sábado, 11 de julho de 2020

O voo cego do Brasil


 
O Brasil de 2020 faz lembrar um avião voando às cegas com um piloto sem qualquer controle sobre a aeronave, e sem parte essencial da tripulação: o ministro da Saúde e o da Educação. 

Hoje, em meio à maior crise sanitária do século, a pasta da Saúde completou 57 dias desnorteada, ocupada por um ministro interino militar sem qualquer formação ou experiência na área. O presidente não parece ter pressa de indicar um quarto nome para o cargo e os laboratórios do Exército acumulam quase 2 milhões de comprimidos de cloroquina — um remédio rejeitado por médicos ao redor do mundo devido aos riscos colaterais à saúde do paciente.

Com o mesmo número de titulares escalados e riscados (quem se lembra do Vélez Rodríguez?) , a Educação, historicamente sucateada no Brasil, parece ter encontrado no governo atual seu pior momento. Como João Filho lembrou em sua coluna desta semana no Intercept, o último nome cotado para assumir o ministério, o secretário de Educação do Paraná, Renato Feder, é um neoliberal ferrenho que vê no privatismo o futuro para o ensino no Brasil. Em uma reportagem de Hyury Potter, revelamos que seu grande feito foi deixar alunos de 165 cidades paranaenses sem aulas nesta pandemia.

Se o Brasil, há pouco tempo, era uma aeronave ganhando altitude, neste momento ficou claro para todos que as turbinas travaram sob o peso das milhares de vidas perdidas por conta da covid-19 (316 Boeings 737 cheios) e como disse, o piloto já não tinha nada sob controle . Eu ainda acredito que o país tem salvação, embora cada pronunciamento do ex-capitão Bolsonaro seja uma esperança a menos. Mesmo assim, a imprensa e milhões de brasileiros dos serviços essenciais, como médicos e enfermeiros, entregadores, educadores, sepultadores e tantos outros guerreiros anônimos seguem lutando para manter a gente no ar. 

Samanta do Carmo
Coordenadora de redação

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