CAPA – Manchete principal: *”Sob pressão, Bolsonaro busca seu quarto ministro da Saúde”* EDITORIAL DA FOLHA - *”Viés bolsonarista”*: Desde a redemocratização, a dinâmica institucional entre os Poderes Executivo e Legislativo sempre obedeceu a uma certa lógica decorrente das características imperiais do sistema presidencial do Brasil. Por regra, o Congresso seguia uma agenda ditada pelo Palácio do Planalto, desde que algumas condições fossem respeitadas, em especial divisão do butim do poder na forma de cargos e verbas. Houve distorções, como o mensalão no governo Luiz Inácio Lula da Silva, mas, passado o escândalo, o petista com força eleitoral não teve maior dificuldade em restabelecer a governabilidade. Ruptura do padrão mesmo ocorreu nos momentos em que o Executivo se mostrou enfraquecido demais. Nesses momentos, o Parlamento passou a ditar o ritmo da pauta nacional. Neste ambiente, caíram sob a espada do impeachment Fernando Collor e Dilma Rousseff. Jair Bolsonaro trouxe uma novidade ao arranjo vigente: um presidente de considerável popularidade sem apoio firme no Congresso. Em seu primeiro ano de mandato, os principais avanços legislativos tiveram mais a anuência do que a promoção ativa do governo. A tramitação da reforma da Previdência, uma obra do então presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ), exemplifica o ocorrido. Ao mesmo tempo, propostas mais polêmicas da pauta bolsonarista, como decretos armamentistas de 2019, eram derrubados. Já em 2020, quando namorou uma crise institucional, Bolsonaro viu sua agenda ser travada por Maia. Com a ascensão do centrão, personificado pelo novo chefe da Câmara, Arthur Lira (PP-AL), o jogo se realinha em favor do Planalto. A vital Comissão de Constituição e Justiça, que veta ou não qualquer matéria na casa, está na mão da bolsonarista Bia Kicis (PSL-DF), tristemente celebrizada por propagar informações falsas nas redes sociais, em particular na pandemia. Já Carla Zambelli (PSL-SP), deputada que acusou ONGs de provocar queimadas, abocanhou a Comissão do Meio Ambiente. Em comum, ambas são investigadas no inquérito dos atos antidemocráticos do Supremo Tribunal Federal. O acerto comporta outros atores. Emergindo após o episódio Joesley Batista, Aécio Neves (PSDB-MG) ganhou a Comissão de Relações Exteriores. Para horror do tucanato contrário a Bolsonaro, disse à Folha que o seu partido não tem vocação de oposição radical. Nada disso significa que o presidente vá impor sua agenda retrógrada e minoritária na sociedade, mas decerto o Congresso não ganha em altivez nem qualidade. MARCUS MELO - *”Polarização e simetria política”*: Muitos analistas têm apontado para um recrudescimento da polarização política em virtude da possível participação de Lula na eleição de 2022. O debate tem girado em torno de uma disputa entre dois extremos ideológicos e sobre o espaço para uma candidatura de centro, argumento que é criticado porque não haveria simetria ideológica ou programática: o PT e seu candidato não seriam extremistas. Há aqui um equívoco argumentativo, porque várias dimensões separadas estão justapostas. O que, ou quem, está polarizado? Partidos, políticos individuais ou o eleitorado? E mais: a polarização não se confunde com a localização de partidos ou candidatos no continuum ideológico. Como demonstrado por pesquisas empíricas, a polarização política nas democracias avançadas, sobretudo nos EUA, onde se manifestou de forma intensa, não está ancorada em divergências programáticas. Embora os políticos estejam crescentemente polarizados, muitos cidadãos convertem-se em "ideólogos sem questões", como argumenta Liliana Mason. A divergência programática em torno de políticas públicas —da econômica à social— mantém-se relativamente estável nos EUA há décadas; em relação a temas comportamentais (ex., casamento homoafetivo), há inclusive crescente convergência, não divergência. Naquele país, a percentagem da população que não apoia o partido Democrata ou o Republicano atingiu níveis históricos: mais de 40% se declaram independentes, o que os tornou o maior grupo. Observa-se simultaneamente uma crescente e intensa animosidade entre eleitores que se identificam com aqueles partidos. Assim, há crescente polarização afetiva, que independe de preferências ideológicas. Muitos apontam para uma polarização entre antipetismo e antibolsonarismo, mas a fórmula é analiticamente pobre, porque se aplica apenas à parcela do eleitorado com alguma identificação partidária e ideológica. Aqui está ausente a dimensão de responsabilização através da qual o eleitor pune e premia o desempenho dos governos. Parcela importante de eleitores desloca-se estrategicamente em função de um cálculo sem lealdades. A própria ascensão de Bolsonaro resultou desse grupo crucial de eleitores e de sua rejeição a uma sucessão de cataclismos; mas poderá se voltar contra ele dado o quadro de descalabro atual. A polarização recrudescerá independentemente dos incentivos estratégicos à moderação; será tanto maior quanto mais competitivo o pleito. No entanto, o eleitor decisivo não será a parcela hiperpolarizada do eleitorado, mas o eleitor volátil. A chave da questão é se sua memória de 2018 ainda estará ativa. Minha conjectura é de que sim. PAINEL - *”Cúpula do Congresso e ministros agem para que Bolsonaro escolha Ludhmila apesar de ataques de sua base”*: Parlamentares da cúpula do Congresso e ministros passaram a atuar junto a Jair Bolsonaro em defesa de Ludhmila Hajjar para o Ministério da Saúde assim que ela se tornou alvo de apoiadores do presidente. A médica também já se declarou a favor de medidas restritivas na pandemia, o que deve ser o ponto principal de divergência com Bolsonaro. Ao Painel, Ludhmila afirmou não ter vínculo partidário. "Não tenho vínculo partidário. Não sou ligada politicamente a ninguém. Sou médica", disse. O presidente Bolsonaro informou a aliados que ainda não tinha tomado sua decisão a respeito da substituição de Eduardo Pazuello por Ludhmila, mas que pretendia definir a questão na manhã desta segunda-feira (15). PAINEL - *”Filhos de Bolsonaro e parlamentares aliados não comentam chance de Ludhmila ser ministra”* PAINEL - *”CPI de vacinação irregular em MG deve antecipar embate de 2022 entre Kalil e Zema”* PAINEL - *”Relator do caso Isa Penna, Emidio propõe paridade entre homens e mulheres no Conselho de Ética da Alesp”*: O deputado estadual Emidio de Souza (PT) propôs um projeto para que a Assembleia de São Paulo tenha paridade de homens e mulheres no Conselho de Ética. A votação que beneficiou Fernando Cury (Cidadania), deputado que apalpou a colega Isa Penna (PSOL), teve duas mulheres entre nove parlamentares. Emidio foi relator do caso e acabou derrotado em sua proposta de punir Cury com seis meses de suspensão. Venceu a alternativa de 119 dias de afastamento. Revoltados com o resultado, o petista e Barros Munhoz (PSB) resolveram deixar suas cadeiras no conselho. Para garantir a paridade, Emidio propõe que o Conselho de Ética seja formado por dez, não nove deputados, como é atualmente. Uma vez que o deputado que ocupa o cargo de corregedor parlamentar também tem direito a voto no colegiado, a possibilidade de empate, mesmo com dez membros, é afastada. “A paridade proposta deve-se à constatação de que o machismo e a misoginia ainda são condutas que perpassam as relações entre homens e mulheres em todas as esferas do convívio social e não é diferente, infelizmente, na Assembleia Legislativa do Estado de São Paulo”, diz Emidio. PAINEL - *”Reunião de Febraban e B3 com Tarcísio irrita líder do centrão e tem que ser cancelada”* *”Com decisão pró-Lula, réus devem pleitear benefício e consolidar esvaziamento de Curitiba”* *”Evangélicos liderados por Malafaia vão a Bolsonaro para dar recado anti-Lula”* - Silas Malafaia checa o Grupo Aliança, que reúne no WhatsApp nomes conhecidos do pastorado nacional. É quinta (11), dia seguinte ao primeiro discurso que Lula (PT) deu após saber que, ao menos por ora, nenhum empecilho judicial o impede de concorrer à Presidência em 2022. O pastor da Assembleia de Deus Vitória em Cristo tinha compartilhado um vídeo em que desanca a decisão do ministro Edson Fachin, do Supremo Tribunal Federal, de anular as condenações da Lava Jato contra o ex-presidente. Estevam Hernandes, líder da Renascer em Cristo e idealizador da Marcha para Jesus, responde com emojis de aplausos, mesma reação de Abner Ferreira, à frente de uma das maiores alas da Assembleias de Deus, a Madureira, e Rina, apóstolo da Bola de Neve. Malafaia tritura as chances de o petista se reaproximar de pastores que, como ele, foram aliados seus no passado. "Lula está ferrado com os evangélicos!" Nesta segunda-feira (15), boa parte daquele grupo será recebida no Palácio do Planalto por Jair Bolsonaro: Malafaia, Estevam, Abner, Rene Terra Nova (pastor influente no Norte) e outros. A ideia, dizem, é oferecer apoio espiritual à mais alta autoridade política num período turbulento do país. Também será uma amostra da resistência que Lula terá com líderes que, exceto um ou outro, alinharam-se em peso ao PT em eleições anteriores. O mau humor aumentou com a fala do ex-presidente na quarta (10). Um trecho em particular foi mal digerido: "Muitas mortes poderiam ter sido evitadas, muitas mortes. E que o papel das igrejas é ajudar para orientar as pessoas, não é vender grão de feijão ou fazer culto cheio de gente sem máscara, dizendo que tem o remédio pra sarar". Desde o começo da pandemia, a maioria das denominações argumenta que templos, por ofertarem socorro espiritual em tempos difíceis, devem permanecer abertos, seguindo o protocolo sanitário. "Lava a boca pra falar da igreja, cachaceiro!!!", publicou em suas redes sociais o deputado Sóstenes Cavalcante (DEM-RJ), integrante da tropa de choque de Malafaia no Legislativo. O post ecoou a irritação desses líderes com Lula, que em janeiro de 2020 orientou o PT a melhorar a comunicação com evangélicos. "Quero até fazer discussão com eles. Quero mostrar quem foi o presidente que mais os tratou com respeito", afirmou à TV do Trabalhador. Na mesma entrevista, brincou que teria até "jeitão de ser pastor, tô de cabelo branco". Esse canal, contudo, fechou. Ao menos por enquanto. "A grande maioria dos que apoiaram Lula no passado sofreram grande decepção diante de tanta corrupção e também com as medidas ideológicas que vão contra os nossos princípios", diz o apóstolo Cesar Augusto, fundador da Igreja Fonte da Vida e parte da comitiva que estará com Bolsonaro —alguém que, em sua visão, "soube interpretar os anseios do cidadão comum brasileiro, de todos que valorizam a família, o patriotismo e a fé alheia". A projeção dos votos evangélicos no segundo turno de 2006, quando Lula venceu Geraldo Alckmin (PSDB), ilustra como a predileção pelo petismo já imperou nesta parcela religiosa do eleitorado: seis em cada dez evangélicos optaram por reelegê-lo naquele ano. A maré mudou em 2014. Aécio Neves (PSDB) obteve uma leve preferência do grupo contra Dilma (53% a 47%), segundo o Datafolha. O ponto de inflexão começava aí para engatar de vez na vitória de Bolsonaro, quando cerca de 70% dos evangélicos o preferiram a Fernando Haddad (PT). "Pela primeira vez, quase 100% dos líderes cristãos importantes apoiaram um único candidato. Há uma pequena ala que, independentemente do cenário, estará alinhada aos pensamentos dos partidos de esquerda e consequentemente com Lula", diz Rina, da Bola de Neve. "Os demais que apoiaram Lula antes não o fizeram por convicção política ou cumplicidade ideológica. Talvez por conveniência, talvez por ignorância." Para ele, "o fenômeno que ocorre hoje surgiu do fato de estar muito claro e evidente, para esta mesma liderança, a abismal incompatibilidade entre a ideologia marxista e os princípios e valores cristãos". Em 2018, um áudio de Rina circulou no WhatsApp como se fosse do padre Fábio de Mello. Dizia o pastor que, "quando vejo quem são os inimigos do Bolsonaro, eu falo 'eu tô escolhendo o cara certo para votar'". À Folha Rina afirma que, desde o resgate das eleições diretas, o Brasil evangélico nunca contou "com um candidato realmente de direita". Até 2018 O pastor Samuel Câmara, também aguardado em Brasília, diz que ladeou com Lula até sua reeleição. Não mais. É mais flexível do que colegas sobre as chances do petista se reabilitar com a liderança evangélica: "Irreversível ou impossível, não. Difícil, sim". Câmara é presidente da chamada Igreja Mãe das Assembleias de Deus no Brasil, a sede pioneira da denominação, fundada há 110 anos, em Belém (PA). Questionado se vê alguma margem para conciliação com Lula, responde com um provérbio bíblico: "É mais difícil ganhar de novo a amizade de um amigo ofendido do que conquistar uma fortaleza". Petistas reconhecem a robustez eleitoral dos evangélicos, mas se dividem sobre como agir. Por um lado, alguns lembram que a maioria desses líderes que hoje defenestram o partido já foram aliados, assim como se juntaram a todos os governos pós-redemocratização. Ou seja, estariam onde o poder está. E não daria para abrir mão dos fiéis que os escutam —Malafaia sozinho acumula 7,5 milhões de seguidores nas três principais redes sociais no Brasil, não muito atrás dos 9 milhões que Lula soma. Por outro lado, há quem analise que a ruptura com o PT foi violenta demais para fazer as pazes agora. "Chance zero", diz Marco Feliciano (Republicanos-SP), deputado com trânsito no gabinete presidencial. Em 2010, ele exaltava Lula como "alguém que desperta a esperança no coração do povo". Hoje diz que não repetirá o erro. "Os evangélicos estarão com Bolsonaro, pois estamos certos de três coisas: a pauta de perversão dos costumes continuará paralisada, teremos um ministro evangélico no Supremo Tribunal Federal e a embaixada brasileira estará em Jerusalém." As duas últimas são promessas feitas a evangélicos que ainda não se concretizaram ainda no governo atual. Já a agenda conservadora caminha a passos lentos no Congresso. Feliciano encara como certa a polarização entre Lula e Bolsonaro em 2022. "Todas as demais candidaturas viraram pó, pois é impossível que os dois não estejam no segundo turno." Malafaia vê o cenário com mais cautela: "[Sergio] Moro pode ser um nome a despontar . A política é muito dinâmica e dá muitas voltas", diz o pastor que, em 2002, chegou a aparecer na propaganda eleitoral de Lula. *”Há um ano, participação de Bolsonaro em ato lançou bases do negacionismo”* - Quando o comboio presidencial deixou o Palácio da Alvorada no final da manhã de 15 de março de 2020, há um ano, Jair Bolsonaro lançou as bases do que seria sua marca durante a pandemia da Covid-19 no Brasil: a inobservância de normas sanitárias básicas e o menosprezo pelo potencial de destruição do vírus. Foi naquele dia que o presidente vestiu pela primeira vez o figurino de alguém radicalmente contrário às regras de distanciamento social, promovendo aglomerações em Brasília contra orientações feitas pelo próprio Ministério da Saúde. Como era costume todos os fins de semana antes da crise, naquele domingo um grupo de jornalistas estava em frente ao Palácio da Alvorada, para caso o presidente se deslocasse a algum ponto da capital. A expectativa geral entre os repórteres era que Bolsonaro permaneceria na residência oficial, mesmo com manifestações pró-governo agendadas para o dia. Afinal, o próprio havia pedido a seus apoiadores que elas fossem postergadas em razão do risco de contaminação. Mas, ao longo da manhã, Bolsonaro realizou dezenas de postagens nas redes sociais incentivando os protestos que ocorriam país afora, a senha de que não pretendia seguir sua própria recomendação. Ao sair do Alvorada, Bolsonaro percorreu diferentes pontos de Brasília. Em seguida, entrou no Palácio do Planalto e se dirigiu à rampa principal, em frente à praça dos Três Poderes, um local que ele utilizou em outras manifestações. O presidente então desceu a rampa, passou a esticar o braço para tocar nos manifestantes, cumprimentou-os e tirou selfies. Eram dezenas de pessoas aglomeradas em frente ao Planalto, muitos deles idosos. Bolsonaro estava acompanhado do diretor-presidente da Anvisa (Agência Nacional de Vigilância Sanitária), Antonio Barra Torres. Meses depois, o ex-ministro da Saúde, Luiz Henrique Mandetta, contou no livro “Um paciente chamado Brasil: os bastidores da luta contra o coronavírus”, que havia sido convidado por um assessor de Bolsonaro a acompanhá-lo, mas recusou. “Respondi: ‘Se ele [Bolsonaro] decidiu, que arque com as consequências. Você quer que eu faça o quê? Eu sou ministro da Saúde, não tenho o que fazer ali’”, escreveu Mandetta. Ainda em 15 de março, Mandetta deu uma entrevista à Folha na qual disse que a orientação para evitar aglomeração valia para todo mundo. Um mês depois, ele foi demitido do Ministério da Saúde. Embora a pandemia fosse o tema dominante no noticiário, naquele dia os efeitos do vírus no Brasil ainda estavam em seus estágios iniciais. Nenhuma morte havia sido noticiada —meses depois descobriu-se que ela ocorrera em 12 de março— e o total de casos confirmados estava em duas centenas. Um ano mais tarde, o cenário confirma ou mesmo supera as piores previsões. O país tem registrado recordes diários no número de mortos, acima de 2.000, em um total que já superou 270 mil, e enfrenta uma nova variante mais transmissível. Bolsonaro já havia dado declarações minimizando a crise que se avizinhava, mas autoridades no governo vinham acompanhando com apreensão o estrago causado pelo vírus na Europa. Além do mais, em 11 de março de 2020 a OMS (Organização Mundial da Saúde) havia oficialmente declarado que o mundo passava por uma pandemia. O surgimento da crise sanitária chocou-se logo no início com uma das principais características da base de apoio de Bolsonaro: a organização de manifestações nas ruas em defesa do governo e com diversos ataques ao Parlamento e ao STF (Supremo Tribunal Federal). Os atos eram considerados importantes por Bolsonaro não só por mobilizar sua base de apoio como por pressionar o Legislativo a levar adiante sua pauta conservadora. As manifestações de 15 de março estavam previstas desde o fim de janeiro, mas tinham ganhado novo impulso após o ministro-chefe do GSI (Gabinete de Segurança Internacional), general Augusto Heleno, ter chamado o Congresso de chantagista numa disputa entre Executivo e Legislativo pelo controle do Orçamento. Nos dias que antecederam a data, o governo se encontrou num debate sobre desencorajar ou não as manifestações. Mandetta era a principal voz contra a realização dos protestos, mas a ala ideológica do governo considerava que Bolsonaro não podia dispensar o suporte de seus simpatizantes nas ruas. O presidente chegou a ceder aos apelos do então ministro da Saúde e, em pronunciamento e em live, pediu que as manifestações fossem adiadas. "O que devemos fazer agora é evitar que haja uma explosão de pessoas infectadas [pelo coronavírus], porque os hospitais não dariam vazão a atender tanta gente. Se o governo não tomar nenhuma providência, sobe e depois de um certo limite o sistema não suporta", disse na ocasião. Em seu livro, o ex-ministro afirma que a partir daquele 15 de março “duas mensagens começaram a circular juntas, uma se sobrepondo à outra”. “O Ministério da Saúde indicava um caminho, e o presidente enviava uma mensagem no sentido oposto, a de não respeitar as orientações do seu próprio ministério. Antes já havia essa resistência, mas não era pública”. Desde aquele 15 de março, outros dois nomes sentaram na cadeira de Mandetta: o médico Nelson Teich, que deixou o governo com menos de um mês no cargo, e o general do Exército Eduardo Pazuello. Sem conhecimento prévio na área de saúde, o atual titular da pasta tem experiência em logística e uma característica militar que agrada o presidente, a obediência ao superior hierárquico. Mas, com o agravamento da crise, aumentou a pressão popular e política pela demissão do general. Durante o fim de semana, Bolsonaro discutiu a substituição de Pazuello e recebeu no Palácio da Alvorada a médica Ludhmila Hajjar, cotada para assumir a pasta. Ao longo do último ano, Bolsonaro abraçou o negacionismo como bandeira. Questionou a ciência, o distanciamento social, o uso de máscara e a vacina. Chamou a doença de gripezinha, disse não ser coveiro e reagiu com um emblemático "e daí" ao ser indagado, em abril do ano passado, sobre o Brasil ter ultrapassado o número de mortes da China. Durante os últimos 365 dias, Bolsonaro promoveu aglomerações, propagandeou uma cesta de medicamentos ineficazes e entrou em choque com governadores que impuseram algum tipo de limitação na circulação de pessoas. Mas diante do desgaste político na fase mais aguda da pandemia teve que ceder. Bolsonaro, assessores e filhos passaram nos últimos dias a defender a imunização contra a Covid-19 —apesar de um histórico de questionamentos à vacina— como a única arma possível de travar as mortes e estancar a sangria em sua base de apoio. No domingo (14), apoiadores de Bolsonaro fizeram nova manifestação. Uma carreata tomava as cinco faixas da Esplanada dos Ministérios entre a rodoviária e o Ministério da Saúde. Desta vez, o presidente não participou presencialmente. Apenas compartilhou vídeo do ato a favor dele e de intervenção militar, e contra o Congresso, o STF (Supremo Tribunal Federal) e medidas restritivas na capital federal. *”Moraes, do STF, autoriza deputado Daniel Silveira a cumprir prisão domiciliar”* CELSO ROCHA DE BARROS - *”Como Bolsonaro reagirá a Lula?”*: Como disse em meu artigo publicado na Ilustríssima, a entrada de um Lula moderado na disputa eleitoral de 2022 mudou completamente o quadro político brasileiro. Lula moderado é um polo de oposição muito mais forte do que os que havia até agora. O choque, inclusive, levou o “centro” a acelerar suas articulações por uma candidatura competitiva. Como a extrema direita que governa o Brasil desde 2019 vai reagir? No dia do discurso de Lula, a reação de Bolsonaro foi de evidente terror. Pela primeira vez em muito tempo, apareceu de máscara em uma solenidade pública. Não tenho nenhuma dúvida de que seu pessoal nas redes sociais notou que as declarações ponderadas de Lula sobre vacinas e máscaras foram bem-recebidas pelo público. Seria maravilhoso se a ameaça Lula forçasse Bolsonaro a finalmente começar a se comportar como presidente da República, mas talvez seja tarde demais. Se Jair acordou na quinta-feira decidido a se comportar como um estadista responsável para derrotar Lula, imediatamente deve ter percebido que o Jair de 2020 não comprou as vacinas que um Jair responsável de 2021 teria que aplicar. Como a única outra alternativa de combate à Covid-19, o lockdown, prejudicaria o Jair candidato de 2022, não sobrou nada de responsável para qualquer Jair fazer no Brasil da pandemia. Sempre trabalhando com a premissa testada e provada de que Bolsonaro não fará a coisa certa, o que lhe restará? No momento, seu plano parece simples: incapaz de achar um cenário de combate à pandemia que lhe beneficie eleitoralmente, Bolsonaro vai deixar os brasileiros morrerem na fila da UTI e falar de outra coisa. Jair sabe que sua popularidade vai cair, mas aposta que não chegará a níveis de rejeição que o tornem eleitoralmente inviável. E conta que a vacinação, eventualmente, permitirá a recuperação econômica antes da eleição. Se você quer fazer uma aposta sem qualquer chance de perder, aposte que Paulo Guedes e Bolsonaro vão dizer que causaram a recuperação econômica gerada pela vacinação que sabotaram desde o início. O que é muito menos seguro é cravar se Guedes dirá isso como ministro ou como ex-ministro. Bolsonaro certamente gostaria de substitui-lo por um ministro gastador, mas o resultado eleitoral seria incerto. Certamente haveria turbulência no mercado, ela bateria no dólar, o dólar bateria nos preços, os preços bateriam nos juros, e os juros bateriam no desempenho econômico. Talvez isso melhorasse com o tempo, mas Bolsonaro tem cada vez menos tempo até a eleição. A única certeza sobre isso tudo é que Jair Bolsonaro não perderá eleição para agradar a turma de Guedes. Mas a maior certeza sobre o que Bolsonaro fará agora que a competição eleitoral ficou mais acirrada é que jogará muito, muito sujo. Causará estrago enorme ao Brasil. Voltará a ameaçar golpe de Estado —já o fez na live de quinta-feira— aparelhará as Forças Armadas, destruirá a credibilidade de órgãos públicos, atacará a imprensa livre, disseminará notícias falsas, incentivará o conflito e a instabilidade social, enfim, fará o Brasil pagar o preço de não tê-lo impichado. Mesmo para gente que já se comportou com dignidade em outros momentos da vida, é difícil fazê-lo na hora da derrota. Imaginem para Jair Bolsonaro. +++ O autor faz um alerta importante, Jair Bolsonaro vai jogar mais sujo do que nunca. Como reagir a isso? Desde já o PT e outros partidos podem “pressionar” o STF, o TSE e também as redes sociais online – que são suas próprias censoras – sobre práticas que não podem ser aceitas? Ou o WhatsApp que pertence ao Facebook e outras plataformas como o Youtube serão meios utilizados para violar a democracia brasileira mais uma vez? *”Benefícios a procuradores e juízes avançam e somam R$ 543 milhões na pandemia”* ENTREVISTA DA 2ª - *”Não dá para o PT voltar sem repartir o poder com mulheres negras, diz socióloga”*: A política brasileira precisa ser feminilizada e enegrecida para enfrentar a crise de representação que pede uma classe política mais próxima da cara da população brasileira e de seus interesses. Para a socióloga e ativista baiana Vilma Reis, 51, expoente do feminismo negro brasileiro, em 2022 "ninguém vai ter coragem de bancar uma chapa toda de homens ou toda de brancos". E, diante do retorno de Lula ao jogo político, avalia: "Não vai dar pro PT voltar a Brasília sem repartir o poder com as mulheres negras". Vilma fala de uma maré negra feminista, impulsionada pela política de cotas, que "mudou a cara da universidade pública brasileira", e potencializada pelo fenômeno Marielle Franco, cujo assassinato completou três anos no domingo (14), sem que se saiba quem foi mandante do crime. Ela cita os exemplos das deputadas federais Áurea Carolina (PSOL-MG) e Talíria Petrone (PSOL-RJ) e das deputadas estaduais Érica Malunguinho, em São Paulo, e Mônica Francisco, no Rio, ambas também do PSOL. Vilma foi Ouvidora-Geral da Defensoria Pública da Bahia por dois mandatos, e se lançou pré-candidata do PT à Prefeitura de Salvador (BA) em 2020, quando foi preterida por Major Denice, derrotada nas urnas por Bruno Reis (DEM). "Salvador tem 471 anos de história, é a cidade com mais negros no país, 85%. Nunca teve um homem negro, uma mulher negra eleitos pelo povo", diz ela, que enxerga na esquerda tradicional um negacionismo da potência feminista e antirracista. Vilma já foi trabalhadora doméstica e que vê nos altos índices de ocupação de mulheres negras neste tipo de atividade uma manutenção das regras da escravização no mundo contemporâneo. Para ela, a PEC das Domésticas, que regrou esse tipo de contrato de trabalho, foi um dos fatores que levou à derrubada da ex-presidente Dilma Rousseff (PT), em 2016, porque gerou ódio nas classes médias. A ativista avalia que o Brasil vive um contexto de guerra às mulheres, contra o qual articula um levante feminista, com atos pelo país programados para o próximo dia 25 sob o slogan "Nem Pense em nos Matar". O movimento foi detonado pela onda de feminicídios do Natal de 2020, quando ao menos seis mulheres foram assassinadas. Vilma fala em cultura de morte e numa “pandemia de assassinatos brutais de mulheres”. O Brasil ocupa a quinta posição no ranking mundial de feminicídio da OMS (Organização Mundial da Saúde), além de ter visto as denúncias de violência doméstica à Central de Atendimento à Mulher (número 180) escalarem 27% nos dois primeiros meses de pandemia de 2020. "Nossas lágrimas são insubmissas, nos lembra a escritora Conceição Evaristo. Enquanto elas caem, a mulher traça um plano de sobrevivência." - Por que organizar um levante feminista agora? - Para nos organizarmos politicamente diante do nível de opressão atual, da banalização de nossas vidas e do abandono de nossas comunidades. Temos um governo hipermisógino, e o recurso para enfrentar o feminicídio e da violência contra a mulher teve execução quase zero por parte do Ministério das Mulheres, da Familia e dos Direitos Humanos —e é até uma idiossincrasia usar esse nome. A gente resolveu dar esse grito depois da matança do Natal de 2020 [quando ao menos seis mulheres foram vítimas de feminicídios no Brasil]. A violência contra a mulher é o lugar em que todas nos encontramos: brancas, negras, indígenas, héteros, LGBTQIA+, imigrantes. Há uma guerra às mulheres, e a luta é para desmobilizar essa cultura de morte. - O que você chama de cultura de morte? -Tem uma sociedade que não se importa com as mulheres, com os negros ou com existências LBTQIA+. E que pensa ser possível ter uma indústria sem nós, desenvolvimento sem nós. Que é possível Brasil sem nós. E não é possível. Por que o Brasil demorou tanto tempo para ter esse grau de perplexidade com a pandemia e as mortes? Porque, aqui, os que estão na fila pra morrer são vistos como são matáveis. É uma sociedade em que aqueles que poderiam fazer algo para parar a máquina de morte não carregam a perplexidade histórica que os alemães têm [em relação ao nazismo], por exemplo, ou que os americanos têm ao não usar a palavra "N" ["niger", em inglês, expressão de cunho racista para designar uma pessoa negra]. - Por quê? - Isso tem a ver com os horrores do escravismo e com os danos que ele causou a todos. Se era possível matar milhões, e a vida de um homem negro valia só até 35 anos de idade, se foi possível o estupro colonial e a ama de leite, uma mulher negra que precisava largar o seu filho na roda dos enjeitados para dar seu leite a uma criança branca, então essa sociedade não tem poder de indignação diante da tragédia. Esse é um treinamento que essa sociedade ganhou em 355 anos de escravização. Essa sociedade foi destituída e altamente afetada. É essa amnésia que a resistência negra disputa ao longo de séculos. - Você falou de uma guerra às mulheres. O que é isso? - Desde a Constituinte de 1988, à qual as mulheres chegaram graças à movimentação conhecida como Lobby do Batom, as feministas fizeram políticas contundentes. Mas as mulheres adentraram a segunda década do século 21 de uma maneira muito empobrecida do ponto de vista das políticas de gênero. São planos, programas e secretarias pensados para o enfrentamento à misoginia e ao patriarcado foram esvaziados, perderam recursos ou foram simplesmente desmontados a partir de 2015. Em 2016 veio a pá de cal na figura da PEC 95 [do teto dos gastos], que é uma guerra contra as mulheres trabalhadoras porque diminui recursos das políticas de educação, saúde e assistência social, decisivas para quem está na ponta e é responsável pelo cuidado na sociedade, que somos nós, mulheres. Ou seja, é o próprio Estado que sabota essa mulher. - O impacto é maior para as mulheres negras? - Esse desmonte tem impacto direto em nossas vidas porque estamos falando de miséria em escala, e essa miséria tem cor e gênero: somos nós, mulheres negras e trabalhadoras empobrecidas, que estão em situação ferrada. Então você tem que ver isso como uma guerra. Assim como as dezenas de milhares de mães que ficam órfãs de seus filhos assassinados anualmente. Soma-se a isso as dezenas de milhares de desaparecidos. Mas o Brasil do século 21 é aquele em que não entregaremos nosso direito à representação. E aí vai ser luta. - Como avalia a ascensão política de mulheres negras? - É muito importante a gente discutir a maré negra feminista. O fenômeno Marielle Franco mexeu com algo que estava silenciado. E isso foi impulsionado pela ocupação mais diversa das universidades brasileiras a partir das políticas de cotas. O Brasil continuaria nas catacumbas do século 19, do Estado colonial, sem esse risco mínimo das cotas. A gente virou uma chave que é: não vamos entregar o papel de representação. Falharam no papel de nos dirigir e representar nossos interesses. Quem dorme com os olhos dos outros, não acorda na hora que quer. Vamos batalhar por uma reviravolta na representação das mulheres negras. Precisamos feminilizar e enegrecer o poder porque a nova estética política é a das mulheres negras. - Como aumentar a representação de mulheres negras? - Você precisa ter mecanismos institucionais formais. O TSE (Tribunal Superior Eleitoral) precisa se dar conta de que não é da Suécia ou da Alemanha. Ele é do Brasil, e tem tido uma postura blasé em relação à carnificina da não representação. O Brasil é dos poucos países que tem um tribunal para cuidar do processo eleitoral. Essa estrutura nos custa bilhões, e não tem favorecido a democracia popular. A ação que o movimento de mulheres negras fez em 2020 bateu, pela primeira vez, às portas do TSE. Foi a consulta proposta por Benedita da Silva (PT) e, em seguida, pelas mulheres do PSOL, e conquistou-se a obrigatoriedade de dividir recursos políticos com campanhas de negros. Pensamos que o Brasil deveria ter um sistema de listas fechadas e alternadas para ampliar a representação de mulheres e negros. O TSE deveria estar pensando nisso. - Por que o Brasil ocupa o 152º lugar num ranking de representatividade política feminina com 192 países? - O Brasil é um constrangimento mundial. A gente combate o negacionismo da extrema-direita e também de uma esquerda tradicional que nega a potência do feminismo e da luta antirracista. O país tem cerca de 35 partidos, todos controlados por homens, brancos ricos ou de classe média. A política não se torna um lugar de criatividade se você pensa com um único grupo. Olho para a Costa Rica, onde a economista negra Epsy Campbell é vice-presidenta, ou para os próprios EUA, com Kamala Harris… As eleições americanas viraram tabu entre players da política brasileira, garotos espertos da esquerda e da direita, porque, para debatê-las é preciso olhar para o Brasil, seu racismo e sua misoginia. - Como avalia as esperanças de parte da esquerda estarem depositadas em Lula, um homem branco? - Lula é um líder político internacional que veio da classe trabalhadora. Ele teve ministras negras, que foram alçadas ao topo da República, algo inédito. Dividiu o poder como nunca. E colocou mulheres em pastas demarcadas pela cultura do patriarcado, como Dilma Rousseff no ministério das Minas e Energia e na Casa Civil. Com Lula surgiram a a Secretaria de Promoção da Igualdade Racial e a Secretaria Especial de Políticas para as Mulheres, a partir da qual foram construídas conquistas feministas como a Lei Maria da Penha de 2006, a PEC das Domésticas de 2013 e a criminalização do feminicídio em 2015. Acho que Lula está atento. Ninguém vai ter coragem de bancar uma chapa toda de homens ou toda de brancos. Não vai dar para o PT voltar pra Brasilia sem repartir o poder com as mulheres negras. - Por que ele não citou Dilma em seu primeiro discurso após ter os direitos políticos restituídos? - Incomodou a muitas de nós ele não ter citado Dilma. Não sei se tinha a ver com o cálculo político, mas era importante ele ter falado em Dilma Rousseff. Essa lacuna não pode acontecer porque não se trata de qualquer assunto. [Após discurso, durante coletiva, Lula recebeu um papel de um auxiliar, leu e, logo após, afirmou ter esquecido o nome da ex-presidente. “É imperdoável eu ter esquecido”, disse.] Nós, ativistas, temos de falar cada vez mais alto para uma liderança da estatura de Lula. Não perco a esperança porque Lula nos ouviu nas cotas, que não aconteceriam fora do contexto Lula e Dilma —e olha o benefício que elas nos trouxeram. Mas isso não impede a gente de gostar, de ouvir e de ser crítica. *”Reforma do Judiciário na Argentina emperra e opõe Fernández a Cristina”* *”Promotoria da Bolívia pede 6 meses de prisão preventiva para Jeanine Añez”* TODA MÍDIA - *”Bloomberg destaca 'decisões imbecis' no Brasil que virou 'colônia de leprosos'”*: Em extensa reportagem enviada de Letícia, na Colômbia, mas listando quase todos os "vizinhos nervosos" que estão fechando as fronteiras, da Venezuela ao Uruguai, a Bloomberg destacou no fim de semana: "Para o resto da América Latina, o Brasil sempre foi uma nação à parte. Hoje, é algo diferente: uma ameaça que espalha Covid e está rapidamente se tornando uma espécie de colônia de leprosos." No alto do Drudge Report, "Brasil mergulha no capítulo mais mortal da pandemia...". No New York Times, "Último homem do povo Juma morre de Covid no Brasil". A mesma Bloomberg, em newsletter, selecionou como sua frase da semana no mundo, de Lula (acima): "Este país não tem governo. Não siga nenhuma decisão imbecil do presidente ou do ministro da Saúde. Tome vacina". Também nessa linha, a revista Time destacou que Jair Bolsonaro, com "a volta de Lula à cena, agora está abraçando vacinas". E a alemã Der Spiegel, que "Bolsonaro veste pele de cordeiro, com medo da volta de Lula". Fechando o domingo, a Bloomberg despachou que o "Brasil pode substituir ministro da Saúde no auge da pandemia". ÍNDIA E A ASTRAZENECA No Times of India e outros jornais do país, no fim de semana, "Com aumento alarmante, Brasil supera Índia para se tornar novamente o segundo país mais atingido" pela Covid. Mas os mesmos jornais trouxeram má notícia também para seu país, "Índia revisará efeitos colaterais da AstraZeneca depois de problemas com coágulos", que vêm levando à suspensão da vacina em diversos países da Europa e da própria Ásia. FT CONTRA LULA Três dias após publicar um texto curto do "apresentador de TV e empreendedor" Luciano Huck, sobre meio ambiente, o inglês Financial Times produziu editorial criticando as "conseqüências infelizes da volta de Lula". Questiona o ministro Edson Fachin, "juiz indicado pelo partido de Lula", pela decisão "baseada numa mera tecnicalidade". E encerra lamentando "uma eleição polarizada, no próximo ano, entre candidatos da extrema direita e da esquerda antiquada". 'BOLSONARO'S BRAZIL' "Embora detalhes possam não ser tão reveladores para americanos quanto aqueles envolvendo Snowden e a NSA, é um retrato fascinante da importância do jornalismo no turbulento mundo político de hoje", diz a revista Kirkus Reviews, na primeira resenha sobre o livro de Glenn Greenwald, que sai em três semanas nos EUA (capa acima). O jornalista americano, agora na plataforma Substack, tem se concentrado em questões de seu próprio país, inclusive com depoimento no Congresso. Mas voltou a tratar do Brasil nesta semana, escrevendo sobre as "muitas lições para o Ocidente" na perseguição politizada de Lula. MATHIAS ALENCASTRO - *”Em vez da guinada ao centro, Lula e PT devem abraçar a revolução verde”*: Na semana passada, Lula inaugurou uma nova era no combate ao bolsonarismo. Mas um tema central na política brasileira passou batido: o meio ambiente. Um fato curioso, dado que nenhuma bandeira está tão associada à renovação da centro-esquerda como a luta por uma reconstrução sustentável da economia. Citado nominalmente no discurso do ex-presidente, Bernie Sanders lidera a nova geração responsável por impor a agenda climática dentro do partido democrata. Na administração Biden, ela é o denominador comum entre a ala progressista e centrista. Outra líder mencionada pelo petista, a prefeita de Paris e presidenciável Anne Hidalgo foi reeleita graças a uma estratégia de “aquisição hostil” do eleitorado ambientalista. Neste domingo, os verdes alemães consolidaram o seu poder vencendo duas eleições regionais e devem assumir um papel central no tabuleiro nacional na era pós-Merkel. Quem assumir a presidência do Brasil em 2023 terá de lidar com o “bloco verde” do Atlântico Norte. Em breve, os atores nacionais vão sentir as consequências desses desdobramentos. Prevista para novembro, a COP26 vai selar a aliança do Ocidente e das potências asiáticas em torno de uma nova agenda climática. Ela vai enterrar a ilusão dos predadores da Amazônia que acreditam ser possível ignorar o novo paradigma global e manter o Brasil competitivo no comércio internacional. As resistências devem cair até nos setores mais conservadores. A importância do Centro-Oeste cresce exponencialmente, mas sua base eleitoral é insuficiente para pesar de maneira decisiva na construção de alianças nacionais. Cada vez mais afetadas economicamente pelas insanidades diplomáticas de Ernesto Araújo, as lideranças do setor receberão com entusiasmo um projeto de multilateralismo sustentável. Dos militantes que usavam estrelas verdes nas primeiras campanhas dos anos 1980 à participação do Brasil nas negociações do Acordo de Paris, passando pela atuação de Jaques Wagner no Senado, o PT tem uma longa história de ativismo ambiental. A guinada verde, porém, implica mudanças profundas na sua visão de desenvolvimento nacional. A barragem de Belo Monte, essa monstruosidade concebida pelos generais da ditadura e inaugurado pela presidente Dilma Rousseff, é um tipo de folia incompatível com a visão da centro-esquerda moderna. Na Petrobras, os arcaísmos dos anos 1950 devem ser substituídos por uma estratégia corajosa de transição enérgica, que assuma a transição da empresa para a economia pós-petróleo. No Brasil e alhures, a crise climática oferece uma oportunidade única para a atualização programática da centro-esquerda. Lula pode fazer a diferença na democratização da luta contra o aquecimento global. A última década deixou claro que a revolução verde não se fará com discursos pomposos repletos de expressões e siglas anglófonas como Green New Deal e ESG, mas através da mobilização das categorias populares. Mestre na arte de trazer os temas complexos para a sociedade, ele pode fazer da causa a força legitimadora do seu regresso aos palcos internacionais. *”Em meio a 'escândalo das máscaras', partido de Merkel perde votos em 2 estados”* *”Polícia de Londres dispersa com truculência um ato de mulheres que pediam mais segurança”* *”Policiais contrários ao golpe fogem de Mianmar enquanto repressão violenta prossegue”* *”Pirâmides financeiras aumentam com juros baixos e pandemia, diz relatório”* PAINEL S.A. - *”Detenção de Gabigol em cassino na pandemia estimula nova pressão para legalizar jogos de azar”* PAINEL S.A. - *”'Tem sido muito difícil conviver com a narrativa negacionista', diz empresário”*: Assunto que divide opiniões no empresariado brasileiro, o endurecimento das medidas para fechar o comércio e até o lockdown, são uma alternativa viável no cenário atual, na visão do empresário Eduardo Mufarej, fundador do RenovaBR, escola de formação de candidatos políticos. "Sem a cobertura de vacinação necessária e com os sistemas de saúde entrando em colapso em várias regiões, só nos resta o distanciamento social e o reforço das medidas de higiene. Para isso, a redução nas atividades e no fluxo de pessoas é uma das poucas alternativas ainda viáveis", diz. Mufarej, cuja entidade elegeu mais de 150 pessoas de 25 partidos em 2020, lamenta a condução da crise sanitária no país. Para ele, o Brasil foi muito mal, com um número de mortos e contaminados inaceitável, além do índice de vacinação aquém do necessário. "Prevaricaram com a vacina, politizaram o debate onde não havia necessidade. E questões essenciais de qualquer país civilizado, como distanciamento, álcool em gel e uso de máscara, viraram polêmica indevidamente", diz. Ele também cita a ausência de diálogo e conciliação entre união, estados e municípios como agravante para a crise. "Muitos dos temas plenamente evitáveis. Tem sido muito difícil conviver com essa narrativa negacionista", afirma o fundador do RenovaBR, que tem nomes de peso do setor privado, como Cristina Junqueira (Nubank) e Cláudio Szajman (Grupo VR), no conselho consultivo, ao lado do apresentador Luciano Huck, cotado como potencial candidato a presidente em 2022. Sobre o retorno político de Lula, no entanto, Mufarej diz que não chegou a assistir o discurso do ex-presidente na semana passada. "Acho que a antecipação do cenário eleitoral é péssima para o Brasil. O momento é de conciliação para enfrentar a grande crise sanitária e econômica provocada pelo coronavírus, e isso só desvia o foco do que está acontecendo agora. O Brasil precisa de diálogo e união, não temos tempo nem energia para mais confrontos", afirma. Questionado para que lado pende o empresariado na polarização entre Lula e Bolsonaro, Mufarej afirma que "quem gosta do país, vive e constrói a sua vida aqui deve sempre pender para o que é melhor para o Brasil, o que se traduz em oportunidades, crescimento e a construção de uma nação onde conceitos hoje distantes como esforço coletivo, honestidade e transparência sejam resgatados". Ele afirma que a polarização representa dois projetos populistas que frustraram o Brasil. "Um já fracassou. E o outro mostra a cada dia que está no caminho errado", diz. +++ Essa narrativa deque Lula é populista vem de muito tempo. Infelizmente, no Brasil e em boa parte da América latina o termo é utilizado para identificar políticos ou grupos que defendam a redução da desigualdade social e o aumento de direitos. É uma utilização completamente diferente da que se faz em países da Europa e até mesmo nos EUA onde o populismo é utilizado apenas para se referir a partidos de extrema-direita como é o caso de Jair Bolsonaro. Talvez a “briga” pelo uso correto desse termo valha a pena em um momento como este em que o Brasil vai se chocar consigo mesmo através do debate político. PAINEL S.A. – *”Número de fabricantes de máscaras N95 dobra no Brasil”* PAINEL S.A. - *”Carnival prevê mais dois anos difíceis no mercado de cruzeiros marítimos”* PAINEL S.A. - *”Em meio ao desemprego, empresa de crédito universitário mira financiamento de curso rápido”* *”Saiba onde investir com a alta nos juros”* *”Mercado de escritórios de alto padrão termina 2020 com vacância alta e dúvidas”* MARCIA DESSEN - *”De quanto dinheiro você precisa para viver, do jeito que quiser viver, até o fim da vida?”* *”Seguro-desemprego de doméstico pode ter mais parcelas”* *”Folha tira dúvidas sobre a declaração do Imposto de Renda”* RONALDO LEMOS - *”Três visões sobre como salvar a internet e, por consequência, as democracias”* *”Bolsonaro deve trocar comando da Saúde diante de crise da Covid e pressão do centrão”* *”Se Pazuello sair, inquérito do STF sobre suas ações na pandemia deve ir para primeira instância”* *”Vacinação contra Covid só atingiu um terço das pessoas nos grupos prioritários, diz estudo”* *”Ao menos 72 mil pessoas internadas morreram por Covid-19 fora de um leito de UTI”* *”Paraná busca cilindros de oxigênio para enfrentar alta nas internações por Covid-19”* MÔNICA BERGAMO - *”Garis de SP querem ser incluídos em grupo prioritário da vacinação contra a Covid-19”* MÔNICA BERGAMO - *”Entidades brasileiras participarão de audiência sobre violência política na Corte Interamericana”*: Um grupo formado por sete organizações, entre elas a Associação Nacional de Travestis e Transexuais, a Rede Nacional de Negros e Negras LGBT e o Instituto Marielle Franco, participará de audiência temática sobre violência política no âmbito da Comissão Interamericana de Direitos Humanos no dia 23. O objetivo do encontro, segundo as entidades, é fornecer informações à comissão sobre a situação de violação de direitos humanos de grupos específicos e cobrar do governo federal uma atuação coordenada que responda “ao fenômeno da violência política e eleitoral” no Brasil. MÔNICA BERGAMO - *”Associação de moradores dos Jardins quer adiar revisão do Plano Diretor”* MÔNICA BERGAMO - *”Mathias Alencastro participa de seminário virtual sobre Brasil e África no século 21”* MÔNICA BERGAMO - *”Ana Paula Padrão reunirá 25 líderes mulheres de diferentes setores para série de debates”* MÔNICA BERGAMO - *”Secretaria de Cultura de SP registra público de 24 milhões de pessoas em ações virtuais em 2020”* MÔNICA BERGAMO - *”Rodrigo Maia será entrevistado por Marcelo Tas para o programa #Provoca”* MÔNICA BERGAMO - *”Zoológico de SP doa esqueleto de leão marinho de três metros de comprimento ao Museu Nacional”* |
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