sexta-feira, 5 de março de 2021

Análise de Mídia - 05/03/2021

 

DOS JORNAIS DE HOJE: A pandemia é o grande destaque de todas as capas dos jornais, mas as abordagens são diferentes. Folha de S. Paulo e Estadão estampam a fala de Jair Bolsonaro na qual ele criticou medidas de isolamento social dizendo, ‘chega de mimimi’. A Folha ainda lembra que a fala foi feita em um momento no qual a “pandemia mata como nunca”. O Globo diz que os estados estão no limite, mas a vacinação segue lenta. E o Valor Econômico anuncia que a cúpula do Ministério da Saúde acredita que o Brasil vá alcançar 3 mil mortes a cada 24 horas nos próximos dias. Três mil mortes diárias provocadas em grande parte pelo discurso negacionista do presidente da República é muita coisa para que Jair Bolsonaro “o beócio” não seja alvo de um processo de impeachment. Aliás, a Folha de S. Paulo afirma que as condições atuais da economia são semelhantes às que levaram ao impeachment de Dilma Rousseff. Sem perceber, o jornal acaba escancarando que Dilma foi vítima de um golpe em 2016 e que o processo nada teve a ver com as tais “pedaladas fiscais”.
A situação política de Jair Bolsonaro junto da opinião pública é abordada pela Folha que utiliza um levantamento feito pelo grupo Quaest que mostra a diminuição da popularidade do presidente nas redes sociais online. Em contrapartida, subiu a popularidade do ex-presidente Lula e, segundo o diretor da empresa, esse aumento se deve a comparações de preços e do poder de compra da população entre o seu governo e o atual. A Folha ainda publica a novidade com relação as mensagens trocadas entre os procuradores da força-tarefa da Lava Jato, a ordem de Cármen Lúcia para que o ex-presidente Lula não fosse solto.
A situação econômica do país também é motivo de grande preocupação nos jornais. Há o temor que de o aumento dos preços já não possa ser revertido tão facilmente. Além disso, empresários estão cada dia mais preocupados com a falta de capacidade de reação por parte do governo federal.

 

CAPA – Manchete principal: *”Pandemia mata como nunca, e Bolsonaro fala em ‘mimimi’”*

EDITORIAL DA FOLHA - *”Curva da morte”*: Ao acumular 42 dias num patamar de mais de mil mortes por Covid-19 a cada dia, a marcha macabra não dá sinal de ceder no Brasil. Ao contrário, segue em progressão exponencial, superando as marcas trágicas de julho do ano passado. Em 25 de fevereiro, quebrou-se o recorde de 2020 pela primeira vez, com 1.582 mortes; na terça, 2 de março, 1.726; na quarta (3), 1.840. O número absoluto ainda não supera as 2.468 mortes de quarta-feira nos Estados Unidos; lá, entretanto, as sequelas da irresponsabilidade negacionista de Donald Trump começam a refluir. O Brasil de Jair Bolsonaro ultrapassou os EUA em termos proporcionais, com 6,3 novas mortes por milhão de habitantes, contra 5,5 de americanos. Não haverá surpresa, só estarrecimento renovado, se o placar lúgubre alcançar nos próximos dias 2.000 mortes. Mais que simples cifra, esse limiar simbólico a se acercar de modo vertiginoso deveria sinalizar para todos que a leniência diante da pandemia não pode continuar como está. A emergência sanitária é grave e ímpar, pior do que em qualquer outro momento em 12 meses, pois a epidemia se agrava ao mesmo tempo em todo o território nacional. Como alertou em nota técnica a Fiocruz, 19 unidades da Federação enfrentam situação crítica em seus hospitais, com ocupação de leitos de UTI maior que 80% (10 delas acima de 90%). São Paulo, onde a administração do estado manteve conduta racional, ainda observa lotação média de 76% dos leitos, mas a situação se deteriora em ritmo acelerado.
O governador João Doria (PSDB) anunciou a criação de 500 novas vagas de UTI, sem garantia contudo de evitar o colapso local, como se observou em Araraquara, ou geral, como pode acontecer nas próximas duas semanas. A vacinação, como se sabe, é a única saída para a crise e precisa ser acelerada. Não existe tratamento precoce para as pessoas contaminadas, ao contrário do que propaga o presidente ignaro. Só nos restam, pois, as alternativas das medidas comprovadas de prevenção, ditas não farmacológicas: máscaras, distanciamento social e higiene das mãos. Mostra-se acertada, assim, a providência de estender para todo o território paulista a fase vermelha, de maior restrição para o comércio e a mobilidade das pessoas, ainda que eivadas de exceções. Cultos religiosos, por exemplo, costumam produzir focos de intensa contaminação. Não há nenhum sentido em mantê-los enquanto se fecham os parques públicos. Governadores e prefeitos que fazem o possível para salvar vidas devem ser apoiados. Quanto ao presidente da República, apenas sua indiferença à mortandade supera a incompetência de sua gestão. Basta de titubeio. As armadilhas lançadas por Bolsonaro têm de ser desarmadas com coragem e decisão, a fim de frear a curva da morte insuflada pelo Planalto.

PAINEL - *”Voto de Flávio Bolsonaro na PEC Emergencial irrita policiais, que criticam discurso eleitoreiro de presidente”*: Um voto de Flávio Bolsonaro (Republicanos-RJ) nesta quarta (3) contra uma emenda na PEC (Proposta de Emenda à Constituição) Emergencial irritou policiais. Ideia do senador Marcos do Val (Podemos) pretendia deixar diversas forças de segurança protegidas das mudanças previstas pela PEC, como a que proíbe reajuste salarial. O senador votou contra a proposta do colega, que foi rejeitada. Dessa forma, o texto que seguiu para a Câmara prevê que policiais estarão na mesma situação que demais servidores públicos. O episódio e a polêmica sobre prioridade da vacinação estão levando a atritos entre Jair Bolsonaro e a categoria, sua importante base eleitoral. Em nota, a FenaPRF (Federação Nacional dos Policiais Rodoviários Federais) disse que o governo foi contra a valorização dos profissionais de segurança pública. Para os policiais, o apoio do governo Bolsonaro, inclusive com o voto do senador Flávio Bolsonaro contra a emenda, mostra que a “segurança pública parece ser utilizada apenas como uma bandeira eleitoreira”. No entendimento dos PRFs, mesmo sendo uma bandeira de Bolsonaro, não há no governo “uma política verdadeira de valorização” dos agentes de segurança pública.
A UPB (União dos Policiais do Brasil) também criticou o comportamento do executivo federal na votação da PEC Emergencial. As 24 entidades representativas de carreiras policiais da UPB assinaram uma nota pública em que classificam como “chantagista” a PEC enviada pelo governo e lamentam o “descaso do governo federal” com os policiais. Sobre a atuação da base de apoio de Jair Bolsonaro para derrubar a emenda proposta pelo senador Marcos do Val (Podemos), a UPB afirma ser uma demonstração de que o governo “não cumpre e nem pretende cumprir a promessa de valorização dessas carreiras”. Em um plano divulgado pelo Ministério da Saúde no fim de janeiro, a orientação é para que presos sejam vacinados antes de agentes penitenciários e antes também de outras forças. Nesta quinta (4), secretários de Segurança deram início a uma articulação para pedir que a programação da pasta de Eduardo Pazuello seja alterada. Eles acionaram o ministro André Mendonça (Justiça). A PEC Emergencial estabelece em seu texto, aprovado no Senado, uma série de proibições para contratação de pessoal, realização de concursos, reestruturação de carreira, aumento salarial e promoção funcional quando o governo passa por problemas fiscais. A emenda proposta pelo senador Marcos do Val contemplava Polícia Federal, Polícia Rodoviária Federal, políciais civis, polícias militares e corpos de bombeiros, além de políciais penais federal, estaduais e distrital.

PAINEL - *”PF encontra esconderijo inusitado para revólver em operação com três deputados do MA citados”*

PAINEL - *”Boulos denuncia Pazuello por gastar só 9% de verbas para vacina e R$ 90 mi com cloroquina”*: Guilherme Boulos (PSOL) pediu ao MPF (Ministério Público Federal) que investigue possível ato de improbidade administrativa do ministro da Saúde, Eduardo Pazuello. O argumento apresentado é que o Ministério da Saúde gastou apenas 9% das verbas liberadas para compra de vacina enquanto investiu mais de R$ 90 milhões na compra de cloroquina e outros medicamentos utilizados no tratamento precoce recomendado pelo presidente Jair Bolsonaro. O candidato à Prefeitura de São Paulo nas últimas eleições fala em omissão ilegal e violação da moralidade e eficiência administrativa.

PAINEL - *”Médicos de comitê que aconselha Doria querem que ele leia livro que mostra 6.000 infectados em igreja na Coreia do Sul”*
PAINEL - *”Anac abre procedimento para apurar batida de avião com vacinas da Covid-19 em jumentos na Bahia”*
PAINEL - *”STJ oferece cursos de 'rotina familiar' e 'planejamento de cardápios' no Mês da Mulher, mas recua após críticas”*

*”Bolsonaro perde terreno em sua base e vê impulso de Lula em popularidade digital”* - O presidente Jair Bolsonaro (sem partido) perdeu desde o início deste ano parte de sua base de apoio digital, diante do agravamento da crise da pandemia do coronavírus, e ainda viu a aproximação do ex-presidente Lula (PT) no ranking de popularidade digital. A popularidade nas redes sociais é o principal trunfo de Bolsonaro em busca de sua reeleição no ano que vem, assim como foi em 2018 para a sua eleição ao Palácio do Planalto, quase sem tempo de TV na propaganda eleitoral, e tem sido no dia a dia de seu governo. A queda de patamar de Bolsonaro aparece em atualização nesta semana do ranking do Índice de Popularidade Digital (IPD), elaborado pela consultoria Quaest. A métrica avalia o desempenho de personalidades da política nacional nas plataformas Facebook, Instagram, Twitter, YouTube, Wikipedia e Google. Bolsonaro segue na primeira colocação do ranking, dentre uma lista de 13 nomes que devem influenciar as eleições presidenciais de 2022. O presidente, porém, está em um patamar 20 pontos abaixo em relação ao que acumulava em 2020. O IPD é medido em uma escala de 0 a 100, em que o maior valor representa o máximo de popularidade. Bolsonaro saiu da casa dos 80 pontos no ano passado e agora se fixou no patamar de 60. São monitoradas seis dimensões nas redes: fama (número de seguidores), engajamento (comentários e curtidas por postagem), mobilização (compartilhamento das postagens), valência (reações positivas e negativas às postagens), presença (número de redes sociais em que a pessoa está ativa) e interesse (volume de buscas no Google, Youtube e Wikipedia). A métrica é relacional, ou seja, varia a depender das personalidades que estejam sendo comparadas. Desde o início da disseminação do novo coronavírus, Bolsonaro tem falado e agido em confronto com as medidas de proteção, em especial a política de isolamento da população.
Ele já tinha usado as palavras histeria e fantasia para classificar a reação da população e da imprensa à pandemia. Nesta quinta (4), afirmou: “Nós temos que enfrentar os nossos problemas, chega de frescura e de mimimi. Vão ficar chorando até quando? Temos de enfrentar os problemas. Respeitar, obviamente, os mais idosos, aqueles que têm doenças, comorbidades, mas onde vai parar o Brasil se nós pararmos?”. Bolsonaro também distribuiu remédios ineficazes contra a doença, incentivou aglomerações, atuou contra a compra de vacinas, espalhou informações falsas sobre a Covid-19 e fez campanhas de desobediência a medidas de proteção, como o uso de máscaras. Neste ano, porém, uma sequência de acontecimentos ligados à pandemia podem ter contribuído para esse avanço do desgaste digital do presidente. Desde o início do ano, após o fim do pagamento das parcelas do auxílio emergencial, o país conviveu com a crise da falta de oxigênio no Amazonas, o atraso no processo de vacinação e novos recordes de mortos e contaminados pela Covid-19. Na quarta-feira (3), o país bateu novo recorde de mortes, 1.840. O total de óbitos chegou a 259.402 e o de casos, a 10.722.221, desde o início da pandemia. O Brasil já está há 42 dias seguidos com média móvel de mortes acima de 1.000. O Brasil enfrenta o pior momento da pandemia, com situações críticas em todas as regiões do país. Dez capitais do país apresentavam UTIs com mais de 90% de ocupação na terça.
Outra novidade na atualização desse ranking é o avanço digital do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva. O petista, que sempre teve atuação capenga nesse campo, ganhou força nos últimos meses e aparece agora como o principal antagonista de Bolsonaro nas redes sociais. Lula tem falado mais tanto nas redes sociais quanto em entrevistas à imprensa. Mas, segundo o pesquisador Felipe Nunes, professor de ciência política da UFMG (Universidade Federal de Minas Gerais) e diretor da Quaest, um outro fator pode ter contribuído com o avanço de Lula no ranking de popularidade digital. “O que fez Lula voltar? Objetivamente: ele cresceu em número de seguidores, cresceu em engajamento e cresceram as procuras por ele no Google. O que causou isso? Temas de comparação entre os preços na era Lula e agora”, afirma o professor Nunes. No ano passado, a inflação ao consumidor acumulada em 12 meses medida pelo IPCA do IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística) chegou a ficar abaixo de 2%. Atualmente, os índices de preços estão acima de 4,5% e devem se aproximar de 6% em meados de 2021. A meta do Banco Central é segurar a inflação em 3,75% no ano, com tolerância de 1,5 ponto percentual para mais ou para menos. Entre os produtos que mais subiram estão itens da cesta básica, como feijão, arroz e óleo de soja, que quase dobraram de preço em 12 meses. Segundo o ranking IPD, da Quaest, a diferença de pontos entre Bolsonaro e Lula hoje é de apenas 6,4 pontos (62,3 do presidente e 55,9 do ex-presidente petista).
Bolsonaro e Lula, por ora, não poderão se enfrentar na eleição de 2022. Apesar de beneficiado por um novo entendimento do STF (Supremo Tribunal Federal) segundo o qual a prisão de condenados somente deve ocorrer após o fim de todos os recursos, o petista segue enquadrado na Lei da Ficha Limpa, ou seja, impedido de disputar eleições. Lula foi condenado em primeira, segunda e terceira instâncias sob a acusação de aceitar reformas e a propriedade de um tríplex, em Guarujá (SP), como propina paga pela empreiteira OAS em troca de contrato com a Petrobras, o que ele sempre negou. Além do caso tríplex, Lula foi condenado em segunda instância a 17 anos e 1 mês de prisão por corrupção e lavagem no caso do sítio de Atibaia (SP). Ainda neste ano, porém, Lula espera que o Supremo anule ambos os processos do tríplex e do sítio, sob o argumento de que o então juiz Sergio Moro não tinha a imparcialidade necessária para atuar nos casos relacionados ao petista. Não há data marcada para que esse pedido da defesa do ex-presidente seja analisado. Bolsonaro tem 6,6 milhões de seguidores no Twitter, 18,1 milhões no Instagram e 13,8 milhões no Facebook, númerios superiores aos do petista, que tem 2,1 milhões, 1.9 milhão e 4,4 milhões, respectivamente. O apresentador Luciano Huck aparece atrás de Lula no ranking, com 41,2 pontos. O governador de São Paulo, João Doria (PSDB), principal adversário de Bolsonaro na condução da crise sanitária, tem 20. Ciro Gomes (PDT) tem 28,1.

ANÁLISE - *”Movimentação digital sugere que batalha de 2022 está longe de estar definida”*: Em 2018, o país viu a inauguração de uma nova era na comunicação política. Depois do rádio, amplamente usado por Vargas, e da TV, fundamental nas eleições de Collor, FHC, Lula e Dilma, Bolsonaro usou suas redes sociais para engajar e mobilizar milhões de eleitores Brasil afora em torno de pautas (corrupção, armas e medo) que lhe deram vantagem naquela eleição. Não à toa o considero o primeiro presidente digital da história do Brasil. Se a comunicação muda, se adapta, evolui, os mecanismos de mensuração da opinião pública também precisam mudar, se adaptar e evoluir. Embora as pesquisas de opinião continuem sendo ferramentas fundamentais para mensurar avaliação de governo e intenção de voto, há outras metodologias eficazes surgindo para mensurar a popularidade digital de personalidades e marcas usando apenas dados coletados em plataformas digitais.
O IPD (Índice de Popularidade Digital) da Quaest é um exemplo disso. O algoritmo usa inteligência artificial e coleta 152 variáveis de Twitter, Facebook, Instagram, YouTube, Wikipedia e Google para estimar um ranking que compara o desempenho de qualquer personalidade ou marca presente no ambiente digital. Em 2020, o IPD foi calculado para candidatos a prefeito e vereador em 635 cidades do país. Em São Paulo, por exemplo, esse foi o primeiro indicador a mostrar a vantagem que Boulos teria no primeiro turno da eleição. Em BH, foi capaz de apontar Bruno Engler como o segundo colocado na disputa com Kalil. Na média, o resultado eleitoral observado nas urnas mostrou correlação de 92% com os resultados de popularidade digital estimados por meio do IPD antes da abertura das urnas. Em 2018, o IPD já havia tido um bom desempenho como preditor de desempenho eleitoral, tendo tido correlação de 94% com o resultado das eleições para governador, deputados federais e deputados estaduais. Ou seja, os dados do índice conseguiram descrever de forma eficiente o resultado eleitoral apurado pelo TSE em 2018 e 2020. Sendo assim, deveríamos começar a usá-lo para entender o cenário eleitoral de 2022. A Quaest começou a monitorar a popularidade digital de Bolsonaro e outros possíveis concorrentes à Presidência já em janeiro de 2019. Desde então, observou-se um predomínio absoluto de Bolsonaro no ambiente digital. Em 2019, a média do IPD de Bolsonaro foi de 85,3 (em uma escala de 0 a 100); em 2020, foi 80,7. Outras personalidades políticas, como Lula, Ciro, Doria, Huck e Moro tinham médias bem mais baixas, próxima dos 45 pontos. Neste cenário, qualquer analista que usasse o IPD como referência diria que a reeleição do presidente seria certa. Ele não só conquistava bons resultados no índice geral de popularidade digital, como também dominava suas dimensões de fama, engajamento, mobilização e valência.
O terceiro ano do mandato de Bolsonaro, no entanto, começou com resultados bem menos otimistas para ele e muito mais favoráveis aos seus adversários. Após a crise de leitos em Manaus, o atraso na vacinação, o fim do auxílio emergencial e os recentes resultados econômicos desastrosos, a média da popularidade digital de Bolsonaro está 20 pontos menor do que nos anos anteriores. Em 1º de janeiro de 2021, por exemplo, o presidente mantinha bom desempenho nas redes, com um IPD de 83,2 pontos. Ele teve momentos ruins ao longo de 2020, mas nada que abalasse definitivamente sua popularidade digital. Lula, por outro lado, começou o ano com um IPD de 40,3 pontos. Os dados para 1º de março mostram um cenário bem diferente. Os dois adv ersários políticos nunca estiveram tão perto em desempenho medido nas redes. Bolsonaro caiu para 62,3, e Lula subiu para 55,9. Mas não foi só Lula que obteve resultados positivos neste período. Huck, por exemplo, chegou a 48,9 pontos no IPD com as críticas direcionadas ao presidente em relação ao que aconteceu em Manaus. Doria chegou a 43,9 pontos com o anúncio da vacina do Butantan. O que toda essa movimentação digital nos sugere é que a batalha de 2022 está longe de estar definida, como quer acreditar o fã-clube de Bolsonaro. Uma análise mais cuidadosa das redes explica por quê.
A principal motivação para o crescimento de Lula nas redes nos últimos 60 dias foi o aumento no interesse, medido no Google, sobre o preço de alimentos e combustíveis durante o seu governo. O engajamento em torno de seu nome nas redes aumentou porque as pessoas começaram a buscar de forma espontânea referências de preços do passado para os debates digitais em torno dos constantes aumentos que estamos vivenciando agora. ‘É a economia, estúpido’, diria James Carville. O crescimento digital de Huck e Doria foi momentâneo porque dizia respeito a um tema relevante, mas não estruturante. O que tem alavancado Lula nos meios digitais é a discussão sobre o bolso, o poder de compra, a crise econômica, a comparação de preços que o Google permite que seja feita em qualquer aparelho de celular ou computador. Se as redes são capazes de nos dizer a popularidade de personalidades políticas, e se essa popularidade tende estar associada aos resultados eleitorais, é bom Bolsonaro colocar as teclas do seu Twitter de molho. Ele parece ter caído de patamar definitivamente no campo onde sempre dominou soberano: as redes. Mas não é isso que deve lhe preocupar, mas sim os motivos para tal. Se os resultados objetivos de seu governo não melhorarem até 2022, Bolsonaro terá muita dificuldade de se reeleger. O sentimento de mudança estará posto. Contra essa correnteza é difícil remar.
* Felipe Nunes - Diretor da Quaest Pesquisa & Consultoria e professor de ciência política na UFMG

*”Pressionado por Covid, Bolsonaro tenta se equilibrar entre vacina e discurso radical para base ideológica”* - O recorde de mortes, a falta de leitos e a pressão de governadores nesta semana gerou novo desgaste para o presidente Jair Bolsonaro (sem partido), que nos últimos dias se equilibrou entre dar o aval para a compra de um um novo lote de imunizantes contra a Covid-19 e fazer discursos contra o isolamento social. Ao mesmo tempo que liberou o Ministério da Saúde para sinalizar que vai fechar contrato com as farmacêuticas Pfizer e Janssen, o chefe do Executivo potencializou sua retórica radical como aceno à base ideológica, eleitorado mais fiel e do qual não pode prescindir na eleição de 2022.
A Pfizer vinha tentando vender vacinas para a União havia sete meses, mas a manifestação favorável só aconteceu nesta quarta-feira (3), após o governador de São Paulo, João Doria (PSDB), demonstrar interesse em adquirir vacinas da farmacêutica. Reação semelhante aconteceu em dezembro, quando o governo federal indicou que poderia fechar com a Pfizer para não ver Doria sair na frente na campanha de imunização, como acabou acontecendo. Doria é visto pelo Palácio do Planalto como um potencial adversário para as eleições de 2022. O próprio presidente alegou que as tratativas com a Pfizer avançaram por causa da aprovação no Congresso de um projeto de lei que permite que União, estados e municípios sejam autorizados a "constituir garantias" e contratar seguros para eventuais riscos, destravando a compra de imunizantes da Pfizer e também da Janssen, cujo contrato tem cláusulas semelhantes. Em dezembro, ao criticar a farmacêutica, Bolsonaro sugeriu que a vacina oferecida poderia provocar efeitos colaterais, como fazer alguém "virar jacaré". “Se tomar e virar um jacaré é problema seu. Se virar um super-homem, se nascer barba em mulher ou homem falar fino, ela [Pfizer] não tem nada com isso”, disse à época.
Ainda do lado mais contido de sua atuação nesta semana, Bolsonaro abriu mão de fazer um pronunciamento em cadeia nacional de rádio e TV. No vídeo, auxiliares disseram que, entre outros pontos, ele criticaria as medidas de restrição que vêm sendo adotadas por governadores para conter a disseminação do coronavírus. Pesou para a decisão a certeza de que o chefe do Executivo seria alvo de novos panelaços, em razão dos recordes diários registrados de mortos pelo coronavírus. Mas o fato de não ter ido à TV não o impediu de atacar governadores, imprensa e partidos adversários em manifestações ao longo da semana. Nesta quinta-feira (4) os acenos à sua base ideológica começaram quando ele pousou em Uberlândia (MG). "Tem idiota que a gente vê nas redes sociais, na imprensa, [que diz] 'vai comprar vacina'. Só se for na casa da tua mãe. Não tem para vender no mundo", disse Bolsonaro, que desde o início do ano tem tentado se descolar do personagem antivacina que incorporou nos últimos meses. Ao comentar com apoiadores a decisão de comprar vacinas da Pfizer, ele lembrou de quando falou do tal efeito colateral de transformar alguém em réptil para atacar a imprensa. "Então, o pessoal fala que eu falei que vai virar jacaré. Não tem mais figura de linguagem no Brasil para estes idiotas da imprensa", afirmou ainda na cidade mineira.
Logo em seguida, partiu para São Simão (GO) e, em um evento com várias pessoas sem máscara e aglomeradas, voltou ao discurso radical. "Vocês não ficaram em casa, não se acovardaram. Nós temos que enfrentar os nossos problemas", disse Bolsonaro. "Chega de frescura e de mimimi, vão ficar chorando até quando? Temos que enfrentar os problemas, respeitar obviamente os mais idosos, aqueles que têm doenças, comorbidades. Mas onde vai, onde vai parar o Brasil se nós pararmos? A própria Bíblia diz, que em 365 citações, ela diz: 'Não temas'", afirmou. O presidente também aproveitou para fazer coro com os comerciantes que têm feito protestos pelo país contra as medidas de restrição. "Atividade essencial é toda aquela necessária para o chefe de família levar o pão para dentro de casa, porra", afirmou. "Por que essa frescura de fechar o comércio?" A estratégia de recorrer a seu repertório ideológico não é nova e já se tornou previsível toda vez que o presidente se sente acuado. De acordo com interlocutores, Bolsonaro não colocará empecilhos para a compra de novas doses de vacina, uma vez que é a única forma de o país retomar algum grau de normalidade. Mas pessoas próximas ao presidente destacam que ele não pode abrir mão da retórica mais radical, já que ela serve para mobilizar sua base fiel, sempre de olho no pleito do ano que vem.
Em sua live semanal, nesta quinta, Bolsonaro refutou o papel de negacionista em relação à pandemia, embora tenha se oposto às medidas defendidas por especialistas, como o isolamento social e o uso de máscaras de proteção facial. "Agora, vêm essas narrativas que somos negacionistas, não acreditamos em vacinas, aquela história toda para boi dormir, como fizeram na minha campanha em 2018, dizendo que eu era racista, misógino —misógino não gosta de mulher... Éramos um montão de coisas, e nada daquilo o povo acreditou que era verdade, que não podiam acreditar, e nós vencemos as eleições", declarou. Bolsonaro tem sido cobrado não apenas pelo agravamento da crise e pelo lento ritmo de imunização no país como também pelos sucessivos aumentos nos preços dos combustíveis, o que afeta a população em geral, mas, principalmente, os caminhoneiros, público importante para o bolsonarismo. Por causa do salto nos preços, Bolsonaro interveio na Petrobras anunciando sua intenção de trocar a presidência da estatal, colocando um militar, o general Joaquim Silva e Luna. A manobra desagradou o mercado e atingiu não apenas as ações da petroleira, mas a Bolsa de maneira geral. Nesta semana, ele oficializou a promessa de reduzir o preço do gás de cozinha e do diesel, mas, para compensar a queda de receita, elevou a CSLL (Contribuição Social sobre o Lucro Líquido) para bancos.

*”Bolsonaro precisa do centrão para mostrar mais serviço e ter voto conservador, diz apoiador alvo do STF”*

*”Jovem é preso em Minas Gerais por publicação em rede social sobre visita de Bolsonaro”* - A Polícia Militar de Minas Gerais rastreou e prendeu um jovem de 24 anos por publicações em uma rede social em que comentava sobre a visita do presidente Jair Bolsonaro a Uberlândia, nesta quinta-feira (4). Ele deixou o Presídio Uberlândia I por volta das 18h, com alvará da Justiça. Um dia antes da visita, João Reginaldo Silva Júnior escreveu em seu perfil no Twitter, com cerca de 150 seguidores: “Gente, Bolsonaro em Udia [Uberlândia] amanhã...Alguém fecha virar herói nacional?”. Outros três usuários da rede responderam com frases como "Só preciso da arma" , "Bolsonaro se vier a Uberlândia voltará pra casa num caixão, não é ameaça é comunicado” e"Bolsonaro em Uberlândia amanhã. Né possível que não tem um sniper nessa cidade”. As publicações foram rastreadas pelo serviço de inteligência da PM, que monitorava redes sociais da região desde a segunda-feira (1), como medida de segurança para a visita presidencial. João foi o único preso nesta quinta porque os demais usuários não foram localizados nos endereços indicados pela inteligência, de acordo com o auto de prisão em flagrante, feito pela Polícia Federal após o rapaz ser levado pela PM à delegacia. Segundo a PF, ao ser identificado fazendo propaganda e incitação à prática de crimes contra a integridade física e a vida do presidente da República, ele deve responder por crimes previstos nos artigos 22 e 23 da Lei de Segurança Nacional, com penas que podem ficar entre dois e oito anos de reclusão.
A PF diz ainda que segue a investigação para identificar os outros autores, que podem responder pelos mesmos crimes. O jovem reconheceu para a polícia que fez a publicação citando Bolsonaro, mas disse que ela não teve “conotação de ameaça, apenas de humor”. Ele afirmou ainda que se arrependia da publicação e a apagaria se pudesse e disse não conhecer os outros usuários que comentaram em seu perfil. Ele afirmou ainda que achava a injusta a prisão por uma publicação que poderia ser interpretada de forma diferente de uma ameaça e que outras pessoas a viram como piada. Ele também ressaltou que não faz parte de movimento político ou estudantil. Em outra publicação, o jovem se referiu também à presença do governador Romeu Zema (Novo) na agenda presidencial, dizendo: “Atualização: o Zema estará também. Olha a oportunidade aí, meus amigos”. Zema não participou da agenda presidencial na região. O governo do estado não retornou ao contato da Folha para comentar o episódio. Professor de direito constitucional da USP, Conrado Hübner Mendes, que é colunista da Folha, comparou a prisão do jovem em Uberlândia com o caso do deputado federal Daniel Silveira (PSL-RJ), que foi preso em fevereiro, por ordem do ministro Alexandre de Moraes, do STF (Supremo Tribunal Federal).
O deputado é alvo de dois inquéritos na corte —um apura atos antidemocráticos e o outro, fake news. “A prisão em flagrante de um deputado que ameaçou o Supremo e celebrou o AI-5 e convocou ataque, fez com que a PF bolsonarista se sinta autorizada a sair prendendo. Hoje foi um estudante de Uberlândia por ter postado crítica irônica a Bolsonaro. Um post. Está preso”, escreveu Hübner. Advogado e professor de direito internacional e direitos humanos na FGV Direito SP, Thiago Amparo, também colunista da Folha, questionou: “Qual é o problema de uma lei da época da ditadura? Termos práticas ditatoriais. Jovem é preso em flagrante após post sobre visita de Bolsonaro a Uberlândia”, comentou. Bolsonaro visitou Uberlândia, que está com 100% dos leitos ocupados e foi colocado na onda roxa do programa do estado, com medidas de lockdown, que incluem toque de recolher, fechamento do comércio não-essencial e proibição da circulação de pessoas. Nas redes, o prefeito Odelmo Leão (PP) publicou fotos ao lado de Bolsonaro, nas quais o presidente aparece sem máscara. Leão escreveu que os dois falaram de demandas que a região precisa. O presidente seguiu então para São Simão (GO), para inauguração da ferrovia Norte-Sul. ​
Em setembro de 2018, durante campanha à presidência, Bolsonaro sofreu um ataque à faca durante um ato público em Juiz de Fora, também em Minas Gerais. Adélio Bispo, o homem que feriu o então candidato do PSL, foi considerado inimputável — incapaz de responder pelos atos — e segue preso com medida de segurança.
+++ Se a polícia já prendeu um cantor por fazer um show e promover aglomeração, por que Jair Bolsonaro não é alvo de medida semelhante já que tem como hábito promover aglomerações?

SILVIO ALMEIDA - *”A morte e a política”*: A morte é um tema tradicional da filosofia. Dos clássicos da Antiguidade, passando pelos medievais como Santo Agostinho, até contemporâneos como Schopenhauer, Arendt e Sartre, apenas para citar alguns exemplos, a morte sempre ocupou posição importante no pensamento filosófico. Na verdade, diriam alguns, a filosofia só existe diante da perspectiva da morte. E faz sentido, se considerarmos que é a partir desta sombra implacável que nos lançamos na aventura do pensamento, que indagamos acerca de nossa singularidade diante do todo da natureza. A filosofia, com efeito, ao nos desafiar a refletir sobre a morte, a finitude e a incompletude, invariavelmente leva-nos a significar a vida e, com isso, estabelecer a condição humana.
A relação inextrincável entre os sentidos da vida e da morte é um dos pontos centrais da filosofia política. É na polis —que mais do que “cidade-estado” é o lugar da realização do humano— que se torna possível uma existência não resumida à mera reprodução biológica. Sob a política —que Aristóteles denominou de “ciência arquitetônica”— o ser humano revela-se na arte, na ética e na ciência. Na polis também surgem paixões e contradições, mas é onde também o amor se manifesta. A política é o modo de enfrentamento de nossa fragilidade diante da natureza e da inevitabilidade da morte. A filosofia —destaco aqui a filosofia política— constitui-se como um processo de atribuição de significado para a vida e também para a morte. Há aqueles que consideram que apenas a vida de alguns importa. Já outros acreditam que toda vida tem valor. Desse modo, o valor que se dá à vida é medido pelo modo com que se trata politicamente a morte. Símbolos, gestos, funerais e luto, rituais, portanto, mais do que dignificar quem morre, sinalizam para os vivos que suas existências são importantes e que toda ausência será sentida pela comunidade. Ao mesmo tempo em que a morte nos coloca diante de nossa própria finitude e incompletude, o luto, o abraço nos que choram e a preservação da memória ancestral nos conectam e nos lembram que todos fazemos parte do exercício de tentar construir algo em comum, algo chamado humanidade. A banalização da morte e o descaso com o sofrimento alheio que observamos por parte do presidente da República e seus apoiadores é mais do que “autoritarismo” ou “decadência civilizatória”.
Estamos diante de uma verdadeira “regressão antropológica”, uma espécie de retorno a condição pré-política, em que os rituais que preparam a vida e anunciam a morte nos foram extirpados. É um governo em que só se pensa em armas, que impõe restrições orçamentárias enquanto muitos passam fome e que nada faz para conter uma grave doença. Nas mais diversas tradições religiosas, a relação com a morte pode ser de temor, mas sempre de respeito. O governo brasileiro não respeita a morte, o que demonstra que é um governo sem filosofia, sem ciência e sem religião. Bolsonaro nos retirou o direito de luto, nos deixou sem o direito de lidar com a morte como parte da vida. Sequer consegue aparentar tristeza ou calar-se diante da dor. Em muito esse homem contribuiu para que os brasileiros hoje tenham medo de viver, simplesmente porque também têm medo de morrer. O governo que vier a suceder essa infâmia que toma conta de nosso país terá que, além de fazer todo o exato oposto, ressignificar a morte para que a vida possa ser valorizada. Um memorial terá que ser construído para todas as vítimas da Covid-19 e o país terá que viver seu luto. Dedico esta coluna a todos os brasileiros que perderam alguém nessa pandemia. Que todas as pessoas que me leem agora sintam-se abraçadas e confortadas.

MÔNICA BERGAMO - *”Cármen Lúcia mandou decisão judicial de soltar Lula ser descumprida, diz Deltan em diálogos da Lava Jato”*: Diálogos enviados pela defesa do ex-presidente Lula ao STF (Supremo Tribunal Federal) nesta quinta (4) mostram os procuradores da força-tarefa da Operação Lava Jato discutindo como evitar que o petista saísse da prisão por meio de habeas corpus concedido pela Justiça em 2018. No dia 8 de julho daquele ano, um domingo, o desembargador Rogério Favreto, do TRF-4 (Tribunal Regional Federal da 4ª Região), atendeu a um pedido de advogados e determinou que Lula fosse solto. Ele argumentou que o petista, embora condenado a mais de 12 anos de prisão, não tinha os direitos políticos cassados e por isso poderia fazer campanha eleitoral. Estaria ainda sendo submetido a constrangimento ilegal porque sua sentença ainda não tinha transitado em julgado. Favreto estava no plantão naquele dia. A notícia foi recebida como uma bomba nos meios jurídicos e deu início a uma movimentação intensa dos procuradores e de magistrados para que a liberdade de Lula fosse evitada. Os diálogos revelam os bastidores das iniciativas tomadas por eles. O desafio, naquele momento, era ganhar tempo até que a ordem de Favreto fosse revertida.
Por isso, a Polícia Federal foi orientada a descumprir a determinação do magistrado, mostram as conversas. E, de fato, a PF não soltou o ex-presidente. O primeiro a se manifestar contra a soltura foi o então juiz Sergio Moro, que, embora de férias, deu um despacho afirmando que Favreto era autoridade "absolutamente incompetente" para se sobrepor à ordem de prisão, proferida pela 8ª Turma do TRF-4. O desembargador Favreto derrubou o despacho de Moro e deu uma hora para que sua decisão fosse cumprida pela PF. O desembargador João Pedro Gebran Neto, que relatava o processo de Lula no TRF-4, teria entrado no circuito para orientar a PF a manter Lula na prisão. Nos diálogos, analisados pelo perito Cláudio Wagner e enviados ao STF pelo escritório Teixeira Zanin Martins Advogados, o procurador Deltan Dallagnol escreve aos colegas: "Orientação do Gebran è que a PF solte se não vier decisão do presidente do TRF" [a grafia foi mantida na forma original]. Dallagnol afirma ainda que ele mesmo tinha entrado em contato com os policiais: "Pedi pra PF segurar, mas predicávamos deneto dessa 1h ter sinal positivo. Pq eu dizer e nada não muda muito qdo tem ordem judicial". O procurador ainda afirma que "Moro tb não tem mais o que fazer​ ".
Em seguida, eles discutem pedidos e manifestações que podem apresentar para que Lula siga preso. E reconhecem a dificuldade da situação. "Já enfrentamos desembargadores corruptos antes (Lipmann e Direcei). Aqui a questão parece ser ideológicoa", diz o procurador Januario Paludo. "A posição do MPF tem que ficar clara nos autos. Há abuso de autoridade por parte do Desembargador Favareto". A esperança a partir daquele momento recai sobre o então presidente do TRF-4, Carlos Eduardo Thompson Flores Lenz, que poderia suspender a determinação de Favreto. "Por ora temos 30 min para fazer o Lenz se manifestar. Depois sim, dá para ir com tudo!", diz uma procuradora. A aflição dos integrantes da Lava Jato aumentava: sem uma decisão rápida de Thompson Flores, Lula poderia ser solto, mostram as conversas. "O problema é que Gebran disse pro Valeixo [o então superintendente da Polícia Federal no Paraná, Maurício Valeixo] cumprir a ordem do Favreto se não vier contraordem tempestiva do president​[e]", escreve Deltan Dallagnol. "Imprime e leva em mãos para o presidente", diz a procuradora Jerusa Viecili. "Ou driblamos isso ou vamos perder", segue Deltan. Um pouco mais tarde, o procurador Januario Paludo acalma os colegas: "Waleixo [o superintendente da PF, Mauricio Valeixo] ligou. Lenz ligou para ele pedindo para aguardar a decisão dele".
"Valeixo falou com Thompson que mandou não cumprir até ele decidir", diz Deltan. "Isso nos dá mais tempo". Em seguida, ele afirma que a então presidente do STF (Supremo Tribunal Federal), Cármen Lúcia, teria se envolvido na movimentação. Ela teria telefonado para o então ministro da Segurança, Raul Jungmann, a quem a PF era subordinada, e pedido para Lula não ser solto. "Carmem Lúcia ligou pra Jungman e mandou não cumprir e teria falado tb com Thompson. Cenário tá bom", escreveu Deltan Dallagnol. Thompson Flores acabou suspendendo a decisão de Favretoainda naquele domingo. E Lula seguiu preso. A coluna enviou o trecho do diálogo a Jungmann, que afirmou se tratar de uma "mentira". "Naquele dia, recebi telefonema da Cármen Lúcia e de várias pessoas que estavam preocupadas com a situação. Mas ela em nenhum momento me pediu absolutamente nada", diz Jungmann. "Ela é juíza. Ela sabe que eu nada poderia fazer, nem para soltar, nem para manter alguém preso. Seria um crime, seria obstrução de Justiça", segue o ex-ministro.
Ele afirma que vai interpelar Deltan Dallagnol para que o procurador " confirme ou desminta isso". Jungmann afirma que, no diálogo que manteve naquele dia com Cármen Lúcia, ela apenas manifestou preocupação com decisões desencontradas da Justiça. E disse que divulgaria uma nota. A ministra de fato divulgou um texto em que afirmava que a Justiça "é impessoal, sendo garantida a todos os brasileiros segurança jurídica, direito de todos. O Poder Judiciário tem ritos e recursos próprios, que devem ser respeitados. A democracia brasileira é segura e os órgãos judiciários competentes de cada região devem atuar para garantir que a resposta judicial seja oferecida com rapidez e sem quebra da hierarquia, mas com rigor absoluto das normas vigentes". A coluna procurou o gabinete de Cármen Lúcia, que pediu que a demanda fosse enviada por escrito para que a magistrada pudesse se manifestar. Os procuradores da Lava Jato não reconhecem a autenticidade das conversas. Afirmam que elas foram obtidas por meios criminosos e que podem ser editadas e tiradas de contexto. Os diálogos aos quais a defesa de Lula teve acesso, e agora entrega ao STF, fazem parte da Operação Spoofing, que investiga a invasão de telefones de autoridades por hackers.

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*”Com estagnação e inflação, Bolsonaro segue rota de Dilma pré-impeachment”* - O presidente Jair Bolsonaro (sem partido) está fazendo o Brasil reviver o insólito cenário de forte aceleração da inflação com queda da atividade econômica. A combinação, conhecida como “estagflação" —quando estagnação econômica, ou recessão, convive com preços em alta— foi a principal marca dos meses que precederam o processo de impeachment da ex-presidente Dilma Rousseff, a partir de maio de 2016. Sob Bolsonaro, apesar de a economia ter encolhido 4,1% no ano passado e caminhar para uma possível estagnação neste primeiro semestre, a inflação deve atingir 7% em meados do ano. Raramente isso acontece, pois atividade deprimida tende a segurar os preços —a não ser que outros motivos, estruturais ou políticos, detonem o fenômeno. O principal fator para o cenário de economia fraca hoje é a pandemia da Covid-19, que impede uma retomada mais livre e que tem causado distorções no mercado. Mas, segundo especialistas, a postura errática do presidente em relação ao equilíbrio das contas públicas, além de suas intervenções, como no episódio Petrobras, tem pressionado o valor do dólar para além do que os fundamentos econômicos justificariam, alimentando exageradamente a inflação. Nos últimos 12 meses, o dólar subiu quase 30% frente o real, uma das moedas que mais se desvalorizaram no mundo, tornando mais caros os produtos importados ou denominados na moeda americana. Neste início de 2021, os valores em reais (impactados pelo dólar) de commodities internacionais agrícolas, metálicas e dos combustíveis tiveram alta conjunta inédita —pressionando preços em várias cadeias produtivas, como de alimentos, bens duráveis e construção civil.
O aumento de preços de alguns desses itens, que compõem a taxa oficial de inflação (o IPCA) já é superior ao verificado nos últimos meses do governo Dilma. Em 2015, último ano completo sob o comando da petista, a economia encolheu -3,5%; e os preços subiram 10,6%. Hoje, um dos poucos setores em que a aceleração da inflação ainda está abaixo do período pré-impeachment é o de serviços, impactado pelo isolamento social. Mesmo assim, há pressões consideráveis nesse item. Outros preços, como de passagens de ônibus, não reajustados no ano eleitoral de 2020, e dos planos de saúde, congelados no ano passado (mas que devem subir duas vezes neste ano) devem jogar mais lenha na inflação. Para André Braz, analista do Índice de Preços ao Consumidor da FGV/Ibre, há neste momento uma tendência de maior “espalhamento" da inflação, com os preços no atacado (por conta das commodities) contaminando a economia. Segundo ele, enquanto a inflação em 2020 ficou muito concentrada nos alimentos, a medida em que a atividade ganhar mais tração, apesar da Covid, a tendência é que as empresas repassem outros custos a seus preços, sobretudo pela alta do dólar. “Embalagens que usam alumínio, construções que empregam fios de cobre e geladeiras que consomem aço, tudo isso pode sofrer repasses”, exemplifica. Nesse cenário, e sem investimentos, Braz considera muito difícil o Brasil voltar a crescer, criando um quadro de estagnação com inflação (estagflação) que “pode piorar”, na sua opinião. Se a economia continuar crescendo pouco —tendência que persiste desde 2014, inclusive com PIBs negativos em 2015, 2016 e 2020—, as empresas que não puderem repassar custos também tendem a cortar a produção e a demitir, deprimindo mais a atividade.
Para Sérgio Vale, economista-chefe da MB Associados, apesar de a inflação no setor de serviços ainda estar sob controle, ela está acelerando. Segundo ele, com a vacinação ganhando força em todo o mundo e a economia global em recuperação, é possível que haja um ciclo duradouro de preços em alta das commodities, cotadas em dólar. Com a moeda americana cara no Brasil, esses produtos —essenciais para a cadeia produtiva— continuariam pressionando a inflação. É nesse contexto que a postura do presidente seria prejudicial. “Bolsonaro parece estar cada vez mais copiando a ex-presidente Dilma na economia, o que é muito ruim para as expectativas”, diz Vale, destacando a intervenção na Petrobras e os sinais trocados a respeito das contas públicas.
Para Livio Ribeiro, pesquisador da FGV/Ibre, a pandemia causou uma espécie de “torção" na inflação, deprimindo os preços dos serviços, com as pessoas mais em casa, e aumentando os de alimentos e produtos domésticos, como de eletroeletrônicos. “Conforme houver uma normalização, ocorrerá também uma ‘destorção’, com os preços dos serviços acelerando”, afirma. "A pergunta de um milhão é o quanto do aumento dos outros itens é temporário ou se tornará permanente.” O principal problema, a excessiva valorização do dólar, no entanto, pode persistir, pressionando a inflação pela via do aumento dos preços em reais das commodities —sobretudo se elas continuarem se valorizando na esteira de uma recuperação mais firme no exterior. Pelos cálculos de Ribeiro, “o fogo amigo” provocado por uma espécie de “pântano institucional” no governo Bolsonaro é hoje a principal causa da disparada do dólar —e explicaria a maior parte da desvalorização do real nas últimas semanas. Nessa linha, outros dados mostram que o “custo Bolsonaro” levou o chamado “risco Brasil" a deslocar-se negativamente do conjunto das demais economias emergentes, com o mercado cobrando prêmios de risco crescentes para se proteger de eventuais perdas em investimentos no país.
Para Fernando Honorato, economista-chefe do Bradesco, esse quadro pode ganhar dimensões dramáticas caso o Brasil abandone o chamado teto de gastos (que limita o aumento da despesa pública à inflação dos 12 meses anteriores) ou insira volumes consideráveis de desembolsos “extra teto” no combate à Covid-19. Isso não apenas aumentaria o “risco Brasil” como pressionaria ainda mais o dólar, com impactos crescentes na inflação. Exemplo eloquente do tema, na quarta (3), só a declaração do presidente da Câmara, Arthur Lira (PP-AL), de compromisso em manter o teto de gastos, inverteu tendência de forte valorização do dólar e estancou queda de mais de 3% que se desenhava no pregão da Bovespa. Se esse compromisso com o teto for mantido, Honorato avalia que a pressão sobre a inflação tende a se dissipar no segundo semestre, quando repasses da alta abrupta dos preços das commodities forem absorvidos. A maioria dos economistas acredita, porém, que o Banco Central pode ver-se obrigado a subir a taxa básica de juros (a Selic, hoje em 2% ao ano) antes e com mais força do que o previsto no final de 2020. Tudo por conta das atuais pressões inflacionárias, do dólar e do "custo Bolsonaro". Isso teria impacto negativo não só sobre o crescimento, pois financiamentos ficariam mais caros, mas sobre a correção do valor da dívida pública, hoje a maior em relação ao PIB (quase 90%) entre os emergentes —o que traria mais insegurança, menos investimentos e menor crescimento. “Infelizmente, a inflação no Brasil não é questão resolvida. A inação do Banco Central pode levar todas as expectativas para cima de forma muito perigosa”, diz Vale, da MB Associados.

*”Brasileiros tiraram R$ 5,8 bilhões da poupança em fevereiro, diz BC”*
*”Bolsa sobe 1,35% com aprovação da PEC Emergencial no Senado”*

PAINEL S.A. - *”Líderes empresariais dizem que governo precisa dar resposta à crise”*: Diante do agravamento da pandemia e das incertezas econômicas, o olhar de empresários e presidentes de empresas sobre a capacidade do Brasil de sair da crise tem ganhado tons cada vez mais críticos e preocupados. Enquanto o presidente Bolsonaro ataca as medidas de isolamento social, como voltou a fazer nesta quinta (4), a mensagem do setor privado quando se fala do futuro é um apelo para que o governo mostre uma reação capaz de segurar o descontrole sanitário. Segundo Helton Freitas, presidente da Seguros Unimed, o país precisa urgentemente de uma resposta coordenada. “O descontrole na circulação de novas variantes, somado à descoordenação das ações de saúde, aumenta o risco de colapso do sistema público e privado, além de elevar o nível de incerteza política e econômica”, diz. Para Erminio Lucci, da BGC Liquidez, o ritmo lento da vacinação e o fechamento do comércio nos estados vai empurrar a perspectiva de crescimento para baixo. “O governo precisa acelerar o processo de reformas para tentar reverter a tendência”, diz. “Nunca na história recente do país precisamos tanto de lideranças críveis e fortes para a tomada de decisões que certamente serão muito duras para todos”, diz Antonio Carlos Pipponzi, presidente do conselho da Raia Drogasil.

PAINEL S.A. - *”Lojas de material de construção enfrentam falta de privada”*
PAINEL S.A. - *”Governo Doria recebe centrais sindicais para falar de auxílio de R$ 450”*
PAINEL S.A. - *”Entregadores de aplicativo vão protestar contra alta da gasolina na porta da Petrobras”*
PAINEL S.A. - *”Bayer lança meta de ter 50% de mulheres em cargo de chefia até 2030”*
PAINEL S.A. - *”Governo contrata 350 temporários para criar startups nos ministérios”*

*”Estimativas para o PIB foram de alta de 2,5% a queda de até 6,6% ao longo de 2020”*
*”PIB de SP cresce 0,4% em 2020 puxado por serviços e tecnologia”*
VINICIUS TORRES FREIRE - *”Entenda a recaída do Brasil e por que os EUA afetam dólar e juros por aqui”*
*”Senado conclui votação da PEC que prevê até R$ 44 bi para novo auxílio emergencial”*

*”Itaú demite 50 funcionários que pediram auxílio emergencial”*
*”Diesel tem alta nas bombas nos primeiros dias após isenção de impostos”*
*”Etanol dispara e sobe 35% nas usinas ajudado pela alta da gasolina e por atraso de safra”*
*”Alvo de Trump, etanol brasileiro vê futuro promissor em agenda ambiental de Biden”*

*”Menos da metade das negras com filhos pequenos consegue trabalhar, diz IBGE”*
*”Europa propõe regras para equilibrar salários de homens e mulheres”*
*”WhatsApp libera chamada de voz e vídeo pelo computador”*
*”Reino Unido abre investigação contra Apple sobre acusações de monopólio na App Store”*

NELSON BARBOSA - *”Corremos risco de mergulhar de novo no abismo devido à fanfarronice do governo”*: Logo após o primeiro impacto da pandemia, em abril de 2020, a maioria dos economistas estimou que o PIB cairia de 6% a 8% no ano passado. O número do IBGE saiu nesta semana: queda de 4,1%. O desempenho foi melhor do que o esperado por três motivos. Primeiro: devido à pressão do Congresso sobre o Executivo, houve grande expansão fiscal em 2020, de R$ 524 bilhões, ou 7% do PIB, segundo números do Tesouro. O carro-chefe foi o auxílio emergencial, aquele que o governo encerrou em janeiro e agora, por nova pressão parlamentar, corre para reinstituir. Segundo: o Banco Central atuou corretamente, cortando a Selic para 2% e mantendo a taxa de juro em tal patamar apesar de pressões cambiais, pois a expectativa de inflação continuou sob controle. Poderia ter havido mais ação direta no crédito para o setor não financeiro, mas isso seria pedir demais ao atual do comando do BC. Terceiro: devido ao esforço internacional, houve rápido desenvolvimento de vacinas, que, por sua vez, gerou otimismo de que a pandemia pudesse ser rapidamente controlada no início de 2021. Como mercados se antecipam aos fatos, os preços dos ativos se recuperaram no fim do ano passado, beneficiando também o Brasil.
O desempenho econômico do Brasil poderia ter sido melhor? Sim, poderia, sobretudo se o governo federal tivesse encarado a pandemia como o risco de saúde pública que ela foi e continua sendo para todos nós. Incentivo ao uso de máscaras, lavagem de mãos e outras práticas corriqueiras de proteção poderiam ter diminuído, em muito, o contágio. No mesmo sentido, coordenação do distanciamento social entre União, estados e municípios poderia ter diminuído o impacto econômico da medida, bem como promovido o retorno mais rápido à normalidade. Em vez dessas ações, a Presidência da República se comportou de modo irresponsável, condenando distanciamento social e, pasmem, até o uso de máscaras. Se houvesse maior preocupação federal em proteger a população, teria ocorrido mais investimento da União na compra e no desenvolvimento de vacinas, bem como na manutenção preventiva de hospitais de campanha para lidar com a eventual segunda onda da pandemia, que, infelizmente, se materializou. Agora, após um ano da eclosão da doença no Brasil, enquanto outros países já caminham para a normalidade, estamos novamente em risco de mergulhar no abismo devido à fanfarronice e à irresponsabilidade do governo federal.
Ainda há tempo para evitar o pior na saúde e na economia? Há opiniões para todos os lados, mas, como devemos ser construtivos no debate público, tenho três sugestões ao presidente e ao Congresso. Na política fiscal, aprovem logo novo estímulo de até R$ 260 bilhões ao longo deste ano (50% do que foi feito em 2020), concentrado na transferência de renda aos mais pobres, no reforço da saúde e na geração de emprego, sobretudo em construção civil, quando o risco de contágio diminuir. Na saúde, acelerem a aquisição e a produção de vacinas, pois o SUS tem estrutura para imunizar rapidamente a população, e reforcem novamente a capacidade de atendimento hospitalar. Na “guerra” contra a Covid, se nossos profissionais de saúde tiverem os instrumentos necessários, eles darão conta do trabalho. E, na política em geral, promovam medidas que protejam a população em vez de criar inimigos imaginários para camuflar incompetência. No Brasil de hoje, isso significa defender publicamente o distanciamento social para quem pode praticar distanciamento social e cuidado (máscara e outras formas de proteção individual) para quem não pode praticar distanciamento social.

*”Rumo inaugura operação da ferrovia Norte-Sul”*
*”Amazon altera logo após usuários questionarem semelhança com bigode de Hitler”*

*”Brasil bate recorde e supera EUA em novas mortes por Covid por milhão de habitantes”*
*”'Chega de frescura e mimimi, vão chorar até quando?', diz Bolsonaro sobre pandemia”*
*”Rio decreta toque de recolher e restrição de horário para bares e restaurantes”*
*”Hospital da zona leste de SP transfere pacientes com Covid para maternidade”*

*”Hospital do RS tem boom de partos de mães com Covid-19, e obstetra relata cenário de guerra”*
*”Cidade no Paraná recorre a equipamentos do zoológico para enfrentar Covid-19”*
TATI BERNARDI - *”O mar”*
*”Mulheres grávidas podem tomar vacina contra Covid-19? Veja o que dizem especialistas”*

*”Vacina indiana Covaxin tem eficácia próxima de 81% em análise preliminar”*
*”Falta de doses atrasou vacinação de 400 mil pessoas na semana passada”*
*”Juiz autoriza sindicato de motoristas de aplicativo a importar vacina contra Covid”*
*”Pacheco diz esperar exemplo dos homens públicos e cobra da Saúde prova de que não é negacionista”*

*”Maior fabricante de hidroxicloroquina, Apsen recebeu R$ 20 milhões do BNDES em 2020”* - A Apsen Farmacêutica, principal fabricante de hidroxicloroquina do Brasil, assinou dois contratos de empréstimo com o BNDES em 2020, no total de R$ 153 milhões, para investir em atividades de pesquisa e ampliar sua capacidade produtiva. O valor é sete vezes maior do que o crédito liberado para a empresa nos 16 anos anteriores. O primeiro acordo, assinado em fevereiro de 2020, prevê financiamento de até R$ 94,8 milhões para o “plano de investimentos em inovação” da companhia. Desse montante, o banco desembolsou R$ 20 milhões em março do ano passado que, afirma, não pode ser aplicado na fabricação de medicamentos já existentes —caso da hidroxicloroquina. Já o segundo financiamento, de R$ 58,9 milhões, foi assinado em junho para “ampliar a capacidade produtiva e de embalagem no complexo industrial da Apsen, em São Paulo”. Os recursos aprovados nesse acordo ainda não foram liberados pelo BNDES. As informações constam no site da instituição, que usa recursos públicos para oferecer empréstimos com juros abaixo dos praticados pelo mercado. O presidente da Apsen, Renato Spallicci, é antigo apoiador do presidente Jair Bolsonaro e, na pandemia, ganhou o ex-capitão como “garoto-propaganda”. Bolsonaro, que defende o medicamento para tratar a Covid-19, mesmo sem haver eficácia comprovada, exibiu a caixinha de hidroxicloroquina da empresa em diversas ocasiões.
As vendas de hidroxicloroquina –usada no tratamento contra malária e doenças reumáticas–, ajudaram a Apsen a alcançar faturamento recorde no ano passado, próximo de R$ 1 bilhão. É uma alta de 18% em relação ao ano anterior, dos quais 2,7% se devem ao remédio, como afirmou a empresa à Repórter Brasil. A farmacêutica produz outros medicamentos e substâncias cujas vendas aumentaram em 2020 em função da pandemia, como vitamina D e antidepressivos. A Apsen é a líder do mercado nacional de hidroxicloroquina e a maior beneficiada pela comercialização recorde do produto em 2020. Sua medicação está no mercado há 19 anos e respondeu por 78% das vendas no ano passado, segundo a farmacêutica. A empresa afirmou que não usou o financiamento público na fabricação do remédio, mas que pediu os empréstimos para investir em projetos de “expansão da empresa e linhas de produtos”. A Apsen disse que os investimentos já estavam previstos antes da pandemia, informação confirmada pelo BNDES. Os pedidos foram feitos em 2019, mas os contratos assinados em 2020.
A empresa admite, contudo, que a crise de saúde acelerou os investimentos. “O foco da Apsen em 2020 foi entender a conjuntura econômica e rever o tempo em que os investimentos seriam executados. Alguns projetos do nosso planejamento estratégico foram antecipados e outros, postergados”, disse a empresa à Repórter Brasil. Segundo João Paulo Pieroni, chefe do Departamento do Complexo Industrial e de Serviços de Saúde do BNDES, os projetos apoiados não focaram em apenas um medicamento, mas na expansão geral da empresa no longo prazo. “O apoio do banco já estava previsto e não teve qualquer relação [com a produção de hidroxicloroquina]. A empresa pode até ter aproveitado esse momento comercialmente, mas, do ponto de vista do financiamento do banco, não teve efeito”. A hidroxicloroquina bateu recorde de vendas em 2020 após se tornar o carro-chefe do governo brasileiro para enfrentar a Covid-19. Só em farmácias foram comercializadas 2 milhões de unidades (com pico em dezembro), uma alta de 117% no ano em comparação a 2019, segundo o Conselho Federal de Farmácia. Além de distribuir cloroquina no SUS, o Ministério da Saúde incentivou a automedicação, por meio de um aplicativo e em campanha publicitária, e adotou um protocolo clínico, batizado de “tratamento precoce”, que recomenda a droga no estágio inicial da doença.
O governo também ampliou a fabricação pelo Laboratório do Exército e de usou os estoques da Fiocruz que seriam destinados ao programa de malária, o Executivo zerou o imposto de importação sobre a cloroquina, ainda em março de 2020. O Itamaraty intermediou negociações entre a Apsen e o governo da Índia, em abril, para destravar a liberação de matéria-prima, conforme revelou a agência de dados Fiquem Sabendo. Por e-mail, a empresa disse que Spallicci não tem relação pessoal com o presidente e que eles nunca se encontraram “presencialmente ou virtualmente”. A relação com o governo federal se dá via Ministério da Saúde, Itamaraty e Anvisa, diz a Apsen. Questionada sobre a aprovação recorde de empréstimos em 2020, a farmacêutica disse que demandou financiamentos para investir em pesquisa de novos produtos e na área industrial, “com o objetivo de preparar as áreas produtivas para suportar o plano de lançamentos dos próximos anos”.
Questionada pela Repórter Brasil, a empresa disse que seu trabalho é pautado em ciência. “Atualmente, com base nas últimas evidências científicas, a Apsen recomenda a utilização da hidroxicloroquina apenas nas indicações previstas em bulas, as quais são aprovadas pela Anvisa.” Outra fabricante de hidroxicloroquina que recebeu empréstimos do BNDES em 2020 foi a EMS. A companhia recebeu R$ 23 milhões do banco público em maio para investir em duas frentes: na implantação de uma fábrica de medicamentos oncológicos (R$ 7 milhões) e na ampliação de sua linha industrial (R$ 16 milhões). O apoio total pode chegar a R$ 123 milhões. A farmacêutica é a que mais vende remédios no Brasil e tem no portfólio outras medicações cujas vendas cresceram em 2020, como o vermífugo ivermectina, além de antibióticos e antidepressivos. A ivermectina foi o medicamento sem eficácia compravada para Covid-19 que mais cresceu em vendas no ano passado: foram comercializados 53,8 milhões de comprimidos, contra 8,1 milhões em 2019, alta de 557%, segundo o conselho de Farmácia. Procurada, a EMS não quis se manifestar.
Na avaliação de Nelson Mussolini, presidente-executivo do Sindusfarma (Sindicato da Indústria de Produtos Farmacêuticos no Estado de São Paulo), os investimentos apoiados pelo BNDES não têm relação com a pandemia porque miram um horizonte de 10 a 15 anos. “Esses planos de investimento certamente foram desenvolvidos em 2018 e 2019, porque o setor já esperava um crescimento em 2020 e 2021”, diz ele, que calcula alta de 10,5% no faturamento em 2020. O BNDES é um dos principais financiadores da indústria farmacêutica no Brasil. Nos últimos 15 anos (2006 a 2020) o banco financiou o setor com R$ 6 bilhões. Entre os apoios está a construção do Centro Henrique Penna, na Fiocruz, que está produzindo a vacina de Oxford para Covid-19. O banco avalia atualmente o possível apoio ao desenvolvimento de uma vacina brasileira. No total, o BNDES liberou R$ 550 milhões para o setor em 2020, maior valor desde 2010. Em 2019, antes da pandemia e no primeiro ano do governo Bolsonaro, as farmacêuticas receberam o menor investimento desde 2001: foram aplicados R$ 87,5 milhões em 2019, ante R$ 370 milhões em 2018.

*”Bolsonaro violou regras do Facebook para Covid ao menos 29 vezes em 2021, mas não foi punido”* - O presidente Jair Bolsonaro violou a política do Facebook sobre Covid-19 ao menos 29 vezes neste ano, 22 delas em suas lives às quintas-feiras. Mas, ao contrário do que fez em outros países, a plataforma não removeu nem marcou nenhum desses conteúdos. Segundo levantamento da Agência Lupa, nos conteúdos que foram autorizados pelo Facebook, Bolsonaro promoveu curas e métodos de prevenção da Covid-19 sem comprovação científica, desaconselhou o uso de máscara, pôs em dúvida o isolamento social e incentivou aglomeração. As lives de Bolsonaro chegam a alcançar 2,2 milhões de pessoas só dentro do próprio Facebook. Há duas semanas, o Facebook baniu por uma semana um deputado australiano Craig Kelly depois que ele compartilhou tópicos iguais aos disseminados por Bolsonaro. O deputado publicou links para médicos promovendo tratamentos para Covid-19 não comprovados cientificamente. Segundo Kelly, a plataforma apagou seus posts que falavam de cloroquina e ivermectina como curas para a Covid, além de conteúdo dizendo que máscaras são inúteis para crianças. Ao diário britânico The Guardian, um porta-voz do Facebook afirmou: “Não permitimos que ninguém compartilhe desinformação sobre Covid-19 que pode levar a perigo iminente de dano físico. Nós temos políticas claras contra esse tipo de conteúdo e vamos removê-lo assim que tomarmos conhecimento". Até hoje o Facebook só derrubou um post de Bolsonaro relacionado à pandemia: um vídeo de março de 2020 em que ele cita o uso de cloroquina para o tratamento da doença e defende o fim do isolamento social. A plataforma já derrubou vários conteúdos do ex-presidente Donald Trump, como posts dizendo que crianças são quase imunes à Covid e que a doença é menos letal que a gripe. Outros que tiveram vários conteúdos removidos foram o ditador venezuelano, Nicolás Maduro, que publicou textos promovendo "gotas milagrosas", e o presidente de Madagáscar, que defendeu um tônico fitoterápico que supostamente curaria a doença.
"Parece que as políticas só não valem no Brasil. Era preciso que, ao menos, pusessem um rótulo nas informações do presidente Bolsonaro que violam as regras", diz Natália Leal, diretora de conteúdo da Agência Lupa. "É um contrassenso. O Facebook faz parceria com checadores de fatos, para combater desinformação, mas, ao não cumprir seus próprios padrões da comunidade, contribui para essa desinformação." Os checadores têm uma parceria com a plataforma, mas não podem checar conteúdos de políticos eleitos ou durante campanhas. No ano passado, Twitter, Facebook e outras empresas de tecnologia, como Google, assinaram uma declaração conjunta em que se comprometiam a combater fraudes e desinformação sobre o novo coronavírus. De acordo com os padrões de comunidade da plataforma, o Facebook remove afirmações que negam a existência da doença ou diminuem a gravidade da Covid-19. A plataforma afirma também que remove alegações de que usar máscara pode deixar a pessoa doente, mas foi exatamente isso que fez o presidente Bolsonaro na live do dia 25 de fevereiro, ao mencionar uma "universidade alemã" que teria apontado num "estudo" que máscaras são "prejudiciais a crianças". A pesquisa é distorcida. Outro tópico vetado pelo Facebook seriam alegações de que o número de mortes causadas pela Covid-19 é muito menor do que o número oficial. Em 5 de fevereiro, Bolsonaro disse que "alguns números" da pandemia não são confiáveis.
Em sua página, a plataforma informa que vai restringir "alegações de que, para pessoas comuns, algo pode garantir a prevenção contra a Covid-19 ou pode garantir a recuperação da Covid-19 antes que tal cura ou prevenção seja aprovada, incluindo remédios externos para o corpo ou a pele, remédios médicos ou herbais, consumo ou inalação de itens específicos." Essa restrição se aplicaria bem a afirmações do presidente em live do dia 28 de janeiro, assistida por 1,4 milhão de pessoas no Facebook: "Um ano de pandemia, praticamente, né? NENHUM IDOSO (num lar de idosos em Sergipe) TEVE NENHUMA GRIPE SEQUER, e eles FORAM - e continuam sendo - TRATADOS DE FORMA PREVENTIVA com ivermectina, vitamina C, vitamina D e propólis, seguidos de banho de sol duas vezes ao dia" (sic). Como descreve o próprio Facebook em suas regras, as autoridades de saúde pública, como a OMS, dizem que, por enquanto, não há nada que possa garantir a recuperação ou garantir que uma pessoa comum não pegue a Covid-19. Segundo o Facebook, também seriam restritas as alegações de que o distanciamento físico ou social não ajuda a evitar a disseminação da Covid-19. No entanto, foi exatamente isso que disse o presidente em live na plataforma no dia 21 de janeiro, assistida por 2,2 milhões de pessoas.
De acordo com a plataforma, "páginas, grupos, perfis e contas do Instagram que repetidamente publicam desinformação relacionada a Covid-19, vacinas e saúde podem enfrentar restrições, incluindo, entre outras, distribuição reduzida, remoção de recomendações ou remoção de nosso site." No entanto, todos esses conteúdos continuam no ar, sem nenhuma restrição. Um porta-voz do Facebook mandou uma nota em resposta à Folha: "Nossas políticas proíbem desinformação de Covid-19 que possa causar danos no mundo real e valem para todos. Elas têm sido aplicadas para políticos eleitos ao redor do mundo, inclusive no Brasil". A empresa disse também que "embora sejam proibidas falsas alegações sobre tratamentos sem comprovação e a respeito de recomendações sanitárias como distanciamento social, permitimos discussões sobre os impactos de políticas públicas como lockdowns ou o desenvolvimento de pesquisas científicas. Os conteúdos reportados pela Agência Lupa não violam nossas regras." No Facebook, há um entendimento de que o presidente tem evitado usar afirmações taxativas ou tem feito ressalvas imediatamente após suas declarações, o que evita que ele viole os padrões de comunidade. Procurado, o Palácio do Planalto não respondeu ao pedido de entrevista da Folha.
+++ A reportagem só se esquece de mencionar que as redes sociais online não são e nunca foram espaços que primam pela democracia. O que está em jogo é poder e o dinheiro envolvido no armazenamento de dados do usuário. O movimento contra Donald Trump foi pontual e ocorreu porque as empresas estão pressionadas pelas pautas anti-monopólio comercial de Joe Biden.

*”Mesmo autorizadas, escolas particulares de SP restringem e suspendem aulas presenciais”*
LAURA MATTOS - *”Vai mandar ou não o filho para a escola? Não julgue quem decidir o contrário!”*

*”Retirada de moradores de imóveis na cracolândia em pior fase da pandemia vira denúncia internacional”* - A remoção de cerca de 400 famílias de imóveis na região da cracolândia foi denunciada à Comissão Interamericana de Direitos Humanos pela Defensoria Pública do Estado de São Paulo e pela ONG Conectas, nesta quinta-feira (4). A retirada dos moradores está marcada para ocorrer até o dia 10 deste mês, durante o pior período da pandemia do novo coronavírus. A preocupação da defensoria e da entidade é que boa parte dos moradores desses imóveis, muitos deles pensões, acabem indo parar na rua.
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MÔNICA BERGAMO - *”Primeiro milhão de doses de vacinas de Oxford fabricado pela Fiocruz passa por controle rigoroso”*
MÔNICA BERGAMO - *”Alesp fecha para o público na fase vermelha contra a Covid-19”*
MÔNICA BERGAMO - *”Amazon vai doar R$ 5,3 mi para construção de fábrica de vacinas contra a Covid-19 do Butantan”*
MÔNICA BERGAMO - *”Banco disponibilizará US$ 1 bi de crédito para países na América Latina usarem no combate à Covid-19”*

MÔNICA BERGAMO - *”Mario Frias bloqueia Sérgio Sá Leitão no Twitter após discussões sobre Museu do Ipiranga”*
MÔNICA BERGAMO - *”Associação de técnicos diz não ver motivo para interromper futebol”*
MÔNICA BERGAMO - *”Pesquisa da UBC com associados mostra que mulheres receberam 9% dos valores em direitos autorais em 2020”*
MÔNICA BERGAMO - *”Spcine Play exibirá filmes da Mostra de Cinemas Africanos”*

CAPA - Manchete principal: *”Estados ‘no limite’ cobram vacinas, mas imunização vai continuar lenta”*

*”Comissões em disputa na Câmara – Distribuição de poder feita por Lira esbarra em briga entre bolsonaristas e Aécio”*
*”Contaminação por Covid-19 aumenta 80% na Casa”*

*”Mais armas garantem ‘legítima defesa’, diz governo ao Supremo”* - A Advocacia-Geral da União (AGU) afirmou ao Supremo Tribunal Federal (STF) que a "insuficiência do aparelho estatal" para proteger os cidadãos a todo tempo justifica "mecanismos de legítima defesa", mas disse que isso não configura uma "vingança privada". A manifestação foi feita como resposta a quatro ações que contestam os decretos editados pelo presidente Jair Bolsonaro no mês passado para flexibilizar a posse e porte de armas de fogos. A AGU enviou respostas quase idênticas às ações apresentadas por PT, PSB, PSOL e Rede. Nelas, rebate a tese de que os decretos teriam como objetivo "entregar ao particular, com exclusividade, a autotutela pela via da 'vingança privada' ou mesmo do exercício arbitrário das próprias razões". Segundo o órgão, "a autodeterminação individual para resistir ao ilícito não foi completamente suprimida com a formação do Estado, sendo legítimo o exercício desta faculdade, ou seja, da legítima defesa para assegurar a inviolabilidade do direito à integridade e à vida". O governo federal também afirmou que "nada há de verossímil" na tese de que os decretos possibilitariam a "a formação de milícias armadas com o aval do Estado". A AGU alegou que os associados de entidades de tiros (que são alguns dos principais beneficiados pela medida) não possuem "nenhuma hierarquia ou obediência disciplinar que possa ao menos sugerir alguma semelhança com organizações paramilitares". O órgão ainda argumentou que "os decretos não visam alterar o marco legal sobre armas de fogo" e apenas "buscam conferir maior segurança jurídica". Para a AGU, não houve uma "facilitação alarmante de aquisição de armas de fogo".
Governo ignorou alerta do Exército
Bolsonaro editou, no mês passado, um pacote de quatro decretos sobre armas. Entre as medidas determinadas está a ampliação de quatro para seis no limite de armas que cada cidadão pode ter. Também foram alteradas diversas regras envolvendo o grupo de colecionadores, atiradores e caçadores (CACs), incluindo o limite de armas que cada pessoa pode comprar. Na quarta-feira, o GLOBO mostrou que o governo federal ignorou uma nota produzida por técnicos do Estado-Maior do Exército que apontou que uma das medidas poderá fragilizar a segurança pública no Brasil e aumentar a disseminação de armamento no país. Além disso, o governo não ouviu a Polícia Federal (PF) durante a elaboração dos decretos assinados. A PF é o principal órgão do Sistema Nacional de Armas (Sinarm) e vinha sendo consultada pelo governo em decretos anteriores sobre o tema.

*”Fux encaminha a Moraes ação que pede prisão de humorista”*
*”Procuradores pedem que PGR atue contra mordaça na Educação”*
*”STF repassa diálogos da Lava-Jato ao STJ”*
*”Em ‘teste’ para 2022, Mandetta tenta afastar DEM de Bolsonaro”*

*”Pária global: Brasil vira ‘ameaça sanitária’ no mundo”*
*”Para cumprir proposta – Governo pode ter que acabar com deduções do IR e incentivo ao MEI”*

 

CAPA – Manchete principal: *”’Chega de frescura e mimimi’, diz Bolsonaro sobre pandemia”*

EDITORIAL DO ESTADÃO - *”Algo houve em Brasília”*: Algo se moveu em Brasília. Em meio à sensação de caos generalizado – acentuada pela crescente convicção de que o presidente da República, Jair Bolsonaro, é irremediavelmente incapaz de liderar o País em um dos momentos mais dramáticos de sua história –, aparentemente a realidade começa a se impor. Se são para valer, só o tempo dirá, mas o fato é que as notícias de que o governo federal finalmente comprará vacinas contra a covid-19 e de que o Congresso, com a equipe econômica, impediu manobras ardilosas para furar o teto de gastos em nome do enfrentamento da pandemia mostram que, no limite, o Estado democrático tem seus mecanismos contra a insanidade.
Depois de meses de campanha sistemática do presidente para desmoralizar as vacinas, o Ministério da Saúde prontificou-se afinal a comprálas. O ministro Eduardo Pazuello anunciou na quarta-feira, dia 3, a assinatura de um contrato para a aquisição de 99 milhões de doses da vacina da Pfizer e também a negociação para a compra de 38 milhões de doses da vacina da Janssen. O governo havia meses vinha se negando a comprar a vacina da Pfizer, oferecida ao Brasil em agosto do ano passado. Bolsonaro descartara o imunizante dizendo que havia cláusulas abusivas no contrato, como a que isentava o laboratório de responsabilidade por eventuais efeitos colaterais – o que é uma cláusula-padrão em todo o mundo. Agora, em meio à disparada do número de mortos pela pandemia e ao colapso do sistema de saúde em quase todo o País, situação que ameaça deteriorar ainda mais a popularidade de Bolsonaro – única coisa que lhe importa –, o presidente e seu desastrado ministro da Saúde afinal fizeram o que deveriam ter feito há muito tempo.
Para os brasileiros, pouco importa se Bolsonaro e Pazuello decidiram comprar vacinas por frio cálculo político, ante a pressão crescente da opinião pública e ante a mobilização de governadores e prefeitos para comprar vacinas por conta própria, ganhando pontos com o eleitorado; o fato é que as doses dos imunizantes chegarão ao País e, se forem rapidamente administradas, interromperão a espiral de sofrimento e miséria que tanto aflige os brasileiros. Do mesmo modo, pouco importa se a PEC Emergencial aprovada no Senado nesta semana está longe de ser a ideal. O importante é que essa medida, que cria as condições fiscais para destravar o auxílio emergencial e outras despesas relativas à pandemia, finalmente deixou a gaveta em que dormitava desde o fim do ano retrasado e agora tramita de acordo com a urgência requerida pelo momento. Há ainda outro fato relevante: a equipe econômica empenhou-se para desmontar a articulação, patrocinada pelo próprio presidente Bolsonaro, para excluir o Bolsa Família do limite do teto de gastos na PEC Emergencial. A manobra permitiria abrir espaço de nada menos que R$ 34,9 bilhões no Orçamento para emendas parlamentares. Ou seja, era uma maneira de driblar o teto de gastos para aumentar despesas com obras que rendem votos.
A malandragem, que arruinaria de vez a imagem já desgastada do Brasil entre os investidores, foi abortada pouco antes da votação em primeiro turno no Senado. Assim, a despeito da campanha sistemática do presidente Bolsonaro contra o País, ainda há barreiras para a articulação entre a demência e o oportunismo rasteiro. Não se pense, contudo, que Bolsonaro, de uma hora para outra, vai se tornar adepto da ciência e da responsabilidade fiscal. Ao contrário, exercitando toda a perversidade de alguém que não teve educação de berço, o presidente, por pressentir que sua reeleição corre risco, dobrou a aposta na incivilidade. Sobre a pressão para comprar vacinas, Bolsonaro discursou: “Tem idiota que diz ‘vai comprar vacina’. Só se for na casa da tua mãe. Não tem para vender no mundo”. E sobre a necessidade óbvia de se adotarem medidas de isolamento para conter o avanço do vírus, Bolsonaro teve o atrevimento de dizer: “Temos que enfrentar nossos problemas. Chega de frescura, de mimimi, vamos ficar chorando até quando?”. O País fará bem se deixar o sr. Bolsonaro falando sozinho.

*”MP do Rio encerra núcleo que investigou ‘rachadinha’”*
*”Coaf quer barrar apuração sobre relatório de Wassef”*

*”STF forma maioria contra limite para ações civis públicas”* - O Supremo Tribunal Federal (STF) formou maioria, ontem, para declarar inconstitucional a limitação territorial das decisões tomadas em ações civis públicas. O julgamento, porém, foi interrompido após o pedido de vista (mais tempo de análise) do ministro Gilmar Mendes. A decisão do tribunal criará precedente que deverá ser seguido por juízes de todo o País. Até o momento, seis ministros votaram para derrubar um artigo da Lei das Ações Civis Públicas (Lei 7.347/1985) que prevê que o alcance das decisões nestes processos valem “nos limites da competência territorial do órgão prolator”. O caso concreto em debate no Supremo discutiu um recurso movido pelo Instituto Brasileiro de Defesa do Consumidor (Idec) contra entidades bancárias. Em março do ano passado, o ministro do Supremo Alexandre de Moraes suspendeu todos os processos que discutiam a abrangência territorial até a Corte formar um entendimento geral sobre o assunto. Na sessão de ontem, o ministro considerou que a limitação territorial “fere de morte” os princípios da igualdade, eficiência, segurança jurídica e efetiva tutela jurisdicional. “A finalidade (do artigo) foi ostensivamente restringir os efeitos condenatórios de demandas coletivas, foi ostensivamente limitar o rol dos beneficiários da decisão, por meio de um critério territorial de competência que não se coaduna, a meu ver, com a própria finalidade constitucional de proteção aos interesses difusos e coletivos. O que se pretendeu foi fracionar a defesa dos interesses difusos e coletivos por células territoriais”, disse o ministro.
Em seu voto, Moraes defendeu que o artigo é incompatível com a própria finalidade da ação civil pública. “Há todo um caminho histórico, em virtude de necessidades sociais e a finalidade social protetiva, e há todo um caminho de construção legislativa, jurídica e jurisprudencial sempre no sentido de garantir mais efetividade a esse microssistema processual de proteção a interesses coletivos”, declarou. “A alteração realizada no artigo 16 da Lei da Ação Civil Pública veio na contramão desse avanço institucional”, completou. Na avaliação do ministro do STF, o critério territorial vale para definir o juízo competente para processar as ações, mas não para limitar efeitos das decisões. A tese defendida por Moraes, e acompanhada pelos demais ministros, estabelece ainda que, em casos de múltiplas ações civis públicas sobre o mesmo assunto, o juiz competente para analisá-las será o primeiro magistrado que tomou conhecimento formal de uma delas para julgamento. O relator foi acompanhado pelos colegas Kássio Nunes Marques, Cármen Lúcia, Edson Fachin, Rosa Weber e Ricardo Lewandowski. Lewandowski destacou que o acesso à Justiça, principalmente para pessoas sem condições financeiras, deve passar pelo fortalecimento das ações coletivas.
Coletivos. Uma ação civil pública busca a reparação e a responsabilização de danos e direitos difusos e coletivos, como infrações ao meio ambiente e a consumidores, por exemplo (mais informações nesta página). Esse tipo de ação pode ser movido pelo Ministério Público, pela Defensoria Pública, pela União, Estados e municípios, por fundações e sociedades de economia mista ou ainda por associações que tenham como finalidade a proteção de direitos coletivos. Já os cidadãos que queiram promover, sozinhos, uma medida do tipo devem se valer de uma ação popular, quando julgar que o poder público infringiu o patrimônio coletivo. Atualmente, existem mais de 438 mil ações coletivas registradas no Cadastro Nacional de Ações Coletivas, do Conselho Nacional de Justiça (CNJ). A decisão do Supremo, de repercussão geral, pode levar à redução deste número, visto que não haveria mais a necessidade de análise de ações individuais, agilizando o processo.

*”Barroso: ‘País vive sequestro de narrativa’”*
*”Jurídico do Exército apontou risco de afrouxar controle sobre armas”*

*”Europa enfrenta aumento de casos de covid em meio a vacinação lenta”*
*”Irmãs do rei espanhol se vacinaram nos Emirados Árabes”*
*”Visita do papa ao Iraque causa temor de mais infecções”*
*”Mortes por overdose aumentam no EUA com pandemia”*
*”Contrabandistas afogam imigrantes que iam para o Iêmen”*

*”Média de mortes bate novo recorde no Brasil; ‘Chega de frescura’, diz Bolsonaro”*
*”Variantes avançam e País pode virar ‘celeiro’”*
*”Explicações incluem imunidade comprometida e infecção longa”*
*”Escolas pedem a pais para manter crianças em casa”*

*”PEC Emergencial aprovada pelo Senado protege recursos para Forças Armadas”* - Em mais um aceno aos militares, o Congresso Nacional incluiu na PEC que recria o auxílio emergencial um dispositivo que abre caminho para carimbar receitas e destiná-las a ações de “interesse à defesa nacional” e “destinadas à atuação das Forças Armadas”. A medida vai na direção contrária do que prega a equipe do ministro da Economia, Paulo Guedes, que defende a necessidade de maior flexibilidade no Orçamento. A alteração foi introduzida na versão final do parecer do relator, senador Marcio Bittar (MDB-AC), poucas horas antes da votação no plenário do Senado. Outros grupos de interesse dentro do governo também conseguiram blindar suas receitas, como a Polícia Federal. O texto ainda precisa ser aprovado em dois turnos na Câmara. A manobra chamou a atenção de técnicos e de economistas de fora do governo, pois o objetivo central da equipe de Guedes é justamente o oposto: tirar o máximo possível de carimbos das receitas para combater represamento de recursos em certas áreas. Se as receitas vinculadas não são usadas, elas não podem financiar outro tipo de gasto, mesmo que haja necessidade. A medida preserva a vinculação de recursos que já existem, como royalties de petróleo que hoje ficam sob a alçada do Comando da Marinha. No Orçamento de 2021, a arrecadação prevista nesse item é superior a R$ 1 bilhão.
A maior preocupação, porém, é com a brecha criada para a criação de novas vinculações. O economista Marcos Mendes, pesquisador do Insper e que já chefiou a Assessoria Especial do Ministério da Fazenda, afirma que o texto ficou “muito aberto”, deixando margem para que uma lei declare que um porcentual de determinado imposto será receita de interesse nacional, ficando vinculado a despesas da Defesa. “Acho isso um risco grande, dado o ímpeto e o poder político que as Forças Armadas adquiriram neste governo. Podem capturar uma parcela grande do Orçamento”, afirma Mendes. “O que são receitas de interesse da defesa nacional? Abre uma porta grande para começar a vincular recursos para as Forças Armadas”, acrescentou. Procurado, o Ministério da Economia não quis comentar o assunto. O Ministério da Defesa não respondeu até a publicação deste texto. A última versão do texto da PEC também tratou de livrar do alcance das desvinculações o Funapol, da Polícia Federal, abastecido com taxas e multas cobradas pelo órgão. Esse não é o único dispositivo da PEC emergencial que beneficia os militares. Como mostrou o Estadão/Broadcast, outro trecho do texto vai blindar reajustes na remuneração de militares das Forças Armadas do alcance dos gatilhos de contenção de despesas.
Era por volta de uma e meia da tarde de ontem, quando o ministro da Economia, Paulo Guedes, e sua equipe puderam respirar mais aliviados. O plenário do Senado havia acabado de manter o texto da Proposta de Emenda Constitucional (PEC) emergencial com o limite de R$ 44 bilhões para a despesa com o pagamento da nova rodada do auxílio para os mais vulneráveis. Se tecnicamente foi desconcertante incluir no texto constitucional um valor fixo para o pagamento do auxílio, a trava de gastos acabou sendo a forma encontrada pelo Ministério da Economia para impedir que mais tarde os parlamentares aumentassem o valor do benefício e o seu alcance sem que houvesse uma contrapartida de economia de despesas. Afinal, a proposta foi aprovada sem ajuste no curto prazo nem caso seja decretado novamente estado de calamidade para novos gastos para o combate dos efeitos do recrudescimento da pandemia em 2021. O risco de cair a barreira de R$ 44 bilhões estava no radar na votação em segundo turno e era mais uma batalha a ser superada para aprovação da PEC, após a queda de braço do ministro Paulo Guedes e seus principais secretários para evitar a exclusão do programa Bolsa Família do teto de gastos (a regra que impede que as despesas cresçam em ritmo superior à inflação), manobra que foi patrocinada pelo próprio Bolsonaro e lideranças governistas no Congresso, como mostrou ontem o Estadão.
Com o mercado derretendo por causa da aposta no teto de gastos como âncora fiscal para controle da trajetória de endividamento, o presidente foi alertado dos riscos e desistiu de levar adiante a proposta, que tinha apoio dos aliados e da oposição. Senadores não alinhados com o presidente, porém, dispararam alertas para o risco de não darem um “cheque em branco” para o presidente garantir a sua reeleição. Se o ministro Luiz Eduardo Ramos, articulador político do governo, avisou aos líderes a decisão do presidente de recuar, coube ao presidente da Câmara, Arthur Lira (DEM-PL), garantir aos investidores que não haveria medidas. Nas horas que antecederam a votação em primeiro turno, Guedes partiu para o tudo ou nada para evitar não só o fura-teto, mas o fatiamento e desidratação da PEC, mantendo-se apenas o auxílio. Em meio ao vaivém e uma ida ao Tribunal de Contas da União, ao lado do ministro da Casa Civil, Braga Neto, para uma reunião com o ministro Bruno Dantas, Guedes avisou às lideranças governistas que não “contassem com ele” para a mudança no teto. Não chegou, porém, a ameaçar demissão do cargo. No dia seguinte, agradeceu a Bolsonaro. “O presidente sempre nos apoia no momento decisivo”, afirmou em vídeo gravado ao lado do relator da PEC, senador Márcio Bittar (MDB-AC).
Se o discurso oficial ontem foi de vitória pelo resultado que evitou, na opinião de auxiliares do ministro, um “desastre” maior com a mudança da PEC, o sentimento na equipe, por outro, foi de perda de uma dos pontos estruturais da PEC: a possibilidade de acionamento dos gatilhos em caso de calamidade por mais dois anos seguintes. A economia da PEC foi baseada nesse dispositivo. “Que ajuste se faz em um ano?”, resumiu um auxiliar de Guedes, que admite que o momento continua muito delicado para as contas públicas e que nova batalha vem pela frente na Câmara, onde a PEC ainda será analisada na semana que vem, e na definição e tramitação da medida provisória (MP) que vai definir valores e regras para o pagamento do auxílio. A primeira batalha, no entanto, não foi perdida porque há na PEC medidas importantes que fortalecem o arcabouço institucional das regras fiscais. Uma vitória que foi comemorada entre 10 e 10 técnicos do Ministério da Economia foi a liberação de superávit financeiro de fundos públicos para o pagamento da dívida pública. Uma medida que pode abater mais de R$ 100 bilhões do estoque da dívida, melhorando a sua gestão pelo Tesouro.

*”Guedes vê perda estrutural em PEC do auxílio”*
*”Para economistas, ajuste fiscal vira promessa em PEC”*

 

CAPA – Manchete principal: *”Saúde prevê 3 mil mortes por dia nas próximas semanas”*

*”Emissão de 10 cidades líderes em gases-estufa supera a da Bélgica”* - Os dez municípios que mais emitem gases-estufa no Brasil lançam à atmosfera o equivalente à emissão total do Peru ou da Bélgica. Sete estão na Amazônia e têm no desmatamento a principal fonte de emissões. Emitem juntos 172 milhões de toneladas brutas de CO2 equivalente. O diagnóstico inédito é da primeira edição do Seeg municípios, do Observatório do Clima. As emissões foram feitas para os 5.570 municípios do país para o período 2000 a 2018. Foram usadas mais de uma centena de fontes de emissões de energia, transporte, indústria, agropecuária, tratamento de resíduos, mudança do uso da terra e florestas. A base de dados tinha 6 milhões de registros e agora tem mais de 150 milhões, diz Tasso Azevedo, coordenador-geral do Seeg. São Félix do Xingu, no Pará, é o município que mais emite no Brasil, com 29,7 milhões de toneladas brutas de CO2 equivalente. O desmatamento é o principal fator (25,44 milhões de toneladas brutas de CO2), seguido pela agropecuária. É o município com o maior rebanho do país. Se fosse um país, São Félix do Xingu estaria à frente das emissões de Uruguai, Noruega, Chile, Croácia, Costa Rica e Panamá. As emissões per capita de quem mora no município paraense são 22 vezes maiores do que a média das emissões per capita dos brasileiros e 12 vezes mais do que a de quem vive nos Estados Unidos.
“O importante é entregar estes dados aos municípios, que é onde as decisões são tomadas”, diz Tasso Azevedo. “Se o prefeito entender onde estão as emissões de sua cidade, poderá direcionar ações.” O quadro é pior para quem vive em Colniza, em Mato Grosso. É a sexta maior emissora do país e a maior per capita - 358 toneladas. “É como se cada habitante do município tivesse mais de 300 carros rodando 20 quilômetros por dia”, diz nota enviada à imprensa. A boa notícia é que cidades amazônicas com muitas áreas protegidas têm grandes remoções de gases-estufa, o que reduz as emissões líquidas. O campeão de remoções é Altamira, o maior município do Brasil em área, que tem remoções de mais de 22 milhões de toneladas de CO2 e. São Félix do Xingu tem remoções de 10 milhões de toneladas. São Paulo, Rio de Janeiro e Serra, no Espírito Santo, são as três cidades que mais emitem no Brasil e estão fora da Amazônia. O setor de transportes é o grande culpado das emissões nas capitais. Em Serra as causas são uma grande siderúrgica e os processos industriais. O tratamento de resíduos, embora responda por apenas 4% das emissões brutas do Brasil, é uma fonte de emissões importante para as cidades. O Rio lidera esse setor, com 5,6 milhões de toneladas, seguido por São Paulo, que, apesar de ter o dobro da população, emite 5,45 milhões de toneladas devido à maior eficiência no tratamento de lixo e à captura de metano para gerar energia em aterros. Tasso Azevedo diz que menos de 5% dos municípios brasileiros tinham algum inventário de emissões de gases-estufa até hoje. “Agora terão dados para uma série de 20 anos e esperamos que isso sirva de estímulo para promover o desenvolvimento local com redução das emissões e enfrentamento das mudanças climáticas”, diz.
Há opções para municípios como São Félix do Xingu reduzir emissões e sequestrar carbono a partir da agricultura. Um estudo realizado por pesquisadores do Imaflora indica que sistemas silvopastoris e práticas de agricultura orgânica podem reduzir a emissão de gases-estufa por hectare em 66%. O relatório mostra que em 2018 a agropecuária foi a maior fonte emissora de gases-estufa em 65,8% dos municípios brasileiros. São Paulo lidera o setor de emissões por energia, com 12,4 milhões de toneladas, seguida por Manaus e Rio de Janeiro. Nos processos industriais, Serra (ES) lidera com 10,4 milhões de toneladas seguida pelas mineiras Vespasiano, com 2 milhões de toneladas, e Sete Lagoas, com 1 milhão. O refino de combustíveis aumenta as emissões em Duque de Caxias, Paulínia e São José dos Campos. Em Florianópolis 62% das emissões vêm dos transportes.

*”Atividade avançou no Norte e Centro-Oeste em 2020, diz BC”* - Mesmo com a pandemia, a atividade econômica cresceu em duas das cinco regiões do Brasil no ano passado. É o que mostra o Índice de Atividade Econômica Regional (IBCR), divulgado ontem pelo Banco Central (BC) em um dos boxes de seu Boletim Regional. A alta mais intensa foi registrada no Norte (0,4%), seguida pelo Centro-Oeste (0,2%). Em sentido oposto, houve queda no Sudeste (1,3%), no Sul e no Nordeste (ambas de 2,1%). “No quarto trimestre, as regiões apresentaram trajetória de recuperação mais gradual, refletindo, além da base de comparação mais elevada, os efeitos da redução das medidas governamentais, entre elas o valor do auxílio emergencial, e, possivelmente, o aumento da incerteza quanto à evolução da pandemia”, disse o BC. Região mais populosa do país, o Sudeste foi beneficiado ao longo de 2020 pela sua “estrutura produtiva diversificada”, que permitiu “que as atividades mais impactadas pela crise tivessem seus resultados compensados, em parte, pela evolução favorável de outras”. Os serviços financeiros, “fortemente concentrados na região”, e a indústria de alimentos, produtos químicos, farmoquímicos e de limpeza e higiene pessoal foram destaques positivos. O auxílio emergencial teve impacto positivo principalmente no Nordeste e no Norte, onde atingiu em novembro 55,3% e 57% dos domicílios, respectivamente.
No Sul, por sua vez, houve recuo da indústria e do comércio. Já a construção civil, influenciada pelos desempenhos de Santa Catarina e Paraná, "com redução do estoque de imóveis residenciais, apresentou crescimento no ano". Por fim, o desempenho do Centro-Oeste “repercutiu a combinação de sua estrutura produtiva com a safra recorde de grãos e as cotações das commodities”.

*”Na contramão do país, PIB de SP cresce 0,4%”* - Economia paulista espacou da retração no ano passado e cresceu 0,4%

*”Mulheres com filhos têm menos presença no mercado de trabalho”* - Em lares com crianças pequenas, 54,6% delas possuem ocupação, ante 67,4% das demais

*”Instrução continua superior à dos homens”* - Mulheres ainda são minoria nas carreiras tecnológicas

*”Empresas temem falências e demissões”* - O descaso com o que o governo do presidente Jair Bolsonaro tratou da pandemia desde seu início traz agora medidas de restrição mais duras pelo país com reflexos diretos para a sobrevivência de empresas dos setores de serviços, comércio e indústria

*”Estrangulado, setor de serviços segura retomada”* - Começo de ano já complicado se agrava com piora da pandemia e deixa a recuperação da economia para mais tarde

*”Atraso na imunização faz país perder ainda mais sintonia com ritmo global”* - Queda das importações desaclopa indústria brasileira das cadeias internacionais de valor

*”Estoque baixo ajuda indústria, mas preço de insumos é risco para 2021”* - Restrição de circulação de pessoas e auxílio emergencial menor são outras ameaças

*”Setores do varejo já esperam março mais fraco que em 2020”* - Vendas já foram comprometidas e podem afetar todo o semestre

*”Aéreas cortam voos; ‘lockdown’ preocupa hotéis e agências”* - Setor de Turismo liga “modo de alerta” com volta das restrições

*”PEC Emergencial traz alívio para cenário fiscal, dizem analistas”* - Futuras pressões por mais gastos sociais e de socorro a empresas, porém, não estão descartadas

*”Senado aprova PEC com limite para auxílio emergencial”* - Líder do MDB diz que tirar trava seria dar “cheque em branco” a Bolsonaro

*”Lira quer concluir votação em dois turnos em um único dia”* - Presidente da Câmara escolheu o bolsonarista Daniel Freitas para relatar em plenário a PEC emergencial

*”Adiada votação da MP do crédito consignado”* - Divergências entre os partidos impediram análise da medida nessa semana

*”PSL cede ao PSDB e briga com DEM por comissão”* - Arthur Lira adia decisão sobre a distribuição dos colegiados entre as legendas

*”Empresários que apoiam governo elevam críticas”* - Cresce o temor de que Guedes seja o próximo a deixar o governo

*”Defesa de Lula envia mensagens ao STF que citam Cármen”* - Material traz troca intensa entre procuradores sobre habeas corpus no dia 8 de julho de 2018

*”Bolsonaro faz cálculo eleitoral, diz Costa”* - Para governador da Bahia, presidente estica a corda ‘ao máximo’ para polarizar parte da sociedade

*”’Chega de frescura, de mimimi’, diz presidente sobre pandemia”* - Bolsonaro critica medidas de isolamento social e afirma que a população precisa enfrentar o vírus

*”Saúde prevê até 3 mil mortes diárias em março”* - A cúpula do Ministério da Saúde espera que o Brasil atravesse nas próximas duas semanas o pior momento da pandemia. O Valor apurou que, no entorno do ministro Eduardo Pazuello, a expectativa é que haja uma explosão de casos e mortes no período, com os óbitos ultrapassando a barreira dos 3.000 por dia. O diagnóstico decorre de uma tempestade perfeita: o alastramento do vírus em todo o país, impulsionado pelas aglomerações no fim do ano e no Carnaval; a dificuldade da população de manter-se em isolamento social; a circulação no país de novas variantes mais contagiosas e com grande carga viral; a iminência de um colapso do sistema hospitalar em diversos Estados ao mesmo tempo; e a falta de vacinas disponíveis para imunizar os brasileiros. As atenções da pasta estão voltadas sobretudo para a região Sul. No Rio Grande do Sul, por exemplo, a ocupação de leitos de UTI tem estado próximo ou acima de 100% durante toda a semana. Na região Norte, embora o número de casos seja menor, há preocupações quanto à pouca disponibilidade de leitos. Os alertas também já dispararam quanto à situação de Estados como Goiás, Minas Gerais, Rio de Janeiro e São Paulo.
Na visão da equipe de Pazuello, São Paulo tem conseguido até o momento evitar o pior por possuir a maior rede hospitalar do Brasil. Principal porta de entrada do país, o Estado mais populoso da federação registrou 60 mil das cerca de 260 mil mortes pelo coronavírus em solo brasileiro. Para a equipe de Pazuello, se um colapso hospitalar ocorrer ali, os números dessa “tragédia anunciada” podem subir exponencialmente. A cúpula da Saúde entende que não há muito no momento o que fazer, a não ser estimular a reabertura de hospitais de campanha nos Estados. O governo federal também cogita novas instalações desse tipo já nos próximos dias. As ações de fechamento e restrições à circulação de pessoas estão nas mãos dos Estados. O governo federal não vai decretar lockdown nacional, escorado em decisão do Supremo Tribunal Federal (STF) e também por acreditar que as decisões devem ser tomadas levando em critérios regionais. Para o médio prazo, as projeções da equipe de Pazuello são mais otimistas. A estimativa é que a vacinação começará a se acelerar a partir deste mês, com a maior produção do Butantan e da Fiocruz. Em abril, ambos já deverão estar produzindo 1,4 milhão de doses diárias.
Com as diversas vacinas importadas começando a chegar, a expectativa de Pazuello é vacinar 70 milhões de pessoas até o fim de junho. Fazem parte desse grupo prioritário idosos com mais de 60 anos, pessoas com comorbidades e médicos, professores, policiais, indígenas, entre outros. Na quarta-feira, o Ministério da Saúde anunciou a intenção de comprar 100 milhões de doses da vacina da Pfizer e outras 38 milhões de doses da vacina da Janssen, braço farmacêutico da Johnson & Johnson. Segundo um cronograma ao qual o Valor teve acesso, o ministério espera para o primeiro semestre a chegada de apenas 9 milhões de doses desse total, todas da Pfizer. Outras 30 milhões de doses da fabricante americana devem chegar entre julho e setembro. As entregas se aceleram no último trimestre, com 61 milhões de doses. Já a Janssen deve entregar 16,9 milhões de doses em setembro e 21,1 milhões de doses em dezembro, segundo ficou apalavrado entre o ministério e a farmacêutica. O Ministério da Saúde pretende autorizar a compra de vacinas por empresas e entes privados somente quando os grupos prioritários estiverem imunizados. Isso será feito por decreto, e as empresas terão que doar metade dos lotes para o Plano Nacional de Imunização (PNI).
O governo, porém, jogará toda sua força política para evitar que Estados façam o mesmo. O ministério já sinalizou aos laboratórios, com quem mantém contratos bilionários, que negociar com governadores individualmente ou em grupo não agradaria o governo federal. A impressão de governadores que estiveram reunidos com Pazuello nesta semana foi a mesma: dificilmente conseguirão adquirir vacinas separadamente ou em consórcios. Planalto e Saúde tentam evitar que o governo federal perca o protagonismo na imunização - como aconteceu em janeiro, quando o governador de São Paulo, João Doria (PSDB), vacinou a primeira pessoa em território nacional com transmissão ao vivo pela TV. Ontem, um grupo de 14 governadores enviou carta a Jair Bolsonaro pedindo a providências “imediatas” para a compra de novas doses de vacinas contra a covid-19. Eles citaram um “aumento exponencial dos casos de infecção e do número de óbitos” nos últimos dias. E disseram que estão “no limite de suas forças e possibilidades”. Pazuello espera que toda a população esteja vacinada até o fim do ano. E pretende deixar o cargo somente quando isso acontecer. Segundo interlocutores, os partidos do Centrão já entenderam que dificilmente Bolsonaro trocará o auxiliar, de sua extrema confiança, durante a pandemia.
O número diário de 3.000 mortes, caso seja alcançado, não será um recorde mundial. Os Estados Unidos já chegaram a registrar mais de 5.000 mortes por dia no início de fevereiro, segundo a Universidade Johns Hopkins. Bolsonaro desistiu nesta semana de fazer um pronunciamento em cadeia de rádio e TV sobre vacinação. A fala seria veiculada inicialmente na terça-feira, dia em que as mortes pelo coronavírus atingiram um recorde de 1.726, segundo o consórcio de veículos de imprensa. Foi, então, adiada para a quarta. Mas, diante de um novo recorde de 1.840 mortes, ele desistiu de vez da ideia. Ontem, o presidente criticou o isolamento social e pediu que se pare de “frescura” e “mimimi”. A despeito da fala de Bolsonaro, porém, a expectativa geral é que a escalada de mortes continue.

*”Disparada na ocupação de UTIs mostra falha na resposta à pandemia”* - Novo boletim da Fiocruz mostra que alta de ocupação de leitos no fim do ano passado já apontava pandemia em descontrole

*”Média de mortes sobe, bate recorde pelo sexto dia seguido e chega a 1.361”* - Brasil ultrapassa marca de 261 mil vítimas fatais pela covid-19

*”Fiocruz emite alerta sobre disseminação de “variantes de preocupação” no país”* - Novas cepas aparecem disseminadas pelas regiões Nordeste, Sudeste e Sul

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