sábado, 16 de maio de 2020

Análise de Mídia 16/05



CAPA – Manchete principal: *”Bolsonaro empurra 2º ministro da Saúde para demissão em um mês”*
EDITORIAL DA FOLHA - *”A queda”*: O pedido de demissão de mais um ministro da Saúde —em menos de um mês e durante a mais grave emergência sanitária da história contemporânea— escancara a derrocada de um presidente da República que já nem mesmo finge governar o país. Importa menos, até, a perda de um quadro como Nelson Teich, de permanência no posto insuficiente para tomar conhecimento dos meandros da máquina administrativa. Tampouco seria insuperável a saída do antecessor, Luiz Henrique Mandetta, que cultivara boa imagem em entrevistas acerca do combate ao coronavírus. Está em curso, isso sim, a completa e justificada desmoralização do governo nacional, a cada dia nublado pela mesquinharia e pela estupidez de Jair Bolsonaro. Torna-se inimaginável, na Saúde, que algum profissional sério e sensato vá conformar-se a um chefete obcecado com quiméricas cloroquinas e, pior, empenhado numa cruzada macabra contra as imprescindíveis políticas de distanciamento social a custo tocadas por governadores e prefeitos. Obstáculos similares se apresentam às demais áreas da gestão que ainda gozam de alguma credibilidade. Todas, cedo ou tarde, tendem a estar subordinadas à única prioridade real do presidente —agarrar-se a um cargo para o qual reúne parcas condições intelectuais, morais, programáticas e políticas.
Sua intervenção cretina na gestão da saúde pouco difere da ingerência na Polícia Federal que pode custar-lhe o mandato. Num e noutro caso, trata-se de colocar a própria sobrevivência acima das políticas de Estado e do interesse nacional. Ao investir contra quarentenas, Bolsonaro pretende se eximir de responsabilidade pela recessão inevitável. Na acintosa afronta à autonomia da PF, ambiciona desvencilhar-se de investigações que o envolvem e a seus filhos. O próximo passo, tudo indica, será o loteamento do Executivo em favor de forças partidárias fisiológicas. “Vou interferir. Ponto final”, vociferou o presidente na reunião ministerial de 22 de abril, cujo conteúdo gravado em vídeo é peça-chave no inquérito que apura um possível —e crescentemente plausível— crime de responsabilidade. Sua defesa se apega à ausência de menção explícita à instituição policial no trecho, o que soa como filigrana diante do conjunto da obra. Na saída de Sergio Moro da Justiça, como nas de Teich e Mandetta, sobram as evidências da recusa presidencial à impessoalidade da administração, que as trocas na PF apenas expõem formalmente. Com meros 500 dias de mandato, Bolsonaro subtrai opções. Não bastassem as calamidades sanitária e econômica, ele próprio converteu-se em crise a ser enfrentada.
PAINEL - *”É fake que é a cloroquina que cura, diz coordenador de hospital em que Damares buscou protocolo para coronavírus”*: Mesmo sem qualquer capacitação técnica ou responsabilidade formal por assuntos da Saúde, Damares Alves (Direitos Humanos) pegou um avião às 5h da manhã desta quinta (14) para Floriano (PI), a 240 km de Teresina. O motivo: a fixação de Jair Bolsonaro pela cloroquina. O medicamento foi ministrado a pacientes da cidade na fase inicial. O coordenador técnico do hospital regional, Justino Moreira, afirmou, porém, que é "fake" atribuir ao remédio o êxito no resultado de 20 pacientes. O diferencial, diz ele, é a prescrição de corticoide e anticoagulante em pacientes que chegam à internação, evitando a UTI. "Antes, a gente usava só a cloroquina na segunda fase [de internação], não adiantava, não. A pessoa evoluía mal e morria. Possivelmente, não é a cloroquina a responsável pelo resultado. Na fase grave, ela é insignificante, mas talvez na fase precoce ajude o organismo a se defender", afirma Moreira. "O tratamento é efetivo, porque o paciente melhora rápido. Mas não é a cloroquina que está resolvendo o problema, isso é fake. Na verdade pegaram uma parte do protocolo e disseram que é a cloroquina, mas não é", diz o médico. O hospital tem recebido pacientes do MA e do PA. Na visita, Damares defendeu enfaticamente o medicamento. Pelo protocolo de Floriano, na primeira fase da doença, a dos primeiros sintomas, como febre e tosse, o paciente é medicado com hidroxicloroquina e azitromicina.
No sétimo dia, os pacientes são submetidos à tomografia para saber como chegam à segunda etapa e, se for o caso, já começam a receber corticóides e anticoagulantes. No protocolo atual, esses medicamentos só entrariam em ação com o paciente já intubado, na UTI. "Aqui a gente é mais agressivo ao vasculhar o doente, fazendo tomografia após o sétimo dia para ver as lesões. Essa lesão a gente ataca com corticóide e aí ela murcha, por exemplo, de 15% vai para 5%, de 50% vai para 30%. Já é suficiente para não precisar mais de oxigênio ou dar alta ao paciente". A comunidade médica está dividida sobre a cloroquina à espera de mais testes devido aos efeitos adversos, principalmente em pacientes com problemas cardíacos. Moreira afirma, contudo, que doentes da Covid-19 com problemas no coração não são tratados com cloroquina em Floriano. O tratamento foi iniciado há 15 dias na cidade. Foi trazido da Espanha, onde a médica piauiense Marina Bucar Barjud trabalha e participa do atendimento a doentes. Apesar de acreditar na eficácia do tratamento, Moreira não é crítico do isolamento social. Segundo ele, os 45 dias de distanciamento social foram importantes para ajudar os médicos a entenderem a doença sem a superlotação nos hospitais. "Fizemos um trabalho muito precoce de uso de máscaras, supermercados e serviços essenciais tinham que limitar o número de clientes, e a educação sanitária foi reforçada. Tudo isso no começo de março", afirma.
PAINEL - *”'Vocês querem que desça um anjo do céu para dizer que o remédio dá certo?', pergunta Damares sobre cloroquina”* - Durante visita à cidade de Floriano (PI), nesta quinta (14), onde foi buscar um protocolo de atendimento a pacientes de coronavírus, a ministra Damares Alves (Direitos Humanos) defendeu o uso do remédio que divide a classe médica. "Não tem comprovação científica? Como não tem? São milhares de páginas escritas por cientistas no mundo inteiro que o remédio dá certo, que a combinação de remédios... O que mais querem? Que um anjo desça do céu para dizer que o remédio dá certo?", disse a ministra. Damares visitou a cidade a pedido de Jair Bolsonaro, que advoga pela aplicação do remédio para doentes da Covid-19. A ministra, por sua vez, elogiou o protocolo piauiense e disse que havia ficado "impactada" com os resultados observados. Vinte pacientes foram tratados nos últimos 15 dias usando a hidroxicloroquina na primeira fase da doença, quando aparecem os sintomas. O coordenador do Hospital Regional Nunes, Justino Moreira, no entanto, afirmou ao Painel que é "fake" atribuir o êxito do tratamento à cloroquina e enfatizou a relevância de corticóides e anticoagulantes na fase dois da doença, quando o paciente é internado. A ministra, que não tem formação médica, disse que foi à cidade porque é direito dos pacientes saber que existe esse protocolo e de escolher. E que, além disso, o primeiro direito é o direito à vida.
PAINEL - *”Bolsonaro não convidou nem ao menos acenou para que Nise Yamaguchi assumisse Saúde, diz irmã”*
PAINEL - *”Advogado dos Bolsonaros aparece como divulgador de conspirações sobre facada em relatório da PF”* - Frederick Wassef, advogado ligado à família Bolsonaro, foi citado no relatório da segunda investigação da facada entre aqueles que espalharam conspirações ao longo do inquérito. O delegado Rodrigo Morais narra o episódio em que ele apareceu em programa de TV para apresentar o que seria um suposto furo jornalístico, na última segunda (11). Desmentido Na ocasião, Wassef disse ter ouvido de uma testemunha que o PT estaria por trás da tentativa de assassinato do então candidato a presidente. No documento, a Polícia Federal afirma que sabe de quem ele estaria falando, diz que já ouviu a pessoa e desconstrói a teoria. “Convém mencionar que Wassef, embora se apresente como advogado da vítima, não possui procuração, sendo que jamais esteve nesta PF para consultar as investigações, para indicar testemunhas ou para propor diligências, como se depreende da ausência de petições, certidões ou termos de vista em seu nome, sendo certo que a vítima possui outros advogados regularmente constituídos”, disse.
*”Transcrição reforça versão de Moro, mas há dúvida se Bolsonaro cometeu crimes”* - A transcrição de trechos da reunião ministerial de 22 de abril reforça a versão de Sergio Moro sobre o desejo de Jair Bolsonaro de interferir na Polícia Federal. Entretanto, mais investigações serão necessárias para apontar se o presidente cometeu crimes ou não. Bolsonaro nega que, durante a reunião no Planalto, tenha se referido especificamente à PF em suas falas. Afirma que jamais buscou pressionar Moro para mexer na corporação com o objetivo de influenciar em investigações ligadas a questões pessoais ou familiares. Essa é a linha principal de sua defesa no inquérito que tramita no STF (Supremo Tribunal Federal). Em contraponto aos argumentos do Planalto, a defesa de Moro lembra que, dois dias depois dessa reunião, Bolsonaro, de fato, exonerou o então diretor-geral da PF, Maurício Valeixo, o que resultou na saída do ex-ministro da Justiça. A primeira medida do novo comando da corporação foi substituir o superintendente do Rio de Janeiro. Além disso, oito depoimentos prestados confirmaram a versão de Moro de que o presidente, desde agosto do ano passado, queria trocar Valeixo. E ao menos sete acrescentaram a intenção dele de mexer no comando da PF no Rio, foco das atenções da família Bolsonaro. O inquérito agora busca informações de possíveis interesses de Bolsonaro em investigações para identificar eventuais crimes cometidos. Perícias foram feitas no telefone celular de Moro em busca de diálogos inéditos que possam levar a esse caminho. Novos depoimentos foram marcados para a próxima semana.
O argumento da AGU, antecipado em petição ao STF, é que Bolsonaro, na reunião de 22 de abril, se referia à segurança pessoal dele e de familiares, a cargo do Gabinete de Segurança Institucional, sem relação com a atuação da PF. Nesta sexta (15), o presidente reafirmou sua posição e negou ter falado em ingerência na PF para ter acesso a relatórios de inteligência da corporação. No entanto, na degravação do encontro entregue pela AGU, o presidente diz que não pode ser “surpreendido com notícias” e se queixa de órgãos vinculados à segurança. “Pô, eu tenho a PF que não me dá informações; eu tenho a inteligência das Forças Armadas que não tem informações; a Abin tem os seus problemas, tem algumas informações, só não tem mais porque tá faltando realmente… temos problemas… aparelhamento etc. A gente não pode viver sem informação”, disse. Após se queixar de não estar recebendo informações da PF e de outros órgãos de segurança, Bolsonaro afirma: "E me desculpe o serviço de informação nosso —todos— é uma vergonha, uma vergonha, que eu não sou informado, e não dá para trabalhar assim, fica difícil. Por isso, vou interferir. Ponto final.”
O presidente afirmou nesta sexta que, ao dizer na reunião de abril "por isso vou interferir, ponto final", ele estava se referindo ao GSI. "Eu espero que a fita se torne pública, para que a análise correta venha a ser feita. A interferência não é no contexto da inteligência não, é na segurança familiar. É bem claro, segurança familiar, eu não toco PF na palavra, nem Polícia Federal, na segurança...", declarou Bolsonaro, que usava uma máscara em homenagem a policiais federais. Ele foi questionado por jornalistas por que, no início desta semana, afirmou que, na reunião ministerial, não havia a palavra Polícia Federal —o que a transcrição da AGU contradiz. "Palavra PF, duas letras", respondeu Bolsonaro. Indagado novamente que a sigla PF se refere à Polícia Federal, Bolsonaro disse: "Cara, tem a ver com a PF, mas é reclamação PF no tocante aos serviço de inteligência". Esta frase do mandatário conflita com outro trecho da mesma entrevista, quando ele diz que, ao ter declarado "vou interferir e ponto final", referia-se à preocupação com sua segurança pessoal feita pelo GSI. Bolsonaro encerrou a entrevista quando os repórteres tentaram perguntar se, considerando que sua insatisfação era direcionada ao GSI, o chefe da pasta, Augusto Heleno, teria se recusado a fazer trocas em sua segurança pessoal.​
Em depoimento no inquérito, os ministros Luiz Eduardo Ramos (Secretaria de Governo), Augusto Heleno (GSI) e Braga Netto (Casa Civil) adotaram o mesmo discurso de que Bolsonaro fez cobranças de forma genérica e hipotética no dia 22 de abril. Os três ainda reforçaram a retórica de que nunca ouviram do presidente uma intenção de ingerência na polícia. Antes dos depoimentos, colhidos na terça (12), ministros reviram o vídeo da reunião, como admitiu Ramos à PF. Eles ainda tiveram reuniões com o advogado-geral da União, José Levi Mello do Amaral Júnior, e com Bolsonaro para discutir o caso.​​ Ramos chegou a afirmar que, no encontro de 22 de abril, Bolsonaro olhou para Heleno na hora da frase em que criticou a segurança dele no Rio. Segundo a transcrição da AGU, o presidente afirmou: "Eu não vou esperar f. minha família toda de sacanagem, ou amigo meu, porque eu não posso trocar alguém da segurança da ponta de linha que pertence à estrutura. Vai trocar; se não puder trocar, troca o chefe dele; não pode trocar o chefe, troca o ministro. E ponto final. Não estamos aqui para brincadeira". A defesa de Moro afirma que não há hipótese de a frase ter tido Heleno como alvo. "De todo modo, mesmo o trecho literal, comparado com os fatos posteriores —demissão do diretor-geral da PF, troca do superintendente da PF e exoneração do MJSP (Ministério da Justiça)—, confirma que as referências diziam respeito à PF e não ao GSI", dizem os advogados de Moro. O inquérito foi aberto pelo ministro Celso de Mello a pedido do procurador-geral da República, Augusto Aras, a quem caberá decidir sobre denúncia ou arquivamento. Os crimes investigados são: falsidade ideológica, coação no curso do processo, advocacia administrativa, obstrução de Justiça, corrupção passiva privilegiada, prevaricação, denunciação caluniosa e crime contra a honra. De acordo com interlocutores do PGR, Moro pode ser enquadrado nos três últimos, e Bolsonaro, nos seis primeiros.
Se Bolsonaro for denunciado, a Câmara aprovar o prosseguimento e o STF aceitar a abertura de ação penal, ele é afastado do cargo automaticamente por 180 dias. Até agora, Aras tem dado sinais de que não identifica uma conduta criminosa por parte de Bolsonaro. Assim como a AGU, ele foi contra a divulgação da íntegra do vídeo da reunião ministerial de 22 de abril. Aras alega que a gravação poderia ser usada com viés político e sustenta que esta não é a finalidade da apuração em curso no STF. ​ “A divulgação integral do conteúdo o converteria, de instrumento técnico e legal de busca da reconstrução histórica de fatos, em arsenal de uso político, pré-eleitoral (2022), de instabilidade pública e de proliferação de querelas e de pretexto para investigações genéricas sobre pessoas, falas, opiniões e modos de expressão totalmente diversas do objeto das investigações”, argumenta. Celso de Mello deve decidir a partir de segunda-feira (18) sobre a abertura do sigilo da gravação. Ele vai assistir ao vídeo da reunião ministerial alvo do inquérito para só depois definir se dá publicidade (total ou parcial) ao registro. Em nota divulgada nesta sexta, o Supremo informou que Mello irá “examinar pessoalmente” a gravação. “Sem o conhecimento do conteúdo do vídeo, o ministro não terá condições de avaliar os argumentos apresentados pelo advogado-geral da União, pelo procurador-geral da República e pelos advogados do ex-ministro Sergio Moro”, justificou. O ministro, segundo o comunicado, já tem “uma visão geral do teor da reunião”, a partir do relato feito pelo juiz federal Hugo Sinvaldo Silva da Gama Filho, que o auxilia. "O relator deverá assistir ao vídeo na segunda e somente então terá condições de elaborar sua decisão sobre o levantamento, total ou parcial, do sigilo por ele temporariamente imposto”, acrescentou o Supremo.
*”Veja transcrição comentada da fala de Bolsonaro na reunião em que citou PF e proteção da família”*
*”Bolsonaro chega a 500 dias no cargo fragilizado e no ataque”*
*”Nos 500 dias de governo Bolsonaro, veja 7 livros que ajudam a explicar presidente”* - Não é trivial entender o que se passa pela cabeça do presidente Jair Bolsonaro e quais os métodos do seu governo —se é que eles existem. O jornalismo profissional se faz ainda mais essencial diante do desafio de compreender um poder marcado por tamanha instabilidade e pelos flertes com autoritarismo. No momento em que este governo completa 500 dias, os livros também podem ajudar muito nessa busca. Ainda não foi lançada uma boa biografia do presidente, mas o mercado editorial tem obras que iluminam diferentes aspectos da sua trajetória, apresentam os homens e as doutrinas que o influenciaram e mostram como ele juntou forças para chegar ao Planalto.
Veja abaixo sete delas.
"ERNESTO GEISEL"
Lançado em 1997. Organizadores: Maria Celina d´Araujo e Celso Castro. Ed. da Fundação Getulio Vargas. Fora de catálogo (pode ser encontrado em sebos online por cerca de R$ 45). 494 págs.
É um registro histórico valioso, composto por uma série de entrevistas realizadas entre 1993 e 1994 com o general que comandou o país de 1974 a 1979. Ao abordar as relações entre a caserna e a política, Geisel lembra um deputado federal eleito pelo Rio e em primeiro mandato: “Presentemente, o que há de militares no Congresso? Não contemos o Bolsonaro porque o Bolsonaro é um caso completamente fora do normal, inclusive um mau militar”. As menções de Geisel a Bolsonaro se resumem a duas páginas, mas o efeito simbólico das declarações do general é espantoso.
"FORÇAS ARMADAS E POLÍTICA NO BRASIL"
Lançado em 2005 e relançado em 2019. Autor: José Murilo de Carvalho. Ed. Todavia. R$ 65 (ebook: R$ 40). 320 págs.
Publicado originalmente em 2005, o livro ganhou uma nova edição no ano passado, com textos inéditos sobre a relação entre militares e civis nos últimos anos. A obra alcança os primeiros meses do governo Bolsonaro. O historiador mostra, por exemplo, que a preocupação de militares com supostas ameaças comunistas tem se consolidado há mais de 90 anos no Brasil. O ódio do presidente e de seus ministros oriundos das Forças Armadas ao comunismo —ou ao que eles entendem como tal— é um sentimento amplamente cultivado nos quartéis.
"1964 - HISTÓRIA DO REGIME MILITAR BRASILEIRO"
Lançado em 2014. Autor: Marcos Napolitano. Ed. Contexto. R$ 52 (ebook: R$ 25). 368 págs.
Um dos melhores livros em catálogo sobre a ditadura que se estendeu de 1964 a 1985. Os métodos da repressão são apresentados com nitidez no capítulo “O Martelo de Matar Moscas”. Um dos nomes centrais desse trecho é Emílio Garrastazu Médici, o mais cultuado por Bolsonaro entre os presidentes-generais do período. Embora não haja referência direta a Bolsonaro, a obra elucida doutrinas da época que foram assimiladas pelo atual presidente.
"O CADETE E O CAPITÃO"
Lançado em 2019. Autor: Luiz Maklouf Carvalho. Ed. Todavia. R$ 54,90 (ebook: R$ 33). 256 págs.
Em 1987, a revista Veja revelou que um jovem oficial do Exército chamado Jair Bolsonaro havia preparado um plano para explodir bombas em locais estratégicos do Rio. Ao reconstituir os anos de formação militar de Bolsonaro, o livro-reportagem de Maklouf revela o que motivou esse temperamento indisciplinado. A melhor parte, porém, vem em seguida, é o passo a passo do processo a que o capitão foi submetido no Superior Tribunal Militar, que o inocentou. Com base em documentos, o repórter esmiúça a sucessão de falhas do julgamento. Passados alguns meses da absolvição, Bolsonaro deixou a farda e ingressou na vida política.
"SOBRE O AUTORITARISMO BRASILEIRO"
Lançado em 2019. Autora: Lilian Moritz Schwarcz. Ed. Companhia das Letras. R$ 50 (ebook: R$ 35). 280 págs.
Embora não haja no livro menção direta ao presidente, a historiadora e antropóloga discorre, do primeiro ao último capítulo, sobre marcas da sociedade brasileira que permitiram a chegada de Bolsonaro ao poder. Características exploradas pela autora, como o mandonismo e a intolerância, também nos ajudam a entender o modo bolsonarista de governar.“A razão binária produz um sentimento beligerante de contraposição, que gera desconfiança diante de tudo que não faça parte da nossa própria comunidade moral”, ela escreve.
"DEMOCRACIA EM RISCO?"
Autores: Angela de Castro Gomes, Celso Rocha de Barros, José Arthur Giannotti, Boris Fausto, Heloisa Starling, Esther Solano, Matias Spektor e outros. Ed. Companhia das Letras. R$ 49 (versão digital: R$ 30). 328 págs.
Reunião de 22 ensaios em que historiadores, cientistas políticos, advogados e economistas expõem diferentes visões sobre o que representa o êxito bolsonarista. O antropólogo Ronaldo de Almeida mostra como Bolsonaro soube conquistar grande parte do eleitorado evangélico explorando questões morais. Ao cultivar a política como guerra, em conflito permanente com variados setores da sociedade, escreve a socióloga Angela Alonso, colunista da Folha, o presidente “tocou fundo uma corda da alma nacional”.
"TORMENTA"
Lançado em 2020. Autora: Thaís Oyama. Ed. Companhia das Letras. R$ 41 (ebook R$ 30). 272 págs.
O livro-reportagem sobre os bastidores do primeiro ano do mandato de Bolsonaro tem algumas informações que, à luz de hoje, soam envelhecidas. Conta, por exemplo, que o presidente cogitou demitir o então ministro da Justiça, Sergio Moro, em agosto de 2019. Como se sabe, Moro pediu demissão no final de abril, três meses após o lançamento de “Tormenta”. São os riscos de um livro lançado enquanto ainda corre o jogo. Mas a obra merece leitura por outra razão, a clareza com que Oyama descreve as paranoias de Bolsonaro. A jornalista mostra um homem público muito desconfiado, que cultiva suspeitas, inclusive, em relação àqueles que o cercam. “Jair Bolsonaro tem raciocínio binário, dizem conhecidos de longa data”, ela escreve. “Quem não é seu amigo é seu inimigo. E enquanto os amigos de verdade são poucos, os inimigos estão em toda a parte.” O trecho, como se vê, dialoga com o que Lilian Schwarcz ressaltou no seu “Sobre o Autoritarismo Brasileiro”.
*”Governo Bolsonaro tem ao menos uma crise a cada 50 dias; relembre dez delas”*
*”Resistência de ministros atrasa nomeações do centrão e amplia desconfiança sobre promessa de Bolsonaro”* - A resistência de ministros em cumprir a ordem do presidente Jair Bolsonaro de entregar cargos de segundo e terceiro escalões para os partidos do chamado centrão tem atrasado as nomeações de indicados pelas siglas e gera insatisfação de dirigentes partidários. O trato firmado pelo Palácio do Planalto era para que a maioria das indicações fosse publicada nesta semana no Diário Oficial da União. O prazo dado por auxiliares de Bolsonaro para que os nomes passassem por pente-fino para verificar antecedentes já teria terminado. Até o momento, no entanto, a maior parte não foi efetivada. Isso aumentou a desconfiança se, de fato, o presidente cumprirá o prometido. O maior incômodo com a orientação do presidente tem sido manifestada por ministros do núcleo ideológico e da equipe econômica. Em conversas reservadas, a principal crítica é a de que Bolsonaro tem contrariado seu discurso de campanha e colocado em risco o apoio de parcela do seu eleitorado. Segundo líderes do centrão, o ministro Abraham Weintraub (Educação) é um deles.
Chegou a congressistas o relato de que ele teria ficado tão contrariado com a obrigação de ceder a presidência e a diretoria do FNDE (Fundo Nacional de Desenvolvimento da Educação) que sugeriu ao ministro Walter Braga Netto (Casa Civil) que assumisse o órgão em sua pasta. Braga Netto, no entanto, teria recusado a oferta. Sob a ameaça de ser exonerado, Weintraub cedeu —Bolsonaro avisou que suas indicações deverão ser respeitadas sob pena de demissão. Segundo relatos, porém, o ministro disse que criaria critérios de gestão e governança no órgão federal. A presidência do FNDE foi prometida ao Progressistas. Já as diretorias do fundo serão divididas entre PL e Republicanos, por exemplo. Os nomes já foram enviados.​ O FNDE é estratégico aos congressistas por ser capaz de irrigar grandes obras, o que pode ser explorado em futuras campanhas eleitorais. O ministro Paulo Guedes (Economia) é outro que se incomodou com a orientação de Bolsonaro. Ele embarreirou algumas sugestões para o Banco do Nordeste, segundo congressistas e integrantes do governo. O órgão está prometido para o PL, de Waldemar Costa Neto. Além dos dois, segundo relatos de assessores presidenciais, os ministros Onyx Lorenzoni (Cidadania) e Ernesto Araújo (Relações Exteriores) também teriam se incomodado com o loteamento partidário da máquina pública.
Em um contraponto, o núcleo militar não tem demonstrado resistência à tentativa do presidente de formar uma base aliada, mesmo se aliando ao que ele mesmo já chamou de "velha política". A avaliação é a de que chegou a hora de Bolsonaro mudar a retórica e formar uma base aliada para conseguir aprovar medidas de impacto econômico. "Temos de buscar uma coalizão programática. É óbvio que cargos, emendas e essas coisas fazem parte da negociação entre Executivo e Legislativo", disse na terça-feira (12) o vice-presidente Hamilton Mourão. "Não adianta querer tapar o sol com a peneira. Acho que está mais ou menos sendo conduzido dessa forma." Embora avancem, as negociações são marcadas por desconfianças de ambos os lados. Do lado do Congresso, a avaliação de líderes partidários é a de que o Planalto pode querer entregar as demandas a conta-gotas para verificar se os deputados também cumprirão sua parte no acordo. Isto é, se votarão com o governo e defenderão Bolsonaro. Neste último aspecto, os congressistas já têm dado contribuição ao tentar blindar o presidente das críticas e acusações de que ele teria tentado interferir na Polícia Federal, como acusou o ex-ministro Sergio Moro (Justiça e Segurança Pública).
Desde que as legendas do centrão começaram as negociações, há mais de um mês, dois cargos foram publicados no Diário Oficial da União. A estreia foi na semana passada, com a publicação da nomeação de Fernando Marcondes de Araújo Leão como diretor-geral do Dnocs (Departamento Nacional de Obras Contra as Secas), com salário de R$ 16.944,90. A autarquia federal, vinculada ao MDR (Ministério do Desenvolvimento Regional), é responsável pela construção de barragens e açudes nas regiões áridas. Tem forte caráter assistencial no Nordeste. Também na última semana, o governo nomeou Tiago Pontes Queiroz como secretário nacional de Mobilidade e Desenvolvimento Regional, também do MDR. Ele foi indicado pelo Republicanos e entrou no lugar Adriana Melo Alves. Segundo aliados do ministro Rogério Marinho (Desenvolvimento Regional), ele decidiu dar à servidora uma diretoria dentro da própria secretaria para que ela mantivesse influência no setor. Há ainda outros cargos que foram colocados na mesa à espera da nomeação. A Secretaria de Vigilância em Saúde, do time do ministro Nelson Teich (Saúde), foi prometida ao PL. O PP também abocanhará espaços no Ministério da Saúde, como a Funasa. Outros 77 cargos federais nos estados foram colocados, de acordo com congressistas, à disposição dos partidos em troca de apoio. As legendas dividem entre si esses postos de acordo com o tamanho de cada partido. ​
DEMÉTRIO MAGNOLI - *”Réplica a um confinado bacana”*
*”Inquérito da facada envolveu dois 'sósias' de Adélio e mulheres difamadas por fake news”*
*”Doria chega a 500 dias de governo 'transformado' em presidenciável na pandemia”*
*”Sem Haddad, PT escolhe entre Padilha e Tatto para disputar Prefeitura de SP”* - A semana começou com sete nomes na disputa pela vaga de candidato do PT à Prefeitura de São Paulo, em escolha que deveria ter sido feita em março, não fosse a pandemia. O adiamento deu tempo para reviravoltas que terminaram em uma disputa acirrada a ser decidida neste sábado (16) entre Jilmar Tatto e Alexandre Padilha. A votação secreta e online será feita entre 615 membros de diretórios regionais de São Paulo. Nesta sexta-feira (15), às 18h, uma reunião virtual com os pré-candidatos e líderes petistas abriu o processo. Não é o cenário dos sonhos para petistas, que já admitem ficar fora do segundo turno na cidade e terão que disputar votos na esquerda com o provável candidato do PSOL, Guilherme Boulos. Para se fortalecer, o PT quer a ex-prefeita Marta Suplicy (Solidariedade) como vice. O ex-prefeito Fernando Haddad (PT) era o favorito no partido e tinha mais chances eleitorais. “Todo mundo gostaria que Haddad fosse candidato”, resumiu o ex-presidente Lula (PT) em fevereiro.
A recusa de Haddad, apesar da intensa pressão, levou a uma disputa com sete nomes e que deixa o partido em pior situação —dependente de Lula como cabo eleitoral e do desgastes bolsonarista e tucano. Líder maior do PT, o ex-presidente não fez acenos a nenhum dos lados. Sua preocupação é que o partido saia da votação rachado. Líderes petistas também temem que o vencedor não tenha apoio interno, devido ao formato restrito da votação, amplamente contestado. Entre os sete nomes, Tatto foi considerado favorito porque seus apoiadores são maioria nos órgãos petistas da cidade. Ele não se opôs à votação somente entre dirigentes, enquanto seus adversários defendiam prévias online com todos os filiados —formato em que Tatto também largaria com vantagem, mas que daria espaço a surpresas. Durante a semana, porém, seu favoritismo foi posto em dúvida quando o deputado federal Paulo Teixeira, o vereador Eduardo Suplicy e o urbanista Nabil Bonduki deixaram a corrida para apoiar Padilha. O deputado federal Carlos Zarattini também desistiu, mas não indicou seu apoio, o que beneficia Padilha na prática. A ativista do movimento negro Kika Silva foi a única a sair e apoiar Tatto.
Na segunda-feira (11), em debate virtual com os então concorrentes, ficou claro que o jogo se daria entre Tatto, ex-deputado federal e ex-secretário das gestões Haddad e Marta Suplicy, e Padilha, deputado federal, ex-ministro, também ex-secretário de Haddad. Foram os dois que apresentaram falas fortes e um discurso de candidato. Sendo ambos da mesma corrente do PT, a majoritária Construindo um Novo Brasil, não houve diferença significativa: defenderam a democracia, pediram a saída do presidente Jair Bolsonaro, trataram do coronavírus como tema central e prometeram implementar a renda básica na cidade. A divergência entre os pré-candidatos girou em torno do formato da votação. Nas prévias presenciais, canceladas pelo coronavírus, cerca de 180 mil filiados poderiam participar –mas apenas cerca de 20 mil deveriam votar de fato. A direção nacional do PT, porém, avaliou que não havia possibilidade técnica para prévias online com todos os filiados, principalmente porque os cadastros de filiados estão desatualizados. E definiu que apenas o diretório municipal de São Paulo, com 46 pessoas, votaria. A medida beneficiou Tatto, que controla a máquina do partido na cidade. Ele e Kika argumentavam que as prévias online excluiriam os filiados mais pobres, sem acesso à internet ou computador.
O impasse foi tamanho, inclusive com recursos à cúpula do PT e cartas de repúdio, além do posicionamento de José Dirceu e José Genoino contra o colegiado restrito, que a escolha marcada para 30 de abril foi novamente adiada. Lula foi chamado a arbitrar. Em reunião com os sete pré-candidatos, chegou-se a um acordo para que a votação incluísse os membros dos diretórios regionais, o que amplia o colégio para 615 pessoas. Ainda assim, nesse ambiente controlado, Tatto teria maioria certa. Os demais pré-candidatos aceitaram o acordo, mas seguiram manifestando preferência por prévias amplas em debates –foram 14 debates presenciais antes da pandemia e mais dois virtuais. Na quinta (14), Zarattini se retirou da disputa por não concordar com a votação limitada. Um dia antes, Suplicy, Bonduki e Teixeira haviam desistido para apoiar Padilha. Boa parte dos petistas passou a não arriscar dizer quem levará a candidatura nesse novo cenário. A onda pró-Padilha foi impulsionada pela conjuntura do coronavírus, em que ter um médico ex-ministro da Saúde como candidato seria benéfico. Apoiadores de Tatto afirmam, contudo, que ele mantém maioria e que os demais se juntaram ao perceber que não haveria segundo turno e que sairiam diminuídos. Tatto é aliado do presidente do PT estadual, Luiz Marinho, e da presidente nacional do PT, Gleisi Hoffmann. “Foi um processo rico, em que a militância realmente se envolveu. Quem ganhar sai muito legitimado, porque quem escolheu esses 615 dirigentes foram os filiados”, afirma Tatto. “O processo teve como ponto alto os debates com milhares de pessoas pela periferia. O ponto baixo foi a tentativa da maioria da direção municipal em restringir a decisão a apenas 46 dirigentes como também impedir uma prévia digital para os 180 mil filiados”, diz Padilha. Padilha e Tatto dizem não haver desunião e prometem apoiar o colega se perderem.
Na reunião desta sexta, que abriu o processo de escolha, Haddad admitiu que “às vezes sai uma faísca aqui e ali”, mas pregou unidade e se colocou à disposição para a campanha do vencedor. “Temos que sair muito unidos da disputa de amanhã. São duas pessoas com qualificação técnica e política e compromisso de alma com a periferia de São Paulo”, afirmou. Também enumerou o legado petista na cidade, como Céus e corredores de ônibus. “Estamos em toda condição de ir para o segundo turno, se a gente unir a periferia e lembrar as pessoas dos governos que mudaram São Paulo para melhor”, disse Haddad, afirmando que o partido saiu de um “vale de lágrimas em 2016” para o segundo turno em 2018. Depois de dois adiamentos da escolha interna, o PT está atrasado em relação a outros candidatos que já preparam plano de governo, chapa de vereadores, adotam discurso eleitoral e buscam se tornar mais conhecidos do público. No campo da esquerda, PSB e PDT se uniram com Márcio França (PSB) e o PC do B lançará Orlando Silva. Nos campos de centro e direita, Bruno Covas (PSDB) tenta a reeleição e há também Andrea Matarazzo (PSD), Filipe Sabará (Novo), Joice Hasselmann (PSL) e Arthur do Val (Patriota). Ainda há incerteza em relação a José Luiz Datena (MDB), que negocia a vaga de vice na chapa tucana, e a Marta, que pode ser candidata a prefeita ou a vice. O PSOL tampouco escolheu seu candidato entre Guilherme Boulos, Samia Bomfim e Carlos Giannazi. Bolsonaro até agora não tem um nome que o represente em São Paulo. Seu partido, a Aliança pelo Brasil, não se viabilizou para este pleito. O limite legal para candidaturas é 15 de agosto.
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*”1,1 milhão de brasileiros deixam a força de trabalho no 1º trimestre”* - No primeiro trimestre de 2020, 1,1 milhão de brasileiros deixaram a força de trabalho. Esse é o segundo maior número registrado nas estatísticas da pesquisa trimestral de emprego do IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística), a Pnad Contínua, atrás apenas da redução de 1,2 milhão registrada no segundo trimestre 2012 em relação aos três meses anteriores. São consideradas fora da força de trabalho as pessoas que não possuíam emprego e não procuraram trabalho nos 30 dias anteriores ao período da pesquisa –ou procuraram, mas não estavam disponíveis para trabalhar na semana de referência do levantamento. Nos três primeiros meses do ano, 67,3 milhões de pessoas com 14 anos ou mais de idade estavam nessa condição, número recorde. Já a força de trabalho era composta por 105,1 milhões de pessoas. Como o desemprego é medido pelo número de pessoas desocupadas em relação ao tamanho de força de trabalho, a redução deste último grupo contribui para amenizar o aumento na taxa de desempregados no país, que estava em 12,2% no primeiro trimestre deste ano. Na avaliação de especialistas em mercado de trabalho, esse é um fenômeno que deve se acentuar com a pandemia de coronavírus. Como as pessoas estão em distanciamento social, a tendência é que muitos desempregados não procurem emprego. Além da procura, o IBGE pergunta se o entrevistado estava pronto para iniciar um novo trabalho. O distanciamento social faz com que muitas pessoas não estejam disponíveis. Para a pesquisadora Maria Andreia Lameiras, do Ipea (Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada), a redução na força de trabalho deve se acentuar nos próximos meses, ao mesmo tempo em que mais trabalhadores perderão o emprego ou, no caso dos informais e daqueles que trabalham por conta própria, não terão como seguir trabalhando.
O encolhimento do contingente de pessoas que estão trabalhando ou buscando deve ocorrer por uma combinação de fatores, segundo a pesquisadora, e ainda deve passar por uma aceleração. "O medo da contaminação vai fazer com que muita gente não procure trabalho, e isso aparecerá com mais força na pesquisa de abril, já que o distanciamento começou mesmo na segunda quinzena de março. Antes disso, o confinamento foi mais voluntário." Além do medo do novo coronavírus, Maria Lameira diz que o fato de muitas empresas estarem fechadas também inviabiliza a entrega de currículos e a busca por vagas feita de maneira mais tradicional. O pagamento do auxílio emergencial de R$ 600 ou R$ 1.200 a informais durante o segundo trimestre, que já alcança 50 milhões de pessoas, também reduz a necessidade de que algumas pessoas procurem temporariamente uma ocupação. "As pessoas perdem o trabalho, e, como elas têm a opção do auxílio emergencial, muitas acabam não procurando emprego. Isso pode distorcer um pouco a estatística de taxa de desemprego", afirma Daniel Duque, pesquisador da área de Economia Aplicada do Ibre (Instituto Brasileiro de Economia da FGV). "A gente vai ter de ficar sempre atento à taxa de participação e olhar a variação da população ocupada. Muita gente não vai procurar emprego, e isso pode reduzir artificialmente a taxa de desemprego nos próximos meses", diz. O Ibre projeta uma queda de 3% na força de trabalho em 2020, o que levaria o número ao menor patamar desde o fim de 2016, com cerca de 102 milhões de pessoas. A taxa de participação da força de trabalho na população disponível para trabalhar era de 61% em março, menor percentual desde o primeiro trimestre de 2015, durante a última recessão brasileira. Dentro do grupo de pessoas fora da força de trabalho estão também os desalentados. Aqueles que desistiram de procurar emprego somavam 4,8 milhões, número que permanece praticamente estável nos últimos trimestres.
*”Bolsonaro barra motoristas de aplicativo e outras categorias em vetos à ampliação do auxílio emergencial”* - O presidente Jair Bolsonaro (sem partido) vetou diversos trechos do projeto de lei que amplia o auxílio emergencial de R$ 600 para informais impactados pela crise do novo coronavírus. O projeto agora convertido em lei foi aprovado pelo Congresso em 22 de abril e aguardava a sanção de Bolsonaro, que foi parcial. O presidente barrou dispositivo que estendia a ajuda emergencial para uma lista de categorias específicas. A lista incluía pescadores artesanais, agricultores familiares, assentados de reforma agrária; artistas e técnicos de espetáculo, cooperados de catadores de materiais recicláveis; taxistas, motoristas e entregadores de aplicativo, entre outras. A justificativa para o veto foi que a ampliação cria despesas sem que estejam indicadas as fontes de recurso e que ela fere o princípio da isonomia, uma vez que especifica determinadas categorias beneficiadas em detrimento de outras. Outro trecho vetado por Bolsonaro —e que atende o pleito do ministro Paulo Guedes (Economia)— abria a possibilidade que beneficiários do Bolsa Família que tivessem direito ao auxílio emergencial acumulassem os dois benefícios.
Os vetos de Bolsonaro precisarão ser confirmados ou derrubados pelo Congresso Nacional. O presidente barrou ainda um item que abria brecha para que empregados formais com contrato de trabalho intermitente e renda mensal inferior a um salário mínimo tivessem direito ao auxílio. Pela redação dada pelo Legislativo, pescadores artesanais poderiam fazer jus ao benefício nos meses em que não recebem o seguro-defeso, mas essa redação também foi suprimida pelo presidente. Ficou de fora ainda a redação final um trecho incluído pelo Congresso que ampliava o benefício de duas cotas do auxílio também para pais solteiros que fossem os provedores da família —a lei que criou o auxílio estabelece o pagamento em dobro para as mães solteiras chefes de família. Ele sancionou, por outro lado, a permissão para que mães adolescentes recebam a ajuda de R$ 600. Apesar dos vetos, Bolsonaro manteve no texto dispositivo que permite a suspensão de parcelas de empréstimos do Fies (Fundo de Financiamento Estudantil) para contratos que estavam em dia antes do início do estado de calamidade pública.
+++ A reportagem apresenta a ação de Jair Bolsonaro, mas não abre espaço para crítica alguma.
*”Governo libera segunda parcela de auxílio de R$ 600 na semana que vem, mas segura saques em espécie”* - O governo divulgou nesta sexta-feira (15) o calendário de pagamento do auxílio emergencial de R$ 600 destinado a trabalhadores informais, autônomos e microempreendedores individuais. As liberações vão começar na segunda-feira (18) para os beneficiários do Bolsa Família, que já poderão fazer os saques em espécie. Para o restante do público, os recursos serão depositados em conta na quarta-feira (20) mas só poderão ser sacados em espécie de forma escalonada de 30 de maio a 13 de junho. Enquanto não puderem ser sacados, os recursos liberados estarão disponíveis apenas para o pagamento de contas e boletos e para compras por meio de cartão de débito virtual. Em portaria publicada pelo Ministério da Cidadania no Diário Oficial da União, o governo diz que há necessidade de evitar um fluxo grande de pessoas ao mesmo tempo nas agências bancárias. Até então, a pasta dizia que não tinha previsão de quando o calendário seria liberado. A Caixa, por sua vez, dizia que aguardava decisão do governo. Conforme mostrou a Folha, havia preocupação também sobre a existência suficiente de moeda para as operações. Para tentar suprir a demanda, o Banco Central pediu a antecipação da produção de R$ 9 bilhões em cédulas e moedas até o fim de maio. A portaria determina ainda que, nas datas estabelecidas para saque, o eventual saldo existente nas poupanças sociais digitais será transferido automaticamente para a conta em que o beneficiário tiver recebido a primeira parcela. Segundo dados da Caixa, mais de 50 milhões de pessoas já receberam os recursos. Foram creditados R$ 35,5 bilhões até a manhã desta sexta. No Bolsa Família foram considerados elegíveis 19,2 milhões de pessoas até agora. Outros 10,5 milhões vieram do Cadastro Único (de programas sociais do governo). E outros 20,3 milhões foram validados no site e no aplicativo da Caixa.
PAGAMENTO DA 2ª PARCELA
Datas de depósito para uso digital (pagamento de contas e boletos e para compras por meio de cartão de débito virtual)
Nascidos em janeiro e fevereiro: 20 de maio
Nascidos em março e abril: 21 de maio
Nascidos em maio e junho: 22 de maio
Nascidos em julho e agosto: 23 de maio
Nascidos em setembro e outubro: 25 de maio
Nascidos em novembro e dezembro: 26 de maio
DATAS DE SAQUE EM ESPÉCIE
Beneficiários do Bolsa Família (data de pagamento conforme o número final do NIS, o Número de Identificação Social).
NIS de final 1: 18 de maio
NIS de final 2: 19 de maio
NIS de final 3: 20 de maio
NIS de final 4: 21 de maio
NIS de final 5: 22 de maio
NIS de final 6: 25 de maio
NIS de final 7: 26 de maio
NIS de final 8: 27 de maio
NIS de final 9: 28 de maio
NIS de final 0: 29 de maio
DEMAIS PÚBLICOS
Nascidos em janeiro: 30 de maio
Nascidos em fevereiro: 1 de junho
Nascidos em março: 2 de junho
Nascidos em abril: 3 de junho
Nascidos em maio: 4 de junho
Nascidos em junho: 5 de junho
Nascidos em julho: 6 de junho
Nascidos em agosto: 8 de junho
Nascidos em setembro: 9 de junho
Nascidos em outubro: 10 de junho
Nascidos em novembro: 12 de junho
Nascidos em dezembro: 13 de junho
PAINEL S.A. - *”Empresários criticam Bolsonaro após demissão de Teich”*: A saída precoce de Nelson Teich do comando do Ministério da Saúde nesta sexta (15) acontece em meio à instabilidade que Bolsonaro está provocando no país durante a pandemia e provoca um efeito contrário ao que pretende o presidente, que é a reabertura mais rápida da economia. A avaliação é de José Ricardo Roriz, vice-presidente da Fiesp. Roriz, que também é presidente da Abiplast (associação da indústria de plásticos), afirma que o Bolsonaro está defendendo uma flexibilização rápida, mas avalia que para isso acontecer é preciso ter uma boa comunicação. "O que ele está fazendo é exatamente o contrário. Com essa instabilidade no Ministério da Saúde, como você vai fazer uma abertura, se existe uma insegurança geral com relação ao que está acontecendo aqui no Brasil? Você tem o presidente em uma direção, os governadores na outra. Não tem um alinhamento do presidente com o Congresso", afirma Roriz. Segundo ele, é preciso dar segurança às famílias para que elas voltem ao comércio e às fábricas. "Cada dia –e tem sido quase que diariamente– que ele cria uma instabilidade, ele aumenta a insegurança e atrapalha ainda mais o retorno ao trabalho. Com uma insegurança como essa e a mensagem ruim, não tem condição de voltar porque está todo mundo inseguro", diz ele.
Outro representante da indústria, Paulo Camillo ​Penna, presidente da ABCP (Associação Brasileira de Cimento Portland), afirma que falta uma direção. "O conjunto de medidas que estão sendo tomadas está insuficiente em razão de uma falta de planejamento e também da incapacidade da conjuntura em conseguir todos os equipamentos necessários. E a gente vê ainda esses esforços sendo drenados por discussões políticas de menor importância. Claramente nós não temos uma direção definida para combater esse problema da maneira que deveríamos", diz Penna. Para Paulo Solmucci, presidente da Abrasel (associação de bares e restaurantes), a troca precoce do ex-ministro é preocupante. "Quando você vê uma tentativa nova de formar um time e dura tão pouco, preocupa a falta de liderança da autoridade central sobre como vamos retomar", afirma ele. Solmucci, no entanto, pondera que a falta de interesse para diálogo é um problema generalizado. "Não vi iniciativas amistosas de buscar a mesa, não é só o presidente", diz ele. Humberto Barbato, presidente da Abinee (que representa a indústria de eletrônicos), avalia que Bolsonaro pode ter errado ao colocar Teich no cargo. "Talvez ele tenha escolhido mal a substituição do [ex-ministro Henrique] Mandetta. Qualquer administrador pode se equivocar na escolha de um auxiliar. Não sei se o ministro que se demitiu hoje realmente tinha perfil para ser ministro", diz Barbato. ​
PAINEL S.A. - *”Mais de 60% dos empresários são a favor de reabrir estabelecimentos na pandemia, diz pesquisa”*: A posição de Bolsonaro a favor da abertura dos estabelecimentos comerciais e da expansão dos serviços essenciais durante a pandemia, tem eco no empresariado. Cerca de 63% dos empresários são a favor da reabertura no contexto atual da crise do coronavírus, segundo pesquisa realizada pelo Instituto Sociollog entre os dias 14 e 15 de maio com 200 empresários.
*”Bitcoins voltam a crescer na pandemia”*
*”RaiaDrogasil entra em nova fase de doações e cria fundo de R$ 25 milhões”*
*”Dar reajuste a servidor é usar cadáveres como palanque, diz Guedes”* - O ministro Paulo Guedes (Economia) fez apelo a prefeitos, governadores e, em especial ao Congresso, para que não haja reajuste dos salários do funcionalismo público. Ele disse que se valer do momento de crise para elevar custos é fazer palanque político em cima de cadáveres. Em entrevista coletiva no Palácio do Planalto nesta sexta-feira (15), realizada em comemoração aos 500 dias de governo, Guedes criticou o que ele chamou de exploração política da crise sanitária. "Vamos subir em cadáveres para arrancar recursos do governo? Isso é inaceitável, a população não vai aceitar, a população vai punir quem usar cadáver para fazer palanque​", afirmou o ministro da Economia. Ao fazer a declaração, ele se referia aos reajustes do funcionalismo público, aprovada pelo Poder Legislativo. A suspensão desse aumento por 18 meses foi a única contrapartida exigida pela equipe econômica no projeto de lei de ajuda financeira de R$ 125 bilhões a estados e municípios diante da pandemia do novo coronavírus.
O Congresso, no entanto, retirou uma série de categorias da regra, como professores, profissionais de saúde, agentes funerários, de limpeza urbana e assistentes sociais. A exclusão teve o aval do próprio presidente Jair Bolsonaro, que relutava em desagradar funcionários públicos, parte de sua base de apoio. Na semana passada, Bolsonaro afirmou que vai vetar um trecho da lei de socorro financeiro a estados e municípios que libera reajustes salariais a servidores públicos até o fim de 2021. Na quinta (14), o presidente deu outra sinalização após conversar com o presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ). Ele disse que deverá fazer uma videoconferência com governadores para tratar do projeto de socorro aos estados aprovado pelo Congresso e só depois decidirá se vetará ou não trecho da proposta que permite reajuste salarial a categorias do funcionalismo. Bolsonaro conversou sobre o texto que destina auxílio financeiro aos gestores dos estados em reunião com Maia. Guedes, nesta sexta, pediu que o presidente faça o veto e que, o Congresso, não o derrube. "Só vamos pedir uma contribuição. Por favor, enquanto o Brasil está de joelhos, nocauteado, tentando se reerguer, por favor, não assaltem o Brasil. Não transforem num ano eleitoral, onde é importante tirar o máximo possível do gigante que foi abatido. Deixa ele levantar", afirmou o ministro. Guedes disse que não se pode aumentar um momento de fragilidade para fazer política.
Nos bastidores, o chefe da equipe econômica tem criticado Maia (DEM-RJ), por ter apoiado o reajuste dos servidores. "Eu estou pedindo uma contribuição do funcionalismo brasileiro, eu estou pedindo ao Congresso que não derrube o veto do presidente. Eu estou pedindo ao Congresso que faça o que eu acredito que nos somos. Uma grande sociedade aberta, uma democracia dinâmica, onde os poderes vão demarcando os territórios e atuando", afirmou. Ele fez um apelo para que o presidente da Câmara ajude o governo como fez na aprovação da reforma da Previdência. O recado foi enviado ainda aos estados e municípios, dizendo que o governo federal tem capacidade limitada de endividamento para socorrer as unidades da federação. "Esquece-se que nós também estamos perdendo as receitas. Podemos nos endividar? sim, mas há limites." Guedes pediu ainda que não seja feita "exploração política" e disse que é importante para que as lideranças políticas busquem a popularidade. "Só estamos pedindo uma contribuição, prefeitos, municípios, governadores e da Câmara e do Senado", disse. Ele afirmou que não é o momento de haver divergências e fez uma analogia a um barco para falar da crise. "Não faz sentido nós estarmos num barco sendo ameaçados de sermos afundados por duas ondas enormes e nos estamos lutando a bordo. Que vamos conseguir com uma luta a bordo desse barco? Vamos salvar o barco, quando a gente chegar em terra firme a gente começa a brigar de novo."
+++ Novamente, o ministro da Economia aparece lançando suas ideias, distribuindo críticas e o texto não traz contrapontos. Não sequer reportagens que tragam respostas dos mencionados.
*”Empresas usam só 3,7% de crédito para salário, e governo prepara nova linha”* - Diante do fracasso do programa para financiamento de folhas de pagamento das empresas, o governo estuda criar uma nova linha com menor participação do Tesouro Nacional na tentativa de diminuir também as exigências, como a de manter o funcionário por período igual ao da contratação do empréstimo. Até quarta-feira (13), de acordo com dados do Banco Central, apenas 3,7% dos R$ 40 bilhões disponíveis para a linha de crédito destinada a cobrir os salários dos empregados do setor privado foram emprestados. Ao todo, foram R$ 1,48 bilhão em empréstimos para 63,6 mil empresas. Pouco mais de 1 milhão de funcionários foram beneficiados. Quando o programa foi lançado, em 27 de março, o BC estimou que cerca de 12 milhões de pessoas e 1,4 milhão de empresas seriam contemplados. Um dos motivos para a baixa adesão das empresas ao programa é a exigência de não demitir o funcionário por período igual ao financiado (até dois meses).
Em videoconferência com empresários, organizada pela Fiesp (Federação das Indústrias do Estado de São Paulo) na quinta-feira (14), o presidente da entidade, Paulo Skaf, pediu ao ministro da Economia, Paulo Guedes, que amplie essas linhas de crédito. "O Tesouro pediu para travar [a linha de crédito] e mudar para outra opção. A gente ia travar, mas parece que está começando a pegar. Vai andar”, disse Guedes. “Estamos avaliando um modelo novo, o first-loss, em que o governo banca os primeiros 20% de perda para animar os bancos a entrarem [nesse negócio]. Será o contrário do Fopas [financiamento das folhas de pagamento]", completou. O novo programa incluiria também empresas maiores. "Dos R$ 40 bilhões que foram liberados, o Tesouro disse que só R$ 1,5 bilhão saiu. É pouco. Então, passa para R$ 100 milhões [de faturamento] e não só R$ 10 milhões", adiantou o ministro.
Atualmente, a linha emergencial financia dois meses de folha de pagamento das empresas com faturamento de R$ 360 mil a R$ 10 milhões por ano. Esse grupo é formado pelas pequenas e uma parte das médias empresas. "Eles [as empresas] não querem porque precisam de capital de giro, mas gostariam de reduzir mão-de-obra. Podem querer demitir 20%. E a outra modalidade tem compromisso de não demitir", admitiu Guedes. A medida foi lançada há um mês e meio pelo BC em conjunto com o Ministério da Economia e o BNDES (Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social). “Uma exigência desse programa é que a empresa, uma vez que contrate para pagar o salário, ela não pode colocar nenhum trabalhador para fora, e as empresas estão reclamando porque elas acham que é uma exigência muito forte e elas têm dúvidas se vão conseguir manter o emprego, e por isso não estão contratando”, afirmou o secretário do Tesouro, Mansueto Almeida.
Mansueto participou de videoconferência na Comissão Mista de Acompanhamento das Medidas relacionadas ao coronavírus na quinta-feira (14). A deputados e senadores, o secretário admitiu que “não necessariamente” os recursos que saem do caixa da União chegam às empresas e disse que o governo está revisando a iniciativa. O governo entra com 85% dos recursos e os bancos com 15%. O custo para a empresa é igual à taxa básica (a Selic está em 3,75% ao ano), sem spread (diferença entre a taxa de captação de recursos e a taxa cobrada em financiamentos) para os bancos, com carência de seis meses para pagar e em 36 parcelas. São Paulo é o estado com maior fatia dos empréstimos da modalidade. Foram R$ 583,14 milhões para 25,6 mil empresas e 403 mil empregados. Minas Gerais fica em segundo lugar, com R$ 148,76 milhões, 6,3 mil empresas e 111 mil funcionários. Do total de pedidos, 4,4% tiveram o empréstimo negado.
PARTICIPAÇÃO DO TESOURO
O novo projeto teria menor participação da União, que seria de cerca de 20%. Os outros 80% dos recursos seriam dos bancos. Fontes do mercado financeiro, consultadas pela Folha, no entanto, alertaram que a diminuição da participação do Tesouro pode afetar o apetite dos bancos por risco, o que pode, mais uma vez, travar o programa. Além disso, ao assumirem mais riscos, as instituições cobrarão mais caro pelos empréstimos, o que pode afastar o empresário.
+++ A reportagem ignora completamente o fato de que o trabalhador é afetado. Os cadernos de economia não levam abrem discussão para que haja um equilíbrio entre o que interessa ao empresariado e o que é de interesse dos trabalhadores. O trabalhador é ignorado.
*”Folha publica manifesto internacional em defesa do trabalho”*
*”Gol, Azul e Latam aceitaram pacote de socorro, diz presidente do BNDES”*
RODRIGO ZEIDAN - *”Precisamos discutir um programa de renda básica permanente e sem populismo”*
*”Controladora da JBS é condenada no processo em que pedia indenização do presidente da Paper Excellence”*
*”Após ultimato sobre cloroquina, Teich pede demissão do Ministério da Saúde”*
*”Teich contorna fritura e surpreende Bolsonaro com saída rápida da Saúde”*
ANÁLISE - *”Obsessão de Bolsonaro vira política e reduz opções para a Saúde”*
*”'Bolsonaro agora pode colocar alguém sem muito compromisso', diz Mandetta”*
*”Teich já entrou caído, dizem entidades, que temem piora na gestão do combate à pandemia”* - Para o presidente da Sociedade Brasileira de Clínica Médica, Antônio Carlos Lopes, mais do que a demissão do ministro Nelson Teich, nesta sexta (15), o problema será a escolha de seu sucessor no ministério. “Ele [Teich] já entrou caído”, diz. Lopes esperava a queda de Teich, mais cedo ou mais tarde, por ele ter um perfil muito tímido, apesar de ser um nome com conhecimento técnico da área. O ministro é o segundo a deixar a pasta da Saúde no governo do presidente Jair Bolsonaro (sem partido), em meio à pandemia do coronavírus no Brasil. O primeiro foi Luiz Henrique Mandetta em 16 de abril último. "Tem uma articulação política por trás de tudo", diz o coordenador Científico da Sociedade Brasileira de Infectologia, Sérgio Cimerman. Na sua leitura, houve um trabalho nos bastidores para tirar Teich do posto e tentar colocar alguém a favor da redução do isolamento social e o uso da cloroquina, ambas medidas defendidas por Bolsonaro.
Suzana Lobo, presidente da Associação Brasileira de Medicina Intensiva, teme que a nova troca de comando na saúde em meio à pandemia do coronavírus tenha impacto negativo no combate à doença, que até esta quinta-feira (14) já havia atingido, segundo registros oficiais, mais de 200 mil brasileiros e matou quase 14 mil. “A gente não podia imaginar um cenário pior que esse. Um cenário [difícil] baseado em ciência já estava previsto do ponto de vista epidemiológico, mas o efeito da intervenção política não só nessa crise, mas nos tratamentos que os médicos vão usar, é temeroso”, diz. Cimerman entende que a troca também causa um impacto de gestão, já que é necessária pelo menos uma semana para que qualquer novo nome se habitue ao cargo. "E hoje, no Brasil, até do ponto de vista economico uma semana pode ser muito danoso, não podemos perder uma semana [de trabalho]", diz. Concorda Alberto Beltrame, presidente do Conass (Conselho Nacional de Secretários de Saúde). Em nota, ele disse que “a instabilidade e a falta de ações coordenadas e claras, neste momento, são inimigas da saúde e da vida”.
Presidente do Sindicato dos Médicos de São Paulo, Eder Gatti que era hora do governo federal tomar medidas onerosas aos cofres públicos, como ajuda financeira a famílias pobres, mas que a direção em que se caminha é a contrária. "Há um descolamento completo do governo federal, na figura do presidente, com a realidade. Ele insiste em minimizar o problema, com meiddas que não ajudam e até atrapalham, e isso bate de frente com qualquer um que for minimamente técnco na área da saude. Por isso, a saída do ministro não espanta", afirma. Luiz Davidovich, presidente da Academia Brasileira de Ciências, defende que o Brasil não pode perder mais tempo no combate ao coronavírus e que sejam os políticos quem tomem as decisões, eles “não podem dar receita de remédio”. “Não adianta gritar contra a ciência, porque ela se impõe, o autoritarismo não muda a ciência, esse é o exemplo histórico. Quantas mortes teremos que ter antes que se imponha a lucidez?” questiona. Lobo ressaltou que, atualmente, a única medida efetiva e certeira contra o coronavírus tem sido o isolamento social, algo que o presidente Jair Bolsonaro também questiona. “O impacto [da troca] vai ser que as políticas não são implementadas, perdem continuidade, nada pior do que isso agora, principalmente quando a discussão maior se baseia na tentativa de implementar forçadamente tratamentos sem base científica”, completa, se referindo à cloroquina. O uso do remédio foi o principal motivo para a saúde de Teich, que era contra sua aplicação na fase inicial do tratamento. Bolsonaro é a favor. Antonio Lopes vê uma série de outros fatores, alguns segundo ele desconhecidos, como determinantes para a demissão. Dentre eles está o episódio envolvendo o decreto federal que liberou salões de beleza e academias para funcionar durante a quarentena, do qual o ex-ministro tomou conhecimento ao ser questionado por um jornalista, durante a entrevista coletiva. Para Lopes, isso deixou o ministro queimado e desprestigiado. Defensor da cloroquina, ele diz que o próximo nome a assumir a pasta precisa ser uma liderança profissional, acadêmica e para a sociedade. “Tem que ter um perfil que tenha trabalhado na linha de frente, no SUS, atendendo população”, completa.
*”Unimed Belém (PA) distribui cloroquina em drive-thru apesar da falta de evidências”*
*”Empresa diz ter encontrado anticorpo que cura coronavírus mas não tem comprovação”*
*”Sem respaldo científico, cloroquina também é defendida por Maduro na Venezuela”*
*”Pesquisa que vai estimar a dimensão da Covid-19 no Brasil precisa do apoio de todos”*
*”Homens e idosos são quem mais morre de Covid-19 no estado de SP”*
*”Pará prorroga 'lockdown' por mais uma semana”* - O governo do Pará estendeu por mais uma semana o "lockdown" em dez municípios do estado. Inicialmente, as medidas mais restritivas terminariam neste domingo (17). “A gente precisa fazer um pouco mais de esforço. Isto ainda não é o suficiente”, disse o governador Helder Barbalho (MDB) nesta sexta-feira (15), em vídeo distribuído nas redes sociais. “Tenho certeza que, com esse esforço, vamos diminuir o número de mortes.” Ao fazer um balanço do "lockdown", Barbalho disse que a medida incluiu cerca de 186 mil pessoas no isolamento social. As medidas restritivas, que vigoram desde o dia 7 de maio, agora estão vigentes até o dia 24. As restrições incluem cidades onde a média de pessoas infectadas é 50% à média do Pará. A maioria desses municípios fica no entorno de Belém, incluindo a própria capital. O decreto estadual apenas permite a circulação de pessoas para compra de alimentos, medicamentos, produtos de limpeza e de higiene pessoal. Visitas a casas e prédios estão proibidas, com exceção de trabalhadores de serviços essenciais. Há multas de R$ 150, para pessoas físicas, e até R$ 50 mil, para pessoas jurídicas. Inicialmente, o decreto incluiu o trabalho de empregados domésticos entre os serviços essenciais. Após críticas, Barbalho recuou dois dias depois, limitando, em novo decreto, “aos cuidadores de criança, idoso, pessoa enferma ou incapaz”. Até esta sexta-feira (14), o Pará acumula 12.109 casos, com 1.145 óbitos. A taxa de ocupação dos leitos de UTI para adultos é de 87%, segundo o governo estadual.
*”Amapá decreta 'lockdown' em todo o estado após aumento de óbitos”* - O governador do Amapá, Waldez Góes (PDT), junto do prefeito de Macapá, Clécio Luis (Rede), anunciou na manhã desta sexta (15) o "lockdown" em todo o estado por dez dias. A medida começa a valer na terça (19). Além disso, a capital, Macapá, terá também rodízio de veículos, como em São Paulo, com distinção entre placas pares e ímpares. Os serviços essenciais continuam funcionando, mas aqueles que burlarem a nova lei, se deslocando sem motivos relacionados a tais serviços, podem ser multados. O estado já havia adotado medidas de restrição desde 18 de março. No dia 30 de abril, o Amapá tinha registrado 34 mortes; até esta sexta (15), são 101.
MÔNICA BERGAMO - *”Hospitais pleiteiam crédito no BNDES diante de queda no faturamento na pandemia”*
MÔNICA BERGAMO - *”Hospitais de SP relatam dificuldade para comprar droga usada em intubações de pacientes de Covid-19”*
MÔNICA BERGAMO - *”Cidade de São Paulo tem 24 indígenas infectados com Covid-19”*
MÔNICA BERGAMO - *”Brasileiros devem reduzir consumo de bebidas alcoólicas após pandemia, aponta estudo”*
MÔNICA BERGAMO - *”Deputados vão ao Ministério Público contra presidente da Fundação Palmares”*: Os deputados Túlio Gadêlha (PDT-PE), Benedita da Silva (PT-RJ), Áurea Carolina (PSOL-MG) e Bira do Pindaré (PSB-MA) entraram com uma ação popular no Ministério Público Federal contra o presidente da Fundação Palmares, Sérgio Camargo. Eles pedem que Camargo retire publicações feitas nos canais de comunicação da instituição contra Zumbi dos Palmares, alegando abuso de poder e desvio de finalidade. Segundo eles, os posts “ostentam o escopo de desqualificar a figura que dá nome à instituição constituída para promover e preservar valores históricos e culturais da influência negra no Brasil”.
MÔNICA BERGAMO - *”Post de Regina Duarte com notícia falsa sobre Marisa Letícia chegou a ter 130 mil curtidas”*: O post no Instagram em que a secretária Regina Duarte (Cultura) afirmava que o valor do inventário da ex-primeira dama Marisa Letícia Lula da Silva era de R$ 250 milhões chegou a ter 130 mil curtidas antes de ser apagado pela atriz. A família de Lula processa Regina. Um dos últimos comentários da publicação foi do ator Paulo Betti: “Regina querida muito feio você espalhar isso de Dona Marisa, ela está morta! Você acredita nisso?”.
MÔNICA BERGAMO - *”Alexandre de Moraes participa de live sobre federalismo cooperativo no combate à calamidade”*
MÔNICA BERGAMO - *”Priscila Fantin completa 50 dias de isolamento”*
 
CAPA – Manchete principal: *”Em plena pandemia, país perde 2º ministro da Saúde em 30 dias”*
EDITORIAL DO GLOBO - *”Bolsonaro decide multiplicar os riscos à vida na pandemia”*: Quando o ortopedista Luiz Henrique Mandetta foi demitido do Ministério da Saúde, o Brasil contava duas mil mortes na pandemia do novo coronavírus. Ontem, o oncologista Nelson Teich escolheu se demitir do comando do ministério. A sexta-feira terminou com quase 15 mil mortos na contagem governamental. Em apenas 27 dias o país teve dois ministros da Saúde. Nesse período viu aumentar em 650% o número de mortes e consolidou indesejável liderança em disseminação da doença na América Latina. É a dimensão trágica da propagação de um vírus, para o qual o mundo ainda não desenvolveu formas de controle, vacina ou tratamento eficaz. No entanto, esse drama brasileiro está sendo agravado por um componente de irracionalidade política: o pandemônio na pandemia capitaneado por um presidente cujo desgoverno faz multiplicar, diariamente, os riscos à vida de 211,5 milhões.
Ao confrontar a Ciência, Bolsonaro assume a responsabilidade histórica pelas consequências nefastas da politização de uma epidemia sem precedentes. Ao transformar o Palácio do Planalto numa usina de crises, conseguiu desorganizar a já fragilizada estrutura de ação federal na Saúde. Com o seu negacionismo, se alinha a personagens caricatos como os ditadores Daniel Ortega, da Nicarágua, e Alexander Lukashenko, da Bielorrússia. Ortega decidiu desconhecer a pandemia. Por isso, os nicaraguenses realizam enterros clandestinos das vítimas da Covid-19. Lukashenko, igualmente, acredita que o mundo vive uma “psicose” com o vírus. Por isso, receita aos bielorrussos terapias preventivas à base de muita vodca e sauna. Mais modesto, e reafirmando todas as suas razões para ser modesto, Bolsonaro optou por prescrever aos seus ministros da Saúde a imposição da hidroxicloroquina como protocolo nacional para tratamento do novo coronavírus. Ainda não foi provada a eficácia da droga, isolada ou em coquetel. Ao contrário, os estudos científicos disponíveis são contraindicativos. Portanto, não há lógica em tal obsessão, salvo a já estabelecida pela psicopatologia. O desgoverno comandado pelo presidente resulta numa desagregação no ministério, com efeitos destrutivos para a inteligência técnica disponível no Sistema Único de Saúde, responsável pela coordenação das iniciativas para mitigação da pandemia em todo o país. Está claro que Bolsonaro deseja um ministro na posição de ajudante de ordens, a despeito de suas “prescrições” sobre a hidroxicloroquina ou o fim do distanciamento social contrariarem o consenso fundado no conhecimento científico. Nesse rumo, será necessária uma firme atuação do Legislativo e do Judiciário, para delimitar o espaço do Executivo e conter um governante seduzido pelas próprias ideias, embora equivocadas, para se dizer o mínimo. A saída, por óbvio, é política.
*”Segunda desistência – Em choque com Bolsonaro, Teich deixa a Saúde após 29 dias”*
*”General é cotado para assumir – Osmar Terra, médica e almirante também são candidatos”* - Asaída de Nelson Teich do Ministéro da Saúde abriu caminho para que o órgão divulgue um novo protocolo sobre o uso da cloroquina em pacientes infectados pela Covd-19. Fontes na pasta acreditam que o secretário-executivo, general Eduardo Pazuello, ficará como interino e será o responsável por avalizar o protocolo, uma exigência do presidente Jair Bolsonaro. Além de Pazuello, o ex-ministro Osmar Terra, a médica Nise Yamagushi e um almirante do Rio são cotados para assumir o posto. Nos últimos dias, Pazuello indicou que acataria, sem resistência, a orientação do mandatário do Palácio do Planalto sobre a prescrição da cloroquina. Diante da fragilidade de Teich, o general passou a atuar nos bastidores, assumindo funções que estavam sob a alçada do então ministro. Segundo relatos feitos ao GLOBO, Pazuello vinha mantendo contato com secretários estaduais e municipais e tomando decisões sem consultar Teich. A escolha do nome de Pazuello como número dois do Ministério da Saúde se deveu ao sucesso que teve à frente da Operação Acolhida, dedicada a receber imigrantes venezuelanos em Roraima, na qual atuou até dezembro do ano passado, quando foi promovido comandante da 12º Região Militar. Lá, era o general quem pilotava toda logística dos abrigos e das viagens de interiorização dos imigrantes.
GUERRA DE NARRATIVA
A avaliação de integrantes do governo, no entanto, é a de que não basta dar aval a um novo protocolo — é preciso defendê-lo publicamente. Neste contexto, Osmar Terra ganharia pontos. Há a avaliação de que ele tem mais potencial de comunicação para levantar a bandeira de Bolsonaro a favor da cloroquina do que um militar. O governo entende que a guerra, agora, é de narrativa. Médico, Terra já criticou diversas vezes o isolamento social. Para ele, a medida não consegue evitar a propagação do vírus. No começo da pandemia, chegou a menosprezar seus efeitos. No dia 18 de março, ele publicou em sua conta no Twitter que a H1N1 matou duas pessoas a cada dia no Brasil em 2019. “Este número deve ser maior que as mortes que acontecerão pelo coronavírus aqui”, escreveu. Terra foi ministro da Cidadania, no governo de Jair Bolsonaro, e de Desenvolvimento Social, na gestão de Michel Temer. Deixou a pasta para disputar um novo mandato de deputado federal e foi reeleito.
Outra cotada para a vaga de Teich é a médica Nise Yamagushi, defensora da utilização da cloroquina em pacientes com Covid-19 desde os primeiros sintomas. Ontem, pouco antes de o ex-ministro pedir demissão do Ministério da Saúde, Bolsonaro teve uma reunião com ela. O presidente se encontrou com Yamagushi das 10h30 às 10h55, no Palácio do Planalto. Em seguida, teve uma reunião com Teich, de 10h55 às 11h05. Nenhuma das reuniões constava na previsão inicial da agenda presidencial. A médica, que assessora o comitê de crise do governo federal contra a pandemia, já havia tido dois encontros com Bolsonaro, nos dias 6 e 7 de abril —época em que Luiz Henrique Mandetta ainda era ministro da Saúde. Quando a exoneração de Teich foi divulgada, Yamaguchi estava no Salão Nobre do Planalto, no evento de lançamento de uma campanha de combate à violência contra a mulher. Ao fim da cerimônia, depois que Bolsonaro deixou o local, ela subiu para o terceiro andar, onde fica o gabinete do presidente.
EFICÁCIA NÃO COMPROVADA
À tarde, a médica foi vista pelo GLOBO falando ao telefone no terceiro andar, acompanhada de sua assessora de imprensa, que disse não saber de nada. Ela estava ao celular e não atendeu aos chamados da reportagem. Médica do Hospital Israelita Albert Einstein, em São Paulo, Yamagushi chegou a ser cotada para assumir o cargo de Mandetta. De acordo com ela, a cloroquina aumenta a chance de cura e impede internações, já que a reversão do quadro de insuficiência respiratória a partir da fase de inflamação se torna mais difícil. Defensora da droga, cuja eficácia não foi comprovada por estudos internacionais, a imunologista já disse que suas contribuições ao comitê eram apenas técnicas e científicas “alinhadas aos melhores centros internacionais”.
*”Doença chega a novo patamar – Nelson Teich acumulou recorde de casos e mortes como ministro”*
+++ A mensagem da manchete é muito crítica ao agora ex-ministro. Um tom que o jornal não adotou para criticar o presidente.
*”Sem vida normal – Suécia tem mais mortes que vizinho e queda do PIB”* - Apontada como referência por analistas e dirigentes que relutam em aceitar medidas de isolamento social mais duras para conter a progressão da pandemia da Covid-19, entre eles o presidente brasileiro, Jair Bolsonaro, a Suécia é um dos poucos países em que cafés e restaurantes estão abertos, escolas para alunos abaixo de 16 anos funcionam e onde amigos e parentes ainda podem se reunir. Mas essa imagem de “normalidade controlada” frente ao novo coronavírus é algo que nem mesmo o governo quer levar adiante.
—A vida não está correndo de maneira normal na Suécia —afirmou o primeiro-ministro, o social-democrata Stefan Löfven, em uma tensa entrevista coletiva ontem. Diante dos jornalistas, o premier rejeitou a ideia de que seu governo esteja adotando uma visão “branda” para enfrentar a pandemia, uma acusação reforçada pelos números. Desde o surgimento do primeiro caso, em março, a Suécia registrou 3.646 mortes e quase 30 mil infecções. Em números absolutos, o país de pouco mais de 10 milhões de habitantes está distante de nações mais populosas como a Espanha, a Itália ou o Reino Unido, mas se situa entre os que registram o maior número de mortes para cada milhão de habitantes: 346,55. Quando comparado a seus vizinhos nórdicos que têm modelos semelhantes de desenvolvimento social e adotaram medidas mais estritas de isolamento, a diferença salta aos olhos: na Dinamarca, são 10 mil casos e 537 mortes. Na Finlândia, 6 mil casos e 293 mortes. Na Noruega, que começa a retomar as atividades, 8 mil infecções e 232 mortes.
RESPONSABILIDADE COLETIVA
Ao contrário da maior parte dos países, a Suécia manteve abertos academias, restaurantes, cafés e casas noturnas, ao mesmo tempo em que recomenda ações individuais de proteção, como o distanciamento de “um braço” entre as pessoas em locais fechados e dois metros nas ruas. As autoridades ainda vetaram reuniões de mais de 50 pessoas, fecharam instituições de ensino para alunos de mais de 16 anos e pediram que viagens não essenciais fossem adiadas. Empresas incentivam empregados a trabalhar remotamente, e quem que tiver com os sintomas da Covid-19 precisa ficarem casa. A política depende muito da noção de responsabilidade dos cidadãos, que estão ficando em casa por iniciativa própria. As ruas estão mais vazias, assim como os bares, restaurantes e mercados. O uso de máscaras não é obrigatório, mas elas estão cada vez mais visíveis nas cidades. Na prática, o país passa longe da normalidade sugerida por Bolsonaro.
— Fundamentalmente, as medidas da Suécia diferem de outros países em apenas dois aspectos: não fechamos creches e escolas para crianças mais novas e não há regulamentação que obrigue os cidadãos a permanecer em suas casas — afirmou ao GLOBO a embaixadora no Brasil, Johan na Brismar Skoog.
Por trás dessa estratégia está o epidemiologista Anders Tegnell, da Agência de Saúde Pública, o órgão responsável por emitir as recomendações ao público e que possui independência para adotar as medidas que achar adequadas. Apesar de rejeitar publicamente a noção de “imunidade de rebanho”, que toma como princípio a ideia de que a população, ao ser exposta ao vírus, vai desenvolver imunidade a ele, Tegnell afirma que “já vê muitas pessoas imunes em Estocolmo ”, e que isso terá um efeito positivo mais à frente. Não há confirmação científica de que pessoas que já tiveram a Covid-19 estejam imunes a novas infecções —a Organização Mundial da Saúde diz que esse é um “conceito perigoso”. O epidemiologista afirma que o fechamento de uma sociedade “põe mais estresse na economia”, e que o caminho adotado da Suécia é “mais aceitável pelas pessoas”.
— Há um alto nível de aderência às recomendações da Agência de Saúde Pública, às vezes até maior do que nos países com bloqueios totais e obrigatórios. De acordo com uma pesquisa recente, 87% das pessoas com mais de 70 anos seguem as recomendações da agência e isolam, por exemplo —disse a embaixadora Brismar Skoog.
CRÍTICAS INTERNAS
Isso não significa necessariamente que todos os suecos concordam com a forma como o país está enfrentando a pandemia. Uma pesquisa da Universidade Lund, divulgada no fim de abril, mostra que 51% da população acreditam que as ações são adequadas, enquanto 31% consideram que deveriam ser mais incisivas e 18% se dizem neutros. O maior apoio é das pessoas com mais de 70 anos, justamente o grupo que precisou ficar em casa. Entre os mais jovens, a ideia de uma quarentena é a mais popular.
—Há uma minoria considerável que gostaria de ver uma abordagem diferente, mais dura. Os críticos também indicaram que a Suécia não está realizando testes suficientes e não está desenvolvendo aplicativos para rastrear os infectados. Outros ainda criticaram a agência de saúde por não explicar por que eles não consideraram ações alternativas — afirmou ao GLOBO um dos autores da pesquisa, Erik Wengström, professor na Escola de Economia e Administração da Universidade Lund. No fim de março, um grupo de pesquisadores do Instituto Karolinska, uma das maiores universidades de saúde pública da Suécia, lançou uma carta exigindo ações mais duras para a pandemia. O texto, hoje assinado por mais de 2 mil acadêmicos e profissionais da saúde, cita exemplos de países que conseguiram controlar a pandemia através de quarentenas e controle do movimento da população e diz que não há evidências para corroborara estratégia adotada pela Suécia. “(Pedimos ao governo que) adote imediatamente medidas para seguir integralmente as recomendações da OMS, incluindo intervenções para reduzir a mobilidade e o contato entre a população, além de aumentar a capacidade de aplicar testes”, afirma o texto.
— Nossa maior preocupação é com o número de pessoas sendo tratadas. Ainda estamos aprendendo a lidar com essa infecção e como salvar vidas. Não precisamos aguardar por uma vacina para ajudar os pacientes. Penso que as autoridades suecas cometeram uma série de erros, e por isso temos cinco vezes mais casos do que outros países nórdicos —disse ao GLOBO o epidemiologista Anders Vahlne.
ECONOMIA EM 2º PLANO
Outro ponto a ser considerado na abordagem sueca é a economia, item central do discurso de opositores do isolamento social, mas posto em segundo plano nas principais discussões sobre a Covid-19 no país.
— O debate na Suécia não está centrado na potencial dicotomia entre saúde e economia. Penso que, por trás disso, está a constatação da Agência de Saúde de que é essencialmente impossível parar a pandemia. Por isso, implementaram restrições sustentáveis ao longo do tempo, mas fortes o suficiente para evitar que o sistema de saúde chegue ao colapso. Poucos defensores dessa visão argumentaram que ela salvaria a economia — pontuou Erik Wengström. Mesmo evitando o fechamento de negócios e empresas, o PIB sueco deve ter um desempenho semelhante ao de nações que adotaram políticas mais duras na pandemia, como os vizinhos e outros países da Europa. Em abril, o Riksbank, o banco central do país, apresentou dois cenários para 2020. No primeiro, considerado positivo, a queda seria de 6,9%, com forte retomada nos dois anos seguintes. No segundo, o negativo, a recessão poderia chegar a 9,7%, com um crescimento pífio, 1,7%, em 2021.
—Proteger a vida e a saúde da nossa população vem em primeiro lugar. No entanto, saúde e economia, em muitos aspectos, andam de mãos dadas e não são mutuamente exclusivas. Mas ajustar-se à situação atual significa que a vida não tem continuado normal na Suécia, como muitas vezes reportado — ressaltou a embaixadora Brismar Skoog. Para efeito de comparação, a Alemanha deve ter queda de 6,5% do PIB em 2020, o Reino Unido, de 7,1%, e a Itália, que já enfrentava consideráveis problemas econômicos antes da pandemia, espera recessão de 9,1%.
+++ O jornal O Globo tem publicado reportagens que contradizem Jair Bolsonaro e combatem a desinformação que ele propaga. É evidente que esse trabalho é extremamente pontual e diz respeito somente aos argumentos absurdos que Bolsonaro utiliza. No mais, o jornal continua não levando ao seu público a pluralidade de ideias que estão presentes no país.
*”Inquérito levado ao STJ – Witzel é incluído em investigação sobre fraude na compra de respiradores”*
*”Estado do Rio investiga 953 mortes que são suspeitas de covid-19”*
*”A versão e o fato – Troca no GSI contradiz alegação de Bolsonaro sobre reunião com Moro”*
*”Pressão sobre PF veio junto de inquérito contra Flávio”*
*”Barroso vai relatar ação contra MP que livra agentes públicos”* - O ministro Luís Roberto Barroso, do Supremo Tribunal Federal (STF), foi sorteado relator da ação que questiona a medida provisória (MP) do presidente Jair Bolsonaro que livra qualquer agente público de processos civis ou administrativos por erros relacionados à pandemia provocada pelo novo coronavírus. Ele poderá dar uma decisão liminar sozinho ou levar o caso para julgamento no plenário do STF. A ação é do partido Rede Sustentabilidade. Outras agremiações políticas apresentaram posteriormente ações semelhantes. Assim, pelas regras do tribunal, elas também deverão ser tocadas por Barroso.
A MP estabelece que as autoridades só poderão ser responsabilizadas se ficar comprovado o dolo (ação intencional) ou “erro grosseiro”. No entanto, estipula que o chamado “erro grosseiro” só estará configurado levando-se em conta cinco variáveis que, na prática, tornariam muito restritivo o enquadramento de autoridade por essa conduta. Segundo texto da Medida Provisória, para avaliar se houve erro devem ser considerados “os obstáculos e as dificuldades reais do agente público; a complexidade da matéria e das atribuições exercidas pelo agente público; a circunstância de incompletude de informações na situação de urgência ou emergência; as circunstâncias práticas que houverem imposto, limitado ou condicionado a ação ou a omissão do agente público; e o contexto de incerteza acerca das medidas mais adequadas para enfrentamento da pandemia da Covid-19”. O STF já foi questionado sobre outras medidas adotadas pelo governo no enfrentamento à pandemia. Em alguns casos, o governo obteve vitória, como na decisão que manteve a validade dos principais pontos de uma MP que flexibilizou as normas trabalhistas durante a epidemia. Em outros casos, saiu derrotado, como no julgamento que garantiu a autonomia dos estados para adotar medidas como o isolamento social. Em 31 de março, em decisão monocrática, ou seja, tomada sozinho, e não pelo plenário do STF, Luís Roberto Barroso proibiu o governo federal de contratar campanha contra medidas de isolamento na pandemia. Em uma videoconferência feita na manhã de ontem, o ministro comentou a decisão e voltou a dizer que permitir tal campanha poderia levar a um genocídio.
— Uma outra decisão importante foi a decisão de proibição de emissão de uma campanha chamada “O Brasil não pode parar”, que conclamava as pessoas a voltar a trabalhar e às ruas, em um momento em que a Organização Mundial da Saúde recomendava a todos o isolamento social. Portanto, havia um risco de muito mais pessoas morrerem, de genocídio nas comunidades pobres brasileiras se as pessoas voltassem às ruas e ao trabalho – disse Barroso.
ENTREVISTA: MARCELO FREIXO, deputado federal (PSOL) - *”Vou fazer o gesto de não ser candidato”*:
- Por que o senhor está desistindo de ser candidato à prefeitura?
- Não é uma notícia que dou com alegria. É uma decisão em formato de gesto, mais do que de palavras. É doído, mas é preciso que a gente sacuda um pouco esse processo para tentar a construção de um projeto no Brasil. Estou fazendo o gesto de não ser candidato em nome de algo que é maior. Considero o governo Bolsonaro uma ameaça à democracia. E por que tanta gente competente está assistindo a um incompetente no poder? Algum erro todos nós cometemos e estou me incluindo. Estou tendo um gesto de chamar para a unidade. No Rio, coloquei minha candidatura, que era supostamente natural. Tive muito apoio de imediato do PT, de quem não tenho uma vírgula para falar. No Rio, não houve nenhuma crise de hegemonismo do PT do qual ele é acusado em outros lugares. Também estava tendo diálogo com o PCdoB. Mas o PDT não aceitou essa composição, mesmo com muito diálogo com o (Carlos) Lupi. Mas, ele entende que o PDT tem que lançar candidato porque tem projeto para 2022. O PSB sequer quis fazer reunião, mesmo eu tendo solicitado inúmeras vezes.
- Há alguma chance de voltar atrás na decisão?
- Não. Não faz sentido. Repetiríamos uma situação como em 2016 e não vejo cabimento, diante de uma ameaça fascista e de um governo autoritário como o do Bolsonaro, nós nos comportarmos como sempre nos comportamos: divididos e fragilizados. Se é para isso, eu, antes de pedir para alguém tomar esse gesto, tomo uma atitude.
- O medo de sair da eleição menor do que entrou pesa na decisão?
- Não. Quando disputei 2012, quem acreditava que eu chegaria a 28%? Fui para 2016 no pior momento para ser candidato pela esquerda, que era o momento do golpe. É importante que eu tome essa decisão agora, em que as pesquisas apontam chance de irmos para o segundo turno. Mas, ir para o segundo turno com a esquerda dividida? Para quê? Vamos tentar ganhar o Rio, mas vamos perder o Brasil e a democracia, com o campo democrático se enfrentando e se engolindo, correndo o risco de não ter eleição em 2022.
- Por que a dificuldade de união da esquerda?
- O Bolsonaro é tosco, violento e autoritário. Para derrotar o bolsonarismo é preciso mais que responder as crises que ele provoca. Tem que ir além. Temos que vencê-lo com um projeto que seja melhor que o dele. Qual é o nosso projeto? E aí acho que o desafio que está colocado é construir uma proposta calcada no combate à desigualdade e na garantia de direitos. Temos que retomar a Constituição de 1988. Precisamos de um projeto que não seja meu, do (Fernando) Haddad, do Ciro (Gomes), de quem for. Estou pedindo uma unidade tanto no Rio quanto em outros lugres. Vou dar um exemplo: acho importante apoiar a Manuela D' Ávila em Porto Alegre. É uma candidata compatível com o que estamos debatendo e não tem unidade lá também. Em Pernambuco, a gente teve uma situação delicadíssima e não podemos correr o risco de perder nenhuma capital do Nordeste.
- Acha que tem partidos da esquerda que não veem essa ameaça que o senhor fala?
- Acho que até vê, mas entre ver e fazer uma coisa que seja mais coletiva vai uma distância. Dou o exemplo do impeachment. Quantos projetos de impeachment tem na casa? Mais de 20. Porque não conseguimos construir um projeto de impeachment coletivo, sociedade civil e partidos? Porque ficou um correndo na frente do outro para ver quem dá mais entrevista. Fica um querendo dizer que é mais contra Bolsonaro que o outro.
- Tem uma disputa de ego na esquerda então?
- É mais do que de ego, é uma disputa de espaço ali, só que não vai ter vitorioso de pedaço. A gente precisa ter maturidade. Muitas vezes conseguimos no Congresso. Mas a maturidade precisa sair dessas relações congressuais para as relações estratégicas de disputas eleitorais nas cidades. Não pode as pessoas se matarem nessas disputas. É muito ruim. Tenho muito respeito pelas diferenças. As diferenças que existem entre o PT e o PDT, eu respeito. Mas, não é possível que o tamanho dessas diferenças sejam maiores do que a ameaça do fascismo.
- O senhor citaria algum exemplo específico dessa diferença?
- Existe um conflito entre o PT e o PDT. Esse conflito tem uma razão de ser e um histórico. Mas, seja qual for esse conflito, ele não é maior do que a ameaça que o bolsonarismo coloca sobre todos nós.
- A origem desse confronto entre PT e PDT não foi a insistência na candidatura do Lula em 2018?
- No entendimento do PDT, sim. No do PT, não.
- E no entendimento do senhor?
- Todos deveriam estar juntos no projeto para derrotar o Bolsonaro. Não tem cabimento nesse momento ataque entre nós. Não tem nenhum sentido, diante do risco à democracia, um conflito nesse ponto.
- O Lula ajuda ou atrapalha nessa unidade?
- O Lula, quando ganha a liberdade, sai numa ofensiva de rua. Vem a pandemia e ele perde muito espaço. Nas redes sociais, Lula não é o mesmo que num palanque. Ele tem uma capacidade de dialogar com o povo pobre desse país que talvez só o Bolsonaro tenha neste momento. Não acho que o Lula seja uma força que atrapalha essa unidade. Ele pode ajudar muito. Se ele tiver o mesmo entendimento da necessidade de unidade, acho que ajuda muito. Com todas as críticas que se possa ter ao PT, aos erros e acertos, não vamos construir um campo capaz de derrotar o bolsonarismo sem eles.
- O senhor admite aliança do PSOL com partidos de centro ou outras siglas?
- Aliança eleitoral, não vejo essa possibilidade. Mas, não estou falando só de aliança eleitoral. Dou um exemplo. Éramos minoria no debate sobre o pacote anticrime. No Congresso, fizemos um trabalho de aliança com partidos de centro-direita. Tivemos uma grande articulação democrática e derrotamos propostas como o plea bargain, o excludente de ilicitude e pontos centrais que piorariam a segurança pública. Esse é um tipo de aliança com outros partidos que pode acontecer, sim.
- O senhor poderia apoiar Eduardo Paes no Rio contra um candidato do Bolsonaro?
- Num segundo turno contra o Crivella, sim. Já fiz isso contra o Witzel. Tenho grandeza democrática. Agora, dependendo do que o Eduardo Paes faça na campanha, porque ele também adora namorar o fascismo. Ele já fez muita coisa errada na vida e sabe disso mais do que eu, inclusive. Mas vou defender quem represente a vitória contra o bolsonarismo.
*”Moeda de troca com os estados – Governo pretende negociar socorro em busca de apoio à reabertura gradual”* - O governo quer usar a negociação em torno do pacote de socorro aos estados — que ainda depende de uma decisão do presidente quanto ao veto a reajuste de servidores — como moeda de troca para montar uma ação coordenada com os governadores. O objetivo é iniciar a abertura gradual da economia a partir do próximo mês de junho. Os estados, que viram sua arrecadação despencar desde o início da crise, contam com o dinheiro do pacote, que prevê o repasse de R$ 60 bilhões aos governos locais, para combater o coronavírus. A abertura da economia não seria linear. Começaria nos municípios menos atingidos pela Covid-19 e com normas sanitárias definidas, como uso obrigatório de máscaras, álcool em gel, distanciamento e entrada controlada de consumidores nos estabelecimentos. Para isso, está sendo aguardado o plano do Ministério da Saúde com as diretrizes do governo federal. Nelson Teich, ex-ministro da pasta, havia sido escalado para essa missão. Estados e municípios têm autonomia para aceitar ou não essa abertura gradual idealizada pelo governo federal. Um exemplo foi o decreto presidencial autorizando a volta ao funcionamento de academias, barbearias e salões de beleza no país. Nem todos os governadores concordam com isso e continuarão impondo medidas restritivas de circulação de pessoas. O problema é que muitos estados e municípios necessitam com urgência dos recursos e já falam abertamente na possibilidade de atrasar salários de servidores. O principal ponto em aberto do projeto é a permissão a reajustes salariais. Inicialmente, o projeto previa uma economia de R$ 130 bilhões com o congelamento de salários de servidores por 18 meses. Havia exceção para atividades que lidam diretamente com o combate à pandemia, mas a lista de atividades fora do congelamento foi aumentando durante a tramitação e passou a abranger profissionais de saúde, educação e segurança. Com isso, a economia do projeto cai para R$ 43 bilhões. A expectativa é que o presidente Jair Bolsonaro vete a possibilidade de aumento, atendendo a um pedido do ministro da Economia, Paulo Guedes.
A negociação com os estados começa nos próximos dias. Na quinta-feira, o presidente anunciou que terá uma reunião por videoconferência com os governadores. Bolsonaro conversou com o presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ). Foi aconselhado por Maia a se reaproximar dos chefes dos executivos locais para encontrar uma solução para os efeitos da pandemia no país. Orientado pela equipe econômica, o Palácio do Planalto trabalha com o próximo dia 31 de maio para iniciar esse processo, data que coincide com o fim do confinamento previsto pelo governador de São Paulo, João Doria — adversário político de Bolsonaro e que está à frente do estado mais afetado pela pandemia. Integrantes da equipe econômica argumentam que, se não houver um movimento coordenado, a abertura ocorrerá de qualquer jeito e será descontrolada. A equipe econômica sustenta que a economia brasileira não suporta mais dois meses de fechamento e teme falências de empresas. Especialistas ponderam, porém, que o isolamento social dos que podem ficar em casa é a medida acertada para conter a disseminação do coronavírus e que cabe ao Estado ajudar a parcela da população mais vulnerável. Em uma entrevista no fim da tarde de ontem no Palácio do Planalto, o ministro Paulo Guedes afirmou que não concorda com o uso de “cadáveres para fazer palanque”. Ele não se dirigiu diretamente aos governadores, mas fez as críticas logo após enumerar medidas direcionadas a estados e municípios.
—Vamos nos aproveitar de um momento desse, da maior gravidade, de uma crise de saúde, e vamos subir em cadáveres para fazer palanque? Vamos subir em cadáveres para arrancar recursos do governo? Isso é inaceitável, a população não vai aceitar. A população vai punir quem usar cadáveres como palanque —disse Guedes.
Para Guedes, o país é um gigante que pode ser saqueado.
— Na hora que estamos fazendo esse sacrifício, é inaceitável que tentem saquear o gigante que está no chão. Que usem a desculpa da crise da saúde para saquear o Brasil na hora que ele cai. Nós queremos saber o que podemos fazer de sacrifício pelo Brasil nessa hora e não o que o Brasil pode fazer por nós —afirmou.
PEDIDO DE CONTRIBUIÇÃO
O ministro da Economia voltou a criticar a possibilidade de aumento de servidores públicos durante a crise. Disse que as “medalhas” são dadas apenas após a guerra, e não agora.
— As medalhas são dadas após a guerra, não antes da guerra. Nossos heróis não são mercenários. Que história é essa de pedir aumento de salário porque um policial vai à rua exercer sua função? Ou porque um médico vai à rua exercer sua função? Se ele trabalhar mais por causa do coronavírus, ótimo, ele recebe hora extra. Mas dar medalhas antes da batalha? As medalhas vêm depois da guerra, depois da luta —disse o ministro.
Um dos fatores, porém, que levaram o presidente a atrasar a sanção ao projeto foi o compromisso com a aprovação no Congresso de um reajuste de até 25% para policiais do Distrito Federal, que já são os mais bem pagos do país. Guedes não comentou o aumento.
— Nós vamos nos lembrar disso, vamos botar o quinquênio, o anuênio, o milênio, o eugênio, tudo que for preciso. Mas não antes da batalha —disse Guedes.
O ministro pediu apoio do Congresso, de governadores e de prefeitos para um eventual veto dos reajustes.
—Não vamos tirar nada de ninguém. Só vamos pedir uma contribuição. Por favor, enquanto o Brasil está de joelhos, nocauteado, tentando se reerguer, por favor, não assaltem o Brasil —afirmou. Guedes disse que as críticas de Bolsonaro ao isolamento social são “alertas”. — Essa segunda onda que o presidente tem nos alertado pode nos remeter a um país onde as prateleiras estão vazias —completou.
+++ Paulo Guedes gosta de propagar a ideia de que o Brasil precisa sofrer para alcançar a “bonança”, o tão desejado “futuro próspero”. Essa narrativa faz parte de um discurso muito mais antigo do esse governo. O problema é que esse discurso que vende terreno no céu (como fazem alguns pastores de igrejas evangélicas neopentecostais) tem presença na internet, no rádio, nos impressos e na TV, mas o seu contraponto não ocupa os mesmos espaços.
*”Disputa com Doria é um dos fatores para demora”*
+++ A grande questão é que o socorro, a possibilidade de evitar o caos está nas mãos do governo federal nesse dinheiro que é necessário para o funcionamento das máquinas públicas estaduais e municipais. Entretanto, não se consegue contradizer Bolsonaro e mostrar que ele abusa do poder que tem e ameaça implementar o caos se as vontades dele não forem atendidas.
*”Prévia do PIB mostra queda de 5,9% em março”*
*”Desemprego cresce mais entre os jovens e chega a 27,1% no 1º tri”*
*”Bolsonaro veta auxílio a motorista de aplicativo”*
 
 
 
CAPA – Manchete principal: *”Desgovernado – Em menos de um mês, caem dois ministros da Saúde”*
+++ A palavra “desgovernado” aparece em tamanho muito maior do que o restante da manchete.
EDITORIAL DO ESTADÃO - *”Teich rejeita a opção pela morte”*: O médico Nelson Teich pediu demissão do cargo de ministro da Saúde menos de um mês depois de assumi-lo, provavelmente em respeito a seu juramento profissional, que diz, entre outras coisas: “A ninguém darei por comprazer nem remédio mortal nem um conselho que induza a perda”. O mesmo comportamento teve o antecessor de Nelson Teich, o também médico Luiz Henrique Mandetta, ao recusar-se a obedecer às ordens do presidente Jair Bolsonaro que claramente causariam ainda mais danos à saúde da população brasileira, já bastante castigada pela pandemia de covid-19.
Qualquer médico que assuma o Ministério da Saúde e queira permanecer no cargo por mais de 15 dias terá que renunciar a esse juramento. Será, portanto, um mau profissional de saúde, que aceitará reduzir o Ministério da Saúde a mero despachante dos patológicos desejos de Bolsonaro. Pior, será um cúmplice de um empreendimento que, sem exagero, já pode ser chamado de social-darwinista – em que a morte por covid-19 é vista como uma forma de depuração da sociedade, pois só abate aqueles que não têm “histórico de atleta”. Nelson Teich e Luiz Henrique Mandetta recusaram-se a chancelar a obsessão de Bolsonaro pela cloroquina, remédio cuja eficácia contra o coronavírus está muito longe de ser comprovada e cujos perigosos efeitos colaterais são, ao contrário, bastante conhecidos. Mandetta, quando ainda ministro, chegou a assinar um protocolo que liberava a droga para uso somente em pacientes em estado grave, com indicação médica e com a anuência do paciente. Mas, assim como seu sucessor, não aceitou a imposição de Bolsonaro para ampliar o uso em qualquer estágio da doença. Pressionado pelo presidente nos últimos dias, Nelson Teich disse que havia ainda muita incerteza sobre a cloroquina e rejeitou a droga como um “divisor de águas” no tratamento da doença. Além de Bolsonaro, os únicos chefes de Estado que defendem a cloroquina como elixir milagroso contra a covid-19 são o norte-americano Donald Trump e o venezuelano Nicolás Maduro, o que dispensa comentários.
Nelson Teich e Luiz Henrique Mandetta também haviam manifestado oposição ao relaxamento das medidas de isolamento social, contrariando o presidente Bolsonaro, que dia e noite exige o fim da quarentena e a “volta ao normal” em todo o País, sob o argumento de que é preciso impedir o colapso da economia. É tal a determinação do presidente de colocar em risco a saúde e a vida de milhões de brasileiros para salvar sua própria pele que ele ameaçou fazer um pronunciamento em rede nacional, hoje, para insistir em seu discurso contrário ao isolamento, afrontando os governadores e prefeitos que, além de terem que lidar com a pandemia, são obrigados a enfrentar a sabotagem do governo federal. Em menos de um mês, nada menos que três ministros – Luiz Henrique Mandetta, Nelson Teich e Sérgio Moro – deixaram o governo por se recusarem a cumprir ordens do presidente – não por insubordinação, mas em respeito aos brasileiros e aos princípios republicanos. Para Bolsonaro, quem o contraria está a contrariar o povo, que ele julga encarnar, razão pela qual seu comando deve ser obedecido sem questionamentos, mesmo que viole a Constituição, a ética e a decência. Assim será com o próximo ministro da Saúde? Em vez de organizar os esforços nacionais do combate à pandemia, que está matando quase mil brasileiros por dia e esgotando o sistema hospitalar do País, o novo titular terá de ser apenas um obsequioso serviçal, pronto a pôr em prática os devaneios de Bolsonaro e a rasgar os manuais da ciência médica, fazendo o que nenhuma autoridade de saúde no mundo civilizado faria neste gravíssimo momento? Ou seja, terá que trabalhar pela sobrevivência política do presidente em detrimento da sobrevivência de milhares de brasileiros? Como escreveu o médico Antonio Carlos do Nascimento em artigo publicado ontem no Estado, “sem a opção do genocídio, só nos resta o isolamento e a testagem abrangente para limitar o universo de circulação do vírus”. Aparentemente, o presidente Bolsonaro já fez sua mórbida opção.
*”Teich se demite e expõe governo em crise”* - Vinte e nove dias após assumir o cargo, o ministro da Saúde, Nelson Teich, pediu demissão ontem em meio a divergências com o presidente Jair Bolsonaro. A saída de Teich no auge da pandemia do novo coronavírus expõe a fragilidade de Bolsonaro, que enfrenta uma crise atrás da outra na política e na economia e, com a popularidade em queda, já admite que precisará de apoio no Congresso para “salvar” o governo. O presidente pretende fazer um pronunciamento na noite de hoje, em rede nacional de rádio e TV, para defender a volta à “normalidade” e o retorno ao trabalho no momento em que o desemprego cresce e partidos já se articulam para pedir o seu impeachment (mais informações na pág. A11). O estopim da nova crise – que levou à saída de Teich – foi a decisão do presidente de mudar o protocolo de uso da cloroquina no combate à covid-19. A doença já deixou mais de 14 mil mortos no País. Pressionado a ampliar a prescrição do medicamento, apesar da falta de comprovação sobre sua eficácia para tratar o coronavírus, Teich já havia avisado Bolsonaro, na tarde de anteontem, que era preciso aguardar a conclusão de estudos científicos. Não adiantou: em transmissão ao vivo, naquela noite, Bolsonaro disse que faria a mudança no protocolo. “Quem manda sou eu”, afirmou a auxiliares. “Não vou ser um presidente pato manco.” Teich confidenciou a amigos que, naquele momento, já havia chegado ao seu limite e que tinha um nome a zelar. No dia em que o governo completou 500 dias, Teich pediu demissão. Foi o nono ministro a deixar a Esplanada – o último deles havia sido o ex-juiz Sérgio Moro, que comandava a Justiça e, ao sair, há 22 dias, acusou Bolsonaro de interferência política na Polícia Federal. O caso motivou abertura de um inquérito no Supremo Tribunal Federal (STF), que agora se debruça sobre o conteúdo do vídeo de uma reunião ministerial, e pode abrir caminho para o afastamento do presidente ou um processo de impeachment (mais informações na pág. A12).
Nomes. O presidente almoçou ontem com a médica Nise Yamaguchi, defensora do uso da cloroquina em pacientes contaminados pelo coronavírus. O Estadão apurou, no entanto, que o diálogo não correspondeu à expectativa do Planalto e, com isso, a indicação dela para a vaga de Teich perdeu força. Outros nomes citados são os do deputado Osmar Terra (MDB-RS), ex- ministro da Cidadania, e do almirante Luiz Froes, diretor de Saúde da Marinha. Ontem à tarde, em um breve pronunciamento, Teich preferiu não polemizar com o presidente, embora também discordasse dele sobre outros temas. O médico sempre defendeu o isolamento social para evitar a disseminação da doença, enquanto Bolsonaro quer afrouxar a quarentena. Em sua curta passagem pelo ministério, o médico foi várias vezes desautorizado por Bolsonaro. Na segunda-feira, por exemplo, ele se mostrou surpreso ao saber de um decreto incluindo salões de beleza, academias e barbearias na lista de atividades essenciais que deveriam reabrir. “É fogo, hein?”, lamentou Teich. Em guerra com governadores e com o Supremo, Bolsonaro procura agora um ministro da Saúde com perfil conciliador, que possa ajudar o governo a vencer a batalha da comunicação, vista como perdida até aqui. Alçado à condição de ministro interino, o general Eduardo Pazuello terá a missão de assinar o novo protocolo da pasta, liberando o uso da cloroquina “A única coisa que sei é que foi um mês perdido, jogado na lata do lixo”, afirmou o ex-ministro Luiz Henrique Mandetta.
*”Interino vai liberar cloroquina a mando de Bolsonaro”* - Alçado a chefe interino do Ministério da Saúde, o secretário executivo da pasta, general Eduardo Pazuello, deverá liberar o uso da cloroquina até mesmo em pacientes com sintomas leves da covid19. A medida é uma determinação do presidente Jair Bolsonaro, que o oncologista Nelson Teich se recusou a cumprir e, diante da pressão, pediu demissão. Atualmente, a pasta orienta profissionais do sistema público de saúde a prescrever a substância apenas em casos moderados ou graves. A expectativa de técnicos do ministério é a de que os critérios sejam apresentados já na próxima semana, antes mesmo de Bolsonaro escolher o substituto de Teich. Segundo relatos de auxiliares do agora ex-ministro, o próprio Pazuello pressionava pela assinatura de um decreto ampliando o uso do medicamento, que não tem a eficácia contra a doença comprovada cientificamente. Diante do impasse, Teich chegou a propor a Bolsonaro um mega estudo, de autoria da própria pasta, para definir novas diretrizes sobre a recomendação da substância no combate ao coronavírus. As análises serão realizadas, mas o presidente cobrou urgência. Em videoconferência com empresários na quinta-feira, chegou a dizer que “exigia” a mudança do protocolo do ministério sobre a droga. “Estou exigindo a questão da cloroquina agora também. Se o Conselho Federal de Medicina decidiu que pode usar cloroquina desde os primeiros sintomas, por que o governo federal, via ministro da Saúde, vai dizer que é só em caso grave? Eu sou comandante, presidente da República, para decidir, para chegar para qualquer ministro e falar o que está acontecendo. E a regra é essa, o norte é esse”, disse Bolsonaro na ocasião.
Teich, que é médico oncologista, vinha resistindo a mudar com o argumento de que a cloroquina ainda é uma “incerteza”. Em mensagem no Twitter na terça-feira, alertou para os efeitos colaterais. “Um alerta importante: a cloroquina é um medicamento com efeitos colaterais. Então, qualquer prescrição deve ser feita com base em avaliação médica. O paciente deve entender os riscos e assinar o ‘Termo de Consentimento’ antes de iniciar o uso da cloroquina”, escreveu Teich no Twitter. O protocolo a ser avalizado por Pazuello deverá ser baseado na resolução do CFM. Em abril, a entidade liberou a aplicação da substância em pacientes com sintomas leves, mas ressaltou que a decisão foi tomada “sem seguir a ciência”, apenas para encerrar a polarização em torno do medicamento. Com a decisão, médicos estão autorizados a prescrever o medicamento. No entanto, não há um protocolo de distribuição do remédio para que pacientes possam ter acesso à droga no sistema público. As diretrizes também poderão especificar dosagens a serem administradas. Em nota divulgada na noite de ontem, após a saída de Teich, o ministério disse que está “finalizando as novas orientações”. “O objetivo é iniciar o tratamento antes do seu agravamento e necessidade de utilização de UTI”, diz a pasta. Hoje, o protocolo do Ministério da Saúde é mais cauteloso e segue o que dizem sociedades científicas. A droga pode causar efeitos colaterais graves, como parada cardíaca. Esse é um dos motivos para a resistência de comunidades de saúde em recomendar a cloroquina sem acompanhamento médico.
Ministro ‘tutelado’. A nomeação de Pazuello como o número 2 do ministério foi vista como uma espécie de “tutela” da ala militar do governo na Saúde após o antecessor, Luiz Henrique Mandetta, adotar uma postura independente do Palácio do Planalto durante sua gestão. Desde que assumiu o cargo, Teich não conseguiu montar sua própria equipe e viu a pasta ser loteada pelos fardados. Na última semana, ao menos dez nomes ligados às Forças Armadas assumiram postos estratégicos, como revelou o Estadão. Técnicos do Ministério da Saúde apostam em debandada de profissionais do órgão. O clima de trabalho, afirmam, está “insustentável” e há pressão tanto de defensores do fim do distanciamento social como de quem pede maior rigidez do governo para conter o avanço da covid-19. Procurado ontem, Pazuello não se manifestou. “Um alerta importante: a cloroquina é um medicamento com efeitos colaterais. Então, qualquer prescrição deve ser feita com base em avaliação médica. O paciente deve entender os riscos e assinar o ‘Termo de Consentimento’ antes de iniciar o uso da cloroquina”
+++ Como a decisão é do Jair Bolsonaro, é importante que desde já seja dito que a responsabilidade pelas mortes causadas em função do uso de cloroquina também será, exclusivamente, dele. O argumento serve, inclusive, para criticar a MP que libera agentes públicos de responsabilidades por erros cometidos.
*”Até agora, estudos mostram que medicamento é ineficaz”*
*”Governadores cobram apoio à ciência”*
*”Presidente diz que vai à TV contra isolamento”* - O presidente Jair Bolsonaro pretende fazer hoje um novo pronunciamento em rede nacional de TV e rádio para defender mais uma vez o fim de medidas de isolamento social. Segundo apurou o Estadão, a intenção do presidente é pregar um “cavalo de pau” nas atuais determinações de Estados e municípios, citando que já incluiu uma série de atividades na lista de serviços essenciais, o que permite o funcionamento mesmo durante a pandemia do coronavírus. A intenção de fazer o novo pronunciamento – o sexto desde o início da crise – foi revelada pelo presidente na quinta-feira, durante videoconferência com empresários no Palácio do Planalto. “Nós temos que ter mais do que comercial de esperança, transmitir a confiança. Tanto é que vamos ter um pronunciamento gravado para sábado à noite nessa linha”, disse o presidente na ocasião. O presidente defende uma abertura geral de estabelecimentos e o chamado “isolamento vertical” – que vale apenas para idosos e doentes. Contra as medidas de restrição adotadas por governadores e prefeitos, Bolsonaro tem argumentado que o fechamento do comércio trará o “caos” e a “fome” para a população que está sem renda.
O pronunciamento ainda não havia sido gravado até a noite de ontem, o que só deve ocorrer neste sábado. Em sua última mensagem em rede nacional, Bolsonaro já havia pedido a volta ao trabalho e responsabilizado governadores por medidas de distanciamento social. Segundo o próprio presidente, esse pronunciamento deverá passar pela revisão do ministro da Economia, Paulo Guedes. “Pedi ao Paulo Guedes que já comece a revisar o que eu vou falar para gente dar mensagem logicamente objetiva, voltada para a vida, voltada para a economia, para nós sairmos da situação em que nos encontramos”, disse. Ao falar a apoiadores em frente ao Palácio da Alvorada ontem, Bolsonaro disse que está fazendo “o que pode”. “A lei me deu o direito de escolher as atividades essenciais. O resto, que não é essencial, é a cargo de governadores e prefeitos”, disse.
*”Panelaços são registrados em quatro capitais”*
*”Bolsonaro recua e afirma que citou ‘PF’ em reunião”*
*”Número 2 da PF pede para depor outra vez”* - O diretor executivo da Polícia Federal e ex-superintendente da corporação no Rio, delegado Carlos Henrique Oliveira, pediu para prestar um novo depoimento no inquérito que investiga suposta tentativa de interferência política do presidente Jair Bolsonaro na PF. Oliveira deve ser ouvido novamente na próxima quarta-feira. O número 2 da PF contradisse Bolsonaro. Oliveira afirmou em audiência na quarta-feira passada que a regional fluminense mirou familiares do presidente. Segundo ele, o inquérito “era de âmbito eleitoral, e já foi relatado sem indiciamento”. Disse ainda que a saída do delegado Ricardo Saadi da chefia da PF no Rio não se deu por “questões de produtividade”, como alegou Bolsonaro na primeira tentativa de trocar o superintendente da corporação fluminense, pivô da crise entre o presidente e o ex-ministro Sérgio Moro. A PF intimou outros três delegados para serem ouvidos na investigação sobre as acusações de Moro contra Bolsonaro. Na terça-feira, prestará depoimento o delegado Claudio Ferreira Gomes, diretor de Inteligência da corporação. A suposta cobrança do presidente da República por relatórios da PF é um dos pontos centrais do inquérito. Na quarta, além de Oliveira, vão depor os delegados Cairo Costa Duarte e Rodrigo de Morais. Ambos estão lotados na PF de Minas Gerais – Duarte é o superintendente da unidade e Morais é o responsável por conduzir as investigações sobre o atentado à faca sofrido por Bolsonaro durante a campanha eleitoral, em 2018.
Audiências. Nesta semana, foram prestados nove depoimentos. Foram ouvidos os delegados Maurício Valeixo, Alexandre Ramagem, Ricardo Saadi, Alexandre Saraiva e Carlos Henrique Oliveira; os ministros Augusto Heleno (Gabinete de Segurança Institucional), Walter Braga Netto (Casa Civil) e Luiz Eduardo Ramos (Secretaria de Governo); e a deputada Carla Zambelli (PSL-SP).
*”Após lançar cloroquina como solução, Trump deixa de promover o remédio”*
*”Desorientação no Ministério dificulta combate à covid, dizem especialistas”*
*”Entre trocas, nº de mortes avança 666% no País”*
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*”Prévia do PIB do BC apura queda de 5,90% em março”*
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