Praias lotadas, bares cheios, confraternizações em parques. Parece a descrição de um fim de semana ensolarado pré-pandemia. Mas não. As cenas ocorreram no fim de semana em que o Brasil ultrapassou 1,6 milhão de infectados pelo novo coronavírus, causador da morte de 64.867 pessoas nos últimos quatro meses no país. Para se ter uma dimensão do que o número representa, pense que é o equivalente a quase a capacidade de lotação do estádio do Morumbi, em São Paulo. A curva de infecções continua a subir, mas o brasileiro parece ter perdido o medo do vírus —fenômeno semelhante ao que ocorre nos Estados Unidos, único país à frente do Brasil em casos e óbitos pela doença. Em paralelo, governadores e prefeitos flexibilizam cada vez mais as quarentenas. No Rio de Janeiro, onde os bares foram autorizados a voltar a funcionar na quinta-feira passada, houve coro de deboche durante uma blitz para fiscalizar a execução das regras de distanciamento social e proteção individual. "Eu não vou embora", cantavam os frequentadores de um bar na Barra da Tijuca. Em São Paulo, o prefeito Bruno Covas lembrou que a pandemia não acabou, ao anunciar as regras para a abertura de bares e restaurantes a partir desta segunda-feira. “Apesar da flexibilização, o vírus não acabou”, disse.
Não há, entretanto, razões que justifiquem o clima de normalidade nem a perda do medo do novo coronavírus. Mesmo entre os 906.286 curados da covid-19, não são poucos os relatos de pacientes que, passada a fase aguda da doença, ainda têm sintomas como falta de ar, dores musculares, perda de olfato e paladar. “O que temos visto é que pode sim haver sequelas em vários órgãos e de diversos tipos. Especialmente as relacionadas ao quadro pulmonar, vemos as mesmas sequelas de infecções graves, com fibroses e restrição da capacidade respiratória. É uma cicatriz no pulmão que dificulta a respiração e é proporcional ao acometimento do pulmão durante a fase aguda”, explica Fábio Lima, pesquisador e médico infectologista do Instituto Nacional do Câncer, na reportagem de Beatriz Jucá sobre a vida pós-covid-19. Meses após superada a doença, pacientes ainda enfrentam sessões de fisioterapia e uma previsão de meses de tratamento.
Para além da pandemia, destacamos ainda nesta edição outro mal que assola a humanidade: o racismo. Reportagem de Naiara Galarraga Gortázar conta a aterrorizante história dos zoológicos humanos, que embora pouco falados, ocorreram há não muito tempo —o último provavelmente ocorreu em 1958. Em 1882, o Museu Nacional do Rio de Janeiro exibiu uma família indígena, emulando as exposições de “selvagens” que faziam sucesso na Europa e nos Estados Unidos. Essas exposições “tiveram um papel muito relevante na disseminação do racismo, apesar do fato de hoje termos esquecido em boa medida esses eventos, como se não fizessem parte do nosso passado cultural e científico não tão remoto", conta um estudioso.
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segunda-feira, 6 de julho de 2020
Brasil lota praias e bares, enquanto infectados passam de 1,6 milhão
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