O Brasil teve nesta quarta-feira um novo recorde diário de mortes por covid-19: foram 1.910 óbitos registrados em 24 horas, uma cifra assustadora, mas que ainda deve aumentar ao longo deste mês, alerta o cientista Miguel Nicolelis. Em entrevista ao repórter Felipe Betim, ele afirma que o país pode cruzar a marca de 3.000 mortes diárias nas próximas semanas. "Temos no país a reunião de todas as variantes de coronavírus, inclusive as nossas próprias. Essa é a bomba relógio. Se você foi contaminado com a variante inicial brasileira, os anticorpos que você desenvolveu são nove vezes menos eficientes para combater a nova variante amazônica", explica o cientista, que coordenou ao longo da pandemia o Comitê Científico do Consórcio Nordeste para a covid-19. Ele deixou o grupo no final de fevereiro após meses traçando previsões e orientando os governadores sobre quais medidas deveriam tomar para conter a curva de contágios e evitar o colapso de hospitais públicos e privados. “Nós vamos entrar numa situação de guerra explícita. Nós podemos ter a maior catástrofe humanitária do século XXI em nossas mãos”. projeta. Enquanto o resto do mundo vislumbra o avanço das campanhas de vacinação e queda de contágios, o Brasil se vê diante da escalada de mortes pela doença. Em São Paulo, o governador João Doria finalmente decidiu endurecer as medidas de confinamento no Estado, algo que seus conselheiros para a saúde vinham pedindo desde janeiro. Ainda assim, pressionado pelo custo político da medida, o tucano decidiu seguir permitindo atividades religiosas, por exemplo. O repórter Diogo Magri explica que a decisão de Doria —que também manterá as escolas funcionando— se dá no momento em que o Estado registra uma internação por covid-19 a cada dois minutos e se prepara para o retorno à fase vermelha, a mais rígida, a partir do próximo sábado. O panorama está longe de afetar apenas São Paulo. O Ceará também anunciou novo lockdown. Para a colunista Eliane Brum, o caos em que o país se encontra, é, na realidade, "um caos planejado", com a ação deliberada de disseminação do vírus. "Há um presidente executando uma política de morte. Não é histrionismo, não é força de expressão, não é hipérbole. É a realidade e muito mais brasileiros morrerão por causa das ações de Bolsonaro”, escreve. O presidente foi alvo nesta quarta de novos panelaços em várias cidades do país. O auge da pandemia coincide com as más notícias na economia. Nesta quarta, o IBGE informou que o PIB brasileiro retrocedeu 4,1% em decorrência da pandemia de covid-19 em 2020. É o pior resultado em 24 anos, como conta Carla Jiménez. Para economistas ouvidos por Regiane Oliveira, a indecisão do Governo federal sobre os estímulos para a economia, como o auxílio emergencial, já pôs a perder os resultados do primeiro trimestre de 2021 e aponta para um cenário de recessão econômica neste ano. O coronavírus também impactou as nossas percepções sobre as motivações e as expectativas. Em um cenário de incertezas, como o que vivemos, nosso cérebro tende a criar expectativas para lidar com a sensação incômoda de falta de controle e certezas sobre o futuro. No entanto, isso pode ser arriscado já que, se não forem alcançadas, as expectativas podem gerar frustração, é o que explica Pilar Jericó. “Não podemos relacionar nossa felicidade a que aconteçam certas coisas que não dependem de nós", escreve. Se soltarmos essa carga, afirma ela, poderemos transitar melhor pela pandemia.
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