terça-feira, 30 de março de 2021

A farra das diárias em Curitiba

 


A farra das diárias em Curitiba

Intercept publica hoje uma matéria muito importante para a compreensão do funcionamento do Ministério Público e da moralidade seletiva de seu ativismo anticorrupção. Trata-se do mesmo ativismo que mobilizou a sociedade brasileira por anos, sempre com o apoio da imprensa e a serviço de interesses eleitoreiros. No entanto, os mesmos procuradores que corriam o Brasil em campanha pelas "dez medidas contra a corrupção" não viam qualquer problema nos colegas que engordavam seus já fartos vencimentos graças a diárias pagas pelo erário. Pelo contrário, as chancelavam.

A justificativa dos procuradores é a de sempre: as diárias estão previstas em lei. Mas a reportagem da #VazaJato de hoje apresenta diversas situações em que o pagamento delas, se não foi ilegal, certamente é imoral.

Entre as histórias contadas por Vinicius Konchinski, merece destaque a do procurador Diogo Castor de Mattos. Em cinco anos, Castor recebeu 425 diárias ou R$ 373,6 mil. Dessas, 411 diárias referem-se a viagens para Curitiba, uma vez que o procurador aceitou trabalhar para a força-tarefa quando residia em Jacarezinho, Norte do Paraná. 

Só que o próprio Castor garantiu à justiça, em cinco ocasiões entre 2014 e 2019, que morava em Curitiba. Tinha, inclusive, um apartamento na cidade. E isso era de conhecimento de Deltan Dallagnol, então coordenador da Lava Jato, e de todos os demais procuradores, como deixam claro mensagens trocadas pelo aplicativo Telegram.

Por exemplo, em mensagem de 5 de dezembro de 2018, Castor convida os colegas para uma festa de fim de ano em sua casa:

Diogo Castor - 14:00:52 - pessoal, happy hour de encerramento do ano na casa do Castor, rua _______________

O caso de Diogo Castor não é o único. Kochinski também apurou a história do procurador Orlando Martello. Martello recebeu 457 diárias, ou R$ 461 mil extras. Ele está vinculado à comarca de São Paulo e recebia as diárias para trabalhar em Curitiba. Acontece que ele é casado com uma procuradora que mora na capital paranaense, e ficava na residência da família, onde vivem a esposa e o filho do casal, quando ia à cidade. Martello não só acumulou diárias, como também recebia auxílio-moradia – assim como sua esposa. 

Os diálogos da Vaza Jato demonstram que o tema não só era tratado abertamente entre os procuradores da força-tarefa, como tornou-se motivo de piada para eles. Em uma ocasião, após a imprensa noticiar a farra das diárias, os procuradores conversaram de forma jocosa:

19 de setembro de 2017 - Grupo Filhos do Januario 2
Galvão - 16:18:04 - de relevante dessa matéria, é eu verificar que ganhei muito menos diárias do que outros que ainda ficam resmungando das minhas opções de restaurante...
Jerusa Viecili 16:34:14 - quanto a mim, as diarias que recebi, em 8 meses de 2017, nao cobrem minhas despesas de aluguel e condominio em curitiba. 🤦🏻♀️
Athayde Ribeiro Costa - 16:35:57 - Acho que vale uma vaquinha com os mais probresss....
Roberson Pozzobon - 16:36:17 - Probiiiinhos
Pozzobon - 16:36:30 - Probinho do Robinho

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Editor Contribuinte Sênior

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