos das Forças Armadas. O texto foi visto como extremamente prejudicial para militares de baixa patente - chamados de praças - que já não estão na ativa e também para as pensionistas, por causa de novos descontos que passaram a incidir sobre seus ganhos. As queixas não se restringem a isso. “Diversas dependentes deixaram de ser dependentes, só que a maioria delas hoje é formada por sexagenárias e octogenárias. Um colega ficou desesperado com a mãe com 80 e tantos anos de idade porque ela deixou de poder ser atendida em hospitais militares e ele não consegue plano de saúde para ela”, diz Carvalho, que vive em Brasília.
O descontentamento foi ainda maior porque a percepção é que lei teria dado à elite das forças, os coronéis e generais e suas pensionistas, mais ganhos do que perdas. “Ao sancionar a lei, o presidente Bolsonaro perdeu apoio de grande parte dos militares e de seus familiares. A decepção foi geral”, diz, referindo-se à baixa patente, Ivone Luzardo, que está à frente da União Nacional das Esposas de Militares das Forças Armadas Brasileiras (Unemfa) e que teve participação ativa nas discussões sobre o texto. Este ano, a imagem de Bolsonaro - capitão reformado do Exército - perdeu ainda mais pontos entre os militares da ativa e da reserva. O motivo teria sido a saída de Sergio Moro do Ministério da Justiça e as acusações feitas por ele de que o presidente tentava interferir politicamente na Polícia Federal. “Começou com o projeto de lei, depois houve o desenrolar de outros fatos e agora problema com o Moro”, diz Fabrício Dias Júnior, suboficial reformado da Força Aérea e um dos fundadores da que, segundo ele, é a maior associação de militares do país, a Associação dos Militares Inativos de Guaratinguetá e Adjacências. Ao todo, são 1.600 associados. “Seria leviandade da minha parte dizer que os militares estão fechados com Bolsonaro para 2022”, afirma ele, que desde 2017 exerce mandato de vereador em Guaratinguetá pelo MDB, no interior de São Paulo, e preside a comissão de políticas públicas da associação. “Eu não acredito que o Bolsonaro terá novamente o apoio do grosso da tropa.” O nome de Moro já aparece em trocas de mensagens de grupos de Whatsapp de militares como uma opção para as próximas eleições presidenciais ou para 2026.
Na reserva desde 2010, o subtenente Edson Silva, carioca radicado na Ilha do Marajó, é um desses entusiastas: “Eu posso nem ser oposição ao presidente Bolsonaro, mas eu vou estar mais a favor do Moro se ele virar candidato”. No fim de abril, uma comissão foi instituída pelo Ministério da Defesa para estudar formas de melhorar a remuneração dos militares de baixa patente. À frente de uma associação criada no ano passado, a Associação Brasileira Bancada Militar de Praças (ABBMP), o fuzileiro naval da Marinha José Ubirajara Fernandes da Rocha, diz acreditar que até o fim do governo essas mudanças terão sido feitas, o que reduziria as resistências que parte dos militares passaram a ter em relação ao presidente. Se discordam em alguns temas sobre as posições do presidente, Ubirajara Rocha, Edson Silva, Ivone Luzardo, Fabrício Dias e Márcio de Carvalho parecem concordar num ponto: de que não há espaço, nos quartéis, para a tese de grupos pró-Bolsonaro mais radicalizados que pedem intervenção militar. “Os únicos que ainda falam alguma coisa nesse sentido são aqueles reformados com mais de 70 anos de idade e que vivenciaram o período do regime militar 64. Falam com aquele velho saudosismo”, diz Carvalho, de Brasília. “A maioria do pessoal que é intervencionista é civil.” Para Dias, esse discurso penetra apenas em uma minoria inexpressiva dos militares. “Eu não enxergo na tropa que está na ativa, nos quartéis, isso de querer pegar em armas para destituir o Congresso. O Brasil perderia completamente a credibilidade perante o mundo. Já pensou virarmos uma Venezuela?”, questiona ele.
Crítico da forma que como o Legislativo e o Judiciário tem, segundo ele, interferido no poder Executivo, Ubirajara da Rocha diz que vê como legítimas as manifestações anti-Congresso e anti-STF. Mas diz confiar na capacidade da classe política para resolver crises. “As pessoas [que pregam intervenção] estão motivadas pelo sentimento e em alguns momentos se esquecem da Carta Magna”, diz. “Os quartéis estão pacificados, tudo normal. Isso é mais um movimento das redes sociais do que um movimento político interno.” E acrescenta: “Eu espero que tudo isso acabe sem nenhum ato institucional gravoso, que tudo se resolva na diplomacia na política”.
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