quarta-feira, 31 de março de 2021

"O maior risco para a democracia é incentivar revoltas nas polícias"

 


Há exatos 57 anos, em 31 de março de 1964, começava o golpe que deu início à ditadura militar no Brasil. Quase seis décadas depois, o país é governado por Jair Bolsonaro, um exaltador da ruptura democrática e que faz dessa celebração uma missão em quartéis pelo país, uma situação inimaginável em qualquer democracia madura. É este mesmo Governo que enfrenta uma crise militar sui generis. De Brasília, Afonso Benites conta que a demissão do ministro da Defesa, seguida da saída em protesto dos comandantes da Marinha, Exército e Aeronáutica, algo inédito desde a redemocratização, levou o Planalto a reagir. Falando especialmente para sua base, Bolsonaro fez circular a versão de que ele demitira o alto comando, e não que houve uma renúncia coletiva. Agora, todos os holofotes se voltam para escolha dos novos chefes das armas para medir o quanto estarão dispostos a manter a proximidade simbiótica com o ultradireitista.

"Essa aventura militar de entrar no Governo está saindo muito cara para as Forças Armadas. É proximidade demais com um Governo instável”, afirma João Roberto Martins Filho, estudioso do tema, ao repórter Gil Alessi. Para Martins Filho, a atual crise escancarou as fissuras internas dentro dos quartéis, algo que só acontece por causa da entrada em massa dos militares no Governo. O professor da Universidade Federal de São Carlos não vê risco de ruptura institucional com participação das Forças Armadas, mas mostra preocupação com o incentivo feito por bolsonaristas a motins e revoltas dentro das polícias estaduais: “Isso pode levar a um nível de violência difícil de prever”. Já o colunista Oliver Stuenkel analisa a substituição de Ernesto Araújo por Carlos França no Itamaraty, que traz um árduo — porém, óbvio— desafio: reverter o desmonte da diplomacia brasileira e mitigar o impacto nocivo de Bolsonaro na reputação internacional. "França terá que pensar pequeno e, como um cozinheiro que só tem acesso a ingredientes estragados, montar um prato minimamente palatável”, escreve.

A turbulência política dividiu dividiu atenções, nesta terça-feira, com mais um recorde de mortes pelo novo coronavírus no Brasil, com 3.780 óbitos. Já são duas semanas desde que o país estacionou em um novo patamar de destruição na pandemia, com a média móvel, quando se descarta as variações diárias e do fim de semana, sempre acima de 2.000 mortes por dia. A repórter Beatriz Jucá conta que em São Paulo, o Estado responsável por quase um terço dos óbitos desta terça, a fase emergencial e a imposição de medidas restritivas mais rígidas implicou em variações tímidas nas taxas de isolamento e na diminuição das novas hospitalizações, uma situação que se reflete em todo o Brasil. Também nesta edição, o EL PAÍS explica como fazer para diluir a presença de partículas contagiosas em suspensão e mitigar a transmissão do coronavírus em ambientes fechados. É obrigatório abrir as janelas de carros e salas de aula ou reuniões.

Ninguém sabe com certeza como será a “nova normalidade” pós-pandemia de covid-19 e, no processo de retirada das restrições, é possível que o mundo tal qual conhecemos já não seja mais o mesmo. Francesc Miralles traz conselhos para lidar com o cenário da incerteza que começa a se delinear no horizonte. Um deles? Um conselho de Bruce Lee: “Seja água, meu amigo”.

Fique em casa se puder. Ajude os mais vulneráveis se tiver chance. Se cuide!


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