CAPA – Manchete principal: *”Com UTIs lotadas, secretários de Saúde defendem lockdown”* EDITORIAL DO ESTADÃO - *”’É preciso parar esse cara’”*: Osenador Tasso Jereissati (PSDB-CE) foi enfático: “É preciso parar esse cara”, disse, em entrevista ao Estado, referindose ao presidente Jair Bolsonaro. Político veterano, desses que já viram quase tudo na vida pública, Tasso Jereissati expressou sua estupefação com o comportamento do presidente, a quem infelizmente coube administrar o País em meio a uma das mais graves crises da história. Bolsonaro não se limita a ser irresponsável ou omisso. Tornou-se nocivo, ao atrapalhar deliberadamente os esforços de profissionais de saúde e de autoridades públicas empenhados em conter o avanço da pandemia de covid-19. Em meio ao recrudescimento da doença, enquanto governadores e prefeitos enfrentam o desgaste de decretar medidas drásticas para tentar frear o coronavírus e os médicos, em razão da falta de leitos de UTI, são obrigados a escolher quem vai viver e quem vai morrer, o presidente promove aglomerações, desestimula o uso de máscaras, desmoraliza vacinas e atiça a população contra as autoridades que, ao contrário dele, fazem o que precisa ser feito. A mais recente agressão ocorreu no dia 26 passado, quando Bolsonaro chamou de “politicalha” as medidas restritivas adotadas contra a covid-19 e disse que “daqui para frente o governador que fechar seu Estado, o governador que destrói emprego, ele é que deve bancar o auxílio emergencial”. A respeito do iminente colapso do sistema de saúde, o presidente disse que “a Saúde no Brasil sempre teve seus problemas” e que “a falta de UTIS era um deles”, como se a atual crise fosse fruto não de sua inépcia, mas do passivo de outros governos. Para completar, ante a informação de que seu governo reduziu drasticamente o financiamento de leitos de UTIS em plena pandemia, Bolsonaro apresentou dados distorcidos sobre repasses de verbas da União aos Estados para insinuar que dinheiro havia, mas não foi usado como deveria. Para resumir: sem competência para providenciar vacinas, organizar o atendimento aos doentes e articular a renovação do necessário auxílio emergencial, e diante das perspectivas sombrias da economia, Bolsonaro manda às favas os princípios federativos e faz o que sabe melhor: foge da responsabilidade. Incapaz de manifestar empatia em relação aos brasileiros que sofrem os efeitos da pandemia e de seu desgoverno, Bolsonaro só demonstra dedicação genuína quando o que está em jogo são seus interesses eleitorais. Ao longo de um ano de pandemia, o presidente gastou seu precioso tempo fazendo comícios em inauguração de obras desimportantes, mas não foi a nenhum hospital para prestar solidariedade a médicos e doentes e mal lhes dirige a palavra quando se pronuncia sobre a crise. Já seria grave se fosse apenas indiferença, mas Bolsonaro parece na verdade considerar como inimigos todos os conterrâneos que não lhe devotam religiosa lealdade, pois só isso explica por que o presidente tanto se empenha em aumentar-lhes o padecimento. É por isso que, como alertou o senador Tasso Jereissati, urge interromper essa marcha de insensatez, pois disso dependem incontáveis vidas. O melhor caminho para “parar essa insanidade”, disse o parlamentar, é a instalação de uma CPI – cujo pedido repousa na mesa do presidente do Senado, Rodrigo Pacheco. Motivos não faltam, e Tasso Jereissati os enumerou: “Primeiro, há crime contra a saúde pública, isso é claro. Segundo, há crime contra a Federação, porque está conclamando a população a fazer o contrário do decreto de um governador e ainda ameaçando governadores que fizerem isso”. Diferentemente do que sustentam os governistas, para quem uma CPI neste momento seria indesejável ante a emergência da pandemia, o senador entende que a hora é agora, pois, a continuar nessa toada, sem que se responsabilize ninguém pela criminosa condução da crise, há uma “possibilidade enorme de termos um caos no Brasil inteiro”. O objetivo da CPI, disse Tasso Jereissati, “não é criar crise”, mas “mostrar que o presidente não pode fazer e dizer o que quer, que haverá consequências e que ele será responsabilizado”. É o que o Brasil civilizado ansiosamente aguarda. *”Congresso prevê mais R$ 18 bi para emendas”* - No momento em que discute de onde tirar dinheiro para uma nova rodada de auxílio emergencial, o Congresso se prepara para derrotar o governo e tomar o controle de fatia maior do Orçamento. Além do que já têm direito por meio de emendas, deputados e senadores querem aumentar em R$ 18,4 bilhões o valor em que podem indicar a destinação. Desta forma, caberá aos parlamentares dizercomo e com o que o Executivo vai gastar R$ 34,7 bilhões do dinheiro público neste ano. Não é a primeira vez que o Congresso tenta ampliar o montante das emendas parlamentares, nome dado às indicações feitas ao Orçamento para destinar recursos a redutos eleitorais de políticos. No ano passado, por exemplo, houve uma queda de braço com o governo de Jair Bolsonaro pelas chamadas emendas de relator, que somavam cerca de R$ 30 bilhões. A manobra, tratada na época como “chantagem” pelo Palácio do Planalto, foi vetada pelo presidente. Os deputados e senadores, porém, não saíram de mão abanando e foram contemplados ao indicar o destino de recursos para o combate à pandemia de covid-19. Como revelou o Estadão, o governo também abriu o cofre para eleger aliados nos comandos da Câmara e do Senado. Foram ao menos R$ 3 bilhões em recursos extraordinários liberados para ajudar a angariar votos em favor do deputado Arthur Lira (Progressistasal) e do senador Rodrigo Pacheco (DEM-MG). Agora, o Planalto conta com o apoio destes aliados para conter o apetite de parlamentares por recursos públicos. A deputada Flávia Arruda (PL-DF), escolhida por Lira para presidir a comissão de Orçamento, observou que os valores ainda estão em discussão. “Esse número (R$ 18,4 bilhões) é das dezenas de emendas apresentadas, mas não foi aprovado ainda”, disse ela ao Estadão. A votação do relatório final na comissão está marcada para o próximo dia 23. O meio usado pelos parlamentares para indicar os R$ 18,4 bilhões a mais foram as chamadas emendas de comissões, em que cada colegiado da Câmara e do Senado entra em acordo para apontar o destino dos recursos. Em dezembro, o Congresso abriu caminho para transformar as emendas de comissões em impositivas, ou seja, quando o governo é obrigado a pagar. Bolsonaro vetou esse trecho da Lei de Diretrizes Orçamentárias (LDO), mas deputados e senadores agora se preparam para derrubar o veto. Uma sessão para analisar a decisão do presidente está prevista para a primeira quinzena do mês. Técnicos do governo alegam não haver espaço no Orçamento para aumentar as despesas com emendas e, caso o valor a mais seja aprovado, o Congresso deverá indicar de onde pretende cortar. Se o Planalto conseguir evitar a derrota e mantiver o veto, apenas as emendas individuais e de bancadas – que totalizam R$ 16,4 bilhões – estarão garantidas para os parlamentares. Justificativa. Para justificar o aumento de recursos das emendas, parlamentares alegam que governadores e prefeitos tiveram queda nos repasses neste início de ano, enquanto ainda enfrentam restrições por causa da pandemia de covid-19. Sem o chamado “Orçamento de guerra”, que aumentou a destinação de dinheiro da União para Estados e municípios em 2020, afirmam que é preciso incrementar o caixa dos governos locais neste ano também. “Na Saúde, nós poderemos ter problemas muito sérios a partir do segundo semestre”, afirmou a deputada Carmen Zanotto (Cidadania-sc). As emendas para saúde, porém, representam uma fatia pequena das indicações das comissões – R$ 1,6 bilhão. O maior valor, de R$ 4,8 bilhões, tem como objetivo irrigar o Programa Nacional de Apoio às Microempresas e Empresas de Pequeno Porte (Pronampe), que financiou pequenos negócios no ano passado em função da crise de covid-19, mas não tem orçamento para este ano. A indicação foi aprovada por senadores na Comissão de Assuntos Econômicos (CAE) do Senado, que discute tornar o programa permanente. “Os senadores não vão se furtar, em momento nenhum, de estar ao lado, de proteger e de ajudar para que o microempresário continue vivo, respirando”, afirmou o senador Jorginho Mello (PL-SC), autor do projeto que criou o Pronampe e da emenda de R$ 4,8 bilhões. Vice-líder do governo e um dos principais aliados de Bolsonaro no Senado, Jorginho não apontou, no entanto, de onde sairão os recursos para o programa. O líder do governo no Congresso, senador Eduardo Gomes (MDB-TO), disse acreditar que o valor das emendas de comissão caia nos próximos dias. “Essas emendas não guardam coerência nenhuma com o que vai ser aprovado, porque não tem dinheiro para isso”, admitiu. Segundo o senador, é usual que o valor seja reduzido na versão final do Orçamento. Gomes também disse que o Congresso deverá manter o veto de Bolsonaro à LDO, evitando que as emendas de comissões se tornem obrigatórias. “Até acho que no futuro vai acabar sendo, mas não neste momento. O Orçamento está muito restrito por causa do auxílio (emergencial), das dificuldades da economia”, afirmou. O Ministério da Economia e a Secretaria de Governo, responsável pela articulação política do Planalto, também foram procurados, mas não se manifestaram. *”Lira vai defender mais recursos contra a Covid”* *”Huck fala em ‘somar forças para tirar esse entulho da sala’”* ENTREVISTA: RODRIGO PACHECO (DEM-MG), presidente do Senado - *”Instalar a CPI da Saúde agora seria contraproducente”*: Em discurso afinado com o Palácio do Planalto, o presidente do Senado, Rodrigo Pacheco (DEM-MG), disse ao Estadão que seria “contraproducente” neste momento instalar uma CPI para avaliar a conduta do presidente Jair Bolsonaro na crise do covid-19, como cobrou o senador Tasso Jereissati (PSDB-CE). Pacheco também defendeu a imunidade parlamentar e a atuação do governo no enfrentamento à pandemia. • O senador Tasso Jereissati (PSDB-CE) cobra do sr. a instalação de uma CPI para apurar a conduta do governo federal na pandemia. Qual a sua posição? - É um direito dos senadores fazer o requerimento da Comissão Parlamentar de Inquérito. No momento oportuno eu vou avaliar a CPI da Saúde, como outros requerimentos que existem no Senado. No entanto, nós temos hoje um obstáculo operacional, que é o Senado Federal com limitação de funcionamento em razão do funcionamento do plenário de maneira remota. Sequer as comissões permanentes da Casa, como a Comissão de Constituição de Justiça, têm o seu funcionamento previsto normalmente. A única CPI que temos hoje também está suspensa pelo motivo da pandemia, que é a CPI das Fake News. De modo que se cogitar a instalação de uma CPI agora com essas limitações seria algo contraproducente, porque não teríamos condição de fazê-la funcionar. • Qual é sua posição sobre a PEC que amplia a imunidade parlamentar? - É uma iniciativa da Câmara. Preferi não opinar a respeito antes de chegar ao Senado. Vamos aguardar a Câmara amadurecer essa matéria e definir quais caminhos serão tomados. É um amadurecimento que a Câmara está fazendo. Para não polemizar, vamos aguardar. • Qual a sua opinião pessoal? - Eu sou a favor da imunidade parlamentar formal e material. Significa que o parlamentar deve ser inviolável por suas palavras, opiniões e votos no exercício do seu mandato. Essa é uma imunidade relativa. O parlamentar que extrapolar nesse seu direito de se manifestar pode ser punido, seja no Conselho de Ética, seja na esfera judicial. Sou também a favor da imunidade formal, ou seja, a prisão do parlamentar após o trânsito em julgado e sentença final condenatória ou em flagrante de crime inafiançável. Eventualmente mudar para poder estabelecer critérios para determinação da prisão em flagrante do parlamentar é algo que pode ser amadurecido. Mas o artigo 53 da Constituição é uma importante garantia para o estado democrático de direito e para o funcionamento do Poder Legislativo. (...) • Os governadores fizeram uma carta criticando o presidente. O Brasil vive uma crise federativa? - Se existe uma crise, ela ficou muito menor perto do problema da pandemia. Nossa maior crise é o enfrentamento da pandemia, a necessidade de aumentar a escala da vacina, estabelecer o auxílio emergencial e fazer a recuperação econômica. Esses problemas pontuais entre governadores, presidente da República e prefeitos fazem parte do processo próprio de uma crise de pandemia na qual se afloram ideias divergentes. Eu não diria que necessariamente uma crise institucional. • Qual a perspectiva da PEC do Auxílio Emergencial? - A PEC 186 prevê o estabelecimento de um protocolo fiscal para que, em situações como essa de emergência, possam os entes federados tomar suas providências de rigidez fiscal, inclusive com gatilhos e a desvinculação, que a essa altura já está retirada do texto. Esse protocolo fiscal é necessário para que tenhamos, com sustentabilidade, um auxílio emergencial no Brasil. Nossa expectativa é que nos meses de março, abril, maio e junho, com a aprovação da PEC, o auxílio emergencial seja editado por medida provisória. • Como o sr. avalia a condução do presidente Jair Bolsonaro na pandemia? - Avalio a condução do chefe de um Poder Executivo que pratica erros e acertos, como em todos os outros países. A pandemia surgiu de maneira muito severa e surpreendente para todos. Não há um caminho absolutamente seguro a seguir. Há percepções individuais, como o presidente as tem, assim como os parlamentares e o cidadão comum. No bojo do que se tem feito no Brasil, quando se estabelece o auxílio emergencial e se busca o aumento de escala da vacina, estamos considerando que estamos fazendo nesse momento a coisa certa para resolver o problema. • A postura negacionista do presidente Bolsonaro não contribuiu para o atual cenário da pandemia no Brasil? - Há uma distância entre as falas do presidente, que são próprias do estilo dele autêntico e espontâneo, e as ações do governo, inclusive com protagonismo do Congresso de remediar a pandemia. Se implantou no Brasil a cultura do uso de máscara, higienização das mãos e pouco contato. As ações têm sido feitas. Há ações concretas de enfrentamento com vigor. Vamos nos apegar a isso e valorizar mais que uma fala que aparenta ser negacionista. • Qual a sua posição sobre os decretos que flexibilizam o uso e a compra de armas de fogo? - Temos uma lei que prevê o porte de armas. A pretensão do presidente é ampliar os critérios a partir de uma lei já existente. O Congresso vai avaliar se alguma iniciativa extrapolou os limites do que seria reservado ao parlamento. Tenho uma impressão pessoal íntima: não sou muito adepto de armas de fogo. Considero que o uso indiscriminado de armas de fogo não é algo bom para o País, mas reconheço que o direito de se proteger, especialmente na residência. (...) *”Flávio compra casa de R$ 6 mi em setor de mansões no DF”* *”Reino Unido procura viajante que testou positivo para variante brasileira”* *”Premiê defende política de quarentena rígida em hotéis”* *”EUA tem fila de 500 mil pedidos de visto de imigrantes”* *”Governo americano insiste em negociações nucleares com Irã”* - O governo americano disse ontem que continua pronto para se reunir com o Irã, apesar de Teerã ter rejeitado um diálogo direto com Washington. “Dissemos claramente que os EUA estão preparados para se reunir com o Irã para abordar o modo de alcançar um retorno mútuo (ao acordo nuclear)”, declarou ontem o porta-voz do Departamento de Estado, Ned Price. “Não somos dogmáticos sobre a forma e o formato dessas conversações”, disse Price à imprensa, acrescentando que o governo americano consultaria seus sócios europeus sobre a questão. As autoridades iranianas disseram que não consideravam o “momento apropriado” para conversações e protestaram pelas “posições e ações recentes dos EUA” e dos signatários do acordo nuclear assinado em 2015, referindo-se aos ataques da semana passada do governo americano contra grupos próirã na Síria, acusados de disparar foguetes contra interesses de Washington no Iraque. O Irã disse ontem que os EUA deveriam suspender primeiro as sanções se querem conversar para salvar o acordo nuclear, que o ex-presidente Donald Trump abandonou em maio de 2018. “O governo do presidente Joe Biden deveria mudar a política de pressão máxima de Trump com relação a Teerã. Se querem conversar com o Irã, primeiro deveriam suspender as sanções”, disse o porta-voz do Ministério das Relações Exteriores, Saeed Khatibzadeh. O presidente americano, Joe Biden, afirmou que Washington está disposto a conversar sobre a retomada dos compromissos das duas nações com o pacto, segundo o qual Teerã obtém um alívio das sanções limitando suas atividades nucleares. Mas, enquanto o Irã exige a suspensão das sanções dos EUA primeiro, Washington diz que Teerã precisa voltar a cumprir o acordo, que Teerã vem desrespeitando progressivamente desde 2019. Ocidente teme que o Irã tente fabricar armas nucleares, enquanto a República Islâmica assegura que esse nunca foi seu objetivo. A chancelaria iraniana exortou ontem o Conselho de Governadores de 35 nações da Agência Internacional de Energia Atômica (AIEA) a não “criar uma confusão” endossando uma iniciativa liderada pelos EUA para a adoção de uma resolução contra a decisão de Teerã de reduzir sua cooperação com a agência da ONU. A reunião em Viena ocorreu ontem após o Irã promulgar uma lei, no fim de janeiro, que restringiu o acesso de inspetores a alguns locais, já que Teerã reclama que não está obtendo as recompensas econômicas prometidas em troca de restrições ao seu programa nuclear. O diretor-geral da AIEA, Rafael Grossi, pediu ontem que as inspeções às instalações nucleares do Irã não sejam usadas como uma “moeda de troca”, em meio aos esforços para reviver seu acordo nuclear. Segundo relatório da AIEA, de janeiro, o Irã informou que começou a produzir urânio metálico, que pode ser usado para desenvolver ogivas nucleares. Trata-se de uma pequena quantidade de urânio metálico natural, que não foi enriquecido. De acordo com a AIEA, para usar urânio metálico no núcleo de uma arma nuclear, o Irã precisaria de cerca de meio quilo de urânio metálico altamente enriquecido. Além disso, o Irã aumentou a quantidade e a qualidade do enriquecimento de urânio. Reino Unido, Alemanha e França encaminharam um projeto de resolução aos Estado membros da AIEA para censurar o Irã por reduzir sua cooperação com a agência nuclear, de acordo com um projeto obtido pela Reuters. O projeto, apoiado pelos EUA, expressou “séria preocupação” com a redução da transparência do Irã e descontentamento com a falta de explicação de Teerã sobre partículas de urânio descobertas em três antigas instalações. *”Sarkozy, ex-presidente da França, pega 3 anos de prisão”* *”18 Estados já têm mais de 80% de UTIs lotadas e secretários querem lockdown”* *”Média de óbitos é recorde pelo 3º dia consecutivo”* *”Pacientes são mais jovens e ficam mais tempo internados”* *”Governadores dizem que Bolsonaro quer priorizar ‘confronto’”* *”Cepa é mais transmissível e pode fugir de anticorpos”* *”Pelo Brasil, hidroxicloroquina encalha”* *”Retomada do Brasil este ano deve ter ritmo inferior ao de outros emergentes”* - Turbinada pelo impulso do auxílio emergencial no consumo das famílias, a economia brasileira terminará o ano da pandemia de covid-19 com desempenho mediano, na comparação com os principais países. O tombo do Produto Interno Bruto (PIB) de 2020 deverá ser menos agudo do que o de vizinhos da América Latina, mas será maior do que nas economias emergentes da Ásia. Por outro lado, a retomada neste ano deixará a desejar, com ritmo inferior aos emergentes asiáticos e pouco abaixo dos pares latino-americanos, num cenário em que os Estados Unidos poderão ser destaque. No somatório de 2020 e 2021, a economia brasileira deverá registrar uma retração média de 0,5% ao ano, mostra levantamento do Instituto Brasileiro de Economia da Fundação Getúlio Vargas (IBRE/FGV), com base nas projeções do Fundo Monetário Internacional (FMI), atualizadas em janeiro. A retomada de 2021 não recuperará totalmente o tombo de 2020, expectativa que já estava no cenário da maioria dos analistas. Segundo economistas, controle da pandemia, vacinação e prorrogação de estímulos para mitigar a crise dão o tom das diferenças entre a retomada de cada país. O Brasil poderá ficar ainda mais para trás na retomada deste ano, por causa do recrudescimento da pandemia e do ritmo ainda lento de vacinação, em meio ao cenário de incertezas políticas e econômicas. Com o impasse em torno da reedição do auxílio emergencial, uma retração da economia neste primeiro trimestre já é prevista e há quem aposte em dois trimestres de queda, ou seja, teríamos uma recessão. “Sem a vacina não tem jogo, vamos estar atrasados em relação aos demais países do mundo. Não tem vacina em quantidade necessária para imunizar 70% da população e alcançar a imunidade por rebanho. O crescimento da economia este ano pode ser menor que o esperado. Eu, particularmente, não acredito num avanço de 3,6%, por conta das incertezas, mas, principalmente, por causa da vacina”, avaliou Claudio Considera, coordenador do Núcleo de Contas Nacionais do IBRE/FGV. No ano passado, o PIB do Brasil deve ter encolhido 4,5%, nas estimativas do FMI – as projeções de analistas nacionais, compiladas pelo Banco Central (BC), apontam uma retração de 4,3%, conforme o Boletim Focus. Este ano, a projeção do FMI aponta para um crescimento de 3,6%, ante 3,29% nas estimativas dos analistas brasileiros pesquisadas pelo BC. As projeções locais vêm piorando. Há um mês, o Boletim Focus apontava crescimento de 3,50%. As estimativas para este ano serão calibradas após a divulgação do resultado oficial de 2020, pelo IBGE, amanhã. “A principal atividade no País tem relação com o convívio social, que é a parte dos serviços. Isso faz com que nosso PIB seja bastante prejudicado pela pandemia. Os demais países (desenvolvidos) colocaram mais recursos em auxílio emergencial do que fomos capazes. Embora nosso primeiro auxílio tenha tido um volume relevante, agora está sendo discutido um volume menor”, disse Considera. FMI. A retomada do Brasil será mais lenta do que o agregado mundial e do que a recuperação dos emergentes. O FMI projeta que a economia global crescerá 5,5% este ano, avanço médio de 0,9% ao ano em 2020 e 2021. No geral, o crescimento projetado para o Brasil em 2021 fica no meio da lista de 30 países incluídos no levantamento do IBRE/FGV: para 13 países, o FMI projeta crescimento superior ao estimado para o Brasil, enquanto 16 nações deverão crescer este ano num ritmo inferior ao brasileiro (veja quadro ao lado). Só que a retomada, no agregado, será puxada pela Ásia, com destaque para a China e a Índia. Tanto que os emergentes deverão crescer 6,3% neste ano, ritmo quase duas vezes maior do que o esperado para o Brasil. Conforme as projeções do FMI, o PIB da Índia deverá saltar 11,5%, a China deverá crescer 8,1%, seguidos de Malásia (7,0%) e Filipinas (6,6%). “A China, na contramão, ou como está na frente, deverá começar a retirar estímulos antes da maioria do mundo”, afirmou Fabiana D’atri, economista do Bradesco, que prevê a “normalização” da economia chinesa, com a pandemia controlada, já a partir do segundo semestre. EUA. O crescimento brasileiro também deverá ficar abaixo de economias desenvolvidas, como Estados Unidos (5,1%), França (5,5%) e Espanha (5,9%), segundo os números do FMI. As revisões, para cima, nas expectativas de crescimento da economia americana têm chamado a atenção, em função da possibilidade de o recém-empossado presidente Joe Biden conseguir aprovar mais um pacote de US$ 1,9 trilhão para mitigar os efeitos da pandemia – para além dos US$ 900 bilhões aprovados em dezembro, com efeitos desde janeiro. Tanto que, em relatório divulgado na última sexta-feira, o Bradesco elevou sua estimativa para o crescimento americano neste ano para 7,0%, bem acima da projeção de janeiro do FMI. Além de mais estímulos, o controle da pandemia melhorou nos EUA, onde, segundo o banco, a vacinação contemplou 19,4% da população até fevereiro. Para Fabiana, do Bradesco, diferentemente do tombo inicial do segundo trimestre de 2020, quando todas as economias do mundo pararam mais ou menos ao mesmo tempo e da mesma forma, a recuperação econômica tem sido assimétrica entre os países, por causa das diferenças no controle da pandemia, no ritmo de vacinação e na capacidade de adotar estímulos. Na Europa, a Itália, fortemente atingida pela covid-19 ainda em fevereiro do ano passado, antes mesmo de a Organização Mundial da Saúde (OMS) anunciar que se tratava de uma pandemia, deverá ter o pior desempenho médio em 2020 e 2021, com crescimento de 3,0% este ano, vindo de um tombo de 9,2% ano passado, segundo o estudo do IBRE/FGV. O aumento do número de casos de covid-19 levou a novas medidas de restrição na virada do ano, colocando a possibilidade de retrações econômicas em diversos países europeus neste início de ano. *”País deixa time das 10 maiores economias”* - A crise de 2020 deverá confirmar a saída do Brasil do grupo das dez maiores economias do mundo, como já mostrou outro levantamento do IBRE/FGV, de outubro do ano passado. O País deverá fechar o ano como a 12.ª maior economia em termos de valor do PIB, ultrapassado por Canadá, Coreia do Sul e Rússia. “Fica muito claro que o Brasil tem algum problema crônico e interno. É uma questão doméstica muito grave, que atribuo aos problemas que existem na gestão do Executivo e do Congresso, conflitos que persistem ao longo do tempo”, diz o economista-chefe da agência Austin Rating, Alex Agostini. ENTREVISTA: ALESSANDRO ZEMA, presidente do Morgan Stanley no Brasil - *”Percepção em relação ao Brasil é de desconfiança”*: O Brasil poderá perder ainda mais espaço entre os investidores estrangeiros caso não coloque ritmo em sua campanha de vacinação contra a covid19, única alternativa para levar o País a uma trajetória de crescimento econômico. E, para que os recursos estrangeiros possam, de fato, retomar o fluxo rumo ao Brasil, além da vacinação, o País precisa avançar no compromisso fiscal, proteção ao meio ambiente e início de reformas administrativas, de acordo com o presidente do banco Morgan Stanley no Brasil, Alessandro Zema. A seguir os principais trechos da entrevista. • Qual o efeito, para a economia, da interferência do presidente Bolsonaro na Petrobrás? - Em um passado não muito distante, o Brasil cometeu todo tipo de erro no que diz respeito à política macroeconômica, com intervencionismo, que gerou juros altos, recessão e desemprego. Eu espero que a gente tenha aprendido a lição de que utilizar a Petrobrás como instrumento de política macroeconômica é uma má ideia. Naquela época, que não traz saudade nenhuma, a Petrobrás conseguiu um feito incrível de inverter a lógica de mercado e ser a única petroleira no mundo que perdia dinheiro toda vez que acontecia um aumento do preço do petróleo. E, desde o governo Temer, a Petrobrás passou por diversas mudanças que tornaram a empresa mais competitiva. Eu espero que a nova gestão (o general da reserva Joaquim Silva e Luna deve assumir a empresa no lugar do atual presidente, Roberto Castello Branco) reforce a intenção de dar continuidade a essa trajetória de desalavancagem da empresa, de continuação do programa de desinvestimentos, com foco na maior eficiência e na governança. • E como os estrangeiros analisam o Brasil neste momento? - Se eu puder resumir, são quatro grandes preocupações em relação ao Brasil. A primeira, a situação fiscal e a possibilidade de se retroceder em avanços importantes, como o teto de gastos. Nós precisamos retomar a trajetória de controle dos gastos públicos. O segundo aspecto é o ritmo da campanha de vacinação no País – isso vai determinar o ritmo da velocidade da recuperação da economia. Sem uma campanha de vacinação efetiva, vai ser muito mais demorado para a economia voltar ao normal. O setor de serviços no Brasil foi o mais atingido na pandemia e representa cerca de 60% do PIB. Sem uma campanha eficiente, não há recuperação rápida dos setores de serviços, e isso acaba gerando impacto no emprego, na renda e no PIB. O terceiro aspecto que eu escuto muito é em relação às reformas. Precisamos urgentemente retomar a agenda de reformas para remover os entraves e permitir o crescimento sustentável. Chega de alguma forma a ser desalentador pensar que, como sociedade, ainda não temos consenso sobre temas que já deveriam ter deixado de ser controversos há muito tempo, como reforma administrativa, tributária e privatizações. Por fim, a quarta grande preocupação é sustentabilidade e meio ambiente. A criação do Conselho da Amazônia foi um passo importante, mas a percepção global em relação ao Brasil ainda é de desconfiança, e isso tem gerado uma visão de que o País enfraqueceu a fiscalização. Nós precisamos reconquistar essa confiança do mercado com medidas concretas para mudar essa percepção. • Especificamente sobre a vacinação, qual o nível de atenção dos investidores? - O investidor está muito atento ao ritmo e à velocidade da campanha de vacinação contra a covid-19. Quanto mais cedo conseguirmos avançar, mais cedo veremos uma recuperação da economia e, por consequência, mais cedo veremos um maior fluxo e capital vindo ao Brasil. Quanto mais a gente demora para ter uma campanha de vacinação efetiva e para uma recuperação da economia, mais inclinado a gente fica para gastar mais, e o governo já está com uma situação fiscal extremamente delicada. Quanto mais demorarmos nesse processo, mais esforço fiscal será necessário e pior ainda ficam as finanças públicas. Uma retomada mais rápida faz uma enorme diferença para a reorganização da economia. |
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