quinta-feira, 25 de março de 2021

300.000 óbitos e o impeachment na mesa

 


O Brasil superou a trágica marca dos 300.000 mortos por covid-19 nesta quarta sem uma rota de saída para o descalabro. Na escalada de pressão sobre o Planalto, a surpresa veio do Congresso Nacional, que parece começar a se inquietar com a insatisfação majoritária da opinião pública com a gestão da crise. De Brasília, Afonso Benites conta que o presidente da Câmara, Arthur Lira, eleito com o apoio de Jair Bolsonaro, subiu o tom como nunca e disse que estava apertando um "sinal amarelo". Pôs o impeachment na mesa. “Os remédios políticos no Parlamento são conhecidos e são todos amargos. Alguns, fatais”, discursou. A vergonhosa marca de mortos veio no mesmo dia em que o novo ministro da Saúde, Marcelo Queiroga, falou pela primeira vez como titular da pasta. Suas posições frustraram quem esperava uma guinada radical no discurso negacionista para reverter a curva ascendente de óbitos no país. "É inacreditável que tenhamos transformado a pasta e o SUS, nossa Ferrari em termos de sistema de saúde, numa Veraneio modelo 64 lotada de recrutas zero”, escreve Flávia Marreiro.

Enquanto isso, a covid-19 avança deixando seu rastro de destruição. O país vive hoje o auge da “maior crise sanitária de todos os tempos”, segundo a Fiocruz, e precisa lidar com a nova variante do vírus, que torna a nova onda da pandemia mais jovem, mais feroz e mais agressiva. O repórter Diogo Magri conta que, em um dos principais hospitais de São Paulo, um terço dos internados tem menos de 40 anos. "As pessoas têm que tomar cuidado e não subestimar [o vírus], porque eu subestimei e me ferrei”, diz Natália Albuquerque, de 20 anos, que testou positivo em dezembro e tem sintomas da doença até hoje. Já Felipe Betim descreve a rotina no maior cemitério da América Latina: "Um carro funerário se aproxima. Em seguida outro. E mais outro. Vão surgindo de repente, vindos de várias direções. Em volta deles, familiares aguardam a vez de enterrar seus mortos", conta. No local, a média diária de enterros é 87, contra 45 em janeiro e fevereiro.

Bem longe dali, no Egito, um outro problema logístico mobilizava o comércio mundial. Um dos maiores navios porta-contêineres do mundo ficou encalhado no estratégico canal de Suez, a via que liga o mar Vermelho ao Mediterrâneo. O incidente, que ocorreu principalmente devido à falta de visibilidade e às rajadas de vento provocadas pelas más condições meteorológicas, gerou um grande congestionamento de navios em uma das principais artérias de transporte marítimo mundial. Do Cairo, o correspondente Marc Español detalha a operação para remover a embarcação e liberar a circulação no canal.

Na página cultural do dia, um seriado notável. O surgimento da aids nos anos oitenta é o tema central da série It's a Sin. Classificada como uma pequena joia britânica, a produção da HBO tem cinco capítulos e é “um luxo de realização e interpretação”, escreve Ángel S. Harguindey, contando histórias do cotidiano a partir do compromisso com a realidade social do momento.

Fique em casa se puder. Ajude os mais vulneráveis se tiver chance. O Brasil do futuro agradece.


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