CAPA – Manchete principal: *”Depois de vídeo, Bolsonaro ataca Celso de Mello, do STF”*
EDITORIAL DA FOLHA - *”Passar a boiada”*: Não faltaram exibições de vileza e servilismo ladrante na famigerada reunião ministerial de 22 de abril. O ministro Ricardo Salles (Meio Ambiente) se destacou, na ocasião, ao manifestar de forma insensível e cínica os atributos valorizados pelo presidente Jair Bolsonaro. “Precisa haver um esforço nosso aqui, enquanto estamos nesse momento de tranquilidade no aspecto de cobertura de imprensa, porque só fala de Covid, e ir passando a boiada e mudando todo o regramento e simplificando normas”, propôs, como registrado em vídeo. Milhares de brasileiros mortos, e o ministro se preocupa em esquivar-se da Justiça, do Ministério Público e da imprensa para seguir desmontando as normas e órgãos de Estado da pasta que recebeu com a missão de manietar. No Ibama de hoje, termina exonerado quem organiza e põe em marcha ações contra garimpeiros e madeireiros ilegais. No ICMBio, uma reforma de fancaria afasta gestores qualificados na administração de unidades de conservação para substituí-los por policiais e militares inoperantes.
A sabotagem vai concertada com o vice-presidente, Hamilton Mourão, encarregado de ações para conter o desmatamento na Amazônia, e com a ministra Tereza Cristina (Agricultura), que recebeu de presente de Salles o poder de conceder florestas à iniciativa privada. O general monta operação teatral com uma centena de soldados e helicópteros em Mato Grosso, usurpando função do Ibama, só para ter certeza de não autuar ninguém. A ministra pediu, e Salles deu uma canetada para tentar inutilizar restrições impostas na Lei da Mata Atlântica. Para o governo Bolsonaro, floresta boa é floresta morta. Os resultados dessa política antiambiental estão bem à vista: a área desmatada na Amazônia, que já havia saltado 29,5% em 2019 e chegado a 9.762 km², um recorde na década, prossegue em alta. Já se projeta que a devastação possa alcançar mais de 12.000 km² neste ano. No mundo inteiro, com as economias nacionais vergastadas pela pandemia de coronavírus, estão em queda as emissões de carbono (gases do efeito estufa que alimentam o aquecimento global). Só o Brasil terá alta, em consequência da destruição de florestas. O mês transcorrido desde a fatídica reunião de ministério se encarregou de mostrar que Salles fracassou no intento sub-reptício de passar a boiada despercebida em plena epidemia. Juízes, procuradores e jornalistas seguem vigilantes na denúncia de sua política de terra arrasada e coberta de estrume —para usar um termo a gosto do presidente Jair Bolsonaro.
PAINEL - *”Com inquéritos-chave, Moraes e Celso de Mello viram inimigos pessoais para Bolsonaro”*: Os ataques de Jair Bolsonaro ao STF têm na mira principalmente dois ministros, Alexandre de Moraes e Celso de Mello, que o presidente elegeu como inimigos próprios. Neste domingo (24), Bolsonaro compartilhou um artigo da lei de abuso de autoridade, em indireta a Mello. Estão nas mãos deles os inquéritos mais relevantes para o presidente: com Moraes, o das fake news, que tem bolsonaristas como alvos, e com Mello, o da tentativa de interferência de Bolsonaro na Polícia Federal. O presidente considera ambos antibolsonaristas e assim tenta transformar a questão institucional em problema pessoal. Bolsonaro atacou Moraes ao menos duas vezes recentemente: disse que ele toma decisões políticas e que só chegou ao STF por amizade com Michel Temer (MDB). Ele também acha que a proximidade que Moraes teve com o PSDB perdura e influencia suas decisões. Bolsonaro se enfureceu quando o ministro barrou a nomeação de Alexandre Ramagem, amigo de seus filhos, para a direção-geral da PF. A despeito dos avanços contra os ministros, Bolsonaro costura uma relação pacífica com o presidente do STF, Dias Toffoli, na qual se fia para garantir estabilidade institucional mínima. A partir dela, consegue manter os ataques aos ministros desafetos.
PAINEL - *”Bolsonaro fracassa em teste de popularidade que propôs a Maia e Alcolumbre em março”*: Negacionista de levantamentos feitos por institutos de pesquisa, Jair Bolsonaro desafiou, em 15 de março, os presidentes da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ), e do Senado, Davi Alcolumbre (DEM-AP), a passarem por seu teste de popularidade. “Saiam às ruas e vejam como são recebidos”, afirmou à CNN Brasil. Dois meses depois, no sábado (23), Bolsonaro colheu resultados ruins nessa metodologia. Ele saiu para comer cachorro-quente na rua, em Brasília, e jantou ao som de panelaço e xingamentos.
PAINEL - *”Ministros do TCU ficam perplexos com declaração do presidente do Banco do Brasil”*: Causou perplexidade entre ministros do Tribunal de Contas da União a declaração do presidente do Banco do Brasil, Rubem Novaes, de que o órgão é “usina de terror”, feita na reunião de 22 de abril. Novaes disse que fica entre o temor de ser preso por trabalhar e o receio de ser processado por inação. Ministros do TCU dizem que só julgaram dois casos relacionados ao BB desde 2019, e em nenhum deles foi aventada a responsabilização de gestores.
PAINEL - *”Destruição de chips com gravações citada por Bolsonaro é ilegal, diz ex-ministro da Controladoria-Geral da União”*: Ainda que o presidente Jair Bolsonaro tenha dito a apoiadores neste domingo (24) que poderia ter destruído o chip da reunião ministerial, ele estaria infringindo a Lei de Acesso à Informação se fizesse isso. É o que diz Valdir Simão, ex-ministro da Controladoria-Geral da União. Ele também afirma que causa preocupação a possibilidade de que os registros das demais reuniões estejam sendo eliminados. Dados reservados são sigilosos por cinco anos, os secretos por 15 anos, e os ultrassecretos por 25 anos, inclusive mensagens de celular, diz Simão.
PAINEL - *”ACM Neto critica propaganda de bancos na pandemia e diz que eles são unanimidade negativa”*: O prefeito de Salvador, ACM Neto (DEM-BA), irritou-se com propagandas que a Febraban, federação dos bancos, tem feito para divulgar ações durante a pandemia do novo coronavírus. Ele diz que os bancos são unanimidade negativa na crise. “Fiquei indignado. Eles tentam fazer propaganda de que os bancos estão ajudando os brasileiros. O que a gente vê é reclamação geral, especialmente dos pequenos e médios empresários, que não conseguem ter acesso a crédito. Não adianta ter taxa de juros baixa se as pessoas não conseguem chegar no dinheiro”, diz ACM. Procurada, a Febraban não se manifestou. Presidente do DEM, ele esteve com Bolsonaro na quarta (20). “O governo querendo discutir política em alto nível, pode chamar. Discutir cargo, ministério, não há a menor hipótese. Essa discussão não aconteceu”, disse.
*”Bolsonaro ataca STF e participa de aglomeração com faixas contra Congresso e Judiciário”* - Dois dias após o ministro do STF (Supremo Tribunal Federal) Celso de Mello ter divulgado vídeo de reunião ministerial alvo de investigação, o presidente Jair Bolsonaro publicou na manhã deste domingo (24) um trecho da lei de abuso de autoridade, no que foi entendido como um ataque direto à corte. A postagem em rede social traz uma foto de um artigo da lei 13.869, de 2019. "Art. 28 Divulgar gravação ou trecho de gravação sem relação com a prova que se pretenda produzir, expondo a intimidade ou a vida privada ou ferindo a honra ou a imagem do investiga ou acusado: pena – detenção de 1 (um) a 4 (quatro) anos." Divulgado nesta sexta-feira (22), o vídeo da reunião do dia 22 de abril mostrou grande preocupação de Bolsonaro em ser destituído. O presidente da República revelou, ainda, contar com um sistema de informação particular, alheio aos órgãos oficiais, reforçando as indicações de interferência política na Polícia Federal.
O encontro, recheado de palavrões, ameaças de prisão, morte, rupturas institucionais, xingamentos e ataques a governadores e integrantes do Supremo, foi tornado público em sua quase integralidade pelo ministro Celso de Mello. A investigação que levou ao depoimento do ex-ministro Sergio Moro à Polícia Federal e que provocou a análise e divulgação deste vídeo foi aberta a pedido do procurador-geral da República, Augusto Aras, e autorizada por Celso de Mello, relator do caso no STF. O teor do vídeo e os depoimento em curso são decisivos para a PGR concluir se irá denunciar o presidente por corrupção passiva privilegiada, obstrução de Justiça e advocacia administrativa por tentar interferir na autonomia da Polícia Federal. Ministros de Estado, delegados e uma deputada federal já prestaram depoimento no inquérito que investiga a veracidade das acusações do ex-juiz da Lava Jato contra o chefe do Executivo. O objetivo é descobrir se as acusações do ex-ministro da Justiça contra Bolsonaro são verdadeiras ou, então, se o ex-juiz da Lava Jato pode ter cometido crimes caso tenha mentido. Na visão de Aras, oito delitos podem ter sido cometidos. Após apuração da PF, a PGR avalia se haverá acusação contra Bolsonaro. Caso isso ocorra, esse pedido vai para a Câmara, que precisa autorizar sua continuidade, com voto de dois terços.
Na manhã deste domingo, logo após a postagem como resposta ao Supremo, o presidente deixou o Palácio da Alvorada de helicóptero, desembarcou no anexo da Vice-Presidência e seguiu para a praça dos Três Poderes, em Brasília, onde houve uma manifestação em defesa do governo. Alguns participantes do ato carregavam cartazes contra o Congresso, o STF e a imprensa. Faixas mencionavam uma "ditadura do Supremo" e pediam a saída do presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ). A maior parte das mensagens, porém, era de apoio ao presidente e sem ataques a instituições. Em atos com a presença de Bolsonaro, membros do Planalto têm solicitado que manifestantes não levem material contra os Poderes Legislativo e Judiciário. O trajeto da residência oficial do presidente até o local de pouso tem aproximadamente 3,5 km e pode ser feito de carro em cerca de cinco minutos. Todo o caminho, que não foi usado, estava livre para trânsito do comboio presidencial, com bloqueios policiais e restrição de acesso a pedestres. De helicóptero, Bolsonaro sobrevoou a Esplanada dos Ministérios e deu voltas ao redor da praça dos Três Poderes.
Ao desembarcar no palácio, Bolsonaro estava de máscara, mas a retirou na caminhada, contrariando regras do Distrito Federal. A multa em caso de descumprimento é de R$ 2.000. O presidente voltou a causar aglomeração na frente do Palácio do Planalto. Desta vez, não desceu a rampa do palácio, como em outros atos. Os manifestantes portavam faixas contra Congresso, Judiciário e imprensa. Cercado de seguranças, o presidente estava acompanhado dos ministros Onyx Lorenzoni (Cidadania) e Augusto Heleno (Gabinete de Segurança Institucional) e dos deputados federais Hélio Lopes (PSL-RJ), Carla Zambelli (PSL-SP) e Bia Kicis (PSL-DF). Bolsonaro evitou tocar os manifestantes, mas ficou a poucos centímetros das pessoas aglomeradas. Em dois momentos, sem máscara, carregou crianças no colo. No fim da tarde, Bolsonaro voltou a participar de aglomeração no Palácio da Alvorada. O presidente recebeu um grupo com mais de 20 pessoas, entre deputados estaduais, como Douglas Garcia (PSL-SP), e federais, como Hélio Lopes e Bia Kicis. O grupo chegou ao local pouco antes das 18h para participar com Bolsonaro do arriamento da bandeira do Brasil na frente do palácio. Sem máscara, o presidente distribuiu abraços e apertos de mão. Uma pessoa do grupo disse a Bolsonaro que o ministro da Educação, Abraham Weintraub, havia ganhado votos com ele. Na reunião, Weintraub afirmou que, por ele, "colocava esses vagabundos todos na cadeia, começando no STF". Bolsonaro não falou do ministro da Educação e defendeu a postura do governo de não ter destruído a fita. "Nós classificamos como secreto aquele encontro, nem precisa. Poderia ter destruído a fita, porque não é encontro formal, oficial, mas nós resolvemos manter a fita", disse, em vídeo transmitido pelas redes sociais. "Poderia ter destruído, não teria penalidade, mas resolvemos manter."
O ministro da Defesa, Fernando Azevedo, também esteve ao lado de Bolsonaro no encontro. O presidente reforçou o fato de ter um general na pasta, disse que Azevedo conduz as Forças Armadas e que o maior exército é povo. "Não começou comigo, mas inaugurou com Michel Temer o Ministério da Defesa ter um general de quatro estrelas, que realmente entenda, nos momentos que a nação precisa, ele sabe como fazer valer a força que as Forças Armadas têm em defesa da democracia, da liberdade. Também o nosso maior exército é o povo", disse "Hoje, em grande parte, é o ministro da Defesa que conduz as três Forças Armadas, essas que sempre estiveram do lado do povo, da democracia, da lei e da ordem", disse. "As Forças Armadas pertencem ao Brasil, não ao presidente. O presidente é o representante, o chefe supremo das Forças Armadas, que obviamente sabendo o seu verdadeiro papel, e, tendo um homem à altura na frente delas, o Brasil tem tudo para dar certo". O presidente não falou com a imprensa e fez breves cumprimentos a apoiadores, que se aglomeravam no cercadinho organizado para recebê-los. Desde o início da pandemia, Bolsonaro tem minimizado o impacto do coronavírus e se colocado contra medidas de distanciamento social, atitude que culminou na demissão de dois ministros da Saúde no intervalo de um mês, Luiz Henrique Mandetta e Nelson Teich. Apesar de dizer lamentar as mortes, o presidente tem dado declarações às vezes em caráter irônico quando questionado sobre as perdas humanas com a Covid-19. Como na ocasião em que afirmou não ser coveiro ou quando disse: "E daí? Lamento. Quer que eu faça o quê? Eu sou Messias, mas não faço milagre."
Uma nota divulgada neste domingo (24) por um grupo de militares da reserva expressou apoio ao general Heleno, que na sexta-feira (22) falou em "consequências imprevisíveis" caso Bolsonaro seja obrigado a entregar seu telefone celular para perícia na investigação que apura se ele interferiu na PF. No documento, os militares alertam para um cenário extremo e dizem que falta decência e patriotismo a parte dos ministros do STF. Os integrantes da corte são chamados no texto de "bando de apadrinhados". "Assim, [os ministros] trazem ao país insegurança e instabilidade, com grave risco de crise institucional com desfecho imprevisível, quiçá, na pior hipótese, guerra civil", diz a nota. O despacho relacionado ao celular foi remetido por Celso de Mello à PGR, órgão ao qual, segundo o ministro, cabe analisar as acusações que constam nas representações de autoria de políticos da oposição e mencionam o aparelho. O encaminhamento é um procedimento de praxe em casos do tipo. A reação do titular do GSI foi duramente criticada por autoridades e representantes da sociedade civil, que enxergaram uma ameaça autoritária na afirmação de Heleno. A nota de apoio a ele é assinada por dezenas de militares da reserva, entre eles o general Luiz Eduardo Rocha Paiva, da Comissão de Anistia.
MINISTROS NO ATO DESTE DOMINGO
Após o ato deste domingo, Onyx afirmou que o vídeo da reunião ministerial é de um encontro fechado e não deveria ter sido divulgado. "A gente não tem medo da verdade, a gente carrega a verdade com a gente e o tempo vai mostrando que o presidente é absolutamente coerente com tudo aquilo que ele faz e acredita", disse o aliado de Bolsonaro. Sobre mensagens do presidente que mostrariam que ele tentou interferir na Polícia Federal, Onyx afirmou que "isso é caso superado". Questionado por jornalistas sobre a aglomeração de pessoas na manifestação, o ministro respondeu de forma ríspida que o ato é espontâneo e que o PT pagava para trazer manifestantes até o local. "Nós viemos aqui porque nós respeitamos quem votou na gente", disse Onyx. Em breve declaração durante o ato, o general Heleno falou, em relação à Covid-19, que "nós vamos ganhar essa guerra". No sábado (23), Bolsonaro passeou por Brasília e provocou aglomeração de curiosos e apoiadores ao parar em um carrinho de cachorro-quente para comer. Enquanto algumas pessoas gritavam "mito", houve panelaço na vizinhança e gritos de "fascista", "assassino" e "genocida". O ato deste domingo foi mais com a presença de Bolsonaro em meio a faixas e gritos contra o Congresso e o Supremo. No mês passado, o ministro Alexandre de Moraes, do STF, autorizou a abertura de inquérito para investigar as manifestações realizadas em 19 de abril. O pedido de investigação foi feito pelo procurador-geral da República, Augusto Aras. O objetivo de Aras é apurar possível violação da Lei de Segurança Nacional por "atos contra o regime da democracia brasileira por vários cidadãos, inclusive deputados federais, o que justifica a competência do STF". “O Estado brasileiro admite única ideologia que é a do regime da democracia participativa. Qualquer atentado à democracia afronta a Constituição e a Lei de Segurança Nacional”, afirmou o procurador-geral, sem citar Bolsonaro, que também participou daquele ato em Brasília. Interlocutores do procurador-geral afirmam que, inicialmente, Bolsonaro não será investigado. Eles alertam, porém, que, caso sejam encontrados indícios de que o chefe do Executivo ajudou a organizar as manifestações, ele pode vir a ser alvo do inquérito. A Lei de Segurança Nacional a que se refere o procurador-geral foi sancionada em 1983 e tipifica crimes que podem ser cometidos contra a ordem política e social. A legislação prevê crimes que lesam a “integridade territorial e a soberania nacional”; o regime representativo democrático”; e “a pessoa dos chefes dos Poderes da União”.
+++ A reportagem tenta fazer um resumo dos principais pontos relacionados à manifestação e da guerra que Jair Bolsonaro tenta encampar contra ministros do STF. No entanto, o texto se alonga demais e não expõe o presidente tal como a Folha parece querer. Além disso, faltou a Folha apurar quanto custou a “voltinha” que Jair Bolsonaro deu em um helicóptero para ver de cima a manifestação que o vangloriava.
*”Após divulgação de vídeo, Bolsonaro tentará levantar suspeição de Celso de Mello em inquérito”* - Dois dias após o ministro do STF (Supremo Tribunal Federal) Celso de Mello ter divulgado vídeo de reunião ministerial alvo de investigação, o presidente Jair Bolsonaro publicou na manhã deste domingo (24) um trecho da lei de abuso de autoridade, no que foi entendido como um ataque direto à corte. Bolsonaro tem esboçado uma estratégia de reação com assessores e aliados. Ele pretende intensificar a ofensiva contra Celso, relator do inquérito que apura se houve interferência na Polícia Federal. O intuito é argumentar que as decisões do decano não têm sido razoáveis, são exageradas e que têm motivações políticas para prejudicar o presidente. Isso criaria uma hipótese de suspeição. Nas redes sociais, os ataques já começaram. Bolsonaro publicou reprodução de um artigo da lei 13.869, de 2019. “Art. 28. Divulgar gravação ou trecho de gravação sem relação com a prova que se pretenda produzir, expondo a intimidade ou a vida privada ou ferindo a honra ou a imagem do investiga ou acusado: pena – detenção de 1 (um) a 4 (quatro) anos”, mostrou a postagem.
+++ Pode-se afirmar que a única “novidade” da reportagem está na manchete, mas ela é pouco explorada no texto.
*”Oposição vê versão de Bolsonaro comprometida e quer buscar CPI para investigá-lo”* - Após a divulgação do vídeo da reunião ministerial de 22 de abril, parlamentares da oposição veem crimes cometidos pelo presidente Jair Bolsonaro, apontam que sua versão sobre a interferência na Polícia Federal está comprometida e pressionam pela abertura de uma CPI no Congresso para investigar o caso. A avaliação geral de líderes opositores é a de que vários elementos da gravação reforçam a denúncia do ex-ministro Sergio Moro de que Bolsonaro cobrou a troca do ex-diretor-geral da PF Maurício Valeixo. O senador Alessandro Vieira (Cidadania-SE) vê não só no vídeo, mas também na entrevista dada pelo presidente após a divulgação do material, na frente do Palácio da Alvorada, bases para que Bolsonaro seja investigado em uma CPI.
Segundo ele, ao falar sobre um sistema de informações particular na reunião ministerial, Bolsonaro indica receber informações sobre investigações envolvendo sua família. "Ele não sabe qual o papel da PF e da Presidência, desconhece os limites institucionais", critica o senador. "O que eu tenho defendido é que o Congresso acompanhe, investigue e apure os fatos por meio de uma CPI, e não somente se atendo ao debate do impeachment." A mudança de estratégia faz sentido em um momento em que o presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ), já tem pelo menos 36 pedidos no colo para analisar, mas dá pouco sinal de que pretenda efetivamente abrir um processo contra Bolsonaro. A argumentação oficial de Maia é que a prioridade do Congresso no momento tem que ser o combate à pandemia do novo coronavírus. Nos bastidores, no entanto, a avaliação é a de que não haveria o apoio mínimos de 342 deputados para levar o processo adiante, em especial após o centrão —bloco formado por PP, PL, Republicanos e outras siglas— ter migrado para a base do governo, em troca de cargos. Deputados já coletam assinaturas para abrir uma CPI. São necessários ao menos 171 apoiadores. Valeixo foi exonerado no dia 24 de abril. Na manhã do dia anterior, Moro reuniu-se com Bolsonaro, quando foi comunicado da saída do diretor-geral escolhido por ele. O ex-juiz então pediu demissão, conforme a Folha revelou, alegando que não poderia continuar diante dessa situação. Na troca de acusações que se seguiu à saída de Moro, o ex-ministro afirmou que o vídeo da reunião ministerial continha declarações que provavam que Bolsonaro havia tentado intervir na PF.
Em sua defesa, o presidente argumentava que as críticas feitas no encontro se referiam à sua proteção pessoal, e não a uma possível ingerência na PF. O presidente, no entanto, promoveu um general responsável por sua segurança pessoal e de sua família. O vídeo divulgado na sexta-feira (22), pelo ministro Celso de Mello (Supremo Tribunal Federal) levanta ainda mais dúvidas sobre a versão do presidente. Nele, Bolsonaro se queixa da falta de dados dos órgãos de inteligência e de uma suposta perseguição a irmãos. "Já tentei trocar gente da segurança nossa no Rio de Janeiro, oficialmente, e não consegui. E isso acabou", afirmou. "Eu não vou esperar foder a minha família toda, de sacanagem, ou amigos meus, porque eu não posso trocar alguém da segurança na ponta da linha que pertence a estrutura nossa. Vai trocar! Se não puder trocar, troca o chefe dele! Não pode trocar o chefe dele? Troca o ministro! E ponto final! Não estamos aqui pra brincadeira”, disse Bolsonaro, em tom exaltado. Nesse momento, o vídeo mostra o presidente olhando na direção em que estava sentado Moro. Para a oposição, as declarações e a linguagem corporal do presidente reforçam a necessidade de uma investigação no Congresso sobre a tentativa de interferência na PF.
A deputada Fernanda Melchionna (RS), líder do PSOL na Câmara, afirma que o "show de horrores", como define o encontro, comprova as denúncias do ex-ministro. "Não podemos naturalizar o que aconteceu como uma reunião, parecia mais uma reunião da máfia", disse. "Vários crimes foram cometidos, mas o que fica evidente é que, ao falar de proteção de filhos e de amigos, ao olhar para Moro, o presidente estava se referindo à Polícia Federal, e não ao GSI [Gabinete de Segurança Institucional, responsável pela segurança presidencial]." A esse fato, disse, se somam as mensagens entre Bolsonaro e Moro horas antes da reunião de 22 de abril mostrando que o presidente havia cobrado a troca de comando na PF no início da manhã em que o encontro ocorreu. Não foi a única mensagem sobre o tema. No dia seguinte, pouco antes da reunião com Moro, o presidente também citou a saída de Valeixo. O líder do PSB na Câmara, deputado Alessandro Molon (RJ), vê chances de o impeachment avançar, assim que Maia "perceber que tem apoio da sociedade brasileira". "Os pedidos refletem o anseio da população brasileira, que cresce a cada pesquisa de opinião. É um processo que vai se acumulando." Com autorização do STF (Supremo Tribunal Federal), os crimes investigados são: falsidade ideológica, coação no curso do processo, advocacia administrativa, obstrução de Justiça, corrupção passiva privilegiada, prevaricação, denunciação caluniosa e crime contra a honra. De acordo com interlocutores do PGR, Moro pode ser enquadrado nos três últimos, e Bolsonaro, nos seis primeiros. Se Bolsonaro for denunciado, a Câmara aprovar o prosseguimento e o STF aceitar a abertura de ação penal, ele é afastado do cargo automaticamente por 180 dias. Na sexta (22), o procurador-geral da República, Augusto Aras, informou que só vai se manifestar nos próximos dias, após assistir à íntegra do vídeo.
A divulgação do vídeo confirmou os indícios de que Bolsonaro tentou interferir na PF, embora não tenha revelado novos elementos para o caso. O inquérito em curso no Supremo apura se, ao tentar nomear pessoas de sua confiança em postos-chave da corporação, entre eles o comando da superintendência no Rio, Bolsonaro buscava ter acesso a investigações com potencial de atingir seus parentes e aliados. As falas do presidente no encontro foram citadas por Moro como evidências da suposta ingerência, após seu rompimento com o governo. Num dos trechos do vídeo, Bolsonaro, de fato, cita "PF" (sigla de Polícia Federal) num contexto de insatisfação com a falta de informações de inteligência. E relaciona o órgão entre os que seriam objeto de sua interferência, incluindo ministérios. Bolsonaro ainda criticou o serviço de informações do governo, dizendo que todos "são uma vergonha". "Não sou informado! E não dá pra trabalhar assim. Fica difícil. Por isso, vou interferir! E ponto final, pô! Não é ameaça, não é uma... uma extrapolação da minha parte. É uma verdade." Em entrevista no Palácio da Alvorada após a divulgação do vídeo, Bolsonaro confirmou que tinha preocupação que algum filho seu fosse alvo de busca e apreensão e disse que pediu a ajuda de Moro para impedir isso. O ex-ministro alega que essa declaração foi outra pressão por mudanças na PF. Bolsonaro, contudo, sustenta que se referia naquele momento à troca de equipes do Gabinete de Segurança Institucional, responsáveis por proteger seus familiares.
+++ A reportagem fala sobre o posicionamento da oposição, mas não consulta parlamentares ou líderes do Partido dos Trabalhadores que tem a maior bancada da Câmara.
*”Entenda como vídeo da reunião ministerial pode influenciar investigação sobre Bolsonaro”* *”Após defender cadeia a ministros do STF, Weintraub diz que falava de 'alguns, não todos'”* REINALDO AZEVEDO - *”Bolsonaro planeja guerra civil, não autogolpe”* *”Pressão sobre PF e críticas a políticos e STF dominaram reunião de Bolsonaro; leia transcrição comentada”*
CELSO ROCHA DE BARROS - *”Vídeo de reunião ministerial de Bolsonaro é um flagrante”* *”Barroso assume TSE em meio a ações que miram chapa Bolsonaro-Mourão”* *”Toffoli fica internado com sintomas de coronavírus após cirurgia”*
*”Cargos, festas e verba pública impulsionam 'Tattolândia', reduto do candidato do PT em SP”* - Líder comunitário na Capela do Socorro, zona sul de São Paulo, o ex-perueiro Robson de Oliveira, 42, conhecido como “X Bine”, comanda a Associação X, que nas últimas semanas tem se dedicado à distribuição de cestas básicas e máscaras para cerca de 7.000 famílias da região. O trabalho na entidade, criada há sete anos, toma grande parte de seu tempo, mas Oliveira diz que consegue conciliar a atividade com a de assessor no gabinete do vereador Arselino Tatto (PT), localizado a 25 km de distância, no centro da cidade. “Eu trabalho pra ele todo dia, mas separo bem a política da associação, que é neutra”, diz Oliveira, que tem salário bruto de R$ 4.175 como assessor especial de apoio parlamentar. Na entrada da Associação X, há uma faixa de agradecimento a Arselino, por ter destinado uma emenda orçamentária no valor de R$ 50 mil à entidade comandada por seu próprio assessor. “O vereador é aqui da região e nos ajuda muito. Se tem um problema de bueiro, iluminação, asfalto, a gente liga e ele manda ofício pra prefeitura resolver”, afirma Oliveira. Nas campanhas, vem a retribuição. “Eu indico para as pessoas da comunidade voto nele e no PT. São os únicos que não aparecem só em eleição”, diz ele, que também é filiado ao partido. Vereador no oitavo mandato, Arselino, 63, é irmão do ex-deputado federal Jilmar Tatto, 54, escolhido no último sábado (16) candidato do PT à Prefeitura de São Paulo. Jilmar foi secretário de Transportes nas gestões de Marta Suplicy (2001-04) e Fernando Haddad (2013-16). Ambos são parte de um clã de dez irmãos, dos quais mais três têm mandato eletivo pelo PT: o também vereador Jair, 51, o deputado estadual Enio, 59, e o federal Nilto, 56. Filhos de um casal de paranaenses que migraram para a região da Capela do Socorro no final da década de 1970, os Tatto iniciaram sua militância nas Comunidades Eclesiais de Base da Igreja Católica e no PT, nos anos seguintes. Estabeleceram uma máquina eleitoral tão ampla que a região ficou conhecida como Tattolândia.
Seu controle sobre a área, localizada nas proximidades da represa de Guarapiranga, se assenta em práticas clássicas de clientelismo. Envolve liberação de emendas, promoção de ações assistencialistas e cooptação de lideranças locais. A Folha identificou ao menos oito líderes ou pessoas ligadas a associações comunitárias de bairros sob influência dos Tatto como assessores de gabinetes dos irmãos. É o caso, por exemplo, de Claudislei Barbosa de Oliveira, ligado à Associação dos Moradores do Jardim Miriam, lotado na primeira-secretaria da Assembleia Legislativa, comandada por Enio Tatto. Ou de Marcos Rogerio Lerois, tesoureiro da Sociedade Amiga e Esportiva do Jardim Copacabana, assessor do gabinete de Enio. Isso se repete no gabinete de Jair, que dentre os irmãos é o que mais espalha sua atuação para outras regiões da cidade, como a zona leste. O gabinete de Arselino, por sua vez, absorveu nomes que, até 2016, estavam empregados na prefeitura, quando Jilmar era secretário de Transportes. Mauro Scarpinatti, ativista ambiental da região de Guarapiranga, foi diretor da SPTrans; Antonio Dias Barroso foi subprefeito da Capela do Socorro; e Ricardo Padula de Moraes foi chefe de gabinete da subprefeitura. No PT, adversários de Tatto que preferiam o deputado federal Alexandre Padilha como candidato a prefeito preocupam-se com a imagem do ex-secretário. Seria alguém mais interessado em fortalecer seu grupo político do que em se articular com outros líderes de esquerda. A liberação de emendas é outro instrumento usado pelo clã. No Jardim Universitário, homens trabalhavam na última quinta-feira (21) na reforma de uma quadra poliesportiva feita com dinheiro do Orçamento obtido por Arselino. Há cerca de 15 anos, a construção do espaço também foi feita com recursos repassados por ele. “Aqui no mínimo 80% do pessoal é Tatto, porque eles são muito atuantes”, disse Claudio José da Silva, diretor-esportivo da Associação do Jardim Universitário, que também já teve membros empregados em gabinetes dos irmãos.
Na quadra, Silva dá treino de futebol para 190 crianças entre 5 e 17 anos. Agora, será possível ter também aulas de ginástica e realizar eventos como festas juninas e do Dia das Crianças, que antes ocorriam no meio da rua. Os irmãos são conhecidos por promover eventos para a comunidade, não apenas em época de campanha. Costumam ser assíduos nas celebrações. Um dos locais favoritos é o centro esportivo Mocidade Ativa Cristã, no Jardim das Imbuias. O espaço é um CDC (Clube da Comunidade), pertencente à prefeitura, mas administrado pelos moradores. Acabou de passar por uma ampla reforma, também a partir de emenda de Arselino, como registra uma faixa de agradecimento colocada na quadra. Antes de ser fechado em razão do coronavírus, o clube teve troca de refletores no campo de futebol, onde Enio joga como centroavante nos torneios de várzea. A próxima demanda é a construção de uma arquibancada. “Aqui a gente tem telecentro, oferece dança pra idosos, faz festa, churrasco, tudo aberto à comunidade”, diz o caseiro do local, Luiz Antonio Mingareli, que diz ser uma espécie de assessor informal de Enio. Os irmãos estão sempre presentes.
Moradores ouvidos pela Folha dizem que Jilmar trabalhou bastante pela região como secretário de Transportes. Entre as obras e ações listadas estão o Bilhete Único, a duplicação da avenida Dona Belmira Marin, na região do Grajaú, e a construção de corredores de ônibus que reduziram o trajeto até o centro pela metade. A área dos transportes deve estar entre as principais bandeiras de campanha de Jilmar, que entregou mais de 400 km de vias exclusivas para o transporte coletivo na gestão Haddad, embora não tenha cumprido a meta de construção de corredores. Em entrevista à Folha, ele prometeu implantar de forma gradual a tarifa zero para os passageiros. A atuação nesse setor, por outro lado, também é sua principal fonte de dores de cabeça judiciais. Na gestão Haddad, Jilmar foi denunciado duas vezes por suspeita de improbidade administrativa por aumento de multas e radares na cidade e uso irregular dessa arrecadação. Em uma das ações, foi inocentado, mas há recursos pendentes. Também responde por suspeita de improbidade em relação a obra de uma ciclovia.
Neste ano, Jilmar se tornou um dos alvos de denúncia por suspeita de improbidade administrativa em relação a cartel de empresas de ônibus. Além disso, em 2006, chegou a ter a prisão pedida pelo Ministério Público, mas negada pela Justiça, em investigação a respeito de influência sobre perueiros que seriam ligados ao crime organizado. Ele sempre negou essa relação e o caso foi arquivado. Jilmar afirmou à Folha que vê o termo Tattolândia com carinho e não de forma pejorativa. "Lutamos por políticas que possam dar mais qualidade de vida para essas pessoas muitas vezes esquecidas pelo poder público". Sobre o fato de líderes locais serem assessores parlamentares, afirmou que as equipes dão diversas. "Quanto aos nossos mandatos, eles sempre foram muito plurais mesmo, com técnicos, lideranças populares e gente do povo." Arselino afirmou, sobre a contratação de Robson de Oliveira, que ela obedeceu à legislação. "Todas as nossas contratações seguem exatamente o que prevê a lei. E a presença de líderes populares da periferia de São Paulo nos enche de orgulho." “É uma opção termos assessores populares. Não queremos apenas o voto das pessoas, queremos que elas se sintam representadas em nossos mandatos. Então compomos nossas equipes da forma mais plural possível", completa.
+++ A reportagem faz uma série de insinuações sobre Jilmar Tatto e os irmãos, como se fossem suspeitos de práticas ilícitas ou imorais. No entanto, sem base em informações que confirmem tais insinuações o texto soa como “espalhador de boatos”.
*”Trump joga golfe enquanto pandemia se aproxima de 100 mil mortos nos EUA”* *”EUA suspendem entrada de cidadãos não americanos que passaram pelo Brasil”* NELSON DE SÁ - *”EUA 'barram' brasileiros 'para proteger o povo americano'”* *”'Estou de pé e de cabeça erguida', diz Netanyahu no início de julgamento por corrupção”* ENTREVISTA DA 2ª - *”É preciso diversidade para fazer ciência e gerar mais soluções, diz Marcia Barbosa”*
*”Real ganha status de moeda tóxica com aversão a riscos fiscal e político”* - A desvalorização de quase 30% do real em relação ao dólar desde o início do ano reflete uma aversão à moeda brasileira que não era vista havia quase 20 anos e que já levou à classificação da divisa nacional como um "ativo tóxico" por bancos estrangeiros. A perda de valor da moeda, que começou no ano passado por causa da queda no diferencial de juros entre o Brasil e outros países, se acelerou nos últimos meses por questões relacionadas ao coronavírus, à piora no ambiente político e à perspectiva de que o país pode ficar para trás na recuperação mundial no pós-pandemia. O real é a moeda que mais se desvalorizou neste ano entre países emergentes, com uma perda de 29% em relação ao dólar. Chama a atenção a diferença para países da América Latina, cujo segundo pior resultado é o do peso mexicano (-19%), e de economias como a África do Sul (-22% do rand) e a Rússia (-13% do rublo). O risco Brasil medido pelo CDS (Credit Default Swap) subiu 220% em 2020. Na média dos países emergentes, a alta foi de 77%. Na semana passada, o real voltou a se valorizar (fechou a sexta-feira, 22, vendido a R$ 5,58), mas praticamente sem alterar a distância em relação a outras moedas emergentes. O banco Credit Suisse divulgou relatório em que classificou a moeda brasileira como "tóxica" e na lista das divisas de países fiscal ou politicamente expostos. A instituição projeta uma cotação de R$ 6,20 até o fim do ano. Entre as instituições consultadas pelo Banco Central na pesquisa Focus, a mediana das projeções para o dólar no final do ano está em R$ 5,30, com algumas casas projetando uma cotação de até R$ 6,30.
Otávio Aidar, estrategista-chefe e gestor de moedas da Infinity Asset, afirma que a valorização recente no preço das moedas dos países emergentes corrige alguns exageros de mercado e que o real pode voltar a se alinhar com as moedas de outros pares. Para ele, uma desvalorização do real na casa de 30%, enquanto outras moedas emergentes perderam cerca de 20% do valor, reflete uma percepção de risco descolada dos fundamentos econômicos do país. Um câmbio de equilíbrio, segundo ele, pode estar próximo de R$ 4,00 ou R$ 5,00, a depender do cenário externo, mas não há justificativa para caminhar para um patamar acima de R$ 6,00. Para que haja uma melhora na visão sobre o Brasil, no entanto, é necessário sinalizar que o aumento de gastos por causa da pandemia vai ficar restrito a esse período e, adicionalmente, ter um plano para organizar a economia na saída da crise. "O investidor precisava olhar para o Brasil e ver algo mais calmo, menos turvo, ter um pouco mais de clareza sobre o ambiente de investimento, diminuir um pouco essas incertezas."
Étore Sanchez, economista-chefe da Ativa Investimentos, afirma que sua projeção para o câmbio daqui a 12 meses, considerando os fundamentos da economia brasileira, é de R$ 4,70. Uma apreciação depende, no entanto, de uma significativa redução na aversão ao risco gerada pela pandemia, o que afetaria todas as moedas de países emergentes, e também de uma melhora nas questões políticas e fiscais do próprio país. "Não estou dizendo para ninguém vender dólar. O câmbio é muito sensível. Ruídos a curto prazo tendem a fazer com que ele se deprecie ou aprecie. Se tiver uma piora de governabilidade, podemos ter um ruído", afirma Sanchez. "Um segundo fator é não piorar mais do que os outros [países emergentes] e ter uma agenda reformista que volte à tona assim que passar, ou pelo menos reduzir, essa pauta da Covid-19", afirma. De acordo com o economista-chefe da Ativa, embora a diferença de juros entre Brasil e Estados Unidos esteja em apenas 2,75 pontos percentuais, considerando a taxa básica de curto prazo, os títulos brasileiros são atrativos quando se observa um diferencial de quase 8 pontos em investimentos de prazos mais longos. Desde agosto do ano passado,o Copom (Comitê de Política Monetária), do Banco Central, reduziu a taxa básica de juros, a Selic, em 3,5 pontos percentuais, de 6,5% para 3% ao ano.
Para Rodrigo Franchini, sócio da Monte Bravo Investimentos, os ruídos políticos, que se refletem na falta de um alinhamento para enfrentar a pandemia e de um plano econômico para a saída de crise, afastam o investidor estrangeiro, mesmo com alguns ativos nacionais extremamente desvalorizados. Segundo Franchini, esse investidor prefere voltar ao país quando já houver algum sinal de recuperação nos preços, mesmo com o risco de perder os ganhos iniciais, a apostar em uma alta que talvez não se concretize. Ele cita, por exemplo, a desvalorização em dólares da Bolsa de Valores brasileira, de quase 50%, que não atrairá o capital estrangeiro se não houver perspectiva de valorização dos papéis que compense o risco. "Não vai ter entrada de dólar em um país que tem confusão política e um juro baixo que vai demorar para ir embora. Se o Brasil quiser ser de novo atrativo, terá de resolver internamente essas questões políticas. Por mais que o país esteja barato, o prêmio não vale a pena por causa desses riscos. Não adianta dizer para o estrangeiro que 'agora vai'", afirma Franchini.
+++ Embora a reportagem ouça apenas fontes ligadas ao mercado financeiro, o último dos consultados afirma que não adianta dizer “agora vai”, como já foi feito algumas vezes desde o golpe de 2016. É a prova de que o discurso dos neoliberais busca iludir a sociedade para impor um sistema sem direitos, com baixos salários e sem igualdade de oportunidades – o que eles escondem na argumentação sobre “meritocracia” e “ superação”.
*”Dívida de países ricos vai crescer dez Brasis para combater pandemia”* - O combate às consequências da economia do novo coronavírus deve custar aos países ricos US$ 17 trilhões em aumento na dívida pública, de acordo com a OCDE (Organização para a Cooperação e o Desenvolvimento Econômico). O valor equivale a cerca de dez PIBs do Brasil, quando medido em dólares (US$ 1,89 trilhão em 2018, segundo o Banco Mundial). A expectativa é que, na média, a dívida pública dos membros da OCDE, espécie de clube dos países ricos, passe de 109% do PIB para 137% do PIB. “Para 2020, o impacto econômico da pandemia da Covid-19 deve ser pior do que na grande crise financeira de 2008-09”, afirmou a OCDE. Há uma década, o pensamento econômico predominante sugeria que, além de 90% do PIB, a dívida de um governo se tornava insustentável. Embora hoje a maioria dos economistas não acredite agora que exista um limite tão claro, muitos ainda sustentam que permitir que a dívida pública aumente cada vez mais ameaçaria minar os gastos do setor privado, criando um empecilho para o crescimento. No Brasil, trabalho coordenado pelo economista Marcos Lisboa, presidente do Insper e colunista da Folha, estima que a despesa extraordinária com a pandemia de coronavírus pode superar R$ 900 bilhões. Com isso, o déficit nas contas públicas irá a R$ 1,2 trilhão em 2020, cerca de dez vezes o projetado no início do ano. Atingido esse valor, a dívida bruta do governo vai superar 100% do PIB neste ano e deverá levar pelo menos uma década para ficar novamente abaixo desse patamar, com grandes chances de não retornar ao nível anterior à crise, de 76%, diz o estudo.
+++ Falta pluralidade de perspectivas sobre a informação que essa notícia transmite. O que os economistas brasileiros pensam sobre o tema? Há divisão entre eles? No entanto, é importante lembrar que os grandes jornais brasileiros costumam ouvir apenas economistas que pensam de uma mesma forma, não há espaço para pluralidade. O Brasil perde dessa forma.
MARCIA DESSEN - *”Quando a renda fixa é fixa”* *”194 agências fecham após pandemia, e mais cidades ficam sem banco”* PAINEL S.A. - *”São Paulo quer cortar benefício fiscal de banco para ajudar na pandemia”* PAINEL S.A. - *”Yara Fertilizantes contrata trabalhadores na crise do coronavírus”* PAINEL S.A. - *”Dona da Sadia expande presença de produtos congelados na quarentena”* PAINEL S.A. - *”Laboratórios querem mais restrição para teste de coronavírus em farmácia”*
*”Quase 10 milhões de brasileiros estão em análise para ter o auxílio emergencial”* AGROFOLHA - *”Lavoura se adapta à pandemia no embalo da alta na demanda”* *”No setor de cana, crise afeta mais usina que só produz etanol”* RONALDO LEMOS - *”Contra fake news, siga o dinheiro”*
*”Guedes e militares temem que parte de vídeo sobre China vaze”* - A divulgação da reunião ministerial de 22 de abril com a supressão de trechos referentes à China não foi suficiente para acalmar o governo. Ala militar e equipe econômica ainda temem uma crise com a potência asiática. O desgaste na relação entre Executivo e Judiciário preocupa. Por isso, militares e integrantes do time do ministro Paulo Guedes (Economia) consideram ser grande a possibilidade de o conteúdo preservado ser vazado nas próximas semanas. Na avaliação deles, isso pode criar um incidente diplomático que afetaria a relação comercial entre os dois países. O ministro do STF Celso de Mello retirou citações à China na gravação. O vídeo foi divulgado na sexta (22) no âmbito do inquérito que apura suposta interferência de Jair Bolsonaro na Polícia Federal. Segundo relatos feitos à Folha, nos trechos em negrito, há uma referência pejorativa ao Partido Comunista Chinês, do líder Xi Jinping. Há também a citação de uma suposta conspiração sobre envolvimento do serviço secreto chinês em crises no continente americano. A preocupação é que o vazamento das novas críticas possa agravar mais ainda a relação entre Brasil e China. Isso pode afetar a cotação do dólar e os índices da Bolsa. Na sexta, o mercado reagiu de maneira positiva ao conteúdo da reunião. Analistas financeiros ouvidos pela Folha esperavam que o discurso anti-China fosse mais forte. O receio é que essa expectativa se quebre caso o restante do conteúdo seja revelado. Para evitar uma futura crise, a cúpula militar tem defendido que o Ministério de Relações Exteriores se antecipe. Os fardados do governo pedem que o Itamaraty entre em contato nesta semana com o governo chinês para reafirmar a parceria comercial entre os dois países. Eles querem ainda reforçar que comentários avulsos não representam a posição oficial da atual gestão.
Segundo relatos feitos à Folha, Guedes pediu a Bolsonaro que oriente a equipe ministerial a evitar novas críticas à China. O ministro argumenta que não se pode olhar ideologia quando o assunto é comércio exterior, especialmente pelo fato de o país ser o principal parceiro e sustentar grande parte das exportações. De janeiro a abril deste ano, o país asiático comprou US$ 20,9 bilhões em produtos brasileiros. O saldo comercial foi positivo para o Brasil em US$ 9 bilhões. Mesmo com a pandemia, o resultado melhorou em relação a 2019. Com os EUA, segundo maior parceiro comercial do Brasil, houve forte retração nas exportações e no saldo total. As vendas para os americanos somaram US$ 7 bilhões. A balança total foi negativa em US$ 3 bilhões no mesmo período. O pedido para que fossem retirados trechos ofensivos à China do vídeo da reunião foi feito pelo governo brasileiro, sob a alegação de que tinham assuntos potencialmente sensíveis. Mesmo assim, críticas menos fortes ao governo chinês foram mantidas no conteúdo divulgado. Em um dos trechos revelados, por exemplo, Guedes diz que a China deveria financiar uma espécie de Plano Marshall para os países atingidos pelo novo coronavírus. "A China [trecho omitido] deveria financiar um Plano Marshall para ajudar todo mundo que foi atingido", disse o ministro sobre planos de recuperação econômica em resposta à crise da Covid-19, que teve origem no país asiático. Em outro ponto da reunião, ele afirmou que o Brasil tem de "aguentar" o país asiático por ser o maior comprador de produtos brasileiros hoje. "A China é aquele cara que você sabe que você tem de aguentar, porque, para vocês terem uma ideia, para cada um dólar que o Brasil exporta pros Estados Unidos, exporta três pra China", ressaltou. Segundo assessores de Guedes, ele usou a metáfora com o intuito de mostrar que os chineses são importantes para o Brasil após observar críticas feitas por ministros.
Após a divulgação do conteúdo, a embaixada chinesa no Brasil publicou nota. Ela evitou comentar os trechos revelados, mas disse que Brasil e China são "parceiros estratégicos globais" e juntos vencerão a crise sanitária. A posição antichinesa no governo é capitaneada pelo núcleo ideológico, favorável a uma parceria com os EUA. O comportamento é bastante criticado por ministros como Tereza Cristina (Agricultura) e Rogério Marinho (Desenvolvimento Regional). Em abril, por exemplo, o ministro Abraham Weintraub (Educação) usou o personagem Cebolinha para fazer chacota da China. Em março, o deputado federal Eduardo Bolsonaro (PSL-SP) fez postagem também nas redes sociais culpando a China pelo novo coronavírus. Após repercussão negativa, ele disse que nunca quis ofender. Nos dois episódios, o embaixada chinesa no Brasil reagiu de maneira dura. No caso do filho do presidente, Bolsonaro telefonou para Xi Jinping em um esforço para aparar arestas de uma crise diplomática.
*”Trabalhadores vão à Justiça para antecipar saque do FGTS na pandemia”* *”Incerteza em relação ao futuro leva empresários à exaustão”* *”Médicos Sem Fronteiras vão de guerras ao combate à Covid-19 na cracolândia”*
*”Fome, falta de renda e desinformação prejudicam combate ao vírus, dizem líderes comunitários”* - A fome, a falta de renda e a desinformação têm contribuído decisivamente para o descumprimento de medidas adotadas para conter o coronavírus em áreas carentes das maiores cidades do país, de acordo com uma enquete feita com líderes comunitários de seis regiões metropolitanas. A necessidade de buscar trabalho em meio à paralisia da economia e a falta de coordenação entre as autoridades envolvidas com o enfrentamento da pandemia têm agravado a situação, indicam os depoimentos dessas lideranças, colhidos por pesquisadores ligados à USP (Universidade de São Paulo). O grupo faz parte da Rede de Pesquisa Solidária, articulada por várias instituições acadêmicas. A enquete ouviu 72 líderes que vivem em comunidades carentes das regiões metropolitanas de São Paulo, Rio de Janeiro, Belo Horizonte, Recife e Manaus e do Distrito Federal, entre os dias 5 e 11 de maio. Problemas ligados à insegurança alimentar foram apontados como a maior preocupação por 74% dos líderes ouvidos na enquete. Segundo eles, iniciativas de governos, empresas e organizações da sociedade civil para distribuir cestas básicas em favelas e bairros pobres têm sido insuficientes para resolver o problema. Filas e disputas entre as famílias pelos alimentos doados têm sido frequentes, de acordo com os entrevistados.
Para 61%, a falta de trabalho e renda tem criado dificuldades. Além da falta de comida, 26% dos ouvidos na enquete disseram que não há dinheiro para comprar máscaras e produtos de higiene necessários para o cumprimento das medidas de prevenção recomendadas pelas autoridades sanitárias. A falta de informações confiáveis sobre a doença foi apontada como um problema por 17% dos líderes comunitários, que se queixam da disseminação de notícias falsas e da ausência de um discurso coerente das autoridades, resultado das disputas entre o presidente Jair Bolsonaro e os governadores. "A confusão tem prejudicado a adesão às medidas tomadas para combater a doença", afirma Graziela Castello, pesquisadora do Cebrap (Centro Brasileiro de Análise e Planejamento) e uma das coordenadoras da enquete. "As pessoas têm dificuldade para compreender os riscos e as recomendações." A procura de trabalho tem afastado as pessoas do isolamento social, aumentando o risco de contágio, dizem os pesquisadores. Na avaliação do grupo, é também um sinal da insuficiência das políticas implementadas pelo governo federal para atenuar a perda de renda e conter o desemprego na pandemia.
Trabalhadores de baixa renda e do setor informal têm direito a um auxílio emergencial de R$ 600 por três meses, mas muitos encontraram dificuldades para se cadastrar no aplicativo criado pela Caixa Econômica Federal para o programa, o que têm provocado filas e aglomerações nas agências do banco. O aprofundamento da crise econômica tem alimentado pressões para que o benefício seja prorrogado pelo governo. Além do impacto imediato da crise sobre os trabalhadores, há sinais de que a recuperação da atividade econômica será lenta depois que as medidas de isolamento social forem relaxadas. Questionados sobre os problemas que tendem a se agravar em suas comunidades nas próximas semanas, 56% dos líderes que participaram da enquete apontaram o aumento do número de infectados pelo coronavírus, 35% mencionaram a falta de adesão às medidas de prevenção e 22% citaram a fome. O aumento da violência é uma preocupação para 19% dos líderes entrevistados. Eles temem não só furtos e roubos mas o aumento da violência doméstica, a ocorrência de saques e o acirramento de conflitos sociais. Para 13%, o impacto psicológico da pandemia também tende a se agravar. Para os pesquisadores envolvidos com a enquete, que planejam continuar monitorando essas comunidades nas próximas semanas, esforços para coordenar melhor a distribuição de alimentos e ampliar a assistência à população dessas áreas contribuiriam para conter a propagação do vírus. "Há nessas comunidades uma rede de organizações da sociedade civil com grande capilaridade, que poderiam ajudar os governos a viabilizar políticas mais eficazes", diz Castello. Os boletins produzidos pela Rede de Pesquisa Solidária estão disponíveis no endereço: http://redepesquisasolidaria.org.
DEPOIMENTOS
“Você dá uma cesta básica para uma pessoa que mora num barraco com 11 pessoas. Tem cesta que vem 5 kg de arroz. Onze pessoas, se comerem no almoço e na janta, não dá nem para dois dias, numa conta bem básica.”
Líder comunitário do Campo Limpo, em São Paulo
“Domésticas, diaristas, cuidadoras de idosos e babás, essas mulheres estão sofrendo com a queda da renda. No início, até que algumas patroas pagaram, mas poucas. Isso tem feito com que essas mulheres voltem a trabalhar, circulem pela cidade e interajam com muitas pessoas.”
Líder comunitário do Morro do Coroa, no Rio de Janeiro
“Muitas pessoas com queixas relacionadas ao desencontro nas informações que são repassadas, principalmente por conta dessa briga política. [...] Nosso presidente aí falando uma coisa, nosso governador falando outra, nosso prefeito também. Então fica essa briga política prejudicando um pouco o entendimento das pessoas.”
Líder comunitário do Engenho do Meio, no Recife
“As pessoas continuam saindo para trabalhar, e isso não tem uma solução. [...] A gente tem que, naturalmente, correr até o centro ou regiões mais longe daqui da periferia para poder trabalhar, certo? [...] E eu não tenho sugestão nenhuma para dar para eles. ‘Não vão trabalhar porque vocês vão pegar essa doença’. Como é que eu vou dizer isso sendo que, se eles não trabalharem, eles também não comem?”
Líder comunitário do Morro do Macaco, em Cotia (SP)
*”PM detém profissionais de saúde após protesto sobre coronavírus no Rio”* *”Após perder filhos em deslizamento, casal sofre com pandemia no litoral de SP”* *”Baixo isolamento e falta de restrições ameaçam status do Paraná em casos da Covid-19”* *”Pará encerra lockdown, mas mantém regras de distanciamento social”* *”Aeronáutica confirma 90 infectados com novo coronavírus em escola de cadetes em MG”*
*”Cidades paulistas freiam coronavírus com limpeza de ruas, isolamento e máscaras”* *”Estudo mostra que antiviral remdesivir reduz tempo de recuperação de pacientes com Covid”*
*”Embate para tentar barrar uso da cloroquina ganha força no Senado”* - Senadores deram início a articulações para tentar barrar mudanças feitas pelo Ministério da Saúde no protocolo do uso da cloroquina. A pasta liberou o remédio para casos leves de Covid-19. O instrumento em estudo para impedir a indicação do medicamento é um projeto de decreto legislativo. Divergências com o presidente Jair Bolsonaro sobre o remédio derrubaram dois ministros: Nelson Teich e Luiz Henrique Mandetta. As mobilizações são conduzidas pelos senadores e ex-ministros da Saúde José Serra (PSDB-SP) e Humberto Costa (PT-PE). As iniciativas têm apoio de líderes de diferentes partidos. Serra é autor de um projeto que pede para sustar o protocolo de orientações por completo. A proposta de um decreto é a alternativa porque o documento do Ministério da Saúde foi feito após uma determinação de Bolsonaro. O decreto legislativo, para se sobressair à ordem presidencial, precisa ser aprovado tanto pelo Senado quanto pela Câmara. Serra afirmou que Bolsonaro não poderia fazer o que ele chama de "uso político" do combate ao coronavírus. "Entidades médicas já se posicionaram contra a medida, e a OMS [Organização Mundial da Saúde], quando questionada sobre a decisão do governo brasileiro, reafirmou que, além de não ter eficácia comprovada, a cloroquina pode causar efeitos colaterais graves", afirmou.
A decisão do Ministério da Saúde foi publicada na quarta-feira (20). No dia seguinte, o projeto de decreto legislativo foi protocolado no Senado. Até então, o protocolo adotado pela pasta previa o uso do medicamento apenas por pacientes em estado grave e crítico, e com monitoramento em hospitais. A recomendação ocorre após diversos estudos mostrarem que a cloroquina ou a hidroxicloroquina não só não têm efeito contra a Covid-19 como podem aumentar o risco cardíaco. Mesmo assim, Bolsonaro já afirmou que não abre mão da medida. "Quem quer tomar que não tome, mas não enche o saco de quem quer tomar, porra", disse o presidente, na sexta-feira (22). Costa criticou o posicionamento de Bolsonaro. "O presidente da República não é cientista, não é médico, e não deveria caber a ele tomar essa decisão", disse o senador. O documento divulgado pelo ministério na semana passada não obriga profissionais do SUS a segui-lo. Contudo, médicos temem que a mudança aumente a pressão para indicação do remédio.
Para o líder do PSD no Senado, Otto Alencar (BA), a recomendação é uma tentativa de intimidação. Segundo ele, isso não pode ser aceito pela comunidade médica. "Eu sou médico e jamais me submeteria a esse tipo de protocolo. Nenhum médico em sã consciência vai fazer isso. É absurdo", afirmou. Na quinta-feira (21), o STF (Supremo Tribunal Federal) impôs mais uma derrota a Bolsonaro. Os ministros decidiram que a MP (medida provisória) do presidente para blindar agentes públicos de responsabilização durante a pandemia do coronavírus não pode servir para blindar atos administrativos contrários a recomendações médicas e científicas. A corte manteve a previsão de que gestores públicos só devem responder nas esferas civil e administrativa da Justiça quando "agirem ou se omitirem com dolo ou erro grosseiro", como prevê a MP. Presidente da CCJ (Comissão de Constituição e Justiça), a senadora Simone Tebet (MDB-MS) disse acreditar que os sinais dados pelo STF podem tornar mais cauteloso o uso do medicamento, dando com isso mais tempo para que a medida seja analisada no Congresso. Para ela, colocar o tema de imediato em votação pode acelerar uma discussão política, além das questões de saúde. "Se levarmos esse tema, agora, para plenário, podemos criar mais polêmica neste momento. É cair no discurso radical. Precisamos discutir esse decreto", afirmou.
Para o líder do MDB no Senado, Eduardo Braga (AM), há inclinação dos congressistas para apreciar a proposta. Porém, também disse ele, as discussões ainda precisam ser ampliadas. "Eu com certeza votaria a favor desse decreto legislativo. Tem muita dúvida sobre esse protocolo da cloroquina", afirmou Braga. "É um absurdo fazer um protocolo da forma como foi feita, quando até mesmo as entidades médicas se manifestam de forma contrária", disse. O MDB, com 13 senadores, é a maior bancada da Casa. Para o líder do bloco de oposição, Randolfe Rodrigues (Rede-AP), o decreto legislativo é a alternativa para que se possa reverter de forma legislativa a medida publicada pelo Ministério da Saúde. Na mesma linha de Tebet, o senador também disse acreditar que a decisão do Supremo poderá servir para reduzir o uso do medicamento. O senador, contudo, defende que já nesta segunda-feira (25), em reunião de líderes, possa ser discutida a possibilidade de votação da proposta no plenário virtual da Casa. "O decreto legislativo é um caminho. Vamos discutir isso na segunda-feira e avançar por isso", disse Rodrigues. Em outra linha, o senador Alessandro Vieira (Cidadania-SE) encaminhou um ofício ao Ministério da Saúde pedindo a indicação dos responsáveis técnicos pelas orientações do uso de cloroquina e hidroxicloroquina no tratamento de pacientes com a Covid-19. Vieira assinou o pedido de informações com os deputados federais Tábata Amaral (PDT-SP) e Felipe Rigoni (PSB-ES).
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