“Estamos em guerra”, definiu o secretário da Saúde de São Paulo, Jean Gorinchteyn, nesta sexta-feira na habitual coletiva de imprensa feita pelo Governo João Doria. Poderia ser interpretado apenas como uma hipérbole política, mas o cenário do qual o Brasil se avizinha está próximo de uma batalha decisiva, na qual o vírus tem se saído vencedor. A situação do país é crítica em praticamente todos os Estados ao mesmo tempo, o que impõe uma dificuldade adicional, já que a possibilidade de socorro entre fronteiras se torna mais remota. Sem um comando unificado do Governo federal, gerido por um presidente que classifica a emergência sanitária como “mimimi”, os Governos das 27 unidades federativas tentam implementar medidas de restrição de circulação vistas como ineficazes por especialistas, temendo o desgaste político e financeiro de um rígido lockdown, e apostam em uma arma que logo se tornará finita: a criação de novos leitos para acomodar cada vez mais doentes. Levantamento feito pelo EL PAÍS mostra que em ao menos 17 Estados, a taxa de ocupação de UTIs para covid-19 supera os 80%, como já havia indicado um boletim da Fiocruz desta semana. Em dez deles, já passa de 90%. E em dois, de 100%. No colapso já instalado ou que se aproxima, o pesadelo dos gestores é que a falta de leitos afetará todos os atendimentos, não apenas o de pacientes com covid-19. “Em um cenário catastrófico, uma pessoa que precisar de um hospital não será atendida. No Sírio-Libanês, estamos batalhando para manter os leitos destinados aos pacientes cardiopatas e oncológicos”, conta Felipe Duarte, gerente de práticas médicas deste hospital em São Paulo, um dos principais da rede privada brasileira. Nos Estados Unidos, fracassada a revolta de 6 de janeiro contra a posse de Joe Biden, a realidade insiste em arruinar as profecias delirantes dos seguidores do QAnon, que ainda vaticinam um retorno triunfal de Donald Trump, mas nem de longe podem ser considerados com um problema marginal. Nesta quinta-feira, uma nova ameaça colocou a polícia do Capitólio em alerta e levou a Câmara a suspender suas sessões. De Washington, Pablo Guimon e Antonia Laborde narram como o novo episódio mostra que a ameaça desse novo velho extremismo que brota e cresce dentro das próprias fronteiras norte americanas é duradoura e inspira atenção porque o grupo está cada vez mais acuado e fanático. E ainda nesta edição, uma mensagem numa garrafa que cruza o Atlântico. A repórter Joana Oliveira conta que essa é uma das definições possíveis para OxeAxeExu, o novo trabalho do BaianaSystem, que refaz os caminhos afro-latinos através da música, se aventurando com disco produzido “em tempo real” que parte da Bahia ao resto da América Latina e Tanzânia. Em meio à produção, os músicos contam ao EL PAÍS que puderam refletir sobre as relações culturais entre Bahia e Tanzânia. “Os pretos daqui são os pretos de lá, as pessoas daqui dançam como as de lá. Não à toa, [o geógrafo] Milton Santos escolheu a Tanzânia como primeiro país para dar aula quando foi exilado durante a ditadura militar brasileira”, lembra Russo Passapusso, vocalista da banda. Uma mulher esclarecida que escreva sobre o amor é vista com suspeita. Talvez porque o que ela diga represente um desafio às visões que nos foram oferecidas pelos homens, observa a ativista bell hooks em seu último ensaio. Pseudônimo de Gloria Jean Watkins, bell hooks (sempre escrito em minúsculas) é escritora e ativista norte-americana e uma das mais importantes intelectuais feministas da atualidade. Para ler com calma, destacamos um trecho de seu livro Tudo sobre o amor, que a editora Elefante publica no Brasil. | |||||
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