Jair Bolsonaro quer criar a República Miliciana do Brasil, a RMB.
Vocês devem se preocupar com isso? Sem dúvida. Muito? Sim, muito. Eu vou citar apenas duas das tantas regras que estão escritas em quatro decretos que o presidente da RMB editou na véspera do carnaval. Elas são simples. - Você pode andar armado pelas ruas, com suas armas carregadas, para ir encontrar seus amigos igualmente armados.
O porte de armas é proibido no Brasil, como sabemos. Então basta você se cadastrar em um clube de caça ou tiro. Pronto, você pode transportar suas armas (duas por vez) carregadas para lá e para cá, sob o pretexto de estar indo ao clube. O trajeto? Tanto faz. Cidadãos da RMB podem fazer "qualquer itinerário" entre suas casas e os locais de tiro (“...considera-se ‘trajeto’ qualquer itinerário realizado entre o ‘local de guarda autorizado’ e os de treinamento, instrução, competição, manutenção, exposição, caça ou abate, independentemente do horário…”). É bastante fácil registrar-se em um clube. Basta ter atestado de um psicólogo – qualquer psicólogo. - Você pode ter até seis armas. Ou 60.
Um cidadão normal pode comprar até seis armas. Um membro de clube de caça, tiro ou desportivo, até 60. Entre elas, as de calibre restrito, que são mais letais. Para municiá-las, você poderá ter, todos os anos, até 5000 (cinco mil) munições POR ARMA. Assim, cada cidadão da RMB poderá fazer da própria casa um paiol mortal. Como o cidadão pertence a um clube de tiro ou caça, seus amigos terão outros paióis de guerra. Está formado o grupo de fogo. Quando o cidadão da RMB formar sua milícia privada, ele terá ainda outras benesses nessa guerra particular. Os decretos de armas – que estão suspensos por liminar da ministra do STF Rosa Weber – acabam com o controle sobre o maquinário usado para a recarga de munição. O texto deveria ter entrado em vigor na terça, mas foi revogado na última hora pela ministra, e agora precisa ser votado pelos ministros. Na prática, se isso passar, o Brasil vira um potencial produtor clandestino de munição pirata de qualquer calibre. Não é mais preciso correr o risco de comprar ilegalmente ou desviar das forças armadas (assim morreram Marielle e Anderson). Sem esse controle, qualquer prensa pode ser adquirida para recarregar munição à vontade. Você pode recarregar cartuchos, por exemplo, para aquele seu vizinho miliciano. Isso se você mesmo não for um. Na RMB, apreensões como essa deixam de acontecer, e os acessórios seguiriam para Goiás, São Paulo, Rio Grande do Sul, Santa Catarina, Pará e Alagoas, seus destinos desejados, onde as milícias privadas estarão prontas para algum chamado.
É a milicianização da sociedade. |
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