segunda-feira, 1 de fevereiro de 2021

Análise de Mídia - 01/02/2021

 

DOS JORNAIS DE HOJE: As capas de Folha, O Globo e Estadão destacam o favoritismo dos candidatos apoiados pelo Planalto na disputa pelas presidências do Senado e da Câmara. Apenas o Estadão acusa o Planalto de ingerência sobre o processo. O Estadão foi o único dos jornais que levantou a planilha de repasses do governo federal que beneficiou parlamentares que mudaram de lado, passando a apoiar Arthur Lira. Hoje, o jornal reforça que os valores foram repassados através de um sistema que não é rastreável. Já a Folha, sugere que Rodrigo Maia possa deixar o DEM e perder espaço no cenário político. O racha no DEM e a opção do presidente do partido por deixar o bloco de Baleia Rossi é notícia em todos os veículos de imprensa. Ainda sobre as eleições no Congresso, os jornais publicam entrevistas com analistas e artigos que avaliam os diferentes cenários para o governo com os possíveis resultados do processo. No geral, dizem que Jair Bolsonaro não estará muito tranquilo com qualquer um dos vencedores na Câmara. Lira tornaria o governo mais refém do Centrão. Baleia Rossi manteria o confronto entre os Poderes.
Já sobre as carreatas contra Jair Bolsonaro, os jornais quase não falaram. A Folha publicou uma reportagem extremamente superficial e Estadão uma nota minúscula acompanhada de uma foto.
Sobre a crise sanitária, a Folha publica reportagem sobre o sistema de distribuição de vacinas que foi passado para a iniciativa privada pelos governos Temer e Bolsonaro. Apesar de mostrar que o serviço vem apresentando falhas, a Folha não se aprofunda e ainda aponta que o novo sistema gera economia de gastos (foi-se o tempo em que verbas para a Saúde eram consideradas investimento). Além disso, os jornais publicam reportagens sobre a situação no Amazonas e como a nova cepa do vírus tem provocado o aumento de casos graves entre pessoas não idosas e sem comorbidades. A falta de abastecimento de oxigênio está entre as causas.
O Valor Econômico, por sua vez, destaca em sua capa que a Magazine Luiza está concorrendo com bancos na oferta de crédito rural. Além disso, o jornal informa sobre um racha existente no Copom com relação ao que deve ser feito daqui para frente. O Valor ainda informa sobre o julgamento do HC do ex-juiz Sergio Moro. O ministro Gilmar Mendes avalia antecipar a votação do processo.

 

CAPA – Manchete principal: *”Centrão é favorito para o comando da Câmara”*

EDITORIAL DO ESTADÃO - *”Risco de servilismo”*: Jair Bolsonaro voltou ao jogo da política tradicional no ano passado, quando se viu encurralado pelas investigações sobre os negócios de sua família em meio à pandemia do coronavírus e ao aprofundamento de uma recessão. Sentindo que seu pescoço estava a prêmio, o presidente abandonou o discurso adotado na campanha eleitoral e retomou a negociação de cargos e verbas com partidos que dão as cartas no Congresso, como fizeram seus antecessores. O objetivo principal sempre foi criar uma barreira de contenção para garantir seu mandato, reunindo uma base de apoio que, mesmo minoritária, tivesse número suficiente para impedir o avanço de um processo de impeachment. A estratégia foi bem-sucedida até aqui, e o mandatário decerto espera coroá-la nesta segunda (1º), com as eleições que renovarão a liderança das duas Casas legislativas. Bolsonaro não faz segredo de seu endosso a Arthur Lira (Progressistas-AL), que concorre à presidência da Câmara dos Deputados, e a Rodrigo Pacheco (DEM-MG), postulante no Senado, que contam com o Planalto na cooptação de aliados.
Os principais adversários, o deputado Baleia Rossi (MDB-SP) e a senadora Simone Tebet (MDB-MS), tiveram defecções em suas fileiras. Trata-se de cenário inquietante. Embora não tenha faltado apoio para uma agenda reformista no período em que Rodrigo Maia (DEM-RJ) presidiu a Câmara, quando se aprovou a reforma da Previdência, os desentendimentos entre ele, Bolsonaro e seu ministro da Economia, Paulo Guedes, inviabilizaram outras iniciativas desde então. Mais importante, Maia foi sustentáculo da postura altiva com que o Congresso enfrentou os rosnados autoritários de Bolsonaro, seja ao rejeitar decretos e medidas provisórias abusivas, seja ao responder a ataques abertos aos Poderes. Deixa ao sucessor a tarefa de deliberar sobre dezenas de pedidos de impeachment do chefe de Estado. Um presidente da República cioso de suas responsabilidades saberia aproveitar a situação favorável para negociar uma pauta ambiciosa, que possa colocar as contas do governo em ordem e restaurar a confiança na economia. Entretanto Bolsonaro já demonstrou à farta que a agenda do país está em segundo plano, se tanto, neste governo. Sua conduta se pauta tão somente por dar vazão aos anseios raivosos de seguidores extremistas e safar-se de responder por desmandos em série, dos quais os cometidos na gestão da pandemia são apenas os mais recentes. Sobram, pois, razões para temer os riscos envolvidos nas eleições desta segunda. Um Congresso subserviente ao Planalto —com o que parecem acenar os candidatos patrocinados por Bolsonaro, em particular Arthur Lira— representaria um retrocesso intolerável.

PAULO ROGÉRIO NUNES - *”Afrofuturismo: o futuro será negro?”*: O afrofuturismo é um movimento estético, cultural e tecnológico que vem crescendo a cada ano no Brasil. Antes desconhecido, hoje a linguagem afrofuturista tem ocupado livrarias, plataformas musicais, coletivos de tecnologia e diversos outros espaços. A proposta é bem objetiva: questionar, propor e imaginar a participação negra na construção do futuro. O entendimento das pessoas que reivindicam a narrativa afrofuturista é de que por muito tempo essa imaginação sobre o futuro foi limitada apenas à cosmovisão eurocêntrica, seja em artes visuais, cinema, tecnologia e ciências. Ícones internacionais como o músico Sun Ra, a escritora Octavia Butler e o artista visual Basquiat representam esse movimento. Mesmo artistas pop contemporâneos buscam essa referência de maneira direta ou indireta. Aqui no Brasil dezenas de pesquisadores, escritores e artistas se inspiram nessa estética. De livros a games, passando pela moda, o afrofuturismo chegou com uma grande força narrativa, e a Bahia pretende ser o epicentro desse movimento.
Em 2017, a Vale do Dendê, em parceria com o Instituto Mídia Étnica, realizaram uma atividade que aconteceu como preparativo para a primeira Campus Party Bahia, chamada “Ocupação Afro.Futurista”, com o objetivo de propor uma reflexão sobre o tema. Para isso, ocupamos a maior estação de ônibus e metrô do Norte e Nordeste, a Lapa, com ativações de cultura “maker” e “geek”, palestras e workshops. Em 2018, repetimos a ação na mesma estação, daquela vez incluindo o primeiro “hackathon” (maratona digital) focado em inovadores negros(as) e fomos para o interior da Bahia. Toda essa experiência impulsionou um rico ecossistema de startups e coletivos de tecnologia formados por pessoas negras não apenas na Bahia, mas no Brasil. Após um hiato de dois anos, agora com a parceria da Qintess (uma das dez maiores empresas de TI do Brasil), a Vale do Dendê voltou a pautar esse tema em um novo formato, respeitando os tempos de pandemia, com um evento 100% online chamado “Festival Afrofuturismo” —e desta vez conectando parceiros de países como Angola, Moçambique e Cabo Verde, fazendo ainda mais jus ao nome.
Aprofundamos no evento discussões que recentemente foram colocadas em pauta no Brasil, como racismo algoritmo, o ecossistema de startups negras e a possibilidade de uma maior conexão com países africanos que estão investindo em tecnologia, a exemplo de Cabo Verde, que possui um programa específico de atração dos chamados “nômades digitais” —profissionais de tecnologia que vivem viajando e trabalhando pelo mundo. Além de também destacar a nova cena tecnológica que surge em países como Nigéria, Gana, Ruanda, África do Sul e Etiópia. Sobre a liderança africana na tecnologia, é preciso lembrar que o ideário afrofuturista não constrói apenas cenários ficcionais (como foi o caso de Wakanda, em “Pantera Negra”, da Disney/Marvel), mas se baseia em fatos históricos ocultados pela colonização e escravidão. São os casos, por exemplo, do protagonismo e da liderança absoluta dos países africanos pré-coloniais na ciência, matemática, astronomia e em outras áreas onde as civilizações negras foram pioneiras. O evento deu destaque também à cena musical que bebe na fonte do tema, como a apelidada de “Bahia Bass”, com referências visuais negras e futuristas —a exemplo do clipe “Bafana”, do rapper baiano Yan Cloud. Além disso, startups tiveram a oportunidade de fazer um “demo day” para especialistas em inovação. Em um mundo cercado de problemas sociais, aprofundados pela pandemia de Covid-19 e cada vez mais distópico, resgatar a utopia de uma África novamente líder em tecnologia, ciência e inovação é possível e necessário. E você, acha que um futuro negro é possível?

PAINEL - *”Maia deve deixar o DEM e futuro político de presidente da Câmara é incerto, avaliam parlamentares”*: Políticos da esquerda, do centro e da direita avaliam que Rodrigo Maia (DEM-RJ) não se preparou para deixar a cadeira e não se deu conta que os dias de poder estavam acabando. Não ter conseguido manter sua própria legenda no bloco criado por ele já indica como será a vida fora da presidência, na opinião de colegas. Caciques partidários traçam futuro político sem prestígio a Maia e dizem achar improvável que ele fique no DEM. O cenário só muda se Baleia Rossi (MDB-SP) vencer. Além do enfraquecimento de Maia, o DEM também sai abalado do processo eleitoral, segundo análise de políticos experientes. O presidente da sigla, ACM Neto (BA), é visto como traidor no bloco de Baleia. Apesar de reconhecer o papel importante que Maia teve nos quatro anos e meio à frente da Câmara, parlamentares e presidentes de partido avaliam que ele terá dificuldade em se encaixar politicamente se Arthur Lira (PP-AL) ganhar a eleição, principalmente em articulações futuras para 2022. Pessoas que conviveram com Rodrigo Maia nas últimas semanas afirmam ter visto certa instabilidade emocional no político. No período, segundo relatos, o presidente da Câmara cortou relações com antigos amigos e colegas, bloqueando alguns deles em aplicativos de mensagens. Integrantes do grupo de Baleia pediram mudanças na cabine da eleição desta segunda. Eles queriam tirar a cortina que há em volta das urnas com o objetivo de impedir que deputados filmassem seus votos. A Câmara não fiscaliza a entrada dos parlamentares e não controla a utilização de celulares.

PAINEL – *”MDB identifica um dos autores de vandalismo contra faixas de Baleia Rossi; bolsonarista tem histórico de ameaças e agressões”*

PAINEL = *”Ministério Público Federal tenta reverter decisão que anulou Coaf de Frederick Wassef”*: O Ministério Público Federal entrou com um pedido para o TRF-1 reanalisar a decisão que tomou com relação ao relatório de inteligência financeira do Coaf de Frederick Wassef, advogado ligado à família de Jair Bolsonaro. Como revelou o Painel neste domingo (31), a terceira turma do tribunal considerou ilegal a produção do documento por entender que se tratou do que os juízes federais chamaram de "geração espontânea". A turma decidiu por unanimidade. O relator do caso é o juiz federal Ney Bello. A expectativa é a de que a decisão seja mantida. O próximo passo é o Superior Tribunal de Justiça. A investigação sobre Wassef na Polícia Federal foi encerrada por determinação de Bello.

PAINEL - *”Juiz impõe multa de R$ 200 mil por dia a policiais federais que atuaram em ação contra madeira ilegal”*: Em decisão a favor de uma empresa investigada por explorar madeira ilegalmente, um juiz federal de Belém (PA) fixou multa diária de R$ 200 mil para cada policial federal envolvido na ação. Ele mandou liberar uma balsa de madeira apreendida. O juiz Antonio Carlos Campelo aparecia de férias quando assinou as decisões. Ele derrubou entendimento de seu substituto, que havia mandado o caso de volta para o Amazonas, onde seria o juízo competente. A assessoria do tribunal informou que o juiz cancelou as férias antes do planejado e o site estava desatualizado. O TRF-1 suspendeu, por ora, a decisão de Campelo por entender que a competência do caso é no Amazonas, não no Pará. Na Polícia Federal, a preocupação é de que outras operações similares sejam anuladas com base nessa, como a que fez a maior apreensão de madeira da história.

PAINEL - *”Conselho de ética de grupo político em que capitã da cloroquina atua vai analisar seu trabalho no Ministério da Saúde”*: O conselho de ética da RAPS (Rede de Ação Política pela Sustentabilidade), a pedido da direção do grupo, vai avaliar a atuação pública de Mayra Pinheiro, secretária do Ministério da Saúde responsável pela insistência do governo em recomendar remédios sem eficácia comprovada contra a Covid-19. Mayra se tornou membro da rede de lideranças após fazer curso oferecido em 2018 pela RAPS em parceria com a Fundação Lemann. A atuação pró-cloroquina de Mayra tem gerado incômodo em outras lideranças e as punições do conselho vão desde uma advertência até o desligamento da rede. A RAPS afirma que “repudia qualquer medida, declaração ou decisão política que agrave a vulnerabilidade da população brasileira frente à pandemia do novo coronavírus.”

*”Com Bolsonaro, centrão tenta voltar ao comando da Câmara seis anos após vitória de Cunha”*
+++ Reportagem geral que não traz nenhuma informação nova além do que vem sendo noticiado há semanas pelos jornais

*”Na véspera da eleição, DEM abandona Maia e decide ficar isento na disputa da Câmara”* - Na véspera da eleição para a presidência da Câmara, o DEM, partido do atual presidente, Rodrigo Maia (RJ), decidiu ficar isento na disputa, em decisão que evidencia a perda de capital político do deputado que comandou a Casa por quatro anos e meio e que impõe mais um revés para o candidato Baleia Rossi (MDB-SP). O DEM tomou a decisão de neutralidade por unanimidade após reunião realizada na noite deste domingo (31), na sede do partido, em Brasília (DF). A proposta de ficar isento na disputa partiu do presidente do partido, ACM Neto (BA), e teve a anuência de nomes importantes na legenda, como o governador de Goiás, Ronaldo Caiado, o ex-governador de Pernambuco Mendonça Filho e o ex-senador José Agripino. Em discurso, ACM Neto defendeu a decisão, afirmando que o partido está dividido e que é melhor manter a unidade do que ter um cargo na mesa diretora. Maia não participou da reunião. "A Executiva Nacional optou por não aderir nem a um bloco nem a outro, a escolha foi pela neutralidade", disse Mendonça Filho.
Um dos aliados do deputado Arthur Lira (PP-AL), líder do centrão e candidato do presidente Jair Bolsonaro na disputa, o deputado Luis Miranda (DEM-DF) confirmou que o partido não faz mais parte da base de apoio de Baleia Rossi. “São 31 votos a menos no bloco dele, e um alívio para os 21 deputados e deputadas que já tinham declarado voto para o Arthur Lira e não gostariam de ter a sua imagem vinculada a um bloco que foi literalmente construído com pautas da esquerda, sem sermos escutados, ouvidos e respeitados”, afirmou. “Nos sentimos vitoriosos de seremos desvinculados do bloco do Baleia Rossi, e agora, em respeito ao presidente ACM Neto, o pedido de união do partido é de que cada um vote com a sua consciência e o partido não irá compor nenhum bloco.” O DEM não havia formalizado a adesão a nenhum dos blocos, mas era contabilizado por Baleia Rossi e por Maia como parte da base do presidente do MDB. Com o DEM, o bloco de Baleia tinha 238 parlamentares, enquanto o de Lira tinha 272. Sem o partido, o número de parlamentares no lado do aliado de Maia cai para 207. O tamanho do bloco partidário é relevante porque define a ordem de prioridade de cada partido na escolha de cargos na Mesa Diretora e nas comissões.
O resultado, embora desabonador para Maia, não chega a representar uma grande mudança no cenário eleitoral. Isso porque as divergências no DEM já haviam ficado evidentes nas últimas semanas, com declarações de ex-aliados de Maia, como Elmar Nascimento (BA), de que votariam em Lira. Aliado de Lira, o deputado Marcelo Ramos (PL-AM) afirmou que a atitude do partido foi madura. “Rodrigo criou uma situação artificial porque nunca teve os votos do DEM, apesar de que já tínhamos os votos, também não podemos agir para expor os partidos e suas lideranças porque, após o dia 2, precisamos recompor o centro para enfrentar a pandemia e tocar as reformas." Os grupos têm até o meio-dia desta segunda (1º) para serem definidos e podem mudar até lá. O voto para a presidência da Câmara é secreto. Logo, os blocos não refletem o placar da eleição. No dia 21, o bloco de Baleia já tinha sofrido um revés, com o desembarque do PSL. O partido, que tem a segunda maior bancada da Câmara, atrás apenas do PT, havia anunciado apoio ao presidente do MDB, principalmente pela aliança entre o presidente da legenda, Luciano Bivar (PE), e Maia. Para ser eleito presidente da Câmara em primeiro turno, o candidato precisa de 257 votos —são 513 deputados no total.
+++ O mais interessante é a posição de um parlamentar do DEM que acusa Rodrigo Maia de ter construído uma “pauta de esquerda”. No mais, Jair Bolsonaro e outras forças do Centrão, incluindo o DEM, querem esvaziar Rodrigo Maia.

*”Eleição no Congresso expõe apostas contraditórias dos partidos na disputa”*
ANÁLISE - *”Presidentes da Câmara e do Senado podem definir vida ou morte de governos”*
*”De Ulysses a Alcolumbre, veja como chefes do Congresso se relacionaram com presidentes”*

*”De pacificador a 'office boy de luxo' do Planalto, Alcolumbre divide opiniões ao deixar comando do Senado”* - O presidente do Senado, Davi Alcolumbre (DEM-AP), encerra nesta semana seu período de comando da Casa, quando passou de um parlamentar relativamente desconhecido a um político poderoso, que se mostrou bom articulador e ganhou respeito de governo e oposição. Por outro lado, é criticado por não encarnar a "renovação" que sua candidatura instigou, há dois anos. E também teve uma posição em relação ao Palácio do Planalto que dividiu opiniões: para alguns se mostrou um "pacificador", enquanto senadores mais críticos preferem expressões como "office boy de luxo" de Jair Bolsonaro (sem partido). Alcolumbre foi eleito em fevereiro de 2019, revertendo o favoritismo de Renan Calheiros (MDB-AL), que queria se tornar presidente pela quinta vez. A eleição para a presidência do Senado tornou-se então um embate entre a nova e a velha política. Os dois anos da presidência de Alcolumbre coincidem com o início da gestão Bolsonaro, período de turbulência institucional e da pandemia do novo coronavírus.
Enquanto o presidente da Câmara dos Deputados, Rodrigo Maia (DEM-RJ), se tornou um crítico frequente do presidente, Alcolumbre foi mais reservado. As poucas manifestações que bateram de frente com o Planalto se deram no início da pandemia, quando considerou "grave" o pronunciamento de Bolsonaro em que atacou as medidas de isolamento social. Também divulgou nota afirmando ser "inconsequente" promover aglomerações, após a participação do presidente em manifestação. "Se ele fosse ficar com um balde de gasolina, iria acabar incendiando tudo. Então ele foi um pacificador", afirmou Otto Alencar (PSD-BA), líder da bancada no Senado. Crítico mais feroz do presidente da Casa, o senador Jorge Kajuru (Cidadania-GO), por sua vez, disse que a posição de Alcolumbre frente ao Palácio do Planalto foi de submissão, comprometendo a independência do Senado. "Ele [Alcolumbre] foi aceitando tudo. A relação dele com o presidente era só falar 'sim', era um office boy de luxo", afirmou Kajuru. Alcolumbre defende sua atuação, afirmando que respeita as críticas, embora ressalte que trabalhou com "altivez, respeito, independência e equilíbrio entre os Poderes da República", segundo nota de sua assessoria de imprensa.
Se a relação com o Planalto divide opiniões, Alcolumbre conseguiu construir reputação dentro do Senado, construindo alianças com situação e oposição. Prova disso é a articulação para a candidatura de seu apadrinhado, Rodrigo Pacheco (DEM-MG), que reuniu no mesmo bloco dez bancadas, colocando no mesmo lado o presidente Bolsonaro e o PT. Senadores próximos ressaltam sua habilidade política para "construir pontes". "O presidente atendeu pautas de interesse do governo e da oposição. Para nós, foi positiva a possibilidade de ter pautas de interesse dos trabalhadores", afirmou o líder do PT, senador Rogério Carvalho (PT-SE), apontado como próximo a Alcolumbre. Carvalho citou como exemplos as medidas provisórias que tramitaram durante a pandemia, como a que resultou na redução da jornada de trabalho e cancelamento de contratos, para evitar demissões. Outros senadores, por outro lado, afirmam que a popularidade de Alcoumbre se deve ao aumento de privilégios. "Ele conseguiu aumentar ainda mais os privilégios dessa capitania, aumentou os gastos, as contratações", afirmou Kajuru.
Lasier Martins (Podemos-RS) também citou a distribuição de emendas de relator, usada para ampliar o seu leque de alianças e rachar algumas bancadas oposicionistas. O parlamentar destacou emendas obtidas para estados e municípios, que não foram divididas com todos os senadores. "Houve uma seleção discriminatória. E dessa forma ele estava pavimentando o caminho para a sua recondução, se não fosse o STF [Supremo Tribunal Federal]", afirmou. O senador se referiu à decisão do Supremo, em dezembro, que barrou a reeleição dos presidentes das Casas Legislativas em uma mesma legislatura. Alcolumbre considerava como certa a possibilidade de disputar a reeleição. Lasier Martins é integrante do grupo Muda Senado, que se mostrou fundamental para a eleição do senador amapaense, mas depois afirmou ter sido traído. O grupo defende pautas anticorrupção, como a condenação em segunda instância, a instauração de CPI (Comissão Parlamentar de Inquérito) e a abertura de processo de impeachment contra ministros do STF. O grupo afirmou que perdeu espaço no diálogo com a presidência do Senado, vendo sua pauta ser preterida. Alcolumbre também não abriu nenhuma CPI e, no último mês de sua gestão, arquivou 38 petições para impeachment de autoridades do Judiciário, a maior parte delas de ministros do STF. Em outra crítica, o presidente é acusado de blindar Flávio Bolsonaro (Republicanos-RJ), no caso das "rachadinhas". O Conselho de Ética não abriu processo contra o filho 01 de Bolsonaro, assim como não o fez contra Chico Rodrigues (DEM-RR), então vice-líder do governo no Senado, flagrado com dinheiro em sua cueca.
Alcolumbre, por outro lado, é exaltado por dar procedimento aos trabalhos legislativos durante a pandemia do novo coronavírus, adotando o sistema remoto de sessões. Os aliados lembram a aprovação rápida de medidas de enfrentamento à pandemia ou para estimular a economia, como o orçamento de guerra, auxílio emergencial aos trabalhadores informais e a liberação de recursos para vacinas contra a Covid-19. Por outro lado, não houve o funcionamento das comissões e portanto Alcolumbre ganhou "superpoderes", levando matérias direto para a votação em plenário, escolhendo os relatores de sua preferência. De saída da presidência do Senado, Alcolumbre vinha afirmando que queria ser vice-presidente da Casa, mas as articulações para atrair o MDB envolvem esse posto. Se continuar na Casa, deve ficar então com a CCJ (Comissão de Constituição e Justiça). Outra possibilidade é se tornar ministro do governo, no Desenvolvimento Regional ou na Secretaria de Governo.

*”Em ano de pandemia, Senado apresenta menor índice de aprovação de projetos em duas décadas”*:

CELSO ROCHA DE BARROS - *”O Congresso se vende nesta segunda-feira?”*: Hoje acontece a eleição para presidente da Câmara dos Deputados. De um lado, concorre Baleia Rossi (MDB-SP), representando uma frente ampla com forças de esquerda e de direita. Do outro lado, Arthur Lira (PP-AL), representando o direito de Jair Bolsonaro pisar no tubo de oxigênio de 220 mil brasileiros que morreram asfixiados durante a pandemia. Lira é favorito. Se a vitória de Lira se confirmar, Bolsonaro terá três vitórias. A vitória menor será a eleição de Arthur Lira. Com um aliado seu na presidência da Câmara, Bolsonaro terá mais chances de colocar em votação suas pautas autoritárias. Se entregar cargos conversíveis em dinheiro for suficiente para eleger Lira, talvez também seja suficiente para aprová-las. Com todas as suas imperfeições, Rodrigo Maia foi um limite para o autoritarismo de Bolsonaro. Lira parece ter menos disposição para sê-lo.
Até outro dia, diziam que o centrão de Lira havia moderado Bolsonaro. Da próxima vez, sugiro que a democracia brasileira não se defenda com um exército mercenário. O leilão do mercenário está sempre em aberto. Mas, até por isso, mesmo, a vitória de Lira pode não ser uma vitória tão grande para Bolsonaro. Se a maré virar contra o presidente, como parece estar virando, essa turma toda vai embora em cinco minutos, carregando até o material de escritório da Esplanada. E a munição usada para eleger Lira já está gasta; não haverá mais tantos cargos nem tantas verbas para distribuir na próxima disputa. Mesmo assim, faz diferença. Em uma disputa apertada pelo impeachment, um presidente da Câmara que vacile por, digamos, dois meses a mais para ouvir a insatisfação popular pode ser decisivo. A mobilização pode arrefecer nesse período, a próxima eleição pode começar a ficar perto demais. É bom lembrar que o presidente mais impopular de todos os tempos, Michel Temer, escapou do impeachment de manobra em manobra. Todas foram do tipo que Bolsonaro está fazendo agora. Mas a vitória de Lira daria a Bolsonaro outras duas vitórias, talvez mais importantes.
A primeira é um novo salto na desmoralização do Congresso. Se, depois dos 220 mil mortos e da tentativa de autogolpe de 2020, o Congresso se vender para quem até outro dia queria fechá-lo, haverá menos gente para defendê-lo na próxima ameaça autoritária. Tem gente no centrão que diz que parou o golpismo de Bolsonaro em 2020 sozinho, mas é mentira: havia uma resistência ao autoritarismo na opinião pública e o centrão entrou como mediador. Se Lira vencer e fizer o que o bolsonarismo quiser, o centrão não será mais mediador de nada. Terá lado na disputa e mãos manchadas de sangue. Além disso, se Lira vencer, a frente ampla terá fracassado de novo, depois da vez em que ela mais importava —o segundo turno de 2018— e daquela movimentação tímida de 2020. Nesse caso, da próxima vez que a direita disser “nós votamos Bolsonaro porque do outro lado era o PT” bastará responder “meu amigo, vocês votaram no Bolsonaro quando do outro lado era o Baleia Rossi”. Enfim, é hora do Congresso decidir o quanto os democratas brasileiros podem contar com ele. Gostaria de ter argumentos que convencessem os eleitores de Arthur Lira a mudar de ideia. Mas acho que acabaria gastando-os para comprar o Messi para o Flamengo.

*”Com fim do recesso, Assembleia de SP inicia processo que pode cassar deputado que apalpou colega”*

*”Carreatas organizadas pela esquerda voltam a pedir impeachment de Bolsonaro”* - Carreatas pelo impeachment do presidente Jair Bolsonaro (sem partido), organizadas por movimentos de esquerda, voltaram a tomar as ruas de capitais neste domingo (31). O protesto foi convocado pelas frentes Brasil Popular e Povo Sem Medo, que já haviam promovido uma rodada de carreatas no último dia 23, quando, segundo os organizadores, cerca de cem cidades registraram manifestações. Os protestos deste domingo também tiveram o apoio de partidos da oposição, como PT e PSOL. Em São Paulo, a carreata pelo "Fora, Bolsonaro" se concentrou às 9h, na Praça Charles Miller​, no Pacaembu, e partiu às 10h30 em direção à Assembleia Legislativa. Com buzinaço e bandeiras vermelhas, os carros subiram a av. Angélica. Segundo os organizadores, cerca de 500 carros e cem bicicletas e motos participaram na capital paulista —protesto menor do que o registrado na semana passada. A carreata foi pensada para ser uma prévia da mobilização nacional marcada para 21 de fevereiro a favor do impeachment. Os carros foram recebidos com panelaços de apoio por onde passaram.
O protesto também defendeu a vacinação gratuita para todos e o retorno do auxílio emergencial. A condução da pandemia pelo governo Bolsonaro, que minimiza a doença, é apontada como a principal razão para o impeachment. Até o sábado (30), os organizadores haviam contabilizado mais de 56 cidades com carreatas confirmadas. Em Brasília, os carros percorreram a Esplanada dos Ministérios e houve discursos em frente ao Congresso Nacional. Ali também foi feito um protesto teatral contra a atuação de Bolsonaro na pandemia e a falta de oxigênio. "A gente não vê outra saída para a solução da crise que não seja o impeachment de Bolsonaro", diz o deputado distrital Fábio Felix (PSOL), que participou do ato.​ Também houve protesto pela manhã na zona sul do Rio de Janeiro. Com bandeiras e faixas, os manifestantes usavam bicicletas, motos e carros durante o ato.
A carreata começou por volta das 11h, na Glória, passou pela orla de Copacabana e foi até o Aterro do Flamengo. Os veículos seguiram pelas ruas até pouco antes das 14h e fizeram vários buzinaços. A mobilização é do Sindicato dos Petroleiros do Rio de Janeiro (Sindipetro-RJ) e tem caráter nacional: “Já é hora de dar um basta na política genocida do governo Bolsonaro e de seus lacaios neoliberais que abandonam a população à míngua em plena pandemia da COVID-19, fazendo ‘corpo mole’ para compra de insumos básicos hospitalares como oxigênio e vacinas", disse um trecho da convocação do movimento nas redes sociais. Segundo o sindicato, cerca de 2.000 carros participaram da manifestação na capital. Outras carretas da categoria petroleira também ocorreram, simultaneamente, em cidades do interior, Baixada Fluminense e região metropolitana do Rio neste domingo.
+++ A reportagem resume muito mal três carreatas, as de São Paulo, Rio de Janeiro e Brasília. O texto menciona que estavam programadas manifestações em 56 cidades pelo Brasil, mas o jornal não traz nenhuma notícia sobre elas. A cobertura é rasa e localiza a insatisfação com o governo e os atos em grupos de esquerda. Voltamos aquela questão de 2014,2015 e 2016, por que grupos de esquerda não são tratados, simplesmente, como “pessoas” ou “cidadãos”, classificação que era dada aos grupos que apoiavam o impeachment em 2016?

OPINIÃO - *”Brasil está desgovernado, no regime do salve-se quem puder”*

*”Milhares de manifestantes contra Putin enfrentam polícia pela 2ª semana na Rússia”*
*”Após prisão de líder civil, militares assumem o poder em Mianmar”*
TODA MÍDIA - *”Sem vacina, europeus também se voltam para Rússia e China”*
MATHIAS ALENCASTRO - *”O que move Macron e as lideranças europeias é a conscientização da opinião pública”*
*”Com números de coronavírus em queda, EUA vislumbram ponto de virada na crise sanitária”*
*”Com crescente autoridade, mulheres ganham espaço pregando o islã na internet”*

ENTREVISTA DA 2ª - *”Brasil fará péssimo cálculo econômico se não cooperar na área ambiental, diz aliado de Macron”*

*”Procuradores, juízes e servidores recebem extras na crise da Covid”* - Procuradores, magistrados e servidores receberam pagamentos extras atrasados em meio à crise da Covid-19. Entidades chegaram a pedir o uso de economias feitas na pandemia para quitar dívidas. Parte do Orçamento de 2020 foi poupada com a elite do funcionalismo em home office no ano passado. Órgãos da União gastaram menos com diárias, combustíveis, passagens, estagiários, entre outras despesas. Nesse cenário, as categorias cobraram passivos administrativos, que, na prática, são dívidas trabalhistas. Entidades de classe defendem a legalidade da quitação. Os pagamentos são alvo de crítica de economistas. Servidores pediram, por exemplo, vantagens por ocupar cargo comissionado, licença-prêmio e adicional por tempo de serviço. Juízes e procuradores, por sua vez, reivindicaram pagamento e mudança do índice de correção monetária da chamada PAE (parcela autônoma de equivalência) por outro mais vantajoso. O passivo surgiu nos anos 1990, quando vencimentos do Judiciário foram equiparados aos do Legislativo. Magistrados pleitearam ainda recebimento de gratificação por exercício cumulativo de jurisdição. Isso ocorre, por exemplo, ao se atuar em duas varas.
Procurados pela Folha desde terça-feira (26), o CJF (Conselho da Justiça Federal) e o MPU (Ministério Público da União) não responderam. Os órgãos não informaram a economia feita nem o montante pago em passivos administrativos. De acordo com o Siga Brasil —ferramenta do Senado de acompanhamento do Orçamento—, o MPU, comandado pelo procurador-geral Augusto Aras, pagou ao menos R$ 15 milhões em correção monetária de PAE em dezembro. A Justiça Federal quitou ao menos outros R$ 39,2 milhões de passivos, apontou o painel. Apesar de o CJF não fornecer dados, o ministro Humberto Martins, presidente do órgão e do STJ (Superior Tribunal de Justiça), anunciou os pagamentos. "Dentro do Orçamento estamos quitando toda a dívida da Justiça Federal com os servidores e com os juízes até o dia 31 de dezembro de 2020", disse em 26 de novembro, durante o Encontro Nacional do Poder Judiciário. O CSJT (Conselho Superior da Justiça do Trabalho) pagou apenas uma parte dos passivos —R$ 110 milhões. À Folha o órgão afirmou que a economia feita no ano passado foi de R$ 538,5 milhões. Parte dos recursos previstos não foi usada. A medida contrariou juízes, que reclamaram ao CNJ (Conselho Nacional de Justiça). A pressão por pagamentos, no entanto, partiu de várias frentes. Movimentações se intensificaram em dezembro, quando gastos precisam ser feitos antes de o ano virar. No dia 14 do mês passado, o Sindjus-DF (sindicato dos servidores do Judiciário e MP da União) enviou ofício a 23 órgãos para pedir pagamento de passivos. Receberam a demanda todos os tribunais superiores e conselhos em Brasília, tribunais regionais e a PGR (Procuradoria-Geral da República). Segundo o coordenador-geral José Rodrigues da Costa Neto, houve "redução de gastos e consequente economia expressiva aos cofres públicos", enquanto "o poder aquisitivo dos servidores do Judiciário e do MPU foi demasiadamente achatado".
De acordo com o relatório Justiça em Números 2020, servidores da Justiça Federal custam à União, em média, R$ 22,7 mil por mês. Já funcionários da Justiça do Trabalho demandam R$ 23 mil. O sindicalista escreveu que "mostra-se indiscutível a necessidade deste órgão de utilizar de toda a economia realizada durante a pandemia para quitar administrativamente valores devidos aos seus servidores". Procurada, a entidade não respondeu. Também em dezembro, a auditoria do MPU se manifestou pela troca da TRD (Taxa Referencial Diária) pelo IPCA-E (Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo-Especial) na correção de PAEs. A inflação tem ganho maior. A TRD é de 0,1159% ao mês. O IPCA-E fechou 2020 em 4,23% ao ano. No dia 19, Aras acatou o pedido feito por procuradores e trocou o índice. "Determino o recálculo dos valores relativos à PAE pagos em dezembro de 2016 e dezembro de 2017, por serem incontroversos, com respectivo pagamento, de acordo com a disponibilidade orçamentária e financeira", escreveu em decisão administrativa. Os pagamentos foram realizados. A assessoria de imprensa da ANPR (associação dos procuradores da República), uma das entidades que reivindicaram o ajuste, afirmou que o pedido é de 2018. Na Justiça do Trabalho, os passivos deram início à disputa no CNJ.
No dia 18 de dezembro, a presidente do CSJT e do TST (Tribunal Superior do Trabalho), ministra Maria Cristina Peduzzi, se recusou a pagá-los. A Anamatra (Associação Nacional do Magistrados do Trabalho) tentou reverter a decisão, o que foi negado no dia 28. "A título de provocação à reflexão, caso não fosse pago nenhum valor de passivo administrativo, quantos auxílios emergenciais que se encontram em vias de extinção, mesmo com a permanência da pandemia, poderiam ser pagos?", questionou Peduzzi. O auxílio foi criado para ajudar parte da população mais afetada pela crise da Covid-19. Inicialmente, a parcela era de R$ 600 por mês, mas em dezembro —último mês do benefício— foi de R$ 300. "Destaco que os destinatários dos recursos a serem utilizados com o pagamento de passivos são servidores públicos em sentido amplo, os quais ao longo do ano de 2020 não tiveram qualquer comprometimento ou redução em seus vencimentos e proventos", acrescentou a ministra. No ano passado, 9,8 milhões de trabalhadores com carteira assinada tiveram redução de salário e jornada ou suspensão de contrato. O desemprego está em 14,1%. Juízes titulares recebem R$ 33,7 mil. No despacho, Peduzzi escreveu que é necessário o aprimoramento da gestão dos passivos anteriores a 2020. Ela lembrou ainda que a via escolhida para o recebimento foi a administrativa, e não a judicial.
Entidades reagiram em série. A Amatra-15 (associação de magistrados do trabalho de Campinas e interior de São Paulo) foi ao CNJ, seguida por AMB (Associação dos Magistrados Brasileiros)​ e mais quatro entidades. No dia 30 de dezembro, o conselheiro Mário Guerreiro determinou, por meio de decisão liminar (provisória), o bloqueio de recursos. Para ele, há "aparente conveniência do seu pagamento imediato". O TRT-8 (Tribunal Regional do Trabalho do Pará) se pronunciou. No dia 5, foi pedida a correção de auxílio-alimentação e PAEs pela inflação, em semelhança à reivindicação atendida por Aras no MPU. A presidente da AMB, Renata Gil, e o vice-presidente de Prerrogativas, Ney Alcântara, defenderam a legalidade dos pagamentos ao CNJ na sequência. Para eles, "além de sugerir que magistrados e servidores são pessoas privilegiadas no tecido social, fazendo comparação igual entre desiguais, com asserções em certo aspecto mais políticas do que técnicas, talvez olvidou [a ministra] que a jurisdição social exercida pela Justiça do Trabalho emprega esforços diuturnos para a mitigação das injustiças sociais". Procuradas pela Folha, AMB e Amatra-15 não quiseram se pronunciar. O caso segue em análise.
A economista e advogada Elena Landau disse considerar a via judicial a mais adequada para esse tipo demanda. "Direito é direito. Por isso sou a favor do Judiciário, e não de decisão administrativa, ainda que haja uma tendência corporativista."​ Landau, porém, rechaçou a proposta de se usar economias feitas na pandemia. "Esse dinheiro tinha de ser moralmente intocável." "Depois há reações contra o Judiciário e não entendem o porquê. Pedem para furar fila da vacina, não querem entrar na reforma administrativa, querem pegar dinheiro que foi poupado no home office", disse. Para Marcos Mendes, pesquisador associado do Insper e colunista da Folha, os servidores deveriam contribuir mais. "Colocando no contexto da solidariedade social, vemos que [o uso de sobras] é uma ação na direção contrária." Ele lembrou que hoje há pressão pela volta do auxílio emergencial, o que pode aumentar ainda mais a dívida pública. Mendes defendeu a redução de remuneração de servidores para se pagar parte da conta. "O principal grupo que não foi afetado é o servidor público, que não perdeu emprego, tem estabilidade, não teve redução de salário. Querer ganhos agora é realmente uma atitude no mínimo provocativa."

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*”Pandemia desafia professores e traz alívio a quadro geral de depressão e Burnout”* - Seis em cada dez professores se sentiram sem condições de ministrar aulas remotas em casa e com dificuldades de adaptação, além de enfrentar o drama de infecção e mortes por coronavírus que todos os brasileiros vivem desde o ano passado. Mas a interrupção de aulas presenciais reforçou o preocupante diagnóstico de saúde mental enfrentado pelos docentes na forma de um certo alívio para eles: o período abrandou os altos índices de depressão e síndrome de burnout identificados entre os professores brasileiros. É como se o trabalho nas escolas brasileiras fosse mais danoso para a saúde mental desses profissionais do que a instabilidade provocada por uma pandemia. Esse cenário está em uma pesquisa sobre saúde mental e bem estar dos professores, coordenada pelo pesquisador Flavio Comim, docente na Universidade Ramon Llull (Barcelona) e de Cambridge (Reino Unido). Encomendado pelo Instituto Tim, o estudo conseguiu mensurar dois momentos: antes da pandemia, no início de 2020, e ao fim do ano passado, com as escolas fechadas por boa parte do ano letivo.
Os dados, coletados com 769 professores de escolas públicas e privadas de 22 estados, apresentam um nível de confiança de 95%. A margem de erro fica entre 3% e 4% na amostra antes da pandemia e vai de 5% a 6% na coleta do fim do ano (com 283 pessoas, mas o mesmo nível de confiança). A pesquisa lançou mão de cinco instrumentos de análise validados internacionalmente. O objetivo foi entender e relacionar níveis de depressão, burnout, bem-estar, satisfação no trabalho e autoeficácia. O estudo mostra que a depressão atinge 16,6% das professoras e professores (antes da pandemia). Dados da Organização Mundial de Saúde indicam que 5,8% dos brasileiros sofrem com a doença. Em uma das partes do questionário sobre depressão, 14% dos professores afirmam ter pensado que era melhor estar morto em vários dias, metade do tempo ou em quase todos os dias. Número alto e preocupante, segundo Comim. "Muito se pesquisa sobre recursos para educação, incentivos, pedagogia, mas para o essencial da educação se olha pouco. Cuidar dos professores é cuidar da educação", disse.
O contexto enfrentado por eles inclui violência, dificuldades financeiras e pouco apoio profissional: 72% dizem ter sido agredidos verbal ou fisicamente por alunos, 24% exercem outra atividade para complementar renda e um terço se sente desamparado pela coordenação. Os professores lecionam, em média, para turmas de 28,5 alunos, segundo a pesquisa. É unânime o entendimento, em pesquisas nacionais e internacionais, do papel central do professor para o aprendizado dos alunos. No Brasil, há cenário de desvalorização. Especialistas indicam que, sem elevar salários e melhorar condições de trabalho, o país terá cada vez mais dificuldades de atrair bons estudantes da educação básica para a carreira. No questionário da avaliação federal da educação básica, de 2017, por exemplo, um terço dos docentes de escolas públicas de ensino fundamental afirmou ter a percepção de que a sobrecarga de trabalho e a insatisfação e desestímulo com a carreira afetam o aprendizado dos estudantes. Doenças mentais são os principais motivo de licença de professores. A literatura científica descreve a recorrência na categoria da chamada síndrome de burnout (ou de esgotamento profissional), um estresse persistente, resultante de pressão emocional associada ao intenso envolvimento profissional com pessoas por longos períodos. Cerca de 95% dos professores apresentam altos níveis de esgotamento emocional, segundo os dados coletados sobre burnout por Comim e equipe. Mais da metade se sentia esgotada ao final do dia "algumas vezes por semana" ou durante todo o mês.
Com a chegada da pandemia da Covid-19, a grande maioria (91%) deu aulas online. Mas 58% disseram não ter condições para lecionar sem barulhos ou interrupções. A doença infectou 17% dos professores e 67% perderam um conhecido para a doença. A Covid-19 atingiu com mais força professoras e professores negros, segundo a pesquisa. Também foi de 67% o percentual de professores com queda na própria renda ou na de alguém com quem vivem. Apesar de tudo isso, quando os pesquisadores voltaram a falar com os professores, no fim de 2020, identificaram uma melhora na maior parte dos indicadores que compõem os instrumentos de depressão, burnout e bem-estar —o que deixa mais claro o efeito das condições de trabalho das escolas na saúde mental dos docentes.
O cenário de esgotamento ao final do dia de trabalho recuou 14,7%. Com relação a pensamentos de morte, a melhora foi de 14,9%. Índices de desânimo e falta de esperança diminuíram 20%. "Todos os anos vemos dados de agressões verbais, físicas a visuais [com escolas precárias] contra professores. Esses níveis de violência criam um ambiente de tensão crescente", diz Heleno Araújo, presidente da CNTE (Confederação Nacional dos Trabalhadores em Educação). Araújo refuta a ideia de que o professor não queira voltar à escola —os sindicatos da categoria tem sido contra o retorno diante dos atuais índices de transmissão. "Os prejuízos são enormes, é uma situação difícil, mas a maioria das escolas públicas não tem condições de dar maior segurança sanitária", disse. O ex-secretário municipal de Educação de São Paulo Alexandre Schneider afirmou que a escola sofre dois dramas. "De um lado, está sozinha no território, não integrada com os outros serviços públicos. Por outro, absorve todos os problemas da comunidade e para os quais os professores não são formados", disse ele, que é colunista da Folha. É necessário, afirmou, integrar políticas direcionadas a famílias, estudantes e profissionais da educação, além de articular a educação com as áreas de saúde, assistência, renda, esporte e cultura. Para Comim, o país precisa pensar qual "novo normal" quer estabelecer para os professores. "Temos de olhar para as condições de trabalho, as pessoas estão esgotadas."

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*”Escolas particulares privilegiam aulas presenciais para crianças pequenas”*

*”Brasil fechou central que distribuía vacinas e privatizou serviço em 2018”* - A complexa tarefa de distribuir vacinas para um país grande e diverso como o Brasil, que hoje é vista como peça fundamental no combate ao coronavírus, passou por uma turbulência silenciosa três anos atrás. Era 2018 quando Ricardo Barros, ministro da Saúde do governo de Michel Temer (MDB), decidiu fechar a central nacional responsável por essa logística há mais de duas décadas no Rio de Janeiro e contratar uma empresa privada em São Paulo para tomar conta do serviço. Até hoje é essa companhia, a VTCLog, do grupo Voetur, que recebe, armazena e controla a distribuição de todas as vacinas, soros, medicamentos, praguicidas, kits para diagnóstico laboratorial e outros insumos do Ministério da Saúde, incluindo os da Covid-19. Ela ocupou em 2019 o lugar da Cenadi (Central Nacional de Armazenagem e Distribuição de Imunobiológicos), que era diretamente subordinada ao governo. Além de controlar o estoque, o órgão também monitorava a entrada de imunobiológicos adquiridos pelo país no exterior. Desde então, alguns funcionários encarregados de receber as remessas nos estados reclamam de problemas na logística, como itens errados, atrasos nas entregas e desorganização na comunicação. A Folha procurou a empresa para comentar as críticas, mas não obteve resposta. Na semana passada, 19 dos 27 estados receberam os primeiros lotes da Coronavac com sucessivas alterações dos horários dos voos após o atual ministro da Saúde, Eduardo Pazuello, adiantar às pressas o cronograma da vacinação. Até agora não ficou claro o que causou a confusão. “Depois que trocou, o que sentimos na ponta é que eles são novos e inexperientes, como se estivessem perdidos. E não é uma coisa pontual daqui, é todo mundo reclamando”, diz a servidora Carla —seu nome foi trocado e o local não foi revelado para evitar retaliações, já que as equipes são pequenas.
Ela relata que as críticas ao serviço são constantes em um grupo de Whatsapp que reúne representantes dos estados e do PNI (Programa Nacional de Imunizações), e que a terceirizada tem feito visitas desde o fim de 2020 para ouvir as queixas. “Em abril vai juntar as campanhas de influenza e Covid, com certeza vai dar problema”, afirma. Carla cita como exemplo casos em que a empresa sinaliza que a remessa será entregue de avião, mas chega de caminhão, ou em que dois caminhões são enviados em horários diferentes (o que atrapalha na checagem). Outras vezes, a quantidade de itens vem errada, e o “checklist” não vem ou não coincide com o que está dentro das caixas. Um dos estados consultados, a Bahia disse por meio de sua assessoria de imprensa que as críticas de técnicos ocorreram pontualmente no momento da transição, quando se chegou a receber lotes sem o gelox necessário para o resfriamento dos imunobiológicos. A explicação do ministério para a privatização na época foi de modernizar a infraestrutura, melhorar a eficiência do trabalho e racionalizar os custos. “A substituição mostrou-se o caminho mais eficiente para gerir os insumos que abastecem a rede pública de saúde, o que significa mais qualidade e mais vacinas”, diz hoje a pasta.
Se naquele momento a decisão não fez barulho aqui fora, porém, fez lá dentro. A licitação pegou de surpresa os então técnicos da Cenadi, que alegavam ter toda a estrutura e o “know how” de como fazer o serviço há anos. Foram cerca de 200 colaboradores terceirizados demitidos no total. “Para nós foi um balde de gelo seco. Tínhamos a estratégia toda pronta, tecnologia de ponta e criamos um transporte com perda de vacinas quase zero. Botaram para fora técnicos altamente qualificados, todos com o curso de especialização em rede de frios que criamos com a Fiocruz”, afirma João Leonel Estery, coordenador da central de 1996 a 2016. Outros ex-funcionários da Cenadi e do ministério também dizem que não viam motivo para a transferência. “Fomos totalmente contra a decisão. Acredito que a logística de imunobiológicos teve uma perda substancial, a estrutura da Cenadi funcionava muito bem”, declara Ricardo Gadelha, que foi gerente da gestão de insumos do PNI até 2018. Entre os argumentos, os técnicos citam que a central já tinha dependências próprias sem custo, dentro do departamento de suprimento do Exército, na zona norte do Rio, e que o lugar ficava próximo à Fiocruz, uma das maiores fornecedoras de insumos do país.
Também era perto do INCQS (Instituto Nacional de Controle de Qualidade em Saúde), por onde as vacinas costumam passar antes da distribuição, e tinha fácil acesso ao Instituto Vital Brazil, Fundação Ataulpho de Paiva e Instituto Biologia do Exército, que ficam no RJ. No fim de 2018 alguns funcionários chegaram a protestar em frente ao condomínio do presidente eleito Jair Bolsonaro, pedindo que ele impedisse a mudança da sede para o aeroporto de Guarulhos. A Assembleia Legislativa do Rio também fez uma moção de repúdio à ação do governo. “Quando eles estavam fazendo a licitação mandamos carta para o ministro, para o presidente Temer, para os 40 e poucos parlamentares do RJ. Mas o interesse era muito grande, não conseguimos barrar”, diz o ex-deputado estadual Milton Rangel (DEM). Segundo ele, “o processo foi todo esquisito”. “Foi feito com interferência direta dos interessados, eles ajudaram na elaboração dos editais. Foi uma das coisas que apontamos ao TCU [Tribunal de Contas da União]”. A licitação foi adiada pelo órgão para que se esclarecesse dúvidas sobre os custos, mas depois seguiu normalmente. O valor do contrato com a VTCLog é de R$ 97 milhões anuais e vai de 2019 até 2023. O Ministério da Saúde não respondeu quanto era gasto com a Cenadi mas, segundo a antiga direção da central, os custos anuais do recebimento, armazenagem, distribuição e transporte somavam cerca de R$ 120 milhões em 2018, portanto seriam superiores. Questionada sobre as críticas, a pasta afirmou que a substituição ocorreu “seguindo os princípios que norteiam a administração pública no processo de readequação da logística” e que a VTCLog/Voetur é uma operadora “com mais de dez anos de atuação no Ministério da Saúde, no que tange ao transporte de fármacos”. “A pasta busca uma gestão integrada dos processos de logística que compõem toda a cadeia de abastecimento que envolve estrutura, malha aérea, transporte terrestre, aéreo e fluvial, impostos e armazenamento”, disse em nota.
+++ Apesar de levantar uma questão importante, a reportagem é superficial. Não se aprofunda na história do órgão que foi encerrado e conclui com uma ideia mais rasa ainda, a de que houve economia de dinheiro na mudança para o serviço privado.

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*”PRF centraliza aeronaves em Brasília e prejudica operações nos estados”* - Profissionais que atenderam vítimas do acidente com um ônibus de turismo na BR-376, em Guaratuba (PR), na segunda-feira (25), não contaram com aeronaves da Polícia Rodoviária Federal (PRF) para o resgate, como era comum nesse tipo de ocorrência. Assim, todo o deslocamento aéreo dos mais de 30 feridos foi feito com helicópteros das Polícias Militar do Paraná e de Santa Catarina. Outras 19 pessoas morreram. A ausência desses equipamentos da PRF ocorreu porque a direção nacional do órgão centralizou aeronaves da corporação, antes distribuídas entre sete estados, em Brasília. A medida é alvo de críticas. Servidores do órgão alegam que a mudança gera mais custos e pode até inviabilizar operações, principalmente atendimentos de emergência, como o da BR-376. A determinação foi comunicada aos superintendentes regionais da PRF pelo coordenador-geral do Comando Conjunto de Operações Especiais, Jason Terêncio, e pelo Diretor de Operações, Fabio Ramos, em ofício circular do dia 8 de dezembro. O documento foi obtido pela Folha. No ofício, Terêncio e Ramos citam que relatórios e vistorias apontaram falhas na cultura organizacional, treinamento e controle da atividade aérea da PRF e que a centralização do sistema “poderá propiciar maior controle e segurança operacional”.
Na sequência, o documento apresenta uma tabela com as datas previstas para desmobilização do efetivo e infraestruturas em sete das onze bases estaduais. A mudança começaria por Pernambuco, Santa Catarina e Bahia, em dezembro. Mato Grosso do Sul, Paraná e Rio Grande do Sul desmobilizariam as equipes em fevereiro e ainda seria definida uma data para a aplicação da medida no Rio de Janeiro. Mesmo antes do prazo previsto, a PRF do Paraná descontinuou o serviço em janeiro. Segundo um dos servidores ouvidos pela reportagem, que preferiu não se identificar, a medida gerou descontentamento entre os que trabalham com aviação na PRF, já que estão sendo obrigados a se mudar para Brasília ou retomar o serviço nas rodovias, caso escolham permanecer em suas atuais lotações. No Paraná, o efetivo era composto por dois comandantes, quatro copilotos, quatro operadores aerotáticos e dez policiais. A base existia desde 2007 no estado e chegou a atuar em conjunto com o SAMU para atendimentos médicos. Atualmente, os helicópteros eram utilizados principalmente em operações na região de fronteira. A PRF não informou quantas aeronaves possui em cada estado, mas, conforme apurou a reportagem, são ao menos 16 equipamentos, sendo que sete deles já foram comprados, mas ainda não estão disponíveis.
Agora, para usar os aviões, cada estado tem que pedir autorização prévia para a direção do órgão em Brasília, medida que tem sofrido resistência dos comandos regionais, por conta da burocracia. Assim, segundo os servidores, a frota permanece parada na capital federal. De acordo com um agente que atua há quase 20 anos na corporação, a centralização gerou estresse entre os tripulantes e muitos deles decidiram abandonar a aviação. Por isso, a PRF teve que lançar um edital para formação de novos pilotos para trabalhar em Brasília. Os critérios do edital foram questionados por agentes da corporação em Pernambuco. Em um ofício de setembro do ano passado, eles citam que a PRF comprou sete novos helicópteros, por R$ 24 milhões cada um, para operar a partir de 2021 e que as bases indicariam pilotos com experiência de 500 horas de voo – exigência da fabricante dos veículos – para o treinamento. Segundo os servidores, porém, a direção do órgão decidiu mudar os critérios da seleção, permitindo que “um PRF sem qualquer experiência aeronáutica esteja submetido a um treinamento que apenas os pilotos com horas em comando pudessem participar”. Diante da centralização do comando aéreo em Brasília, um servidor da PRF de Pernambuco também enviou em dezembro um ofício ao diretor do órgão, Eduardo Aggio, alertando a gestão sobre os riscos da mudança.
No documento, também obtido pela Folha, o agente relata que as equipes de operações aéreas “vêm passando por um período de perigosa instabilidade”. Ele questiona o destino dos tripulantes que não querem se mudar para a capital federal e o impacto da descontinuidade do serviço regional. Também cita falta de investimento da PRF para resolver problemas como na comunicação entre helicópteros e efetivo, sistema de controle de frota e pessoal, ampliação da estrutura administrativa, treinamento em emergência e formação de novos tripulantes. O servidor alerta para o risco de perda de tripulantes mais experientes, além de redução no quadro, com possibilidade de falta de efetivo para atuar em operações. O aumento nos custos de deslocamento das aeronaves também é alvo de questionamento. Segundo o ofício, uma viagem de ida e volta de Brasília para Recife (PE), por exemplo, custaria cerca de R$ 138.600. “Ficará evidenciado um custo elevado em horas gastas apenas em deslocamentos a partir de Brasília, sem que isso tenha produzido algum serviço à sociedade”, diz no documento. A estimativa é de que a PRF gaste mais R$ 1 milhão com a remoção de todos os seus tripulantes do local de origem para Brasília. Concentrar os aviões em um só lugar também pode elevar em até seis vezes o custo com aluguel de hangares, segundo o ofício.
De acordo com o agente, a mudança também deve prejudicar operações de combate ao crime, a incêndios, salvamentos em locais de difícil acesso e até transporte de autoridades. Em nota enviada à Folha, a assessoria da PRF confirmou que não houve apoio de helicópteros da corporação no acidente na BR-376, mas afirmou que o serviço não foi descontinuado. A assessoria informou apenas que a antiga Divisão de Operações Aéreas (DOA) passou a ser um Subcomando de Suporte Aerotático (SSA), sem explicar o que essa mudança significa na prática. Também afirmou que está promovendo a formação de novos pilotos. “Com a formação e a modernização da frota, a PRF ressignifica a atividade. Para tanto, investiu-se em sete novos helicópteros [...]. A expectativa é que ainda este ano toda a frota esteja em operação para atender demandas em todo o Brasil”, completou. Questionada novamente pela reportagem sobre a centralização das operações em Brasília, a PRF respondeu que “a logística de suporte e a atividade aerotática envolve nível de complexidade que, claramente, não consegue ser absorvido por meio de comunicação formal e escrita” e ofereceu uma entrevista presencial com a diretoria executiva do órgão. A Folha solicitou então que a entrevista fosse realizada por videoconferência, mas, até então, não obteve retorno da PRF.

*”Primeiro dia de prova digital do Enem tem abstenção recorde de 68,1% e problemas na aplicação”*

MÔNICA BERGAMO - *”Insumo para fabricação de seringas sobe 40% e preocupa indústria”*: A alta demanda por seringas para a vacinação contra a Covid-19 não é a única preocupação das indústrias produtoras desse insumo. O valor do polímero, material usado em sua fabricação, deu um salto de 40% recentemente, segundo a Associação Brasileira da Indústria de Artigos e Equipamentos Médicos e Odontológicos (Abimo). “Eu pergunto como as empresas [que fabricam as seringas] têm condições de não inflacionar os preços para cobrir os seus custos”, diz o superintendente da entidade, Paulo Fraccaro. A Braskem, uma das fornecedoras do polímero usado nas seringas, afirma que o preço do produto varia mensalmente e é determinado por um índice internacional e pela variação da cotação do dólar. A empresa afirma ter capacidade de produção suficiente para atender à demanda atual pelo material. “Em um dia conseguimos dar conta de produzir polipropileno para 400 milhões de seringas”, diz Renato Yoshido, diretor de Negócios Agro e Infra Industriais da Braskem. “Não é o polímero que vai limitar o ritmo da produção [de seringas] e da vacinação.”

MÔNICA BERGAMO - *”Indústria gerou mais empregos formais desde 2013, diz CNI”*
MÔNICA BERGAMO - *”Busca por produtos para pets no iFood cresceu 60% em novembro e dezembro”*
MÔNICA BERGAMO - *”Larissa Manoela pede que PF investigue golpe que usou seus dados para receber auxilio emergencial”*
MÔNICA BERGAMO - *”Obras de artistas como Flávia Junqueira e João Farkas serão leiloadas em prol da Associação Cairuçu”*
MÔNICA BERGAMO - *”Stop Hunger arrecadou R$ 169 mil para cestas básicas distribuídas para 85 ONGs”*

CAPA – Manchete principal: *”Candidatos apoiados por Bolsonaro são favoritos”*

*”Favoritos – Lira e Pacheco, aliados do Planalto, têm vantagem no dia da disputa no Congresso”*

ENTREVISTA: CARLOS MELO, cientista político - *”O governo não vai aprovar tudo o que quiser”*: Para o professor sênior de Sociologia e Política do Insper Carlos Melo, a possível vitória do deputado Arthur Lira (PP-AL) na disputa pela presidência da Câmara deve sacramentar uma aliança cujo principal objetivo é a “blindagem para evitar um eventual processo de impeachment”. Leia a entrevista com o sociólogo:
- Qual é o tamanho do favoritismo de Arthur Lira, apoiado pelo presidente Jair Bolsonaro, em relação a Baleia Rossi (MDB-SP), do grupo do deputado Rodrigo Maia (DEM-RJ)?
- As promessas do governo de liberação de recursos e reforma ministerial indicam uma vitória de Lira. Mas é claro que existem movimentações de última hora. Como é uma votação secreta, pode haver traições.

- Na campanha de 2018, Bolsonaro prometia não fazer o que ele chamava de “velha política”. O apoio do presidente a Arthur Lira, expoente do centrão, configura uma quebra de promessa de campanha?
- Certamente. Bolsonaro está mordendo a língua. É um estelionato eleitoral. O apoio mostra a inconsistência daquele discurso demagógico. E, em virtude disso, a aliança com o centrão aumenta o desalento em relação aos políticos e ao sistema político. O fisiologismo, desprovido de programa, não tem freio. Quando ouço promessas de acesso a recursos e ministérios, pergunto: a troco de quê? Em troca de blindagem para evitar um eventual processo de impeachment e para proteger os filhos. No máximo, um projeto de poder exclusivamente eleitoral. Não se discute como superar essa crise econômica, social, política e sanitária.

- A agenda do governo, inclusive a ideológica, ganha fôlego no caso da vitória de Lira?
- O governo não vai aprovar tudo o que quiser. Quando a prática é fisiológica, cada nova votação exige nova negociação e concessão de recursos. Não há fidelidade. Há interesses cruzados. O centrão não devota essa fidelidade a ninguém. Cada parlamentar do centrão é fiel a si mesmo. O desgaste popular do presidente e do sistema tende a continuar. O ex-presidente Tancredo Neves tinha uma frase ótima: “O político vai com o outro até a sepultura, mas não se joga”.

- Como essa união entre o governo e o grupo que apoia Lira deve impactar a base de apoio do presidente?
- Vamos considerar que o apoio a Bolsonaro seja de um terço do eleitorado. Dentro desse grupo, há uma parcela de extrema direita, que sempre existiu no Brasil. Algo em torno de 15% do eleitorado, talvez. Esse grupo Bolsonaro não perde. Outro setor que ainda está com o presidente são os ultraliberais, que se frustram e se descolam à medida que as respostas para a economia não vêm. Há também um grupo que apoia o presidente por causa do auxílio emergencial, cuja tendência natural é diminuir. Por fim, há os antipetistas. A corrosão do apoio pode, sim, chegar num ponto em que acabe a blindagem popular. Isso aconteceu com Fernando Collor e Dilma Rousseff.

- Quais serão os fatores de definirão a longevidade do casamento entre o governo e o centrão?
- Enquanto houver uma expectativa de um projeto de poder, o centrão estará com o presidente. O objetivo é ter acesso continuado a recursos públicos. A meta é a reeleição de Bolsonaro e de cada parlamentar do grupo. A eventual eleição de Lira sela o abraço institucional de Bolsonaro no centrão. Agora, se a popularidade do presidente cair e a possibilidade de poder se dissipar, o centrão vai abandonar o navio. Se o país quiser sair dessa crise, vai precisar de uma agenda que exige três quintos dos parlamentares nas duas casas do Congresso, além do apoio da sociedade. Essa maioria é necessária para fazer reformas, criar impostos e reeditar o auxílio emergencial, o que me parece inevitável. Conseguir 257 deputados para eleger o Lira é uma coisa. Chegar a 308 votos na Câmara e 49 no Senado para mudar a Constituição é completamente diferente.

- O senhor acredita no apoio voluntário dessa base que sustenta a candidatura de Arthur Lira às reformas?
- O que interessa para eles é a dependência de Bolsonaro. Temos um presidente corporativista e sem habilidade política, que amaldiçoa a política, com uma base que demoniza o centrão. Se, lá na frente, Bolsonaro recuperar o apoio popular e plenas condições de governabilidade, quem garante que ele não abandonará seus novos amigos?

- Em que medida o sucesso no enfrentamento da pandemia afeta a relação entre o presidente o Congresso?
- A pandemia está sem controle. A chance de estancá-la a médio prazo é pequena. O desemprego e o desalento estão elevados e, com o fim do auxílio emergencial, devem aumentar. A pressão por medidas imediatas será muito forte. Já no Congresso, o processo de negociação do fisiologismo é lento porque os recursos são escassos. Uma das possibilidades é que o presidente venha a ter novos abalos na popularidade. Quando o apoio popular cai, a governabilidade mingua. Um influencia o outro. Quanto menos apoio popular Bolsonaro tiver, maior o poder de barganha do centrão. Isso se mantém até que exista oxigênio para combustão. Se acabar o oxigênio, é possível que um processo de impeachment seja votado ou que o Centrão decida não entrar no barco da reeleição de Bolsonaro.

- E se Baleia reverter as previsões e ganhar a disputa na Câmara?
- Com o Baleia, há um elevado grau de fisiologismo também, mas não da mesma ordem do de Lira. Não tenho ilusão. Baleia não é um estadista. Também não creio que iria facilmente para o impeachment. Mas é verdade que Maia construiu uma agenda, e Baleia poderia ser sua continuidade. Uma agenda de defesa da autonomia do Congresso e da permanência de um núcleo reformista. Maia surpreendeu no período em que esteve no comando da Câmara, salvando Bolsonaro do desastre que o próprio presidente construía. A reforma da Previdência era necessária e foi feita por Maia, a despeito de Bolsonaro. O auxílio emergencial também saiu do Congresso. Com Baleia, a agenda de costumes do presidente não teria chance e haveria algum ambiente para reformas.

*”Sem excludente, Bolsonaro freia ações militares”*
*”Covas é alvo de críticas após ter ido à final da Libertadores no Rio”*
*”Ação seletiva – Abertura comercial só é usada pelo governo para debelar crises ou agradas grupos”*

 

CAPA – Manchete principal: *”Sob ingerência do Planalto, Congresso elege presidentes”*

EDITORIAL DO ESTADÃO - *”A hora do Congresso”*: Hoje se cumpre um rito da máxima importância para o País: as eleições das Mesas Diretoras das duas Casas legislativas. “No terceiro ano de cada legislatura, em data e hora previamente designadas pelo Presidente da Câmara dos Deputados, antes de inaugurada a sessão legislativa e sob a direção da Mesa da sessão anterior, realizar-se-á a eleição do Presidente, dos demais membros da mesa e dos Suplentes dos Secretários”, estabelece o Regimento Interno da Câmara dos Deputados. Os presidentes da Câmara e do Senado têm importantes atribuições. Cabe-lhes, por exemplo, velar pelo respeito às prerrogativas das respectivas Casas e às imunidades dos parlamentares. São, assim, especiais garantidores da independência institucional estabelecida pela Constituição no seu segundo artigo: “São Poderes da União, independentes e harmônicos entre si, o Legislativo, o Executivo e o Judiciário”. Parte relevante das competências dos presidentes da Câmara e do Senado refere-se à pauta e ao funcionamento das sessões legislativas. Por isso, a funcionalidade, a agilidade e a responsabilidade do Legislativo estão diretamente relacionadas ao modo como os presidentes de cada Casa trabalham. A Constituição também estabelece que, “em caso de impedimento do Presidente e do Vice-presidente, ou vacância dos respectivos cargos, serão sucessivamente chamados ao exercício da Presidência o Presidente da Câmara dos Deputados, o do Senado Federal e o do Supremo Tribunal Federal”.
Ante tão graves obrigações, impõe-se uma constatação. O patamar moral e cívico dos presidentes de cada Casa deve ser especialmente alto. Não deve pairar nenhuma dúvida ou sombra sobre suas trajetórias políticas e menos ainda sobre seus compromissos futuros. Por exemplo, um presidente da Câmara ou do Senado conchavado com o Executivo estaria renegando o juramento, feito no dia de sua posse como deputado ou senador, de defender a Constituição. A presidência das Casas legislativas exige altivez. A harmonia constitucional não é submissão. Para o tão necessário equilíbrio institucional, é preciso que cada Poder seja de fato independente, sem conchavos e sem amarras. “O Poder Legislativo é exercido pelo Congresso Nacional, que se compõe da Câmara dos Deputados e do Senado Federal”, dispõe a Constituição. E o Regimento Interno da Câmara estabelece, por exemplo, que o seu presidente, além de supervisionar os trabalhos e a ordem da Casa, representa a Câmara quando ela se pronuncia coletivamente. Quem ocupa o cargo já não fala apenas em nome de seus eleitores ou de seu partido, ou mesmo de um grupo de deputados. O mesmo se dá no Senado. Ou seja, as duas presidências não são cargos talhados para quem pratica a política pequena. Mais do que eventual afinidade de interesses políticos, os votos que deputados e senadores darão hoje devem expressar, assim o exige a Constituição, compromisso com a independência e a autonomia do Congresso. Não cabe ignorar a insistente e despudorada tentativa do Palácio do Planalto de colocar o Legislativo de joelhos, como se vassalo fosse.
O País acompanha muito de perto as sessões de votação de hoje. São tempos difíceis, nos quais o Congresso tem a responsabilidade de enfrentar com determinação os problemas e entraves nacionais. Há importantes reformas a serem realizadas. Há urgência de um novo equacionamento das contas públicas. Existem muitas frentes – na educação e saúde, especialmente – à espera de lideranças públicas competentes. E há, como poucas vezes se viu, a premente necessidade de um Poder Legislativo que exerça, sem descanso e sem hesitação, o seu dever constitucional de fiscalização e controle do Executivo. Não merece voto, portanto, quem, de antemão, já prometeu ficar calado – assegurou encolhimento – perante os arroubos, confusões e omissões do presidente da República. A Constituição exige do Congresso outro papel, muito mais nobre, responsável e comprometido com o interesse público. É hora de preservar a independência e a autonomia do Legislativo.

COLUNA DO ESTADÃO - *”Qualquer desfecho deixará governo frágil”*: Na política, é possível perder na vitória e ganhar na derrota. Com qualquer resultado hoje na eleição para a presidência da Câmara dos Deputados, Jair Bolsonaro sairá fragilizado: mesmo que Arthur Lira (PPAL) vença a disputa, o presidente terá menos poder. Seja porque o governo despejou caminhões de recursos e interferiu na disputa, seja porque o apetite do Centrão jamais será saciado. Um ex-articulador político do Planalto alerta: é essencial manter diálogo com o Centrão, mas com muita cautela. O que custa caro hoje, tende a encarecer.
» Lembra? Na reforma da Previdência, governo liberou R$ 3 bilhões em emendas parlamentares. Quanto custará a tributária?
» Alerta. No curto prazo, ao menos, Arthur Lira (PPAL) e Rodrigo Pacheco (DEM-MG) garantiriam segurança ao Planalto para barrar CPIS e pedidos de impeachment. Mas há uma frase muito famosa em Brasília: “O Centrão não segura alça de caixão”.
» Futuro. Se Baleia Rossi (MDB-SP), que até aqui manteve o nível da campanha, vencer, a interferência do Executivo no processo poderá cobrar preço alto.
» Olha… O nome mais forte hoje para ocupar o ministério da Cidadania, com a provável ida de Onyx Lorenzoni para a Secretaria-geral, é o do vice-presidente do Republicanos, deputado Márcio Marinho (BA).
» … lá vem eles. O deputado João Roma (BA) também está na disputa. Cidadania é um dos mais cobiçados ministérios porque gerencia programas sociais.
» Johnny Bravo. Líderes do partido estão convictos: andam dizendo que já no dia 2 sairá a nomeação...
» Faca afiada. Assessores palacianos dão como certo que a Economia também será, de alguma forma, fracionada. As secretarias da Pesca, dos Esportes e da Cultura devem mesmo permanecer no final da fila para voltar a ser ministérios.

*”Sob ingerência do Planalto, Congresso elege cúpula”*
*”Governistas, Lira e Pacheco têm mais apoio declarado”*
*”Na véspera, DEM deixa bloco de Baleia”*

*”Ato contra o governo no DF”* - Manifestantes em frente ao Congresso Nacional criticaram a atuação do governo no combate à pandemia e pediram o impeachment do presidente Jair Bolsonaro. Foram registradas também carreatas em SP e no RJ.
+++ Esse texto reproduzido acima foi tudo o que o Estadão escreveu sobre todos os atos realizados ontem pelo impeachment de Jair Bolsonaro. Ao lado do texto, aparece foto da performance realizada por manifestantes em Brasília.

ANÁLISE: CARLOS MELO - *”O vírus oportunista destrói o hospedeiro”*: Eleição também é “caixinha de surpresas”. Mas, o comportamento de grande parte dos parlamentares e, sobretudo, as reações de Rodrigo Maia levam a crer que as disputas na Câmara e no Senado já podem estar resolvidas a favor dos candidatos apoiados pelo presidente Jair Bolsonaro, sacramentando sua aliança com o Centrão. A vida segue. O problema está na consistência programática da eventual vitória: nesses meses, nada que demonstrasse superação da crise pôde ser observado. Não se discutiu agenda para a tragédia econômica, política e sanitária. O debate se resumiu ao arrendamento de espaços no Ministério e à farta distribuição de recursos públicos, com vistas a 2022: o fisiologismo velho da chamada velha política, antes abominados pelo bolsonarismo. A experiência mostra que o fisiologismo é bicho cuja voracidade come o dono. O uso leva ao vício e o vício à prática constante; não há acordo perene. Ele carece de limites e projetos, sem o quê o mais comum é que a cada nova votação irrompam novas demandas e pressão por recursos escassos. Irresponsabilidade ao infinito e além.
O desafio é enorme: conter a pandemia, proteger desassistidos, estancar a crise, retomar o emprego; não transigir com as contas públicas, pacificar o país. Algum auxílio emergencial será inevitável; virão novos impostos? Medidas para ontem que exigirão apoio na sociedade e três quintos de votos, nas duas Casas. Como fazê-lo no padrão de elaboração, liderança e diálogo observados; como fazêlo na base da razão fisiológica? Ninguém poderá dizer qual será o futuro. Previsões armam ciladas e a história adora zombar de profetas. Mas, ao se comparar o tamanho dos desafios à estatura dos virtuais vitoriosos, pode-se, sim, intuir que o futuro permanecerá como o presente: pouca ou nenhuma perspectiva de arrumação; a imanência do caos. Diante do desespero por blindagem e da inabilidade de Jair Bolsonaro, o fisiologismo esfrega as mãos e sorri; quererá sempre mais. Ao final, o vírus oportunista destruirá o hospedeiro.

*”Herança política une candidatos”* - Três dos principais candidatos à presidência da Câmara e do Senado têm em comum mais que a vontade de estar à frente de um dos poderes da República. Baleia Rossi (MDB-SP) e Arthur Lira (PP-AL), que disputam a presidência da Câmara dos Deputados, e Simone Tebet (MDB-MS), candidata a presidir o Senado, são filhos de políticos com longa trajetória na política nacional. Eles tiveram carreiras precoces e seguiram caminhos semelhantes. A exceção é o adversário de Simone, Rodrigo Pacheco (DEM-MG), que vem de família com tradição no setor de transporte coletivo, mas sem linhagem política. Baleia, de 48 anos, nasceu em São Paulo, mas sempre viveu em Ribeirão Preto, uma das cidades mais ricas do interior. Ele é um dos cinco filhos do ex-deputado federal e ex-ministro da Agricultura, Pecuária e Abastecimento, Wagner Rossi. A família tem tradição nos negócios e na política. Foi incentivado pelo pai que Baleia ingressou na vida pública aos 20 anos, elegendo-se vereador à Câmara de Ribeirão Preto.
O deputado e seu pai são aliados do ex-presidente Michel Temer, que apoiou a chegada de Baleia ao comando do MDB. Foi também Temer quem conduziu Wagner Rossi à presidência da Codesp, responsável pelo Porto de Santos. O pai de Baleia foi preso em 2018 na Operação Skala, que apurava corrupção no setor portuário. Rossi passou três dias detido. Seus advogados consideraram a prisão abusiva. Aos 78 anos, o político ainda se recupera de um acidente vascular cerebral sofrido no final de outubro de 2020. O pai de Arthur, Benedito de Lira (PP), mais conhecido como Biu, foi deputado estadual, federal e senador por Alagoas. Atualmente, aos 78 anos, é prefeito da paradisíaca Barra de São Miguel, no litoral sul alagoano. Isso explica porque os 8.624 moradores do lugar acompanham com inusitado interesse a disputa pela presidência da Câmara dos Deputados, em Brasília. Arthur Lira é o candidato do presidente Bolsonaro ao posto. Como o filho, Biu é advogado, agropecuarista e político de carreira precoce. Pai e filho dividiram também percalços com a justiça. Benedito e Arthur foram investigados pela Polícia Federal em esquema de corrupção na Petrobrás. Em fevereiro de 2016, Biu chegou a ter seus bens bloqueados pelo Supremo, em decisão do ministro Teori Zavascki, já falecido.
Eleição direta. Pai de Simone, o ex-senador Ramez Tebet, falecido em 2016, é considerado um dos políticos mais expressivos de Mato Grosso do Sul. Como a filha, advogada e professora, antes de entrar na política ele foi advogado, professor e promotor público em Três Lagoas, sua terra natal. Na primeira eleição direta após o regime militar, elegeu-se vice-governador e, em março de 1986, assumiu o governo do Estado. O pai de Simone também foi presidente do Senado e, nessa condição, deu posse ao presidente eleito Luiz Inácio Lula da Silva (PT), em 2003.

*”Parlamentares que mudaram de voto receberam ‘extra’”* - Parte dos apoiadores do deputado Baleia Rossi (MDB-SP) que mudou seu voto e passou a apoiar o candidato do governo Bolsonaro na disputa, o deputado Arthur Lira (PP-AL), foi contemplada com recursos extras do Ministério do Desenvolvimento Regional, segundo uma planilha informal de distribuição de recursos ao qual o Estadão teve acesso. No total, 285 parlamentares puderam indicar o destino de R$ 3 bilhões para seus redutos eleitorais. Todas as autorizações e repasses da planilha foram feitas em dezembro, mês em que o governo intensificou as articulações para eleger seus candidatos. O candidato do MDB tem dado declarações públicas acusando o governo de cooptar seus eleitores com a distribuição de verbas e cargos, além de demitir apadrinhados dos seus apoiadores acomodados na administração federal. Dos 235 deputados que dizem votar em Lira, conforme dados de ontem do placar Estadão, 140 aparecem na planilha do governo indicando recursos extras para obras em seus Estados. No caso dos senadores, dos 41 que declaram votar em Rodrigo Pacheco (DEM-MG), que tem o apoio do Planalto, 24 foram beneficiados.
Os parlamentares dizem que a liberação de recursos extras neste momento de campanha não está relacionada ao voto no Congresso, mas a acordos anteriores que visam atender necessidades legítimas de seus Estados. Conforme revelou o Estadão, o governo despejou verbas não rastreáveis por mecanismos de transparência. Nesse modelo, não é possível identificar quem indicou o montante caso haja algum esquema de corrupção envolvendo determinada obra. Os ministérios fazem planilhas informais, que não são acessíveis às autoridades e à sociedade. É o contrário do que ocorre com as emendas parlamentares, onde é possível acompanhar desde a indicação do recurso até a execução da obra. O líder do governo no Senado, Eduardo Gomes (MDBTO), contemplado com R$ 85 milhões de verba extra do Ministério do Desenvolvimento Regional, admitiu ao Estadão que os recursos ajudam a “sensibilizar” os parlamentares a votarem de acordo com o governo. “É evidente que, quando o governo tem essa sintonia e trabalha com municípios e Estados, tem uma tendência de que fique com o governo”, afirmou. O senador reconhece a falta de transparência nessa modalidade de repasse, mas recomenda que as pessoas acompanhem as redes sociais dos 513 deputados e 81 senadores, além dos sites das prefeituras (o País tem 5.570 municípios) e dos Estados (são 26 mais o DF) para tentar rastrear quem indicou a verba.
Candidato do governo na Câmara, Arthur Lira tem operado diretamente nas negociações de repasse das verbas. A ofensiva inclui ainda o ministro da Secretaria de Governo, Luiz Eduardo Ramos, e o titular do Ministério do Desenvolvimento Regional, Rogério Marinho, pasta que concentra os projetos que vão receber os recursos. Responsável pela articulação política, o general Ramos disse ao Estadão que as planilhas não são da Secretaria de Governo. O presidente Jair Bolsonaro, que tem recebido pessoalmente parlamentares, já disse que “se Deus quiser vai influir na presidência da Câmara”. O presidente não comentou sobre as acusações do presidente da Câmara, Rodrigo Maia, e de Baleia Rossi de que seu governo está trocando verbas por votos. Na campanha eleitoral, Bolsonaro prometeu acabar com o chamado toma lá dá cá e a montar um ministério sem indicações partidárias, acabando com uma prática comum entre seus antecessores.
Dissidentes. Na medida em que as conversas com Ramos prosseguiam, parlamentares deixaram de lado a orientação de suas bancadas de votar no deputado Baleia Rossi e declararam voto em Lira. É o caso de oito deputados do DEM, partido do presidente atual da Câmara, Rodrigo Maia (RJ), fiador da candidatura de Baleia. Entre os dissidentes do DEM pró-lira listados na planilha do governo estão Elmar Nascimento, Arthur Maia e Leur Lomanto Júnior, todos da Bahia. Além deles, Carlos Henrique Gaguim (TO), Pedro Lupion (PR) e David Soares (DEM-SP) e Alan Rick (DEMAC) também estão com Lira. A liderança do DEM foi procurada, mas não se manifestou. A maior dissidência registrada, no entanto, foi a do PSL, partido que elegeu o presidente Jair Bolsonaro. A sigla anunciou no dia 21 de janeiro apoio à candidatura de Arthur Lira. Isso ocorreu duas semanas após a liderança do partido ter participado do lançamento da campanha de Baleia Rossi. Segunda maior bancada da Câmara, o PSL tem 52 deputados. Desses, 16 que estão na planilha do governo declararam voto a Lira, de acordo com o placar do Estadão.
O PSDB, que declarou e ainda mantém apoio a Baleia, tem ao menos seis deputados que estão na planilha do governo que, contrariando orientação partidária, declararam voto em Arthur Lira. São eles: Mara Rocha (AC), Adolfo Viana (BA), Luiz Carlos (AP), Edna Henrique (PB), Celso Sabino (AP) e Rose Modesto (MS). No campo da esquerda, as legendas manifestaram apoio a Baleia Rossi, mas não impediram as dissidências. Gil Cutrim (PDT-BA) revelou voto em Lira. Ele poderá indicar R$ 2 milhões de verbas extras para obras, conforme a planilha. No PSB, os dissidentes são Liziane Bayer (RS), contemplada com R$ 2,6 milhões, e Felipe Carreras (PE), R$ 2 milhões. Em dezembro, uma indicação feita pelo parlamentar de ações da Codevasf, teve sinal verde do Ministério do Desenvolvimento Regional. “Não tenho conhecimento do assunto e de nenhuma lista. Se não for algo forjado, como uma lista folclórica que estava circulando, e esse recurso existir e for liberado para o governo de Pernambuco, você (repórter) está dando uma grande notícia”, disse Carreras ao Estadão. “Meu apoio a Arthur nunca esteve condicionado à liberação de emendas”, garantiu.
+++ O governo utilizou uma forma de repasse de verbas para os deputados que não é rastreável. Em que lugar do mundo isso é feito sem ser considerado imoral? Pior é a imprensa apenas sugerir que exista algo de errado ao invés de afirmar categoricamente.

*”Lideranças dos partidos não comentam repasses”* - O Estadão procurou as lideranças na Câmara do Avante, DEM, PP, Pros, PRB, PSDB, Podemos e PSL, mas elas não quiseram comentar os repasses a deputados das siglas. No Senado, a reportagem procurou as lideranças do DEM, Podemos, PP, PT, Republicanos, Pros e PSD, que também não se pronunciaram. Os pagamentos são feitos pelos chamados “recursos extra orçamentários”, sempre com o aval do ministro Luiz Eduardo Ramos. Há casos em que os valores liberados correspondem a acordos anteriores ao período eleitoral, mas que só agora foram honrados, em meio às articulações para a eleição no Congresso. O deputado Alan Rick (DEMAC) diz que os recursos haviam sido negociados há tempo, sem qualquer relação com a disputa interna da Câmara. De acordo com ele, sua opção contra Baleia explica-se pelo incômodo com a adesão dos partidos de esquerda ao candidato. “É recurso do ano passado e não tem nada a ver com a votação. Não negociei votação”, afirma.
O deputado Pedro Lupion (DEM-PR) também rechaça a relação entra o apoio ao candidato do governo e a liberação de verbas. Segundo ele, o voto prólira é coerente com a postura que adota no Parlamento. “Sou vice líder do governo no Congresso. Apoiei Bolsonaro na eleição e continuo apoiando. Sigo com Arthur Lira desde o lançamento de sua candidatura”, declarou. Procurados, Elmar Nascimento (DEM-BA) e David Soares (DEM-SP) não quiseram comentar. O deputado Adolfo Viana (PSDB-BA) diz que é importante ter o apoio do governo para levar recursos às regiões carentes da Bahia. No entanto, ele diz que os recursos extras aos quais teve acesso não prejudicam sua independência para escolher em quem votar. “Não teve nada condicionado. Não vejo problema em estarmos buscando recursos para as cidades que representamos. A gente busca o apoio do governo federal, mas não existe o ‘toma lá, dá cá’. Precisamos de apoio do governo, o Estado é carente. Mas nem por isso somos controlados”, disse.

*”Republicanos propõem a Biden plano alternativo de resgate econômico”* - Dez senadores republicanos moderados propuseram ontem ao presidente democrata Joe Biden um projeto de lei alternativo a seu gigantesco plano de resgate econômico, argumentando que a proposta poderia obter um consenso entre os dois partidos. Em uma carta, eles pediram a Biden que reduza significativamente seu pacote de alívio de US$ 1,9 trilhão (R$ 10,3 trilhões) contra os efeitos da pandemia de covid-19 para receber apoio bipartidário, no momento em que democratas do Congresso se preparam para fazer avançar seu plano a partir de hoje. A senadora do Maine, Susan Collins, que liderou a iniciativa, solicitou uma reunião com o presidente para discutir o texto em detalhes.
Um conselheiro econômico da Casa Branca indicou disposição de discutir as ideias dos senadores republicanos que mencionaram um projeto de lei alternativo de US$ 600 bilhões (R$ 3,2 trilhões) – um terço do previsto por Biden –, mas afirmou que o presidente não aceitará recuar na necessidade de uma lei abrangente para tratar da crise sanitária e das consequências econômicas. “Ele está aberto a ideias, de onde quer que elas venham… no que ele não recuará é na necessidade de avançar com velocidade em uma abordagem abrangente”, disse o diretor do Conselho Nacional Econômico, Brian Desse, à emissora NBC. “Uma abordagem fragmentada… não é a receita do sucesso.” “Acabamos de vivenciar o pior ano econômico” desde o fim da 2.ª Guerra, acrescentou, lamentando que 30 milhões de americanos estejam passando fome. Não ficou claro se o movimento de 10 dos 50 republicanos no Senado – que tem 100 integrantes no total –, mudaria os planos dos democratas do Congresso de avançar a legislação nos próximos dias. Biden e outros democratas estão tentando usar o controle que obtiveram na Câmara e no Senado para avançar rapidamente no principal objetivo do presidente de lidar com a pandemia.
A proposta apresentada pelos dez republicanos inclui algumas das disposições do plano de US$ 1,9 trilhão de Biden, mas reduziria outras, incluindo a elegibilidade para pagamentos diretos e auxílio-desemprego. “Nossa proposta reflete muitas de suas prioridades declaradas e, com seu apoio, acreditamos que esse plano poderá ser aprovado rapidamente pelo Congresso com o apoio bipartidário”, escreveram os senadores. Para aprovar um pacote pelo processo legislativo regular, Biden precisaria de 60 votos no Senado. Adicionar os dez republicanos que assinaram a carta aos 50 democratas na Câmara alcançaria esse limite. Mas reduzir substancialmente o tamanho do pacote provavelmente custaria a Biden o apoio democrata tanto no Senado quanto na Câmara. Biden e os principais democratas disseram que querem o apoio republicano para o projeto de lei de resgate econômico. Mas com vários republicanos já se recusando a aprovar um pacote abrangente, os democratas estão se preparando para aprovar um projeto por conta própria usando a reconciliação orçamentária, um processo legislativo que é mais complicado, mas requer apenas uma maioria simples no Senado.
Plano de Biden. A aprovação da nova legislação de socorro de Biden não apenas ajudará os americanos e as empresas afetados por uma pandemia que matou cerca de 440 mil pessoas nos Estados Unidos, mas também oferece um teste inicial para a promessa de Biden, que assumiu no dia 20, de trabalhar para reduzir a divisão partidária em Washington. A proposta de Biden inclui US$ 160 bilhões (R$ 873 bilhões) para vacinas e testes, US$ 170 bilhões (R$ 928 bilhões) para escolas e universidades e fundos para dar a uma parte dos americanos um cheque de estímulo de US$ 1.400 (R$ 7.600) por pessoa, entre outras provisões.
A Casa Branca está impulsionando seu plano em meio a sinais de uma desaceleração econômica mais ampla e uma onda contínua de desemprego provocados pela pandemia do novo coronavírus. “A chave para obter amplas oportunidades de emprego é cessar qualquer atraso (na aprovação do pacote), qualquer espera em torno deste plano de resgate”, disse Jared Bernstein, membro do Conselho de Consultores Econômicos da Casa Branca, na Fox News Sunday. “O povo americano não se importa com o processo orçamentário . ... Eles precisam de ajuda e precisam agora”, acrescentou Bernstein. O plano de Biden enviaria pagamentos de US $ 1.400 a indivíduos com renda de até US$ 75 mil por ano e casais que ganham até US $ 150 mil. O senador republicano Rob Portman, um dos signatários da carta, disse que o plano do Partido Republicano reduziria esses limites para US $ 50 mil para indivíduos e US $ 100 mil para casais. Em vez de cheques de $ 1.400, o plano do Partido Republicano proporia cheques de US$ 1 mil, de acordo com o senador Bill Cassidy.

*”Áustria vai receber paciente de UTI de Portugal”*

*”Empresa de teste de covid tem laços com Exército chinês”* - O BGI Group, maior empresa especializada em genômica do mundo, que vendeu milhões de kits de teste de covid-19 para vários países, tem trabalhado com militares da China em pesquisas que vão desde testes em massa de patógenos respiratórios até ciências do cérebro, segundo levantamento feito pela Reuters com base em pesquisas, pedidos de patentes e outros documentos. A empresa está desde outubro no radar dos Estados Unidos, que temem o uso ilegal da coleta biológica. A análise de mais de 40 documentos publicamente disponíveis e artigos de pesquisa em chinês e inglês mostra que as ligações do BGI com o Exército de Libertação do Povo incluem pesquisas com importantes especialistas em supercomputação militar da China. A extensão deste relacionamento nunca tinha sido divulgada. O BGI vendeu milhões de kits de teste de covid-19 desde o início da pandemia para países da Europa e EUA. Mas autoridades de segurança americanas de alto escalão alertaram os laboratórios americanos contra o uso de testes chineses por causa da preocupação de que a China esteja tentando reunir dados genéticos estrangeiros para suas pesquisas. O BGI, cujas ações dobraram de preço nos últimos 12 meses, dando a ele um valor de mercado de cerca de US$ 9 bilhões, negou isso. “O BGI rejeita veementemente as acusações de elos com o EPL, particularmente no que diz respeito a nossos kits de teste da covid-19”, disse a organização.
Um recente congresso da indústria de tecnologia, convocado pelo governo dos EUA, soou o alarme em outubro diante do apoio financeiro da China a seu setor de biotecnologia, suas vantagens na coleta de dados biológicos, e o interesse do EPL em possíveis aplicações militares. O congresso, que apresentará seu relatório final em março, alertou para a possibilidade de adversários usarem a inteligência artificial para identificar fraquezas genéticas em uma população, criando patógenos para explorá-las, e em pesquisas genéticas voltadas para o aprimoramento da força mental e física dos soldados. O congresso recomendou que o governo americano “adote uma posição pública mais agressiva diante do BGI”, citando riscos de segurança nacional apresentados pelos elos da empresa com o governo chinês e seu vasto acervo de dados genômicos. O Ministério das Relações Exteriores da China disse que o governo americano tinha “distorcido deliberadamente sua interpretação da política de fusão civil-militar da China, difamando-a”.
Os documentos analisados pela Reuters não contradizem nem sustentam a suspeita americana. Mesmo assim, o material mostra que as ligações entre os militares chineses e o BGI são mais profundas do que se pensava anteriormente, ilustrando como a China tem agido para integrar empresas privadas de tecnologia em pesquisas militares sob o presidente Xi Jinping. O BGI tem trabalhado em projetos do EPL com o objetivo de tornar os integrantes da maioria étnica chinesa Han menos suscetíveis a problemas de altitude, em pesquisa genética que beneficiaria soldados em algumas áreas de fronteira, segundo análise da Reuters. Elsa Kania, pesquisadora adjunta sênior do centro de estudos estratégicos Center for a New American Security, que depôs perante comissões parlamentares americanas, disse à Reuters que as Forças Armadas da China pressionaram por pesquisas nas áreas de ciência do cérebro, edição genética e criação de genomas artificiais que poderiam ser aplicados em armas biológicas no futuro. Ela acrescentou que, no momento, tais armamentos são tecnicamente inviáveis. Mas o padrão de cooperação do BGI com as Forças Armadas chinesas seria uma “preocupação merecedora da atenção” das autoridades americanas, disse Elsa.

*”Rússia prende 5 mil em marchas pela libertação de Navalni”*

*”No AM, cresce proporção de mortos por covid sem fator de risco associado”* - Com o colapso no sistema de saúde do Amazonas e a circulação de uma nova variante do coronavírus potencialmente mais transmissível na região, o porcentual de mortos por covid-19 que não tinham nenhum fator de risco dobrou no Estado em janeiro e já representa 20% de todas as vítimas da doença no mês. Os números foram tabulados pelo Estadão a partir da base de dados de Síndrome Respiratória Aguda Grave (Srag) do Ministério da Saúde, cuja versão mais atualizada traz estatísticas até o dia 25 de janeiro. A análise, que considerou óbitos por covid-19 por data de ocorrência, aponta que, dos 1.664 mortos pela doença no Amazonas em janeiro já inseridos no sistema, 331 deles tinham menos de 60 anos e não sofriam de doenças crônicas. O número equivale a 19,9% do total de vítimas do mês e ao dobro do índice médio de 2020. Em todo o ano passado, foram 5.303 vítimas da covid no Amazonas, das quais 491 (ou 9,2%) não eram idosas nem possuíam comorbidades. Se comparado ao perfil das vítimas de todo o Brasil, o aumento do índice de mortos sem fatores de risco no Amazonas fica ainda mais evidente. Do total de mortos no País desde o início da pandemia, somente 7,3% deles não eram idosos nem tinham doenças crônicas. Considerando só os dados do mês de janeiro, a taxa de mortos com esse perfil foi de 7,4%.
“A gente vem percebendo esse fenômeno desde meados de dezembro. Hoje, por exemplo, quase todos os meus 14 pacientes da sala de emergência têm entre 40 e 50 anos. Só tem um idoso e outro com hipertensão. Os demais não têm comorbidades”, relatou na semana passada uma médica do Hospital Delphina Aziz, uma das unidades de referência para covid-19 em Manaus. Ela não quis ter seu nome divulgado. Para especialistas, a principal explicação para o aumento de vítimas mais jovens e saudáveis é o colapso do sistema de saúde amazonense. Eles destacam, no entanto, que se deve considerar um possível impacto da nova variante que circula no Estado. A cepa vem sendo estudada com o objetivo de avaliar se ela é mais transmissível e letal. “O principal motivo é a superlotação dos hospitais. Quando você não tem capacidade para internar mais pessoas, acaba recebendo os pacientes só quando eles estão com um quadro mais grave, com o pulmão mais comprometido. Não dá para descartar também um eventual papel da variante P.1. Já estamos quase certos de que ela é mais transmissível, mas ainda precisamos de mais análises genômicas e epidemiológicas para saber se ela é mais letal”, disse Jesem Orellana, epidemiologista da Fiocruz Amazônia.
Os especialistas destacam o desabastecimento de oxigênio como um dos principais fatores que aumentaram o número de mortes entre pessoas mais jovens e saudáveis. “A ventilação e o suporte com oxigênio servem para dar um tempo para o pulmão se recuperar. Ela te mantém vivo enquanto seu organismo combate a doença. Se tem algo que interrompe isso, a consequência é desastrosa. Pode até ter gente que morreu durante o colapso que estava muito grave e morreria de qualquer forma mais tarde. Mas certamente, nesse grupo de vítimas, havia pessoas que, se tivessem tido mais tempo no ventilador, iriam se recuperar. Essa situação ceifou delas essa chance”, afirmou o intensivista Ederlon Rezende, integrante do conselho consultivo da Associação de Medicina Intensiva Brasileira (Amib) e coordenador do projeto UTIS brasileiras.
Colapso. A rede de saúde do Amazonas sofre com a falta de leitos, pessoal e insumos. No dia 14 de janeiro, o estoque de oxigênio acabou em vários hospitais de Manaus, provocando a morte de pacientes que estavam em ventilação mecânica. Mesmo com o envio de remessas do produto pelo governo federal e doações de anônimos e famosos, a demanda ainda está acima da capacidade produtiva da empresa fornecedora e a fila de espera por leitos também é grande. De acordo com o último boletim da Fundação de Vigilância em Saúde do Amazonas, divulgado ontem, 611 pessoas com covid aguardavam por um leito nos hospitais do Estado. A Secretaria da Saúde do Amazonas já transferiu mais de 300 pacientes para outros Estados. Ontem, o ministério afirmou que enviará mais 90 mil metros cúbicos de oxigênio para o Amazonas nesta semana. O volume, porém, é suficiente somente para um dia de operação dos hospitais da capital.

*”Amazonas investiga se morte de idoso tem relação com vacina”* - O Centro de Referência de Imunobiológicos (Crie), órgão vinculado à Fundação de Vigilância Sanitária e à Secretaria Estadual de Saúde do Amazonas, recebeu da prefeitura de Manaus uma coleta de sangue de um idoso de 83 anos que teria morrido no sábado depois de ter sido vacinado contra covid-19 na quinta-feira, com a primeira dose da vacina Astrazeneca. O Crie tem até sete dias para emitir laudo. Segundo um parente do idoso, ele estava aparentando sintomas de gripe, mas como eram “leves” foi levado para ser imunizado. “Ele também tinha pressão alta, mas tomava remédio. Agora só sabendo o laudo, vamos esperar, mas achamos melhor informar à FVS pela coincidência”, disse o parente. Na noite de sábado, a prefeitura de Manaus resolveu adiantar para ontem o início do calendário de vacinação de idosos de 75 a 79 anos, ao mesmo tempo do grupo de 80 anos ou mais. Segundo a Secretaria Municipal de Saúde (Semsa), o objetivo de acelerar o calendário é estimular a vacinação.
Nos primeiros dois dias de vacinação, o número de idosos de 80 anos foi abaixo do esperado nos postos fixos e drive-thrus espalhados pela cidade. Cerca de 4 mil pessoas de 80 anos ou mais foram imunizadas nos primeiros dois dias de vacinação (sexta e sábado). A prefeitura não registrou filas nem aglomerações, mas a expectativa era de que o dobro de pessoas tivessem sido vacinadas. Segundo a Semsa, a ideia é que até o dia 10 seja finalizada a vacinação de idosos de 75 anos em diante para ser iniciada a de 70 a 74 anos, com comorbidades. A mãe da funcionária pública Elizabeth Maia, a aposentada Elizabeth Cardoso, de 76 anos, foi vacinada e já saiu com a carteirinha informando que a segunda dose será em abril. “Sabemos que a segunda dose desta vacina deve ser em até três meses para ser eficaz, mas vamos continuar com todos os cuidados. Mamãe não tem saído de casa, trazemos todas as compras do que ela precisa, já que ela mora sozinha, e não teria como morar comigo ou com outro filho porque nenhum está em home office”, contou.
Rio. Presidente de honra da Mangueira, Nelson Sargento, de 96, foi um dos cinco escolhidos pela prefeitura do Rio para marcar o início da vacinação de idosos contra a covid-19 na cidade. Ele recebeu ontem a primeira dose, em cerimônia no Palácio da Cidade, na zona sul. “Estava pensando muito nesse momento e, graças a Deus, estou aqui. Estou sentindo falta da música. Estou aqui para ser vacinado e poder trabalhar”, disse o baluarte da Verde e Rosa.

*”Enem digital tem falhas e abstenção recorde”*
*”Guedes aposta em troca no Senado e na Câmara para destravar agenda liberal”*
*”Economia tenta barrar auxílio fora do teto de gastos”*
*”Covid faz custo de frete para a China disparar”*

*”Com margem apertada, indústria enfrenta pressão de custos”*
*”Ministro vê greve de caminhoneiros ‘fraca’”*

 

CAPA – Manchete principal: *”Magalu amplia crédito rural e disputa mercado com bancos”*

*”Fala de ministro acirra polêmica na véspera de ato dos caminhoneiros”*

*”Americanos propõem plano para a Amazônia”* - Um grupo de ex-ministros e negociadores que lideraram a diplomacia climática americana nas últimas quatro décadas enviou ao presidente Joe Biden um plano de proteção à Amazônia baseado na proposta de campanha de mobilizar globalmente US$ 20 bilhões para conservar a floresta. Dizem que a abordagem deve ser construtiva e respeitar os interesses do Brasil, ao mesmo tempo em que o desempenho brasileiro em combater a ilegalidade e reduzir o desmatamento deva ser considerado em decisões como a entrada do país na OCDE, a venda de artigos militares e em acordos comerciais. Assinam a carta e a proposta a Biden funcionários do alto escalão de governos passados, tanto republicanos quanto democratas. Um deles é Todd Stern, negociador-chefe do governo Barack Obama e um dos artífices do Acordo de Paris. Outro é William Reilly, chefe da agência ambiental americana (EPA) na gestão Bush, durante a negociação das convenções de clima, biodiversidade e desertificação na Rio 92. Também faz parte do grupo Bruce Babbit, ex-ministro do Interior da gestão Clinton.
“Precisamos engajar o Brasil construtivamente no espírito da amizade, com novos incentivos econômicos”, dizem os signatários. “Ao mesmo tempo, o governo deve agir de forma decisiva para reduzir a demanda global por bens que impulsionam o desmatamento e causam danos ao clima. É razoável e legítimo levar em conta o desempenho do Brasil nessas prioridades ao considerar as políticas dos EUA relacionadas ao Brasil, incluindo a adesão à OCDE, futuras vendas militares, novos acordos comerciais e muito mais.”
“O presidente Biden colocou a proteção climática como alta prioridade de seu governo, mas não conseguiremos combater a mudança do clima se não tivermos políticas que ajudem a preservar as florestas tropicais”, disse ao Valor Frank Loy, subsecretário de Estado para Assuntos Globais e negociador-chefe para mudança climática durante o governo de Bill Clinton. “O segundo ponto da proposta é respeitar a soberania dos países que têm florestas”, ressaltou Loy. “O terceiro é estabelecer os passos possíveis para que países como o Brasil, que têm florestas, participarem de um esforço internacional e se beneficiarem com novos mecanismos financeiros, acordos comerciais e programas desenvolvidos por agências de cooperação ou bancos multilaterais na construção de políticas climáticas”. O plano de proteção à Amazônia do grupo que se denomina “Climate Principals” tem quatro pilares: mobilizar novos recursos públicos e privados, tornar o comércio dos EUA “forest friendly” (sem causar danos), limpar as cadeias de produtos da floresta da ilegalidade e desmatamento e promover uma diplomacia “robusta”.
A proposta diz que “um número crescente de empresas enxergam investimentos na Amazônia “e em outras florestas tropicais ricas em carbono como uma parte fundamental de seus planos climáticos”. A intenção é convidar CEOs de grandes empresas americanas para uma cúpula na Casa Branca e garantir compromissos de financiar “pelo menos, a redução de um bilhão de toneladas de gases-estufa na Amazônia por volta de 2025”. Outro item é convencer o Congresso a alocar à Amazônia e outras florestas tropicais 5% de quaisquer novas receitas geradas a partir de taxas de carbono e taxas decombustíveis, se adotadas. “Somos um grupo bipartidário”, diz a carta. “O Congresso e o povo americano têm longa história de apoio à conservação da Amazônia.” Em um trecho, a carta é enigmática: “Enquanto alguns governos da região, incluindo o Brasil, podem ter diferentes objetivos climáticos, há muitas oportunidades para uma colaboração mútua benéfica”. Segue: “Quando o consenso se mostrar ilusório, sua administração precisará trabalhar com aliados para criar novos incentivos e desincentivos para defender os interesses vitais dos EUA”.
“Os esforços para proteger a Amazônia devem beneficiar países, comunidades e as pessoas da região que dependem da floresta, contribuindo para o seu desenvolvimento sustentável”, dizem.

*”China vai voltar ao ritmo pré-covid, diz economista”* - Para Livio Ribeiro, Brasil desperdiça “oportunidade de ouro” ao não aproveitar vácuo deixado no país asiático por nações como Austrália

*”Economistas versus operadores no Copom”* - Os membros do Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco central estão divididos sobre quando começar a retirar o estímulo monetário extraordinário injetado na economia na pandemia. Dependendo de quem ganhar a disputa, os juros básicos, hoje em 2% ao ano, podem começar a subir já no mês que vem - ou o aperto poderá ficar para mais adiante, em maio ou mesmo apenas no segundo semestre. De um lado, estão os chamados “operadores”, como são conhecidos os membros do Copom que vieram das mesas que fecham negócios no mercado financeiro. Eles defendem olhar mais dados econômicos sobre a pandemia, a atividade econômica e a política fiscal antes de decidir os próximos passos. Na última reunião do Copom, há duas semanas, foram vitoriosos. O líder dos “operadores” é o presidente do BC, Roberto Campos Neto, que antes de assumir o cargo era responsável pela tesouraria global para as Américas do Santander. Outro membro é diretor de política monetária do BC, Bruno Serra Fernandes, que foi o sênior vice-presidente responsável pela mesa de renda fixa do Itaú Unibanco. Por serem menos inclinados a retirar estímulos, formam a chamada ala “dovish”, expressão em inglês que deriva da palavra pombo.
O grupo conservador é formado pelos “economistas” do Banco Central, assim chamados por suas credenciais acadêmicas. São três membros ou mais do Copom, e o único nome conhecido é o do diretor de política econômica do Banco Central, Fabio Kanczuk, que foi economista de consultorias e instituições financeiras. Eles defendem, basicamente, que os estímulos monetários injetados na economia no início da pandemia já cumpriram seus objetivos de evitar uma queda muito forte da inflação e a desancoragem das expectativas de inflação do mercado. São a ala “hawk” (em inglês, falcão), neste momento inclinada a subir os juros básicos. A divisão foi comunicada pelo próprio Copom em ata da semana passada. Já a descrição dessas duas alas - economistas e operadores - feita por Kanczuk, que conversou com 28 representantes do mercado em cinco reuniões. Não se trata, propriamente, de um racha no Copom, nem que operadores sejam sempre “dovish” e economistas, “hawk”. Até fins de dezembro, Kanczuk estava muito convicto de que os juros baixos, em 2% ao ano, poderiam vigorar por muito tempo. No começo do ano passado, os operadores estavam cautelosos em dar estímulos monetários muito fortes, receando uma reação negativa dos mercados.
As divisões entre os membros do Copom são comuns e fazem parte das discussões sobre política monetária. O BC, desde o ano passado, passou a detalhar mais as visões sobre tópicos discutidos, e não apenas a decisão final sobre os juros. Essa atitude mais transparente causou ruídos no mercado, que achou que o fato de alguns membros do Copom terem defendido uma sinalização explícita de alta de juros para março seria um compromisso de que, de fato, o BC vai subir os juros em março. Os membros do Copom também passaram a expressar, nas suas conversas com o mercado, as suas próprias visões. O modelo é um pouco inspirado nos Estados Unidos, onde os integrantes do Federal Reserve (Fed) dizem o que pensam. O mercado lê a inclinação do comitê de acordo com o que fala cada um. O grupo de economistas acha que o estímulo monetário extraordinário cumpriu o seu papel. Quando decidiu que seria preciso agir grande, em maio passado, a inflação projetada para 2020 era de apenas 1,6%, bem abaixo do piso da meta, de 2,5%. O ano terminou com 4,52%, acima do centro da meta, de 4%. Os economistas, então, esperavam uma recessão de 6,5% no ano passado, que deverá ser menos intensa, de 4,3%, segundo as estimativas mais recentes. As expectativas de inflação estavam caindo abaixo da meta e, hoje, estão reancoradas. Eles querem que o BC comece a levar os juros de volta aos 4,25% ao ano de antes da pandemia. Ainda assim, o juro real ficará em menos de 1% e seguirá estimulando a economia.
Já os operadores concordaram com o início do fim dos estímulos, o que foi feito como fim do “forward guidance”, que era a promessa de não subir os juros tão cedo. Mas querem ver mais dados antes de prosseguir. Campos Neto, num evento público, colocou-se no lado mais otimista sobre a segunda onda da pandemia. “Sei que tem novas cepas [do vírus], tem muita gente que vive de puxar um pouco para o lado pessimista”, disse, ponderando que “há uma luz no fim do túnel, embora não se saiba o tamanho do túnel”, com a vacinação dos mais idosos. De qualquer forma, reconheceu, é preciso ver como a pandemia vai pesar na economia neste primeiro trimestre - que, segundo ele, já está sofrendo com a retirada dos estímulos fiscais feitos no ano passado, como o auxílio emergencial. As duas alas do Copom discordam sobre o grau de ociosidade do mercado de trabalho, com os economistas apontando aumento no emprego com registro em carteira e os operadores olhando dados de emprego mais amplos, incluindo informais. Nenhum desses dados, porém, é perfeito. As demissões no mercado formal, por exemplo, podem estar represadas com a medida que reduziu a jornada em troca de garantia do emprego.
O ponto central na controvérsia, entretanto, é a visão de operadores e economistas do BC sobre a política fiscal. “O fiscal é o que vai dar o campo de manobra para o Banco Central agir na política monetária”, disse Campos Neto. Os economistas veem a política fiscal como um risco contínuo - a cada dia que as chances de descontrole das contas publicas aumentam, piora o cenário inflacionário, e o BC deve reagir já. Os operadores enxergam um risco discreto, ou binário, em que o fiscal pode tanto ir para o brejo quanto ir a um bom caminho. O presidente do BC tem manifestado esperanças. “Achamos que temos uma janela de oportunidade depois da eleição da [presidência da] Câmara para apresentar um grupo de reformas”, afirmou. “O ministro [da Economia] Paulo Guedes tem falado sobre isso. Acho claramente pode levar a uma saída.”

*”Com ‘efeito-auxílio’, Estados veem alta de até 20% no ICMS”* - Poupança do benefício e isolamento social baixo ajudam cofres estaduais neste início de ano

*”Previdência de servidor e militar sente efeito de reforma e déficit recua”* - Na contramão, regime dos trabalhadores da iniciativa vê aumento no saldo negativo de mais de R$ 40 bi

*”Regime de cidades menores tem alta maior de ativos”* - Pequenos e médios municípios estão se saindo melhor que as capitais e os Estados na hora de obter recursos previdenciários

*”Governo economiza R$ 3 bi com ‘home office’”* - Com trabalho remoto, gasto estatal com energia e material de escritório, por exemplo, é reduzido

*”Brasil não pode replicar fórmula fiscal dos EUA, diz Bacha”* - Economista reproduz estudo americano e afirma que respiro no Brasil não deve durar muito tempo

*”Perda de imunidade pode explicar caos em Manaus e é ameaça ao resto do país”* - Hipótese é levantada em artigo por 23 pesquisadores de Brasil, EUA e Reino Unido

*”Contaminação agora atinge famílias inteiras”* - Médica da linha de frente em Manaus relata a mudança do perfil dos novos casos de covid-19, com famílias inteiras sendo atingidos assim como muitos jovens

*”Brasil vai receber 35% do lote inicial da Covax”* - Brasil deve receber no primeiro trimestre de 25% a 35% do lote incial da Covax

*”Ação pede que mais índios sejam vacinados”* - Entidade que representa o movimento indígena nacional pede que índios nas cidades e em terras não demarcadas também estejam no plano prioritário de vacinação do governo

*”Bolsonaro tenta limitar alcance de reforma ministerial e preservar Economia e MDR”* - É provavel a entrada do Republicanos no Ministério

*”Gilmar quer apressar decisão sobre suspeição de Moro”* - Com a falta de perspectivas sobre o fim da pandemia, momento em que o Supremo Tribunal Federal (STF) deve voltar a se reunir presencialmente, o ministro Gilmar Mendes já admite julgar por videoconferência - e ainda no primeiro semestre - o habeas corpus (HC) que trata sobre a suspeição do ex-juiz Sergio Moro nas ações envolvendo o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Até o fim do ano passado, o discurso de Gilmar era o de que o tema exigiria sessões presenciais da Segunda Turma, por ser delicado e complexo demais para ser examinado à distância. As incertezas sobre o calendário de vacinação contra a covid-19, porém, levaram o ministro a ponderar. As novas mensagens trocadas entre Moro e o procurador Deltan Dallagnol, ex-coordenador da força-tarefa da Operação Lava-Jato em Curitiba, trazem um novo elemento a reforçar a necessidade de dar um desfecho ao caso, segundo fontes do STF relataram ao Valor. As conversas mantidas pelo aplicativo Telegram, apreendidas no âmbito da Operação Spoofing, indicam que ambos combinaram atos e procedimentos relacionados ao oferecimento de uma denúncia contra Lula. Pela lei, Poder Judiciário e Ministério Público (MP) devem atuar de forma independente, sob pena de violar o devido processo legal.
Esse é o principal argumento da defesa de Lula, que pede Supremo a anulação de todos os atos de Moro contra o ex-presidente, por falta de imparcialidade do então magistrado. O HC chegou ao tribunal em 2018. À época, a alegação era a de que o ex-juiz perseguia o ex-presidente, divulgando interceptações telefônicas ilegais e determinando a sua condução coercitiva sem que ele tivesse se negado a prestar depoimento. A tese ganhou força quando Moro assumiu o cargo de ministro da Justiça no governo de Jair Bolsonaro e, depois, com o ataque hacker que originou a “Vaza-Jato”. No início do julgamento do HC, os ministros Edson Fachin (relator) e Cármen Lúcia votaram contra a suspeição. Em seguida, Gilmar pediu mais tempo para analisar o caso. Como presidente da Segunda Turma, cabe a ele próprio administrar a pauta. De lá para cá, os posicionamentos do colegiado em questões semelhantes têm sido desfavoráveis a Moro. Em agosto de 2020, por exemplo, a Turma excluiu a delação do ex-ministro Antonio Palocci de uma ação penal em que Lula é réu. Os ministros entenderam que o ex-juiz quis criar um “fato político”, às vésperas das eleições presidenciais, ao adicionar aos autos uma colaboração que já estava homologada havia três meses. Em outra decisão, os ministros anularam sentença de Moro contra um doleiro do caso Banestado, por considerar que o então juiz atuou como auxiliar do MP, participando da produção de provas e juntando, por iniciativa própria, documentos que ele acabou usando na condenação.
Nos dois casos, os resultados favoráveis a Lula vieram de empates, já que o então ministro Celso de Mello estava de licença médica. Porém, o ministro Nunes Marques, que o substituiu após a aposentadoria, costuma integrar a corrente de Gilmar, cujos votos têm sido críticos a certas condutas da Lava-Jato.

*”Dinheiro na mão é vendaval”* - Do ponto de vista eleitoral, auxílio emergencial foi efêmero

*”Eleição na Câmara define agenda até 2023”* - Arthur Lira deve dar prioridade para a reforma administrativa e pode pautar temas de costumes

*”Com expectativa de ter 60 votos, Pacheco prioriza PEC emergencial”* - Definição da Mesa Diretora deve ser concluída na terça-feira

*”Pauta econômica terá dificuldade para avançar, diz pesquisadora”* - Especialista em tributos vê com ceticismo capacidade de Bolsonatro em fazer reformas

*”Emendas do Turismo crescem 372% na pandemia”* - A queda de braço entre Congresso e Guedes está contratada, especialmente se confirmada a vitória de Lira

*”Chinesa Spic entra no complexo termelétrico do Porto do Açu”* - Chinesa Spic assume 33% do complexo termelétrico do Porto do Açu, em São João da Barra (RJ)

*”Restrição em Belo Monte pode custar até R$ 10 bi”* - Ibama determinou menor uso de água do Rio Xingu pela usina

*”Chapchap diz que compra privada de vacina é indefensável”* - Hospital Sírio-Libanês afirma em parecer que iniciativa altera preço e disponibilidade do imunizante

*”Vazamento requer ação do governo, diz especialista”* = Agência Nacional de Proteção de Dados informou que investiga o roubo de informações de 223 milhões de brasileiros detectado em janeiro

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