A semana termina com a trágica notícia de que o Brasil atingiu a marca de 400 mil mortos por Covid. O assunto é destaque na imprensa brasileira e internacional – estampa as manchetes da Folha, Estadão, O Globo e El País Brasil e está na capa da revista Focus Brasil, editada semanalmente pela Fundação Perseu Abramo. Le Monde fala em onipresença da morte no país. O tema ganha projeção no exterior por conta de despachos das agências internacionais, como Reuters e Associated Press, e do trabalho de correspondentes de jornais influentes – o americano Washington Post, o francês Le Monde e o português Diário de Notícias, bem como o alemão Frankfurter Allgemeine Zeitung. A volta da fome no Brasil também chama a atenção da imprensa alemã. Os jornais brazucas e gringos apontam o dedo para a conduta omissa e irresponsável do presidente. Na sua tradicional live pelas redes sociais, Jair Bolsonaro ignorou o luto nacional e voltou a criticar o esforço de isolamento social de governantes, como do prefeito de Araraquara, Edinho Silva, do PT. "Vamos ter que conviver com o vírus, até porque muda cada vez mais. Esperamos que não haja uma terceira vaga por aí, pedimos a Deus que não haja, mas temos que enfrentar. (...) Se continuar a política de lockdown, igual à do prefeito de Araraquara [cidade em São Paulo], vai levar a sociedade à miséria", disse o genocida. As manchetes dos principais diários brasileiros mostram que a crise sanitária está longe de acabar. Folha destaca: Com presidente negacionista e pouca vacina, Covid mata 400 mil. Estadão informa que país estaciona em patamar alto de mortes e pode sofrer 3ª onda. O Globo ressalta também a marca: 400 mil mortes. E complementa – Ritmo do crescimento de óbitos assusta: 100 mil em apenas 36 dias. El País Brasil vai na mesma linha: Luta após o luto no Brasil que supera 400.000 óbitos. No noticiário, um dos destaques do dia é a declaração do presidente do PP. O senador Ciro Nogueira disse em jantar com empresários que a CPI não vai dar em nada para Bolsonaro. A informação está na coluna de Monica Bergamo, na Folha. A declaração é mais um desejo do que realidade. O próprio Bolsonaro se esforça para dizer que não se importa: "Não estamos preocupados com CPI e trabalhamos a todo vapor", repete. Enquanto isso, a CPI toca a ficha. Folha noticia que o plano para a CPI do relator da comissão, Renan Calheiros mira vacinas, cloroquina e a estratégia de comunicação do governo Bolsonaro. Outra notícia relativa à comissão é a decisão do ministro Ricardo Lewandowski, do STF, rejeitando o pedido de senadores governistas e mantendo Renan na relatoria da CPI da Covid. "CPI tem de ser contraponto ao negacionismo e adotar narrativa que salve vidas, diz o líder do MDB. Em outra frente de desgaste para o governo: o presidente foi alvo de duras no Parlamento Europeu sobre sua condução da pandemia. Segundo despacho da France Presse, eurodeputados criticaram 'negacionismo' e 'necropolítica' do presidente do Brasil em sessão sobre América Latina. O objetivo da audiência era discutir o impacto da Covid na região e as possibilidades de ajuda da União Europeia aos esforços dos governos para enfrentar a crise sanitária. Nas semanais, só a Focus trata da pandemia na capa. A revista Carta Capital traz na manchete denúncia de crime cometido pelo ministro do Meio Ambiente: A boiada de Salles. "As 721 medidas do ministro que afrouxaram o sistema de fiscalização ambiental e incentivaram o crime", aponta a revista, que traz ainda um entrevista com o ex-prefeito Fernando Haddad em que aponta Lula como o líder capaz de tirar o Brasil da crise. A revista também noticia as manifestações do 1º de Maio, convocada pelas centrais sindicais. IstoÉ vai na mesma linha: A máfia da madeira ilegal. A revista teve acesso aos documentos da investigação sobre o tráfico ilegal de madeira. Os dados mostram os principais envolvidos, como operam e os laços com Salles. "O relatório da Polícia Federal, autorizado pelo STF, indica que o ministro pode ter agido em conluio com as famílias controladoras do esquema para obter vantagens", destaca a revista. Já a revista Época trata do efeito Bolsonaro, mostrando por que tantos investidores estrangeiros estão de mau humor com o Brasil. "Negacionismo, vacinas atrasadas, populismo, intervenções em estatais, atrasos nas privatizações, ameaça de descontrole fiscal, baixo crescimento econômico, instabilidade política... Todas as razões para os investidores estrangeiros estarem reticentes em relação ao Brasil", aponta. Veja sai com reportagem de capa sobre as doações filantrópicas e mostra que a "corrente do bem" provocada pela crise da Covid-19 está em expansão inédita no Brasil. "Valor das doações na pandemia chega a R$ 6,9 bilhões, o dobro do registrado durante todo o ano de 2018", aponta a revista. E curiosamente, diz que a benemerência é quem pode reduzir a iniquidade social brasileira: "Movimento pode mudar de forma radical a maneira como se combate a desigualdade no país". Das notícias positivas no dia, a mais importante envolve diretamente o PT e tem repercussão global. Reuters distribuiu em todo mundo a notícia de que o Senado do Brasil votou a suspensão da proteção de patentes para vacinas de Covid-19. O Brasil entra em sintonia com o clamor internacional pela ampliação da campanha de vacinação em todo o mundo. O presidente Joe Biden tem sido pressionado a apoiar a mesma iniciativa de forma a permitir acelerar a vacinação dos povos. O projeto foi aprovado na noite de quinta-feira, 29, e suspende a proteção de patentes para vacinas, testes e medicamentos para Covid durante a pandemia. A proposta foi enviada à Câmara para apreciação e possíveis emendas e foi aprovada por 55 votos a 19. "O objetivo, segundo o senador Paulo Paim, é agilizar a produção de vacinas para acelerar as inoculações", diz a agência. A Reuters informa ainda que a Casa Branca está avaliando opções para maximizar a produção e a oferta global de vacinas da Covid-19 ao custo mais baixo possível, incluindo apoiar uma proposta para quebra de patente dos imunizantes. Apesar disso, nenhuma decisão foi tomada segundo a secretária de imprensa Jen Psaki. Na cena internacional, duas notícias retratam os contrastes entre Estados Unidos e Europa. A mídia americana bomba nas manchetes as notícias de recuperação da economia dos EUA, que cresceu fortemente no primeiro trimestre. O produto interno bruto cresceu a uma taxa anual de 6,4% no primeiro trimestre, com o governo distribuindo trilhões de dólares em estímulos da Covid-19 e os consumidores aumentando os gastos. O assunto ganha as manchetes do New York Times, Wall Street Journal, Washington Post e Financial Times. O NYTimes fala em "ano estelar". Efeito dos cheques de alívio que impulsionaram os gastos do consumidor em bens no primeiro trimestre. A demanda reprimida por serviços pode ser a chave daqui para frente. A renda das famílias americanas cresceu. É o efeito dos 100 dias de Joe Biden na Casa Branca. NA GRINGA Bolsonaro insultou grande parte do mundo. Agora o Brasil precisa de ajuda. Esta é a manchete de página do Washington Post, que coloca numa lupa a crise política e sanitária brasileira. O correspondente Terrence McCoy aborda o isolamento do Brasil na comunidade internacional, que esta semana mostrou solidariedade à Índia, que agora mantém taxas recordes de infecção, dando dinheiro, medicamentos e oxigênio, enquanto o gigante latino americano ficou de mãos abanando. O jornal fala em "resposta internacional silenciosa". Culpa do líder extremista brasileiro. Escreve McCoy: "Para o Brasil, que enterrou cerca de 140.000 vítimas de coronavírus nos últimos dois meses, a resposta internacional foi silenciosa. O presidente Jair Bolsonaro em março pediu a ajuda de organizações internacionais. Um grupo de governadores de estado pediu 'ajuda humanitária' às Nações Unidas. O embaixador do Brasil na União Europeia implorou há duas semanas por ajuda: 'É uma corrida contra o tempo para salvar muitas vidas no Brasil'". "O contraste entre a forma como a comunidade internacional lidou com as crises na Índia e no Brasil mostra como as crescentes lutas diplomáticas de Brasília complicaram a resposta do país ao coronavírus. A imagem internacional que passou décadas cultivando – com enfoque ambiental, amigável, multilateral – foi prejudicada por um presidente cujo governo insultou grande parte do mundo no momento em que mais precisava de sua ajuda", aponta. O francês Le Monde noticia a onipresença da morte no Brasil e aponta que esta é a chave do fatalismo brasileiro diante da Covid-19. "A pandemia atinge fortemente um país em grave crise econômica, historicamente marcado pela violência, e onde cada dia triunfa mais, o cada um por si", escreve o correspondente Bruno Meyerfeld. "A pergunta não para de voltar: como ele consegue se segurar? Jair Bolsonaro é certamente um homem acostumado às tempestades. Mas enquanto o Brasil, devastado pela variante P1, banido no cenário internacional, tem mais de 400 mil mortos da Covid-19 e afunda cada vez mais na carnificina humanitária, todos se perguntam sobre a surpreendente capacidade de resiliência do líder da extrema direita", diz o texto. "Sua responsabilidade no drama em curso é, no entanto, edificante: Jair Bolsonaro negou sucessivamente a epidemia, impediu qualquer medida de contenção, recusou-se a negociar vacinas, atrasou os planos de imunização. Em qualquer outra democracia, é difícil imaginar um líder assim permanecendo à frente do comando do Estado. E, no entanto, contra todas as probabilidades, aqui está o presidente ainda firmemente ancorado no poder, com uma popularidade intacta entre 25% a 30% da população e uma sólida maioria no Parlamento". O alemão Frankfurter Allgemeine Zeitung noticia a crescente raiva dos brasileiros. "Medicamentos ineficazes, hospitais sem oxigênio: auase 400.000 pessoas já morreram de Covid-19 no Brasil. Foi constituída uma comissão de inquérito contra o presidente Bolsonaro", relata o correspondente Tjerk Brühwiller. Ele escreve que a CPI é chamada de "Comitê da morte" pelos críticos do governo e vai investigar, entre outras coisas, por que o governo patrocinou tratamentos com medicamentos ineficazes, por que três ministros da saúde foram depostos durante a pandemia e como o sistema de saúde da Amazônia pode entrar em colapso em janeiro. "O senador Renan Calheiros , que comanda a comissão, encontrou palavras claras: 'Existem culpados e eles serão responsabilizados'", escreve o jornalista. "Além de Calheiros, a comissão de inquérito tem outros dez senadores majoritários independentes ou de oposição". O titular e os três ex-ministros da saúde provavelmente serão ouvidos pelo comitê nos próximos dias. A CPI está particularmente preocupada com o papel do ex-ministro e General do Exército Eduardo Pazuello, substituído há poucas semanas. Despacho da Associated Press destaca que o Brasil se tornou na quinta-feira o segundo país a oficialmente com 400 mil mortes por Covid-19, perdendo outras 100 mil vidas em apenas um mês, como alguns especialistas em saúde alertam que pode haver dias terríveis pela frente quando o Hemisfério Sul entrar no inverno. Reuters também destaca a nova marca brasileira com alto número de mortes até o platô por meses. "Abril foi o mês mais mortal da pandemia no Brasil, com milhares de pessoas perdendo suas vidas diariamente em hospitais lotados", escreve Maurício Savarese, correspondente no Rio da AP. "Especialistas alertaram que o número diário de vítimas pode permanecer alto por vários meses devido à lentidão das vacinações e ao afrouxamento das restrições sociais", informa a outra agência. O diário Sueddeutsche Zeitung replica o despacho da agência alemã DPA destacando que a fome voltou a assolar o Brasil com força total em meio à pandemia descontrolada no país: 116,8 milhões de brasileiros não têm acesso pleno e permanente aos alimentos e 19 milhões deles passam fome, segundo estudo da Rede Brasileira de Pesquisa em Segurança Alimentar (Rede PENSSAN) com dados de dezembro. Isso afeta mais de 55% das famílias, um aumento de 54% em relação a 2018. Na pandemia da Covid-19, o país ultrapassou a marca de 400 mil mortes na quinta-feira. O argentino Página 12 repercute a denúncia da Sputnik V de que a Anvisa divulga notícias falsas sobre a vacina russa. A agência reguladora brasileira proibiu sua importação sem ao menos testar o imunizante. "Enquanto Jair Bolsonaro insiste em evitar restrições para controlar a pandemia em um Brasil em colapso, a agência reguladora de saúde daquele país, a Anvisa, enfrenta processo por difamação de ninguém menos que os fabricantes da vacina Sputnik V, confirmado pelo Fundo Russo de Investimento Direto", relata. |
AS MANCHETES DO DIA |
Carta Capital: A boiada de Salles. As 721 medidas do ministro que afrouxaram o sistema de fiscalização ambiental e incentivaram o crime Época: O efeito Bolsonaro. Por que tantos investidores estrangeiros estão de mau humor com o Brasil Focus Brasil: 400 mil mortos. Brasil estabelece novo recorde de óbitos, enquanto patina na campanha de vacinação. Acuado, Palácio do Planalto continua a apostar no caos, mas CPI tem início e vai investigar resposta do governo à pandemia IstoÉ: A máfia da madeira ilegal. IstoÉ teve acesso aos documentos da investigação sobre o tráfico ilegal de madeira, que mostram quem são os principais envolvidos, como eles operam e seus laços com o ministro do Meo Ambiente, Ricardo Salles. O relatório da Polícia Federal, autorizado pelo STF, indica que o ministro pode ter agido em conluio com as famílias controladoras do esquema para obter vantagens Veja: Corrente do bem. A pandemia do coronavírus levou a uma expansão inédita nas ações de filantropia, movimento que pode mudar de forma radical a maneira como se combate a desigualdade no país Folha: Com presidente negacionista e pouca vacina, Covid mata 400 mil Estadão: País estaciona em patamar alto de mortes e pode sofrer 3ª onda O Globo: 400 mil mortes. Ritmo do crescimento de óbitos assusta: 100 mil em apenas 36 dias Valor: Cenário externo ajuda Brasil a exportar bens de consumo El País (Brasil): Luta após o luto no Brasil que supera 400.000 óbitos BBC Brasil: 'Brasil precisa parar de anistiar irregularidades', diz líder de empresários do agronegócio UOL: Nove mulheres detalham esquema de exploração sexual de Saul Klein G1: Impeachment de Witzel começa a ser julgado hoje R7: De cada 4 brasileiros, 3 têm algum conhecido entre as mais de 400 mil vítimas de covid-19 no país Luis Nassif: Biden e o New Deal: um discurso histórico Tijolaço: O filho do porteiro e o serviçal da elite DCM: Fies bancou "até filho do porteiro que zerou no vestibular", diz Guedes Rede Brasil Atual: Volta às aulas em São Paulo na pior fase da pandemia tem poucos alunos e expõe professores à covid-19 Brasil de Fato: Brasil chega a 400 mil mortos por covid em velocidade recorde Ópera Mundi: Peru Livre denuncia ameaças de morte contra Pedro Castillo Fórum: Ciro Nogueira a empresários em São Paulo: "CPI não vai dar em nada para Bolsonaro" Poder 360: Brasil aplicou 1ª dose de vacina contra covid em 31,2 milhões de pessoas New York Times: Surto econômico nos EUA eleva as esperanças para o ano, já que as pessoas pretendem gastar Washington Post: O crescimento acelera no 1º trimestre WSJ: Economia dos EUA se recupera perto de seu pico Financial Times: Economia dos EUA volta a se aproximar dos níveis anteriores à pandemia The Guardian: Johnson contestou a recusa em lançar inquérito sobre a pandemia The Times: Conservadores aumentam a liderança sobre o trabalho apesar da disputa acirrada Le Monde: Joe Biden inicia a batalha contra a desigualdade Libération: Caso Sarah Halimi. O grande mal-entendido El País: Cidades prorrogam restrições depois do fim do alarme El Mundo: "Governar com o apoio do Vox não seria o fim do mundo" Clarín: Abrir ou fechar escolas, outra vez eixo da disputa entre Fernández e Larreta Página 12: Fechar muito, pouquinho... Granma: Uma estrela no peito de 13 incansáveis cubanos Diário de Notícias: Costa antecipa desconfinamento em dois dias Público: País acelera no desconfinamento mas 275 mil portugueses ficam para trás Frankfurter Allgemeine Zeitung: Viajante entre o inferno e o paraíso Süddeutsche Zeitung: Forçado a proteger o clima The Moscow Times: 'Fim de uma Era': Rússia Adiciona Rede Política Navalny à Lista de 'Terroristas e Extremistas' Global Times: Xi envia condolências a Modi e oferece ajuda à Índia durante a crise da Covid-19 Diário do Povo: China lança módulo central com sucesso para sua estação espacial, dando início à intensa fase de construção |