A Lava Jato acabou. Sem coletiva de imprensa e sem PowerPoint, o grupo de 14 procuradores de Curitiba foi oficialmente dissolvido depois de sete anos. O fim foi anunciando timidamente em um obituário publicitário que agora jaz em um link da sala de imprensa virtual do Ministério Público Federal do Paraná. Não há microfones ou folhas impressas com manchetes pré-cozidas. Estão lá todos os predicados que a força-tarefa dá a si própria, seus feitos, as glórias, os milhões, os bilhões, e alguém deve até ter pensado em colocar os trilhões. O texto é uma pequena seleção das tantas conquistas abnegadas e sem interesses políticos pelas quais, ao final da leitura, eu quase me senti obrigado a levantar meu corpo cansado de pandemia da cadeira para bater palmas aos gritos de viva diante da tela do computador, sozinho em casa, de roupa furada, uma lágrima que escorre do meu rosto: “O mundo agora será bem pior, Leandro. Bem pior! A corrupção venceu, Leandro!”. Por sorte topei com o dedão do pé na mesa antes de passar vergonha. Não há ironia no mundo que dê conta do caos real que a Lava Jato produziu. E agora pouco importa se as motivações iniciais eram nobres ou deletérias. Seu resultado está aí, a política destroçada e o país nas mãos do capitão cloroquina, centenas de milhares de mortos enterrados, ainda mais tantos milhares por enterrar. Todos sabem como Bolsonaro chegou lá. Nesta semana, dezenas de conversas vazadas da Operação Spoofing começaram a aparecer na imprensa. São chats que fazem parte de um acervo apreendido pela Polícia Federal em 2019, quando agentes prenderam os hackers de Araraquara. O que há lá dentro, por enquanto, só deus, a PF e a defesa de Lula sabem. O tamanho do arquivo da operação Spoofing é de 7 terabytes, dos quais os advogados do ex-presidente já acessaram cerca de 10%. O tamanho do arquivo da Vaza Jato custodiado pelo Intercept é de 43,8 gigabytes. O que isso significa? Que o nosso arquivo – o mesmo que consultamos para publicar, até agora, 105 reportagens – corresponde a 0,56% do arquivo total apreendido pela Spoofing. Nunca havíamos dado esses detalhes (até agora). Não iremos especular sobre o material da Spoofing, ao qual não temos acesso. O Intercept atesta a veracidade e a integridade apenas do material que publica em suas reportagens, em suas redes e através dos parceiros já conhecidos. Divulgar detalhes técnicos sobre arquivos é sempre um risco. Jornalistas evitam esse tipo de publicidade. Mas decidimos dar luz a esses números para debelar especulações e ilações de má fé que têm surgido após o vazamento de trechos da Spoofing. Há interesse público evidente na divulgação dessas informações. Tudo indica que os próximos meses serão intensos, a começar pelo julgamento da atuação de Sergio Moro no caso do triplex do Guarujá. Pelos prognósticos, o STF deve declarar Moro suspeito. As mensagens da Spoofing, custodiadas pelo Estado brasileiro, são muito bem-vindas. Elas corroboram – com perícia – um ano e meio do trabalho dos nossos jornalistas sobre a escancarada parcialidade de Sérgio Moro e as evidentes ilegalidades dos procuradores da Lava Jato. No dia 9 de junho de 2019, às 17h57 de um domingo, nós publicamos as três primeiras reportagens da série Vaza Jato. Moro e Deltan eram heróis nacionais. A Lava Jato, símbolo mundial de combate à corrupção. A história se move. |
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