segunda-feira, 15 de março de 2021

Análise de Mídia - 15/03/2021

 

DOS JORNAIS DE HOJE: As capas dos jornais não apenas trazem o mesmo destaque como as manchetes são muito semelhantes. Todos anunciam que Jair Bolsonaro está pressionado e procura um substituto para Eduardo Pazuello. Essa pressão sobre Bolsonaro vem do empresariado, do centrão, mas muito da postura assumida pelo ex-presidente Lula que embaralhou o jogo político. A Folha publica dois artigos que refletem sobre o confronto Lula X Bolsonaro. O texto de autoria do professor Marcus Melo afirma que a polarização vai ocorrer, mas que esta não se dá entre extremos. Para ele, no entanto, a memória de 2018 ainda está muito viva no eleitorado brasileiro. O “efeito Lula” também foi assunto em grandes jornais estrangeiros que contrapuseram o ex-presidente a Jair Bolsonaro – criticado por estes mesmos veículos. A informação esta na coluna da Folha “Toda mídia” que mostra ainda críticas do Financial Times à volta do ex-presidente Lula ao jogo político. A Folha ainda informa na “coluna Painel” que há muita insatisfação do empresariado com Jair Bolsonaro. O jornal aborda também a forma como pastores evangélicos reagiram ao ex-presidente Lula. Há a expectativa de que um grupo, liderado por Silas Malafaia, se reúna com Bolsonaro para demonstrar apoio ao presidente
O Valor Econômico, por sua vez, publica reportagem sobre uma campanha crítica a contra Jair Bolsonaro que é direcionada a investidores. As peças ganharam tanto espaço nesse segmento que já ocupam grupos de WhatsApp nos quais Bolsonaro era defendido. A reportagem aborda também a forma como a volta de Lula vem afetando grupos que estão ligados ao presidente da República. O Valor trata ainda da ida de Rodrigo Maia para o MDB. O deputado fala sobre uma possível aproximação entre seu futuro partido e o ex-presidente Lula. Além disso, o jornal aborda a resistência do Exército sobre a solução que o presidente tenta arranjar para o seu ministro da Saúde. Sobre a crise sanitária, o Valor informa que a indústria relatou ao governo que está preocupada com o fornecimento de oxigênio para todo o Brasil.
Estadão e O Globo, assumidamente críticos ao ex-presidente Lula, preferiram não entrar muito no confronto Lula X Bolsonaro e como os diferentes grupos na sociedade brasileira vêm reagindo. É verdade, porém, que o jornal carioca vinha tratando do assunto e na edição de ontem se alongou sobre a volta de Lula. Já o Estadão prefere se omitir. O destaque no jornal é o aumento da inflação e como este problema pode afetar o país e o próprio presidente da República.

 

CAPA – Manchete principal: *”Sob pressão, Bolsonaro busca seu quarto ministro da Saúde”*

EDITORIAL DA FOLHA - *”Viés bolsonarista”*: Desde a redemocratização, a dinâmica institucional entre os Poderes Executivo e Legislativo sempre obedeceu a uma certa lógica decorrente das características imperiais do sistema presidencial do Brasil. Por regra, o Congresso seguia uma agenda ditada pelo Palácio do Planalto, desde que algumas condições fossem respeitadas, em especial divisão do butim do poder na forma de cargos e verbas. Houve distorções, como o mensalão no governo Luiz Inácio Lula da Silva, mas, passado o escândalo, o petista com força eleitoral não teve maior dificuldade em restabelecer a governabilidade. Ruptura do padrão mesmo ocorreu nos momentos em que o Executivo se mostrou enfraquecido demais. Nesses momentos, o Parlamento passou a ditar o ritmo da pauta nacional. Neste ambiente, caíram sob a espada do impeachment Fernando Collor e Dilma Rousseff. Jair Bolsonaro trouxe uma novidade ao arranjo vigente: um presidente de considerável popularidade sem apoio firme no Congresso.
Em seu primeiro ano de mandato, os principais avanços legislativos tiveram mais a anuência do que a promoção ativa do governo. A tramitação da reforma da Previdência, uma obra do então presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ), exemplifica o ocorrido. Ao mesmo tempo, propostas mais polêmicas da pauta bolsonarista, como decretos armamentistas de 2019, eram derrubados. Já em 2020, quando namorou uma crise institucional, Bolsonaro viu sua agenda ser travada por Maia. Com a ascensão do centrão, personificado pelo novo chefe da Câmara, Arthur Lira (PP-AL), o jogo se realinha em favor do Planalto. A vital Comissão de Constituição e Justiça, que veta ou não qualquer matéria na casa, está na mão da bolsonarista Bia Kicis (PSL-DF), tristemente celebrizada por propagar informações falsas nas redes sociais, em particular na pandemia. Já Carla Zambelli (PSL-SP), deputada que acusou ONGs de provocar queimadas, abocanhou a Comissão do Meio Ambiente. Em comum, ambas são investigadas no inquérito dos atos antidemocráticos do Supremo Tribunal Federal. O acerto comporta outros atores. Emergindo após o episódio Joesley Batista, Aécio Neves (PSDB-MG) ganhou a Comissão de Relações Exteriores. Para horror do tucanato contrário a Bolsonaro, disse à Folha que o seu partido não tem vocação de oposição radical. Nada disso significa que o presidente vá impor sua agenda retrógrada e minoritária na sociedade, mas decerto o Congresso não ganha em altivez nem qualidade.

MARCUS MELO - *”Polarização e simetria política”*: Muitos analistas têm apontado para um recrudescimento da polarização política em virtude da possível participação de Lula na eleição de 2022. O debate tem girado em torno de uma disputa entre dois extremos ideológicos e sobre o espaço para uma candidatura de centro, argumento que é criticado porque não haveria simetria ideológica ou programática: o PT e seu candidato não seriam extremistas. Há aqui um equívoco argumentativo, porque várias dimensões separadas estão justapostas. O que, ou quem, está polarizado? Partidos, políticos individuais ou o eleitorado? E mais: a polarização não se confunde com a localização de partidos ou candidatos no continuum ideológico. Como demonstrado por pesquisas empíricas, a polarização política nas democracias avançadas, sobretudo nos EUA, onde se manifestou de forma intensa, não está ancorada em divergências programáticas. Embora os políticos estejam crescentemente polarizados, muitos cidadãos convertem-se em "ideólogos sem questões", como argumenta Liliana Mason. A divergência programática em torno de políticas públicas —da econômica à social— mantém-se relativamente estável nos EUA há décadas; em relação a temas comportamentais (ex., casamento homoafetivo), há inclusive crescente convergência, não divergência.
Naquele país, a percentagem da população que não apoia o partido Democrata ou o Republicano atingiu níveis históricos: mais de 40% se declaram independentes, o que os tornou o maior grupo. Observa-se simultaneamente uma crescente e intensa animosidade entre eleitores que se identificam com aqueles partidos. Assim, há crescente polarização afetiva, que independe de preferências ideológicas. Muitos apontam para uma polarização entre antipetismo e antibolsonarismo, mas a fórmula é analiticamente pobre, porque se aplica apenas à parcela do eleitorado com alguma identificação partidária e ideológica. Aqui está ausente a dimensão de responsabilização através da qual o eleitor pune e premia o desempenho dos governos. Parcela importante de eleitores desloca-se estrategicamente em função de um cálculo sem lealdades. A própria ascensão de Bolsonaro resultou desse grupo crucial de eleitores e de sua rejeição a uma sucessão de cataclismos; mas poderá se voltar contra ele dado o quadro de descalabro atual. A polarização recrudescerá independentemente dos incentivos estratégicos à moderação; será tanto maior quanto mais competitivo o pleito. No entanto, o eleitor decisivo não será a parcela hiperpolarizada do eleitorado, mas o eleitor volátil. A chave da questão é se sua memória de 2018 ainda estará ativa. Minha conjectura é de que sim.

PAINEL - *”Cúpula do Congresso e ministros agem para que Bolsonaro escolha Ludhmila apesar de ataques de sua base”*: Parlamentares da cúpula do Congresso e ministros passaram a atuar junto a Jair Bolsonaro em defesa de Ludhmila Hajjar para o Ministério da Saúde assim que ela se tornou alvo de apoiadores do presidente. A médica também já se declarou a favor de medidas restritivas na pandemia, o que deve ser o ponto principal de divergência com Bolsonaro. Ao Painel, Ludhmila afirmou não ter vínculo partidário. "Não tenho vínculo partidário. Não sou ligada politicamente a ninguém. Sou médica", disse. O presidente Bolsonaro informou a aliados que ainda não tinha tomado sua decisão a respeito da substituição de Eduardo Pazuello por Ludhmila, mas que pretendia definir a questão na manhã desta segunda-feira (15).

PAINEL - *”Filhos de Bolsonaro e parlamentares aliados não comentam chance de Ludhmila ser ministra”*
PAINEL - *”CPI de vacinação irregular em MG deve antecipar embate de 2022 entre Kalil e Zema”*

PAINEL - *”Relator do caso Isa Penna, Emidio propõe paridade entre homens e mulheres no Conselho de Ética da Alesp”*: O deputado estadual Emidio de Souza (PT) propôs um projeto para que a Assembleia de São Paulo tenha paridade de homens e mulheres no Conselho de Ética. A votação que beneficiou Fernando Cury (Cidadania), deputado que apalpou a colega Isa Penna (PSOL), teve duas mulheres entre nove parlamentares. Emidio foi relator do caso e acabou derrotado em sua proposta de punir Cury com seis meses de suspensão. Venceu a alternativa de 119 dias de afastamento. Revoltados com o resultado, o petista e Barros Munhoz (PSB) resolveram deixar suas cadeiras no conselho. Para garantir a paridade, Emidio propõe que o Conselho de Ética seja formado por dez, não nove deputados, como é atualmente. Uma vez que o deputado que ocupa o cargo de corregedor parlamentar também tem direito a voto no colegiado, a possibilidade de empate, mesmo com dez membros, é afastada. “A paridade proposta deve-se à constatação de que o machismo e a misoginia ainda são condutas que perpassam as relações entre homens e mulheres em todas as esferas do convívio social e não é diferente, infelizmente, na Assembleia Legislativa do Estado de São Paulo”, diz Emidio.

PAINEL - *”Reunião de Febraban e B3 com Tarcísio irrita líder do centrão e tem que ser cancelada”*
*”Com decisão pró-Lula, réus devem pleitear benefício e consolidar esvaziamento de Curitiba”*

*”Evangélicos liderados por Malafaia vão a Bolsonaro para dar recado anti-Lula”* - Silas Malafaia checa o Grupo Aliança, que reúne no WhatsApp nomes conhecidos do pastorado nacional. É quinta (11), dia seguinte ao primeiro discurso que Lula (PT) deu após saber que, ao menos por ora, nenhum empecilho judicial o impede de concorrer à Presidência em 2022. O pastor da Assembleia de Deus Vitória em Cristo tinha compartilhado um vídeo em que desanca a decisão do ministro Edson Fachin, do Supremo Tribunal Federal, de anular as condenações da Lava Jato contra o ex-presidente. Estevam Hernandes, líder da Renascer em Cristo e idealizador da Marcha para Jesus, responde com emojis de aplausos, mesma reação de Abner Ferreira, à frente de uma das maiores alas da Assembleias de Deus, a Madureira, e Rina, apóstolo da Bola de Neve. Malafaia tritura as chances de o petista se reaproximar de pastores que, como ele, foram aliados seus no passado. "Lula está ferrado com os evangélicos!" Nesta segunda-feira (15), boa parte daquele grupo será recebida no Palácio do Planalto por Jair Bolsonaro: Malafaia, Estevam, Abner, Rene Terra Nova (pastor influente no Norte) e outros. A ideia, dizem, é oferecer apoio espiritual à mais alta autoridade política num período turbulento do país. Também será uma amostra da resistência que Lula terá com líderes que, exceto um ou outro, alinharam-se em peso ao PT em eleições anteriores. O mau humor aumentou com a fala do ex-presidente na quarta (10). Um trecho em particular foi mal digerido: "Muitas mortes poderiam ter sido evitadas, muitas mortes. E que o papel das igrejas é ajudar para orientar as pessoas, não é vender grão de feijão ou fazer culto cheio de gente sem máscara, dizendo que tem o remédio pra sarar".
Desde o começo da pandemia, a maioria das denominações argumenta que templos, por ofertarem socorro espiritual em tempos difíceis, devem permanecer abertos, seguindo o protocolo sanitário. "Lava a boca pra falar da igreja, cachaceiro!!!", publicou em suas redes sociais o deputado Sóstenes Cavalcante (DEM-RJ), integrante da tropa de choque de Malafaia no Legislativo. O post ecoou a irritação desses líderes com Lula, que em janeiro de 2020 orientou o PT a melhorar a comunicação com evangélicos. "Quero até fazer discussão com eles. Quero mostrar quem foi o presidente que mais os tratou com respeito", afirmou à TV do Trabalhador. Na mesma entrevista, brincou que teria até "jeitão de ser pastor, tô de cabelo branco". Esse canal, contudo, fechou. Ao menos por enquanto. "A grande maioria dos que apoiaram Lula no passado sofreram grande decepção diante de tanta corrupção e também com as medidas ideológicas que vão contra os nossos princípios", diz o apóstolo Cesar Augusto, fundador da Igreja Fonte da Vida e parte da comitiva que estará com Bolsonaro —alguém que, em sua visão, "soube interpretar os anseios do cidadão comum brasileiro, de todos que valorizam a família, o patriotismo e a fé alheia". A projeção dos votos evangélicos no segundo turno de 2006, quando Lula venceu Geraldo Alckmin (PSDB), ilustra como a predileção pelo petismo já imperou nesta parcela religiosa do eleitorado: seis em cada dez evangélicos optaram por reelegê-lo naquele ano.
A maré mudou em 2014. Aécio Neves (PSDB) obteve uma leve preferência do grupo contra Dilma (53% a 47%), segundo o Datafolha. O ponto de inflexão começava aí para engatar de vez na vitória de Bolsonaro, quando cerca de 70% dos evangélicos o preferiram a Fernando Haddad (PT). "Pela primeira vez, quase 100% dos líderes cristãos importantes apoiaram um único candidato. Há uma pequena ala que, independentemente do cenário, estará alinhada aos pensamentos dos partidos de esquerda e consequentemente com Lula", diz Rina, da Bola de Neve. "Os demais que apoiaram Lula antes não o fizeram por convicção política ou cumplicidade ideológica. Talvez por conveniência, talvez por ignorância." Para ele, "o fenômeno que ocorre hoje surgiu do fato de estar muito claro e evidente, para esta mesma liderança, a abismal incompatibilidade entre a ideologia marxista e os princípios e valores cristãos". Em 2018, um áudio de Rina circulou no WhatsApp como se fosse do padre Fábio de Mello. Dizia o pastor que, "quando vejo quem são os inimigos do Bolsonaro, eu falo 'eu tô escolhendo o cara certo para votar'". À Folha Rina afirma que, desde o resgate das eleições diretas, o Brasil evangélico nunca contou "com um candidato realmente de direita". Até 2018 O pastor Samuel Câmara, também aguardado em Brasília, diz que ladeou com Lula até sua reeleição. Não mais. É mais flexível do que colegas sobre as chances do petista se reabilitar com a liderança evangélica: "Irreversível ou impossível, não. Difícil, sim". Câmara é presidente da chamada Igreja Mãe das Assembleias de Deus no Brasil, a sede pioneira da denominação, fundada há 110 anos, em Belém (PA). Questionado se vê alguma margem para conciliação com Lula, responde com um provérbio bíblico: "É mais difícil ganhar de novo a amizade de um amigo ofendido do que conquistar uma fortaleza".
Petistas reconhecem a robustez eleitoral dos evangélicos, mas se dividem sobre como agir. Por um lado, alguns lembram que a maioria desses líderes que hoje defenestram o partido já foram aliados, assim como se juntaram a todos os governos pós-redemocratização. Ou seja, estariam onde o poder está. E não daria para abrir mão dos fiéis que os escutam —Malafaia sozinho acumula 7,5 milhões de seguidores nas três principais redes sociais no Brasil, não muito atrás dos 9 milhões que Lula soma. Por outro lado, há quem analise que a ruptura com o PT foi violenta demais para fazer as pazes agora. "Chance zero", diz Marco Feliciano (Republicanos-SP), deputado com trânsito no gabinete presidencial. Em 2010, ele exaltava Lula como "alguém que desperta a esperança no coração do povo". Hoje diz que não repetirá o erro. "Os evangélicos estarão com Bolsonaro, pois estamos certos de três coisas: a pauta de perversão dos costumes continuará paralisada, teremos um ministro evangélico no Supremo Tribunal Federal e a embaixada brasileira estará em Jerusalém." As duas últimas são promessas feitas a evangélicos que ainda não se concretizaram ainda no governo atual. Já a agenda conservadora caminha a passos lentos no Congresso. Feliciano encara como certa a polarização entre Lula e Bolsonaro em 2022. "Todas as demais candidaturas viraram pó, pois é impossível que os dois não estejam no segundo turno." Malafaia vê o cenário com mais cautela: "[Sergio] Moro pode ser um nome a despontar . A política é muito dinâmica e dá muitas voltas", diz o pastor que, em 2002, chegou a aparecer na propaganda eleitoral de Lula.

*”Há um ano, participação de Bolsonaro em ato lançou bases do negacionismo”* - Quando o comboio presidencial deixou o Palácio da Alvorada no final da manhã de 15 de março de 2020, há um ano, Jair Bolsonaro lançou as bases do que seria sua marca durante a pandemia da Covid-19 no Brasil: a inobservância de normas sanitárias básicas e o menosprezo pelo potencial de destruição do vírus. Foi naquele dia que o presidente vestiu pela primeira vez o figurino de alguém radicalmente contrário às regras de distanciamento social, promovendo aglomerações em Brasília contra orientações feitas pelo próprio Ministério da Saúde. Como era costume todos os fins de semana antes da crise, naquele domingo um grupo de jornalistas estava em frente ao Palácio da Alvorada, para caso o presidente se deslocasse a algum ponto da capital. A expectativa geral entre os repórteres era que Bolsonaro permaneceria na residência oficial, mesmo com manifestações pró-governo agendadas para o dia. Afinal, o próprio havia pedido a seus apoiadores que elas fossem postergadas em razão do risco de contaminação. Mas, ao longo da manhã, Bolsonaro realizou dezenas de postagens nas redes sociais incentivando os protestos que ocorriam país afora, a senha de que não pretendia seguir sua própria recomendação. Ao sair do Alvorada, Bolsonaro percorreu diferentes pontos de Brasília. Em seguida, entrou no Palácio do Planalto e se dirigiu à rampa principal, em frente à praça dos Três Poderes, um local que ele utilizou em outras manifestações.
O presidente então desceu a rampa, passou a esticar o braço para tocar nos manifestantes, cumprimentou-os e tirou selfies. Eram dezenas de pessoas aglomeradas em frente ao Planalto, muitos deles idosos. Bolsonaro estava acompanhado do diretor-presidente da Anvisa (Agência Nacional de Vigilância Sanitária), Antonio Barra Torres. Meses depois, o ex-ministro da Saúde, Luiz Henrique Mandetta, contou no livro “Um paciente chamado Brasil: os bastidores da luta contra o coronavírus”, que havia sido convidado por um assessor de Bolsonaro a acompanhá-lo, mas recusou. “Respondi: ‘Se ele [Bolsonaro] decidiu, que arque com as consequências. Você quer que eu faça o quê? Eu sou ministro da Saúde, não tenho o que fazer ali’”, escreveu Mandetta. Ainda em 15 de março, Mandetta deu uma entrevista à Folha na qual disse que a orientação para evitar aglomeração valia para todo mundo. Um mês depois, ele foi demitido do Ministério da Saúde. Embora a pandemia fosse o tema dominante no noticiário, naquele dia os efeitos do vírus no Brasil ainda estavam em seus estágios iniciais. Nenhuma morte havia sido noticiada —meses depois descobriu-se que ela ocorrera em 12 de março— e o total de casos confirmados estava em duas centenas. Um ano mais tarde, o cenário confirma ou mesmo supera as piores previsões. O país tem registrado recordes diários no número de mortos, acima de 2.000, em um total que já superou 270 mil, e enfrenta uma nova variante mais transmissível.
​Bolsonaro já havia dado declarações minimizando a crise que se avizinhava, mas autoridades no governo vinham acompanhando com apreensão o estrago causado pelo vírus na Europa. Além do mais, em 11 de março de 2020 a OMS (Organização Mundial da Saúde) havia oficialmente declarado que o mundo passava por uma pandemia. O surgimento da crise sanitária chocou-se logo no início com uma das principais características da base de apoio de Bolsonaro: a organização de manifestações nas ruas em defesa do governo e com diversos ataques ao Parlamento e ao STF (Supremo Tribunal Federal). Os atos eram considerados importantes por Bolsonaro não só por mobilizar sua base de apoio como por pressionar o Legislativo a levar adiante sua pauta conservadora. As manifestações de 15 de março estavam previstas desde o fim de janeiro, mas tinham ganhado novo impulso após o ministro-chefe do GSI (Gabinete de Segurança Internacional), general Augusto Heleno, ter chamado o Congresso de chantagista numa disputa entre Executivo e Legislativo pelo controle do Orçamento. Nos dias que antecederam a data, o governo se encontrou num debate sobre desencorajar ou não as manifestações. Mandetta era a principal voz contra a realização dos protestos, mas a ala ideológica do governo considerava que Bolsonaro não podia dispensar o suporte de seus simpatizantes nas ruas.
O presidente chegou a ceder aos apelos do então ministro da Saúde e, em pronunciamento e em live, pediu que as manifestações fossem adiadas. "O que devemos fazer agora é evitar que haja uma explosão de pessoas infectadas [pelo coronavírus], porque os hospitais não dariam vazão a atender tanta gente. Se o governo não tomar nenhuma providência, sobe e depois de um certo limite o sistema não suporta", disse na ocasião. Em seu livro, o ex-ministro afirma que a partir daquele 15 de março “duas mensagens começaram a circular juntas, uma se sobrepondo à outra”. “O Ministério da Saúde indicava um caminho, e o presidente enviava uma mensagem no sentido oposto, a de não respeitar as orientações do seu próprio ministério. Antes já havia essa resistência, mas não era pública”. Desde aquele 15 de março, outros dois nomes sentaram na cadeira de Mandetta: o médico Nelson Teich, que deixou o governo com menos de um mês no cargo, e o general do Exército Eduardo Pazuello. Sem conhecimento prévio na área de saúde, o atual titular da pasta tem experiência em logística e uma característica militar que agrada o presidente, a obediência ao superior hierárquico. Mas, com o agravamento da crise, aumentou a pressão popular e política pela demissão do general. Durante o fim de semana, Bolsonaro discutiu a substituição de Pazuello e recebeu no Palácio da Alvorada a médica Ludhmila Hajjar, cotada para assumir a pasta.
Ao longo do último ano, Bolsonaro abraçou o negacionismo como bandeira. Questionou a ciência, o distanciamento social, o uso de máscara e a vacina. Chamou a doença de gripezinha, disse não ser coveiro e reagiu com um emblemático "e daí" ao ser indagado, em abril do ano passado, sobre o Brasil ter ultrapassado o número de mortes da China. Durante os últimos 365 dias, Bolsonaro promoveu aglomerações, propagandeou uma cesta de medicamentos ineficazes e entrou em choque com governadores que impuseram algum tipo de limitação na circulação de pessoas. Mas diante do desgaste político na fase mais aguda da pandemia teve que ceder. Bolsonaro, assessores e filhos passaram nos últimos dias a defender a imunização contra a Covid-19 —apesar de um histórico de questionamentos à vacina— como a única arma possível de travar as mortes e estancar a sangria em sua base de apoio. No domingo (14), apoiadores de Bolsonaro fizeram nova manifestação. Uma carreata tomava as cinco faixas da Esplanada dos Ministérios entre a rodoviária e o Ministério da Saúde. Desta vez, o presidente não participou presencialmente. Apenas compartilhou vídeo do ato a favor dele e de intervenção militar, e contra o Congresso, o STF (Supremo Tribunal Federal) e medidas restritivas na capital federal.

*”Moraes, do STF, autoriza deputado Daniel Silveira a cumprir prisão domiciliar”*

CELSO ROCHA DE BARROS - *”Como Bolsonaro reagirá a Lula?”*: Como disse em meu artigo publicado na Ilustríssima, a entrada de um Lula moderado na disputa eleitoral de 2022 mudou completamente o quadro político brasileiro. Lula moderado é um polo de oposição muito mais forte do que os que havia até agora. O choque, inclusive, levou o “centro” a acelerar suas articulações por uma candidatura competitiva. Como a extrema direita que governa o Brasil desde 2019 vai reagir? No dia do discurso de Lula, a reação de Bolsonaro foi de evidente terror. Pela primeira vez em muito tempo, apareceu de máscara em uma solenidade pública. Não tenho nenhuma dúvida de que seu pessoal nas redes sociais notou que as declarações ponderadas de Lula sobre vacinas e máscaras foram bem-recebidas pelo público. Seria maravilhoso se a ameaça Lula forçasse Bolsonaro a finalmente começar a se comportar como presidente da República, mas talvez seja tarde demais. Se Jair acordou na quinta-feira decidido a se comportar como um estadista responsável para derrotar Lula, imediatamente deve ter percebido que o Jair de 2020 não comprou as vacinas que um Jair responsável de 2021 teria que aplicar. Como a única outra alternativa de combate à Covid-19, o lockdown, prejudicaria o Jair candidato de 2022, não sobrou nada de responsável para qualquer Jair fazer no Brasil da pandemia.
Sempre trabalhando com a premissa testada e provada de que Bolsonaro não fará a coisa certa, o que lhe restará? No momento, seu plano parece simples: incapaz de achar um cenário de combate à pandemia que lhe beneficie eleitoralmente, Bolsonaro vai deixar os brasileiros morrerem na fila da UTI e falar de outra coisa. Jair sabe que sua popularidade vai cair, mas aposta que não chegará a níveis de rejeição que o tornem eleitoralmente inviável. E conta que a vacinação, eventualmente, permitirá a recuperação econômica antes da eleição. Se você quer fazer uma aposta sem qualquer chance de perder, aposte que Paulo Guedes e Bolsonaro vão dizer que causaram a recuperação econômica gerada pela vacinação que sabotaram desde o início. O que é muito menos seguro é cravar se Guedes dirá isso como ministro ou como ex-ministro. Bolsonaro certamente gostaria de substitui-lo por um ministro gastador, mas o resultado eleitoral seria incerto. Certamente haveria turbulência no mercado, ela bateria no dólar, o dólar bateria nos preços, os preços bateriam nos juros, e os juros bateriam no desempenho econômico. Talvez isso melhorasse com o tempo, mas Bolsonaro tem cada vez menos tempo até a eleição.
A única certeza sobre isso tudo é que Jair Bolsonaro não perderá eleição para agradar a turma de Guedes. Mas a maior certeza sobre o que Bolsonaro fará agora que a competição eleitoral ficou mais acirrada é que jogará muito, muito sujo. Causará estrago enorme ao Brasil. Voltará a ameaçar golpe de Estado —já o fez na live de quinta-feira— aparelhará as Forças Armadas, destruirá a credibilidade de órgãos públicos, atacará a imprensa livre, disseminará notícias falsas, incentivará o conflito e a instabilidade social, enfim, fará o Brasil pagar o preço de não tê-lo impichado. Mesmo para gente que já se comportou com dignidade em outros momentos da vida, é difícil fazê-lo na hora da derrota. Imaginem para Jair Bolsonaro.
+++ O autor faz um alerta importante, Jair Bolsonaro vai jogar mais sujo do que nunca. Como reagir a isso? Desde já o PT e outros partidos podem “pressionar” o STF, o TSE e também as redes sociais online – que são suas próprias censoras – sobre práticas que não podem ser aceitas? Ou o WhatsApp que pertence ao Facebook e outras plataformas como o Youtube serão meios utilizados para violar a democracia brasileira mais uma vez?

*”Benefícios a procuradores e juízes avançam e somam R$ 543 milhões na pandemia”*

ENTREVISTA DA 2ª - *”Não dá para o PT voltar sem repartir o poder com mulheres negras, diz socióloga”*: A política brasileira precisa ser feminilizada e enegrecida para enfrentar a crise de representação que pede uma classe política mais próxima da cara da população brasileira e de seus interesses. Para a socióloga e ativista baiana Vilma Reis, 51, expoente do feminismo negro brasileiro, em 2022 "ninguém vai ter coragem de bancar uma chapa toda de homens ou toda de brancos". E, diante do retorno de Lula ao jogo político, avalia: "Não vai dar pro PT voltar a Brasília sem repartir o poder com as mulheres negras". Vilma fala de uma maré negra feminista, impulsionada pela política de cotas, que "mudou a cara da universidade pública brasileira", e potencializada pelo fenômeno Marielle Franco, cujo assassinato completou três anos no domingo (14), sem que se saiba quem foi mandante do crime. Ela cita os exemplos das deputadas federais Áurea Carolina (PSOL-MG) e Talíria Petrone (PSOL-RJ) e das deputadas estaduais Érica Malunguinho, em São Paulo, e Mônica Francisco, no Rio, ambas também do PSOL. Vilma foi Ouvidora-Geral da Defensoria Pública da Bahia por dois mandatos, e se lançou pré-candidata do PT à Prefeitura de Salvador (BA) em 2020, quando foi preterida por Major Denice, derrotada nas urnas por Bruno Reis (DEM). "Salvador tem 471 anos de história, é a cidade com mais negros no país, 85%. Nunca teve um homem negro, uma mulher negra eleitos pelo povo", diz ela, que enxerga na esquerda tradicional um negacionismo da potência feminista e antirracista.
Vilma já foi trabalhadora doméstica e que vê nos altos índices de ocupação de mulheres negras neste tipo de atividade uma manutenção das regras da escravização no mundo contemporâneo. Para ela, a PEC das Domésticas, que regrou esse tipo de contrato de trabalho, foi um dos fatores que levou à derrubada da ex-presidente Dilma Rousseff (PT), em 2016, porque gerou ódio nas classes médias. A ativista avalia que o Brasil vive um contexto de guerra às mulheres, contra o qual articula um levante feminista, com atos pelo país programados para o próximo dia 25 sob o slogan "Nem Pense em nos Matar". O movimento foi detonado pela onda de feminicídios do Natal de 2020, quando ao menos seis mulheres foram assassinadas. Vilma fala em cultura de morte e numa “pandemia de assassinatos brutais de mulheres”. O Brasil ocupa a quinta posição no ranking mundial de feminicídio da OMS (Organização Mundial da Saúde), além de ter visto as denúncias de violência doméstica à Central de Atendimento à Mulher (número 180) escalarem 27% nos dois primeiros meses de pandemia de 2020. "Nossas lágrimas são insubmissas, nos lembra a escritora Conceição Evaristo. Enquanto elas caem, a mulher traça um plano de sobrevivência."
- Por que organizar um levante feminista agora?
- Para nos organizarmos politicamente diante do nível de opressão atual, da banalização de nossas vidas e do abandono de nossas comunidades. Temos um governo hipermisógino, e o recurso para enfrentar o feminicídio e da violência contra a mulher teve execução quase zero por parte do Ministério das Mulheres, da Familia e dos Direitos Humanos —e é até uma idiossincrasia usar esse nome. A gente resolveu dar esse grito depois da matança do Natal de 2020 [quando ao menos seis mulheres foram vítimas de feminicídios no Brasil]. A violência contra a mulher é o lugar em que todas nos encontramos: brancas, negras, indígenas, héteros, LGBTQIA+, imigrantes. Há uma guerra às mulheres, e a luta é para desmobilizar essa cultura de morte.

- O que você chama de cultura de morte?
-Tem uma sociedade que não se importa com as mulheres, com os negros ou com existências LBTQIA+. E que pensa ser possível ter uma indústria sem nós, desenvolvimento sem nós. Que é possível Brasil sem nós. E não é possível. Por que o Brasil demorou tanto tempo para ter esse grau de perplexidade com a pandemia e as mortes? Porque, aqui, os que estão na fila pra morrer são vistos como são matáveis. É uma sociedade em que aqueles que poderiam fazer algo para parar a máquina de morte não carregam a perplexidade histórica que os alemães têm [em relação ao nazismo], por exemplo, ou que os americanos têm ao não usar a palavra "N" ["niger", em inglês, expressão de cunho racista para designar uma pessoa negra].

- Por quê?
- Isso tem a ver com os horrores do escravismo e com os danos que ele causou a todos. Se era possível matar milhões, e a vida de um homem negro valia só até 35 anos de idade, se foi possível o estupro colonial e a ama de leite, uma mulher negra que precisava largar o seu filho na roda dos enjeitados para dar seu leite a uma criança branca, então essa sociedade não tem poder de indignação diante da tragédia. Esse é um treinamento que essa sociedade ganhou em 355 anos de escravização. ​Essa sociedade foi destituída e altamente afetada. É essa amnésia que a resistência negra disputa ao longo de séculos.

- Você falou de uma guerra às mulheres. O que é isso?
- Desde a Constituinte de 1988, à qual as mulheres chegaram graças à movimentação conhecida como Lobby do Batom, as feministas fizeram políticas contundentes. Mas as mulheres adentraram a segunda década do século 21 de uma maneira muito empobrecida do ponto de vista das políticas de gênero. São planos, programas e secretarias pensados para o enfrentamento à misoginia e ao patriarcado foram esvaziados, perderam recursos ou foram simplesmente desmontados a partir de 2015. Em 2016 veio a pá de cal na figura da PEC 95 [do teto dos gastos], que é uma guerra contra as mulheres trabalhadoras porque diminui recursos das políticas de educação, saúde e assistência social, decisivas para quem está na ponta e é responsável pelo cuidado na sociedade, que somos nós, mulheres. Ou seja, é o próprio Estado que sabota essa mulher.

- O impacto é maior para as mulheres negras?
- Esse desmonte tem impacto direto em nossas vidas porque estamos falando de miséria em escala, e essa miséria tem cor e gênero: somos nós, mulheres negras e trabalhadoras empobrecidas, que estão em situação ferrada. Então você tem que ver isso como uma guerra. Assim como as dezenas de milhares de mães que ficam órfãs de seus filhos assassinados anualmente. Soma-se a isso as dezenas de milhares de desaparecidos. Mas o Brasil do século 21 é aquele em que não entregaremos nosso direito à representação. E aí vai ser luta.

- Como avalia a ascensão política de mulheres negras?
- É muito importante a gente discutir a maré negra feminista. O fenômeno Marielle Franco mexeu com algo que estava silenciado. E isso foi impulsionado pela ocupação mais diversa das universidades brasileiras a partir das políticas de cotas. O Brasil continuaria nas catacumbas do século 19, do Estado colonial, sem esse risco mínimo das cotas. A gente virou uma chave que é: não vamos entregar o papel de representação. Falharam no papel de nos dirigir e representar nossos interesses. Quem dorme com os olhos dos outros, não acorda na hora que quer. Vamos batalhar por uma reviravolta na representação das mulheres negras. Precisamos feminilizar e enegrecer o poder porque a nova estética política é a das mulheres negras.

- Como aumentar a representação de mulheres negras?
- Você precisa ter mecanismos institucionais formais. O TSE (Tribunal Superior Eleitoral) precisa se dar conta de que não é da Suécia ou da Alemanha. Ele é do Brasil, e tem tido uma postura blasé em relação à carnificina da não representação. O Brasil é dos poucos países que tem um tribunal para cuidar do processo eleitoral. Essa estrutura nos custa bilhões, e não tem favorecido a democracia popular. A ação que o movimento de mulheres negras fez em 2020 bateu, pela primeira vez, às portas do TSE. Foi a consulta proposta por Benedita da Silva (PT) e, em seguida, pelas mulheres do PSOL, e conquistou-se a obrigatoriedade de dividir recursos políticos com campanhas de negros. Pensamos que o Brasil deveria ter um sistema de listas fechadas e alternadas para ampliar a representação de mulheres e negros. O TSE deveria estar pensando nisso.

- Por que o Brasil ocupa o 152º lugar num ranking de representatividade política feminina com 192 países?
- O Brasil é um constrangimento mundial. A gente combate o negacionismo da extrema-direita e também de uma esquerda tradicional que nega a potência do feminismo e da luta antirracista. O país tem cerca de 35 partidos, todos controlados por homens, brancos ricos ou de classe média. A política não se torna um lugar de criatividade se você pensa com um único grupo. Olho para a Costa Rica, onde a economista negra Epsy Campbell é vice-presidenta, ou para os próprios EUA, com Kamala Harris… As eleições americanas viraram tabu entre players da política brasileira, garotos espertos da esquerda e da direita, porque, para debatê-las é preciso olhar para o Brasil, seu racismo e sua misoginia.

- Como avalia as esperanças de parte da esquerda estarem depositadas em Lula, um homem branco?
- Lula é um líder político internacional que veio da classe trabalhadora. Ele teve ministras negras, que foram alçadas ao topo da República, algo inédito. Dividiu o poder como nunca. E colocou mulheres em pastas demarcadas pela cultura do patriarcado, como Dilma Rousseff no ministério das Minas e Energia e na Casa Civil. Com Lula surgiram a a Secretaria de Promoção da Igualdade Racial e a Secretaria Especial de Políticas para as Mulheres, a partir da qual foram construídas conquistas feministas como a Lei Maria da Penha de 2006, a PEC das Domésticas de 2013 e a criminalização do feminicídio em 2015. Acho que Lula está atento. Ninguém vai ter coragem de bancar uma chapa toda de homens ou toda de brancos. Não vai dar para o PT voltar pra Brasilia sem repartir o poder com as mulheres negras.

- Por que ele não citou Dilma em seu primeiro discurso após ter os direitos políticos restituídos?
- Incomodou a muitas de nós ele não ter citado Dilma. Não sei se tinha a ver com o cálculo político, mas era importante ele ter falado em Dilma Rousseff. Essa lacuna não pode acontecer porque não se trata de qualquer assunto. [Após discurso, durante coletiva, Lula recebeu um papel de um auxiliar, leu e, logo após, afirmou ter esquecido o nome da ex-presidente. “É imperdoável eu ter esquecido”, disse.] Nós, ativistas, temos de falar cada vez mais alto para uma liderança da estatura de Lula. Não perco a esperança porque Lula nos ouviu nas cotas, que não aconteceriam fora do contexto Lula e Dilma —e olha o benefício que elas nos trouxeram. Mas isso não impede a gente de gostar, de ouvir e de ser crítica.

*”Reforma do Judiciário na Argentina emperra e opõe Fernández a Cristina”*
*”Promotoria da Bolívia pede 6 meses de prisão preventiva para Jeanine Añez”*

TODA MÍDIA - *”Bloomberg destaca 'decisões imbecis' no Brasil que virou 'colônia de leprosos'”*: Em extensa reportagem enviada de Letícia, na Colômbia, mas listando quase todos os "vizinhos nervosos" que estão fechando as fronteiras, da Venezuela ao Uruguai, a Bloomberg destacou no fim de semana: "Para o resto da América Latina, o Brasil sempre foi uma nação à parte. Hoje, é algo diferente: uma ameaça que espalha Covid e está rapidamente se tornando uma espécie de colônia de leprosos." No alto do Drudge Report, "Brasil mergulha no capítulo mais mortal da pandemia...". No New York Times, "Último homem do povo Juma morre de Covid no Brasil". A mesma Bloomberg, em newsletter, selecionou como sua frase da semana no mundo, de Lula (acima): "Este país não tem governo. Não siga nenhuma decisão imbecil do presidente ou do ministro da Saúde. Tome vacina". Também nessa linha, a revista Time destacou que Jair Bolsonaro, com "a volta de Lula à cena, agora está abraçando vacinas". E a alemã Der Spiegel, que "Bolsonaro veste pele de cordeiro, com medo da volta de Lula". Fechando o domingo, a Bloomberg despachou que o "Brasil pode substituir ministro da Saúde no auge da pandemia".
ÍNDIA E A ASTRAZENECA
No Times of India e outros jornais do país, no fim de semana, "Com aumento alarmante, Brasil supera Índia para se tornar novamente o segundo país mais atingido" pela Covid. Mas os mesmos jornais trouxeram má notícia também para seu país, "Índia revisará efeitos colaterais da AstraZeneca depois de problemas com coágulos", que vêm levando à suspensão da vacina em diversos países da Europa e da própria Ásia.
FT CONTRA LULA
Três dias após publicar um texto curto do "apresentador de TV e empreendedor" Luciano Huck, sobre meio ambiente, o inglês Financial Times produziu editorial criticando as "conseqüências infelizes da volta de Lula". Questiona o ministro Edson Fachin, "juiz indicado pelo partido de Lula", pela decisão "baseada numa mera tecnicalidade". E encerra lamentando "uma eleição polarizada, no próximo ano, entre candidatos da extrema direita e da esquerda antiquada".
'BOLSONARO'S BRAZIL'
"Embora detalhes possam não ser tão reveladores para americanos quanto aqueles envolvendo Snowden e a NSA, é um retrato fascinante da importância do jornalismo no turbulento mundo político de hoje", diz a revista Kirkus Reviews, na primeira resenha sobre o livro de Glenn Greenwald, que sai em três semanas nos EUA (capa acima). O jornalista americano, agora na plataforma Substack, tem se concentrado em questões de seu próprio país, inclusive com depoimento no Congresso. Mas voltou a tratar do Brasil nesta semana, escrevendo sobre as "muitas lições para o Ocidente" na perseguição politizada de Lula.

MATHIAS ALENCASTRO - *”Em vez da guinada ao centro, Lula e PT devem abraçar a revolução verde”*: Na semana passada, Lula inaugurou uma nova era no combate ao bolsonarismo. Mas um tema central na política brasileira passou batido: o meio ambiente. Um fato curioso, dado que nenhuma bandeira está tão associada à renovação da centro-esquerda como a luta por uma reconstrução sustentável da economia. Citado nominalmente no discurso do ex-presidente, Bernie Sanders lidera a nova geração responsável por impor a agenda climática dentro do partido democrata. Na administração Biden, ela é o denominador comum entre a ala progressista e centrista. Outra líder mencionada pelo petista, a prefeita de Paris e presidenciável Anne Hidalgo foi reeleita graças a uma estratégia de “aquisição hostil” do eleitorado ambientalista. Neste domingo, os verdes alemães consolidaram o seu poder vencendo duas eleições regionais e devem assumir um papel central no tabuleiro nacional na era pós-Merkel. Quem assumir a presidência do Brasil em 2023 terá de lidar com o “bloco verde” do Atlântico Norte. Em breve, os atores nacionais vão sentir as consequências desses desdobramentos. Prevista para novembro, a COP26 vai selar a aliança do Ocidente e das potências asiáticas em torno de uma nova agenda climática. Ela vai enterrar a ilusão dos predadores da Amazônia que acreditam ser possível ignorar o novo paradigma global e manter o Brasil competitivo no comércio internacional.
As resistências devem cair até nos setores mais conservadores. A importância do Centro-Oeste cresce exponencialmente, mas sua base eleitoral é insuficiente para pesar de maneira decisiva na construção de alianças nacionais. Cada vez mais afetadas economicamente pelas insanidades diplomáticas de Ernesto Araújo, as lideranças do setor receberão com entusiasmo um projeto de multilateralismo sustentável. Dos militantes que usavam estrelas verdes nas primeiras campanhas dos anos 1980 à participação do Brasil nas negociações do Acordo de Paris, passando pela atuação de Jaques Wagner no Senado, o PT tem uma longa história de ativismo ambiental. A guinada verde, porém, implica mudanças profundas na sua visão de desenvolvimento nacional. A barragem de Belo Monte, essa monstruosidade concebida pelos generais da ditadura e inaugurado pela presidente Dilma Rousseff, é um tipo de folia incompatível com a visão da centro-esquerda moderna. Na Petrobras, os arcaísmos dos anos 1950 devem ser substituídos por uma estratégia corajosa de transição enérgica, que assuma a transição da empresa para a economia pós-petróleo. No Brasil e alhures, a crise climática oferece uma oportunidade única para a atualização programática da centro-esquerda. Lula pode fazer a diferença na democratização da luta contra o aquecimento global. A última década deixou claro que a revolução verde não se fará com discursos pomposos repletos de expressões e siglas anglófonas como Green New Deal e ESG, mas através da mobilização das categorias populares. Mestre na arte de trazer os temas complexos para a sociedade, ele pode fazer da causa a força legitimadora do seu regresso aos palcos internacionais.

*”Em meio a 'escândalo das máscaras', partido de Merkel perde votos em 2 estados”*
*”Polícia de Londres dispersa com truculência um ato de mulheres que pediam mais segurança”*
*”Policiais contrários ao golpe fogem de Mianmar enquanto repressão violenta prossegue”*

*”Pirâmides financeiras aumentam com juros baixos e pandemia, diz relatório”*
PAINEL S.A. - *”Detenção de Gabigol em cassino na pandemia estimula nova pressão para legalizar jogos de azar”*

PAINEL S.A. - *”'Tem sido muito difícil conviver com a narrativa negacionista', diz empresário”*: Assunto que divide opiniões no empresariado brasileiro, o endurecimento das medidas para fechar o comércio e até o lockdown, são uma alternativa viável no cenário atual, na visão do empresário Eduardo Mufarej, fundador do RenovaBR, escola de formação de candidatos políticos. "Sem a cobertura de vacinação necessária e com os sistemas de saúde entrando em colapso em várias regiões, só nos resta o distanciamento social e o reforço das medidas de higiene. Para isso, a redução nas atividades e no fluxo de pessoas é uma das poucas alternativas ainda viáveis", diz. Mufarej, cuja entidade elegeu mais de 150 pessoas de 25 partidos em 2020, lamenta a condução da crise sanitária no país. Para ele, o Brasil foi muito mal, com um número de mortos e contaminados inaceitável, além do índice de vacinação aquém do necessário. "Prevaricaram com a vacina, politizaram o debate onde não havia necessidade. E questões essenciais de qualquer país civilizado, como distanciamento, álcool em gel e uso de máscara, viraram polêmica indevidamente", diz. Ele também cita a ausência de diálogo e conciliação entre união, estados e municípios como agravante para a crise. "Muitos dos temas plenamente evitáveis. Tem sido muito difícil conviver com essa narrativa negacionista", afirma o fundador do RenovaBR, que tem nomes de peso do setor privado, como Cristina Junqueira (Nubank) e Cláudio Szajman (Grupo VR), no conselho consultivo, ao lado do apresentador Luciano Huck, cotado como potencial candidato a presidente em 2022.
Sobre o retorno político de Lula, no entanto, Mufarej diz que não chegou a assistir o discurso do ex-presidente na semana passada. "Acho que a antecipação do cenário eleitoral é péssima para o Brasil. O momento é de conciliação para enfrentar a grande crise sanitária e econômica provocada pelo coronavírus, e isso só desvia o foco do que está acontecendo agora. O Brasil precisa de diálogo e união, não temos tempo nem energia para mais confrontos", afirma. Questionado para que lado pende o empresariado na polarização entre Lula e Bolsonaro, Mufarej afirma que "quem gosta do país, vive e constrói a sua vida aqui deve sempre pender para o que é melhor para o Brasil, o que se traduz em oportunidades, crescimento e a construção de uma nação onde conceitos hoje distantes como esforço coletivo, honestidade e transparência sejam resgatados". Ele afirma que a polarização representa dois projetos populistas que frustraram o Brasil. "Um já fracassou. E o outro mostra a cada dia que está no caminho errado", diz.
+++ Essa narrativa deque Lula é populista vem de muito tempo. Infelizmente, no Brasil e em boa parte da América latina o termo é utilizado para identificar políticos ou grupos que defendam a redução da desigualdade social e o aumento de direitos. É uma utilização completamente diferente da que se faz em países da Europa e até mesmo nos EUA onde o populismo é utilizado apenas para se referir a partidos de extrema-direita como é o caso de Jair Bolsonaro. Talvez a “briga” pelo uso correto desse termo valha a pena em um momento como este em que o Brasil vai se chocar consigo mesmo através do debate político.

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*”Paraná busca cilindros de oxigênio para enfrentar alta nas internações por Covid-19”*

MÔNICA BERGAMO - *”Garis de SP querem ser incluídos em grupo prioritário da vacinação contra a Covid-19”*

MÔNICA BERGAMO - *”Entidades brasileiras participarão de audiência sobre violência política na Corte Interamericana”*: Um grupo formado por sete organizações, entre elas a Associação Nacional de Travestis e Transexuais, a Rede Nacional de Negros e Negras LGBT e o Instituto Marielle Franco, participará de audiência temática sobre violência política no âmbito da Comissão Interamericana de Direitos Humanos no dia 23. O objetivo do encontro, segundo as entidades, é fornecer informações à comissão sobre a situação de violação de direitos humanos de grupos específicos e cobrar do governo federal uma atuação coordenada que responda “ao fenômeno da violência política e eleitoral” no Brasil.

MÔNICA BERGAMO - *”Associação de moradores dos Jardins quer adiar revisão do Plano Diretor”*
MÔNICA BERGAMO - *”Mathias Alencastro participa de seminário virtual sobre Brasil e África no século 21”*
MÔNICA BERGAMO - *”Ana Paula Padrão reunirá 25 líderes mulheres de diferentes setores para série de debates”*
MÔNICA BERGAMO - *”Secretaria de Cultura de SP registra público de 24 milhões de pessoas em ações virtuais em 2020”*
MÔNICA BERGAMO - *”Rodrigo Maia será entrevistado por Marcelo Tas para o programa #Provoca”*
MÔNICA BERGAMO - *”Zoológico de SP doa esqueleto de leão marinho de três metros de comprimento ao Museu Nacional”*

CAPA – Manchete principal: *”Pressionado, Bolsonaro já discute sucessão de Pazuello”*

*”Rumo ao quarto ministro – Após a morte de mais de 275 mil brasileira pela Covid, Pazuello deve sair do Ministério da Saúde”*
*”Após duras críticas, cardiologista sofre resistências”*
*”Bolsonaro é pressionado a entrar na fila da vacinação”*
*”Planalto é provocado a barrar corte de verba da PF”*
*”Moraes determina prisão domiciliar para Daniel Silveira”*

*”Integrantes do MP lançam manifesto em apoio à Lava-Jato”* - Mais de mil integrantes do Ministério Público lançaram neste sabado um manifesto de apoio ao trabalho dos procuradores da Operação Lava-Jato e criticando o que chamaram de "impropérios retóricos" dos ministros Gilmar Mendes e Ricardo Lewandowski do Supremo Tribunal Federal. Os promotores e procuradores afirmaram que todas as operações de combate à corrupção nos últimos 20 anos foram, de alguma forma, anuladas. Entre elas, citaram a Operação Banestado e a Operação Castelo de Areia. "O roteiro seguido por essas operações sempre é o mesmo: narrativas criadas pelas defesas de supostos vícios procedimentais, que são rotineiramente acolhidos pelos Tribunais Superiores. Todavia, nunca pelo conteúdo das provas, quase sempre incontrastáveis", afirmou. Na última semana, o ministro Edson Fachin anulou as condenações do ex-presidente Lula na Operação Lava-Jato. Além disso, segue em curso no Supremo o julgamento da suspeição do juiz Sergio Moro nos processos do petista, o que pude justificar pedidos similares de outros réus da operação.
Segundo os promotores e procuradores que assinaram o documento, a forma como Gilmar Mendes e Lewandowski falaram do trabalho de procuradores não está à altura do comportamento que se espera do Supremo Tribunal. "Afora a estranheza causada no referido julgamento, do qual participaram Ministros que já se manifestaram publicamente contrários à Operação Lava Jato e às autoridades que a conduziram, as palavras ofensivas dirigidas por eles aos membros do Ministério Público não refletem a dignidade do trabalho desenvolvido por estes últimos", afirmaram os procuradores. Os procuradores ainda lembraram dos resultados da Operação Lava-Jato, que incluiu 278 condenações e mais de R$ 4,3 bilhões devolvidos aos cofres públicos. O documento foi formulado em grupos de WhatsApp e alcançou mais de 1000 assinaturas em dois dias. Ao longo do documento, os promotores fazem uma defesa da atuação do Ministério Público ao longo da história e destacam a importância da instituição no Estado Democrático de Direito. "A atuação firme e independente dos membros do Ministério Público apenas evidencia o cumprimento de seus deveres constitucionais, comuns aos de outros tantos na labuta diária em suas comarcas. A construção de um Estado Democrático de Direito, que tem como alicerce o republicanismo impõe a intransigência necessária e devida com a proteção dos valores éticos, morais e probos de uma nação", afirmaram.
Confira o documento na íntegra:
Os membros do Ministério Público abaixo nominados vêm a público externar seu apoio ao trabalho dos Procuradores da República que atuaram na Operação LavaJato, diante dos impropérios retóricos lançados pelos Ministros Gilmar Mendes e Ricardo Lewandovski na sessão de julgamento do HC n° 164.493, realizada pela 2ª Turma do STF na data de 09 de março de 2021. Infelizmente, ao longo dos últimos 20 anos, a sociedade brasileira constata - de forma atônita - que praticamente todas as operações desenvolvidas pelos órgãos responsáveis pelo combate à corrupção são, em determinado momento, anuladas pelos Tribunais Superiores. Este foi o destino da “Operação Diamante”, “Operação Chacal”, “Operação Sundown/Banestado”, “Operação Boi Barrica/Faktor”, “Operação Dilúvio”, “Operação Suiça”, “Operação Castelo de Areia” e “Operação Poseidon”. O roteiro seguido por essas operações sempre é o mesmo: narrativas criadas pelas Defesas de supostos vícios procedimentais, que são rotineiramente acolhidos pelos Tribunais Superiores. Todavia, nunca pelo conteúdo das provas, quase sempre incontrastáveis. Recentemente, por exemplo, o STF anulou ação penal pelo fato de a defesa não ter apresentado memoriais, após o réu que prestou colaboração premiada, algo que não tem previsão na Lei, mas serviu como justificativa para que a sentença condenatória fosse desconsiderada. Assim, todas as operações precedentes que foram anuladas pelos tribunais superiores têm em comum com a pretensa anulação da Lava Jato a característica de sempre se acolher um entendimento que não tem sustentação em regra do ordenamento jurídico brasileiro para criar, inovar, uma nulidade inexistente, ou sem que tenha sido anteriormente reconhecida. Como resultado, todos os trabalhos de combate aos grandes esquemas de corrupção foram arruinados.
No dia 09 de março de 2021, mais uma vez, o mesmo destino recaiu sobre parte da Operação Lava Jato. Sob o pretexto de parcialidade do Magistrado e dos Procuradores da República, a 2ª Turma do STF deu andamento a mais um Habeas Corpus que pretende a anulação de processos movidos naquela operação. Independentemente do desfecho a ser dado ao referido Habeas Corpus, a forma como os Ministros Gilmar Mendes e Ricardo Lewandovski se pronunciaram sobre os Procuradores da República da Operação Lava Jato não está à altura do comportamento que se espera daqueles que integram a Corte Suprema. Afora a estranheza causada no referido julgamento, do qual participaram Ministros que já se manifestaram publicamente contrários à Operação Lava Jato e às autoridades que a conduziram, as palavras ofensivas dirigidas por eles aos membros do Ministério Público não refletem a dignidade do trabalho desenvolvido por estes últimos. Todo e qualquer membro do Ministério Público, da União ou Estadual, atua a fim de que a Lei seja cumprida e respeitada, seja pelo cidadão comum ou por qualquer político. Não é possível, em um Estado Democrático de Direito, que o peso da Justiça seja distribuído de forma diferenciada entre criminosos comuns e de colarinho branco.
Por mais que se queira, por motivos diversos, desconstruir o trabalho desenvolvido na Operação Lava Jato, jamais conseguirão apagar da consciência coletiva que tal investigação proporcionou 1.450 mandados de busca e apreensão, 211 conduções coercitivas, 132 mandados de prisão preventiva e 163 de temporária, com 130 denúncias contra 533 acusados, gerando 278 condenações (sendo 174 nomes únicos) chegando a um total de 2.611 anos de pena; mais de R$ 4,3 bilhões devolvidos aos cofres públicos por meio de 209 acordos de colaboração e 17 acordos de leniência, nos quais se ajustou a devolução de quase R$ 20 bilhões. Nenhuma narrativa será capaz de retirar da compreensão da sociedade que foi desnudado o maior esquema de corrupção construído em toda história deste país. O Ministério Público não faz diferenciação entre investigados por certidão de nascimento, cadastro por contribuinte ou pelos sinais de riquezas estampadas em suas declarações anuais de rendas, pois todos são iguais perante a Lei. Também não serve como parâmetro de distinção qualquer predicado pessoal, por cargo ou função anteriormente ocupada, pois ao Ministério Público não interessam títulos nobiliárquicos, colorações partidárias ou predileções ideológicas. Afinal, a ninguém é dado o título de porta voz ou destinatário exclusivo das angústias de uma sociedade, muito menos lhe é devido o salvo conduto para a prática de atos que frustrem as esperanças de um povo, depositadas em seus representantes elegíveis.
Ao longo das últimas décadas, o Ministério Público consolidou-se como instituição responsável por diminuir as mazelas de um povo sofrido, desprovido de seus direitos humanos mais básicos. Ao longo das últimas décadas, o Ministério Publico colocou-se como força essencial no enfrentamento de forças políticas e econômicas que impedem o livre desenvolvimento da sociedade e de sua população. Não por acaso, poucos anos atrás, o povo abraçou o Ministério Público, quando parte da classe política tentou retirar-lhe o poder investigatório concedido pelo constituinte para responsabilização de corruptos e corruptores. A atuação firme e independente dos membros do Ministério Público apenas evidencia o cumprimento de seus deveres constitucionais, comuns aos de outros tantos na labuta diária em suas comarcas. A construção de um Estado Democrático de Direito, que tem como alicerce o republicanismo impõe a intransigência necessária e devida com a proteção dos valores éticos, morais e probos de uma nação. Assim, manifestamos irrestrito e incondicional apoio aos Procuradores da República que atuaram na Operação Lava Jato e repudiamos as palavras ofensivas dirigidas a eles pelos referidos Ministros, que apenas demonstram o quão estão apartadas da construção de uma sociedade verdadeiramente livre, justa e igualitária, prevista como desiderato da Constituição Federal.

*”Legado de Pazuello – Derrota do general na gestão da pandemia tem assinatura de Bolsonaro, dizem especialistas”*
*”Protestos pelo país criticam medidas locais de restrição”*
*”Nenhum estado dá equipamentos para ministrar o ensino remoto”*

 

CAPA – Manchete principal: *”Sob pressão, Bolsonaro busca substituto para Pazuello”*

EDITORIAL DO ESTADÃO - *”Manobras contra o voto”*: O direito ao voto é elemento essencial de um Estado Democrático de Direito. Esse direito fundamental pode ser ameaçado não apenas pela suspensão de uma eleição, por exemplo. Há muitas maneiras de distorcer a expressão da vontade popular nas urnas. Em concreto, a reforma eleitoral em discussão na Câmara tem dois temas que afetam diretamente a capacidade de o eleitor definir livremente quem serão seus representantes. Há a tentativa de voltar a permitir as coligações partidárias nas eleições proporcionais. Trata-se de um claro retrocesso, cujo objetivo é revogar uma das medidas mais positivas ocorridas nos últimos anos na legislação eleitoral.
Antes de 2017, era permitido que os partidos estabelecessem coligações nas eleições proporcionais (deputado federal, deputado estadual e vereador), o que fazia com que o voto num determinado candidato pudesse eleger outro candidato, de outro partido, simplesmente em razão de uma coligação entre as legendas. Nesse sistema, o eleitor não tem controle sobre os efeitos do seu voto, o que traz problemas sérios em relação à representação. Perante esse problema, o Congresso aprovou a Emenda Constitucional (EC) 97/2017, proibindo as coligações partidárias nas eleições proporcionais, com vigência a partir de 2020. Foi uma importante conquista que, até o momento, só foi aplicada nas eleições municipais do ano passado. Não faz nenhum sentido que, antes mesmo de começar a produzir seus efeitos nas esferas federal e estadual, a proibição das coligações seja revista. Vale lembrar que se trata de matéria constitucional, aprovada em 2017 por mais de três quintos das duas Casas Legislativas, em dois turnos. A pretensão de revisar agora a proibição das coligações partidárias em eleições proporcionais manifesta descaso com a Constituição, que deve dispor de um mínimo de estabilidade e perenidade, bem como com o próprio Legislativo, que há pouco se debruçou sobre o tema e proferiu uma decisão.
O segundo tema capaz de piorar a qualidade da representação refere-se à criação do chamado “distritão”. Ressalta-se que, apesar do nome, essa medida nada tem a ver com o voto distrital, vigente em muitos países. No sistema distrital, há uma divisão do território em pequenas circunscrições eleitorais, nas quais há apenas um candidato por partido, permitindo uma melhor avaliação das propostas partidárias e, por consequência, um melhor acompanhamento do candidato eleito ao longo do mandato. O voto distrital aproxima o candidato do eleitor e, com isso, contribui para diminuir o custo das campanhas eleitorais. Já no “distritão” não se trata de aproximar o eleitor dos candidatos, e sim de assegurar domínio político sobre determinado (e grande) território. A estratégia não é nada sutil. Trata-se de implantar o sistema de eleição majoritária em grandes circunscrições, chamando cada Estado de distrito.
Com isso, a representação partidária é desvalorizada. O “distritão” beneficia os candidatos conhecidos, notadamente aqueles que já têm mandato. Nessa nova dinâmica, ganham as personalidades do mundo do entretenimento e os oligarcas da política, cujos nomes são facilmente reconhecidos pelos eleitores. Saem ganhando também grupos que detêm poder territorial – milícias, igrejas e coronéis. O “distritão”, para muitos, é uma manobra para assegurar a reeleição – ou melhor, a perpetuidade – de chefes partidários e seus prepostos. Além de prejudicar a sempre necessária renovação do Legislativo, esse sistema avilta a democracia representativa, uma vez que os eleitos não representam nada senão eles mesmos, em total desacordo com o regime representativo inscrito na Constituição, com participação fundamental dos partidos. A reforma política deve aperfeiçoar o sistema, e não piorá-lo. Coligações em eleições proporcionais e “distritão” diminuem a liberdade do eleitor, seja distorcendo a vontade expressa nas urnas, seja impondo um sistema que apenas consolida o poder de alguns. A liberdade política dá direito a escolher, e não simplesmente a obedecer.

*”Bolsonaro já procura substituto para Pazuello”*
*”Médica cotada é crítica à atuação do governo”*
*”Silveira vai para prisão domiciliar com tornozeleira”*
*”Bolsonaristas fazem protestos contra o isolamento social”*

*”Integrantes do MP repudiam criticas do STF à Lava Jato”*
*”Aliado de Doria deve comandar a Alesp”*

*”Países da UE aumentam restrições com terceira onda e atrasos na vacinação”*
*”Polícia é critica após reprimir ato por morte de mulher em Londres”*
*”Repressão em Mianmar mata 40 manifestantes”*
*”MP da Bolívia pede prisão de seis meses para Añez”*

*”Na pandemia, mortes no País crescem 13,7%, sete vezes mais que média mundial”*
*”TJ-SP permite aula presencial após fase emergencial”*
*”Covid-19 deixa bebês órfãos e viúvos em luto”*
*”Ciclovias se espalham por mais 158km da capital”*

*”BC se vê forçado a elevar juros em plena crise por causa da aceleração da inflação”* - A aceleração do aumento de preços colocou o Banco Central (BC) numa situação difícil: elevar a taxa de juros em plena crise econômica e piora da pandemia da covid-19. Em um gráfico, as tendências de inflação, em alta, e da variação do PIB, em queda, mostram, no jargão de mercado, uma boca de jacaré se abrindo. Essa é uma situação de extrema anormalidade em que atividade econômica e inflação estão em sentidos opostos. A elevação dos juros pode dificultar ainda mais a retomada da economia.
A decisão desta semana será o primeiro teste e, tudo indica, o mais difícil para o presidente do BC, Roberto Campos Neto, e sua equipe. No mês passado, o Congresso aprovou a autonomia do Banco Central, com a justificativa de garantir a condução da política de juros sem pressões políticas. Com a inflação em alta, em um ritmo de 5,2% ao ano, a expectativa é que o BC comece agora a desarmar essa bomba relógio para barrar o risco de descontrole de preços, sobretudo em 2022. Será a reversão de um período longo de queda de juros, que levou a taxa Selic (os juros básicos) ao patamar histórico de 2% ao ano. A aposta do mercado é de uma elevação de 0,50 ponto porcentual na reunião do Comitê de Política Monetária (Copom) dos dias 16 e 17. A perspectiva de a economia entrar em recessão, no segundo trimestre, num quadro de recrudescimento da pandemia, combinado com medidas de isolamento, só amplia o desconforto com a medida. A inflação ficou ainda mais pressionada nos últimos tempos por iniciativas do próprio governo. A cotação do dólar subiu com os sinais contraditórios na economia dados pelo presidente Jair Bolsonaro, como a intervenção na Petrobrás, a tentativa de flexibilizar o teto de gastos (regra que limita o crescimento das despesas) e a articulação para desidratar as medidas de corte de gastos da Proposta de Emenda Constitucional (PEC) do auxílio emergencial.
O resultado: mais pressão sobre a inflação, a ponto de Campos Neto ter entrado nas negociações políticas para impedir uma derrota geral na votação, o que complicaria ainda mais o trabalho do BC na condução da política monetária (calibrar a taxa básica de juros, a Selic, para o controle da inflação). “É um sinal de desequilíbrio ter essa bomba relógio de inflação alta com uma queda do PIB já contratada”, diz Silvia Matos, pesquisadora do Instituto Brasileiro de Economia (Ibre) da Fundação Getulio Vargas. Com a inflação em 12 meses se aproximando de 7% em abril, desemprego e PIB negativo, a economia vive uma situação de estagflação (combinação de economia parada com preços em alta). “Esse é o drama para o BC. E não sabemos quanto pior pode ficar a atividade econômica por causa da pandemia. É uma das piores combinações”, diz ela, que não descarta a consolidação de um quadro recessivo em 2021, mais grave do que a estagflação. Além disso, a renda da população caiu com a fragilidade do mercado de trabalho. Nas contas do ex-secretário de Política Econômica, José Roberto Mendonça de Barros, desde setembro vem se formando um acúmulo de pressões inflacionárias, que começou a partir dos alimentos, mas que não foram levadas devidamente a sério nem pelo Ministério da Economia nem pelo BC.
Aceleração. A mudança foi muito rápida. Em julho do ano passado, diz Mendonça de Barros, a inflação estava abaixo de 2%. Em setembro começou a aumentar e terminou 2020 acima de 4%. “É uma aceleração extraordinária”, diz. Só no mês passado subiu 0,86% – a maior taxa desde 2016. Para José Júlio Senna, chefe do Centro de Estudos Monetários do Ibre, a alta da inflação é muito preocupante e o BC não pode facilitar. “Se dermos mole nesse campo, vamos continuar com os problemas que já temos e acrescentar mais um.” Ele ressalta que, no campo das commodities (produtos básicos como grãos, petróleo e minério de ferro), já houve alta de 10% em janeiro e mais 7% em fevereiro. As matérias-primas, afirma, já acumulam elevação de 75% em 12 meses. “Estamos vivendo repasses reprimidos”, enfatiza o economista.

*”Inflação em alta expõe desconforto de Bolsonaro”* - O risco de descontrole da inflação é o calcanhar de aquiles do presidente Jair Bolsonaro. Cobrado nas redes sociais pela alta da inflação, com vídeos que intitulam o movimento de alta dos preços como “Bolsocaro”, o presidente já reclamou em público diversas vezes do reajuste dos preços da carne, do arroz, do gás de cozinha e dos combustíveis. Bolsonaro sente o termômetro da população e sobe o tom de cobranças à equipe econômica, nas lives de todas as quintasfeiras, e nos encontros frequentes com simpatizantes na porta da sua residência oficial, o Palácio da Alvorada. Bolsonaro tem demonstrado cada vez mais desconforto com a combinação perversa de preços altos e desemprego, que retira o poder de compra da população e a popularidade de qualquer presidente da República.
A antecipação da corrida eleitoral pelo fator Lula, após a decisão do ministro Edson Fachin, do Supremo Tribunal Federal (STF), que anulou as condenações do ex-presidente, amplificou o risco de o presidente adotar medidas populistas para segurar os preços e aumentar os gastos públicos para garantir a sua reeleição no ano que vem. Esse temor ganhou fôlego depois que, nas últimas semanas, o presidente ameaçou intervir na Petrobrás e Eletrobrás (empresas do governo responsáveis por importantes insumos para a produção), isentou o preço dos combustíveis e patrocinou uma manobra para retirar o programa Bolsa Família do teto de gastos, a regra que limita o crescimento das despesas à variação da inflação. A consequência desses movimentos foi mais alta do dólar, que se aproximou de R$ 6 na votação da semana passada da Proposta de Emenda Constitucional (PEC) do auxílio emergencial, ingrediente adicional a retroalimentar a inflação. “Com certeza, o Banco Central vai começar a aumentar os juros e as autoridades nunca gostam disso”, diz o economista José Roberto Mendonça de Barros, sócio da consultoria MB Associados e colunista do Estadão. Para ele, esse será o teste do “pudim” da política populista do presidente. “Não estou otimista. A tentação populista é enorme”, prevê o economista.
Ambiente. Mendonça de Barros chama atenção para um fator que acrescenta mais um complicador: a população já se acostumou a viver com inflação baixa. Existe hoje uma geração inteira que não tem ideia do que seja viver num ambiente econômico de inflação alta. Brasileiros que nem sabem o que é isso. Essa população não aceitaria a volta da inflação de forma mais sistemática e está incomodada com a pancada de aumento de preços em plena pandemia da covid-19, que derruba o crescimento e tira emprego dos brasileiros. O ex-secretário lembra que a ex-presidente Dilma Rousseff perdeu espaço e apoio político por conta da inflação. A percepção do time de Paulo Guedes é que o ciclo de alta das commodities (produtos básicos como petróleo, grãos e minério de ferro) no mercado internacional tem potencial de “afundar” a taxa de câmbio, mas que o movimento na direção contrária – de alta do dólar que ocorreu –, é resultado do próprio governo tropeçando nos seus próprios passos. A avaliação é de que, se não fossem esses atropelos, a cotação do dólar deveria estar mais próxima de R$ 4,80. Para o economista Armando Castellar, do Instituto Brasileiro de Economia (Ibre) da Fundação Getulio Vargas, o populismo aumenta a incerteza. “O episódio da Petrobrás assusta porque deixa dúvida sobre se pode se repetir (para o lado do BC) quando começar o aperto monetário (alta dos juros básicos) que hoje em dia se faz necessário pela piora das perspectivas da inflação”, diz. Castellar avalia que esse ponto será mais sensível quando a inflação em 12 meses bater em 7% logo mais à frente. Apesar de aprovada a autonomia, Bolsonaro ainda tem de validar a renovação da diretoria do BC.

ENTREVISTA: FERNANDO HONORATO BARBOSA, economista-chefe do Bradesco - *”Se câmbio se estabiliza, consegue dissipar esse choque de inflação”*

*”Economia prevê que taxa de poupança puxará retomada”* - O recrudescimento de casos de covid-19 em 2021 e as novas restrições de locomoção impuseram um freio na recuperação da atividade econômica, mas o Ministério da Economia avalia que o Brasil terá condições de retomar o crescimento de forma mais acelerada do que em crises passadas, após a vacinação em massa da população. A aposta é que a retomada será impulsionada pela taxa de poupança acumulada desde o início da pandemia, que atingiu seu maior valor em cinco anos. Essa poupança que ficou guardada estimularia o consumo e novos investimentos. Na crise de 2009, como também em 2015-2016, a taxa de poupança caiu. De 2019 para 2020, ao contrário, a taxa subiu de 12,5% para 15%. Em 2014, o patamar estava em 16,1%. No ponto mais alto de uma série com dados a partir de 2000, a taxa de poupança estava em 19,3% em 2007.
A queda do consumo inerente à restrição de oferta para alguns serviços e ao receio de contaminação, além da transferência de renda promovida pelo auxílio emergencial, promoveram uma elevação da taxa de poupança que fortalecerá a recuperação posterior. Para a equipe do ministro da Economia, Paulo Guedes, as fontes da crise, porém, só serão sanadas de forma definitiva com a vacinação em massa da população, em especial a dos mais vulneráveis à doença. Os dados levantados da equipe econômica sugerem que, diferentemente de crises passadas, a crise atual apresentou aumento robusto no saldo de crédito via bancos privados, elevação na taxa de poupança e redução da população ocupada mais intensa no setor informal (sem carteira de trabalho assinada). Em nota técnica, antecipada ao Estadão, o Ministério da Economia diz que o mercado de crédito continua robusto, sem a necessidade de aportes do governo. Esse crescimento do crédito está associado a uma maior capacidade de retomada rápida porque permitiu a preservação de empresas e da capacidade instalada.
Risco. Mas isso também significa que empresas e famílias sairão da crise mais endividadas, o que é apontado como fator de risco para a retomada, principalmente se houver alta dos juros. “Por isso, a importância de conter o risco fiscal, que é um dos fatores determinantes dos juros”, diz o secretário de Política Econômica, Adolfo Sachsida. “A crise atual apresenta melhores condições de retomada do que crises passadas”, acrescenta o secretário, responsável pela área que faz as estimativas oficiais de crescimento e outros indicadores que vão embasar o Orçamento. Ele destaca que a taxa de poupança mais alta, o crédito e o ajuste no mercado de trabalho informal sugerem que, à medida que o processo de vacinação avance, ocorra uma retomada mais forte da economia. No mercado de trabalho, a nota diz que o Benefício Emergencial (BEM), complemento de renda paga pelo governo para quem teve o salário e jornada reduzidos ou contrato suspenso, freou a queda no emprego formal. Ao mesmo tempo, o mercado de trabalho informal tende a se recuperar mais rapidamente por ser mais flexível. Mesmo com condições diferentes, o programa será prorrogado, assim como o auxílio emergencial. Na análise do governo, na crise de 2015-16 a redução na população ocupada veio principalmente do setor formal, com o setor informal agindo como um colchão de amortecimento. Já na crise de 2020 o grosso da redução na população ocupada veio do setor informal (principalmente em decorrência das medidas restritivas adotadas no combate à pandemia). No ponto mais negativo da série (agosto/2020) a população ocupada caiu 12,7%, com contribuição de 8,3% dos informais e 4,4% dos formais. Isto é, a contribuição do setor informal na queda do emprego total foi quase o dobro da enfrentada no setor formal.

 

CAPA – Manchete principal: *”Sob pressão, Bolsonaro decide trocar o ministro da Saúde”*

*”União reduz contratação de servidores e concentra admissão em temporários”* - Entre 2016 e 2020, ingresso de trabalhadores para a máquina pública caiu 42,11%

*”Economistas projetam alta de 0,5% no IBC-Br”* - Para analistas, indústria e serviços devem ser responsáveis por impulsionar o indicador

*”Indústria alerta para oferta limitada de oxigênio”* - Em reunião com a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), na sexta-feira, representantes da indústria química classificaram como preocupante a situação da oferta de oxigênio medicinal no país. Após o colapso ocorrido em Manaus, onde foram registrados casos de pessoas morrendo sufocadas, o problema mais sério continua concentrado no norte, muito por conta dos entraves logísticos típicos da região amazônica. Os executivos disseram que Acre e Rondônia têm a situação mais delicada em termos de suprimento, com estoque para apenas 13 dias - se considerada a data de hoje, apenas dez dias. O governo se comprometeu a tomar medidas para evitar a escassez nesses locais. No entanto, segundo relatos dos participantes, os problemas para a fabricação tanto de oxigênio como de cilindros, além da logística, tornam o quadro grave em todo o território nacional. Representantes da Casa Civil e dos ministérios da Saúde, Economia e Infraestrutura participaram do encontro, que também contou com a presença da Associação Brasileira da Indústria Química (Abiquim) e de empresas de produção e envase de oxigênio medicinal. Outra reunião, somente entre integrantes do governo federal, ocorreu em seguida para definir estratégias para o enfrentamento do problema e a função de cada uma das pastas. A Anvisa se colocou à disposição para facilitar a aprovação e a eventual liberação de de cargas de oxigênio.
No sábado, a agência publicou no sábado edital para que fabricantes, envasadoras e distribuidoras de oxigênio forneçam dados sobre a capacidade de fabricação, envase e distribuição, respectivos estoques disponíveis e quantidade demandada nos últimos 60 dias. Na quinta-feira, em reunião com senadores, o governador do Amazonas, Wilson Lima (PSC), disse que o problema local de oxigênio está praticamente superado.

*”Copom deve agir com calma e tranquilidade”* - Mercado pressiona por aperto monetário forte e acelerado

*”Bolsonaro procura substituto para Pazuello”* - Presidente decide trocar ministro e conversa com médica

*”General enfrentará a Justiça comum se for demitido”*
*”Cardiologista é favorável à vacinação e distanciamento”*
*”Estados vão estender restrições até domingo”* 
- Governadores vão manter medidas de restrição por mais esta semana para tentar conter o avança da pandemia

*”Estratégia para ministro desagrada Exército”* - O presidente Jair Bolsonaro e seus assessores diretos já traçaram a estratégia para o afastamento do general Eduardo Pazuello do Ministério da Saúde. Se for confirmada sua saída, Pazuello voltaria para os quadros do Exército - de onde se licenciou em maio do ano passado para assumir, primeiro interinamente, o cargo no governo - passaria ainda um passaria ainda um período na ativa e em seguida iria para a reserva, com a promessa de ser nomeado para um cargo no exterior. Confirmada e desconfirmada ontem, a demissão de Pazuello ou sua passagem para a reserva são aguardados pelo Exército há vários meses. Não foi uma ou duas vezes que oficiais fizeram chegar ao ministro o desejo do Alto Comando de que ele passasse para a reserva. O general, no entanto, sempre resistiu, ignorando a opinião generalizada de que sua permanência no cargo e no Exército era fonte do aumento do desgaste da imagem da Força. Em um momento em que o Alto Comando tem feito o possível para se desvincular do governo Bolsonaro, Pazuello passou a ser a imagem a questionar a veracidade do que se dizia. “Desde que foi para o Ministério, Pazuello deixou de ser problema nosso”, disse um graduado oficial ao comentar a hipótese de o General sair do Ministério, expressando muito mais um desejo do que uma situação real.
A ineficiência com que Pazuello conduziu o ministério da Saúde em meio a pandemia surpreendeu até àqueles que já não eram seus admiradores. Seus modos pouco afáveis e o fato de ter levado para a sua equipe direta mais de 20 militares aumentaram o desconforto em relação ao General que, em muitas ocasiões, chegava a trabalhar vestido com a farda camuflada Sem falar nas situações como uma em que apareceu ao lado de Bolsonaro, dizendo que sua função era obedecer. Alçado ao cargo pela sua suposta experiência como oficial de intendência e pela condução que dera a Operação Acolhida, Pazuello se tornou alvo tanto de piadas, quanto de severas críticas no País e no exterior. Mas o apoio dos filhos do presidente, dos generais do Planalto e de apoiadores que Bolsonaro ouve nas redes sociais vinham prolongando sua permanência no cargo. Uma das saídas encontradas pelos oficiais mais graduados foi diferenciar, na prática, o Exército das recomendações do ministério da Saúde. Assim, enquanto Bolsonaro enquadrava Pazuello para que contestasse os benefícios do isolamento e do uso de máscaras, pregasse o uso do kit preventivo - como cloroquina - os militares investiram nas práticas que seguem a orientação da Organização Mundial da Saúde e de toda a comunidade científica. Não se dá um passo nos quartéis sem ver álcool gel, o uso de máscaras é obrigatório, os postos de trabalho obedecem ao distanciamento e home office é mantido na medida do possível.
Mas o recrudescimento das mortes; a contrariedade dos governadores que passaram a administrar a falta de vacinas; a entrada de Lula na corrida eleitoral e a pressão do centrão selaram a decisão de tirar Pazuello. Até poucas semanas atrás, Bolsonaro não admitia a hipótese de descartar o auxiliar. Por isso, antes de pensar em uma função no exterior para Pazuello, Bolsonaro estudou o que parecia a saída ideal: promover o general de três estrelas ao grau de quatro estrelas, o topo da carreira. O problema é que ele é general-de-divisão da ativa. Mas é um intendente, o militar que cuida de logística, cujo topo da carreira são as três estrelas. A ideia foi estudada pela Casa Civil que a considerou exequível. Para isso bastaria alterar o decreto 3.998/2001, que regula a lei 5.8121/1972), permitindo que um intendente vire general-de-exército, quatro estrelas e o topo da carreira na Força. O problema é que o regramento interno do Exército estabelece o princípio de hierarquia. Portanto, só podem ser promovidos a oficiais-generais nomes indicados pelo Alto-Comando, um colegiado que reúne o comandante da Força e 15 chefes militares, seguindo o critério de antiguidade. Assim, embora a promoção de Pazuello seja possível, a simples ideia de Bolsonaro, ventilada no começo provocou enorme contrariedade no Alto-Comando do Exército. Se Bolsonaro insistir, ninguém consegue arriscar o tamanho da crise que pode surgir desse movimento.
+++ A forma como Jair Bolsonaro tenta avançar sobre as Forças Armadas deveria ser alvo de críticas mais constantes. Incendiário, o atual presidente da República tenta ganhar a tropa à revelia dos seus comandantes.

*”País chega a novo recorde com média de 1.832 mortes em 7 dias”*

*”Com ativismo virtual, empresários pressionam contra Bolsonaro”* - A manifestação, ao longo do domingo, por intervenção militar em defesa do presidente da República, marcou também o completo divórcio entre o bolsonarismo raiz e seus eleitores na elite econômica do país. Até o ano passado, ainda circulavam, em grupos de WhatsApp de investidores, empresários e executivos do mercado financeiro, a grande maioria ex-eleitores do presidente Jair Bolsonaro, mensagens críticas ao Supremo e ao Congresso. A partir do primeiro fim de semana de março, porém, esses mesmos grupos passaram a compartilhar conteúdos que vão da crítica contundente ao impeachment do presidente. Pelo menos dois deles, apropriados pelos compartilhamentos como material endógeno aos grupos, foram produzidos por uma dupla de comunicadores com o objetivo pré-determinado de mobilizar bolsonaristas arrependidos nesse extrato social. A inquietação, crescente desde a intervenção na Petrobras, no fim de fevereiro, transbordou com duas frases do presidente “Tem idiota que diz ‘ vai comprar vacina’. Só se for na casa da tua mãe” (4/3) e “chega de frescura e mimimi” (5/3). A indignação fez do Paraguai, onde milhões foram às ruas protestar contra o presidente Mario Abdo Benítez por má gestão da pandemia, um “benchmark”, para ficar no dialeto em questão. Apesar da indignação, havia a convicção de que a escala de mortes impede uma mobilização popular capaz de pressionar o Congresso da mesma forma. Uma saída seria barulho nas redes sociais.
As duas declarações coincidiram com o início da circulação de dois vídeos. O primeiro, postado no dia 4, o #custobolsonaro (www.youtube.com/watch?v=y7KSJgrJywI) é uma peça de 1’27”, com abordagem destinada a mobilizar esses grupos. Com recortes de jornais, do Brasil e do exterior, e a locução em off: “Você já sabe o que é o custo Bolsonaro? No fundo você já sabe. Ele está na alta do preço da gasolina e está na queda das ações da Petrobras. É a volta da forme do povo e do medo do empresário. O custo Bolsonaro é o caos no país e o vexame no exterior. É ter a moeda que mais desvalorizou no mundo e a pior gestão da pandemia. O custo Bolsonaro é a fuga dos investidores internacionais. E não dá para culpá-los. Pense bem, você confiaria seu dinheiro a essa equipe? Custo Bolsonaro é ter Damares falando na ONU e Guedes fora da OCDE. É perder a confiança da China por causa do filho do presidente, perder a confiança dos EUA por causa de mentiras do Whatsapp. É ver a Amazônia pegar fogo junto com nossos acordos comerciais. É fechar as portas para a União Europeia e virar as costas para o Mercosul. Custo Bolsonaro é perder a Ford para a Argentina. E ver o Amazonas depender do oxigênio da Venezuela. Custo Bolsonaro é ver o Queiroz mais protegido que a indústria nacional. É o prejuízo de esperar por vacina e pagar por Cloroquina. O Brasil é cheio de recursos, talentos e oportunidades, mas com o custo Bolsonaro a conta não fecha”.
“Queríamos falar para o investidor, por isso fizemos uma comunicação dirigida”, diz um de seus idealizadores, que prefere não se identificar. Disparado para grupos de Whatsapp de investidores e empresários, não custou a chegar às redes sociais abertas, como You Tube, Facebook e Twitter. As especulações sobre sua autoria iam do fundador do 3G Capital, Jorge Paulo Lehmann aos grupos de renovação política. Toda aquela mobilização, porém, havia partido de dois jovens - um fez o texto e o outro editou a imagem - a custo quase zero. Naquele dia, o IBGE anunciou a queda de 4,1% no PIB, a pior queda desde a década de 1980, comemorada por Bolsonaro como “poderia ter sido pior”. "Na impossibilidade de nos encontrarmos, a divulgação desses vídeos ajudou a catalizar reação", conta um investidor que é ativo compartilhador. Só uma pressão popular forte seria capaz de vencer as resistências do Congresso ao vice, Hamilton Mourão, não apenas por sua condição de general como pelas incertezas em relação aos arranjos de poder que levam o Congresso a comandar o Orçamento.
No dia seguinte, junto com a “frescura e o mimimi”, começou a circular o segundo vídeo da dupla (www.youtube.com/watch?v=T_nnjL_vaQA).. Com uma duração de 1:14, tinha uma abordagem mais voltada para os empregados dos grupos para os quais havia seguido o primeiro e uma pegada de vendedor de porta de loja: “Todo dia é dia de preço alto no Brasil do Bolsonaro. Batata normal de R$ 2 em 2018 para R$ 7 em 2021. Carne de segunda agora R$ 45 o kilo. Não é caro. É Bolsocaro. Arroz tão caro que é melhor trocar por macarrão. E a gasolina? Era R$ 2,50 em 2018, hoje você vai pagar R$ 5,80. E o bujão de gás? Já está R$ 100. Isso mesmo, R$ 100 o gás de cozinha. É Bolsocaro demais. Taoquei? Dólar? Tá quase R$ 6. Auxílio emergencial? Era R$ 600 agora apenas três parcelinhas de R$ 250. Cheques na conta da Michelle? Pelo menos R$ 89 mil. E a mansão do Flávio? Por R$ 6 milhões. É melhor jair-se-endividando. Aproveite nosso estoque cheio de cloroquina. Vacina contra a Covid? Essa quase não tem. Supererrado Bolsocaro. Metendo a mão no seu bolso e custando caro, muito caro”. Ecos dessa mobilização chegaram aos ouvidos do presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto, e do ministro da Economia, Paulo Guedes, que, de pronto, apareceram na conferência virtual da segunda-feira com o CEO da Pfizer, Albert Bourla, ao lado do presidente da República. Ao ver Guedes anunciando o adiantamento de 15 milhões de doses da vacina depois daquela reunião, uma liderança parlamentar lembrou-se da articulação do dono de uma grande rede de hospitais que, em janeiro, o procurou para tentar negociar a liberação da compra de vacinas em coordenação com os prefeitos dos municípios em que tem unidades hospitalares.
A articulação não foi pra frente porque a Moderna, laboratório procurado, só se comprometeu com entregas em maio. Este parlamentar teve certeza de que se tratava de jogo de cena de Guedes. Não haveria aquela disponibilidade da Pfizer para pronta-entrega. A empresa não comenta, mas os fatos subsequentes confirmariam sua percepção. A estimativa de entrega de vacinas pelo Ministério da Saúde, até o fim de março, caiu de 48,9 milhões para a metade, num intervalo de 18 dias. Os grupos de whatsapp de investidores e empresários já tinham informação, àquela altura, de que os cronogramas de entrega de vacinas do governo não se sustentavam. O presidente da Câmara, Arthur Lira (PP-AL), também transpareceu a preocupação ao divulgar, em redes sociais, a conversa com o embaixador da China no Brasil, Yan Wanming, em que fez um apelo dramático por vacinas: “Me dirijo ao governo chinês, nesse momento de grande angústia para nós brasileiros, para que nossos parceiros chineses tenham um olhar amigo, um olhar humano, um olhar solidário, que nos ajudem a superar esse momento de muita dificuldade na pandemia”. Àquela altura, já circulava um terceiro vídeo nos grupos de investidores (valor.globo.com/videos/?video_id=9346421?utm_source=twitter&utm_medium=share-player-desktop) em que as declarações de Bolsonaro de afronta ao isolamento eram contrastadas com a de seis dirigentes mundiais: Giuseppe Conte (Itália), Emmanuel Macron (França), Alberto Fernandez (Argentina), Angela Merkel (Alemanha), Cyril Ramaphosa (África do Sul), Boris Johnson (Reino Unido), Narendra Modi (India), Jacinda Ardern (Nova Zelândia) e Vladimir Putin (Rússia).
A frustração crescia junto com a certeza de que, no governo, não há ninguém capaz de operar um “gabinete de crise” para um esforço emergencial. O ministro Eduardo Pazuello, que discutiu a montagem de um grupo do gênero com os governadores, está com a cabeça a prêmio porque o presidente precisa tirar os cadáveres de suas costas. A ministra considera considerada mais eficiente do governo, Teresa Cristina, da Agricultura, está imobilizada pela vigilância sobre o secretário de Assuntos Fundiários, Nabhan Garcia, guardião dos interesses de desmatadores. O Secretário de Assuntos Estratégicos, Flávio Rocha, forma com o ministro das Comunicações, Fabio Faria, a dupla que tenta dar agilidade na reação presidencial à crise das vacinas. Eles se aproximaram na viagem que fizeram juntos à Europa e à Asia,, para conhecer os potenciais fornecedores do 5G brasileiro. Como é uma operação de imagem, porém, sem efeito real sobre a coordenação da logística de vacinação, acaba por enxugar gelo. Embora, publicamente, os ministros duelem nas redes contra os ataques a Bolsonaro, internamente se dedicam a esforços singelos como o de explicar, ao presidente da República, 270 mil mortos depois: “Não, presidente, ninguém aqui quer que o senhor abandone o spray nasal, mas o que as pessoas estão pedindo mesmo é vacina”.
Depois da cena montada no encontro da Pfizer, o ministro da Casa Civil, Paulo Guedes, dedicou-se ao esforço inútil de evitar que a PEC Emergencial desidratasse. Chegou a se deslocar até a casa do ministro do Tribunal de Contas da União, Bruno Dantas, na companhia do ministro da Casa Civil, Braga Neto, para tentar montar uma equação capaz de fazer com que o novo auxílio emergencial abrisse o menor rombo possível no Orçamento. “É muito barulho por quase nada”, definiu o diretor da Instituição Fiscal Independente, Felipe Salto, ao Valor. Parlamentares que acompanharam a saga têm a convicção de que o buraco vai extrapolar os R$ 44 bilhões definidos na PEC. Tentativas como aquela feita por Guedes de fazer caber um novo programa de redução de salário e jornada no seguro desemprego, dizem, vai dar com os burros n’água. A aposta é de que, no mínimo, o rombo no Orçamento vai a R$ 100 bilhões, mas para caber o que todos querem, precisaria chegar à metade dos R$ 600 bi do Orçamento de Guerra. Como se sabe que dólar, inflação e juro explodiriam nesse cenário se seguram, mas não de graça. Foi este Congresso que entrou em parafuso com a liberação da candidatura e com o discurso com o qual o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva mostrou que voltou ao jogo. Desmontou todos os arranjos para 2022 que vinham sendo feitos na base das lideranças que atuaram para a eleição de Lira, como o ex-prefeito de Salvador, Antonio Carlos Magalhães Neto (DEM), que sempre estiveram em campo oposto ao do PT.
Foi a vez de o próprio presidente da República entrar em ação. Enviou um emissário a São Paulo para discutir com o ministro Nunes Marques a solução para deixar Lula com uma espada na cabeça que resultou no pedido de vistas da suspeição do ex-ministro Sérgio Moro. Fez ainda uma reintrodução, mal-ajambrada, do Estado de Sítio na crônica da crise. A pretexto de criticar o toque de recolher que vem sendo decretado em vários Estados, disse que a medida só pode ser abrigada sob regras de exceção previstas na Constituição. Ninguém levou a sério. Os três quintos da chancela do Congresso são insuperáveis. Lula, porém, não desnorteou apenas o Congresso, mas os empresários que vinham buscando operar uma saída de cena institucional para Bolsonaro. Como a rejeição impera, as conversas de deslocaram para as costuras, que vêm de longe, de um nome de centro capaz de enfrentar o ex-presidente petista. O grupo, porém, não perdeu o foco. Na tarde da sexta-feira, mais um vídeo foi para o ar, com duração de um minuto, em contagem regressiva (valor.globo.com/videos/?video_id=9344590): “No tempo que você gastará para ver esse vídeo, mas um brasileiro morrerá de covid, mais 50 ficarão infectados, mais 300 sem vagas nos hospitais. Enquanto isso Bolsonaro vai negar várias vezes a pandemia, debochar de quem usa máscara, menosprezar a vacina, agredir médicos, cientistas, jornalistas e governadores. E dizer que tudo é frescura e mimimi. Enquanto isso, Lira vai engavetar mais um pedido de impeachment. E Rodrigo Pacheco vai dizer que tudo é jogo de palavras. E você, o que pensa? O que passa agora do fundo do seu coração? O que está pensando em fazer para acabar com todo esse absurdo antes que tudo vá para o espaço? Fora Bolsonaro”.

*”‘Índice de miséria’ em alta afeta popularidade de Bolsonaro”* - Inflação e desemprego elevados pioram imagem do governo

*”Debate sobre competência de foro já foi feito 20 vezes”* - PGR recorre contra decisão de Fachin sobre ações contra Lula

*”Com o pé no MDB, Maia fala em oposição a Bolsonaro”* - Prestes a se filiar ao MDB do Rio, o deputado e ex-presidente da Câmara Rodrigo Maia afirmou ontem que ele e seu grupo político irão atuar para conduzir a sigla para um ponto de oposição ao governo Jair Bolsonaro. Trata-se da continuidade de um movimento que ele vinha tentando fazer no DEM, explicou, mas que acabou atropelado pela direção do partido no contexto da disputa pela presidência da Câmara, em janeiro, eleição vencida por Arthur Lira (PP-AL). Nessa tendência, Maia aventou a possibilidade até de um futuro apoio do MDB à candidatura do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) nas eleições de 2022. “Não é um obstáculo simples. Mas o MDB já apoiou Lula”, disse. Maia, que fez uma sequência de tuítes elogiosos ao discurso de Lula na semana passada, classificou como “um gesto importante” do PT ter apoiado o candidato do MDB à presidência da Câmara, Baleia Rossi (SP), em que pese os votos do MDB a favor do impeachment da ex-presidente Dilma Rousseff, em 2016. “Então pode ocorrer [aproximação PT-MDB]”, repetiu. Ele ressaltou, porém que estava falando “como analista”, não como político, e ainda de fora do MDB. As declarações foram dadas durante um bate-papo no aplicativo Clubhouse com jornalistas do Valor e do site “El País” organizado pela consultoria Atlas Político.
Maia disse ainda que deverá levar nesta semana ao Tribunal Superior Eleitoral (TSE) seus argumentos para justificar a desfiliação do DEM. O objetivo é mostrar que está saindo por “justa causa” e evitar que o partido futuramente peça a devolução de seu mandato. Disse, no entanto, que não acredita que o DEM faria isso. E garantiu que pedirá desfiliação mesmo se houver demora no julgamento. Segundo Maia, a tendência é que o vice-governador de São Paulo, Rodrigo Garcia, também deixe o DEM, mas por outras razões. Garcia é cotado para a sucessão do atual governador e presidenciável João Doria (PSDB), hoje rompido com Bolsonaro. Questionado se o prefeito do Rio, Eduardo Paes, também deixará o DEM, respondeu que o colega faz parte de seu grupo político, mas não irá disputar eleição em 2022 e não precisa sair agora. Durante vários trechos da conversa, Maia lembrou da boa relação de Lula com empresários e com representantes do mercado financeiro durante os dois mandatos do petista (2003-2010). Lembrou que os atritos passaram a ocorrer depois, com Dilma na Presidência. E citou nominalmente três figuras “respeitadas” por agentes do mercado que participaram do governo Lula: os economistas Marcos Lisboa, Bernard Appy e Joaquim Levy.
O cientista político Andrei Roman, criador do Atlas e responsável pelas pesquisas da consultoria, avaliou as chances de um candidato de centro em 2022. Segundo ele, esse campo político, fragmentado hoje, parte de uma posição muito difícil, pois Lula e Bolsonaro já têm públicos cativos bastante consolidados. As pesquisas indicam que cerca de 40% rejeitam tanto Lula como Bolsonaro. À primeira vista, seria um espaço promissor a ser ocupado. Mas esse universo, lembrou, é composto por um contingente enorme de eleitores “apolíticos” ou “antipolíticos”: aqueles que não têm interesse algum no assunto ou que rejeitam todos os candidatos. “Há poucos que se identificam com uma posição de centro programático.”

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