quinta-feira, 4 de fevereiro de 2021

Centrão vence também na Anvisa e ontem o país completou 14 dias com média móvel de mortes acima de mil, com o registro de 1.029 óbitos em 24 horas

 A Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) alterou ontem suas regras para conceder autorização de uso emergencial a vacinas — deixa de ser necessário que o imunizante tenha passado ou esteja passando por testes de fase 3 no Brasil. A decisão beneficia diretamente Sputnik V e Covaxin, produzidas na Rússia e na Índia, respectivamente. E a entrevista coletiva em que a Anvisa anunciou a mudança ainda estava em andamento quando o Ministério da Saúde anunciou que pretende comprar 30 milhões de doses de ambas. O negócio deve ser acertado na sexta-feira. As vacinas podem chegar ainda este mês, mas sua aplicação segue dependendo de uma confirmação final da Anvisa. Produzida pelo laboratório indiano Bharat Biotech, a Covaxin estava sendo negociada inicialmente por empresas privadas. (UOL)

Apesar da mudança de posição na Anvisa, a Covaxin deve fazer testes de fase 3 no Brasil, conduzidos pelo Instituto Albert Einstein. (Estadão)

Pois é... A vacina russa chega ao país devidamente politizada — tem por apelido “vacina do Centrão”. Quem a promove nos corredores palacianos é o ex-deputado Rogério Rosso (PSD), o homem que Eduardo Cunha queria ver como seu sucessor na presidência da Câmara. Rosso nega influência política e atribui a decisão da Anvisa a haver no Brasil uma farmacêutica bem equipada para produzir o imunizante — a União Química, representante aqui do Instituto Gamaleya, da Rússia. (Folha)

Acontece que a União Química, que vem sendo financiada pelo Fundo de Investimentos Diretos da Rússia, pertence a um empresário também com trânsito político: Fernando Marques. Em 2018 ele, no Solidariedade, tentou uma cadeira do Distrito Federal no Senado. Acabou em nono lugar, mas chamou a atenção por ser o candidato mais rico do país, com patrimônio declarado de R$ 668 milhões. (Veja)

Enquanto isso... Chegou no fim da noite de ontem o avião trazendo da China 5,4 mil litros de insumos para o Instituto Butantan produzir a Coronavax. O Brasil deve receber ainda cerca de dez milhões de doses de vacinas da Iniciativa Covax, da OMS. O material chega ao longo do primeiro semestre. (UOL)

Mas a situação segue grave. Ontem o país completou 14 dias com média móvel de mortes acima de mil, com o registro de 1.029 óbitos em 24 horas. (G1)

Com a crise no Amazonas longe de ser controlada, doentes continuam a ser transferidos para outros estados. Ontem, 17 pacientes vindos de Manaus chegaram ao Rio de Janeiro e foram internados no Hospital do Andaraí, na Zona Norte. (Estadão)

E dois colégios em Campinas (SP) suspenderam as aulas presenciais depois de um surto de Covid-19 entre funcionários e alunos. (Folha)

Enquanto isso, cedendo a pressões de comerciantes e alegando queda nas internações, o governador João Doria (PSDB) liberou abertura de comércio nos fins de semana em áreas que estão na fase laranja. (Globo)




Após sete anos de investigações, centenas de processos e prisões de grande repercussão, a força-tarefa da operação Lava-Jato em Curitiba foi oficialmente dissolvida. Quatro ex-integrantes se juntam ao grupo de atuação especial de combate ao crime organizado (Gaeco) local. Outros dez procuradores poderão atuar na operação, de forma eventual, até outubro, enquanto forem sendo devolvidos a suas cidades de origem. (Folha)

A divulgação pelo ministro do STF Ricardo Lewandowski dos diálogos entre o então juiz Sérgio Moro e os procuradores da Lava-Jato criou expectativa nos meios jurídicos de novas revelações que podem afetar outros casos, além do julgamento do ex-presidente Lula. É a primeira vez que o material é conhecido na íntegra. (Folha)

E a própria mulher de Moro, a advogada Rosangela Wolff Moro, pediu ao relator da Lava-Jato no Supremo, Edson Fachin, que revogue a liminar de Lewandowski. Ela alega, entre outras coisas, que os diálogos foram obtidos de forma ilegal. (Estadão)




O clima republicano passou ao largo da solenidade de abertura do ano legislativo no Congresso Nacional. Pela primeira vez desde que foi eleito, o presidente Jair Bolsonaro compareceu. E foi recebido com hostilidade. Antes de discursar, foi chamado de “genocida” e “fascista” por integrantes da oposição, e respondeu com “nos vemos em 2022”. Já no discurso, pediu reformas e defendeu uma ação “coordenada, integrada, harmônica”. (G1)

Tales Faria: “Nunca antes na história do Brasil os presidentes da Câmara e do Senado assumiram seus postos assinando uma Carta compromisso em que, na prática, anunciaram que o Congresso comandará a política do país. Foi o que Arthur Lira (PP-AL) e Rodrigo Pacheco (DEM-MG) fizeram nesta quarta-feira. Não foi uma declaração de guerra, e sim um anúncio de boa vontade em relação aos poderes Judiciário e Executivo. Mas também foi um recado de independência enviado ao presidente Jair Bolsonaro e ao ministro da Economia, Paulo Guedes: vocês não vão comandar a política do país. Os dois deram uma primeira demonstração de habilidade política: acenaram para a oposição com a independência do Congresso e, para o governo, com boa vontade. Mas deixaram ambos os lados desconfiados.” (UOL)

E terminou a novela da composição da Mesa Diretora da Câmara. Aliado do presidente Arthur Lira (PP-AL), Marcelo Ramos (PL-AM) foi eleito primeiro vice-presidente, enquanto a segunda vice-presidência coube a André de Paula (PSD-PE), consolidando o domínio do centrão. O PT ficou com a segunda secretaria, mas não como queria. O candidato oficial do partido, João Daniel (SE), foi derrotado por Marília Arraes (PE).

Partidos já estão se articulando para barrar a escolha de Bia Kicis (PSL-DF) para presidir a Comissão de Constituição e Justiça (CCJ) da Câmara. Bolsonarista radical e negacionista da Covid, ela é investigada do STF por atos antidemocráticos. (Globo)

Aliás... Ministros do Supremo já mandaram recado. Kicis no comando da CCJ seria vista como uma declaração de guerra à Corte. (CNN Brasil)




Depois de chegar a uma aprovação de 55% em setembro na Região Nordeste, Bolsonaro viu o índice desabar para 29% no início de fevereiro, segundo pesquisa do PoderData. O principal motivo seria o fim do auxílio emergencial. (Poder 360)




O YouTube baniu na noite de quarta-feira o canal bolsonarista Terça Livre por repetidas violações das regras da plataforma. Seu principal representante, Allan dos Santos, é investigado no STF no inquérito das fake news. A justificativa do banimento foi a divulgação de notícias falsas sobre as eleições dos EUA e o apoio a grupos violentos. Santos havia criado um canal alternativo para burlar as punições, mas este também foi banido. Recentemente, as principais plataformas de pagamento haviam também suspendido seu uso pelo canal. (Folha)




O presidente dos EUA, Joe Biden, está analisando um relatório que recomenda a suspensão de acordos comerciais com o governo Bolsonaro. Elaborado por professores de dez universidades e por ONGs e revisado por parlamentares americanos, o texto de 31 páginas recomenda que sejam restritas importações de madeira, soja e carne do Brasil. (BBC Brasil)




Com a centro-direita ainda tonta pela surra que levou do Centrão, a centro-esquerda se articula. Cidadania (ex-PPS, ex-PCB), Rede Sustentabilidade e Partido Verde estariam estudando uma fusão que os livraria da cláusula de barreira e ainda poderia servir de legenda para Luciano Huck. Daniel Coelho, vice-líder do Cidadania na Câmara, acha que fusão criaria um partido “antenado com o futuro”, e o ex-candidato ao Planalto pelo PV Eduardo Jorge defende que a união das legendas “já está atrasada”. Mas a formação deste partido, de corte liberal-social, depende ainda da Rede. Porta-voz da sigla de Marina Silva, Pedro Ivo afirmou que “não há chance alguma” para a fusão. (Antagonista)




Meio em vídeo. O que são os crimes de responsabilidades que podem levar ao impeachment e quais deles Jair Bolsonaro já cometeu? Descubra no Meio Explica desta semana, no YouTube.

Nenhum comentário:

Postar um comentário