Em pouco mais de um ano sofrendo com a Covid-19, o Brasil terá seu quarto ministro da Saúde. O presidente Jair Bolsonaro anunciou ontem a substituição do general Eduardo Pazuello pelo médico Marcelo Queiroga, presidente da Sociedade Brasileira de Cardiologia. A cabeça de Pazuello era pedida há tempos em função do descontrole da pandemia, e Bolsonaro optou por uma troca pessoal e isolada — escolha do presidente e apenas. Como disse a apoiadores, ele conhece Queiroga há anos. “Então, não é uma pessoa que tomei conhecimento há poucos dias.” (G1)
De fato, o presidente e o futuro ministro têm uma relação antiga. Queiroga participou da equipe de transição após as eleições de 2018 dando apoio técnico em questões de saúde. Em dezembro do ano passado, o médico foi indicado para uma vaga na diretoria da Agência Nacional de Saúde (ANS), mas sua sabatina no Senado não aconteceu devido à pandemia. Em entrevista, ele defendeu que a ênfase do país deve ser ampliar o programa de vacinação e que a cloroquina, menina dos olhos de Bolsonaro, não entraria em seu arsenal contra a doença. (Folha)
Painel: “Os secretários estaduais de Saúde disseram aprovar a escolha de Queiroga como substituto de Pazuello. Eles afirmam que o cardiologista conhece bem os problemas da saúde pública. Também apontam que ele fez carreira participando de associações e sociedades médicas e que, além dos atributos profissionais, é ‘um gente boa’. Queiroga foi avalizado principalmente por secretários do Nordeste.” (Folha)
Embora pressionassem pela troca no ministério, os políticos do Centrão ficaram muito irritados. Bolsonaro sondou a também cardiologista Ludhmila Hajjar — indicada pelo grupo, apoiada publicamente pelo presidente da Câmara, Arthur Lira (PP-AL) e com aval de ministros do STF e do procurador-geral da República – para duas conversas, uma na noite de domingo, outra na manhã de segunda. Mas, em vez do convite, submeteu-a a constrangimentos. No fim fez uma escolha pessoal. Segundo um político de peso do Centrão, Bolsonaro “terá que acertar na seleção do seu quarto ministro da Saúde porque, caso seja necessário fazer uma nova troca, o país não vai parar para discutir quem será o quinto, mas sim o próximo presidente da República”. (Estadão)
O constrangimento a que Hajjar foi submetida não tem precedentes. Em vez do esperado convite para ocupar o ministério, passou por uma sabatina por parte do presidente e de seu filho, o deputado Eduardo Bolsonaro (PSL-SP), sob o olhar de Pazuello. O Zero Três queria saber a posição dela sobre armas e aborto, enquanto Bolsonaro insistia na cloroquina. Ao falar de medidas restritivas, Bolsonaro foi direto: “Você não vai fazer lockdown no Nordeste para me foder e eu depois perder a eleição, né?” E enquanto a conversa acontecia, a tropa de choque bolsonarista, nas redes sociais, já atacava a médica. Ontem, após o segundo encontro, Hajjar disse que não seria ministra. (Poder360)
E os ataques, segundo ela, não se restringiram à internet. Em entrevista ao vivo na GloboNews, Hajjar disse ter havido ameaças de morte a ela e a sua família e três tentativas de entrar no hotel onde estava em Brasília por parte de pessoas estranhas que se diziam de sua equipe e tinham o número de seu quarto. “Realmente foi assustador. Está sendo, porque eles não terminaram”, afirmou. (G1)
O hotel em que a médica se hospedou, porém, diz que não houve anormalidades. (Folha)
Meio em vídeo. O que Jair Bolsonaro fez com a médica Ludhmila Hajjar é muito estranho. Porque não constrangeu somente a especialista; ele criou problemas também com Arthur Lira, que saiu muito mal da história. Foi um ataque direto contra o líder do Centrão. Não faz nenhum sentido político, mas é Bolsonaro sendo Bolsonaro. Confira o Ponto de Partida no YouTube.
Mais cedo, Pazuello havia admitido que o presidente buscava um nome para substitui-lo, mas negou que fosse pedir demissão e prometeu uma “transição” correta. Ele anunciou também ter fechado os acordos para a compra das vacinas da Pfizer, da Janssen e a russa Sputinik. Mas não há qualquer garantida de que a mudança pacifique os ânimos. Em seminário online, o presidente do Senado, Rodrigo Pacheco (DEM-MG), disse que os erros durante a pandemia terão de ser investigados, “inclusive por meio de CPI”. (Globo)
Relembre a trajetória do general Pazuello no ministério da Saúde. (G1)
Igor Gielow: “A desastrosa gestão de Pazuello, ora encerrada, concentra todas as contradições da relação das Forças Armadas com o governo do capitão reformado Jair Bolsonaro. General de intendência com três estrelas no ombro, topo de sua carreira, Pazuello gozava de ótima reputação entre seus pares. A questão é que o problema (da Saúde) estava acima das capacidades do general e a missão, explicitada quando ele baixou a cabeça a Bolsonaro e freou a compra de vacinas no ano passado, estava corrompida. Para as Forças Armadas, Exército à frente, sobrou o ônus de imagem.” (Folha)
Se tomar posse hoje, o futuro ministro Marcelo Queiroga receberia um país com 279.602 mortos pela Covid-19. Esse é o total de vítimas com os 1.275 óbitos registrados na segunda-feira, com novo recorde da média móvel em sete dias, 1.855, 46% a mais que na comparação com o período anterior. Já são 24 unidades da Federação com tendência de alta: PR, RS, SC, ES, MG, SP, DF, GO, MS, MT, AC, AP, PA, RO, RR, TO, AL, CE, MA, PB, PE, PI, RN e SE. (G1)
E o governo desistiu da meta de testagem da população para o Sars-Cov-2. O plano inicial era fazer 24 milhões de testes até o fim de 2020, mas até hoje mal se chegou à metade. A despeito do recrudescimento da Covid-19, a testagem da população vem caindo, e o Ministério da Saúde ainda tem 3,7 milhões de exames que vencem em abril e junho. (Estadão)
São Paulo deu início ontem à fase emergencial, a mais restritiva no distanciamento social contra o coronavírus. E, no mesmo dia, bateu o recorde de internações, com 10.244 pacientes nos hospitais, 63,9% a mais que na primeira onda da doença. (Folha)
Já os hospitais do Recife sofrem não só com o aumento de casos, mas com a falta de estrutura do interior do estado para enfrentar a pandemia. Cerca de 59,6% dos pacientes internados em UTIs na capital pernambucana vêm de outras cidades. (Diário de Pernambuco)
Na linha de frente contra a Covid-19, a Fiocruz pretende antecipar em até cem dias a entrega das vacinas de Oxford/AstraZeneca inteiramente produzidas no Brasil, prevista para começar em setembro. Até o momento, os quatro milhões de doses do imunizante vieram da Índia. (UOL)
O ministro do STF Edson Fachin pediu ao presidente da Corte, Luiz Fux, que inclua na pauta do plenário o recurso da Procuradoria-Geral da República contra sua decisão de anular os processos contra o ex-presidente Lula no âmbito da Lava-Jato em Curitiba. A PGR alega que seu recurso busca “preservar a estabilidade processual e a segurança jurídica”. (Poder360)
E o STJ volta a julgar hoje três recursos do senador Flávio Bolsonaro (Republicanos-RJ) contra a investigação de um suposto esquema de “rachadinhas” em seu gabinete na Alerj quando era deputado estadual. A Corte já anulou a quebra dos sigilos do parlamentar. (Globo)
E o deputado Marcelo Freixo (PSOL-RJ) pediu à PGR que investigue indícios de rachadinhas também no gabinete do hoje presidente Jair Bolsonaro quando ele era membro da Câmara. (UOL)
O youtuber Felipe Neto foi intimado a depor na Polícia Federal por ter se referido a Jair Bolsonaro como “genocida”, conforme ele próprio explicou num tuíte. A queixa foi prestada pelo vereador Carlos Bolsonaro (Republicanos), filho do presidente. Felipe, que classifica a ação como tentativa de intimidação, foi denunciado com base na Lei de Segurança Nacional, a mesma usada pelo ministro do STF Alexandre Moraes para prender o deputado Daniel Silveira (PSL-RJ). Nas redes sociais, Felipe recebeu apoio de políticos, artistas e até de seu tradicional desafeto Danilo Gentili. (UOL)
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