MIDIALTERNATIVA FREE PRESS: Deu na Imprensa

Todas as atenções estão voltadas nesta terça-feira, 27 de abril, para a instalação da CPI da Covid pelo Senado Federal. Na noite de ontem, o mundo político foi surpreendido pela decisão de um polêmico juiz federal de Brasília que determinou ao Senado que não indicasse Renan Calheiros para a relatoria da comissão, atendendo a pedido da deputada Carla Zambelli (PSL-SP). O que era para ser uma vitória para o presidente Jair Bolsonaro e seus aliados virou um pesadelo. O presidente Rodrigo Pacheco (DEM-MG) anunciou que o Senado vai ignorar a decisão.

Com exceção do Valor Econômico, todos os grandes jornais nacionais repercutem a tentativa de interferência do Planalto na CPI e o esforço do governo para barrar o senador alagoano. O tiro saiu pela culatra, porque a CPI não apenas reagiu à tentativa de interferência como se sentiu atingida pela manobra e está mais convicta. Fora do círculo governista, é grande a irritação dos senadores com a liminar que barra a indicação de Renan.

Eis as manchetes: Folha: Na véspera de CPI, governo tenta tirar Renan de relatoria. Estadão: Juiz interfere em CPI da Covid e barra Renan como relator. O Globo: CPI da Covid reage a interferência e deve manter Renan. El País (Brasil): Governo manobra de última hora contra a CPI da Covid, que prepara arsenal contra Bolsonaro. E Valor: Soma surpreende mercado e compra Hering por R$ 5,1 bi.

Atenção à reportagem da Folha dando a notícia de que Bolsonaro ignora Covid em plano orçamentário de 2022. A falta de detalhamento é contestada no Congresso enquanto TCU já analisa omissões de 2021. O jornal diz que o governo entregou ao Congresso as diretrizes, metas e prioridades para o Orçamento de 2022 sem apresentar um plano ligado à Covid-19 e efeitos no próximo ano ou cálculos sobre o impacto da pandemia nas contas públicas. É a terceira vez seguida desde a chegada da Covid ao país que o governo formula uma peça orçamentária sem previsões de efeitos sobre os números.

Na política, uma notícia importante que já rende manchetes no Brasil 247 e Diário do Centro do Mundo é sobre Lula. Painel da Folha informa que embaixadores da América Latina e Europa buscam diálogo com o ex-presidente. Ele estará na capital federal na próxima semana e tem agendado encontros com líderes políticos. Quem faz a ponte é o ex-chanceler Celso Amorim.

Se Lula atrai atenção e tem seu prestígio recuperado na comunidade internacional, Bolsonaro mergulha no isolamento. Além da operação tabajara desenhada pelo Planalto, outro flanco no declinante prestígio do capitão se abre. A imagem trincada do Brasil sofre mais uma lasca por decisão da Anvisa. A agência reguladora de saúde do Brasil rejeitou a Sputnik, a vacina russa contra Covid. A repercussão da notícia ganhou não apenas as páginas dos jornais brasileiros como tem impacto internacional.

A Reuters distribuiu despacho informando que Sputnik V, rejeitada ontem pela Anvisa, vem sendo solicitada por governadores de estados. E lembra que os governantes dos estados "lutam contra a segunda onda mortal do vírus que assola a maior nação da América Latina". O despacho da Reuters foi replicado em mais de 3 mil veículos noticiosos em todo o mundo. A decisão da agência do governo brasileiro ganhou projeção e está em jornais como New York Times e Diário de Notícias. Leia mais em BRASIL NA GRINGA.

Jornais mostram que Bolsonaro sentiu o golpe. Em viagem ao interior da Bahia, ele tentou se precaver e declarou que não se preocupa nem com CPI nem com Lula, mas não apenas cobrou de governadores que não estiquem a corda, como ainda voltou a fazer ameaça de usar o Exército para evitar o caos. O presidente se irritou com uma pergunta e chamou repórter de idiota na Bahia.

A movimentação desastrada do governo amplia o efeito explosivo da CPI. A oposição já tem em mãos o roteiro para a comissão. Da cloroquina à vacina, os confrontos de Bolsonaro na pandemia devem ser alvo de CPI. Para piorar, enquanto o Planalto atua por submersão de Pazuello e narrativa de escassez mundial para falta de vacinas, o General e ex-ministro da Saúde é flagrado em um shopping de Manaus – sem máscara – flanando como se o país não estivesse mergulhado na maior crise sanitária da história.

O sinal de que o Exército teme os efeitos deletérios de sua atuação no governo está no desconforto mostrado pelo vice Hamilton Mourão. Ele disse que Exército não pode ser julgado pela atuação de Pazuello na pandemia. A perda de prestígio do governo no Congresso é tanta que Folha relata o desgaste do presidente no Parlamento pode enfraquecer o favorito de Bolsonaro em disputa por vaga no Supremo.

Os colunistas deitam e rolam nos jornais, apontando o inferno astral do governo. No Estadão, Eliane Cantanhêde diz que "CPI é como coronavírus: desconhecida, contagiosa e potencialmente letal". E Rubens Figueiredo vai na mesma linha: "Comissão tem potencial explosivo contra o Planalto". No Globo, Merval Pereira diz que Bolsonaro se enreda ainda mais ao tentar se livrar da culpa na pandemia. E Bernardo Mello Franco traz que o juiz que barrou Renan em CPI deve ter despachado no Planalto, conforme a suspeita de Randolfe Rodrigues (Rede-AP).

Na Folha, Cristina Serra defende que chegou a hora de retomar as investigações sobre as relações entre as milícias e o presidente da República. "Esclarecer as conexões entre Adriano da Nóbrega e Bolsonaro é prioridade", defende. Ela se refere à revelação pelo The Intercept ao relatório do Ministério Público do Rio de Janeiro com o resumo dos grampos telefônicos de comparsas de Adriano da Nóbrega. "As conversas indicam conexões muito mais profundas entre o ex-policial militar e Bolsonaro do que se sabia até então", diz a colunista. Após a morte de Adriano, seus associados teriam procurado um homem, mencionado nos grampos como o "cara da casa de vidro". Fontes do MP dizem tratar-se de Bolsonaro.

BRASIL NA GRINGA

Repercute fora do Brasil a decisão da Anvisa de proibir a vacina russa Sputnik V. O diário The New York Times informa que a autoridade sanitária do Brasil, Anvisa, disse na noite de segunda-feira que não recomendaria a importação da vacina Covid-19 desenvolvida pela Rússia. "A necessidade de vacinas é urgente no Brasil, que vem sofrendo com um dos piores surtos do mundo, impulsionado pela variante do vírus P.1, altamente contagiosa", lembra o jornal. "Mas a Anvisa disse que ainda restam dúvidas sobre o desenvolvimento, a segurança e a fabricação da vacina".

O português Diário de Notícias destaca que Brasil nega importação da vacina Sputnik por falta de dados e falhas de segurança. Um "mar de incertezas" e um cenário de "riscos impressionante", disse um dos responsáveis pela avaliação feita do regulador brasileiro à vacina russa Sputnik V. Em outra reportagem, o jornal informa que Brasil poderá ter mais de 600 mil mortes até agosto. O médico Ali Mokdad, da Universidade de Washinghton, diz que Brasil pode tornar-se um dos países com mais mortes por habitantes no mundo.

O jornal lusitano Público noticia o início do funcionamento da CPI da Covid no Senado: "Começa a anatomia ao desastre brasileiro da pandemia". O correspondente João Ruela Ribeiro escreve que a comissão de inquérito à gestão da crise sanitária pelo governo federal começa com Bolsonaro em desvantagem. "Reveste-se de um caráter histórico e, qualquer que seja o desfecho, dificilmente deixará pedra sobre pedra na política e sociedade brasileiras", aponta. "Ainda na última sexta-feira, Bolsonaro ameaçou chamar o Exército para as ruas nos estados que aplicam medidas de confinamento "para acabar com essa covardia de toque de recolher" e ainda ontem voltou a lançar críticas aos governadores".

INTERNACIONAL

New York Times, Washington Post destacam em manchete que a população dos EUA na última década cresceu na taxa mais lenta desde 1930. Com a imigração se estabilizando e a taxa de natalidade em declínio, os Estados Unidos podem estar entrando em uma era de crescimento populacional substancialmente menor, disseram os demógrafos. Post relata que as mudanças para o Sul provavelmente beneficiarão os republicanos.

O Censo dos EUA também relatou mudanças no mapa político – manchete do Wall Street Journal. O levantamento mostra que o Sul e o Oeste ganham poder político com o crescimento populacional. A tendência de longa data do Sul e do Oeste ganhando população – e a representação parlamentar que vem com isso – às custas do Nordeste e do Meio-Oeste continua, com o Texas ganhando duas cadeiras e Flórida uma, e Nova York e Ohio perdendo uma. A Califórnia, por muito tempo líder em crescimento populacional, perdeu um assento pela primeira vez na história.

Na Inglaterra, uma suposta desastrosa de Boris Johnson virou uma crise política que arranha gravemente a imagem pública do primeiro ministro. O Times traz novas alegações de que Johnson disse que preferia deixar o coronavírus "rasgar" em vez de impor um segundo bloqueio no ano passado. O jornal diz que o primeiro-ministro fez a observação em setembro, argumentando que "não havia evidências" de que os bloqueios funcionavam e "os descreveu como loucos". O governo descreve as novas revelações como "distorções grosseiras de sua posição".

O Guardian informa que fontes conservadoras estão adicionando peso aos relatórios de que o primeiro-ministro disse que preferia ver corpos empilhados do que trancar o país pela terceira vez. Diz que o primeiro-ministro está "enfrentando a fúria" dos enlutados. O Daily Mirror traz uma imagem emocionante do muro do memorial Covid-19 do lado de fora do Hospital St Thomas em Londres. "Não são apenas corpos, Boris... Nós os amávamos" é a manchete. O jornal diz que famílias enlutadas classificaram o primeiro-ministro de "insensível" pelo suposto comentário, que Boris nega ter dito.

Financial Times publica relatório especial sobre o Chile, apontando o país como destino de investimentos para estrangeiros. "Uma nova constituição se aproxima e a economia está pronta para uma recuperação pós-pandemia". Mais: como o norte do Chile está se tornando uma potência renovável; perspectivas de uma recuperação liderada pelo cobre; e o apoio cresce para Mapuche marginalizados.

"Investidores famintos pelas alternativas derivadas de inteligência artificial da NotCo para carne e leite", destaca manchete. A start-up de alimentos vegetais está empurrando para uma avaliação de US$ 1 bilhão. O jornal reporta que o Chile viverá um teste crítico, que se aproxima por causa da desigualdade. "Mudança constitucional pode levar o país mais perto de abordar as causas da agitação", destaca. Em entrevista, o presidente Sebastián Piñera olha seu legado. "Ele enfrentou um terremoto, motins e Covid, mas quer ser lembrado por lançar as bases da prosperidade", ressalta.

AS MANCHETES DO DIA

Folha: Na véspera de CPI, governo tenta tirar Renan de relatoria

Estadão: Juiz interfere em CPI da Covid e barra Renan como relator

O Globo: CPI da Covid reage a interferência e deve manter Renan

Valor: Soma surpreende mercado e compra Hering por R$ 5,1 bi

El País (Brasil): Governo manobra de última hora contra a CPI da Covid, que prepara arsenal contra Bolsonaro

BBC Brasil: CPI da Covid começa com 'arsenal' que ameaça governo Bolsonaro

UOL: Governo escala tropa de choque para blindar Bolsonaro na CPI da Covid

G1: Com 392 mil mortos no país, Senado instala hoje CPI da Covid para investigar governo

R7: Auxílio emergencial é depositado nesta terça (27) para 2,44 milhões de pessoas nascidas em outubro

Tijolaço: O juiz vai virar uma mosca, Renan, um falcão

Brasil 247: Embaixadores da América Latina e Europa querem diálogo com Lula