segunda-feira, 22 de março de 2021

Com popularidade em queda, Bolsonaro ameaça

 “Só Deus me tira daqui.” A exclamação enfurecida foi feita por Jair Bolsonaro diante de mais uma aglomeração de apoiadores na porta do Palácio da Alvorada, desta vez para celebrar os 66 anos do presidente. De máscara, Bolsonaro voltou a criticar as medidas de restrição adotadas por governadores e prefeitos e disse, em tom de ameaça: “Estão esticando a corda. Faço qualquer coisa pelo meu povo. Esse ‘qualquer coisa’ é o que está na nossa Constituição, no nosso direito de ir e vir.” O presidente sacou, ainda, outra velha ameaça. “Contem com as Forças Armadas pela democracia e pela liberdade.” (Poder360)

A preocupação de Bolsonaro com sua permanência no cargo não é injustificada. Segundo a Coluna do Estadão, líderes em Brasília, até então “avessos a solavancos”, já discutem se, diante do descontrole da Covid e da crise econômica, o impedimento do presidente paralisaria mais o país ou o faria avançar. Além disso, o Centrão está contabilizando os riscos de continuar com apoio a Bolsonaro em 2022. (Estadão)

O fato é que a crise da Covid, auxílio emergencial restrito e de valor mais baixo e o efeito da reaparição do ex-presidente Lula no cenário eleitoral ameaçam a base do governo no Congresso. A sequência de más notícias para Bolsonaro é simbolizada pela pesquisa do Datafolha segundo a qual 54% dos brasileiros consideram sua gestão da pandemia ruim ou péssima. (Folha)

Mas isto não quer dizer que Bolsonaro cogite mudar de postura em relação à Covid. Na sexta-feira, o presidente telefonou para uma rádio de Camaquã, no interior do Rio Grande do Sul, para defender ao vivo a nebulização com hidroxicloroquina em pacientes com a doença. Uma médica da cidade havia sido demitida por usar o “tratamento”, que não tem qualquer base científica. (Época)

Bruno Boghossian: “A eterna ilusão de que Bolsonaro se tornaria um governante moderado circula há dois anos em Brasília. Na pandemia, essa fantasia ainda engana autoridades que aguardam pacientemente uma mudança de comportamento na gestão da crise. Essa esperança inútil legou ao país a tragédia impulsionada pelo radicalismo mortífero do presidente.” (Folha)




Se a situação de Jair Bolsonaro não é confortável, o mesmo pode ser dito sobre o ex-presidente Lula. Segundo o Datafolha, 57% dos brasileiros consideram que ele cometeu os crimes de que é acusado na Lava-Jato, e 51% criticam a decisão do ministro do STF Edson Fachin que anulou os processos contra ele. Para 51%, o líder petista não deveria ser candidato em 2022. (Folha)




Nove advogados entraram no Supremo Tribunal Federal (STF) com um pedido de habeas corpus coletivo para impedir que cidadãos sejam investigados com base na Lei de Segurança Nacional (LSN) por se referirem a Jair Bolsonaro como “genocida”. Segundo eles, o termo usado como crítica política se enquadra na liberdade de expressão, o que também é entendimento da Defensoria Pública da União. (Estadão)

Para Fabiana Santiago, professora de Direito especializada na LSN, a aplicação da lei para enquadrar protestos contra o presidente representa uma “tentativa de impedir o jogo democrático”. Ela acha que a LSN não precisa necessariamente ser extinta, mas pode ser “mantida com recorte de artigos que remontam ao período de exceção”. (Globo)

O cerco a críticos do governo atingiu um nome de peso na última sexta-feira. A Polícia Federal abriu um inquérito contra o ex-governador e virtual candidato do PDT ao Planalto Ciro Gomes. Ordem teria partido do próprio Bolsonaro, via Ministério da Justiça. Em entrevista a uma rádio, em novembro, Ciro chamou o presidente de ladrão. (CNN Brasil)

Também na sexta-feira o presidente do STF, Luiz Fux, telefonou para Bolsonaro pedindo explicações sobre as referência deste a estado de sítio ao criticar medidas de isolamento nos estados. O presidente negou que cogite adotar alguma medida do tipo. (G1)

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