Nas manchetes dos quatro jornais nacionais brasileiros a nova marca de mortos no Brasil: 4.211 óbitos registrados no país nas últimas 24 horas. O assunto é manchete da Folha, Estadão, O Globo e El País. Também ganha repercussão internacional por conta dos despachos das agências internacionais de notícias, como Associated Press, Reuters, EFE e France Presse. A imagem do Brasil segue sendo alvo de reportagens sobre a inação do país ante ao aumento crescente de vítimas do Covid-19. Espantosa também foi a reação do presidente Jair Bolsonaro ao novo recorde. Em tom de deboche, ele ignorou o alerta de uma pessoa que tratou da nova marca de mortes. E voltou a mostrar o profundo desprezo pela vida humana. Bolsonaro ironiza o termo 'genocida' ao se encontrar com apoiadores no Palácio da Alvorada e voltou a criticar medidas restritivas. "Agora... agora é o quê? Agora eu sou aquele que mata muita gente, como é que fala? Genocida! Agora eu sou genocida", riu o presidente. O assunto só ganha amplo destaque na blogosfera, com manchete no Brasil 247 e na Fórum, mas certamente ganhará destaque na imprensa internacional nas próximas horas. Entre os colunistas, Vinícius Torres Freire, da Folha, perde a paciência com a conduta do Congresso diante do rastro de mortes nos cemitérios: "Há menos internados, mas Covid está mais letal, assim como o governo e cúmplices". "Cadê um conselho nacional de especialistas variados que elaborassem uma estratégia nacional de combate à epidemia? Cadê o acordo nacional de cooperação federativa para lidar com o vírus (União, estados, municípios)?", questiona. "Não tem. Era tudo farsa. O comando do Congresso é cúmplice". Já o colunista Conrado Hübner Mendes volta suas críticas contra o STF, que julga hoje sobre a manutenção das igrejas e templos fechados em tempos de Covid. "Kassio sujou as mãos do STF na cadeia causal do morticínio. Mas as mãos do STF não estavam limpas. A chicana é hábito compartilhado", afirma. "Barroso continua a não decidir sobre o dever de Rodrigo Pacheco abrir a CPI da pandemia; Rosa continua em silêncio sobre decreto de armas, enquanto o país compra fuzis e munições; Gilmar acha que política de intimidação por meio da Lei de Segurança Nacional merece exame 'nem tão devagar, nem tão depressa'". Na política, Lula continua sendo o centro das atenções. Na revista estadunidense The Nation, o jornalista Glenn Greenwald escreve por que o Brasil ainda é importante. "Com Lula elegível para disputar o Bolsonaro, os brasileiros têm o futuro do mundo nas mãos", opina, apontando que os dois devem se enfrentar nas urnas nas eleições de 2022. "Esse confronto tem consequências enormes, não apenas para o Brasil ou a América Latina, mas para o futuro de todo o planeta", diz Greenwald, antecipando um trecho do livro à revista norte-americana. O jornalista está lançando a obra "Securing democracy", cujo subtítulo é "minha luta pela liberdade de imprensa e Justiça no Brasil de Bolsonaro". "Não é só que o Brasil tem petróleo. As enormes reservas de petróleo do país, incluindo grande parte das chamadas reservas do pré-sal do planeta, são de particular importância geoestratégica e ambiental", lembra. "Além do vasto e inexplorado petróleo do pré-sal, o Brasil controla a vasta maioria dos ativos ambientais que cientistas de todo o mundo concordam ser o recurso natural mais importante, de longe, para evitar mudanças climáticas catastróficas: a floresta tropical amazônica". Painel da Folha informa que, em reunião entre PT e PSB, Lula falou em ampliar alianças para além da esquerda. O encontro contou com principais lideranças dos partidos, como Gleisi Hoffmann e Carlos Siqueira e ocorreu na terça-feira. O tema foi a construção de frente em defesa da democracia e medidas para o enfrentamento da pandemia, como ajuda a pequenas e médias empresas e a necessidade de aceleração da vacinação. De volta à Covid, os novos números da pandemia no Brasil assustam, mas são apenas o indício de que o pior está ainda por vir. Dos quatro jornalões, apenas a edição brasileira do El País antevê que o mês de abril será trágico para o país. As previsões de cientistas, como Miguel Nicolélis, se confirmarão. O Brasil registrará novas altas. É a mais grave tragédia humanitária do país no último século. Nicolélis diz que os óbitos vão superar os nascimentos neste mês por causa da pandemia. Como se não bastasse isso, o quadro social se agrava. Dos portais de notícias, é o R7, ligado à Igreja Universal, quem destaca que a fome atinge mais da metade dos lares brasileiros na pandemia. As regiões Norte e Nordeste são as mais afetadas pela falta de alimentos nos domicílios. O Globo reporta que a fome está aumentando, mas doações de comida despencam: 'Pessoas que eram doadoras hoje pedem uma cesta básica'. No Brasil de Bolsonaro e Paulo Guedes o retrato da desigualdade grita. No mesmo dia em que o país recebe a notícia das 4,2 mil mortes por Covid em 24 horas e que estudos indicam que a fome já atinge metade dos brasileiros, a Forbes divulga que 20 brasileiros entraram no ranking de bilionários em plena pandemia. O total de super-ricos do país na lista subiu para 65. Juntos, eles somam um patrimônio total de US$ 219 bilhões (R$ 1,225 trilhão), ante US$ 121 bilhões (R$ 710 bilhões) no ano passado. Outro destaque no noticiário é a recomendação do FMI para que o Brasil priorize a vacinação para acelerar a recuperação econômica e alcançar as expectativas de crescimento para este ano, projetadas em 3,7% em relatório divulgado. Em entrevista coletiva, Gita Gopinath, conselheira econômica e diretora de pesquisa do FMI, disse que medidas como o auxílio emergencial impediram uma contração mais grave no Brasil e devem ajudar na retomada, mas ainda há desafios para que o país alcance o patamar de crescimento previsto para 2021. Curioso é que o ministro Paulo Guedes pede cooperação internacional para diminuir a desigualdade de financiamento e distribuição de vacinas contra a Covid-19 entre os países. A declaração foi enviada ao FMI. No noticiário internacional, The New York Times revela – com destaque de manchete na primeira página – que os EUA apostam muito no fabricante de vacinas da Covid, mesmo quando os problemas se acumulam. Segundo o diário, a fábrica de Baltimore, que recentemente teve que sucatear até 15 milhões de doses estragadas, desrespeitou as regras e minimizou os erros, de acordo com auditorias internas, ex-funcionários e clientes. Outras doses tiveram que ser descartadas no ano passado. "Há oito anos, o governo investiu em uma apólice de seguro contra a escassez de vacinas durante uma pandemia. Pagou à Emergent BioSolutions, uma empresa de biotecnologia de Maryland conhecida por produzir vacinas contra o antraz, para ter uma fábrica em Baltimore sempre pronta", diz a reportagem. "Quando a pandemia de coronavírus chegou, a fábrica se tornou o principal local dos Estados Unidos para a fabricação das vacinas Covid-19 desenvolvidas pela Johnson & Johnson e AstraZeneca, produzindo cerca de 150 milhões de doses na semana passada". Já o Washington Post destaca em manchete que o governo dos EUA aprovou trilhões de dólares em ajuda. Mas muitas famílias duramente atingidas ainda não o receberam. "Milhões ainda estão esperando por cheques de estímulo e auxílio-moradia, e apenas 41% dos desempregados estão recebendo desemprego, revelou um estudo", reporta o jornal. "No início da crise, muitos programas de benefícios estavam sobrecarregados com aplicativos, levando a meses de atrasos no envio de pagamentos. No governo Biden, os problemas persistem". ECONOMIA Folha informa que o presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto, criticou o parlamento. Ele disse que as explicações sobre Orçamento não foram boas o bastante e geraram risco fiscal. Campos defende maior clareza sobre como serão feitos os gastos do governo com a pandemia. Ele lamentou o impasse em torno do Orçamento de 2021, aprovado pelo Congresso, mas que ainda aguarda sanção. O jornal reporta que o Ministério Público pediu ao TCU que alerte o governo sobre crime de responsabilidade em sanção do Orçamento. O aviso seria encaminhado à Procuradoria Geral da República e ao presidente da Câmara, Arthur Lira. Na representação, o Ministério Público pede também para que seja apurada a responsabilidade da equipe econômica pela formulação do Orçamento com os problemas constatados. Pressionado por empresários, o governo apresentou ao Congresso um pedido de flexibilização da LDO de 2021 para destravar o programa que permite corte de jornadas e salários de trabalhadores, além da suspensão temporária de contratos. A mudança na legislação também deve destravar o Pronampe, iniciativa que libera crédito de baixo custo a pequenos empresários. NA GRINGA O ex-chanceler Celso Amorim surge na emissora de TV independente americana Democracy Now falando sobre a crise brasileira, a conduta criminosa de Jair Bolsonaro, e das chances de Lula nas eleições presidenciais de 2022. Ele também trata da política externa de Biden, que considera "decepcionante". "A pandemia é a maior tragédia que o Brasil já enfrentou", diz Amorim. "É uma situação muito difícil. Mas há uma consciência mais ampla na sociedade, incluindo os setores econômicos, banqueiros e setores financeiros, que apoiaram o Bolsonaro (...) e agora são mais críticos. E ele [Bolsonaro] sente isso, é claro. E sob essa pressão, nunca sabemos que tipo de ação ele pode tomar". O comportamento de Bolsonaro é alvo de críticas na imprensa estrangeira. O jornalista Juan Arias, no El País, escreve sobre a "dança macabra de Bolsonaro", que oscila entre se vacinar e não se vacinar, ofendendo a memória dos mortos. "A este ponto o falso herói que desafia a morte na pandemia e continua a brincar sobre imunizar-se ou não, como se não estivéssemos lutando contra a morte, é uma responsabilidade das instituições e do Exército que continuam tolerando seus delírios violentos", critica. No espanhol El País, Eliane Brum comenta a queda de Ernesto Araújo, o "idiota ilustrado", do Ministério das Relações Exteriores no governo Bolsonaro. "Ernesto Araújo, o chanceler que conseguiu constranger a diplomacia brasileira, ofendendo parceiros econômicos importantes, fracassando nas negociações de vacinas e espalhando absurdos conspiratórios, caiu no final de março", aponta. "A queda do anti-diplomata foi a maior derrota pública de Bolsonaroe marca um novo momento para o seu governo". No português Diário de Notícias, o correspondente João Almeida Moreira aborda a queda de Araújo e da desmoralização assessor de Bolsonaro, flagrado em gesto racista no Senado. E lembra que ambos são discípulos de Olavo de Carvalho. "Guru de Bolsonaro é cada vez menos guru", destaca o jornal, comentando que Olavo foi esvaziado. E diz quem é um dos principais conselheiros do presidente: "O astrólogo que se gaba de ter tirado a extrema-direita brasileira do armário". No alemão Sueddeutsche Zeitung, o correspondente Christoph Gurk relata, desde Buenos Aires, a reação do presidente Jair Bolsonaro diante das mortes, que não param de subir no Brasil por conta do descontrole da pandemia. "Parem de se lamentar", disse. "É difícil acreditar que o Brasil já foi um modelo quando se trata de vacinação", pontua o jornalista. Ele lembra que, em dezembro, Bolsonaro se mostrou contra a vacina. "As mulheres podem deixar crescer a barba, os homens podem ter voz aguda, quem sabe?", recorda. O jornal destaca que, em Vila Formosa, cemitério de São Paulo, as pessoas estão sendo enterradas à noite, porque o dia não basta. O novo recorde brasileiro ganhou também espaço no americano Washington Post: "Mais de 4.100 pessoas morreram de coronavírus no Brasil na terça-feira, o maior total diário de vidas perdidas já registrado no país desde o início da pandemia, elevando o número de mortos para quase 337.000, de acordo com dados da Universidade Johns Hopkins". O jornal critica a conduta do presidente. "Sob a liderança de Bolsonaro, os brasileiros foram alertados de que a mídia estava espalhando 'histeria', enquanto ele reprimia esforços locais para conter o vírus, dizendo que encorajar as pessoas a isolar e fechar igrejas e shopping centers eram medidas desnecessárias. 'Isso vai passar em breve', disse". O argentino Clarín destaca o novo recorde brasileiro de mortes. É o segundo país com mais mortes de Covid: 4.000. "Eles aguardam o mês mais difícil da pandemia", noticia. "Especialistas afirmam que nas próximas semanas o país poderá passar por um cenário mais sombrio, com hospitais lotados , vacinação avançando lentamente e o governo de Jair Bolsonaro rejeitando a aplicação da quarentena, argumentando que prejudica a economia". O Página 12 também destaca o novo patamar de 4 mil mortos por dia. Agora, Jair Bolsonaro negocia a chegada do Sputnik V, destaca o jornal, que ainda ressalta a estratégia do novo chanceler brasileiro: "A primeira emergência deve ser o combate à pandemia". Em artigo no argentino Página 12, Emir Sader comenta a dianteira de Lula nas rodadas de pesquisa. "O cenário eleitoral é desfavorável a Bolsonaro, ainda mais a partir do momento em que Lula voltou de forma plena à vida política. No primeiro turno, Lula sobe de 25% para 29%, enquanto Bolsonaro passa de 27% para 28%. Todos os demais estão longe, com 9% ou menos", escreve, citando os dados da pesquisa XP/Ipespe. No Le Monde, a saga do piloto de avião Antonio Sena ganha destaque. O jornal fala da aventura do piloto perdido durante 36 dias na floresta amazônica. Vítima da falha do motor da aeronave que pilotava, Sena caiu no final de janeiro em meio a uma reserva protegida no Estado do Pará, Brasil. Ele vagou por mais de um mês antes de ser resgatado por catadores de nozes. E sobreviveu comendo vagens de cacau e tendo o sol como bússola. |
AS MANCHETES DO DIA |
Folha: Brasil ultrapassa pela primeira vez 4.000 mortos por Covid em um dia Estadão: País tem 4,2 mil mortes em 24h e contágio em alta indica piora O Globo: Com 4.211 mortes, Brasil dobra recorde diário de óbitos em um mês Valor: STF decidirá se empresas devem R$ 100 bi à União El País (Brasil): Brasil registra recorde de 4.195 novas mortes pelo novo coronavírus e prenuncia um mês de abril "trágico BBC Brasil: Os dois lados do julgamento no STF sobre cultos na pandemia UOL: Estudo mostra que CoronaVac é efetiva contra variante de Manaus G1: Governo leiloa hoje 22 aeroportos e espera R$ 6 bi em investimentos R7: Fome atinge mais da metade dos lares brasileiros; regiões Norte e Nordeste sofrem mais Luís Nassif: Hamilton Mourão conclama por maior intervenção militar Tijolaço: Brasil tem novo recorde de mortes por Covid: 4.195 Brasil 247: Bolsonaro é questionado sobre mais de quatro mil mortes diárias e debocha: "agora sou genocida" DCM: STF julga hoje ação sobre abertura de templos e igrejas na pandemia Rede Brasil Atual: Na saúde e na economia, Bolsonaro e Paulo Guedes são faces da mesma tragédia Brasil de Fato: Pablo Ortellado: "Bolsonaro dá todos sinais que tem medo do Lula, e deve ter mesmo" Ópera Mundi: Equador: eleições chegam à reta final com oito regiões em estado de exceção Poder 360: Morte por covid sem fator de risco sobe no Brasil e chega a 27,4% em março New York Times: O plano de vacinas dos EUA baseia-se em uma fábrica problemática Washington Post: Milhões ainda esperam por dinheiro de socorro WSJ: Alta forte das ações dos EUA mascara grandes oscilações de valor Financial Times: Goldman comprou £ 75 milhões de ações da Deliveroo para aumentar o preço na estreia The Guardian: Continue tomando vacina, diz primeiro-ministro enquanto ensaio foi interrompido para investigar relatos de coágulos The Times: O estudo da vacina de Oxford foi interrompido por medo de coágulos sanguíneos Le Monde: China, Rússia, Irã: o grande bloqueio da Internet Libération: Leal ou rival? El País: Sánchez promete 85 milhões de vacinas em seis meses El Mundo: Covid. Saúde propõe agora ao CCAA que eles possam ficar sem máscara na praia, na piscina e no campo Clarín: Com recorde de casos, o governo apura medidas duras e a cidade resiste Página 12: Não sei o que é, mas eu me oponho Gramna: Mulher cubana com a luz exemplar de Vilma Espín Diário de Notícias: Diretor do SEF reconhece que havia armas não registradas Público: Ritmo de vacinação e reabertura total das escolas podem levar a quarta vaga Frankfurter Allgemeine Zeitung: Bloqueio da ponte Süddeutsche Zeitung: Cenoura sem vara The Moscow Times: Rublo é vítima ante o medo do conflito na Ucrânia Global Times: Um grande processo da prática de redução da pobreza na China: editorial do Global Times Diário do Povo: Xi dá os parabéns pelo aniversário do centenário da Universidade de Xiamen |
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