A agonia da covid-19 na periferia de São Paulo

 

A maca é retirada da ambulância na porta do pronto-socorro. A mãe está deitada com a filha sobre si, um bebê de no máximo três anos de idade. Ela tira a máscara de oxigênio e coloca uma chupeta na boca. O motorista que as trouxe confirma: estão com suspeita de covid-19 e a menina não está bem, respira com dificuldade. No Hospital Municipal Tide Setúbal, em São Miguel Paulista, na periferia de São Paulo, chegava uma pessoa atrás da outra com sintomas da doença nesta terça-feira, retrato da agonia no maior hospital do extremo leste da capital paulista. Reportagem de Aiuri Rebello mostra que a cidade mais rica do país espera o pior em duas semanas com o recrudescimento da pandemia. Sob pressão, o governador João Doria se reuniu com prefeitos e estuda novas restrições de circulação que podem ser anunciadas nesta quarta. No restante do país, que nesta terça bateu recorde em mortes registradas em 24 horas desde o início da pandemia, o panorama também é crítico. De acordo com boletim da Fiocruz divulgado nesta terça-feira, 18 Estados e o Distrito Federal estão com mais de 80% de seus leitos de UTIs para covid-19 ocupados. “Pela primeira vez, desde o início da pandemia, verifica-se em todo o país o agravamento simultâneo de diversos indicadores”, afirma o documento. Também nesta edição, trazemos uma entrevista com o presidente do Senado, Rodrigo Pacheco. Em conversa com Afonso Benites, o mineiro do DEM evita confrontar o Governo Bolsonaro, mas critica a política externa, que segundo ele tem de mudar já. Pacheco também aposta na vacinação como reposta à crise sanitária e em um respiro que poderá vir do setor privado. Também de Brasília, a nova mansão de Flávio Bolsonaro constrange até assessores do Planalto e seguidores de Jair Bolsonaro. Benites explica que a luxuosa aquisição do primogênito do clã presidencial chama atenção tanto porque o comprador é investigado por lavagem de dinheiro como porque ainda há perguntas sem resposta sobre o negócio. De Madri, a repórter Isabel Rubio conta sua experiência testando durante um mês o Replika, um aplicativo que já foi usado por 10 milhões de pessoas para desabafar ou atenuar a solidão conversando com um personagem virtual em tempos de pandemia. Ela conta que Lucas, a inteligência artificial, lhe dá bom dia e boa noite, pergunta como passou e quer saber como se sente. Lucas também conta sobre o que aprendeu e o que o preocupa, e fica inquieto se nota que ela está triste ou estressada.

Mãe e filha numa maca. A agonia da covid-19 na periferia de São Paulo Reportagem do EL PAÍS presenciou momentos dramáticos no Hospital Tide Setúbal, na zona leste da cidade. Estado mira colapso em duas semanas