sábado, 13 de março de 2021

Análise de Mídia - 13/03/2021

 

DOS JORNAIS DE HOJE: O pronunciamento do ex-presidente Lula e sua situação jurídica continuam sendo abordadas pelos veículos de imprensa que acompanhamos e analisamos. Os assuntos estão como destaque maio das capas dos jornais. A Folha destaca que o efeito Lula faz com que a equipe econômica veja riscos na reação de Bolsonaro. O jornal O Globo publica informação polêmica a partir de entrevista do ministro do STF, Edson Fachin, relator da Lava Jato no Supremo. De acordo com o jornal, a suspeição de Moro pode anular toda a Lava Jato. Já o Estadão, mostra as consequências da eloquência do ex-presidente Lula e de ele ter ocupado o lugar do contraponto a Bolsonaro. O jornal diz que João Doria já admite largar o projeto nacional e que deve se candidatar para reeleição em São Paulo.
A entrevista de Edson Fachin está nos três jornais. Em todas, o tom ameaçador sobre o que pode acontecer à Operação Lava Jato está presente. Apesar do fatalismo, o ministro afirma que o país viveu avanços que não devem retroceder. Além da entrevista, muitos artigos foram publicados sobre a questão Lava Jato X Lula X Sergio Moro. Surpreendentemente, Demetrio Magnoli publicou texto criticando a operação. A jornalista Cristina Serra tratou da relevância da “volta de Lula”. Além desses, a Folha ainda publica artigo com uma comparação entre Lula e Bolsonaro na coluna “cozinha bruta”. O autor imagina como seria encontrar Lula ou Bolsonaro em uma mesa de bar, quais seriam as conversas e quem os acompanharia. A conclusão dele é que Bolsonaro deve ser calado.
No jornal O Globo, os artigos são mais críticos ao ex-presidente Lula, a começar por Carlos Alberto Sardenberg que diz que o Brasil é pária duas vezes. Uma por causa de Bolsonaro e outra por anular as condenações de Lula. O jornalista que há tempos já não contribui muito para o debate público, ao contrário, o prejudica com distorções da realidade, repete o que vem fazendo. Sardenberg fala uma extensa lista de provas contra Lula. Eurípedes Alcântara aborda o processo de suspeição de Moro e o que pode ocorrer como consequência, mas em um tom mais moderado e realista sem deixar de falar sobre “excessos” dos integrantes da Lava Jato – termo brando demais para o que foi feito. Pablo Ortellado publica um texto sem muita solidez. Ele fala sobre o “encantamento de Lula”, mas iguala o ex-presidente a Jair Bolsonaro e ainda comete o absurdo de dizer que a esquerda tem por prática atacar as instituições como fez Jair Bolsonaro. Já Ascânio Seleme faz uma análise um pouco fajuta do discurso de Lula em 13 pontos.
O Estadão, por sua vez, não publica artigos sobre Lula porque o jornal prefere omitir o ex-presidente da conjuntura. É a estratégia do silenciamento que foi tentada enquanto Lula estava na prisão e logo que saiu dela. O jornal, porém, publica uma entrevista com a deputada Carla Zambelli que é atordoadora. Ela fala como nova presidente da Comissão de Meio Ambiente da Câmara.

 

CAPA – Manchete principal: *”Equipe econômica vê risco do efeito Lula em Bolsonaro”*

EDITORIAL DA FOLHA - *”MEC com ideologia”*: Recém-nomeada para o cargo de coordenadora de materiais didáticos do Ministério da Educação, Sandra Ramos é adepta do Escola sem Partido, movimento de íntima associação com o bolsonarismo. A escolha se insere numa teia de disputas internas no MEC, em vitória da ala ideológica da pasta, liderada pelo secretário de Alfabetização, Carlos Nadalim —que operou alterações no edital do Programa Nacional do Livro Didático, incluindo a retirada de menção à agenda da não violência contra a mulher. Ramos é pedagoga, professora da Universidade Federal do Piauí, conservadora e colaboradora do Escola sem Partido. O movimento, como é sabido, dedica-se a combater o que considera doutrinação esquerdista em salas de aula.
Entre os temas já defendidos pela nova coordenadora destacam-se a exclusão da base curricular de referências às culturas africana e indígena, bem como às violações de direitos humanos ocorridas na ditadura militar (1964-1985). A preocupação com o proselitismo ideológico de professores em todos os níveis de ensino é legítima, sejam quais forem as preferências manifestadas. No entanto combater tais excessos por meio de vetos a determinados temas e até palavras constitui distorção pior. Entre as principais questões em debate está a suposta “ideologia de gênero”. O termo, nada explicativo, nasceu de embates a respeito da igualdade de gênero e de pessoas LGBTs no âmbito internacional, embora a expressão não faça parte do léxico de educadores e especialistas no tema. Em abril do ano passado, o Supremo Tribunal Federal derrubou, de forma unânime, uma lei do município de Novo Gama (GO) que vetava a discussão de gênero em escolas. Projetos dessa natureza proliferam no país. Levantamento do Movimento Educação Democrática, de agosto de 2019, registrou 121 propostas municipais e estaduais vinculadas ao Escola sem Partido. Será enorme retrocesso se tal ofensiva contaminar as diretrizes pedagógicas definidas pelo MEC. A única maneira virtuosa de combater doutrinações é elevar a qualidade da educação e zelar pela pluralidade dos conteúdos oferecidos.

CRISTINA SERRA - *”A volta de Lula”*: Seis meses atrás escrevi neste espaço que Lula não poderia ser "cancelado" da vida política. O texto provocou discussão entre os leitores e alguns xingamentos a esta colunista. Como considero o debate necessário e estimulante, volto ao tema a partir da manifestação do ex-presidente, depois que decisão do ministro Fachin, do STF, restituiu-lhe a possibilidade de ser candidato. O discurso soou como lenitivo cicatrizante num país ferido e a caminho dos 280 mil mortos pela pandemia. Lula retomou o perfil conciliador (sublinhou a chapa de 2002 que uniu "capital e trabalho") e abriu portas em torno de quatro pontos: democracia, vacina já, auxílio emergencial e emprego. "E se quiser dar um passo a mais e conversar [sobre] como tirar o Bolsonaro, eu tô mais feliz ainda", arrematou.
Convenhamos, é um programa lógico e coerente o bastante para um começo de conversa. Em condições normais de temperatura e pressão, nas quais vicejam as democracias, isso seria uma obviedade. Mas, como não vivemos tempos normais, o discurso de Lula e sua repercussão foram suficientes para estimular mais arreganhos de Bolsonaro e a tentativa de reeditar a farsa dos dois "extremos". Sustentado pela Lava Jato, o engodo funcionou em 2018. Delações premiadas de baciada ? Tubulações jorrando dinheiro na TV toda noite? Essa engrenagem enguiçou. Só há um extremista no jogo, e é o genocida que usa um vírus como arma biológica de destruição em massa. O retorno do petista à arena também provoca um reposicionamento geral de forças. À direita, é grande o alvoroço entre alquimistas que sonham fabricar um candidato de "centro", tal como os magos da Antiguidade buscavam a pedra filosofal. É cedo para saber se Lula estará na disputa em 2022. Os embates nos tribunais não acabaram. Mas com ele em cena o debate político é requalificado. Por isso, considero válido reafirmar o que escrevi seis meses atrás: Lula está de volta. E isso é uma boa notícia para a democracia.

PAINEL - *”É uma imagem terrível uma arma na mão do Zé Gotinha, diz criador de personagem”*
PAINEL - *”AGU afirma que importação de vacinas por juízes é privilégio e que coloca em risco saúde de milhões de brasileiros”*

PAINEL - *”Flávio Bolsonaro compara governadores a nazistas em vídeo compartilhado por aplicativo”*: O senador Flávio Bolsonaro (Republicanos-RJ), filho do presidente Jair Bolsonaro, compartilhou vídeo no aplicativo Telegram em que compara os governadores a nazistas em um campo de concentração. Ele utilizou trechos do filme "A Lista de Schindler", do diretor Steven Spielberg, que é judeu, para insinuar a comparação. Jair Bolsonaro tem atacado os governadores por conta das medidas restritivas para controle da pandemia que eles têm adotado, consideradas fundamentais pela ciência para conter a disseminação do coronavírus. No Brasil, Maceio e Macapá são as únicas capitais com UTIs abaixo de 80%, mostrou a Folha. As medidas de restrição têm sido tomadas para evitar que toda a rede de atendimento de saúde no país entre em colapso. Ao compartilhar o vídeo, Flávio mandou também mensagem que diz "O seu trabalho é 'essencial'?
A arte imitando a vida". A montagem publicada pelo senador começa com a mensagem "Não é a primeira vez que as pessoas são classificadas em 'essenciais' e 'não essenciais'". A divisão entre atividades essenciais ou não tem sido utilizada pelos planos de contingência dos estados, que assim definem quais poderão ser mantidas no momento crítico da pandemia. O vídeo de Flávio então mostra uma cena em que guardas nazistas dizem a judeus que eles não exercem trabalhos essenciais e atiram na cabeça de um deles. A montagem termina com uma foto de Jair Bolsonaro com a mensagem "nossa arma é a vacina", mote que o senador tem tentado disseminar após meses de atuação prejudicial à vacinação por parte do presidente.

PAINEL - *”PM de SP desmente Carlos Bolsonaro e diz que imagem compartilhada por vereador é fake news”*: A Polícia Militar de São Paulo classificou como fake news uma publicação do vereador Carlos Bolsonaro (Republicanos-RJ) que relacionou uma foto de 2016 de um policial retirando a caixa de isopor com produtos de uma vendedora ao combate à pandemia de Covid-19 pelos governadores. O filho do presidente Jair Bolsonaro publicou nas suas redes a foto com a mensagem "'medidas' que governadores e prefeitos estão tomando", acompanhada de foto de ação policial. A publicação recebeu mais de 70 mil curtidas. No entanto, apurou a PM de SP, a ação aconteceu em setembro de 2016, numa ação de combate ao comércio irregular. À época, João Doria (PSDB-SP) ainda não era governador. O posto era ocupado por seu correligionário Geraldo Alckmin (PSDB-SP). Na ocasião, policiais tentavam retirar as mercadorias de uma vendedora ambulante que trabalhava durante manifestação contra o então presidente Michel Temer (MDB-SP) na avenida Paulista. A intervenção da PM aconteceu durante operação delegada, quando os agentes recebem remuneração extra para prestar serviços para a Prefeitura de SP, à época sob comando de Fernando Haddad (PT-SP). Após a ação, a gestão municipal cobrou explicações do comando da PM pelo uso de gás de pimenta e cassetetes. A publicação que relaciona falsamente o episódio de quase cinco anos atrás aos atuais governadores também foi compartilhada por influenciadores bolsonaristas, como Allan dos Santos, cuja postagem foi utilizada no desmentido na PM.

PAINEL - *”Policiais convocam carreata e manifestações contra Bolsonaro em Brasília”*: Delegados, peritos, agentes da Polícia Federal, policiais rodoviários federais e outras 20 carreiras da segurança pública estão convocando carreata e manifestações contra o presidente Jair Bolsonaro a partir da próxima semana. Na quarta-feira (17), eles planejam uma carreata pela Esplanada dos Ministérios, saindo do estádio Mané Garrincha. Na segunda-feira (22), os funcionários de segurança pública deverão fazer manifestações em frente às unidades em que trabalham. Integrantes da UPB (União dos Policiais do Brasil), eles se dizem traídos pelo presidente Jair Bolsonaro, que teria prometido apoio aos pedidos das categorias na votação da PEC Emergencial e consideram que não foram contemplados. Os policiais não aceitam a proposta apresentada pelo presidente de retirar apenas a promoção e a progressão na carreira da mira dos congelamentos previstos na PEC. Categorias de segurança pública civil, como a PRF, Polícia Federal e policiais civis, reclamam da promessa não cumprida pelo presidente de deixá-las de fora do ajuste fiscal. Eles dizem que essa é a terceira traição de Bolsonaro. A primeira foi a reforma da Previdência e a segunda foi a lei complementar 173, que também trouxe vedações à categoria.

PAINEL - *”Policiais rodoviários federais alegam desvalorização e deixam grupo de elite irritados com Bolsonaro”*: Ao menos 12 policiais rodoviários federais anunciaram às suas chefias seus desligamentos do GPT (Grupo de Patrulhamento Tático), equipe de elite da corporação, em resposta ao apoio do governo à aprovação da PEC Emergencial. Como mostrou o Painel, os policiais não aceitam a proposta apresentada por Jair Bolsonaro de retirar apenas a promoção e a progressão na carreira da mira dos congelamentos previstos na PEC. Categorias de segurança pública civil, como a PRF, Polícia Federal e policiais civis, reclamam da promessa não cumprida pelo presidente de deixá-las de fora do ajuste fiscal. No pedido de desligamento de funções no GPT, os servidores afirmam que as medidas enfraquecem a segurança pública, desvalorizam os policiais e resultam em precarização do serviço prestado. De acordo com os policiais, eles estão desanimados porque a “motivação e comprometimento com a segurança pública” não se reflete nas atuais medidas do governo.

*”Fachin manda ao plenário do Supremo recurso da PGR contra anulação de condenações de Lula”* - O ministro Edson Fachin, relator da Lava Jato no STF (Supremo Tribunal Federal), manteve nesta sexta-feira (12) a decisão que anulou as condenações do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva na operação e decidiu enviar ao plenário da corte um recurso da Procuradoria-Geral da República. A PGR recorreu nesta sexta para tentar reverter a decisão favorável ao petista. Como havia sinalizado anteriormente, Fachin indicou a matéria para julgamento pelo plenário do tribunal, composto pelos 11 ministros. Agora, cabe ao presidente da corte, Luiz Fux, definir a data. Para a Procuradoria, a competência da 13ª Vara Federal do Paraná deve ser preservada para o processamento das quatro ações penais em curso contra o ex-presidente –os casos do tríplex de Guarujá, do sítio de Atibaia, da sede do Instituto Lula e das doações ao Instituto Lula. "Com vistas a preservar a estabilidade processual e a segurança jurídica", argumentou a PGR, devem ser mantidas as condenações e continuados os processos. Caso a corte não aceite o pedido no sentido de manter a 13ª Vara Federal do Paraná como responsável pelas ações penais, a Procuradoria solicita que a decisão passe a ter efeitos daqui para a frente, preservando todos os atos processuais instrutórios e decisórios já praticados em Curitiba.
Na segunda-feira (8), a pedido da defesa de Lula, Fachin reconheceu a incompetência da Justiça Federal em Curitiba para processar e julgar o ex-presidente. Para o ministro, as acusações contra o petista não se restringem especificamente à Petrobras e, portanto, extrapolam a atuação da 13ª Vara Federal. Os casos, segundo decidiu Fachin, devem prosseguir na Justiça Federal do Distrito Federal. A transferência das ações penais ainda não foi efetivada em razão de trâmites burocráticos. Em entrevista por email ao jornal O Globo nesta sexta, Fachin também fez referência a outra discussão em curso na Segunda Turma do STF. Ele disse que declarar a suspeição do ex-juiz Sergio Moro em relação a Lula "pode ter efeitos gigantescos" e atingir a Lava Jato em larga escala. No entanto, defendeu a decisão que anulou as condenações. “Anular quatro processos por incompetência é realidade bem diversa da declaração de suspeição que pode ser efeitos gigantescos”, afirmou, reforçando que não fez qualquer análise de mérito, mas apenas uma formalidade.
"Minha decisão mantém o entendimento isonômico sobre a competência para julgamentos dos feitos e como deve ser interpretada a competência da 13ª Vara Federal de Curitiba. Isso, tão somente." “Fosse, porém, uma exceção de suspeição, haveria o que chamamos de apreciação de mérito, isto é, o tribunal apreciaria os fatos e o direito e, uma vez julgada a exceção, eles se tornariam indiscutíveis.” No caso das quatro ações penais afetadas pela decisão de Fachin, a PGR afirma que o Supremo estabeleceu nos últimos anos "as balizas a serem observadas pelas instâncias ordinárias quanto à competência nos casos da Operação Lava Jato". Lembra que o oferecimento das denúncias contra o ex-presidente remonta aos anos de 2016 e 2017 e, naquele momento, prevalecia o entendimento adotado pela Corte de que a da 13ª Vara Federal de Curitiba, "no contexto da ‘Operação Lava Jato’, seria restrita aos fatos relacionados a ilícitos praticados apenas em detrimento da Petrobras S/A”. O caso do tríplex de Guarujá, por exemplo, foi atraído para Curitiba, diz a PGR, por ser a OAS do "cartel de empreiteiras que atuava de forma ilícita em contratações celebradas com a Petrobras S/A e outros órgãos públicos".​
Para Lindôra Araújo, a denúncia foi "clara" e relata "elos entre os contratos da Construtora OAS firmados com a Petrobras (destacadamente nos Consórcios Conest/RNEST em obras na Refinaria do Nordeste Abreu e Lima – RNEST e Conpar, em obras na Refinaria Presidente Getúlio Vargas – Repar) e a vantagem ilícita obtida por Luiz Inácio Lula da Silva em razão de tais contratos". Com relação ao sítio de Atibaia, a PGR diz que "foi comprovado que o Grupo Odebrecht, o Grupo OAS e José Carlos Costa Marques Bumlai [pecuarista amigo de Lula] realizaram reformas expressivas de cerca de R$ 1 milhão no imóvel para favorecer o então Presidente da República".
"O MPF demonstrou também que o Grupo Odebrecht mantinha com o ex-presidente uma 'conta-corrente' geral de propinas que teria, na sua origem, contratos celebrados com a Petrobras, tendo ela servido ao pagamento de vantagens indevidas, na forma da aquisição de imóveis, em benefício do ex-presidente, como a sede do Instituto Lula". ​ Lula, 75, foi condenado em duas ações penais, por corrupção e lavagem de dinheiro, nos casos do tríplex de Guarujá (SP) e do sítio de Atibaia (SP). A sentença no caso tríplex foi dada pelo então juiz Sergio Moro, que depois deixaria a Vara Federal para se tornar ministro do governo de Jair Bolsonaro. Com a decisão de Fachin, as condenações que retiravam os direitos políticos de Lula não têm mais efeito, e ele pode se candidatar nas próximas eleições, em 2022. Lula estava enquadrado na Lei da Ficha Limpa, já que ambas as condenações pela Lava Jato haviam sido confirmadas em segunda instância. Ainda não há data para o julgamento do caso pelo conjunto de ministros do Supremo. O gabinete de Fachin afirmou que levará a discussão sobre o tema ao plenário da corte, e não à Segunda Turma, responsável pela maioria dos recursos da Lava Jato. ​
Nesta sexta-feira (12), o presidente do STF, Luiz Fux, informou que reforçou a segurança do ministro Fachin e de seus familiares após a decisão de segunda sobre Lula. Na quarta-feira (10), manifestantes fizeram um protesto em frente à casa do magistrado, em Curitiba​. "Sobre informações de que o Ministro tem sido alvo de protestos, a Suprema Corte ressalta que é inaceitável qualquer ato de violência por contrariedade a decisões judiciais", diz a nota assinada por Fux. O ex-juiz Sergio Moro, por sua vez, usou as redes sociais para elogiar Fachin e criticar os ataques ao ministro. "Repudio ofensas e ataques pessoais ao ministro Edson Fachin do STF, magistrado técnico e com atuação destacada na Operação Lava Jato. Qualquer discordância quanto à decisão deve ser objeto de recurso, não de perseguição", escreveu. O ministro Gilmar Mendes também se solidarizou com o relator da Lava Jato no Supremo nas redes sociais. "Toda solidariedade ao Ministro Fachin e família. Decisões judiciais podem ser recorridas ou criticadas, mas nunca por meio do discurso do ódio e da pressão autoritária. Ameaças e perseguições não impedirão o STF de continuar a proteger os direitos fundamentais e a CF/88."
+++ Quando saiu a decisão do ministro Fachin, a “imprensa tradicional” tratou como se a incompetência da 13ª Vara Federal teria sido reconhecida porque os casos não tinham ligação com a Petrobrás, agora, sutilmente, os textos dizem que os casos de Lula não têm ligação apenas com a Petrobrás e, por isso, precisariam ser julgados em outra Vara. Ou seja, ao invés de reconhecer que Lula não tinha a ver com qualquer esquema relacionado à Petrobrás, os textos estão informando que Lula tinha a ver, mas que ainda existe algo a mais.

*”Fachin diz que anulação de condenações de Lula segue entendimento da maioria do STF”* - O ministro Edson Fachin, do STF (Supremo Tribunal Federal), afirma que a decisão de anular as condenações do ex-presidente Lula na Lava Jato segue entendimento, segundo ele, que aos poucos foi adotado pela maioria dos integrantes da corte. Nesta sexta-feira (12), o ministro enviou o recurso da PGR (Procuradoria-Geral da República) sobre o caso para análise do plenário do STF. Em entrevista concedida à Folha por e-mail, o magistrado também diz que são incertas as repercussões de uma eventual declaração de suspeição do ex-juiz Sergio Moro nos processos contra o petista. Na avaliação de Fachin, o alcance de uma decisão pela parcialidade de Moro nas ações da Lava Jato contra Lula ainda depende da conclusão da análise do tema.
O julgamento está 2 a 2 e foi interrompido por pedido de vista (mais tempo para analisar) do ministro Kassio Nunes Marques, que não disse quando irá retomar o debate do caso. Fachin classifica como “muito raras” as decisões do Judiciário que declaram um juiz suspeito. Em relação às mensagens hackeadas de integrantes da Lava Jato, o ministro diz que o Supremo “não pode esconder o que é público e sobre ele deverá, em tempo, se manifestar”. A tese de Fachin se baseia em um julgamento de 2015, quando o plenário do Supremo decidiu retirar da alçada de Moro uma investigação relativa ao ex-ministro Paulo Bernardo por não envolver crimes cometidos na Petrobras. Na decisão que beneficiou Lula, o ministro diz que a tese foi aperfeiçoada ao longo do tempo. O ministro cita julgamento da Segunda Turma do fim de 2020 em que foi retirado da Lava Jato do Paraná até uma investigação sobre a Transpetro, subsidiária da estatal petrolífera. "O conjunto de precedentes formados a partir de tais deliberações revela, na atual quadra, que apenas os crimes praticados direta e exclusivamente em detrimento da Petrobras S/A justificam manutenção da competência da 13ª Vara Federal de Curitiba", afirma.​
- Durante anos a defesa do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva requisitou a anulação dos processos que corriam contra ele na 13ª Vara Federal de Curitiba. Agora, o senhor decidiu anular todas as ações contra ele em curso na Justiça Federal do Paraná. Por que o senhor tomou essa decisão apenas agora?
- Conforme explicitado na decisão proferida em 8.03.2021, a competência da 13ª Vara Federal de Curitiba foi questionada em vários recursos e ações que aportaram ao STF (Supremo Tribunal Federal) desde o início da Operação Lava Jato. Nada obstante os posicionamentos vencidos, o conjunto de precedentes formados a partir de tais deliberações revela, na atual quadra, que apenas os crimes praticados direta e exclusivamente em detrimento da Petrobras S/A justificam manutenção da competência da 13ª Vara Federal de Curitiba, o que não ocorre na acusação formulada contra o ex-presidente da República. Também consignei que apenas em 4.11.2020 os advogados do ex-presidente da República protocolaram habeas corpus com pretensão específica de reconhecimento da incompetência da 13ª Vara Federal de Curitiba. Em outras ocasiões, tal argumento foi invocado apenas para sustentar eventual plausibilidade da pretensão deduzida. Cito, como exemplo, a PET 7.841, na qual o tema foi aventado não para que fosse declarada a incompetência da 13ª Vara Federal de Curitiba, mas para subsidiar a pretensão de atribuição, para fins eleitorais, de efeito suspensivo ao recurso extraordinário interposto contra o acórdão proferido pelo Tribunal Regional Federal da 4ª Região.

- Por que o senhor preferiu tomar essa decisão de maneira individual em vez de remetê-la ao colegiado?
- Compreendi que a questão estava suficientemente consolidada, diante do refinamento trazido pela Segunda Turma, a partir do precedente do plenário, o que está autorizado pelo Regimento Interno.

- O senhor acredita que essa decisão pode ter um impacto maior na Lava Jato, uma vez que outros investigados também dizem que seus casos não estão relacionados apenas à Petrobras?
- A decisão limita-se a aplicar os precedentes que sedimentaram a posição do tribunal. O impacto que ela terá não é diferente do impacto que esse conjunto de decisões teve ao longo dos anos. Na realidade, a decisão que hoje chama a atenção foi aos poucos sendo tomada pela maioria do tribunal.

- Como o senhor interpreta a possível declaração de suspeição do ex-juiz Sergio Moro? Quais as repercussões que esse julgamento pode ter para a operação?
- O julgamento da suspeição foi iniciado há mais de dois anos e conta com posicionamentos dissonantes. Como ainda não foi finalizado, eventuais repercussões são incertas e dependerá do conteúdo e do alcance da decisão tomada pelo colegiado. A Segunda Turma ainda vai deliberar sobre esse tema e, por isso, não há como saber qual posição prevalecerá. São muito raros os precedentes que, em habeas corpus, declararam um juiz suspeito. Por isso, é difícil estimar qual seria a consequência dessa decisão. A suspeição é usualmente suscitada no processo específico chamado de exceção de suspeição. O resultado desse processo é definitivo, faz coisa julgada. Ou seja, se reconhecida, por exemplo, a amizade entre uma parte e o magistrado, sempre que estiverem no mesmo processo, deverá o juiz dar-se por suspeito. Se tiver julgado, será preciso anular a decisão. Mas isso é no processo específico da exceção.

- O senhor acredita que as mensagens hackeadas de integrantes da Lava Jato podem ser usadas, apesar de serem originárias de um crime?
- É preciso separar o debate sobre a legalidade do material, indispensável para que ele se torne prova no processo judicial, de sua publicidade. O tribunal não pode esconder o que é público e sobre ele deverá, em tempo, se manifestar. Quanto à legalidade, será preciso que a questão seja especificamente suscitada em um processo, algo que ainda não ocorreu.

- Esses diálogos podem de alguma forma influenciar o julgamento sobre a anulação dos processos do ex-presidente?
- Somente os ministros e as ministras do tribunal poderão responder a essa pergunta quando e se forem trazidas ao colegiado.

DEMÉTRIO MAGNOLI - *”Dantons de araque”*: Danton fez a Convenção fundar o Tribunal Criminal Extraordinário em março de 1793. Um ano depois, sob o Terror jacobino que ajudou a implantar, acusado de enriquecimento ilícito, foi submetido a uma encenação judicial e executado na guilhotina. Moro e sua camarilha de procuradores não terão o destino do revolucionário francês, mas merecem sentar no banco dos réus. Moro, um juiz que sonhou ser presidente, é o elemento passageiro. Mais perene é o caldo de cultura no qual surgiu a força-tarefa. No seu voto, Gilmar Mendes acertou ao indicar que o timão da Lava Jato foi comandado por uma panelinha de procuradores dispostos a usar a lei como subterfúgio para alavancar um projeto político. Aí é que entra a figura de Danton.
Paralelos têm limites. Danton viveu e morreu por seus ideais. No meio do caminho, descobriu que parira um monstro e tentou domá-lo, mas já era tarde. Os procuradores da força-tarefa nunca ligaram para ideais, preferindo cavalgá-los em benefício de suas carreiras e, sobretudo, da busca pelo poder. São Dantons de araque, personagens de uma pantomima, não de uma tragédia. Mesmo assim, o paralelo ilumina algo relevante. Nosso Ministério Público foi criado como uma espécie de Comitê de Salvação Pública. Na moldura desse poder estatal sem clara delimitação de função e sem controle externo, jovens procuradores nutriram-se da crença na reforma do mundo pela interpretação voluntarista dos códigos legais. O Brasil seria salvo por fora da política, essa lagoa de dejetos imundos, graças à ação obstinada de funcionários de Estado armados com a prerrogativa de investigar e acusar. A força-tarefa foi o fruto maduro da árvore do jacobinismo judicial. A Lava Jato começou iluminando as vastas teias corruptas que ligam a elite política ao meio empresarial, mas degenerou no projeto de implodir o sistema político para conduzir um juiz ao posto mais alto da República. No trajeto, borrou a fronteira que separa os atos de processar e julgar, pisoteou as garantias dos réus, transformou-se em ator político e arrastou o STF para a lama. Xi Jinping cimentou seu poder absoluto por meio de uma campanha anticorrupção no interior do Estado-Partido. Putin manipula tribunais amestrados para perseguir supostos corruptos. Só estúpidos acreditam que os fins justificam os meios. O sequestro político do sistema de Justiça seleciona e pune corruptos convenientes, junto com inocentes cuja culpa é fazer oposição, enquanto autoriza a corrupção dos cortesãos. No Estado de Direito, o produto final do jacobinismo judicial é a anulação de investigações e o triunfo da impunidade. Os procuradores que pintaram o sete não têm o direito de atribuir a outros a responsabilidade pelo melancólico desfecho.
Falta-lhes direito, sobra-lhes cara de pau. Aqui, em meados de 2017, critiquei as inclinações jacobinas do Partido dos Procuradores. Carlos Fernando Lima, decano da força-tarefa, retrucou identificando no meu texto a maléfica intenção oculta de proteger "a indecorosa festa desses vampiros". Pouco depois, à provecta idade de 55, aposentou-se com proventos integrais, atravessou a porta giratória e foi advogar na área de compliance para clientes que temem cair nas garras de seus camaradas procuradores. A postagem do heroico combatente incluía uma citação de Danton e, à sorrelfa, a tese de que o Terror assegurou a vitória final dos altos ideais da Revolução Francesa. Não conseguiremos circunscrever a corrupção às franjas do sistema político sem extirpar a cultura salvacionista que impregna o Ministério Público, separando as esferas da Justiça e da política. A cabeça de Danton rolou na guilhotina no 17 do Germinal do Ano II. Um futuro processo de Moro e dos procuradores deve ser justo e imparcial, porque isso é o certo e para ensinar-lhes a lição jurídica que não aprenderam.

*”Delação de ex-executivos da OAS reforça ligação entre Paes e conta na Suíça”*
*”PSDB pode abrir mão de candidatura em 2022 para unir centro, diz Aécio Neves”*
*”Bolsonaro engana ao comparar toque de recolher no DF com estado de sítio”*
*”Sob pressão do caso Isa Penna, Assembleia de SP deve eleger mais um tucano em parceria PT-PSDB”*
ANÁLISE - *”Situação das mulheres na pandemia é resultado de escolhas políticas e déficit de democracia”*

*”Diplomacia da vacina e economia viram armas de EUA e aliados contra China”*
*”EUA descartam repassar vacinas não utilizadas a outros países”*
*”'Futuro do Partido Republicano é multirracial e da classe trabalhadora', diz aliado de Trump”*
MUNDO LEU - *”Historiador aponta componente racial presente no ideal de emancipação para todos”*

TODA MÍDIA - *”TikTok passou Instagram; EUA se adaptam”*
*”Itália retoma confinamento nas principais regiões para barrar terceira onda”*
*”Nova Zelândia suspende restrições contra coronavírus na maior cidade do país”*
*”Ilha mais exótica da Dinamarca vira laboratório de retomada pós-pandemia”*

*”Remoção de símbolos do período colonial divide portugueses”*
ANÁLISE - *”Constituinte chilena tenta corrigir desigualdade herdada de seu passado autoritário”*

*”Em despedida, Eduardo Bolsonaro louva premiê autoritário e príncipe acusado de assassinato”* - Em seu discurso de despedida da presidência da Comissão de Relações Exteriores da Câmara, o deputado federal Eduardo Bolsonaro (PSL-SP) agradeceu nominalmente ao príncipe saudita Mohammed bin Salman, acusado de assassinar e mutilar o jornalista Jamal Khashoggi, crítico de seu regime. O filho do presidente Jair Bolsonaro também agradeceu ao premiê da Hungria, Viktor Orbán, de ultradireita e que vem atuando contra a oposição e a imprensa local. O filho 03 disse que o país é "referência". A Comissão de Relações Exteriores da Câmara elegeu na manhã desta sexta-feira (12) Aécio Neves (PSDB-MG) para a presidência do órgão em 2021, com 25 votos a favor e seis contrários. Aécio substituirá o filho de Bolsonaro, que esteve por dois mandatos à frente da Comissão de Relações Exteriores e Defesa Nacional —não houve troca em 2020 devido à pandemia.
Num discurso em que defendeu suas ações e as do governo, Eduardo destacou um anúncio de 2019, durante visita do presidente à Arábia Saudita, de que o fundo público do país árabe investiria US$ 10 bilhões (R$ 55,7 bilhões) no Brasil. "Exemplo objetivo deste trabalho é o acordo com o fundo de investimento público saudita para explorar oportunidades no Brasil, com investimentos mutuamente benéficos em até US$ 10 bilhões. Obrigado, príncipe Mohammad bin Salman", disse o deputado. MbS, sigla pela qual o príncipe é conhecido, é acusado de ser o mandante do assassinato de Jamal Khashoggi, colunista do jornal americano The Washington Post. Ele foi morto dentro do consulado saudita em Istambul, em outubro de 2018. Relatório divulgado neste ano pela inteligência dos Estados Unidos responsabilizou o príncipe pela morte do jornalista. Eduardo Bolsonaro também exaltou a atual relação do Brasil com Israel, que ele afirma ter sido duramente abalada no período de Dilma Rousseff na Presidência. Durante a administração petista, o governo recusou as credenciais do embaixador israelense designado para atuar no Brasil.
O deputado federal também agradeceu ao primeiro-ministro da Hungria, muito criticado na Europa por suas investidas contra a imprensa livre e a oposição em seu país. "Também agradeço a deferência do chanceler da Hungria, Péter Szijjártó, e o premiê Viktor Orbán, que tão bem me receberam em minha visita à Hungria, país que, para mim, é referência em várias áreas." O parlamentar afirmou, misturando as ações da comissão com as do governo outra vez, que houve uma ruptura com uma diplomacia permeada pelo que chamou de "atrasos" e que o Brasil é tratado como um pária internacional, mas vem recebendo investimentos estrangeiros em nível elevado. "A nossa política externa rompeu com vícios e atrasos e hoje prioriza os verdadeiros interesses nacionais. Os resultados são tangíveis apesar da campanha sórdida levada a cabo especialmente no exterior, não contra esse governo, mas contra o país", afirmou o deputado. "Sim, a imagem do Brasil lá fora tem sido objeto de uma ofensiva perpetrada por aqueles que se proclamam democráticos, mas que não aceitam a vontade expressa nas urnas em 2018 por quase 60 milhões de brasileiros."
Aécio, o novo presidente da comissão, por sua vez, sinalizou que atuará em uma direção contrária à de Eduardo Bolsonaro. Em seu discurso, exaltou a defesa do multilateralismo, dos direitos humanos e do meio ambiente, temas frequentemente sob ataque bolsonarista.
"A política externa brasileira deve ter como foco o multilateralismo, nosso relacionamento internacional há de ser amplo, universal, sem exclusões ou alinhamentos automáticos", disse ele. "O Brasil precisa amplificar sua atuação em grandes temas globais e se inserir em debates mais amplos nos quais nossa contribuição como país é relevante, especialmente em assuntos relacionados aos direitos humanos, ao meio ambiente, à cooperação no combate internacional de pessoas, armas e drogas." O tucano disse ainda que "é preciso enfatizar nesse instante o necessário e urgente enfrentamento à pandemia, que tem assolado o mundo e, de uma maneira especial, o Brasil".

*”Equipe econômica vê risco de efeito Lula, embora limitado, influenciar Bolsonaro”* - Após investidores terem expressado temor com uma possível escalada de populismo por parte do presidente Jair Bolsonaro (sem partido) a partir da retomada dos direitos políticos do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), integrantes da equipe econômica reconhecem o risco de impacto na agenda econômica, apesar de considerarem o efeito limitado. Entre os riscos observados por parte da equipe neste momento está uma maior dificuldade na discussão das grandes reformas. Também são pontos de atenção as medidas para conter os preços de combustíveis, além da possível prorrogação do auxílio emergencial se a economia ainda não estiver recuperada ao longo do ano em meio à pandemia do coronavírus. A possibilidade de Lula disputar as eleições presidenciais de 2022 aumentou após o ministro Edson Fachin, do STF (Supremo Tribunal Federa), anular as condenações sofridas pelo petista no âmbito da Lava Jato de Curitiba, tornando-o apto a concorrer contra Bolsonaro, que almeja a reeleição.
A visão expressa por membros da equipe de Paulo Guedes (Economia) é que o acirramento eleitoral aumenta o risco de iniciativas do presidente e de aliados contrariarem em maior ou menor grau a agenda defendida pelo ministro. Mesmo nesses casos, no entanto, há o entendimento que o governo estaria limitado para tomar iniciativas mais ousadas. Para uma expansão das despesas públicas, por exemplo, a visão é que há os entraves do próprio sufoco orçamentário e de regras como o teto de gastos (que impede o crescimento real dos gastos). A análise se baseia sobretudo na restrição fiscal e nas prováveis reações adversas do mercado ao comportamento. Essa visão foi reforçada por Guedes nesta sexta-feira (12). "Para nós, em nada muda nossa direção", afirmou. "Queremos transformar o Estado brasileiro", disse. Uma das premissas é que, como o Orçamento de 2021 já está no limite e a legislação assim exige, criar novas medidas dentro das regras fiscais demandaria necessariamente o remanejamento de outras despesas. Dá margem para uma expansão de gastos a cláusula de calamidade pública criada pela PEC (proposta de emenda à Constituição) Emergencial. Pelo texto, já aprovado, o presidente da República tem a prerrogativa de pedir a decretação do estado de calamidade ao Congresso, que tem a palavra final sobre o tema. Caso ela seja acionada em algum momento do ano, normas fiscais seriam suspensas e gastos, flexibilizados. Mas somente para medidas de combate à pandemia e a seus efeitos.
O entendimento é explícito no trecho que afirma que as proposições legislativas e atos do Executivo ficam dispensados das limitações legais nos casos "com propósito exclusivo de enfrentar a calamidade e suas consequências sociais e econômicas". Portanto, usar o decreto de calamidade para expandir gastos também teria suas limitações. Apesar de o trecho que libera despesas para a pandemia e suas "consequências sociais e econômicas" abrir margem para uma interpretação ampla de possibilidades, o TCU (Tribunal de Contas da União) já impediu iniciativas como o uso de despesas extraordinárias para obras, por exemplo. Há um entendimento interno no Ministério da Economia que o TCU tem feito um controle estrito das despesas e, portanto, não há espaço para artifícios sem o devido respaldo técnico. Medidas que visem combater a pandemia e suas consequências econômicas e sociais, por outro lado, estão liberadas. A PEC Emergencial abriu caminho para o pagamento do auxílio em 2021 com um limite de R$ 44 bilhões, mas nada impede que governo e aliados decretem o estado de calamidade pública ao longo do ano e lancem uma nova rodada do programa (inclusive com valores mais altos). Em caso de acionamento da calamidade, seriam acionadas, ao mesmo tempo, medidas de ajuste fiscal, como congelamento de salários e suspensão de concursos.
Membros da equipe econômica afirmam que, em tese, o valor de uma nova rodada do auxílio emergencial sob estado de calamidade pública pode ser "infinito". Mas que qualquer movimento teria consequências, sobretudo no endividamento público. Integrantes lembram que a dívida bruta do governo já chegou a um recorde de 89,7% do PIB (Produto Interno Bruto) em janeiro. Em dezembro de 2019, antes da pandemia, o percentual era de 75%. Por isso, o entendimento é que fatores como a deterioração dos indicadores e a pressão do próprio mercado devem conter ímpetos mais exacerbados por parte do presidente e de seu entorno. Principalmente porque o espaço fiscal é menor e qualquer aumento nas despesas será cobrado mais imediatamente pelo mercado, em especial na forma de mais pressão sobre juros. Também entraria na lógica da pressão do mercado uma eventual intervenção de preços na Petrobras. A escalada de preços de combustíveis no país tem gerado repetidas reclamações por parte de Bolsonaro, que já anunciou a troca de comando da estatal em meio à insatisfação —o que derrubou o valor de mercado da estatal na Bolsa em mais de R$ 100 bilhões (valor somente em parte recuperado posteriormente). No caso da Petrobras, a visão é que normas como a própria lei das estatais e regras de governança da B3 e da CVM (Comissão de Valores Mobiliários) impedem medidas mais intervencionistas. Ações mais bruscas podem, inclusive, gerar denúncias de acionistas minoritários tanto no Brasil como nos Estados Unidos, por meio da SEC (Securities and Exchange Commission, a CVM americana).
Isso diminui o risco de medidas como a estatal diminuir o ritmo e o tamanho dos reajustes, embora não o descarte por completo. Nesse caso, chega a ser lembrado por um membro da equipe que até mesmo o então presidente Fernando Henrique Cardoso já agiu para conter os preços de combustíveis —embora hoje, com a estatal em Bolsa, esse movimento seja alvo de mais contestação do que naquela época. Como alternativa, também está no radar o uso de recursos do Tesouro para criar mais um subsídio na economia e amortecer os preços do diesel. Entre as possibilidades discutidas pelo Palácio do Planalto e ministros para conter os valores, está o uso do dinheiro obtido com royalties de petróleo —o que diminuiria as receitas da União em um cenário de desequilíbrio fiscal. No caso das reformas e da agenda liberal como um todo, há divisão nas interpretações. Entre parte dos integrantes, a visão é que a agenda continua e pode até se fortalecer. Entre outros, há a interpretação que o cenário eleitoral vai impactar o andamento. As privatizações, por exemplo, devem ficar ainda mais em segundo plano —após não terem avanço significativo até agora em todo o período de governo. Já sobre outras grandes reformas, como a administrativa, a visão de um membro é que não adianta "dar murro em ponta de faca".
Outro integrante diz que o governo e seus aliados devem se voltar mais a propostas microeconômicas e setoriais, que não estão entre as principais propostas defendidas por analistas e empresariado, como a tributária e a administrativa, mas devem produzir impacto relevante para reduzir o custo-Brasil. Estão na lista de medidas defendidas pela pasta os novos marcos regulatórios para os setores de gás, energia e cabotagem e a nova lei cambial. Um interlocutor de Guedes concorda com a avaliação de colegas de que o efeito do “fator Lula” sobre a agenda econômica é limitado e argumenta que o resultado pode ser positivo em algumas áreas. Para ele, a entrada de um oponente de peso no cenário eleitoral pode obrigar Bolsonaro a moderar o comportamento agressivo, que gera atritos e limita apoios. A avaliação é que a presença de Lula no jogo pode levar o presidente a fazer mais acenos inclusive à comunidade internacional e evitar atritos. Membros da equipe econômica afirmam ainda que pretendem convencer Bolsonaro de que o melhor sinal à população e ao mercado —que tem peso nas articulações políticas— será o andamento das reformas estruturantes. A justificativa é que essas propostas têm potencial para colocar a economia nos trilhos, estimular empregos e manter inflação e juros em baixa, o que estimula a popularidade do governante e gera frutos eleitorais.

*”Quanto mais gente vivendo de favor do Estado, mais dominado fica este povo, diz Bolsonaro”* - O presidente Jair Bolsonaro (sem partido) disse nesta sexta-feira (12) que, quanto mais pessoas viverem "de favor" do Estado, mais dominadas elas estão. A crítica, feita na porta do Palácio da Alvorada, registrada e transmitida por um canal de vídeo simpático ao presidente, foi direcionada a governadores que criaram benefícios em seus estados, embora o auxílio emergencial seja a principal bandeira da atuação do governo federal durante a pandemia de Covid-19. "Você vê que tem governador agora que está falando em auxílio emergencial, né, querem fazer o Bolsa Família próprio. Quanto mais gente vivendo de favor de Estado, mais dominado fica este povo", disse Bolsonaro. No início deste mês, o governador do Rio de Janeiro, Cláudio Castro (PSC), aliado de Bolsonaro, sancionou o Supera Rio, auxílio emergencial do estado. O programa fluminense prevê o pagamento mensal de até R$ 300 para cerca de 400 mil moradores do estado abaixo da linha da pobreza ou desempregados.
No Ceará, o governador Camilo Santana (PT) anunciou na semana passada que pagará um auxílio de R$ 1.000 —duas parcelas de R$ 500— a profissionais de eventos, bares e restaurantes. Este é um item do pacote lançado pelo governador, que inclui também a isenção da conta de água de cerca de 493 mil famílias nos meses de abril e maio. No plano federal, a Câmara aprovou na madrugada desta sexta a PEC (Proposta de Emenda à Constituição) Emergencial com medidas de ajuste fiscal que servem de contrapartida à liberação da nova rodada do auxílio emergencial. O limite estabelecido pela PEC para o pagamento da assistência em 2021 é de R$ 44 bilhões, que ficarão fora do teto de gastos, regra que limita o crescimento das despesas do governo à variação da inflação.​ A promulgação do texto deve acontecer somente na semana que vem. Com isso, a publicação da MP (medida provisória) com as regras do auxílio também ficará para a próxima semana.
Caberá à MP definir todos os detalhes e critérios para a nova rodada do benefício. As parcelas devem ser variáveis, a depender da composição familiar. A última versão da medida previa valor padrão de R$ 250 por quatro meses. Mulheres chefes de família devem receber R$ 375, enquanto o pagamento para pessoas que vivem sozinhas deve ficar em R$ 150 —o ministro Paulo Guedes (Economia) chegou a mencionar o valor de R$ 175 para esses beneficiários. No ano passado, foram pagas cinco parcelas de R$ 600 e outras quatro de R$ 300. O pagamento fez disparar a popularidade de Bolsonaro, que se refere ao benefício como "o maior programa social do mundo". Em 2021, não houve pagamento de nenhuma parcela. Este fato, somado ao aumento do número de mortes por Covid-19 e à escassez de vacinas, atingiu a popularidade do presidente, segundo pesquisas que chegam ao Palácio do Planalto e aferição nas redes sociais. Diante deste cenário, o governo deu início ao "Plano Vacina", uma espécie de prestação de contas do que foi feito até agora pelo Executivo. Em sua live de quinta-feira (11), Bolsonaro acenou para sua base ideológica com mentiras e insinuações envolvendo as Forças Armadas, além de críticas a medidas restritivas —ele chegou a ler uma carta de um suposto suicida— e a governadores que estão limitando a circulação em seus estados.
Ele referiu-se a iniciativas de prefeitos e governadores para tentar conter a disseminação do novo coronavírus como "estado de sítio", chamando de ditadores quem toma esse tipo de medida. "O pessoal vai devagar, devagar, tirando seus meios, tirando tua esperança, tirando teu ganha-pão, você passa a ser obrigado a ser sustentado pelo estado", afirmou. Bolsonaro também passou a cobrar explicitamente que seus seguidores o apoiem. Nesta sexta, ele voltou a pedir reconhecimento. "Minha senhora, presta atenção em uma coisa. O pessoal tem que reconhecer o sacrifício que a gente faz, tá? Então, o pessoal tem que saber o que que está em jogo, o que que ele pode perder. E não esperar que uma pessoa resolva os seus problemas. Este problema é de todos nós, ok?", disse o presidente. Eleito e sustentado pela disseminação de informações nem sempre verdadeiras pelas redes sociais, Bolsonaro também reclamou que "os mais virulentos são os guerreiros digitais, no teclado de telefone".

*”Guedes tem nova baixa na equipe com saída de secretário da reforma administrativa”* - O ministro Paulo Guedes (Economia) terá uma nova baixa em sua equipe com a saída do secretário de Gestão e Desempenho de Pessoal​, Wagner Lenhart. Ele foi um dos principais nomes da reforma administrativa desenhada pela pasta. De acordo com integrantes da equipe econômica, Lenhart solicitou sua saída por motivos pessoais após receber uma proposta do setor privado. O movimento deve ser efetivado nos próximos dias. Segundo colegas de Lenhart, a decisão foi influenciada pelo fato de sua esposa estar grávida. O secretário deve, inclusive, se mudar para São Paulo.
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PAINEL S.A. - *”Bilionário Carlos Wizard, que lidera grupo para comprar vacina, diz que não vê lógica em doar para o SUS”*
PAINEL S.A. - *”Pandemia levanta preocupação sobre futuro do Eurostar, trem que liga Paris a Londres”*
PAINEL S.A. - *”Legislativos apresentaram mais de mil projetos de lei sobre vacinas em dois meses”*
PAINEL S.A. - *”Secretários de Fazenda renovam benefícios fiscais em meio a disputa por reajuste em SP”*

*”Pagamento do novo auxílio emergencial deve começar apenas em abril”*
ANÁLISE - *”Até setembro, Bolsonaro tem de fazer lei para aumentar imposto”*
*”Após isenção de impostos federais, 18 estados e DF aumentam ICMS sobre o diesel”*
*”Petrobras propõe aumento de 8,5% em teto para remuneração de executivos”*

*”Demitido da Petrobras, Castello Branco é sondado para conselho da Vale”*
*”Guilherme Benchimol vai deixar presidência da XP”*
*”Vendas no varejo caem 0,2% em janeiro sobre dezembro”*
*”Após ir a R$ 5,79, dólar tem maior queda semanal no ano”*

MARCOS MENDES - *”É alta a chance de gastarmos muito mais que o aprovado pela PEC Emergencial”*
*”Robôs não substituirão trabalhadores, mas serão seus colegas, diz especialista”*

*”Aulas presenciais na cidade de São Paulo serão suspensas a partir de quarta-feira (17)”*
*”Gestão Doria inclui alunos que não foram à escola em cálculo sobre incidência de Covid”*

*”Leitos de UTI para Covid-19 em SP podem acabar até segunda (15), diz infectologista do centro de contingência”*

*”Com aumento da demanda, Prefeitura de SP abre leitos e suspende cirurgias eletivas”*
OSCAR VILHENA VIEIRA - *”Flagelo presidencial”*
*”Há um ano, primeira morte por Covid no Brasil ocorria em mundo sem máscaras”*

*”Sem medidas duras e apoio do governo, Brasil não reverterá pandemia, diz OMS”*

*”Sem profissionais, hospital federal do Rio tem leitos trancados com cadeado”*
*”Após reagir a críticas de Doria, governador do RJ anuncia medidas restritivas para conter Covid-19”*
*”Com piora de índices em BH, Kalil fecha praças e parques e endurece medidas”*

*”Ministério da Saúde assina contrato para comprar 10 milhões de doses da vacina Sputnik V”*
*”Contratos para compra de vacinas da Pfizer e Janssen serão fechados na próxima semana, diz Saúde”*

*”Anvisa aprova registro definitivo de vacina de Oxford/AstraZeneca”*
*”Prefeitura do Rio suspende calendário de vacinação contra a Covid”*
*”Com 'fast-track', OMS aprova uso emergencial da vacina da Janssen”*
*”Comunidade ianomâmi no AM respira aliviada e faz planos após vacinação chegar à maioria dos adultos”*
*”Anvisa aprova registro do remdesivir, primeiro remédio indicado em bula para Covid-19”*

*”Primeiro a votar, Fachin considera inconstitucionais decretos de Bolsonaro sobre armas”*

COZINHA BRUTA - *”Lula e Bolsonaro entram num bar”*: Meu tio, já morto, foi coronel da Polícia Militar paulista. Nos estertores da ditadura e um pouco além disso, ocupava posto alto na hierarquia da corporação. Nunca soube de sua participação no aparato repressivo, mas uma coisa posso dizer com segurança: ele não simpatizava com comunistas, socialistas e esquerdistas em geral. O coronel descreveu, numa reunião familiar, o encontro que teve com o então deputado federal Lula (mandato de 1987 a 91). Sei lá de que os dois trataram no gabinete do petista em Brasília. Só sei que o meu tio saiu de lá fascinado. O sindicalista barbudo –então considerado um radical perigoso– abriu uma gaveta e pôs sobre a mesa uma garrafa de cachaça. O tio, entusiasta da cana em mais de um sentido, relaxou e se deixou levar pela prosa. Aos parentes, falou maravilhas sobre a simpatia e o carisma de Lula.
Não preciso gastar tinta com a sucessão de fatos que culminou no discurso histórico de Lula, na quarta-feira (10). Sua fala rompeu a nuvem de apatia e fatalismo que borra a mente dos brasileiros. Você pode não gostar de Lula. Mas precisávamos de uma liderança para fazer frente ao Bolsonaro, não? Tá lá: ninguém mostrou credenciais melhores. Com a vantagem de ser um líder de churrasco e boteco. “Vocês não sabem como eu ficava feliz quando via um trabalhador mostrar uma picanha e dizer que ia comer e tomar cerveja”, disse o ex-presidente no pronunciamento. Sabemos que é tudo calculado –melhor a empatia calculada do que o ódio visceral. Responda com sinceridade: com quem você prefere dividir a mesa do bar? Com o Lula Picanha e Cerveja? Ou com o Bolsonaro Cloroquina e Arminha? Para começar, Bolsonaro não bebe álcool em público. Para se contrapor a Lula, só toma refrigerante –como se esse hábito infantiloide fosse saudável.
Que tal se sentar no boteco com um tiozão que pede guaraná Jesus e ainda faz piada homofóbica com a cor rosa da bebida? Cruz credo. Bolsonaro e a direita colaram em Lula o rótulo de pinguço, como desvio de caráter. Até jornalista gringo engoliu, embora o petista nunca tenha se excedido em eventos protocolares –tampouco há indícios de que o diabinho do álcool o tenha guiado em decisões desastrosas para o Brasil. Não é só a birita. Imagine a mesa de bar como um cenário ao estilo de “A Praça é Nossa”, em que os amigos do anfitrião chagam e vão embora. Na mesa de Lula vão passar Obama, Chico Buarque, Gilberto Gil, até o papa para bicar um vinho mendocino; na de Bolsonaro, o bispo Edir, Olavo, os irmãos Weintraub, o ministro sanfoneiro. É para pedir um sal de fruta e a conta. A maior diferença está no papo. Lula vai falar muito de si mesmo, mas também de futebol e das coisas boas que gostaríamos de recuperar. Vai falar de algo do seu interesse porque ele, astuto, quer sua atenção e vai prestar atenção em você. A conversa de Lula ganhou até o meu tio milico. Bolsonaro vai falar de autoridade, de repressão, de destruição, de morte. Ele não quer a sua atenção, ele quer guerra. É só disso que ele sabe falar.
Bolsonaro precisa ser calado.

*”ICMBio estabelece censura prévia para a produção acadêmica de servidores”* - Uma nova portaria do ICMBio (Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade) obriga pesquisadores do órgão a submeter sua produção científica para aprovação de uma diretoria antes de ser publicada. A medida, publicada nesta semana, entra em vigor em 1º de abril. Divulgada na última quarta-feira (10), a portaria 151 delega ao diretor de Pesquisa, Avaliação e Monitoramento da Biodiversidade (Dibio) do ICMBIO “a competência para autorizar previamente a publicação de manuscritos, textos e compilados científicos produzidos no âmbito e para este Instituto em periódicos, edições especializadas, anais de eventos e afins”. “As solicitações deverão ser dirigidas à Dibio para autorização prévia do diretor e devem ser acompanhadas de declaração de responsabilidade, conforme modelo constante no anexo da presente portaria”, afirma a medida. Assim como outras diretorias do ICMBio sob a gestão do ministro Ricardo Salles (Ambiente), a Dibio é chefiada por um oficial da PM de São Paulo, o tenente-coronel da reserva Marcos Aurélio Venancio. Em seu currículo no site do órgão, consta que ele tem “formação jurídica e na área da gestão pública”, trabalhou como professor universitário e possui apenas uma especialização.
A portaria impactará dezenas de servidores que realizam pesquisas científicas em paralelo ao trabalho no ICMBio, incluindo os que cursam pós-graduação. “É uma tentativa de controlar não só a produção acadêmica como também a opinião dos servidores”, afirma Denis Rivas, presidente da Associação Nacional dos Servidores da Carreira de Especialista em Meio Ambiente (Ascema). A entidade está estudando medidas contra a portaria. “Nós estranhamos que a Embrapa, um órgão de pesquisa por excelência, não tenha um filtro de produção imposto aos servidores”, afirma Rivas. "Uma das missões do ICMBio é a produção científica." A Ascema classifica de “mordaça aos servidores” o código de ética do ICMBio, instituído por meio de uma portaria em 13 de maio de 2020. A normativa proíbe os servidores de “divulgar estudos, pareceres e pesquisas, ainda não tornados públicos, sem prévia autorização”. “Qualquer tipo de censura deve ser combatido, principalmente a censura acadêmica e científica. A produção científica deveria ser neutra. Se os funcionários do ICMBio estão produzindo coisas que estão revelando problemas e caminhos para soluções, o órgão deveria acatar isso. Ter esse tipo de censura é muito questionável”, diz a diretora de Ciência do Ipam (Instituto de Pesquisa Ambiental da Amazônia), Ane Alencar.
“Outro ponto importante é que, se tiver de ter algum tipo de autorização, tem de ter alguém com capacidade técnica de avaliar se esse estudo está bem feito ou não. Se passou em uma revista científica, é porque foi avaliado pelos pares. Esse tipo de censura inibe a produção científica." "As solicitações deverão ser dirigidas à Dibio para autorização prévia do diretor e devem ser acompanhadas de declaração de responsabilidade, conforme modelo constante no anexo da presente portaria”, diz a medida. A portaria inclui um modelo de declaração de responsabilidade, no qual o servidor precisa informar em qual revista ele submeterá o seu artigo acadêmico.
OUTRO LADO
Procurado, o ICMBio informou que a portaria abrange apenas artigos destinados a publicações oficiais do órgão. “Pelo código de ética do ICMBio, as publicações científicas oficiais do instituto são aprovadas pelo presidente do instituto. A publicação [portaria] é uma mera delegação ao diretor da Dibio, pois é a diretoria responsável pelos centros de pesquisa, a quem compete expedir posições do órgão”, afirma o órgão. No site do ICMBio, há duas revistas eletrônicas ativas, BioBrasil e Cepsul (Biodiversidade e Conservação Marinha). No entendimento dos servidores ouvidos pela reportagem, a portaria impactará dezenas de servidores que realizam pesquisas científicas em paralelo ao trabalho no ICMBio, incluindo os que cursam pós-graduação.

*”Pró-governo e sem mencionar desmate ou queimada recorde, Carla Zambelli assume Comissão do Meio Ambiente”*

MÔNICA BERGAMO – *”Bolsonaro vê candidatura de Huck como piada e acredita em segundo turno com PT”*
MÔNICA BERGAMO - *”Maranhão abre unidade para crianças com Covid-19 e quatro já estão na UTI”*
MÔNICA BERGAMO - *”Sérgio Camargo compara gestores que pediram demissão a Moro”*
MÔNICA BERGAMO - *”Fundação Dorina Nowill celebra 75 anos com exposição em metrô de SP”*

MÔNICA BERGAMO - *”Fundação Casa de Rui Barbosa exonera funcionária que recebeu auxílio emergencial”*
MÔNICA BERGAMO - *”Grupo do PSOL organiza ação visual em 15 cidades por justiça na investigação do assassinato de Marielle”*
MÔNICA BERGAMO - *”Globo Rural exibe reportagem de José Hamilton Ribeiro com Almir Sater”*

CAPA – Manchete principal: *”Fachin: suspeição de Moro pode anular toda a Lava-Jato”*

Carlos Alberto Sardenberg - *”Pária duas vezes”*: Não custa lembrar. A Operação Castelo de Areia, de 2009, foi uma espécie de pré-Lava-Jato. O alvo, uma empreiteira, a Camargo Corrêa, de que quatro diretores foram presos no primeiro momento, pairando ameaças sobre outros membros da empresa e associados no governo do então presidente Lula. Mas logo apareceu um recurso junto ao Superior Tribunal de Justiça, que caiu com o magistrado Cesar Asfor Rocha. E ele simplesmente cancelou toda a operação, com base numa ridícula formalidade: as denúncias iniciais haviam partido de fontes anônimas. Ridícula, para não dizer outra coisa, porque as denúncias recebidas anonimamente foram objeto de uma ampla investigação que encontrou, sim, grossa corrupção. Não foi mera coincidência que o ministro da Justiça na época era o advogado Márcio Thomaz Bastos, uma espécie de grande chefe dos criminalistas especialistas em anular processos e adiar processos indefinidamente. Reparem, não se tratava, então, de provar a inocência dos réus, mas de melar o processo ou de reduzir crimes a simples infrações. Como diziam os advogados no julgamento no petrolão — não é corrupção, é simples caixa 2. Por outro lado, não é a própria polícia que incentiva as denúncias anônimas, no mundo todo?
Aliás, não resisto a contar uma historinha que, se não é verdade, é bem ilustrativa. Diz que um empresário quebrado e envolvido em confusões procurou um famoso escritório e pediu: não me importo de perder todo meu dinheiro, só quero ficar com o nome limpo de novo. E ouviu do advogado: o senhor veio ao escritório errado; aqui nós salvamos o dinheiro e deixamos o nome sujo. E o que aconteceu nesta semana, no caso Lula? Depois de mais de cinco anos de investigações, um caminhão de provas e condenações em primeira, segunda e terceira instâncias, aparece uma “incompetência”. Algo assim: pois é pessoal, desculpa aí, mas esses casos do Lula deveriam ter sido julgados em Brasília, não em Curitiba. Pode ter sido uma jogada do ministro Fachin — livrar Lula, para salvar a Lava-Jato — mas, pelo menos até aqui, deu muito errado. Decretou o Lula livre, prestes a ter todos os seus crimes prescritos, e desacreditou a Lava-Jato. Tudo isso deu força ao ministro Gilmar Mendes na sua campanha para não apenas livrar Lula, mas anular toda a Lava-Jato — e livrar, assim, todos os empresários e políticos amigos apanhados pela operação.
Acrescente a intensa movimentação do presidente da Câmara, Arthur Lira, ele próprio um denunciado, para aprovar leis que restringem o conceito de crimes do colarinho branco e protegem os eventuais apanhados — e pronto: está em curso avançado o movimento das elites para abafar o combate à corrupção. Ou, dito pelo avesso, movimento pró-impunidade. Ou ainda: foi tudo uma miragem. A Petrobras, outras estatais e o governo não foram assaltados na era petista. A Odebrecht não pagou um tostão por fora. A delação de seus donos foi uma invenção. A Petrobras não recebeu dinheiro de volta. Os estádios da Copa saíram a preço de custo. E por aí vai. Dizem os garantistas: sim, corrupção, mas deveria ter sido provada pelo devido processo legal. Qual? Aquele das formalidades de anular toda uma operação porque a denúncia inicial foi anônima? Que dinheiro de caixa 2 não é roubado? A Operação Lava-Jato aprendeu com os processos de combate à corrupção desenvolvidos inicialmente nos Estados Unidos e depois absorvidos pela Organização para Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE). O Brasil é signatário do acordo de combate à lavagem de dinheiro, prática apanhada pela Lava-Jato. Aliás, a OCDE, hoje em dia, leva em consideração dois temas básicos quando define políticas de crescimento sustentado: proteção ao meio ambiente e combate à corrupção. O Brasil não se torna pária “apenas” por causa de Bolsonaro.

EURÍPEDES ALCÂNTARA - *”O ‘ó do borogodó’ de Gilmar Mendes”*: Se entendi bem o “Ó do borogodó” do voto do ministro Gilmar Mendes defendendo a suspeição dos atos do juiz Sergio Moro na Operação Lava-Jato, o magistrado curitibano cortou caminho para chegar mais rapidamente aos resultados que ele desejava: condenar o ex-presidente Lula — e, assim, impedir sua candidatura a presidente da República nas eleições de 2018. Teria usado as leis como um meio para atingir um fim. O resultado dessa aplicação teleológica do Código Penal torna provável, senão inevitável, a anulação de todos os atos praticados por Moro à frente da Lava-Jato na 13ª Vara da Justiça Federal, em Curitiba — e não apenas aqueles em que Lula figurou como réu. Os ministros que fazem parte da Segunda Turma do Supremo Tribunal Federal (STF) estão empatados em dois votos a dois. A suspeição ou não de Moro fica adiada não se sabe por quanto tempo, pelo pedido de vista do ministro Kassio Nunes Marques. O Brasil permanece em suspense enquanto o ministro novato exerce sua prerrogativa de retardar o veredito. Caso Nunes Marques desempate a votação, e a Segunda Turma do STF adote a decisão de Gilmar Mendes, todo o edifício da Lava-Jato ameaça desabar pelo esfarinhamento ético de seus alicerces.
Como já é praxe no Brasil, a “maldição da Rainha de Copas” reapareceu. O que é essa maldição? Em “Alice no País das Maravilhas”, o clássico de Lewis Carroll, a heroína se espanta de correr, correr e ficar no mesmo lugar. “No meu país”, diz Alice, bufando, “a gente geralmente chega a algum lugar quando corre muito.” A Rainha de Copas: “Aqui não. Aqui é preciso correr muito apenas para ficar no mesmo lugar”. Claramente, não somos mesmo um país das maravilhas. Não com a tempestade perfeita que se abateu sobre nós na forma de uma pandemia mortal, enfrentada como uma “gripezinha” pelo principal mandatário, um abismo fiscal pela frente e uma eleição presidencial em 2022, tudo indica, a ser disputada nos extremos do espectro político. Há gerações temos tido que correr e bufar para conseguir apenas ficar no mesmo lugar na escalada civilizatória das nações democráticas. Caso a Operação Lava-Jato desmorone para dentro sob o peso dos erros de origem e seus resultados sejam revertidos, voltaremos à estaca zero na corrida de seis anos para a condenação de 159 réus a penas somadas de 2.294 anos. Não me parece haver outro caminho caso Gilmar Mendes esteja mesmo certo quando afirma que esses resultados foram obtidos num contexto em que o crime foi combatido “cometendo crimes”, ao cabo de “abusos, excessos” e “constrangimento ilegal”.
Em seu voto, Gilmar circunscreveu aos processos de Lula as práticas ilegais atribuídas por ele à Lava-Jato — reforçadas pelas mensagens hackeadas das conversas entre os integrantes da força-tarefa. Mas quem é do ramo prevê que os advogados dos demais réus devem ir em romaria ao STF na tentativa de obter para seus clientes os mesmos benefícios. As implicações práticas da anulação de toda a Operação Lava-Jato são difíceis até mesmo de imaginar. Elas lembram o que o físico Stephen Hawking escreveu sobre a viabilidade de voltar ao passado numa máquina do tempo: “Teoricamente é concebível, mas é impossível na prática”. Vamos nos desculpar com os condenados? Haverá uma anistia coletiva ou cada caso será analisado individualmente? As empreiteiras que sofreram e mesmo quebraram sob o peso das multas e acordos de leniência terão que ser ressarcidas? Como compensar seus donos e executivos pelo tempo que ficaram presos? O Tesouro Nacional será obrigado a recolocar nas contas dos condenados na Suíça os bilhões que a Lava-Jato os obrigou a devolver? Por serem tratativas autônomas, não serão afetadas as delações premiadas nem os acordos de leniência. Mas as condenações podem ser revistas. É uma possibilidade real. O “Ó do borogodó” do voto de Gilmar Mendes ainda vai dar pano para mangas.

PABLO ORTELLADO - *”Encantamento de Lula”*: O discurso de Lula no Sindicato dos Metalúrgicos de São Bernardo embaralhou os cenários para as eleições de 2022 que indicavam uma recondução mais ou menos segura de Bolsonaro. No discurso, o que mais se destacou foram as omissões. Lula, como era esperado, criticou a política econômica de Paulo Guedes e a política sanitária para combater a pandemia, mas em nenhum momento mencionou os ataques de Bolsonaro às instituições, tão comuns na retórica da esquerda. Essa omissão parece indicar que Lula e o PT descartam construir as condições para um impeachment antes de outubro de 2022 e que o objetivo, desde já, é construir a candidatura de Lula. A segunda omissão no discurso de Lula foi Dilma Rousseff. O silêncio sobre a ex-presidente — que é considerada inepta, do centro à direita — e diversos acenos ao Centrão e ao mercado indicam para 2022 uma estratégia “paz e amor”, como a que adotou em 2002. Lula quis sinalizar ao mercado que sabe ser fiscalmente responsável e lembrar ao Centrão que é um negociador hábil e confiável. A suspeição que está sendo lançada sobre a Lava-Jato parece estar escusando o ex-presidente. A troca de mensagens entre Moro e os procuradores mostrou um viés persecutório da operação contra o PT, além de articulações espúrias entre o juiz e o Ministério Público. Isso não apenas vem sendo utilizado juridicamente para anular as condenações, como politicamente para colocar sob suspeita as denúncias, liberando Lula da responsabilidade pela Petrobras ter sido desavergonhadamente assaltada durante sua administração.
Em 2018, liberais traumatizados com a política econômica de Dilma e punitivistas anticorrupção encantados pela Lava-Jato podiam considerar um segundo turno entre Lula e Bolsonaro uma “escolha difícil”. Agora, depois da péssima condução da crise sanitária por Bolsonaro e de seus ataques às instituições democráticas, a opção por Lula parece razoável. Isso talvez explique as reações surpreendentes que o discurso despertou. Críticos antigos como Rodrigo Maia e Reinaldo Azevedo fizeram elogios rasgados ao ex-presidente, e influenciadores liberais no Twitter preferiram criticar as reações de Bolsonaro a condenar Lula. Nada disso deve ser duradouro, mas, por um breve momento, abriu-se a possibilidade de Lula atrair o centro e até mesmo a centro-direita, encabeçando a tão propalada, mas tão pouco efetivada frente ampla. Contra Lula, porém, pesa o antipetismo. Bolsonaro e outros setores da direita tentarão reativar o descontentamento com os escândalos de corrupção e reavivar a memória do fracasso da política econômica de Dilma Rousseff. Com Lula na corrida, Ciro deve fracassar em se colocar como candidato da centro-esquerda, sendo empurrado para a sobrecarregada raia do centro e da centro-direita, onde já correm João Doria, Luciano Huck e Luiz Henrique Mandetta. Se nenhum fato novo sobrevier, devemos ter novamente um segundo turno entre Lula e Bolsonaro. Três anos depois, estamos cada vez mais próximos de 2018.
+++ Dizer que a esquerda ataca as instituições como Jair Bolsonaro é absurdo. Tão absurdo quanto, é dizer que estamos mais próximos de 2018 sendo que há uma pandemia em curso e 270 mil mortos por causa da ineficiência do governo. O erro do autor está em analisar a conjuntura política apenas pelas narrativas, ignorando completamente a atuação dos atores enquanto chefes de governo.

ENTREVISTA: EDSONF FACHIN, ministro do STF: *”Suspeição de Moro pode ter ‘efeitos gigantescos’”* - O ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Edson Fachin afirmou, em entrevista concedida por e-mail ao GLOBO, que declarar a suspeição do ex-juiz Sergio Moro em relação ao ex-presidente Lula "pode ter efeitos gigantescos" e resultar até mesmo na anulação de todos os casos da Lava-Jato nos quais Moro e a força-tarefa de Curitiba atuaram. Fachin expressou "grande preocupação" com esse julgamento e ressaltou que sua decisão de anular as condenações do petista fica restrita apenas a esses casos e se baseou no entendimento que o próprio STF tem adotado. O magistrado também disse que não é possível "varrer para debaixo do tapete" os supostos diálogos entre os integrantes da força-tarefa e o ex-juiz Sergio Moro e que o STF terá que firmar um entendimento jurídico a respeito da utilização dessas provas. Atual vice-presidente do Tribunal Superior Eleitoral (TSE), Fachin manifestou ainda preocupação com "sinais de rompimento" dados pelo presidente Jair Bolsonaro em relação às eleições de 2022, por ter afirmado que, no Brasil, poderá ocorrer algo semelhante à invasão do Capitólio, nos Estados Unidos. Leia abaixo os principais trechos da entrevista.
- O senhor proferiu decisão liminar na última segunda-feira reconhecendo a incompetência da 13ª Vara Federal de Curitiba para processar as ações penais contra o ex-presidente Lula. Essa alegação, entretanto, havia sido apresentada diversas outras vezes pela defesa, mas negada pelo STF. O que mudou para justificar a nova decisão?
- Vou expor o mais nitidamente possível para dar o contexto que é importante para esclarecer. Comecemos lembrando que a jurisdição somente é prestada quando haja provocação da parte interessada, já que, em relação ao Poder Judiciário, vige no ordenamento jurídico o princípio dispositivo. O juiz decide, na regra geral, depois de receber um pedido formulado de modo direto e objetivo por alguém que tenha legítimo interesse. E decido o que está no pedido, enfim o que foi requerido. Pois bem: conforme registrei na decisão proferida em 8/3/2021, embora a alegação de incompetência da 13ª Vara Federal de Curitiba tenha sido mencionada (e destaco: foi mencionada) em outros procedimentos, não se tratava nessas menções anteriores de pedido direto por parte da defesa do ex-presidente da República. Esse pedido, assim formulado diretamente, somente aportou no Supremo Tribunal Federal com a protocolização do HC 193.726, em 4/11/2020, e isso após o esgotamento do tema pelas instâncias precedentes (Tribunal Regional Federal da 4ª Região e Superior Tribunal de Justiça). Portanto, foi somente em novembro do ano passado que esse pedido se dirigiu ao STF de modo direto com esse propósito. Isso não significa que o assunto anteriormente não tenha sido tratado. Como eu disse na mesma decisão, a competência da 13ª Vara Federal de Curitiba sempre esteve em debate perante o Supremo Tribunal Federal em outros casos, destacando-se os precedentes a partir dos quais foram sendo realizados recortes, isto é, o colegiado da Segunda Turma (normalmente fiquei vencido) foi diminuindo a competência daquela Vara no âmbito da Operação Lava-Jato. Há copiosos exemplos disso. E chamo atenção para isso: são processos de outros investigados, e casos não exclusiva e diretamente do ex-presidente. É somente no atual estado da arte jurisprudencial que é possível afirmar, com segurança, que a 13ª Vara Federal de Curitiba, no âmbito da Operação Lava-Jato, detém competência ao processo e julgamento apenas (e destaco isso: somente ou exclusivamente) dos crimes praticados direta e exclusivamente (atente-se: diretamente, tão-somente) em detrimento da Petrobras S/A. Não se trata, pois, de uma mudança abrupta, são alguns anos de enfraquecimento das atribuições da 13ª Vara, distanciando-se progressivamente da definição inicial.

- A sua decisão descreve que o ex-presidente Lula é suspeito de crimes envolvendo outras estatais além da Petrobras, por isso não se justificaria manter as ações em Curitiba. A anulação das condenações significa absolvição do ex-presidente em relação aos crimes dos quais foi acusado?
- O tema posto é exclusivamente a aplicação do entendimento majoritário do colegiado da Turma sobre a competência. Somente isso. E me explico objetivamente. Na estrutura delituosa delimitada pelo Ministério Público Federal, ao ex-presidente da República são atribuídas condutas condizentes com a figura central do grupo criminoso organizado, com ampla atuação nos diversos órgãos pelos quais se espalharam a prática de ilicitudes, sendo a Petrobras S/A apenas um deles, constatação que, em cotejo com os precedentes formados no âmbito do Supremo Tribunal Federal, afasta a causa de aglutinação de feitos penais perante a 13ª Vara Federal de Curitiba. A definição do juízo competente é pressuposto de legitimidade da prestação jurisdicional e não se confunde com o mérito da acusação formulada.

- A Segunda Turma prosseguiu o julgamento do habeas corpus sobre a suspeição do ex-juiz Sergio Moro mesmo tendo sido declarado prejudicado. Houve desrespeito do órgão colegiado à sua decisão monocrática?
- O Supremo Tribunal Federal são seus onze ministros, com seus consensos e dissensos. O todo jamais desrespeita as partes. Fiquei vencido, o que não tem sido infrequente nesses temas, pois temos respeitosas diferenças de compreensão da aplicação racional e sistemática do Direito Penal e da legalidade constitucional em termos da macro criminalidade e da seletividade punitiva. De qualquer modo, como disse no julgamento, entendo que o HC mencionado na pergunta está prejudicado. E quando o Tribunal Pleno apreciar minha decisão monocrática (até hoje não constatei recurso protocolado, mas é muito provável que haverá, e eu o enviarei para apreciação do Pleno), também deliberará sobre os efeitos da decisão colegiada que tomará.

- Durante o julgamento, houve a utilização, nos votos dos ministros, dos supostos diálogos apreendidos na Operação Spoofing, cuja legalidade ainda não foi reconhecida para fins de utilização em processos. Qual a avaliação do senhor em relação a esta utilização?
- Há muito a ser debatido sobre esse material. Certamente não há como varrê-lo para debaixo do tapete, e o Tribunal precisará dar uma resposta sobre ele. Como o julgamento ainda não foi encerrado e como o tema ainda está pendente de exame em outras ações, farei, quando oportuno, minhas considerações complementares.

- Caso a Segunda Turma declare a suspeição do ex-juiz Sergio Moro nas ações do ex-presidente Lula, é possível que essa suspeição seja estendida posteriormente a outros réus da Operação Lava-Jato, com consequente anulação de diversos processos?
- Essa é uma grande preocupação. Anular quatro processos por incompetência é realidade bem diversa da declaração de suspeição que pode ter efeitos gigantescos. Minha decisão mantém o entendimento isonômico sobre a competência para julgamentos dos feitos e como deve ser interpretada a competência da 13ª Vara Federal de Curitiba. Isso, tão somente. E aqui tem uma distinção fundamental, senão vejamos: na suspeição, observadas as bases de decidir – está se alegando conspiração do magistrado com a Força-Tarefa do MP – é potencial a extensão da decisão a todos os casos da Operação Lava-Jato denunciados perante a 13ª Vara Federal de Curitiba nos quais houve função da Força-Tarefa do MPF e do ex-juiz Sergio Moro. Ainda não há como saber ao todo, já que estamos em sede de habeas corpus e não houve julgamento definitivo. Fosse, porém, uma exceção de suspeição, haveria o que chamamos de apreciação de mérito, isto é, o Tribunal apreciaria os fatos e o direito e, uma vez julgada a exceção, eles se tornariam indiscutíveis. A regra é de fácil intuição: se um juiz é amigo de uma das partes, sempre que uma delas estiver em um dos pólos da ação, o juiz não poderá julgar. Se julgar, a decisão não poderá prevalecer, seja uma decisão condenatória, seja uma decisão que, por exemplo, tenha bloqueado a propriedade de uma das partes.

- Qual é a relação do senhor com o ex-juiz Sergio Moro? Há alguma relação de proximidade ou amizade?
- De minha parte sempre foi de respeito institucional, como tenho com todos os juízes do Poder Judiciário.

- Para o senhor, por que a Lava-Jato passou a ser alvo de ataques da classe política e do meio jurídico? Houve realmente falhas e ilegalidades na condução das investigações?
- Cumpre, nesse ponto, reiterar o que tenho afirmado. O enfrentamento à corrupção deve ser democrático e efetivo. O caminho a ser percorrido está pavimentado pela Constituição Federal, mesmo sendo complexo, longo e eventualmente tormentoso. A justiça penal no Estado democrático de direito não tem lugar para atalhos, atitudes heterodoxas ou seletividades. O escrutínio é público: acertos são chancelados e falhas devem ser corrigidas. É um equívoco imaginar que decisões dos Tribunais Superiores ou mesmo o encerramento formal das Forças Tarefas possam trazer de volta o nível de corrupção que se viu no passado. O Brasil teve ganhos institucionais imensos nos últimos trinta anos nessa área: há instrumentos legais disponíveis, o sistema de justiça foi chamado a atuar (Ministério Público, Magistratura, Polícia Federal, Receita Federal), e o mais importante: há uma cidadania ativa acompanhando e fiscalizando, cobrando – com razão – cada vez mais transparência. Enquanto houver autonomia dos órgãos de controle, enquanto forem garantidos os recursos para que essas instituições funcionem, serão altos os custos para quem se aventurar pelo desvio. É preciso, também, pôr fim a teorias conspiratórias que imaginam uma articulação internacional que une poderosos meios de comunicação, empresários e, óbvio, juízes e promotores influentes para atacar líderes populares. Como disse o jurista argentino Roberto Gargarella, essa ideia é mais perigosa do que ridícula. É perigosa porque imagina que nenhum poder está em melhores condições de pressionar o Poder Judiciário do que aquele que governa. O número de denúncias e condenações e os valores recuperados não têm nada que ver com a sanha punitivista de juízes ou promotores ou com um projeto de poder, mas, simplesmente, com um nível alarmante de corrupção política. O risco, portanto, é promover não apenas retrocessos no combate a corrupção, como também retrocessos institucionais.

- O presidente Jair Bolsonaro declarou publicamente que a sua decisão que anulou as condenações do ex-presidente Lula se deveu ao fato de o senhor ter sido indicado à vaga de ministro do STF durante a gestão do PT no governo federal. Como o senhor responde a essa acusação?
- Do histórico de precedentes, sobressai que o Plenário e a Segunda Turma do Supremo Tribunal Federal formataram arcabouço jurisprudencial de acordo com o qual casos análogos ao tratado nestes autos fossem retirados da competência da 13ª Vara Federal de Curitiba. Assim, destaquei em minha decisão, que as regras de competência, ao concretizarem o princípio do juiz natural, servem para garantir a imparcialidade da atuação jurisdicional: respostas análogas a casos análogos. Consignei, ainda, expressamente, que, com as recentes decisões proferidas no âmbito do STF, não há como sustentar que apenas o caso do ora paciente deva ter a jurisdição prestada pela 13ª Vara Federal de Curitiba. No contexto da macrocorrupção política, tão importante quanto ser imparcial é ser apartidário.

- Como futuro presidente do TSE, o senhor vê riscos de ataques às instituições democráticas e tentativas de interferências sobre as eleições de 2022?
- É imprescindível garantir o respeito à Constituição e, especialmente diante do processo eleitoral que se avizinha, a soberania do voto popular. Toda eleição é um desafio, pois se trata da maior mobilização da sociedade em tempos de paz. Organizar o processo eleitoral e garantir eleições livres e competitivas exige um enorme esforço logístico. Obviamente que toda eleição guarda suas singularidades, na medida em que é muito sensível às disputas políticas. A polarização que guiou as eleições de 2018 ainda se faz presente e onde ela germina dificilmente se colhe entendimento, respeito pelo opositor e tolerância. Nesse ambiente, os principais desafios serão as fake news e o movimento de criação, às vezes dissimulado, às vezes indisfarçável, de um ambiente de inconformismo antecipado com o resultado das urnas, em uma espécie de disputa que só admite um vencedor. Isso é muito grave, pois atinge um dos pilares da disputa sadia pelo poder que é a incerteza dos resultados. Um consenso mínimo exigido nas democracias é a aceitação do resultado derivado das escolhas populares. Todos temos a atenção voltada para o voto impresso, urnas eletrônicas e mesmo o cenário da invasão do Capitólio. Os ataques dirigidos à Justiça Eleitoral, especialmente ao sistema eletrônico de votação, compõem um quadro amplo de erosão deliberada das instituições. A onda populista que está por trás desse movimento quer eliminar os intermediários entre os representantes e os representados. Seu objetivo é espalhar a desconfiança das instituições para que o poder seja personificado e a justificação do insucesso já esteja à mão, no momento da derrota política.
Como escrevi recentemente, para esses detratores da democracia, a ruína institucional é a meta; e seu método é a diluição das verdades. O resultado é a desorientação social que só beneficia aqueles que não suportam as regras do jogo democrático. Tenho a convicção de que, no íntimo de suas crenças, acreditam na lisura do processo eleitoral. A integridade da urna eletrônica é certificada por testes públicos de segurança. As alegações de fraude nunca vieram acompanhadas de provas capazes de desacreditar o bom funcionamento da urna eletrônica, e essa narrativa é alimentada, na maioria das vezes, por fake news, cujas inverdades já foram repetidamente demonstradas pelo TSE. A invasão do Capitólio tem um imenso simbolismo, sobretudo porque ocorre no país em que nunca se imaginou que a democracia pudesse morrer ou correr riscos. Esse fato coloca em alerta a democracia no Brasil e no mundo, agravado pelo fato de não ter recebido a condenação do chefe de Estado brasileiro que, ao contrário, projetou o mesmo cenário se os mecanismos de votação não forem alterados ao seu gosto. É preciso que toda sociedade esteja vigilante a esses sinais de rompimento. Solução pacífica de dissensos está nas eleições em normalidade e tranquilidade, com respeito às leis e à ordem democrática.

*”PGR pede ao STF para manter condenações de Lula”*
*”STF: relator vota para derrubar trecho de decreto sobre armas”*
*”Do negacionismo à vacinação, um Zé Gotinha com fuzil”*
*”Zambelli quer comissão de Meio Ambiente alinhada à Agricultura”*
*”STJ deve julgar na terça recursos de Flávio Bolsonaro”*

*”Garimpo ilegal dobra em um ano em reserva de RR”*

ASCÂNIO SELEME - *”Lula em 13 pontos”*: O fato da semana foi o discurso de candidato proferido pelo ex-presidente Lula dois dias depois de o STF ter anulado as penas a que foi condenado. Não custa destrinchar o seu teor para tentar melhor entendê-lo.
1 - Arrebentado (de tantas chibatadas); razão para ter mágoas - Lula se queixou por ter apanhado muito ao longo dos anos. É verdade, mas ele não disse que havia motivos para apanhar. Seu governo produziu o mensalão e iniciou a partilha da Petrobras entre o PT e os demais partidos da sua base. O ex-presidente também foi julgado, condenado e preso por se beneficiar de vantagens indevidas de empreiteiras. Isso dói e magoa. Contudo, ele disse que não tem mais espaço nem tempo para guardar rancor. Só mais adiante vai se saber se o Lulinha Paz e Amor voltou mesmo.
2 - Reconhecida sua inocência - Lula inventou que foi inocentado nos casos do tríplex, do sítio e do instituto que leva o seu nome. Suas condenações foram anuladas e ele deve ser julgado por outro juiz. Pode tanto ser inocentado quanto ter sua pena prescrita ou ser condenado outra vez. Além disso, os processos do mensalão e do petrolão geraram cassações de mandatos e prisões em escala industrial na base de seu governo e no da sua sucessora Dilma Rousseff.
3 - Marisa morreu por pressão (da Lava-Jato) - Chute do ex-presidente. Mas não se pode negar que a ex-primeira-dama estava muito angustiada e pressionada em razão dos escândalos em que o marido e os filhos estavam metidos.
4 - Prato de feijão e farinha; picanha e cerveja - Lula retomou o discurso contra a fome que ajudou a elegê-lo em 2002, aproveitando o empobrecimento generalizado dos brasileiros. Falou no idioma que mais se entende no Brasil. Tem um legado importante na questão da inclusão social no Brasil para explorar no futuro.
5 - Armas para PM e Forças Armadas - O candidato afagou as instituições oficiais de segurança para corretamente descer o pau na política armamentista de Bolsonaro.
6 - O planeta é redondo - Mesmo ao ridicularizar o terraplanismo e o olavismo de Bolsonaro, Lula usou um tom sério porque não era hora de fazer graça.
7 - Citações e agradeci mentos - Foi honesto ao não esconder seu apreço à esquerda global, que sempre esteve ao seu lado. Até o famoso Foro de São Paulo ele citou. Lula não é extremista, mas claro que é de esquerda.
8 - Não ao liberalismo econômico - O ataque de Lula a Guedes (“Esse governo não tem ministro da Economia”) mostrou que seu caminho será outro. Neste discurso, e no que fez no Congresso do PT de novembro do ano passado, o ex-presidente não deixou dúvida sobre seu apetite intervencionista. Usou ainda o desgastado discurso antiamericanista (“Quando é que eu vou acordar de manhã sem ter que pedir licença para respirar ao governo americano") que ainda agrada a uma grande parcela da população.
9 - Preço da gasolina - No mesmo tom intervencionista, Lula atacou o preço dos combustíveis (“Por que cobrar em dólar se o Brasil não importa gasolina?”) e ainda se apropriou do discurso bolsonarista a favor de caminhoneiros.
10 - Imprensa - Atacou jornais e jornalistas, mas elogiou a edição do Jornal Nacional do dia em que o ministro Edson Fachin anulou suas condenações. Deixou claro que gosta mesmo é de imprensa a favor, chapa branca. Já se viu isso antes, nenhuma novidade.
11 - Vacina e máscaras - Sua posição no quesito pandemia lhe deu tantos pontos que até Bolsonaro correu para usar máscara e falar em favor da vacinação. Um dos maiores líderes da história política do país deu um exemplo a ser seguido. Falou o que o Brasil precisa ouvir. Deixou Bolsonaro pequeno, insignificante.
12 - Conversar com políticos e empresários - Lula disse que vai usar a sua maior habilidade, falar com todo mundo. Das muitas diferenças que o separam de Bolsonaro, esta é a mais visível. Lula sabe conversar, e bem. Sabe negociar e, mesmo contrariado, sabe ceder.
13 - Convite para mudar o país - O tom de candidato esteve presente em todo o discurso, mas no final ele foi emblemático. No convite para mudar o país usou a conhecida fórmula de quem diz conhecer o caminho e pede apoio do povo para conduzir o país nessa direção.

*”Celeiro de vírus – Cientistas brasileiros descobrem nova variante do coronavírus”*
*”Saúde compra 10 milhões de doses da Sputnik”*
*”Anvisa dá registro definitivo à vacina da AstraZeneca”*
*”Curitiba entra em lockdown por nove dias a partir de hoje”*

*”Demora para ajudar – Pago só em abril, benefício deve conter perdas, mas não induzirá crescimento”*
*”Guedes nega atraso e diz que valor de R$ 600 é insustentável”*
*”Bolsonaro critica estados por pagaram auxílio”*

 

CAPA – Manchete principal: *”Doria já admite largar projeto nacional e concorrer à reeleição”*

EDITORIAL DO ESTADÃO - *”Um governo sem plano e sem força”*: Atramitação da PEC Emergencial no Congresso mostra um governo incapaz de articular minimamente propostas responsáveis para o País. A rigor, não se pode nem mesmo acusar a oposição de irresponsabilidade fiscal, pois, como ficou evidente, a principal tolerância com o afrouxamento dos gatilhos fiscais veio do presidente Jair Bolsonaro, preocupado que estava em não desagradar aos grupos que formam sua base eleitoral. Uma vez mais observa-se na atuação deste governo a antítese de qualquer espírito reformista. Vale lembrar que a PEC Emergencial, prevendo restrições e mecanismos para conter os gastos públicos, foi proposta pelo governo federal no fim de 2019, dentro do pacote de medidas intitulado “Plano Mais Brasil”. No entanto, o governo logo se esqueceu dela, não fazendo nenhum esforço para sua aprovação.
Ao longo do segundo semestre de 2020, o então presidente da Câmara, deputado Rodrigo Maia, alertou várias vezes para a necessidade de sua aprovação. “Sem a PEC Emergencial, (o governo) vai ter muita dificuldade de aprovar o Orçamento”, disse Maia. O fato é que no ano passado nem o Orçamento nem a PEC Emergencial foram aprovados. Agora, com o recrudescimento da pandemia e a consequente necessidade de restabelecer algum auxílio à população mais carente, o governo incluiu na PEC Emergencial um dispositivo possibilitando o pagamento de um novo benefício emergencial, no valor total de R$ 44 bilhões. Foi sobre esse novo texto que Senado e Câmara se debruçaram nos últimos dias. A história recente da PEC Emergencial também não é nada meritória para o governo Bolsonaro. Em primeiro lugar, tentouse aproveitar a emergência do tema para aprovar de supetão uma medida drástica e especialmente sensível em tempos de crise – a desvinculação de receitas obrigatórias para educação e saúde. Em vez de abrir um debate sério sobre o tema, o governo tentou um atalho oportunista. O Congresso excluiu a mudança.
A fragilidade e as incoerências do governo Bolsonaro ficaram especialmente evidentes na discussão central relativa à nova versão da PEC Emergencial. Onde cortar gastos para tornar viável o pagamento do novo auxílio emergencial? A equipe econômica propôs alguns gatilhos, em especial a proibição de promoções e progressões das carreiras do funcionalismo. Como era de esperar, houve resistência à medida. Nesse embate entre responsabilidade fiscal e interesse eleitoral, o presidente Jair Bolsonaro optou pela via mais fácil, endossando a tentativa de fatiar a PEC Emergencial, o que excluía parte das medidas mais restritivas. A saída irresponsável só não foi aprovada em razão do intenso trabalho do presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto, com os parlamentares. Conseguiu mostrar os efeitos desastrosos que essa medida teria sobre a confiança dos investidores e a recuperação econômica.
De toda forma, com o visível desinteresse do governo na defesa de uma mais intensa responsabilidade fiscal, tornou-se inviável politicamente a manutenção no texto da PEC Emergencial da proibição da progressão automática nas carreiras do funcionalismo público, com o respectivo aumento dos salários. Ou seja, mesmo durante os estados de calamidade ou emergência fiscal (quando há elevado comprometimento das finanças), os funcionários públicos continuarão dispondo de progressões e aumentos automáticos. A agravar a história da PEC Emergencial, o programa do novo auxílio emergencial foi muito mal planejado. “O auxílio emergencial é um benefício grande demais, para um número de pessoas grande demais. Na entrada da crise, quando você não sabe o que vai acontecer, é uma boa ideia. Mas a gente não pode continuar com um programa essencialmente cego. (...) Se tiver um campeonato de programa mal desenhado, o auxílio emergencial ganha disparado”, disse ao Estado o economista Ricardo Paes de Barros, pesquisador do Insper e um dos maiores especialistas do País em políticas sociais. O governo Bolsonaro não planeja bem e ainda se omite da articulação política. Descumpre, portanto, responsabilidades básicas do Executivo. O País paga o preço.

*”Doria já admite disputar reeleição em São Paulo”*

*”PSOL discute abdicar de candidatura e apoiar Lula”* - Fundado em 2004 a partir de uma dissidência do PT, o PSOL, pela primeira vez, discute internamente a possibilidade de abrir mão de lançar uma candidatura própria ao Palácio do Planalto em 2022 para apoiar o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), que teve seus direitos políticos e elegibilidade restabelecidos após o ministro Edson Fachin, do Supremo Tribunal Federal (STF), anular as condenações do petista na Lava Jato. Candidato do PSOL à Presidência em 2018 e à Prefeitura de São Paulo, em 2020, Guilherme Boulos estava no palco em que Lula fez seu primeiro pronunciamento após a decisão de Fachin, na quarta feira passada. O apoio ao petista ainda sofre resistências, especialmente dos líderes da legenda que foram expulsos do PT, mas o debate ganha volume nas instâncias internas. O presidente nacional do PSOL, Juliano Medeiros, é cauteloso ao tratar do tema. “A presença do Lula no debate público reforça a luta da oposição contra o Bolsonaro, mas defendemos que essa discussão (sobre definição de candidaturas) seja travada no momento certo. Queremos criar um espaço formal para discutir a unidade com os partidos”, disse Medeiros ao Estadão. Em caráter reservado, porém, lideranças do PSOL admitem que o partido nunca esteve tão perto de apoiar um nome do PT numa disputa presidencial – caso Lula concorra mesmo –, apesar da resistência da ala mais “radical” da sigla. Desde de sua fundação, o PSOL lançou quatro candidatos à Presidência da República: Heloisa Helena em 2006, Plínio de Arruda Sampaio em 2010, Luciana Genro em 2014 e Guilherme Boulos em 2018, que teve o pior desempenho, com pouco mais de 600 mil votos.

ENTREVISTA: EDSON FACHIN, ministro do STF - *”Lava Jato vira Mãos Limpas se Moro for declarado parcial”*: Perto de a Lava Jato completar sete anos de existência, o relator da operação no Supremo Tribunal Federal (STF), ministro Edson Fachin, disse ao Estadão que, se o ex-juiz Sérgio Moro for declarado parcial, a investigação terá o mesmo fim que a Operação Mãos Limpas teve na Itália. Na segunda-feira passada, Fachin anulou as condenações impostas ao expresidente Luiz Inácio Lula da Silva em um esforço para esvaziar as discussões sobre a suspeição do ex-magistrado. Confira a entrevista, concedida por meio de videoconferência e e-mail.

• A Operação Lava Jato completa 7 anos no próximo dia 17. Na avaliação do sr., qual vai ser a história da investigação?
- Depende do que for decidido nos próximos dias ou nos próximos meses. E, portanto, se continuar no caminho de entender que há suspeição, a história da Lava Jato será a história do que aconteceu com as Mãos Limpas na Itália. É a história de uma derrocada, em que o sistema impregnado pela corrupção venceu o sistema de apuração, de investigação e de condenação dos delitos ligados à corrupção. Portanto, esse é o diagnóstico que eu faço.

• Por que o senhor derrubou as condenações de Lula agora?
- A observância da jurisprudência do tribunal traduz a máxima segundo a qual casos análogos devem ser tratados de forma análoga. Como dizia o juiz da Corte Suprema dos Estados Unidos Brandeis, ou temos igualdade e democracia, ou não temos democracia. Como relator da Lava Jato no tribunal, busquei defender a manutenção da competência da 13.ª Vara para que ela apurasse os delitos contra a Petrobrás que tivessem sido praticados de modo semelhante. A maioria da Segunda Turma, no entanto, optou por restringir a competência apenas aos casos que envolvessem diretamente a estatal.

• O presidente Jair Bolsonaro criticou a decisão, dizendo que o senhor “sempre teve forte ligação com o PT”. Como o senhor responderia?
- Não se trata de um entendimento individual, ao contrário, trata-se da reiterada jurisprudência da Corte em que, em mais de 20 casos, entendeu pela retirada de processos da referida Vara Federal, dos quais, na maioria das vezes, fiquei vencido. Por força dos princípios da isonomia e do juiz natural, deve-se garantir o mesmo tratamento e interpretação a todos os investigados em situação análoga, independentemente de quem seja e de qual partido faça parte.

• E as ameaças, ministro?
- Prefiro o apoio institucional e a solidariedade dos colegas às ameaças e intolerâncias.

*”Tribunal que pode julgar casos de Lula costuma favorecer réus”* - Destino possível de processos do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, o Tribunal Regional Federal da 1.ª Região (TRF1), sediado em Brasília, é considerado por advogados, procuradores e até pelos próprios desembargadores uma Corte com perfil “garantista”, que costuma privilegiar direitos dos réus. No ano passado, o tribunal tomou duas decisões que beneficiaram Lula. Agora, pode caber aos mesmos magistrados decidir sobre as ações do petista na Lava Jato – caso condenado, ele voltará a ser inelegível. Lula foi enquadrado na Lei da Ficha Limpa, em 2018, após ser condenado por corrupção passiva e lavagem de dinheiro em segunda instância no caso do triplex do Guarujá (SP). A decisão foi do Tribunal Regional Federal da 4.ª Região (TRF-4), sediado em Porto Alegre, e de perfil mais “punitivista”, que tende a privilegiar os acusadores no julgamento. Agora, após a decisão do ministro do Supremo Tribunal Federal Edson Fachin, que anulou as condenações do petista definidas pela Justiça Federal em Curitiba, o epicentro jurídico dos processos se deslocará para a capital federal. Os casos deverão ser avaliados por um dos juízes de primeira instância da 10.ª ou da 12.ª Vara da Justiça Federal no DF, e só então serão remetidos ao TRF-1.
Em setembro, os desembargadores da Quarta Turma do tribunal atenderam a um habeas corpus da defesa de Lula e trancaram o andamento de uma ação penal. O caso é um desdobramento da Operação Janus, de 2016, na qual Lula é acusado pelo Ministério Público Federal de ter influenciado o BNDES para favorecer a Odebrecht em empréstimos para obras em Angola. Para o relator, o desembargador Néviton Guedes, o MPF não reuniu provas suficientes para justificar a continuidade do processo. Néviton segue na Quarta Turma – os casos de Lula deverão ser julgados na Terceira e na Quarta Turma, responsáveis pelos casos criminais. O colegiado de Néviton é integrado ainda pelos desembargadores Olindo Menezes e Cândido Ribeiro. Na Terceira Turma atuam os desembargadores Ney Bello, Mônica Sifuentes e Maria do Carmo Cardoso. Ambas as turmas têm perfil “garantista”. Em abril, outra decisão benéfica a Lula: a Quarta Turma absolveu nove alvos da Operação Zelotes, acusados de “vender” medidas provisórias para beneficiar a indústria automobilística em governos do PT.
Histórico. O TRF-1 também decidiu favoravelmente a réus ou investigados em outros casos de crimes do colarinho-branco. Em outubro, trancou investigação contra o ministro Paulo Guedes (Economia) na Operação Greenfield. Decisões anteriores favoreceram o ex-presidente da Câmara Eduardo Cunha e o ex-ministro Geddel Vieira Lima. “A impressão que tenho do TRF-1 é a de que o nível de aceitação de teses da defesa é maior que, por exemplo, no TRF-4”, disse o procurador regional da República Alexandre Camanho, que representa o MPF em processos na Corte. O TRF-4 é onde são julgados em segunda instância os processos da Lava Jato no Paraná. Para o criminalista João Paulo Boaventura, a comparação entre o TRF-4 na Lava Jato e o TRF-1 na Zelotes mostra que a Corte em Brasília foi “mais garantista”. “No geral, é um tribunal que evita chancelar o que decidem os juízes da 10.ª e da 12.ª Varas (da Justiça Federal no DF).”
Lentidão. O TRF-1 também é considerado um dos mais lentos do País, o que pode beneficiar Lula. O petista estará inelegível e não poderá disputar a eleição de 2022 se for condenado em segunda instância antes de agosto do ano que vem. “O TRF-1 é, de longe, o tribunal mais lento do Brasil. Enquanto no TRF-4 todos os processos são eletrônicos há mais de dez anos, no TRF-1 a maior parte dos processos criminais ainda é física”, afirmou Camanho. Um dos motivos é a abrangência. Entre os tribunais regionais federais, o TRF-1 recebe os processos da Justiça Federal de 13 Estados e do DF. Um relatório do Conselho Nacional de Justiça identificou que gabinetes do TRF-1 contam com milhares de casos paralisados, não fazem controle efetivo de liminares concedidas, não monitoram o andamento de processos e não cumprem metas de produtividade. No gabinete de Néviton Guedes, por exemplo, o CNJ apontou que um número elevado de processos (3.755) estava paralisado há mais de cem dias. Segundo o conselho, processos já instruídos (quando todas as partes já foram ouvidas) aguardavam há mais de dois anos a elaboração de voto do desembargador. Néviton disse, em nota, que seu gabinete vem tomando medidas para melhorar o controle sobre os processos e aumentar a rapidez do trabalho. Afirmou ainda que muitos dos processos analisados são “de complexidade absolutamente acentuada”. A presidência do TRF-1 não respondeu à reportagem até a conclusão desta edição.
+++ O Estadão mantém a estratégia apresentada em editorial recente no qual afirmou que Lula não era inocente, ao contrário, era um corrupto que teve as sentenças anuladas. Hoje, o jornal já se adianta e trata da segunda instância que vai avaliar os processos contra Lula. O “perfil garantista” do colegiado é tratado pelo jornal como “favorável aos réus”. Essa associação tacanha e medíocre deveria ser motivo de reclamação de professores de Direito. O jornal trabalha com a “pós-verdade” da forma como sempre fez, ou seja, constrói as narrativas que quer e bem entende.

ENTREVISTA: CARLA ZAMBELLI (PSL-SP), deputada e presidente da Comissão do Meio Ambiente - *”ONGs serão questionadas sobre uso do dinheiro”*: Eleita ontem presidente da Comissão do Meio Ambiente nesta sexta-feira, a deputada Carla Zambelli (PSL-SP) afirmou que a responsabilidade pela alta do desmatamento é das mudanças climáticas, e não do governo presidido por Jair Bolsonaro. Antes de chegar ao comando do colegiado, Zambelli sempre negou o aquecimento global. Aliada do presidente, ela agora quer aproveitar a posição para ajudar o governo a melhorar sua imagem no exterior. “Não acho que qualquer aumento de desmatamento ou de queimada seja culpa do governo. Foi uma circunstância”, disse Zambelli ao Estadão/broadcast. Criticada por ambientalistas, a deputada é alvo do inquérito das fake news, que tramita no Supremo Tribunal Federal. À frente da comissão, Zambelli avisou que também ouvirá as ONGS sobre o trabalho na Amazônia. “As ONGS serão questionadas sobre como usam o dinheiro”, afirmou. Para ela, a imagem de que o governo não liga para o meio ambiente é fruto de “uma narrativa construída pela esquerda”.
• O desmatamento na Amazônia cresceu 34% de agosto de 2019 a julho de 2020 pelos dados do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe). Onde o presidente Bolsonaro tem errado na preservação do meio ambiente?
- Esse governo recebeu uma herança do governo anterior muito complicada e no mundo todo tivemos uma mudança climática muito grande, em 2019. Tivemos neve onde não existia, incêndio na Califórnia (EUA). Não acho que qualquer aumento de desmatamento ou de queimada seja culpa do governo. Foi uma circunstância. Acho que o governo atuou da melhor maneira possível.

• A que a sra. atribui fenômenos climáticos recentes, como o derretimento de geleiras e o avanço do nível do mar?
- Prefiro não falar sobre esse assunto agora.

• A escolha do seu nome foi criticada pelo fato de a sra. já ter negado o aquecimento global e criticado ONGS, tendo um perfil que não aparenta ligação com o meio ambiente. Como responde?
- Tudo na política é uma questão de construção de narrativa. Os conservadores são vistos dessa forma pelos esquerdistas, mas também temos um público que nos enxerga com bastante esperança. O maior índice de queimada ocorreu quando a Marina Silva foi ministra do Meio Ambiente (no governo Lula). Eu rebato crítica com ações.

• Como evitar sanções ou retirada do apoio de países da Europa por causa do aumento do desmatamento e agressões ao meio ambiente?
- Muito pela comunicação. Se comunicar bem com o exterior e mostrar que estamos em consonância com o combate ao desmatamento ilegal, nos ajuda bastante. Estamos fazendo nosso dever de casa. O Brasil renovou o Acordo de Paris e prometeu a neutralidade do carbono no mesmo ano que a China, em 2060.

• As ONGS ambientais já foram alvo de críticas de sua parte e são presença constante nos debates da Comissão de Meio Ambiente. A sra. vai barrar ou reduzir a participação das ONGS?
- Não, pelo contrário. Sou crítica das ONGS porque, principalmente os responsáveis pelo trabalho na Amazônia, utilizam o dinheiro para atividade-meio (remuneração de pessoas, comunicação) e muito pouco para atividade-fim, que é o combate ao desmatamento. Então, as ONGS serão, sim, ouvidas e questionadas sobre como usam o dinheiro.

• O ministro do Meio Ambiente, Ricardo Salles, deve ser convocado a ir à comissão para explicar medidas tomadas por sua pasta, como o esvaziamento de conselhos ambientais e o enxugamento do Ibama e do ICMBIO?
- Ele se colocou à disposição da comissão e deve ser convidado, assim como a ministra Tereza Cristina (da Agricultura). Mas essa comissão não pretende convocar ministro nenhum. Pode ser pautada, eventualmente, mas não acredito que vá ter força para isso.

• A sra. pode ajudar a melhorar a imagem que o presidente Bolsonaro e o ministro Salles criaram lá fora, de um governo que não liga para o meio ambiente?
- Admito que a imagem foi criada, mas acredito que é resultado de uma narrativa construída pela esquerda e oposição, porque não está de acordo com os fatos. A presidência da comissão é importantíssima para reverter essa narrativa.

• Em 2021, o Brasil terá o pior orçamento dos últimos 15 anos para o Ministério do Meio Ambiente. É possível reverter o quadro?
- Cabe a nós, com o que temos, buscar o melhor resultado possível. Mas temos esse recurso possível do Acordo de Paris, que devemos atuar e cooperar com o ministério para que possamos receber e usar para o combate do desmatamento. Agora, em um momento de pandemia, é natural que o orçamento de outras áreas diminua para compor melhor a Saúde.

• Há 60 projetos prontos para a pauta da comissão e quase outros 30 aguardando relator. Qual será sua prioridade?
- Regularização fundiária, ação de controle no combate ao crime e ilegalidade, com foco no desmatamento ilegal e também o meio ambiente urbano. Tanto saneamento, quanto tratamento de água devem ser prioridades.

• A sra. possui porte de armas? Desde quando? Como foi para conseguir?
- Tenho posse e porte. Sou atiradora há alguns anos. Para conseguir, tive de fazer teste psicológico, antecedentes criminais, prova de tiro, entre outros. Senti a necessidade do porte por conta das ameaças que eu sofro nos últimos anos.

• A questão armamentista passa pelo meio ambiente em temas como a morte de ambientalistas por grileiros ou proprietários de terras. Facilitar a obtenção de armas não favorece este tipo de crime?
- Dificilmente uma pessoa comete crime com porte legal de arma. Normalmente, é cometido com (porte) ilegal. Temos uma fronteira gigantesca e, infelizmente, nossas forças de segurança não têm condição de fiscalizar. Temos uma entrada muito grande de armas ilegais no País.

*”Conselho de ética mantém processo contra Silveira”*
*”Governo de Minas é alvo de CPi por ‘fura-fila’ na vacinação”*

*”EUA rejeitam enviar doses a qualquer país, mas financiam vacinação na Ásia”*
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*”Policiais de Mianmar fogem da junta militar em direção à Índia”*

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*”Governo quer novo seguro-desemprego como prêmio para quem se recolocar”* - Desempregados que conseguirem um novo trabalho com carteira assinada poderão receber uma parcela do seguro-desemprego a que teriam direito, de acordo com a proposta de reformulação do programa feita pelo Ministério da Economia e apresentada aos demais ministros. A ideia é dar incentivos para empregados e empresas na recolocação do mercado formal de trabalho. O novo formato, obtido pelo Estadão, prevê pagar a metade da primeira parcela do segurodesemprego caso o trabalhador consiga um novo emprego durante o aviso prévio demissional ou antes do início do pagamento do benefício. Quem se recolocar no mercado antes de receber a segunda parcela ganhará o equivalente a 30% do que receberia na parcela.
Hoje, o valor máximo recebido pelo seguro-desemprego é de R$ 1,9 mil, pago a trabalhadores com salário médio acima de R$ 2,8 mil. Tem direito ao benefício o trabalhador que atuou em regime CLT (carteira de trabalho assinada) e foi dispensado sem justa causa. Ele recebe entre 3 a 5 parcelas, dependendo do tempo trabalhado. Conforme dados do Ministério da Economia, em média os desempregados com direito ao seguro usam 4,3 de um total de 5 parcelas possíveis do seguro e, mesmo tendo nova proposta de trabalho, acabam postergando a assinatura formal de novo contrato na carteira para receber o benefício até o fim. A ideia em estudo é reduzir o valor do seguro – que hoje é fixo em todas as parcelas – ao longo dos meses. O governo também quer garantir que o trabalhador mantenha o direito de solicitar o seguro-desemprego, caso não faça uso de todas as parcelas do benefício a que faz jus. Dessa forma, pretende estimular o trabalhador a buscar e receber apenas as parcelas de real necessidade, evitando o trabalho “informal” para um novo empregador. Além disso, deve haver diferença nas regras de quem, num mesmo intervalo de tempo, pede o seguro-desemprego quatro vezes e quem pede uma única vez. Hoje, para solicitar o benefício pela 1.ª vez, o profissional precisa ter atuado por pelo menos 12 meses com carteira assinada em regime CLT. Para solicitar pela 2.ª vez, precisa ter trabalhado por nove meses. Já na 3.ª e demais vezes, no mínimo seis meses de trabalho. O prazo entre um pedido e outro deve ser de, pelo menos, 16 meses.
Falta de emprego. “O problema do desemprego hoje é muito mais da falta de emprego mesmo do que falta de vontade de procurar. Precisamos ver bem como essas medidas vão operar na prática”, diz o professor da Universidade de São Paulo José Pastore, especialista em relações de trabalho. Pela reformulação do programa, empresas que ajudarem na recolocação de profissionais também receberão incentivos com um desconto na multa do FGTS – atualmente o valor cheio é de 40% sobre o valor depositado, devido ao colaborador demitido. Já para as empresas que contratarem, o governo pretende reduzir a multa da rescisão e do FGTS no primeiro ano de contrato.
“Reduzir a multa da dispensa é uma coisa positiva num momento difícil como este, mas não sei em que isso vai ajudar a reempregar o trabalhador. Como as empresas vão ajudar o trabalhador demitido? Metade da população em idade de trabalhar não está trabalhando porque o mercado está muito espremido. A ideia é boa, mas não sei qual a viabilidade”, diz Pastore. O objetivo do governo é, ao alterar as regras de carência, evitar irregularidades e melhorar a recolocação no mercado de trabalho, reduzindo a rotatividade. A expectativa da equipe econômica é que as mudanças reduzam as despesas do Fundo de Amparo ao Trabalhador (FAT), que custeia o pagamento do seguro-desemprego, abono salarial, entre outros programas. Isso será fundamental para que os recursos do FAT sejam usados para complementar a renda de quem tiver o salário reduzido ou o contrato suspenso na nova rodada do Programa Emergencial de Manutenção do Emprego e da Renda (BEM). Como mostrou o Estadão, a reedição do programa tem previsão de durar quatro meses, com mais quatro de carência, prazo em que as empresas se comprometem a não demitir. Nesses primeiros quatro meses, a redução de jornada ou suspensão de contratos é compensada com pagamentos feitos pelo governo (dois meses) e com o uso de recursos do seguro-desemprego (dois meses). O ministro da Economia, Paulo Guedes, rebatizou essa modalidade de “seguro no emprego”.
+++ Os integrantes desse governo desconhecem a realidade da desigualdade social brasileira.

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