O presidente Jair Bolsonaro se juntou novamente, ontem, a uma manifestação que pregava o golpe de Estado com repúdio aos poderes Legislativo e Judiciário através do Congresso Nacional e do Supremo Tribunal Federal. Não havia mais do que cinco mil pessoas no movimento, que salpicadas entre a imensa Esplanada dos Ministérios e a Praça dos Três Poderes mal eram vistas nas imagens aéreas. Pareciam um grupo maior, porém, na live transmitida pelo presidente. “Chegamos no limite”, ele afirmou. “Não tem mais conversa.” Mais cedo, Bolsonaro havia se reunido com um grupo de generais. “Vocês sabem que o povo está conosco, as Forças Armadas também estão ao nosso lado, e Deus acima de tudo. queremos o melhor para o nosso país. Queremos a independência verdadeira dos três poderes e não apenas uma letra da Constituição, não queremos isso. Chega interferência. Não vamos admitir mais interferência. Acabou a paciência.” O presidente estava irritado com uma série de decisões do Supremo, entre elas a ordem para interditar a nomeação de Alexandre Ramagem para o comando da Polícia Federal e, no sábado, a de suspender a expulsão da equipe diplomática venezuelana do país. (G1)
Assista aos principais momentos de Bolsonaro na manifestação. (Poder 360)
Os militantes governistas, muitos vestindo a camisa amarela da Seleção, chutaram e deram murros em jornalistas, dentre eles o veterano e premiado fotógrafo Dida Sampaio, do jornal O Estado de S. Paulo. (Estadão)
Do general Hamilton Mourão sobre o ataque aos repórteres: “Sou contra qualquer tipo de covardia e agredir quem está fazendo seu trabalho não faz parte da minha cultura.” (Folha)
Pelo menos três generais da reserva declararam que o presidente está enganado. Maynard Santa Rosa, ex-secretário de Assuntos Estratégicos da Presidência, o deputado federal General Peternelli e o ex-candidato ao governo do Distrito Federal, Paulo Chagas, o disseram ao jornalista Chico Alves. “O presidente está enganado, está interpretando do jeito que ele quer. As Forças Armadas jamais vão entrar numa aventura. O povo está dividido, o Brasil quer que cada um faça sua parte de forma responsável”, declarou Chagas. (UOL)
Então... Ao longo do dia de ontem, como quem não quer nada, o general Paulo Sérgio tuitava sobre o envolvimento do Exército no combate à Covid-19. (Twitter)
Enquanto isso... O ex-ministro da Justiça, Sérgio Moro, prestou um depoimento de oito horas na Polícia Federal, em Curitiba. Ele foi ouvido por ordem do STF sobre suas acusações de que Bolsonaro tentou interferir na PF. À porta havia militantes bolsonaristas assim como lavajatistas, agora divididos em grupos adversários. Os técnicos extraíram do celular de Moro, suas conversas com o presidente via WhatsApp — incluindo aquelas que ele acreditava ter apagado. (Estadão)
Sérgio Moro: “Reitero tudo o que disse no meu pronunciamento. Esclarecimentos adicionais farei apenas quando for instado pela Justiça. As provas serão apresentadas no momento oportuno, quando a Justiça solicitar.” (Veja)
As rusgas estão custando ao presidente em popularidade. A pesquisa Ideia Big Data, que colhe semanalmente por telefone avaliações sobre o governo, registrou entre 28 e 29 de abril, uma queda de oito pontos no intervalo de uma semana. Bolsonaro tinha 36%, caiu para 28% de ótimo e bom, de acordo com José Roberto de Toledo. (Piauí)
O DataPoder360 registrou queda similar. De 36% para 29% num intervalo de 15 dias. (Poder 360)
A redação do Estado soltou uma nota. “A diretoria e os jornalistas de O Estado de S. Paulo repudiam veementemente os atos de violência cometidos hoje contra sua equipe durante uma manifestação diante do Planalto em apoio ao presidente Jair Bolsonaro. Trata-se de uma agressão covarde contra o jornal, a imprensa e a democracia. A violência, mesmo vinda da copa e dos porões do poder, nunca nos intimidou. Apenas nos incentiva a prosseguir com as denúncias dos atos de um governo que, eleito em processo democrático, menos de um ano e meio depois dá todos os sinais de que se desvia para o arbítrio e a violência. Esperamos que a apuração penal e civil das agressões seja conduzida por agentes públicos independentes, não vinculados às autoridades federais que, pela ação e pela omissão, se acumpliciam com o processo em curso de sabotagem do regime democrático.” (Twitter)
Os outros grandes jornais publicaram editoriais.
O Globo: “O presidente Jair Bolsonaro parece ter decidido se manter de vez na trajetória de desobediência institucional para fazer um teste mais forte dos limites que a Constituição impõe ao Executivo. Tem pregado a sedição, com ameaças claras à ordem constituída. A participação de Bolsonaro em mais uma manifestação antidemocrática em Brasília, duas semanas depois da primeira, marca a radicalização. Bolsonaro garantiu que as Forças Armadas estão ao seu lado nesta empreitada inconstitucional. Estaria certo disso depois de ter se reunido, sem registro na agenda, com chefes militares. A ver se as Forças Armadas aceitam manchar sua imagem reconstruída com muito esforço, profissionalismo e disciplina.”
Folha de S. Paulo: “Mais uma vez, Jair Bolsonaro achou por bem juntar-se aos manifestantes e gritar palavras de ordem que os legitimam. Ele sabe que as bandeiras afrontam a Constituição, mas não se importa. É o agitador de sempre, o antiestadista, o eterno deputado medíocre do baixo clero. De novo, entre as sandices proferidas pelo atual ocupante do cargo máximo do Executivo brasileiro, estavam ataques ao jornalismo. Uma imprensa livre e independente faz parte desse sistema. Ela seguirá vigilante, apesar das agressões da marcha dos covardes.”
Exibido pela TV Globo, o Fantástico de domingo também tratou de forma contundente a manifestação. Assista. (G1)
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