Pelo menos oito grandes jornais brasileiros publicaram nesta terça um informe publicitário que não tem outro nome: é um ataque direto à vida. O "Manifesto pela vida", como este aí em cima do Estado de Minas, saiu também nos seguintes veículos: Folha de S.Paulo, O Globo, Jornal do Commercio, Correio Braziliense, O Povo, Zero Hora e Jornal Correio. É um texto em que médicos negacionistas defendem um suposto "tratamento precoce" contra a covid-19.
Antes de qualquer coisa, é preciso repetir em alto e bom som: não existe tratamento precoce contra a doença causada pelo coronavírus. Não existe protocolo, ou qualquer substância que previna a enfermidade. Tratamento para a covid-19 é uso de máscara, distanciamento social e vacina!
É escandaloso que no momento histórico em que vivemos, com o avanço vigoroso da extrema direita, que jornais, aqueles que deveriam ser a arena do interesse público por excelência, deem espaço para profissionais de saúde mentirem em troca de dinheiro. Quanto será que custou o espaço publicitário de meio página? Qual o preço da desinformação da população e das vidas que perderemos em consequência dela? Por quanto é possível comprar a credibilidade de um jornal para botar a vida de todos em risco num país que está sob constante ameaça de golpistas, é governado por um sujeito que ignorou a pandemia e que sabota a vacinação?
Não é de hoje que o Intercept lembra algo que deveria ser óbvio: não é da imprensa tradicional que virá a energia que precisamos para nos opor às mentiras e violações de direitos turbinadas pelo bolsonarismo. Precisamos sim defender a liberdade de expressão frente aos arroubos autoritários do ex-capitão. Precisamos também defender a pluralidade de veículos e o trabalho de diversos jornalistas sérios que estão nas grandes empresas. Mas não podemos esperar muito da direção dessas empresas. Pagando bem, não tenha dúvida, elas estão com as portas abertas para os responsáveis pelo desmonte do país.
É insuficiente uma defesa genérica da imprensa em nome do combate à desinformação e contra a extrema direita. Os donos do poder da mídia, afinal, precisam ser responsabilizados. Não vamos esquecer dos tantos momentos que usaram a sua posição privilegiada para permitir a naturalização do absurdo – ou quando lavaram as mãos, exatamente como ocorreu hoje. Quem realmente precisa da nossa defesa é o jornalista do front, aquele que não se ajoelha diante das intimidações e abusos.
O Intercept não vende espaço publicitário, não tem patrocínio de marcas de margarina ou de médicos negacionistas. O Intercept não dá palco para os inimigos da população em troca de dinheiro. Lembre-se disso sempre que eles perguntarem "como chegamos até aqui?".
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