quarta-feira, 3 de fevereiro de 2021

Análise de Mídia - 03/02/2021

 

DOS JORNAIS DE HOJE: As capas dos jornais chamam atenção para notícias diferentes embora o conteúdo geral dos noticiários seja muito semelhante. As manchetes mostram também a linha ideológica dos jornais que não gostam do bolsonarismo, mas adoram a agenda de “choque neoliberal” no Brasil e o mercado financeiro. A Folha nuncia que segundo os bancos, o Brasil tem a pior situação para rolagem da dívida entre os emergentes. O Globo escancara a discordância do bolsonarismo ao dizer Arthur Lira “entrega” a principal comissão da Câmara para uma parlamentar investigada por fake news. O Estadão expressa o seu ódio à máquina estatal ao colocar na capa o resumo de um relatório confeccionado pelo Ministério da Economia que elenca benefícios que as estatais concedem aos seus funcionários e que são vistos como regalias. Já o Valor Econômico aborda a oferta de ações na Bolsa de Valores.
O noticiário político aborda as negociações para composição das Mesas Diretoras do Congresso Nacional. Embora não tenham estampado em suas capas como o Globo, todos os jornais noticiaram em tom crítico a nomeação de Bia Kicis para a presidência da CCJ. Além disso, os jornais publicam reportagens sobre possibilidades de estratégia do governo para realizar uma reforma ministerial e não ficar refém do centrão – algo muito difícil.
Ainda sobre a conjuntura em Brasília, os jornais publicam artigos de especialistas que tentam avaliar como vai ser a relação do governo com o Centrão. Há quem diga que Lira quer entregar o Centrão unificado para Bolsonaro em 2022, mas também existem outros analistas que pensam na possibilidade Lira ser mais problemático para Paulo Guedes do que era Rodrigo Maia. Aliás, os jornais cobram a implementação da agenda liberal de Paulo Guedes tanto em editoriais como em reportagens. São publicadas ainda reportagens sobre o futuro de Rodrigo Maia (nada concreto) e o racha no PSDB que afeta João Doria. O ex-presidente FHC concedeu entrevista ao Estadão fazendo uma avaliação sobre o momento do seu partido. Vale mencionar ainda que a Folha informa que o Itamaraty publicou nota sem repudiar o golpe militar em Mianmar. O jornal também informa sobre as declarações de Ernesto Araújo que defendeu a postura de Jair Bolsonaro com relação à imprensa.
O Estadão publica reportagem sobre um estudo realizado pela Universidade de Oxford sobre a produção de notícias falsas no Brasil. Pesquisadores afirmam existir uma tropa cibernética para produção de fake news. Mercenários talvez fosse um termo mais adequado. Já o Valor Econômico informa sobre a restrição do governo a equipamentos da Huawei na implementação da rede fechada que será utilizada pelos Três Poderes. O jornal ainda informa sobre a absolvição do Conselho da Petrobrás durante o governo Dilma pela CVM em um processo relacionado à prática de preços da estatal.

 

CAPA – Manchete principal: *”País tem pior situação para rolar dívida, dizem bancos”*

EDITORIAL DA FOLHA - *”Centrão no comando”*: As vitórias de Rodrigo Pacheco (DEM-MG) e sobretudo de Arthur Lira (PP-AL) para as presidências, respectivamente, do Senado e da Câmara consolidam a ascendência do centrão na política federal. Essa geleia geral de legendas —com poucas ideias e muito apetite por cargos e verbas— selou um pacto de ocasião com um presidente acossado pelo risco de impeachment. Jair Bolsonaro, por seu turno, consumou o estelionato eleitoral ao despir-se dos últimos fiapos do disfarce de vingador da política que vestiu em 2018. Enganou apenas quem não acompanhou seus sete mandatos como deputado federal especializado na arraia-miúda das transações parlamentares. Não deixa de ser uma evolução positiva, contudo, o presidente ter deixado de atiçar quarteladas e escaramuças com outros Poderes e passado a fazer política, ainda que no modo rebaixado que lhe restou. A nota preocupante nessa acomodação de interesses e interessados diz respeito ao equilíbrio institucional. Desaparece das presidências do Congresso, pelo menos enquanto o butim prometido pelo Planalto estiver sendo entregue, a disposição de confrontar investidas autoritárias de Bolsonaro. O provável enfraquecimento do contrapeso legislativo vai requerer de outras instâncias de controle, em especial do Supremo Tribunal Federal, uma vigilância ainda mais atenta. Aumentam as chances de novos desafios contra a marcha civilizatória nos próximos meses.
O correr do tempo vai responder às dúvidas sobre o tamanho real da força parlamentar do governismo e sobre o que o presidente da República deseja fazer com ela além de se proteger da deposição. A perspectiva para a renda e o emprego das vultosas parcelas mais pobres da população é de acentuada deterioração. Qualquer remédio que não inclua impor derrotas a grupos privilegiados pelos orçamentos e as regras públicas vai resultar em desconfiança e inflação. No combate à pandemia, o horizonte não é menos carregado. Meses de incúria e falseamento da realidade por Bolsonaro deixaram o país de joelhos diante do vírus, com precária capacidade de vacinação. Ter-se associado a chapas vencedoras na Câmara e no Senado não dota o governo de uma súbita competência ou de uma instantânea disposição para enfrentar essas batalhas cruciais. Pelo contrário, o respaldo de maiorias legislativas acaba com desculpas esfarrapadas de que o presidente não pode fazer nada contra as crises. Talvez ele não queira fazer nada. Talvez ele não saiba como extrair bem-estar para a população brasileira do imenso e ubíquo aparato do Executivo federal. Nesse caso, as vitórias no Congresso vão no máximo adiar a prestação de contas.

FREI BETTO - *”Volta às aulas”*: Desde a Segunda Guerra Mundial não se tem notícia de que alunos e professores se viram obrigados a ficar retidos em casa por tão longo tempo. A Unesco informa que a pandemia afetou mais de 1,5 bilhão de estudantes em 188 países. Na América Latina, 160 milhões. O sistema escolar não estava preparado para lidar com o isolamento social. A educação teve que se deslocar do universo presencial ao virtual. E recorrer a novas ferramentas tecnológicas que permitem o ensino a distância. O deslocamento afetou principalmente estudantes sem acesso às novas tecnologias. Para muitos jovens, o ensino remoto carece de incentivo, o que provoca evasão escolar. Os adolescentes, por ficar em casa, se tornam mais vulneráveis à violência doméstica e, no caso das mulheres, à gravidez precoce. O ensino remoto restringe a interação entre professor e aluno. A casa, muitas vezes de espaço reduzido, devido ao número de pessoas que a habitam, virou sala de aula. Espaço nem sempre propício à atenção e à concentração exigidas. Isso se agrava quando se trata de alunos da educação infantil e do ensino fundamental. Dificulta a aquisição de habilidades básicas, como ler e escrever. Essa interrupção da aprendizagem também prejudica alunos em fase de conclusão do curso, ansiosos pela inserção no mercado de trabalho.
A desigualdade social influi no acesso às tecnologias de comunicação. No Brasil, apenas 57% da população possui computador capaz de rodar programas atuais. E 30% das moradias não têm acesso à internet, indispensável ao ensino remoto (IBGE / Pesquisa TIC Domicílio, 2018). Daí a importância de a escola disponibilizar videoaulas que, inclusive, deveriam ser transmitidas por emissoras de TV e acompanhadas de material impresso. Não teremos mais aquela escola anterior à pandemia. Agora, não se trata de repor aulas, e sim ressignificar a educação bimodal. Mas nossos sistemas de ensino são resistentes a mudanças. O ensino remoto veio para ser incorporado, o que torna os alunos mais responsáveis por seu processo de aprendizagem. Deixam de ser meros alvos das lições do professor e passam a sujeitos da atividade escolar ao organizar a agenda de estudos domésticos e planejar o tempo e o modo de abordar o currículo. Porém, a escola precisa levar em conta a situação familiar em que vivem e as condições de moradia. De certo modo, os alunos passam a ser parceiros do professor na elaboração da grade curricular e na prática pedagógica. O ensino se torna mais personalizado.
Mas nem tudo são luzes. Pesquisas indicam que quase 90% dos professores não tinham experiência de aula remota antes da pandemia. Agora, 82% dão aulas a partir de casa e admitem o aumento das horas de trabalho. E 84% opinam que o envolvimento dos alunos com o aprendizado esmaeceu. A principal dificuldade é o acesso a computadores e à internet. O sistema educacional não pode transferir para o aluno a responsabilidade de possuir computador e ter acesso à internet. Muitos vivem em situação de vulnerabilidade social. Cabe ao sistema assegurar condições adequadas a todos os estudantes para o desempenho das tarefas escolares. A volta às aulas presenciais não deve ocorrer por pressão do poder econômico. E, quando conveniente, nada de improviso. O protocolo deve resultar de amplo debate entre alunos, professores, funcionários, pais de alunos e autoridades sanitárias. A pandemia, em si, virou objeto de estudos. Precisa ser levada à sala de aula e suscitar pesquisas e reflexão sobre equilíbrio ambiental, zoonoses, dignidade, fragilidade da vida humana etc. Uma vez superada pela vacinação, será melhor não encarar a pandemia como hiato em nossas vidas. E precisam ser considerados relevantes os efeitos emocionais, psicológicos e sociais provocados na vida dos alunos e professores, pois muitos foram afetados pela perda de parentes, vítimas da Covid-19, e pelo declínio da renda familiar.

PAINEL - *”Após quase perder cargo, MDB do Senado ameaça retaliar ex-aliados na formação de comissões da Casa”*: O MDB comprou o risco de lançar candidatos simultaneamente na Câmara e no Senado e por pouco não amarga uma tripla derrota. Além de sair perdedor nas duas Casas, viu ruir o acordo que levou parte da bancada a aderir a Rodrigo Pacheco (DEM-MG), o que isolaria o partido da cúpula do Parlamento. Dono da maior bancada do Senado, o partido promete, na formação das comissões, usar seu peso para mostrar o descontentamento com o abandono de antigos aliados. Nesta terça (2), o MDB travou um duelo com o PSD, cada dia mais próximo do governo Jair Bolsonaro, pela vice-presidência do Senado e ganhou com placar apertado de 40 x 33. A vaga tinha sido prometida por Davi Alcolumbre (DEM-AP), que foi criticado nos bastidores: ou quebrou acordo com o MDB, fechado para a eleição de Pacheco, ou vendeu a dois partidos a mesma promessa, que ficou com cara de terreno na lua. Alcolumbre quer presidir a Comissão de Constituição e Justiça do Senado. Membros do MDB agora negam que haja acordo para isso. Durante a votação, um pedido de abertura de CPI para investigar os gastos do governo no combate à pandemia da Covi-19 recolheu 25 assinaturas no plenário, entre as quais a de Eduardo Braga (AM), líder do MDB no Senado, e de Renan Calheiros (AL). Para líderes da sigla, isso reforça que a eleição de Pacheco não significa mar calmo para Bolsonaro no Senado e que o placar de 57 votos favoráveis ao senador na eleição não devem se confundir com uma base de apoio sólida ao presidente da República.

PAINEL - *”Grupo de WhatsApp tem discussão após Kataguiri chamar deputados de tchutchucas do centrão”*: Os ânimos se acirraram em grupo de WhatsApp da Câmara dos Deputados após Kim Kataguiri (DEM-SP) ter chamado os aliados de Jair Bolsonaro de tchutchucas do centrão. Nesta segunda (1°), Arthur Lira (PP-AL), líder do centrão, foi eleito para comandar o Legislativo com o apoio do presidente da República. Em discurso no plenário, Kataguiri chamou Bolsonaro de "verme". "Se estão incomodados de serem chamados de vagabundos, quadrilheiros e corruptos, me processa e ganha na Justiça. Sei que não tem colhão para isso. Tem colhão para ficar falando na internet. Quando chega no plenário é tudo tchutchuca do centrão", disse. Giovani Cherini (PL-RS) então publicou nesta terça no grupo de WhatsApp uma imagem que ironizava os dois votos recebidos por Kataguiri na eleição para a presidência da Câmara: "Um dele, outro do [Rodrigo] Maia". Kataguiri respondeu que não entendia a provocação. Cherini explicou. "Você não é o Joãozinho do passo certo. E os outros são os patinhos feios. Você é um rapaz inteligente, mas joga para a torcida. Mata o pai para defender a mãe... Tudo pela melhor performance na rede social", respondeu Cherini. "O primeiro mal de um ser humano é o julgamento pela exclusão e colocar todo mundo na mesma 'panela'". O parlamentar do PL ainda disse que Bolsonaro havia sido bom para Kataguiri se eleger, mas que agora ele não prestava mais para o líder do MBL. Kataguiri retrucou e disse que só esteve com Bolsonaro no segundo turno, quando ele já havia sido eleito deputado. "Se tem um problema comigo, resolvemos em debate público ou pessoalmente. Indireta em grupo não relacionado ao tema é molecagem", completou. O bolsonarista General Girão (PSL-RN) também se incomodou com o discurso do deputado do DEM. "Apesar de ter entrado no grupo no dia de hoje, quero deixar claro que me solidarizo em relação às ofensas 'espalhadas ao vento' ontem à noite. Faltou respeito. Disso, eu não abro mão. Se não pensou, conseguiu afastar muitos", escreveu.

PAINEL - *”Ataque indireto de vereadora bolsonarista a colegas trans marca 1ª sessão da Câmara de SP em 2021”*: A primeira sessão de 2021 da Câmara Municipal de São Paulo foi marcada por uma fala agressiva da vereadora Sonaira Fernandes (Republicanos) sobre masculinidade e feminilidade, feita na presença de Erika Hilton (PSOL) e de Thammy Miranda (PL), parlamentares transexuais. Ex-funcionária de gabinete de Eduardo Bolsonaro (PSL-SP), Sonaira disse no plenário da Câmara que "a cada dia que passa, a agenda globalista quer desmoralizar a figura do homem. Essa agenda pretende feminilizar o homem e masculinizar as mulheres". "O padrão de masculinidade bíblica não é de um homem machista, de um homem arrogante, não é de um homem agressivo ou ninfomaníaco. É Jesus Cristo de Nazaré, manso, servo, humilde, rei, cabeça, protetor e corajoso", continuou. Enquanto Sonaira falava, o comentário no plenário foi "começou". Ou seja, como esperado desde o resultado das eleições, o ganho de representatividade de vereadores de direita e de esquerda geraria embates no Legislativo municipal.
Após a fala de Sonaira, Erika Hilton pediu a palavra, mas a vice-presidente Rute Costa (PSDB) pediu que ela se pronunciasse na sessão desta quarta-feira (3). "Fui pega de supresa com um ataque tão vexatório e desequilibrado na primeira sessão. Já sabia que aconteceria, pois é dessa forma que agem esses grupos de direita que vivem da espetacularização da política, mas não na primeira sessão", diz Hilton ao Painel. "Achei que foi um ataque a nós, sim, pois éramos os corpos trans que estavam lá, mas mais que isso, a toda a comunidade LGBT. Achei a vereadora desequilibrada emocionalmente, não estava preparada, reproduziu a lógica bolsonarista", completa. Hilton afirma que tentará reagir a ataques do tipo "da forma mais tranquila que conseguir", para não ser usada como trampolim para a visibilidade por seus opositores. "Não vou dar muita ousadia, mas não permitirei que nenhum grupo social seja agredido dentro de uma casa legislativa. Se esses vereadores nao compreenderem o papel de um vereador, terei que fazer o papel de professora", conclui.

PAINEL - *”Na contramão de tendência nacional, Prefeitura de Ilhabela decide comprar 'kit Covid'”*
PAINEL - *”Ex-secretário de Covas que comandou reforma do Anhangabaú assumirá Fundo Social de SP”*

*”Lira cede, chega a acordo com oposição e coloca PT e PSDB na mesa de comando da Câmara”* - Menos de 24 horas depois de rebaixar o PT e retirar outros adversários da mesa de comando da Câmara, o novo presidente da Casa, deputado Arthur Lira (PP-AL), recuou e cedeu cargos à oposição para evitar o bloqueio de pautas. A Mesa Diretora é o colegiado que forma a cúpula da Câmara e, juntamente com o presidente, é responsável por todas as decisões administrativas, e algumas políticas, da Casa. A decisão, antecipada pela Folha, foi tomada após reunião no colégio de líderes partidários realizada no final da tarde desta terça-feira (2). A demora em chegar a uma solução que agrade a todos os lados fez com que a eleição para os cargos, que ocorreria nesta terça, fosse adiada para esta quarta-feira (3), às 10h. O acordo fechado mantém o PL na 1ª vice-presidência da Câmara, com o deputado Marcelo Ramos (AM). A 2ª vice-presidência continua com o PSD, ocupada pelo deputado André de Paula (PE). Seu colega de partido, Éder Mauro (PA), lançou candidatura avulsa, mas não deve prosperar.
As mudanças ocorreram nas secretarias. A cúpula da Câmara é formada pela presidência, 1ª e 2ª vice-presidências, 1ª, 2ª, 3ª e 4ª secretarias. Esses cargos são distribuídos proporcionalmente ao tamanho dos blocos formados para a disputa da presidência. O 1º vice-presidente da Câmara fica responsável por analisar os requerimentos de informação a outros órgãos do poder público. O 2º vice avalia pedidos de reembolso de despesas médico-hospitalares dos deputados e também atua como uma ponte institucional com os Legislativos estaduais e municipais. Já o 1º secretário, espécie de "prefeito da Câmara", fica a cargo dos serviços administrativos. O 2º tem como função cuidar das relações internacionais da Casa, o que inclui a emissão de passaportes para os deputados e o estágio universitário. O 3º secretário analisa requerimentos de licença e justificativas de falta apresentados por parlamentes e também é responsável pela autorização prévia de reembolso de despesas com passagens aéreas internacionais. Por fim, o 4º secretário monitora o sistema habitacional da Casa.
Pelo acordo, a 1ª secretaria ficou com o PSL. O indicado para ocupar a vaga é o presidente nacional do partido, Luciano Bivar (PE) —aliado do ex-presidente da Casa Rodrigo Maia (DEM-RJ) e desafeto do presidente Jair Bolsonaro (ex-PSL, hoje sem partido). Já a 2ª secretaria ficou com o PT, que integrou o bloco de Baleia Rossi (MDB-SP), outro aliado de Maia, na disputa pelo comando da Câmara. Na divisão anterior, os petistas estavam com a 1ª secretaria. O partido indicou oficialmente para ocupar o posto o nome de Marília Arraes (PT-PE), deputada considerada muito alinhada a Lira. Outros dois nomes se inscreveram como candidatos avulsos: Paulo Guedes (MG) e João Daniel (SE). Inicialmente, a 3ª secretaria ficaria com o PSB. No entanto, o PSDB pressionou e conseguiu levar a vaga, que será ocupada por Rose Modesto (MS). O PSB ficou com uma suplência, que será ocupada pro Marcelo Nilo (BA). A 4ª secretaria ficou com o Republicanos, com Rosângela Gomes (RJ). ​Minutos após ser eleito presidente da Câmara em primeiro turno com 302 votos, Lira deixou de lado o discurso de conciliação e baixou ainda na noite de segunda-feira ato excluindo praticamente todos os adversários dos cargos de comando. Sob o argumento de que o PT perdeu por seis minutos o prazo para registrar no sistema eletrônico sua adesão ao bloco de Baleia Rossi, o novo presidente rebaixou o partido do terceiro posto mais importante da Mesa, a 1ª secretaria, para o último, a 4ª secretaria. Já PSDB e Rede, que também integravam o bloco adversário a Lira, perderam os postos a que teriam direito (2ª e 4ª secretarias).
Enquanto Lira comemorava sua vitória com aliados em uma festa, no lago Sul de Brasília, a oposição e integrantes do bloco de Baleia se reuniram até a madrugada desta terça, falaram em golpe e decidiram recorrer ao STF (Supremo Tribunal Federal). O PDT entrou com ação junto à corte contra o ato de Lira. Os pedetistas faziam parte do bloco de apoio a Baleia, candidato derrotado na disputa, com 145 votos. Diante da decisão de Lira de reverter a última medida de Maia, o partido entrou com mandado de segurança pedindo medida liminar de urgência. No documento, o PDT afirma que houve “manifesto descumprimento de uma promessa de campanha e um menoscabo a uma intempérie tecnológica em relação ao sistema de registro das candidaturas, que, conforme atestou-se apresentou problemas técnicos e travou, em ordem a inviabilizar a inclusão na data estabelecida". A liminar busca a imediata suspensão da decisão de Lira que anulou o bloco de Baleia. Nos bastidores, aliados de Baleia aconselharam Lira a buscar o acordo sob o argumento de que a canetada dada na noite de segunda-feira foi um ato de excessivo autoritarismo e pode dificultar em muito sua presidência.
Embora os 211 deputados que não votaram nele sejam minoria, são em número suficiente para dificultar bastante votações e demais trabalhos da Câmara. Além disso, até mesmo aliados de Lira discordaram do ato. "Primeiro ato de Arthur Lira foi dar um golpe na oposição para mandar na Mesa da Câmara. Violência contra a democracia. Mostrou que será um ditador a serviço de Bolsonaro", escreveu em suas redes sociais a deputada Gleisi Hoffmann (PT-PR), presidente nacional da sigla. O líder do MDB, Isnaldo Bulhões, afirmou que Lira fez um discurso exaltando a voz do Parlamento e, "em um ato autoritário", anulou um bloco parlamentar e parte de uma eleição que foi acordada e discutida pelo colégio de líderes. "Isso é inadmissível." Ao discursar após sua vitória na segunda, o deputado do PP afirmou que iniciava a presidência com humildade e prometeu absoluta dedicação ao cargo. "Estou aqui de pé ao lado desta cadeira do presidente ainda vazia, fazendo esse discurso de pé em homenagem a todos os partidos dos que votaram e os que não votaram em mim", disse. "Prometo respeitar como presidente as forças vivas desta Casa Legislativa." Lira afirmou que não se confunde com a cadeira de presidente e que jamais irá se confundir. "Sou um deputado igual a todos, não sou nem serei a cadeira que irei ocupar", disse. Ao longo da campanha, Lira acusava Maia de personalizar a presidência da Câmara.

*”Aliada fiel de Bolsonaro, Bia Kicis vai presidir a CCJ, principal comissão da Câmara”* - Uma das mais fiéis escudeiras do presidente Jair Bolsonaro (sem partido), a deputada Bia Kicis (PSL-DF) foi escolhida pelo novo presidente da Câmara, Arthur Lira (PP-AL), para presidir a CCJ (Comissão de Constituição e Justiça). A CCJ é a principal comissão da Câmara e desempenha papel importante no processo legislativo. É considerada uma vitrine e motivo de status para os deputados por ter entre suas atribuições, por exemplo, a análise da admissibilidade de pedidos de impeachment de presidentes. Bia Kicis é procuradora aposentada e uma das principais defensoras de Bolsonaro na Câmara. Em uma rede social, ela respondeu a uma mensagem que a parabenizava pelo posto. “É uma grande honra para mim e muita responsabilidade para a qual meus 24 anos como procuradora, um ano como 1ª vice-presidente da CCJ e meu amor pelo Brasil me habilitam, com fé em Deus!”, escreveu.
A votação pelos integrantes da CCJ para formalizar a escolha de Kicis ainda não tem previsão para ser realizada. Com a pandemia, os trabalhos nos colegiados estão suspensos. A escolha deve ser feita quando as atividades presenciais voltarem. O último presidente da CCJ foi Felipe Francischini (PSL-PR), que se aliou ao presidente do partido, Luciano Bivar (PE), na briga com Bolsonaro que rachou o PSL.A indicação de Bia fez parte de uma costura de Bivar para ficar com a 1ª secretaria da Câmara, cargo que equivale a uma "prefeitura da Casa". Segundo o acordo, Bia presidiria a CCJ, enquanto o Major VItor Hugo (PSL-GO) passaria a liderar o partido caso concordassem com o nome de Bivar para a 1ª secretaria da Mesa Diretora. Bia costuma acompanhar o presidente Bolsonaro em decisões controversas. Em dezembro, por exemplo, comemorou o fim do lockdown em Manaus. Semanas depois, a cidade registrou picos de casos de Covid-19, e internautas resgataram tuítes da parlamentar para criticá-la. Ela também é uma das bolsonaristas investigadas no inquérito das fake news, que corre no STF (Supremo Tribunal Federal). O então presidente do STF, Dias Toffoli, afirmou à época da abertura da investigação que o inquérito era necessário “considerando a existência de notícias fraudulentas, denunciações caluniosas, ameaças e infrações que atingem a honorabilidade do STF, de seus membros e familiares".

*”Bolsonaro planeja reforma ministerial a conta-gotas para testar fidelidade de centrão”* - Com a vitória de dois aliados para comandar o Senado e a Câmara, o presidente Jair Bolsonaro (sem partido) discute agora fazer uma reforma ministerial a conta-gotas para testar a fidelidade dos partidos do centrão à pauta governista. O presidente ouviu de ministros que participam da articulação politica que, neste primeiro momento, a abertura de um espaço amplo para a base aliada na Esplanada dos Ministérios pode ter efeitos indesejados no futuro. O primeiro deles é o risco de sofrer traições em votações de projetos, já que hoje a ocupação de espaços não está vinculada diretamente à pauta governista. Para evitar surpresas negativas, a estratégia defendida é a de que o presidente só entregue os cargos prometidos após a aprovação de propostas prioritárias. O segundo é a possibilidade de que um pagamento integral da fatura estimule os partidos do centrão a exigir mais espaço no primeiro e no segundo escalões em um futuro próximo, obrigando o presidente a entregar mais cargos do que o pretendido inicialmente.
Para evitar os efeitos colaterais em médio prazo, a ideia avaliada por Bolsonaro é, neste primeiro momento, nomear indicados dos partidos aliados em apenas duas pastas: Cidadania e Desenvolvimento Regional. A primeira seria usada para fazer um aceno à Câmara e a segunda, uma sinalização ao Senado. Na segunda-feira (1º), Rodrigo Pacheco (DEM-MG) e Arthur Lira (PP-PI) venceram com grande vantagem seus adversários no Senado e na Câmara, respectivamente, após intervenção do Palácio do Planalto, que ofereceu emendas e cargos. Apesar das vitórias expressivas, o Planalto ainda não sabe o tamanho real de sua nova base aliada, já que os 302 votos recebidos por Lira e os 57 que elegeram Pacheco não são, necessariamente, de parlamentares bolsonaristas. Para abrir espaço na pasta da Cidadania, como a Folha noticiou no mês passado, a ideia é transferir o ministro Onyx Lorenzoni (DEM) para a Secretaria-Geral, que desde o início do ano está sem ministro efetivo. Para acomodar Onyx, a pasta deve ser desidratada, perdendo o comando da SAJ (Subchefia para Assuntos Jurídicos), que passará a ser vinculada diretamente ao gabinete presidencial.
Para o comando da Cidadania, o favorito é o deputado federal Márcio Marinho (Republicanos-BA), que integra a bancada evangélica e é próximo do presidente nacional do Republicanos, Marcos Pereira (SP). A legenda se alinhou a Lira após indicações de cargos na máquina federal. Marinho foi líder do partido em 2016, quando o Republicanos, na época ainda chamado de PRB, desembarcou do governo Dilma Rousseff (PT) e anunciou apoio ao impeachment da petista. Um dos pontos de discordância alegados era a política econômica. No ano passado, ele defendeu a ampliação do auxílio emergencial para atender também a profissionais do setor cultural, o que sofreu resistência da equipe econômica. O Ministério da Cidadania foi responsável pelo pagamento do auxílio financeiro e cuida do programa Bolsa Família, que, no planos do governo, deve ser reforçado.​ Já o comando de Desenvolvimento Regional foi oferecido ao agora ex-presidente do Senado Davi Alcolumbre (DEM-AP), que recusou o convite. Ele, porém, quer indicar um aliado para o posto. O principal nome avaliado por ele para a posição é o do líder do governo no Congresso, o senador Eduardo Gomes (MDB-TO).
A nomeação dele serviria como uma compensação ao MDB, partido com a maior bancada do Senado, e que, após pressão do Palácio do Planalto, abriu mão do apoio à candidatura da senadora Simone Tebet (MDB-MS) ao comando da Casa. Pela nova estratégia do governo, as demais mudanças em pastas ministeriais ficariam para o segundo trimestre deste ano, período em que o Planalto pretende aprovar a reforma administrativa, formulada pelo ministro da Economia, Paulo Guedes. O segundo pacote de mudanças pode envolver, por exemplo, a recriação do Ministério do Esporte e a alteração no comando da Saúde. Para o primeiro posto, a principal cotada é a deputada federal Celina Leão (PP-DF), aliada de Lira. Para o segundo, é defendido desde o ano passado o nome do líder do governo na Câmara, Ricardo Barros (PP-PR), que foi ministro da pasta durante o governo de Michel Temer (MDB). O nome dele já foi citado em reunião recente promovida na Casa Civil.
Bolsonaro ainda não decidiu se irá recriar a pasta de Indústria e Comércio, desmembrando a estrutura da Economia. Caso ele leve adiante a proposta, mesmo a contragosto de Guedes, a ideia é que ela seja entregue também ao Republicanos. Apesar da pressão pela saída do ministro de Relações Exteriores, Ernesto Araújo, o presidente tem sinalizado que não fará mudanças por ora. Bolsonaro, contudo, não descarta trocá-lo a qualquer momento caso o desgaste da imagem dele se agrave. Para o Itamaraty, três nomes são avaliados, sendo dois embaixadores: André Corrêa do Lago, hoje na Índia, e Nestor Forster, nos EUA. O primeiro é neto do diplomata Oswaldo Aranha e ajudou a destravar o transporte das vacinas da Índia. O segundo tem o apoio do deputado federal Eduardo Bolsonaro (PSL-SP). Com a indicação, além de nomear alguém de sua confiança para o cargo de ministro, o presidente sinalizaria ao governo do novo presidente dos Estados Unidos, Joe Biden, uma mudança de postura ao escolher um novo chanceler.​ Uma terceira opção em análise é o nome do atual secretário de Assuntos Estratégicos, almirante Flávio Rocha. Além de falar cinco idiomas, o militar já foi enviado pelo presidente para missões diplomáticas no Líbano e na Argentina.​

*”Alcolumbre articula líder do PSD no Senado para o ministério”*
ELIO GASPARI – *”O ocaso de Rodrigo Maia”*

*”STF vê risco de impasse sobre situação de Lira em linha sucessória da Presidência”* - Recursos apresentados contra o resultado de dois julgamentos do STF (Supremo Tribunal Federal) reforçam na corte um impasse sobre a condição do deputado Arthur Lira (PP-AL) como substituto eventual do presidente Jair Bolsonaro (sem partido). Lira foi eleito presidente da Câmara para o biênio 2021-2022 nesta segunda-feira (1º). O ocupante do cargo é o segundo na linha sucessória presidencial —o primeiro é o vice-presidente, Hamilton Mourão (PRTB). Uma decisão do STF de 2016 diz que réus em ações penais não podem substituir o presidente e o vice caso os dois se ausentem do país, ainda que estejam liberados para comandar as duas Casas Legislativas federais. O novo presidente da Câmara é alvo de duas denúncias por crimes de corrupção passiva e organização criminosa, resultantes de investigações da Operação Lava Jato. As duas acusações foram julgadas e aceitas pelo Supremo.
No andamento processual, após a denúncia ser aceita, a fase seguinte é a abertura da ação penal. Nela, os acusados passam a ser réus. Mas cabem recursos. E foi justamente o que ocorreu nos dois casos que envolvem Lira. Foram apresentados recursos contra as decisões dos ministros de aceitar as denúncias, adiando a abertura das ações penais. A Folha apurou que há no Supremo uma divisão sobre o momento em que o denunciado passa a receber o tratamento de réu —se a partir do recebimento da denúncia ou se a partir da formalização da ação penal. Para parte dos ministros, uma vez acatada a acusação apresentada pela PGR (Procuradoria-Geral da República), o investigado torna-se automaticamente réu. Outra ala do tribunal, todavia, entende que Lira poderia assumir o Executivo porque seria necessário esgotar os recursos e formalizar a abertura da ação para que ele ficasse impedido. Isso, porém, ainda deve ser discutido pelo STF. A aposta é que partidos de oposição devem acionar o Supremo para que a corte defina se o aliado de Bolsonaro e líder do centrão pode ou não substituí-lo na Presidência da República.
A avaliação interna na corte é que, além da discussão jurídica, o resultado do julgamento dependerá do comportamento que o deputado terá em relação ao Supremo. A maioria dos ministros simpatizava com a atuação de Rodrigo Maia (DEM-RJ), que, enquanto presidente da Câmara, ajudava o STF a impor limites às ofensivas de Bolsonaro contra os demais Poderes. Maia, por exemplo, deu respaldo ao inquérito das fake news em curso no Supremo com a CPMI (comissão parlamentar mista de inquérito) do Congresso que também investigava a atuação da militância bolsonarista nas redes sociais para descredibilizar as instituições. Caso Lira reforce o alinhamento com o chefe do Executivo a ponto de respaldar ataques ao Supremo, a corte não deve enfrentar o julgamento sobre sua situação jurídica com bom humor. Em uma das denúncias aceitas pelo STF, Lira foi acusado de receber R$ 106 mil em propina do ex-presidente da Companhia Brasileira de Trens Urbanos (CBTU) Francisco Colombo em troca de apoio para mantê-lo no cargo.
Em sessão no final de novembro, a Primeira Turma do STF formou maioria para negar recurso do parlamentar de Alagoas. O julgamento foi suspenso após pedido de vista do ministro Dias Toffoli. Ao lado de colegas do PP, o deputado também responde ao inquérito chamado “quadrilhão do PP”, por suposta participação em esquema de desvios da Petrobras. De acordo com a acusação, integrantes da cúpula do partido integrariam uma organização criminosa, com ascendência sobre a diretoria da Petrobras, e que desviava verbas em contratos da estatal. A denúncia foi aceita pela Segunda Turma do Supremo, em junho de 2019, mas a ação penal ainda não começou a tramitar em razão de recursos apresentados pelas defesas dos réus. O criminalista Pierpaolo Bottini, advogado do presidente da Câmara, disse que não há no Supremo uma decisão definitiva sobre o tema. Para ele, a condição de réu não constitui fator impeditivo. “Afastar o parlamentar réu da linha sucessória, por acusação de crime sem relação com o exercício da Presidência da República, é impor medida não prevista em lei”, afirmou. “Se um réu em ação penal tem condições de disputar o cargo de presidente da República pela eleição direta, não há impeditivo para uma pessoa na mesma situação ocupar o posto em linha sucessória.”

*”Ao som de 'É Tarde Demais', Lira celebra vitória com aliados e desafetos de Bolsonaro”*
*”Bolsonaro mente ao afirmar que só 'ficou na torcida' em eleição no Congresso”*
SAÍDA PELA DIREITA - *”Bolsonaristas festejam vitória no Congresso como uma segunda posse para o presidente”*
CONRADO HÜBNER MENDES - *”Crime de responsabilidade? Acho que sim, acho que não”*

*”MDB conquista primeira vice-presidência do Senado e evita crise para Pacheco”* - Mesmo abandonando sua candidatura em troca de cargos, a bancada do MDB no Senado correu o risco de ficar de mãos abanando na composição da Mesa Diretora da Casa e precisou vencer no voto a disputa para obter a 1ª vice-presidência. O resultado representa um alívio também para o novo presidente do Senado, Rodrigo Pacheco (DEM-MG), que poderia enfrentar uma rebelião da bancada emedebista —com 15 senadores, é a maior da Casa. Veneziano Vital do Rêgo (MDB-PB) venceu nesta terça-feira (2) Lucas Barreto (PSD-AP) em uma disputa acirrada por 40 votos a 33. Inicialmente, a eleição seguiria o mesmo formato do pleito da segunda-feira (1º), quando Pacheco foi eleito presidente. Esse modelo previa que o vencedor seria o senador que obtivesse 41 votos, o que corresponde à maioria do Senado. No entanto, nesta terça-feira, Marcos Rogério (DEM-RO) apresentou uma questão de ordem solicitando que fosse vencedor quem obtivesse a maioria simples dos presentes, uma vez que muitos senadores não compareceram para votar. Os dois candidatos concordaram com a alteração e se comprometeram a não judicializar a eleição.
A vice-presidência do Senado se tornou motivo de polêmica, pois havia sido prometida para duas bancadas pelo bloco de Pacheco, cujas articulações foram lideradas por Davi Alcolumbre (DEM-AP), seu antecessor na presidência. Alcolumbre havia feito uma ofensiva ao MDB menos de uma semana antes da eleição para que abrisse mão da candidatura de Simone Tebet (MDB-MS) para apoiar Pacheco. Em reunião com o líder emedebista, Eduardo Braga (MDB-AM), Alcolumbre havia oferecido a primeira vice-presidência, a 2ª secretaria e o comando de duas comissões. Quando as negociações evoluíram, a bancada desembarcou da candidatura de Tebet, que concorreu como independente. Pacheco foi eleito na noite de segunda-feira com um total de 57 votos ante 21 de Tebet. O problema, no entanto, é que a 1ª vice-presidência também havia sido oferecida à bancada do PSD, a segunda maior do Senado, com 11 parlamentares, e apoiadores de primeira hora da candidatura de Pacheco. O candidato do PSD ao posto de vice-presidente era Lucas Barreto, parlamentar do mesmo estado de Alcolumbre e muito próximo ao ex-presidente. Barreto se mostrou irredutível quanto a desistir do cargo.
O MDB, por sua vez, tinha total confiança até segunda-feira de que manteria o cargo. Em reunião da bancada, o partido fechou questão em ocupar a vice-presidência. Após a desistência dos demais candidatos internos, entre eles Eduardo Gomes (MDB-TO), líder do governo Jair Bolsonaro no Congresso, Veneziano saiu como nome da bancada ao posto. Como não houve acordo, o comando da 1ª vice-presidência foi decidida no plenário. Emedebistas ameaçavam o bloco de Pacheco, afirmando que o não respeito às promessas e à proporcionalidade —que garante os principais postos para as maiores bancadas— pode atrapalhar os trabalhos legislativos. Ao chegar para a reunião preparatória, Veneziano afirmou que seria "incompreensível" o MDB ficar fora da composição da Mesa do Senado e que não caberia neste momento ao partido abrir mão de comissões —como a importante CCJ (Comissão de Constituição e Justiça)— em troca da vice-presidência. "Não foram definidas as questões de comissões. A princípio, o que ficou estabelecido, até por um entendimento e uma compreensão bastante óbvia, é de você ter um partido com 15 integrantes e esse estar fora da composição da Mesa é algo incompreensível, até para o próprio melhor funcionamento da Casa", afirmou.
Também antes de chegar à sessão, Pacheco evitou responder se o impasse poderia prejudicar a unidade do bloco que colaborou para sua eleição, afirmando que buscaria um consenso até o último instante. "Está praticamente tudo definido. A eleição da primeira vice-presidência, que ainda há o pleito de dois senadores da República, de dois partidos. E nós vamos ainda até a décima hora buscar uma convergência. Se não for possível, vai para a disputa do voto da primeira vice", afirmou o novo presidente. "É do processo democrático a pretensão e o pleito de se candidatar. Eu próprio me candidatei pelo partido com seis senadores. Mas obviamente nós vamos buscar essa compatibilização para dar todo o prestígio a todos os partidos da Casa, o que temos buscado até o último momento." Os demais cargos da Mesa foram definidos por consenso, com candidaturas únicas para cada um dos postos. O 2º vice-presidente será o senador Romário (Podemos-RJ). A 1ª, 2ª, 3ª e 4ª secretarias ficarão respectivamente com os senadores Irajá (PSD-TO), Elmano Férrer (PP-PI), Rogério Carvalho (PT-SE) e Weverton (PDT-MA). A vitória do candidato do MDB também pode resolver uma outra questão, envolvendo Alcolumbre. O ex-presidente tem planos de ocupar a CCJ, mas que também estava sendo discutida com a bancada do MDB. Se saísse derrotado, o MDB possivelmente voltaria a carga para ficar com o comando da CCJ, deixando o ex-presidente sem nenhuma opção de cargos importantes do Senado.
"Há uma possibilidade de o presidente Davi ser o presidente da CCJ, mas ainda está por definir. Nós vamos ter que decidir com todos os líderes partidários. Vai ser um outro capítulo para poder discutir as comissões temáticas da casa", afirmou Pacheco. Membros da bancada do MDB, no entanto, afirmam que a conquista da 1ª vice-presidência não significa que a bancada abriu mão da CCJ. O Congresso vai realizar nesta quarta-feira (3) a cerimônia de abertura dos trabalhos legislativos. O evento conta com a participação de autoridades dos Três Poderes, mas neste ano não vai haver apresentações militares no exterior por conta da pandemia do novo coronavírus Pela primeira vez desde que assumiu a Presidência, está prevista a ida de Jair Bolsonaro (sem partido) ao Congresso para levar a mensagem presidencial. Nos anos anteriores, Bolsonaro enviou o então ministro da Casa Civil, Onyx Lorenzoni, para fazer a leitura da mensagem. Em 2019, o presidente não compareceu porque se recuperava de uma cirurgia para reconstrução do trânsito intestinal. No ano passado, recuperava-se de uma vasectomia.
A NOVA MESA DIRETORA DO SENADO
Presidência: Rodrigo Pacheco (DEM-MG)
1ª vice-presidência: Veneziano Vital do Rêgo (MDB-PB)
2ª vice-presidência: Romário (Podemos-RJ)
1ª secretaria: Irajá (PSD-TO)
2ª secretaria: Elmano Férrer (PP-PI)
3ª secretaria: Rogério Carvalho (PT-SE)
4ª secretaria: Weverton (PDT-MA)
Suplências (uma das quatro está vaga)
Jorginho Mello (PL-SC)
Luiz do Carmo (MDB-GO)
Eliziane Gama (Cidadania-MA)

*”Inseguro sobre conceito, STF começa a julgar se existe direito ao esquecimento no país”* - O STF (Supremo Tribunal Federal) julgará nesta quarta-feira (3) se existe no Brasil o chamado direito ao esquecimento. A corte irá decidir se a Justiça pode proibir um fato antigo de ser exposto ao público em respeito à privacidade e à intimidade da pessoa envolvida ou se um veto nesse sentido configuraria censura e violaria a liberdade de expressão. O tema é considerado um dos mais relevantes a ser deliberado pelo Supremo nos últimos anos porque estabelecerá um precedente importante em relação à atividade da imprensa e aos limites do direito à informação e do direito à personalidade dos cidadãos. Por causa da complexidade do assunto, no entanto, não está descartado que algum ministro apresente um pedido de vista para ter mais tempo para estudar o processo. O julgamento do caso já teve data marcada mais de uma vez, mas sempre foi retirado de pauta por falta de um consenso mínimo nos bastidores sobre o tema. Um dos temores revelados por ministros do Supremo em conversas reservadas é que a eventual declaração de existência do direito ao esquecimento no Brasil passe a servir para situações distintas e abra brecha para a censura. Esse fato torna o julgamento ainda mais difícil, uma vez que o resultado do caso vai balizar discussões judiciais com objetos variados. Os processos vão desde a correção, remoção ou alteração de uma informação até a solicitação para exclusão de conteúdo em buscadores de internet ou o veto à menção de determinada pessoa em reportagens e documentos. Parte dos ministros já defendeu nos bastidores que é mais correto o Supremo rejeitar o recurso para não haver risco de o caso ser aplicado de maneira equivocada por juízes Brasil afora.
Do outro lado, há quem defenda que o direito à intimidade não pode ser deixado em segundo plano e que também seria arriscado permitir a eternização das informações. Assim, a definição de um conceito com critérios claros para analisar situações concretas poderia ser uma saída. A discussão ocorrerá em um recurso com repercussão geral reconhecida, o que significa que a decisão valerá para todos os processos em curso no país sobre o tema. Ao STF, a ANJ (Associação Nacional dos Jornais) e a Aner (Associação Nacional de Editores de Revista) afirmaram que o reconhecimento do direito ao esquecimento poderia causar uma proliferação de ações de danos morais e desestimular os meios de comunicação a exercer a liberdade de expressão. O caso concreto a ser analisado é um recurso movido por irmãos de Aída Curi, assassinada em 1958 no Rio de Janeiro. O programa Linha Direta, da TV Globo, exibiu, 50 anos depois, um episódio em que reconstituiu o crime. Os familiares dela, que foi violentada e assassinada e cujo caso foi amplamente divulgado pela imprensa à época, pedem uma indenização ao canal de televisão. Eles perderam a causa em todas as instâncias antes de chegar ao STF.
Em 2017, o STF realizou uma audiência pública sobre o tema e os ministros reconheceram a complexidade do assunto. Então presidente da corte, a ministra Cármen Lúcia participou do encontro e destacou se tratar de uma pauta sensível que permeia "todos os direitos fundamentais" previstos na Constituição. Na ocasião, o ministro Dias Toffoli, que é relator da matéria e será o primeiro a apresentar o voto nesta quarta, não antecipou sua posição, mas destacou que os familiares relataram ter sofrido um massacre da imprensa na época e que teriam ficado estigmatizados por isso. No processo, porém, a Globo afirmou que o conteúdo veiculado se limitou a fatos públicos e históricos e que grande parte do programa foi composta por arquivos da época, além de material de livros sobre o caso. A empresa sustentou que é direito de todos o acesso à história e sustenta que os direitos de imagem não se sobrepõem ao direito coletivo da sociedade de ter acesso a fatos históricos, segundo o relato do ministro.
No STJ (Superior Tribunal de Justiça), a corte reconheceu a existência do direito ao esquecimento, mas ressaltou que no caso de Aída o crime foi reconstituído por atores e que apenas uma foto do crime foi veiculada. O relator no STJ, ministro Luís Felipe Salomão, afirmou na ocasião que a imagem da vítima "não constituiu um chamariz de audiência". Apesar disso, o magistrado reconheceu o direito ao esquecimento e fez uma comparação com pessoas que foram condenadas e, depois, absolvidas. "No que concerne ao confronto entre o direito de informação e o direito ao esquecimento dos condenados e dos absolvidos em processo criminal, a doutrina não vacila em dar prevalência, em regra, ao último", disse. Segundo o ministro, conceder esse direito a condenados que "cumpriram integralmente a pena e, sobretudo, dos que foram absolvidos em processo criminal" sinaliza uma evolução humanitária e cultural da sociedade. O ministro sustentou que "entre a memória —que é a conexão do presente com o passado— e a esperança —que é o vínculo do futuro com o presente", o ordenamento jurídico brasileiro prioriza a segunda opção.

*”Entenda o debate sobre direito ao esquecimento que será julgado pelo Supremo”*
*”Direito ao esquecimento não impede que sociedade tome conhecimento de um fato, diz especialista”*
*”Direito ao esquecimento vai contra liberdade de expressão, diz advogada que atua em ação no STF”*

*”Boris contrata vacinas para o triplo da população do Reino Unido”*
*”Covid mata veterano da 2ª Guerra que virou herói ao arrecadar dinheiro para combate à pandemia”*
DEPOIMENTO - *”'Último mês pareceu eterno', diz enfermeira, sobre pandemia no Reino Unido”*
*”Espanha barra a entrada de quem esteve no Brasil; veja outras restrições”*

*”Negociações para reeditar coalizão de governo fracassam na Itália”*
TODA MÍDIA - *”Rússia festeja 'xeque-mate' da vacina; Merkel fala com Putin”*

*”Itamaraty não chama de golpe militar a tomada de poder em Mianmar”* - O Itamaraty publicou uma nota diplomática nesta terça-feira (2) em que não se refere ao golpe de Estado em Mianmar como golpe nem menciona opositores presos pela junta militar —entre eles a vencedora do prêmio Nobel da Paz Aung San Suu Kyi, líder civil de facto do país. No texto, o ministério afirma que acompanha “atentamente os desdobramentos da decretação do estado de emergência em Mianmar” e diz que o Brasil tem a expectativa de “um rápido retorno do país à normalidade democrática e de preservação do Estado de Direito.” Militares derrubaram o governo democrático do país asiático na segunda-feira (1º) e prenderam Suu Kyi, o presidente do país, autoridades e políticos da oposição.
Os Estados Unidos determinaram formalmente nesta terça que a tomada de poder pelos militares configura um “golpe de Estado”, uma designação que exige que o país corte toda sua ajuda externa à nação asiática. "Depois de cuidadosa análise dos fatos, nós chegamos à conclusão que Aung San Suu Kyi, a líder do partido governante em Mianmar, foi deposta em um golpe militar em 1º de fevereiro”, disse um porta-voz do Departamento de Estado a repórteres. “Exortamos que a liderança militar de Mianmar liberte todos os integrantes da sociedade civil e políticos líderes imediatamente.” Questionado se considera a tomada de poder em Mianmar um golpe militar, o Itamaraty afirmou apenas esperar “um rápido retorno do país à normalidade democrática e de preservação do Estado de Direito”, repetindo a linguagem da nota. Segundo diplomatas, o Itamaraty, por tradição, não interfere em assuntos internos de outros países e, por isso, não usa termos como golpe e presos políticos.
No entanto, em notas diplomáticas sobre a Venezuela e Bolívia, por exemplo, o ministério usou linguagem assertiva. “A repulsa popular após a tentativa de estelionato eleitoral (constatada pela OEA), o qual favoreceria Evo Morales, levou à sua deslegitimação como presidente e consequente clamor de amplos setores da sociedade boliviana por sua renúncia”, disse o Itamaraty em nota de 12 de novembro de 2019, ao negar que a deposição de Evo tivesse sido um “golpe”. “A renúncia de Evo Morales abriu caminho para a preservação da ordem democrática, a qual se veria ameaçada pela permanência no poder de um presidente beneficiado por fraude eleitoral”, continua o texto. Sobre a ditadura na Venezuela, em nota do Grupo de Lima de abril de 2019, o Itamaraty pedia a “liberação imediata dos presos políticos”. A nota sobre Mianmar divulgada nesta terça é alvo de críticas de entidades de direitos humanos. “A Constituição brasileira determina que, na condução das relações internacionais, deve haver prevalência dos direitos humanos", disse Juana Kweitel, diretora executiva da Conectas Direitos Humanos. "A nota oficial do Itamaraty sobre a situação em Mianmar, ao não condenar o golpe militar nem a prisão de ativistas e vozes contrárias, vai na contramão dessa determinação constitucional.” Segundo um diplomata que acompanha a situação, houve também uma decisão do governo brasileiro de não desagradar a Associação das Nações do Sudeste Asiático (Asean), composta por Tailândia, Camboja e Filipinas, além de Mianmar, e outros seis países. Os governos da região estão tratando a situação com cuidado, para não causar rupturas, e o Brasil quis seguir essa estratégia.
+++ A posição do governo brasileiro sobre o golpe em Mianmar só mostra o quanto Jair Bolsonaro e os seus flertam com o autoritarismo através das forças militares e o quanto entendem esse tipo de regime como algo normal.

*”Ernesto Araújo defende ataques de Bolsonaro à imprensa e diz que é 'estilo' do presidente”* - O ministro de Relações Exteriores, Ernesto Araújo, defendeu na segunda-feira (1º) a atitude do presidente Jair Bolsonaro (sem partido) de mandar, na semana passada, a imprensa enfiar “no rabo” latas de leite condensado, após ser questionado sobre gasto de R$ 1,8 bilhão do governo federal em alimentos e bebidas no ano de 2020. Durante uma entrevista ao programa Morning Show, da rádio Jovem Pan, Ernesto disse que é “o estilo” do presidente. O ministro estava com Bolsonaro na churrascaria em 27 de janeiro quando o presidente atacou os jornalistas. Questionado no programa, afirmou que não achou “infantil” ele ter dado risada após a fala de Bolsonaro ou endossado o grito de “MI-TO! MI-TO!” que veio em seguida. “O que eu vejo é que grande parte da imprensa joga contra o país. E ela precisa ouvir isso de diferentes maneiras”, continuou. Ele disse que acha “válido” qualquer gesto para chamar a atenção para o "papel absolutamente deletério, mentiroso, falso que boa parte da imprensa está desempenhando contra os interesses nacionais”. Para o chanceler, “é absolutamente fundamental para o papel transformador” de Bolsonaro que ele seja visto como um mito pela população. “Eu acho que a gente tem veneração pela verdade.”
Na terça (26), o deputado David Miranda (PSOL-RJ) protocolou uma ação pedindo que o procurador-geral da República, Augusto Aras, investigue o caso que motivou a irritação do presidente. O gasto foi divulgado pelo portal Metrópoles, que aponta que o valor equivale a um aumento de 20% em relação a 2019. Entre os produtos adquiridos estão R$ 2,5 milhões em vinhos para o Ministério da Defesa e, R$ 15 milhões em leite condensado e R$ 2,2 milhões em gomas de mascar. Na quarta (27), o Ministério da Defesa emitiu nota comentando os gastos feitos pela pasta, alegando ser a sua função "prover alimentação aos militares em atividade". "Ao contrário dos civis, os militares não recebem qualquer auxílio alimentação", diz o texto. De acordo com a Defesa, o efetivo de militares da ativa é de 370 mil homens e mulheres, que diariamente realizam suas refeições, em 1.600 organizações militares espalhadas por todo o país.

*”Biden lança medidas para reunificar famílias de imigrantes separadas no governo Trump”*
*”Confirmado no Senado, Buttigieg se torna 1º abertamente gay no alto escalão dos EUA”*
*”Defesa de Trump nega incitação de ataque a Capitólio em apresentação de argumentos do impeachment”*
*”Opositor de Putin vai para colônia penal, e polícia prende mais de mil na Rússia”*

*”Para driblar distopia do presente, livro reflete sobre história da América Latina”*
*”Governo americano irá rever assistência a Mianmar após considerar que houve golpe de Estado”*
*”Em evento virtual por conta da pandemia, marmota prevê que frio vai continuar nos EUA”*

*”Brasil tem pior situação para rolar dívida, dizem bancos”* - O Brasil começou 2021 com a maior necessidade de refinanciamento de sua dívida pública entre todos os países emergentes. Com prazo bastante encurtado em 2020, a dívida a ser rolada neste ano por meio da emissão de novos papéis corresponde a18,5% do PIB, o maior nível da série histórica doTesouro, iniciada em 2005. O valor equivale a cerca de R$ 1,4 trilhão, que precisará ser levantado com a venda de papéis no mercado. Segundo novo relatório do IIF(Institute of International Finance), que reúne 450 bancos e instituições financeiras em 40 países, a situação brasileira, na comparação com os demais emergentes, é desafiadora. “No geral, vemos o maior risco de refinanciamento no Brasil”, diz o relatório do IIF, para quem o país “merece atenção”. O órgão considera uma “combinação arriscada” o cenário difícil que o Brasil enfrenta para cortar gastos (elimitar o aumento do endividamento) e o volume recorde de vencimentos da dívida neste ano. “A situação fiscal exige muita emissão de dívida devido ao encurtamento dos prazos e às altas amortizações, principalmente por volta de abril”, diz Martín Castellano, chefe do Departamento de Pesquisas do IIF para a América Latina.
“O risco é o país enfrentar um ajuste em condições de mercado potencialmente mais difíceis no futuro.” Em análises recorrentes, o IIF sugere que pouquíssimos países conseguem reduzir drasticamente gastos após um aumento significativo. O órgão também considera difícil o Brasil não ver-se obrigado, em razão do recrudescimento da pandemia, a voltar a se endividar mais afim de retomar algum tipo de auxílio emergencial aos mais pobres. “O cumprimento da regra fiscal [o teto de gastos, que limita o aumento da despesa à inflação dos 12 meses anteriores] exige a reversão dos gastos emergenciais, algo que não temos certeza de que seja viável”, afirma o IIF. Como fim do auxílio emergencial em dezembro, 2021começou com um salto na taxa de pobreza extrema no Brasil, com 12,8% da população vivendo com menos de R$ 246 ao mês (R$ 8,20 ao dia). Uma das alternativas em estudo no Ministério da Economia seria condicionar a volta do auxílio emergencial (ou um Bolsa Família turbinado) à aprovação, no Congresso, de alguma medida de impacto fiscal relevante. Para o economista-chefe da MB Associados, Sérgio Vale, o mais provável, no entanto, é que a movimentação do governo Jair Bolsonaro e da Câmara, agora sob o comando do chamado centrão, seja mais no sentido de criar um novo imposto como uma CPMF (como defende o ministro Paulo Guedes) do que perseguir um ajuste estrutural na despesa. Vale afirma que, embora os gastos mais elevados de 2020 não devam se repetir neste ano (o que pode reduzir a pressão sobre o refinanciamento),o elevado nível de endividamento no Brasil (equivalente a quase 90% do PIB, o maior entre os emergentes) exigirá em algum momento um ajuste estrutural na despesa para reduzir a dívida pública e alongar seu prazo.
Desde o início do governo Bolsonaro, em razão dos gastos maiores, sobretudo na pandemia, o prazo médio dos títulos emitidos pelo Tesouro caiu significativamente, de 4,8 anos para 3,4 anos. Já os vencimentos em 12 meses mais que dobraram, de cerca de R$ 600 bilhões para quase R$ 1,4 trilhão. Em janeiro de 2019, 15% da dívida pública vencia em 12 meses. Agora, são 27,6% —maior nível desde 2007. A sinalização de que o Banco Central pode iniciar em breve um ciclo de aumento dos juros agrava o cenário —taxas maiores significam crescimento maior da dívida. Em razão do encurtamento de seu prazo e do aumento do endividamento, cerca de 55% do total de vencimentos em 12 meses serão afetados por um aumento nos juros.

*”Governo de SP avalia pacote de socorro para o setor de bares e restaurantes’*
COPO CHEIO - *”Só neste ano, mais dois bares de cerveja fecharam por conta da Covid-19”*
PAINEL S.A. - *”Ex-secretário da Receita Marcos Cintra prevê reformas administrativa e tributária”*
PAINEL S.A. - *”Reino Unido cria regras para proteger jogador de apostas online”*

PAINEL S.A. - *”Governo criou canal direto com mercado para falar sobre greve de caminhoneiros”*: A estratégia de comunicação do Ministério da Infraestrutura para afastar as preocupações com a ameaça de greve de caminhoneiros nesta segunda-feira (1º) teve um canal direto com o mercado financeiro. Boa parte do mercado recebeu boletins semelhantes aos enviados pela pasta para a imprensa e as redes sociais, com intervalos, às vezes, inferiores a meia hora. A ideia de fazer um contato mais próximo para acalmar o mercado nasceu há cerca de 15 dias, quando os rumores de greve começaram a fazer barulho, impactando ações na Bolsa.

PAINEL S.A. - *”Cade arquiva investigação contra Refinaria de Manguinhos”*
PAINEL S.A. - *”Serviços e produtos devem sofrer reajuste em 2021”*

*”Guedes negocia com Congresso plano escalonado para recuperar economia”* - O Ministério da Economia quer negociar com a nova cúpula do Congresso um plano escalonado de medidas. A ideia é começar por ações consideradas menos polêmicas e caminhar para propostas que hoje não têm consenso, como a criação de um imposto sobre transações financeiras aos moldes da extinta CPMF. De acordo com membros da equipe do ministro Paulo Guedes (Economia), a eleição de aliados do governo para o comando do Legislativo abriu uma janela de oportunidade que pode ser a última deste mandato do presidente Jair Bolsonaro (sem partido). A avaliação é que o período propício para a aprovação de propostas de impacto, como as reformas administrativa e tributária, deve durar apenas até setembro deste ano. A partir do último trimestre, auxiliares do ministro acreditam que os deputados e senadores passarão a se ocupar das articulações para a eleição presidencial de 2022, o que pode inviabilizar o andamento da agenda de reformas estruturais. Por isso, preferem objetividade na discussão das prioridades. Até esta terça-feira (2), Guedes não havia se encontrado com os presidentes eleitos da Câmara, Arthur Lira (PP-AL), e do Senado, Rodrigo Pacheco (DEM-MG), mas ligou para os dois e parabenizou pelo resultado das votações. O ministro planeja conversar pessoalmente com Lira e Pacheco nos próximos dias.
Interlocutores defendem, no entanto, que as negociações com o Congresso sejam abertas na próxima semana, depois que os deputados e senadores solucionarem embates internos, como brigas entre blocos partidários e discussões sobre o comando de comissões e a relatoria de propostas. A estratégia avaliada pela pasta prevê que as negociações sejam feitas em etapas, com algumas frentes de atuação. No primeiro momento, seria priorizada a aprovação do Orçamento deste ano e a votação da PEC (proposta de emenda constitucional) Emergencial, que estabelece o acionamento de gatilhos de ajuste fiscal para aliviar o caixa do governo em momentos de crise. Conforme mostrou a Folha, a não aprovação do Orçamento colocou em risco gastos considerados essenciais, como salário de militares e repasses para a educação básica. As aprovações do Orçamento e da PEC Emergencial são consideradas fundamentais para se discutir eventuais medidas voltadas aos vulneráveis com o devido remanejamento ou corte de recursos de outras áreas. Parlamentares que acompanham as negociações afirmam que a CMO (Comissão Mista de Orçamento) deve ser instalada na próxima semana. Em previsão otimista, as contas de 2021 estariam aprovadas no fim de fevereiro ou início de março.
Considerando um cenário de aprovação também da PEC Emergencial, o governo pretende avaliar o espaço que seria aberto no Orçamento deste ano. O time de Guedes defende que novas medidas, como eventual pagamento de parcela do auxílio emergencial ou criação de um novo programa social, possam ser anunciadas apenas após esse diagnóstico. Apesar da pressão pelo auxílio, a avaliação interna é a de que a economia continua aberta —e, portanto, a necessidade da medida é menor do que em 2020. Joga a favor dessa ideia o recuo do governo de São Paulo em medidas de restrição a bares e restaurantes após protestos de empresários. Ainda no curto prazo, podem ser reeditadas medidas adotadas em 2020 para minimizar os efeitos da pandemia —todas sem impacto fiscal e sem necessidade de aprovação do Congresso para começarem a valer. Entre as ações em estudo, estão a antecipação do 13º de aposentados, o adiamento da cobrança de tributos e eventual liberação de novo saque do FGTS (Fundo de Garantia do Tempo de Serviço). No ano passado, essas medidas foram tomadas por MP (medida provisória, que tem força imediata de lei) ou portarias. No segundo passo do plano, seria priorizada a articulação para a votação de medidas consideradas menos polêmicas. Nesse grupo, estão a autonomia do Banco Central e as leis que modernizam os marcos legais de cabotagem, gás, concessões e ferrovias.
A mesma lógica do escalonamento deve ser adotada na reforma tributária. A equipe econômica é contra o texto da PEC 45, que já tramita no Congresso e unifica tributos federais, estaduais e municipais. O Ministério da Economia quer começar as votações com fatias mais consensuais da reforma. Entrariam primeiro a unificação dos tributos federais PIS e Cofins (já enviada pelo governo ao Congresso), a redução de Imposto de Renda para empresas e a taxação de dividendos. Ficariam para depois a fusão de outros tributos e a criação do imposto sobre transações financeiras. Técnicos da pasta afirmam que lançar agora pautas que não são consenso poderia atrapalhar todo o resto da agenda. A ideia de Guedes é usar os recursos da nova CPMF para compensar uma redução de encargos trabalhistas. O plano sofre com resistência de membros do governo e lideranças partidárias. Membros do ministério consideram importante que avance a reforma administrativa, prometida pelo novo presidente da Câmara. A avaliação é que a medida traz um sinal positivo de melhora da eficiência e zelo fiscal, embora o efeito de curto prazo sobre o Orçamento seja muito pequeno.
Mesmo com o comando do Congresso nas mãos de aliados do Planalto, as privatizações —tema considerado prioritário por Guedes— tendem a ficar em segundo plano diante da avaliação que o tema arrefeceu desde o começo do governo. Contribui para a visão o pedido de demissão do presidente da Eletrobras. Wilson Ferreira Júnior disse há pouco mais de uma semana que a dificuldade em aprovar a privatização da estatal no Congresso, assim como uma descrença pessoal no avanço do processo, motivou sua saída do cargo. De qualquer forma, o Ministério da Economia comemorou o novo comando do Congresso avaliando que os novos nomes vão possibilitar o diálogo sobre o formato das medidas. Antes, a visão era de que o debate era congestionado por um antagonismo —principalmente por parte do ex-presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ). No ano passado, o governo viu a pauta de reformas travar no Congresso. Além da pandemia, que mudou as prioridades do Legislativo, os atritos entre Guedes e Maia acabaram dificultando o andamento da agenda. Para pessoas próximas a Guedes, a eleição de Lira na Câmara e Pacheco no Senado deve criar uma relação mais harmônica entre os Poderes. Membros da pasta dizem, no entanto, que seria ingenuidade acreditar que todas as pautas prioritárias serão aprovadas facilmente. Por isso, afirmam que as negociações serão feitas com cautela, em conjunto com o Palácio do Planalto.

*”Novo presidente do Senado quer votar Orçamento de 2021 até março”*
*”Dólar cai para R$ 5,35 com vitória de Lira e Pacheco no Congresso; Bolsa sobe 0,6%”*
*”Produção industrial encolhe 4,5% em 2020, pior queda desde 2016”*
*”Pandemia e alta do ICMS em SP derrubam venda de carros em janeiro”*

RÉPLICA - *”De qual reforma administrativa o Brasil precisa?”* - Em texto publicado na Folha neste sábado (30), pela Frente Parlamentar Mista da Reforma Administrativa, destaca-se a necessidade de uma reforma administrativa estar no centro da agenda a partir da eleição dos novos presidentes na Câmara e no Senado. Mas há algo que precisa ser posto em pauta: de qual reforma administrativa o Brasil precisa? Trabalhar para melhores serviços públicos ao cidadão deve ser o foco de uma reforma que se propõe administrativa, no entanto a PEC (Proposta de Emenda Constitucional) 32/2020 assemelha-se muito mais a uma reforma fiscal, sem grandes preocupações com a melhoria da qualidade dos serviços públicos, que, no último ano, mostraram-se mais fundamentais que nunca. A PEC 32/2020 enxerga o servidor público como um todo homogêneo, excessivo e privilegiado, o que não se sustenta nos fatos (como mostram os dados do Atlas do Estado Brasileiro, do Ipea), e parte do princípio de que o Estado brasileiro precisa sim ou sim ser reduzido. A partir deste diagnóstico são feitas as propostas da PEC. Alguns dos problemas centrais do texto inicial da PEC 32/2020 são:
- a inclusão do princípio da subsidiariedade na Constituição, tornando o poder público complementar ao setor privado;
- a desfiguração do Regime Jurídico Único, com a criação do vínculo por experiência e a diferenciação entre cargo com prazo indeterminado (sem estabilidade) e cargo típico de Estado (com estabilidade);
- a ampliação dos casos para a contratação temporária, arriscando a previsibilidade e continuidade da prestação de serviços públicos;
- a abertura de espaço para a atuação de militares da ativa em atividades do magistério;
- a concessão de “superpoderes” ao Presidente da República na reestruturação do Estado brasileiro. Com tais características, é impossível dizer que a proposta melhore a administração pública.
A Frente Parlamentar Mista em Defesa do Serviço Público (Frente Servir Brasil) reitera seu posicionamento de que a estabilidade do servidor e o controle à ampliação do uso de contratos temporários no Estado dão segurança não somente aos servidores, mas a toda a sociedade e aos recursos públicos. A Frente espera que toda a sociedade brasileira possa opinar sobre uma reforma administrativa, não somente aqueles que concordam com a proposta posta em questão.
*Este texto é de autoria dos parlamentares que compõem a Frente Servir Brasil (Frente parlamentar mista em defesa do serviço público)

HELIO BELTRÃO - *”Não salvem os tubarões”*
*”Jeff Bezos, 57, anuncia que deixará o dia a dia da Amazon”*
*”Google aproveita recuperação global da publicidade e tem receita recorde”*

*”Sites encolhem desertos de notícia no Brasil”* - Em sua quarta edição, o Atlas da Notícia, um levantamento sobre jornalismo local no Brasil, afirma que os chamados "desertos de notícias" foram reduzidos em 5,9% em relação ao estudo divulgado em dezembro de 2019. Agora são 3.280 municípios sem qualquer veículo local, ou seja, sem jornal, site, blog ou emissora de rádio e TV, contra os 3.487 registrados há cerca de um ano. Em população, o encolhimento dos "desertos" teria sido maior, de 9,6%. Agora foram contados 33,7 milhões de habitantes sem acesso a cobertura local. Foi o jornalismo digital que levou a "esses 5,9% a mais, na diminuição dos desertos", diz Angela Pimenta, diretora de operações do Projor (Instituto para o Desenvolvimento do Jornalismo), que realiza o levantamento. Ela avisa que, em grande parte, "são sites com um, dois jornalistas, redações pequenas, em que seguir os protocolos de apuração, compromissos éticos, é muito desafiador".
O Atlas não considera jornalísticos e exclui do estudo aqueles editados oficialmente, como sites de Câmaras ou ligados a igrejas e a partidos políticos, mas evita fazer uma avaliação de qualidade do material. Pimenta avalia que, como parte do que foi registrado agora é blog voltado para opinião, o levantamento pode indicar um efeito das campanhas municipais do ano passado. E que não é possível "prever sua sustentabilidade, voltando à questão dos desafios que o jornalismo local vive, de financiamento contínuo". Sérgio Spagnuolo, coordenador de dados e análise do Atlas, diz que "tem muita coisa acontecendo", com pequenas iniciativas digitais sobretudo no Nordeste. "Muita gente usando a plataforma Blogger, bem simples, mas falando de assuntos da prefeitura, o que está rolando, com quem o prefeito se encontrou", descreve. Sobre financiamento, cita casos como o de uma cidade no interior da Bahia em que o site serve de base para o responsável vender imóveis, como corretor. O avanço do digital foi observado pelos pesquisadores em todas as regiões do país, com "impresso fechando mas um monte de iniciativa, de uma, duas pessoas, fazendo o noticiário". Essa virada foi especial no Nordeste, diz ele. "Era o maior deserto em número de municípios e, nesta edição, perdeu o posto para o Norte". No levantamento de dezembro de 2019, 73,5% das cidades nordestinas não tinham cobertura local. Na nova edição, a proporção caiu para 66,3%.

TEC - *”Dados vazados podem render R$ 80,8 milhões ao criminoso”*
STARTUPS & FINTECHS - *”Startups expandem para o campo e são promessa para investidores”*
STARTUPS & FINTECHS - *”Grandes varejistas buscam soluções de startups em novo programa da Endeavor”*
STARTUPS & FINTECHS - *”Startup nordestina que reduz conta de luz de empresas chega a São Paulo”*

*”Vacina russa Sputnik V tem 91,6% de eficácia contra Covid-19, aponta estudo”* - Após meses de críticas devido à falta de revisão e o passo acelerado de sua aplicação na Rússia, a vacina Sputnik V teve enfim a análise preliminar de sua fase 3 de ensaios publicada pela prestigiosa revista britânica The Lancet. O imunizante russo teve 91,6% de eficácia em um estudo com cerca de 20 mil participantes. Desses, houve 16 contaminados que desenvolveram a Covid-19 com sintomas leves no grupo vacinado e 62, entre aqueles que tomaram placebo. Não houve casos graves ou moderados entre os vacinados, enquanto 20 foram registrados entre os que receberam uma solução inerte. O tempo da proteção conferida ainda não foi analisado, mas os russos acreditam que ela possa ficar entre sete meses e dois anos. Segundo o estudo revisado pela Lancet, uma análise de 2.000 voluntários que tinham mais de 60 anos no estudo mostrou uma eficácia semelhantes do fármaco, dado importante porque se trata do grupo que concentra a mortalidade da doença. Não houve relato de efeitos adversos na aplicação das duas doses da vacina além de desconforto no ponto da injeção e sintomas gripais, como febre e baixa energia. Houve quatro mortes de voluntários, nenhuma delas associada à imunização. A fase 3 na Rússia começou em setembro, e foi anunciada pelo governo de Vladimir Putin como um início de vacinação em massa. Ao todo, 40 mil participantes estão sendo acompanhados, e a vacina já está disponível para a população em geral desde o começo deste ano.
A pressa russa foi duramente criticada, pois a autorização de uso emergencial foi concedida sem a publicação nem dos estudos de fase 1 e 2, que determinam a segurança e a capacidade de indução de resposta imune da vacina —o que não significa sua eficácia ou efetividade, este dado que só se saberá na vida real. A Sputnik induziu a produção de anticorpos em 98% dos voluntários e resposta celular em 100% deles. ​"O desenvolvimento da Sputnik V foi criticado pela rapidez, atalhos e falta de transparência. Mas os resultados são claros e o princípio científico da vacinação está demonstrado", disse em um comentário ao texto os professores Ian Jones (Universidade de Reading, Reino Unido) e Polly Roy (London School of Hygiene & Tropical Medicine, Reino Unido). A Sputnik V virou um sucesso de exportação de todo modo, e um trunfo geopolítico para Putin. Ela temuma campanha agressiva de venda promovida pelo Fundo de Investimento Direto Russo, que bancou seu desenvolvimento e produção no tradicional Instituto Gamaleya, de Moscou. "Nós tomamos a decisão certa em começar cedo a vacinação. Fomos vítimas de uma campanha internacional contra nossa vacina, muitas fake news. Apenas juntos poderemos enfrentar o vírus e suas mutações. Temos uma vacina para toda a humanidade", afirmou Kirill Dmitriev, presidente do fundo. Diversos países já receberam doses para aplicação na população, como Argentina e Venezuela na América do Sul e Hungria e Belarus, na Europa. Até aqui, 16 já autorizaram seu uso emergencial. Na Rússia, o governo diz ter vacinado mais de 1,5 milhão de pessoas, mas os números são questionados por médicos independentes. A Lancet já havia publicado os estudos de fase 1 e 2, e agora dá uma chancela diplomática importante para o imunizante. No Brasil, a Anvisa (Agência Nacional de Vigilância Sanitária) está demandando mais informações acerca da Sputnik V para analisar seu pedido de uso emergencial. Os russos associaram-se à União Química, um laboratório paulista, para a produção inicial de 10 milhões de doses do fármaco no país. Para aumentar as chances de viabilizar o produto, a empresa contratou como diretor o ex-governador do Distrito Federal Rogério Rosso (PSD).
Com trânsito no centrão, que acaba de ganhar o comando da Câmara, Rosso é visto como um instrumento de pressão política sobre a Anvisa. No governo Jair Bolsonaro, as resistências iniciais à Sputnik V são consideradas ultrapassadas. Dmitriev listou o Brasil com um dos países em que a Sputnik V será produzida no exterior, ao lado de Índia, Coreia de Sul e outros. Como vantagem competitiva, citou que ela custa cerca de US$ 10 (R$ 54) por dose, metade do valor de imunizantes como o da Pfizer. A inoculação da Sputnik V é feita em duas doses, cada uma utilizando um adenovírus humano enfraquecido diferente como vetor para enviar a proteína que emula a "chave de cadeado" que liga o novo coronavírus às células, produzindo assim anticorpos protetores. A técnica tem sido estudada inclusive no Reino Unido, onde a vacina da AstraZeneca/Universidade de Oxford faz o mesmo com um tipo só de adenovírus que causa gripe em macacos. Ali, testes estão sendo feitos combinando os dois imunizantes. O Instituto Gamaleya sustenta que sua abordagem é mais eficaz, além de segura, já que adenovírus humanos são usados em medicamentos e vacinas há anos.
Vacinas com taxa de eficácia semelhante, como a da Pfizer (95%) e da Moderna (94,5%) usam uma tecnologia nova, na qual material genético faz o trabalho de enviar a proteína. Para o Gamaleya, isso gera dúvidas acerca de sua segurança no longo prazo. "Nossa vacina ajuda a diversificar a linha de produção mundial de imunizantes contra o Sars-CoV-2", disse Denis Logunov, diretor do Gamaleya e coautor do estudo publicado na Lancet. "Nós temos uma das três vacinas do mundo mais de 90% de eficácia. E, diferentemente de outras, nós temos vantagens logísticas", disse, citando o fato de que ela pode ser armazenada em geladeiras comuns —e não em freezers especiais, como no caso da Pfizer e da Moderna. A Coronavac, vacina chinesa desenvolvida em conjunto com o Instituto Butantan e distribuída no Brasil, usa uma tecnologia ainda mais tradicional, com o próprio Sars-CoV-2 inativado. Uma vantagem teórica é o fato de ela ter não só uma proteína de ligação, mas todo o vírus para provocar a resposta imune, o que pode ajudá-la a driblar mais rapidamente as mutações como a variante de Manaus ou a da África do Sul, mais transmissíveis. Segundo Dmitriev, embora ainda não haja estudos definitivos, as indicações são de que a vacina russa será eficaz ontra as novas variantes do Sars-CoV-2 devido ao fato de utilizar dois vetores diferentes.

*”Anvisa diz que resultado da Sputnik é 'boa notícia', mas que ainda faltam dados para análise no Brasil”*

*”França, Polônia e Suécia decidem não dar vacina de Oxford a idosos antes de novos dados”* - As agências reguladoras da França, da Suécia e da Polônia se juntaram às da Alemanha e da Áustria e decidiram não recomendar o uso em idosos da vacina contra Covid-19 desenvolvida pela Universidade de Oxford e o laboratório AstraZeneca. O imunizante é o principal do programa de vacinação do governo federal brasileiro. Além de no Brasil, a vacina Oxford/AstraZeneca é usada no Reino Unido e em outros dez países, sem restrições de faixa etária. Na semana passada, a EMA (agência reguladora da União Europeia) deu sinal verde para o uso da vacina Oxford/AstraZeneca em todos os adultos, mas as autoridades dos cinco países justificaram suas restrições pela falta de dados sobre o efeito do produto nos mais velhos. Na Polônia ela será aplicada a adultos até 60 anos e, nos outros países, até os 65 anos. Na Itália, embora a agência reguladora Aifa tenha autorizado o uso a todos os adultos, a orientação foi que o produto não seja aplicado em pessoas a partir dos 55 anos. A Anvisa (agência brasileira) também ressalvou os poucos dados sobre idosos ao recomendar o uso emergencial do imunizante no Brasil. Apesar de não restringir o uso, pediu monitoramento de novos estudos das empresas e acompanhamento da população vacinada. As mesmas avaliação e recomendação foram feitas para a vacina Coronavac, produzida pela empresa chinesa Sinovac, aplicada no estado de São Paulo e uma das opções do programa federal.
Os seis países europeus que limitaram o uso do imunizante afirmam que a orientação será revista quando houver mais informações —a EMA espera receber em março resultados de teste feito com 30 mil pessoas nos EUA, das quais um "número grande" de idosos. Os programas de vacinação na Europa têm sido dificultados ou suspensos por gargalos de produção, e o produto da AstraZeneca é visto como uma das melhores opções para reverter os atrasos, por ser mais fácil de armazenar e transportar que as outras duas opções já aprovadas na UE, as da Pfizer/BioNTech e da Moderna. Enquanto essas duas últimas precisam ser mantidas ultracongeladas e só resistem cinco dias em geladeira comum, as da AstraZeneca podem ser armazenadas e transportadas sob refrigeração normal, de 2º a 8º Celsius. Além disso, é um imunizante mais barato que os outros dois, que usam uma tecnologia inédita e mais sofisticada. Segundo Dominique Le Guludec, presidente da Alta Autoridade para a Saúde (HAS) francesa, até que a AstraZeneca conclua os novos estudos sobre o efeito de sua vacina em idosos, ela deve ser aplicada em profissionais da linha de frente de combate à Covid-19 e aos mais vulneráveis com idades entre 50 e 65 anos.
Na Suécia, a agência de saúde pública recomendou que a vacinação dos que têm 65 anos ou mais seja feita prioritariamente com os imunizantes da Pfizer e da Moderna. Na Polônia, o conselho médico restringiu ainda mais a faixa etária para a vacina de Oxford/AstraZeneca, regulando seu uso para pessoas com idade entre 18 e 60 anos. Na Itália, a Aifa preconizou o “uso preferencial” da vacina de Oxford/AstraZeneca para os que têm de 18 a 55 anos e recomendou que os mais vulneráveis e os que tiverem 56 anos ou mais recebam os outros dois imunizantes. Nos ensaios clínicos da vacina da AstraZeneca, apenas 8% dos voluntários tinham entre 56 e 69 anos, e apenas de 3% a 4% superavam 70 anos. Segundo o principal executivo da companhia, Pascal Seriot, isso ocorreu porque a Universidade de Oxford queria antes “acumular muitos dados de segurança no grupo de 18 a 55 anos”. Seriot afirmou que, apesar disso, os ensaios mostraram "uma produção muito forte de anticorpos contra o vírus em idosos, semelhante ao que vemos em pessoas mais jovens”.

*”Produtoras de vacinas contra Covid-19 vivem 'corrida de gato e rato' com novas variantes do vírus”*
*”Ministério da Saúde recomenda evitar viagens a áreas de maior incidência de nova variante da Covid”*
*”Europa faz alerta sobre comércio de certificados falsos de resultados negativos para Covid-19”*
ATILA IAMARINO - *”Por que variante de coronavírus surgiu agora e em Manaus?”*

*”Segunda mutação é achada em variante do Reino Unido e preocupa cientistas”*
*”Dados superestimados e novas linhagens podem ajudar a explicar situação de Manaus”*
*”Quase 80% dos médicos reprovam atuação do Ministério da Saúde na pandemia, diz pesquisa”*
*”Sepultadores pedem prioridade da categoria na vacinação contra a Covid-19 em SP”*
ESPER KALLÁS - *”O novo coronavírus à procura de um caminho”*

*”Promotoria aponta colapso em rede de oxigênio e cita possíveis mortes no litoral de SP”* - O Ministério Público aponta colapso na rede de oxigênio do Hospital de Clínicas de São Sebastião e cita possíveis mortes de pacientes com coronavírus devido ao problema. Os relatos de funcionários sobre as mortes possivelmente causadas pela escassez foram revelados pela Folha no dia 15 de janeiro. Depois da reportagem, no dia 29, a Promotoria e a Defensoria Pública entraram com ação civil pública, tendo como partes a Prefeitura de São Sebastião e o Hospital de Clínicas. A Prefeitura de São Sebastião afirmou que apura as denúncias e que não há registro de que pacientes tenham sido prejudicados por falta de oxigênio. À Folha, funcionários narraram uma situação similar à do sistema de saúde de Manaus (AM). Na capital amazonense, hospitais se tornaram câmaras de asfixia devido à escassez de oxigênio De acordo com os relatos ouvidos pela reportagem, a falta de estrutura no hospital levou à morte de ao menos duas pessoas com Covid-19 em dezembro, na UTI. Segundo eles disseram, há problemas na usina de oxigênio da unidade e escassez de cilindros de oxigênio. Além dos relatos de funcionários, a ação da Promotoria e da Defensoria traz novos elementos, como áudios de funcionários relatando o problema. Os novos documentos foram divulgados inicialmente pelo site Nova Imprensa e também obtidos pela Folha. "Acabei de sair da UTI respiratória, negócio é louco meu irmão, aqui tá 12 ventiladores, você não sabe pra onde você corre, é uma loucura, pega torpedo, faz o diabo", diz a transcrição do áudio de um funcionário do hospital, anexada na ação civil pública.
Segundo os áudios do funcionário, "quando enche de paciente lá dentro, a qualidade do oxigênio diminui e os ventiladores ficam apitando". "Aí com cinco pacientes lá dentro, só cara, agora nossa média tá aumentando para dez, então assim, tá ficando gente e os ventiladores estão gritando porque acho que a rede não tá aguentando." Os relatos ouvidos pela Promotoria são similares aos feitos à Folha. Segundo a ação, profissionais afirmaram que no dia 10 de dezembro um paciente foi intubado "sendo ligado no ventilador e na rede de oxigênio, porém a rede não deu conta, na esteira, colocaram o paciente no torpedo [o cilindro de oxigênio hospitalar]". "Informa que infelizmente nesse dia o torpedo não funcionou, nem no dia 10, nem no dia 11 de dezembro, acarretando óbito de dois pacientes por falta de oxigênio", diz o documento da Promotoria.
De acordo com os relatos, no dia 12 de janeiro, houve um número maior de pacientes. "Acabou o oxigênio, com a rede novamente falhando. Os médicos ligaram na manutenção pedindo mais torpedo que informaram não ter em estoque e que a equipe estaria usando torpedos indiscriminadamente". No documento da Promotoria, funcionários narram que a fração inspirada de oxigênio fornecida "era de 80/84 sendo que o ideal seja acima de 97". "São tantas as falhas no processo de produção de oxigênio medicinal destas usinas, que, conforme consta nos áudios, levaram ao menos duas mortes, conforme categoricamente confirmaram os profissionais de saúde que trabalham no Hospital ao Ministério Público e à Defensoria Pública", diz. A Promotoria aponta falhas na manutenção dos equipamentos da rede de oxigênio e afirma que a "a reserva de oxigênio do HCSS, que são os cilindros, segundo informado, é de apenas 36 horas". A inicial afirma cita ainda "má gestão hospitalar, com o desabastecimento de oxigênio em mais de uma ocasião, ocasionando possíveis mortes". Também afirma que "é evidente que a falta ou a insuficiência de oxigênio medicinal nas unidades de saúde poderá ocasionar mais mortes, posto que estamos vivenciando um aumento do número de internações". A ação pede uma série de liminares. Entre elas, estão a compra de cilindos de oxigênio e a interdição temporária das usinas.
OUTRO LADO
A Prefeitura de São Sebastião, na atual gestão de Felipe Augusto (PSDB), afirmou que "tomou ciência da denúncia do Ministério Público e Defensoria Pública, por meio da imprensa, e que apura as acusações em processo administrativo, já que o município conta com usinas de oxigênio próprias e até o momento não há qualquer registro de pacientes que tenham sido prejudicados por falta de oxigenação". Em nota enviada à reportagem no mês passado, a prefeitura afirmou que havia 20 respiradores na UTI. "Além disso, o HCSS possui duas usinas de oxigênio próprias, além de uma terceira na unidade hospitalar de Boiçucanga, na costa sul do município. Ainda há a oferta de dois sistemas de backup, para que nenhum paciente possa ter seu tratamento prejudicado por falta de oxigenação", diz o comunicado. A cidade afirma que o sistema de oxigenação "assegura até cinco dias de oxigênio em caso de pane absoluta em todos os demais sistemas". Na ocasião, o governo estadual, por meio da Secretaria de Desenvolvimento Regional do Governo do Estado de São Paulo, afirmou que é de responsabilidade dos municípios o abastecimento e o gerenciamento local das demandas de insumos. "Mesmo sendo esta uma atribuição local, o governo do estado, uma vez acionado, não deixa, em hipótese alguma, o município desassistido. Ocorre que, em nenhum momento, São Sebastião solicitou apoio à esfera estadual quanto ao tema", disse em nota.

*”Após crítica a ação de SP contra pandemia, Doria liga para rádio e chama comentarista de terraplanista”*
*”Cientistas alertam para riscos ambientais de uso em excesso do 'kit Covid'”*
*”Dia de Iemanjá tem praias bloqueadas e comércio fechado no Rio Vermelho, em Salvador”*

MÔNICA BERGAMO - *”Procon-SP pede que ANS limite reajuste dos planos coletivos ao mesmo índice dos individuais”*
MÔNICA BERGAMO – *”Apoio à reeleição de Bolsonaro já é abordada com naturalidade por parlamentares do DEM”*
MÔNICA BERGAMO - *”Sobrinho de Hebe que morreu de Covid-19 ia lançar café em homenagem à tia”*
MÔNICA BERGAMO - *”Google registra aumento de 610% por 'tortura psicológica' impulsionado por críticas a Karol Conká no BBB”*
MÔNICA BERGAMO - *”Secretaria de Cultura de SP prepara auxílio a bares e casas noturnas que desempenham atividades artísticas”*

MÔNICA BERGAMO - *”Movimento Livres recebe adesão de mais três parlamentares”*: O grupo Livres, movimento político em defesa do liberalismo e dissidência do PSL, recebeu a adesão de mais três parlamentares. Os vereadores Matheus Cavalcante (Cidadania), de Belém, Nicola Martin (PSDB), de Criciúma, e Alisson Julio (Novo), de Joinville, se filiaram ao movimento, que agora reúne 28 vereadores e deputados e um prefeito.

CAPA – Manchete principal: *”Lira entrega principal comissão a investigada por fake news”*

VERA MAGALHÃES - *”Vida estraga-prazeres”*: Mais de 300 pessoas trocaram perdigotos na covidfest da vitória de Arthur Lira. Jair Bolsonaro e os filhos se refestelaram de comemorar nas redes sociais. O general Luiz Ramos teve um momento “vão ter de me engolir” pelo sucesso da articulação política da qual participou. Mas, passada a ressaca da eleição das Mesas do Congresso, a vida real bate à porta do governo e do Legislativo. E ela, sabemos, não anda nada festiva. O primeiro para quem essa ficha caiu foi Paulo Guedes. Coube ao ministro da Economia ser o estraga-prazeres e lembrar um pequeno detalhe: o Orçamento de 2021 ainda não foi votado pelos senhores forrozeiros. Sem essa providência básica, não há como falar em novo auxílio emergencial, a promessa mais repetida de Lira e Rodrigo Pacheco, levada pelos festeiros parlamentares às suas bases — as mesmas que eles ignoraram solenemente ao, no escurinho da urna, dar o controle das duas Casas do Parlamento a um presidente que já foi eleito internacionalmente como o pior do planeta no enfrentamento da pandemia. Não foi só Guedes a jogar água no chope dos deputados e senadores. O novo presidente do Itaú, Milton Maluhy Filho, desafiou o coro dos contentes com os descalabros cometidos por Bolsonaro e Pazuello ao longo de um ano de transmissão descontrolada do novo coronavírus no Brasil, com mais de 225 mil vidas ceifadas, para dizer o óbvio: um atraso de seis meses no Programa Nacional de Imunização reduzirá à metade a previsão de crescimento de 4% para o PIB deste ano feita pelo banco.
O atraso já está dado. A vacinação acontece literalmente a conta-gotas, com doses contadas da CoronaVac, que Bolsonaro e Pazuello sabotaram enquanto puderam, e do imunizante de Oxford-AstraZeneca, em quantidade igualmente racionada. Sem vacina e, portanto, sem retomada da economia, sem empregos e sem crescimento, o governo não terá outra saída a não ser reeditar alguma forma de auxílio emergencial, como pressiona o bloco de Lira — e teme Guedes. Vem aí, portanto, um cabo de guerra no Congresso, que até ontem estava em festa, e o abraço da vitória do novo comando do Legislativo nos ocupantes do Planalto já é passado diante da pressão que vai começar. De um lado, os parlamentares querem dar satisfação a seus eleitores a respeito de quando haverá vacina e de quando poderão retomar suas atividades, algo impossível com o ritmo de contágio e morte a que continuamos a assistir (e para que eventos irresponsáveis como a comemoração de Lira só contribuem). De outro, os nobres congressistas querem ver entregues as emendas e os cargos prometidos. E também não há dinheiro suficiente para pagar essa fatura.
Diante de uma pauta assim congestionada pelas emergências da pandemia, da economia real e do fisiologismo, só os incautos da Faria Lima ainda podem acreditar que sairão dos escaninhos no curto prazo projetos como reforma tributária, reforma administrativa e privatizações. Os financistas e empresários podem esperar sentados, como vêm fazendo enquanto assistem omissos e complacentes a Bolsonaro cometer crimes sucessivos contra a saúde pública e a democracia. Também é muito etéreo e remoto traçar cenários para 2022 com base só no resultado do xadrez congressual, quando a vida nua e crua bate à porta dos políticos acompanhada pela sombra da morte. Quem me disse isso quando questionei a respeito do saldo da eleição das Mesas para a sucessão foi Ciro Gomes, que está acertadamente mais de olho nos indicadores do mundo real que nos conchavos entre um cada vez mais enfraquecido Bolsonaro e um Legislativo com apetite pantagruélico. Eis um encontro que nunca resulta bom para os governantes: o da fome dos políticos com a geladeira vazia do Orçamento e com a gritaria das ruas.

Bernardo M. Franco – *”Rodrigo Maia perdeu o bonde do impeachment”*: No último dia de reinado na Câmara, Rodrigo Maia ameaçou receber um dos 62 pedidos de impeachment que adormeciam em sua gaveta. A bravata gerou marola nas redes sociais, mas não chegou a assustar o governo. Aos ouvidos da classe política, soou apenas como um ato de desespero. Maia teve diversas chances de frear a escalada autoritária do bolsonarismo. Ele viu o presidente tramar um autogolpe, estimular motins nas polícias e atiçar radicais que pregavam o fechamento do Congresso e do Supremo. Em vez de permitir a abertura de um processo de cassação, preferiu lavar as mãos e distribuir notas de repúdio. Ao ser cobrado pela omissão, o deputado dizia não ver base jurídica para o impeachment. Crimes de responsabilidade não faltaram. Faltou coragem para enfrentar extremistas e contrariar agentes econômicos que lucram com o desgoverno. No sábado, Maia engrossou a voz e acusou os bolsonaristas de adotar métodos do fascismo. Esses métodos estão em uso desde a campanha de 2018, quando o então presidenciável ameaçava fechar jornais e mandar adversários para a cadeia ou o exílio.
Sem a prisão de Fabrício Queiroz, o plano da quartelada poderia ter evoluído das palavras à ação. Bolsonaro foi contido pelo cerco judicial a seus filhos, não pela covardia do Legislativo. Maia perdeu duas vezes o bonde do impeachment. Ele passou pela primeira vez entre março e abril de 2020, quando o capitão ejetou dois ministros da Saúde e virou alvo de panelaços diários. A inércia da Câmara permitiu que Bolsonaro continuasse a atuar a favor do vírus. Ele recuperou popularidade com o auxílio emergencial e conseguiu se equilibrar na cadeira. O bonde voltou a passar no mês passado, quando ficou claro que o negacionismo federal deixou o país no fim da fila das vacinas. O deputado recebeu novos apelos para agir, mas estava mais preocupado em pedir votos para o aliado Baleia Rossi. Ao vociferar no domingo, Maia já havia perdido o controle da eleição da Câmara. A abertura do impeachment era um imperativo ético, mas seria reduzida a um ato de vingança. Que seria anulado rapidamente por seu sucessor, ansioso para mostrar serviço ao Planalto.

*”No centro do poder – Deputada investigada no STF e contra isolamento social vai presidir CCJ”*
*”Festa da vitória reuniu ministros e desafetos de Bolsonaro”*
*”Aliados tentam convencer Maia a ficar no DEM”*
*”Eleição na Câmara faz Doria rever alianças para 2022”*

*”Ala do PSDB aponta atuação de Aécio a favor de Lira”* - Aliados do governador de São Paulo, João Doria, atribuem o apoio de parte da bancada do PSDB ao deputado Arthur Lira (PP-AL) na eleição para presidência da Câmara a uma ação nos bastidores do deputado Aécio Neves (PSDB-MG). O PSDB era um dos partidos do bloco de Rodrigo Maia (DEM-RJ), que tentou, sem sucesso, emplacar Baleia Rossi (MDB-SP) no comando da Casa. Pelo menos oito deputados do PSDB, de um total de 31, são ligados a Aécio. Nos bastidores, porém, segundo fontes da sigla, Aécio contava que quase metade da bancada poderia votar em Lira, a despeito do apoio a Baleia. A votação foi secreta. O resultado só não teria sido pior porque Doria e o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso pediram que os parlamentares continuassem no bloco. Maia, porém, descarta que Aécio tenha trabalhado por Lira.
— O PSDB foi o resultado da soma dos esforços (dos governadores) Doria, Eduardo Leite (RS), Reinaldo Azambuja (MS) e do Aécio. O Aécio foi decisivo para terminar de fechar o bloco. Essa é a minha visão — disse o ex-presidente da Câmara.
Para pessoas próximas de Doria, a ação de Aécio seria uma retaliação ao movimento do governador para tirá-lo da sigla. Em agosto de 2019, quando o PSDB rejeitou o pedido de expulsão do mineiro, Doria afirmou que o “velho PSDB esconde sujeiras” e que iria “até o fim” para expulsar Aécio, investigado na Lava-Jato. O tucano conseguiu se livrar da punição com 33 votos a seu favor na Executiva e apenas três contra, provando o seu cacife interno. O relator do processo interno, que descartou a punição, foi o deputado Celso Sabino (PA), que, recentemente, defendeu publicamente a candidatura de Lira. Réu por corrupção e obstrução de Justiça, o mineiro é acusado de receber propina do empresário Joesley Batista. Ele nega os crimes. Procurado, Aécio não comentou.

*”Eleição no Congresso muda equilíbrio das forças políticas”*

ANALÍTICO: *”Após vitória, Lira quer unificar Centrão e entrega-lo a Bolsonaro em 2022”* - Há duas semanas, enquanto viajava pelo país em busca de votos, Arthur Lira (PP-AL) ouviu por telefone uma fala bem-humorada de Maria do Rosário (PT-RS), deputada odiada no universo bolsonarista. “Você já me ligou quatro vezes nessa campanha. Baleia não ligou nenhuma”, brincou a petista com o candidato apoiado pelo Planalto. São vários os fatores que explicam a eleição de Lira. Teve promessa milionária de emendas extras para aliados de Lira? Sim. Teve distribuição de cargos e retaliação de parlamentares que acompanharam Baleia Rossi (MDB-SP)? Sim. Mas teve ainda um candidato que soube falar o idioma do chão da Câmara, capaz de ter canal aberto na esquerda e na direita. Em dois meses, Baleia, um nome escolhido de improviso após o Supremo Tribunal Federal (STF) impedir a reeleição de Rodrigo Maia (DEM-RJ), foi visto muitas vezes preferindo pedir votos para prefeitos e governadores convencerem suas bancadas do que aos próprios parlamentares. Precisava ainda, em várias oportunidades, da presença de Maia nas agendas para legitimá-lo.
Tantas fragilidades fazem muitos aliados do agora ex-presidente da Câmara considerarem nos últimos dias que o melhor nome para enfrentar Lira do campo anti-Bolsonaro teria sido o ex-ministro paraibano Aguinaldo Ribeiro, do mesmo PP de Lira. Quem, contudo, acabou rachado na reta final foi o DEM. Lira chamou a Bahia de ACM Neto como a “Ohio” da sua campanha (estado americano onde a vitória costuma ser decisiva na eleição presidencial). A meta agora de Lira e Ciro Nogueira, presidente do PP, mira 2022. Trazer os partidos que estavam com Baleia, reunificar o Centrão e entregá-lo nas mãos de Bolsonaro na campanha de reeleição. Como O GLOBO mostrou em 10 de janeiro, já há um caminho trilhado nesse sentido. Enquanto o bloco de Lira tinha na época 60 cargos mapeados na administração federal, os partidos que estiveram com Baleia possuíam 46. Falta muito ainda, mas se a estratégia der certo, pode complicar o objetivo do governador de São Paulo, João Doria, de fazer uma aliança robusta para a eleição presidencial. E, desde a noite de domingo, quando o DEM abandonou o bloco de Baleia, o entorno do apresentador Luciano Huck passou a ter dúvidas sobre o DEM e sua lealdade para uma filiação rumo ao Planalto.

*”Em eleição acirrada, MDB conquista vice do Senado”*
*”TSE anula inelegibilidade de Eduardo Paes e Pedro Paulo”*

*”STJ nega novo recurso de Lula no caso do tríplex”*

*”Reforço no combate – Sputnik V, em análise na Anvisa, tem eficácia de 91,6% contra a Covid-19”*
*”Vacina de Oxford é 76% eficaz três meses após dose inicial”*
*”Novo estudo abre caminho para tratar Alzheimer”*

*”Prioridade econômica – Equipe de Guedes defende aprovação do Orçamento para avançar nas reformas”*
*”Mudança no Congresso reacende defesa das reformas por empresários”*

 

CAPA – Manchete principal: *”Estatal paga R$ 1,2 mil por filho e 100% de adicional de férias”*

EDITORIAL DO ESTADÃO - *”Acabou a desculpa”*: Os candidatos apoiados pelo presidente Jair Bolsonaro venceram as eleições para o comando da Câmara e do Senado. Como Bolsonaro e seu ministro da Economia, Paulo Guedes, passaram toda a primeira metade do mandato presidencial a se queixar da falta de colaboração do Congresso para destravar a votação dos projetos de interesse do País, é lícito supor que agora, com uma direção parlamentar supostamente mais alinhada ao Palácio do Planalto, o governo terá força política para tocar sua agenda adiante. Ou seja, acabou a desculpa usada frequentemente por Bolsonaro para a impressionante inoperância de seu governo. Mas é duplamente ingênua a expectativa de que o desfecho da eleição do Congresso dará ao governo melhor condição de governabilidade e permitirá que Bolsonaro, enfim, comece a trabalhar. Em primeiro lugar, qualquer observador minimamente bem informado sabe que Bolsonaro não trabalhou até agora simplesmente porque é ergofóbico, e não porque não o deixaram trabalhar. Não tem nenhum projeto racional e estruturado de governo, e seu único interesse é se manter no poder e proteger os filhos. Foi um mau militar, na insuspeita avaliação do general Ernesto Geisel, e foi igualmente um mau parlamentar, sem qualquer contribuição para o País; não surpreende que seja um mau presidente. Assim, mesmo que os novos presidentes da Câmara e do Senado revelem-se governistas leais, o que está longe de ser garantido, nada sugere que Bolsonaro daqui em diante faça mais do que bater ponto e sabotar as raras iniciativas reformistas de seus ministros e de sua base parlamentar.
Em segundo lugar, mas não menos importante, o novo presidente da Câmara, deputado Arthur Lira (Progressistas-al), é genuíno representante do Centrão – bloco cujos integrantes não saem de casa se não receberem algum estímulo fisiológico. Bolsonaro, que já vinha entregando seu governo ao Centrão, despejou bilhões de reais na campanha de Arthur Lira, na forma de liberação de verbas para deputados em troca de votos. Mais uma vez, contudo, as aparências enganam. Os impressionantes 302 votos obtidos por Arthur Lira não significam nem que o Centrão tenha tantos deputados nem que todos esses parlamentares tenham se tornado subitamente governistas. Hoje, o Centrão mal tem votos suficientes para aprovar leis ordinárias – quando muito, pode impedir que um eventual processo de impeachment prospere, o que, na prática, é o único interesse do presidente da República. Seja como for, a vitória dos candidatos apoiados por Bolsonaro no Congresso é um desfecho preocupante, pois um Legislativo amalgamado a um Executivo cujo chefe tem orgulhosa vocação autoritária é obviamente uma ameaça à democracia – a comparação com o assalto ao poder pelo chavismo na Venezuela não é despropositada.
O jogo é bruto, e vai requerer da oposição união e objetivos claros, algo ainda muito distante da realidade. Ao contrário, DEM e PSDB, que pareciam ter pretensões de liderar o movimento de centro contra Bolsonaro, deram vexame na eleição do Congresso, demonstrando imensa fragilidade e confusão de propósitos. Não é possível se apresentar como oposição e, ao mesmo tempo, permitir que seus correligionários se engalfinhem por cargos e verbas oferecidos pelo presidente. O desanimador resultado da disputa no Congresso pode dar a entender que estamos fadados ao Centrão e ao bolsonarismo, isto é, à escória da democracia. A grandiosa promessa de renovação da política desembocou nisso – a eleição de um deputado condenado por improbidade, apoiado por um presidente que jogou no lixo suas promessas de acabar com a relação fisiológica, tudo ante a impotência de uma oposição covarde. E Bolsonaro, em vez de ser chamado à responsabilidade por suas inúmeras afrontas à lei e aos brasileiros, ganha poder. Mas, em política, não existem resultados definitivos. As circunstâncias extraordinariamente duras que o País enfrenta demandam um governo sério e um Congresso consciente de seus deveres. Mais cedo ou mais tarde, o País se dará conta de que não temos nem uma coisa nem outra.

ENTREVISTA: FERNANDO HENRIQUE CARDOSO, ex-presidente da República - *”Espero que o PSDB não esteja no ciclo descendente”*: A hesitação do PSDB demonstrada na eleição para o comando da Câmara dos Deputados obriga o partido a “tomar um rumo”, avaliou o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso. Para ele, cabe à sigla dar ao eleitor clareza sobre seu posicionamento como uma alternativa ao governo do presidente Jair Bolsonaro. Na sua opinião, o PSDB necessita de líderes capazes de sintetizar um projeto que busque garantir saúde, emprego e renda, e consiga apontar os erros da atual gestão. Caso não seja capaz disso, é possível que o partido entre em um ciclo de declínio, disse o ex-presidente. FHC, no entanto, afirmou ver pouco impacto dos resultados das eleições para a cúpula do Congresso nas disputas de 2022. Leia os principais trechos da entrevista ao Estadão.
• O PSDB negligenciou seu papel de oposição ao presidente Jair Bolsonaro na eleição para a presidência da Câmara?
- No meu ponto de vista, o PSDB deveria ser mais claramente de oposição. O que aconteceu ontem (anteontem) não surpreende, é a força do presidente. Sei como é isso. A força do presidente é muito grande e é muito difícil ganhar uma eleição no Congresso contra o presidente. Mas se não vai ganhar, é para marcar posição. Acho que o PSDB ficou um pouco esvaecido lá.

• Como o sr. avalia o resultado das eleições? Que reflexos podem ter em 2022?
- Eleitoral, nenhum. O povo funciona de outra maneira. Vai depender quem são os candidatos, as pessoas que se apresentam ao povo. Do ponto de vista político, tem consequências, porque dificulta qualquer processo contra o presidente e facilita a tramitação de qualquer matéria que o governo tenha empenho.

• A aliança entre Bolsonaro e o Centrão é um projeto que deve sobreviver até as eleições?
- O que existe na eleição majoritária à Presidência é a relação do candidato com o eleitorado. Claro que a estrutura partidária ajuda, mas não é decisiva.

• O sr. transmitiu anteontem uma mensagem à bancada do PSDB, dizendo que o partido deveria ter uma posição clara...
- Sim, dei minha opinião porque acho isso. Em política, ou você tem posição clara ou fica difícil, as coisas ficam escorregadias. Quem se beneficia do cenário “resvaloso” é o governo, sempre.

• Na mensagem, o sr. diz que ou deveria haver uma posição clara ou o partido poderia dar adeus a chances de construir uma aliança que pudesse disputar as eleições. Ainda pensa assim?
- Foi isso mesmo. O povo não é bobo. A gente pensa que (a população) não percebe, mas percebe. Se você não toma posição no tempo oportuno, quando chega a hora H é tarde.

• Não tomar posição pode fazer o partido cair na vala comum das legendas que cederam ao ‘toma lá, dá cá’?
- Não é o que eu gostaria, mas acaba, né? Se for por esse caminho, acaba.

• O governador João Doria, cuja pré-candidatura já está colocada, tem uma relação muito próxima com Rodrigo Maia e se envolveu na eleição na Câmara. De que forma esse resultado o afeta?
- De alguma forma, mexe com as articulações políticas. No caso do PSDB, tem duas candidaturas mais fortes, a de Doria e a do Eduardo Leite, (governador) do Rio Grande do Sul. Não sei se o Eduardo Leite vai se candidatar. O Doria certamente tem possibilidade, como governador de São Paulo. Agora, o problema tanto de um quanto de outro é ganhar o resto do Brasil. Nasci no Rio, mas me lembro que era muito difícil entrar na Baixada Fluminense. O povo tem que sentir que o candidato que eles escolhem tem ligação com eles, expressam alguma coisa. Tem de tentar contato direto, algum fio que ligue com as regiões.

• Para crescer fora dos Estados, são necessárias alianças fortes. Elas se tornam mais importantes...
- Ajuda a penetrar, mas o mais importante de tudo é a ligação direta, via mídia. A atitude que as pessoas tomam. Inclusive pode aparecer algum candidato que não se conheça e que caia no gosto da população. É difícil nesta altura dos acontecimentos, mas é preciso que haja algum relacionamento com o sentimento do eleitorado. Se não houver, não tem jeito.

• Nesse sentido, o PSDB precisa fazer uma análise interna, ‘ir para o divã’?
- Sem dúvida nenhuma. O PSDB precisa tomar rumo, precisa ter uma palavra afirmativa forte. Os partidos têm seus ciclos. Espero que o PSDB não esteja em seu ciclo descendente. Mas, se estiver, pobre do PSDB. E não é em nome do PSDB, é em nome dos interesses do povo. Eleição é uma coisa conjuntural, mas não é só conjuntural. Tem de ir se formando, ter enraizamento.

• Precisa, então, de lideranças?
- Sim, lideranças, não tenha dúvida. Querendo ou não, tudo depende muito de lideranças na vida política. Não adianta você ter um sentimento sem ter quem o expresse, quem o encarne. O Ulysses Guimarães dizia: ‘Quem fulaniza isso?’ Tem de fulanizar. Quem representa isso? Você é símbolo de um sentimento mais amplo. O povo não vota em você porque é feio ou bonito, mas porque você simboliza um sentimento. Dá tempo para fazer isso? Dá, mas tem que fazer.

• Fulanizando a conversa, Rodrigo Maia, agora ex-presidente da Câmara, saiu desgastado com o DEM durante esse processo...
- O que eu lamento, porque ele é uma pessoa com capacidade afirmativa.

• Há rumores de que ele poderia deixar o DEM e migrar para o PSDB. Como o sr. avalia isso?
- Eu adoraria. Mas, do ponto de vista político, estará trocando doze por meia dúzia, porque PSDB e PFL (antigo nome do DEM) sempre andaram juntos. Agora, do ponto de vista pessoal, a presença do Rodrigo é boa. Para mim, seria muito bem-vindo.

• Sobre Luciano Huck, um nome com quem o sr. dialoga, já seria hora de ele se posicionar sobre o ingresso ou não na política?
- Está chegando a hora. O Luciano tem uma vantagem, ele é conhecido popularmente. Ele é conhecido como uma pessoa que sabe falar com o povo, mas não como líder político. Ele tem de se apresentar como líder político.

• Ele pode ‘fulanizar’ um projeto?
- Ele é capaz, mas precisa fulanizar um projeto político (enfatizando a palavra), precisa ter um projeto. Se tiver um projeto que bata com as necessidades, tem chances. Acho que estão todos na mesma. Daqui por diante, começa o jogo real para ver quem vai encarnar o quê. Quem vai ser a pessoa que encarne alguma coisa que toque na alma do povo.

• Um candidato do PSDB tem que encarnar o quê? Qual é o projeto que tem chances de bater Bolsonaro nas urnas?
- Você nunca tem um projeto abstrato. É com quem está situado. Bolsonaro está situado. É presidente, teve votos e foi capaz de falar com uma parte da população. Como o Doria também, o Eduardo Leite também. Quem ganha a eleição mostrou que tem essa capacidade. Quem ainda não ganhou vai ter que mostrar. Você tem de antagonizar quem tem outro lado. Se o PSDB optar por ser contra o que está acontecendo no governo atual, tem que mostrar claramente isso. Tem de tentar ganhar a população. Pode ganhar, pode não ganhar. Depende do jogo eleitoral e partidário. Mas tem de ter posição clara. Em política, não tem esse negócio de ficar enrustido. É cartas na mesa.

• Os novos presidentes da Câmara e do Senado fizeram discursos em favor da ciência e da vacinação, em declarações contrárias às que o presidente costuma dar. O presidente pode também atenuar um pouco esse discurso?
- Depende da oposição também mostrar que, nesta matéria, ele é retrógrado. Política depende muito de você marcar posição. O que as pessoas veem como necessário para elas? Saúde, em primeiro lugar, por causa da pandemia, depois emprego e depois melhorar de vida, renda. Essas são as questões que vão ser postas e o PSDB tem de ter uma posição clara. O candidato do PSDB tem de falar sobre esses temas. E tem que dizer que vai mal.

*”Lira recua e aceita acordo com oposição”*

ROSÂNGELA BITTAR - *”Quadrilha”*: É com profundo sentimento de pesar que se anuncia o fim dos tempos. Sejam das reformas, da rotina política ou tudo o mais que tenha vida ou inspire esperança. Inclusive as soluções para o grande desafio da pandemia. O ambiente político, dominado por Jair Bolsonaro e Centrão, é irreversivelmente estéril. Sem espaço para avanços ou reformas. Nem a administrativa (como enquadrar o funcionalismo com rigor em meio ao vale-tudo?); nem privatizações (conseguirão vender empresas por eles loteadas?); ou reforma tributária (é lícito perder receita para um projeto liberal que não existe?). O Congresso renunciou à sua agenda própria. Enfraquecido, dividido e sob nova direção, restou ao Parlamento submeter-se à agenda do Executivo. O governo, também fragilizado, não consegue adesões, sequer internamente, para suas propostas. O ministro Paulo Guedes é satélite e está estacionado há tempos. Seu anunciado pacote econômico não tem respaldo nem do próprio presidente. A sucessão na Câmara e no Senado esgotou qualquer capacidade de ação coletiva. Nada se pode esperar além da aprovação de um orçamento caviloso e da indispensável bolsa social de sobrevivência no caos. A lei é a do mercado persa. Vale tudo para vender. Como nos versos da Quadrilha do poeta Drummond, o círculo é vicioso. Os elos, porém, não são de amor, mas de oportunismo.
Parlamentares negociam o mandato para fazer caixa eleitoral e alimentar sua campanha de reeleição. É só o que interessa nesses dois anos finais da legislatura. Com os bolsos cheios, fidelizam prefeitos. Uma vez reeleitos, voltam à boca do caixa e começam a vender tudo de novo. E assim sucessivamente: Jair paga a Arthur, que sacia o bando, que transfere ao prefeito, que elege o deputado, que vende seu voto ao governo, que financia a campanha. Bolsonaro adquiriu com o Centrão o primeiro estágio do projeto da própria reeleição, além de miudezas do seu passivo judicial. Como, por exemplo, o engavetamento do impeachment e a suspensão das CPIS, a das Fake News e a dos crimes de gestão da pandemia. Numa operação triangular, o Congresso pode ter levado de volta ao estoque um produto encalhado, a CPI da Toga. Quem sabe não conseguirá empacotar junto o comando dos três poderes para quitar sua fatura? No varejo, há vistosos produtos de safra, indiferentes para o Centrão, mas que valem ouro no Palácio do Planalto. O armamentismo, por exemplo, é um. A macabra licença para matar, outro. Os brasileiros não estão preocupados com os destinos de Rodrigo Maia, com a sorte de Simone Tebet, ou o sucesso de um futuro projeto democrático à sucessão presidencial. Para isso há tempo.
Tebet foi derrotada por ser candidata da Lava Jato. O deputado Rodrigo Maia perdeu na rasteira habitual de ACM Neto. Pedra cantada há duas semanas: Neto foi visto em festa com Bolsonaro num palanque entre Alagoas e Sergipe, em inauguração da ponte de Propriá. A Bahia, ausente do fato, estava na foto. Neto já se opusera à primeira disputa da presidência da Câmara por Maia. Quando apoiou o candidato do então presidente Temer, Rogério Rosso, sentenciou sua filosofia: em eleição para presidente da Câmara não se fica, jamais, contra o candidato do presidente da República. Além do mais, sua disputa pessoal com Maia é antiga e nos últimos anos a balança pendeu para o presidente da Câmara. Chegou ao momento de decisão. Ao destruir Maia, o demista baiano fez uma opção oportuna pensando no seu futuro. Quem sabe a associação Bolsonarolira não representará sua bala de prata na próxima batalha com o PT, que, por acaso, tem na Bahia sua base estadual mais sólida? Já aos brasileiros em geral sobra o bizarro desafio de apreciar a fusão das táticas milicianas do governo Bolsonaro com a súbita aparição de um novo protagonista alagoano.

RAFAEL CORTEZ - *”A volta do presidencialismo de coalizão”*: Aos olhos dos críticos do governo, resultado do “toma lá, da cá”. Sob a ótica dos seus defensores, mais um sinal do pragmatismo do presidente. De todo modo, a vitória de Arthur Lira (Progressistas–al) é mais um passo ao retorno do presidencialismo de coalizão. O próprio presidente externou a disposição em afetar o resultado para a presidência da Câmara. O discurso refratário à política tradicional ficou na memória política brasileira, o interregno da nova política teve pouca duração. O presidente e seu núcleo político aprenderam que, sob administração minoritária, a estabilidade política se torna uma commodity escassa, flutuando ao sabor da conjuntura. Em boa medida, a busca por uma coalizão estável parece refletir não apenas ensinamentos do passado, mas especialmente a antecipação de um quadro político turbulento. O debate sobre a interrupção sobre possível processo de impeachment e os entraves da agenda do governo, de fato, sugerem a metade final da administração bastante instável, especialmente diante de um perverso quadro de pandemia. O governo tinha uma decisão a tomar: mitigar tais pressões por meio da mobilização direta da base de apoio bolsonarista nas redes sociais ou partilhar o poder com as lideranças legislativas. Dito de modo mais direto: escolher entre o presidencialismo plebiscitário ou o presidencialismo de coalizão. A vitória de Lira revela a opção por fazer política.
O projeto de Lira está associado ao governo. O deputado alagoano pertence ao partido cujo presidente nacional abriu as portas da legenda à filiação do presidente Bolsonaro, o que serve de interpretação de ganhos expressivos de governabilidade no biênio final do mandato. As reformas econômicas, enfim, seriam destravadas. O deputado do Progressistas defende a “Câmara do nós”, ou seja, a Câmara que representa a maioria do plenário, sem ação estratégica do presidente no controle da agenda. Dito de outro modo: o governo do “Centrão”, rótulo defendido por Lira como força moderadora. Um governo do Centrão, basicamente, representa decisões de legendas e líderes com baixo capital reputacional e pouca ambição de um projeto nacional. Assim, a implicação efetiva em termos de governabilidade depende das preferências dessa maioria e das intenções do governo ao mobilizar seus recursos para Lira. O objetivo central da aproximação parece ser político, expresso na busca pela proteção do mandato e pela desidratação do projeto eleitoral rival na centro-direita. Lira não foi eleito com o mandato para implementar reformas liberais. O presidencialismo de coalizão em si mesmo não define qualidade das políticas e depende da liderança presidencial. O desafio é transformar um acordo reativo em um projeto de reeleição comum, fazendo essa maioria legislativa votar temas espinhosos em nome de mais votos em 2022.

*”PF apura tráfico de drogas em rota da FAB”*

*”Brasil tem ‘tropa cibernética’ de desinformação, diz estudo”* - Uma pesquisa da Universidade de Oxford divulgada em janeiro apontou que 81 países – entre eles o Brasil – foram em 2020 cenários de ações de “propaganda computacional” e “desinformação industrializada” sobre temas políticos. Essas iniciativas foram promovidas profissionalmente por agências governamentais e outros atores institucionais ou privados – empresas, partidos e influenciadores digitais. No estudo, o País aparece com “tropas cibernéticas” dedicadas a atacar opositores do governo e aumentar a polarização na sociedade, entre outras metas. Em seu repertório de instrumentos, estavam as fake news. Essas notícias falsas, inventadas para manipular a opinião pública, foram massificadas por robôs nas redes sociais. “Na indústria da desinformação global, o Brasil está posicionado como um país com ‘tropas cibernéticas’ de capacidade média”, afirmou ao Estadão, em entrevista por e-mail, a pesquisadora Antonella Perini. Ela integra o Projeto de Pesquisa de Propaganda Computacional do Oxford Internet Institute (OII). O grupo de pesquisadores constatou que, em relação a 2019, houve crescimento no número de países com esse tipo de atividade. Foi de 15,7%, 81 ante 70.
Ranking. O Brasil “garantiu” sua presença na lista de Oxford, posicionado entre países com média capacidade de desinformação industrializada, apontou a pesquisa Industrialized Disinformation 2020 – Global Inventory of Organized Social Media Manipulation, lançada em 13 de janeiro. As ações de suas “tropas” foram marcadas por atividade recente, em caráter permanente, com alguma centralização, emprego de recursos financeiros e existência de uma coordenação central. O País está ao lado de Armênia, Austrália, Bolívia, Cuba, Hungria, Polônia, México, Síria, Turquia. Ao todo, são 37 países nesse grupo. Empregam gente em tempo integral. Promovem ações “para manipulação de mídia social”. Algumas operam até fora de seus respectivos territórios nacionais, diz o relatório. “As mais utilizadas estratégias no Brasil foram mensagens pró-governo, ataques à oposição e polarização”, disse Antonella Perini. “Mais frequentemente, os ataques são voltados contra jornalistas e meios de comunicação que são críticos ao governo, contra políticos e contra funcionários públicos.”
Classificação. Em primeiro lugar nesse ranking, a pesquisa da universidade britânica aponta um grupo com 17 outros países. Suas “tropas”, afirma, têm “alta capacidade” de desinformar. Estão lá Estados Unidos, China, Reino Unido, Índia, Rússia, além de Arábia Saudita, Venezuela, Irã, Iraque. Para “iludir” o público, usam notícias falsas e outros truques. Recorrem a contas automatizadas, campanhas organizadas de denúncia e até a perfis roubados. Suas atividades envolvem muita gente e grandes despesas. O dinheiro vai para operações psicológicas e guerra de informações. “Essas equipes não operam apenas durante eleições, mas envolvem funcionários em tempo integral dedicados a moldar as informações”, prossegue o relatório. “Equipes de tropas cibernéticas de alta capacidade focam operações domésticas e no exterior. Também podem dedicar fundos à mídia patrocinada pelo Estado, para campanhas de propaganda aberta.”
O terceiro grupo tem baixa capacidade no campo da propaganda computacional. Estão lá 27 integrantes – Argentina, Colômbia, Espanha e África do Sul são alguns deles. Suas ações envolvem “equipes que podem estar ativas durante eleições ou referendos, mas param suas atividades até o próximo ciclo eleitoral”. Segundo o estudo, desde 2009, em todo o mundo, quase US$ 60 milhões (mais de R$ 300 milhões) foram gastos em serviços de desinformação. Eles foram prestados por empresas privadas, em todo o mundo. O número de campanhas de “propaganda computacional” dirigidas por governos ou partidos, cresceu constantemente ao longo dos anos pesquisados, aponta o trabalho. “Em 2020, encontramos empresas privadas operando em 48 países, implantando propaganda computacional em nome de um ator político”, diz o texto. “Essas empresas costumam criar contas-marionete, identificar públicos para microdirecionamento ou usar robôs ou outras estratégias de amplificação para estimular a tendência de certas mensagens políticas.” O mesmo relatório lembra como grandes plataformas de comunicação intervieram recentemente nesse cenário. Elas tiraram do ar contas aparentemente gerenciadas por “tropas cibernéticas”, para ataques políticos.

ENTREVISTA: ANTONELLA PERINI, representante do Oxford Internet Institute - *”Produção de fake news se tornou profissionalizada”*: Integrante do Projeto de Pesquisa sobre Propaganda Computacional do Oxford Internet Institute, Antonella Perini atribuiu a ações de “desinformação industrializada” a grande quantidade de informação falsa disseminada no País durante a pandemia. Segundo ela, durante momentos “críticos”, como eleições, ações desse tipo “emergem ou aumentam”.
• O relatório do Oxford Internet Institute aponta que, em 2020, havia 81 países com a chamada desinformação industrializada. O que é isso e como funciona?
- A desinformação industrializada refere-se a um cenário em que a desinformação tornouse mais profissionalizada. Os atores políticos estão cada vez mais contratando empresas privadas, que produzem desinformação em escala industrial.

• Poderia citar exemplos de ações de desinformação industrializada no Brasil em 2020?
- Nos primeiros meses de disseminação do coronavírus, tanto o presidente Jair Bolsonaro quanto membros do governo disseminaram uma grande quantidade de informações falsas. A principal ação foi observada depois que Bolsonaro demitiu o ministro da Saúde (Luiz Henrique) Mandetta. O que se seguiu foi uma campanha difamatória e de desinformação rapidamente difundida nas redes pró-bolsonaro.

• O relatório menciona a ação dos partidos na desinformação industrializada em 2020.
- Observamos estratégias organizadas de manipulação de mídias sociais no Brasil desde 2010. Foi durante a campanha de 2018 que elas ganharam destaque. Os candidatos usaram contas falsas, mensagens em massa e/ou disseminaram desinformação em todo o espectro político. Quanto a 2019 e início de 2020, encontramos evidências de uma estrutura organizada dentro do governo Bolsonaro, surgida durante a campanha de 2018 do PSL.

• Como a indústria da desinformação age no País na pandemia?
- Observamos grande quantidade de desinformação replicando a narrativa do governo sobre a covid-19 não ser uma ameaça preocupante. Isso foi complementado por ataques a atores políticos que se opunham a essa visão, ao Congresso e ao Supremo Tribunal Federal.

• No Brasil, começa-se a falar em impeachment. O que podemos esperar em termos de desinformação industrializada aqui?
- Operações de propaganda computacional emergem ou aumentam durante eventos politicamente cruciais, como eleições, escândalos de corrupção, impeachment. Não seria uma surpresa se víssemos intensas e organizadas campanhas próbolsonaro e ataques a atores que são críticos a ele.

*”Biden cria força-tarefa para tentar unir famílias de imigrantes separadas”*
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*”Governo exclui de MP da Vacina item que facilitava negociação com a Pfizer”* - O governo Jair Bolsonaro contrariou órgãos técnicos e excluiu trecho da Medida Provisória 1.026/2021, publicada em 6 de janeiro, que poderia ter facilitado a compra da vacina da Pfizer para a covid-19. Na primeira versão da MP, obtida pelo Estadão via Lei de Acesso à Informação, havia um artigo que autorizava a União a assumir a responsabilidade sobre efeitos adversos que os imunizantes pudessem apresentar. Além disso, o texto liberava a contratação de um seguro para cobrir os riscos que o governo assumiria. Essas medidas são exigências do laboratório Pfizer para vender seu imunizante. Países da Europa e os Estados Unidos já firmaram compromissos nesses termos com a farmacêutica para viabilizar a compra do imunizante. Tratase de exigência do laboratório para evitar ser alvo de eventuais ações judiciais, mas o governo considerou a cláusula “abusiva”. A negociação com a farmacêutica americana, que ofereceu 70 milhões de doses ao País, se arrasta desde dezembro. O Brasil hoje depende da vacina Coronavac, fabricada pelo Instituto Butantan, e do imunizante da Astrazeneca/oxford, produzido pela Fiocruz, e não tem doses suficientes para vacinar toda a população. A previsão do Ministério da Saúde é de que serão necessárias 350 milhões de doses no total. A versão descartada da chamada “MP da Vacina” foi enviada ao Palácio do Planalto no fim de dezembro pelos ministros da Saúde, da Justiça, da Controladoria-geral da União (CGU) e da Advocacia-geral da União (AGU). Todos esses órgãos técnicos, portanto, entenderam que o artigo era aceitável. O texto foi devolvido e, quando voltou na sua nova versão, apenas seis dias depois, o artigo que facilitaria a negociação com a Pfizer havia sido suprimido. Esse segundo texto, diferentemente do primeiro, incluía ainda a assinatura do ministro da Casa Civil, general Walter Braga Netto.
A nova redação da medida também excluiu a permissão para a União contratar um seguro privado, mesmo de empresa estrangeira, ou a criar outras garantias, como um fundo público, para cobrir os riscos que o governo assumiria. Esse tipo de reserva de segurança é utilizado, por exemplo, nos Estados Unidos, e serve para indenizar pessoas que eventualmente sofram efeitos colaterais após tomarem vacinas. Apesar de ainda não ter vacinas garantidas para toda a população, Bolsonaro e o ministro da Saúde, Eduardo Pazuello, resistem em aceitar a proposta da Pfizer. Em nota de 23 de janeiro, a pasta disse que comprar esta vacina seria uma conquista de “marketing, branding e growth” para o laboratório, mas causaria “frustração em todos os brasileiros”, porque a oferta de doses seria pequena. Das 70 milhões de doses que o laboratório negocia com o Brasil, só 8,5 milhões seriam entregues no primeiro semestre deste ano. Bolsonaro e Pazuello apontam justamente a exigência da Pfizer de não responder por efeitos adversos como maior barreira para a negociação. “Lá no contrato da Pfizer está bem claro: ‘Não nos responsabilizamos por qualquer efeito colateral. Se você virar um jacaré, é problema de você’”, disse o presidente, em discurso em Porto Seguro no dia 17 de dezembro. No caso das duas vacinas que já estão sendo utilizadas no País, não há essa exigência. Caberá às fabricantes brasileiras dos imunizantes, Fiocruz e Butantan, responder por qualquer efeito adverso que não estava previsto.
Aval da AGU. Em parecer em que dá aval jurídico à medida, a AGU aponta a questão da responsabilidade da União em relação à vacina como de “induvidosa constitucionalidade”. “Este dispositivo, além de estar adequado à realidade dos fatos, vez que não há ainda vacinas cuja maturidade de pesquisas seja suficiente para seguimento do processo regular de aprovação, é de induvidosa constitucionalidade”. Para a CGU, na prática, o governo já se expõe ao risco de ser responsabilizado por efeitos adversos, pois as vacinas são aprovadas pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa). Em 20 de janeiro, após a publicação da MP, o secretário executivo do Ministério da Saúde, Élcio Franco, declarou que a Pfizer considerava a legislação brasileira não “adequada” para fechar contrato. “Estamos tentando verificar até onde eles podem ceder”, afirmou Franco. Especialistas ouvidos pela reportagem apontam que eximir a fabricante de responsabilização civil em caso de efeitos adversos causados por vacinas é prática comum em países desenvolvidos, inclusive para outros imunizantes, e algo recomendada pela Organização Mundial da Saúde (OMS). “Não é um contrato dracroniano. É o mesmo contrato que está sendo exercido no mundo inteiro e outros países estão aceitando”, diz o advogado Paulo Almeida, diretor executivo do Instituto Questão de Ciência.
Ele também afirma que a criação de fundos públicos para assegurar ressarcimento por efeitos adversos é “prática consolidada no mundo”. Segundo Almeida, porém, o uso deste recurso é uma rara exceção, pois as vacinas passam por “sério crivo das agências reguladoras”, o que já confirmaria a segurança dos produtos. “Acaba sendo uma birra do governo. Talvez por desconhecimento das melhores práticas internacionais. Na pior leitura possível, é criar entraves para dificultar a entrada das vacinas, por desinteresse em se associar à empresa, seja por motivo ideológico ou mercadológico”, afirmou Almeida. A epidemiologista Carla Domingues, que coordenou o Programa Nacional de Imunização (PNI) entre 2011 e 2019, disse ao Estadão, no fim de janeiro, que é difícil fazer uma avaliação mais precisa das condições negociadas para a venda de vacinas da Pfizer, pois em nenhum momento o contrato foi divulgado em sua íntegra para verificar se há mesmo “cláusulas leoninas e abusivas”, como disse o ministério. No entanto, ela questiona o fato de o Brasil ser o único País a ter dificuldade de assinar com a farmacêutica americana, enquanto Estados Unidos, países da Europa e outras nações já fecharam negócio. “A dificuldade é porque o Brasil não se planejou para essa vacina, de enorme complexidade”, afirmou.
Respostas. Procurados para comentar a mudança na MP, o Ministério da Saúde e o Palácio do Planalto não se manifestaram. No Congresso, que tem até maio para analisar a medida provisória, há discussões sobre incluir no texto o artigo que facilitaria o negócio com a Pfizer.

*”Britânicos comprovam eficácia de 91,6% da Sputnik V”*
*”Vacina tem eficácia de 82,4% após 12 semanas”*

*”Benefício em estatal vai de adicional de férias de 100% a R$ 1,2 mil por filho”* - Numa nova ofensiva em defesa das privatizações, o Ministério da Economia resolveu divulgar o total de benefícios concedidos aos funcionários de 46 empresas com controle direto da União. Os auxílios incluem desde o pagamento de 100% do salário como adicional de férias, como faz a Petrobrás, a ajuda educacional de mais de um salário mínimo (R$ 1.261,65) por mês para cada filho menor de 18 anos, como é o caso do BNDES. Pela primeira vez, o relatório reúne todas as informações desses benefícios. Dados que eram considerados por técnicos do governo uma “caixa-preta”, embora sejam resultado de acordos coletivos entre as empresas e seus empregados. “A melhor arma que a gente pode ter para combater qualquer tipo de privilégio é a transparência”, afirmou o secretário especial de Desestatização, Desinvestimento e Mercados, Diogo Mac Cord. No BNDES, onde o salário médio é de R$ 29,2 mil e o máximo de R$ 75,6 mil, os funcionários recebem também 13 cestas por ano de alimentação, com custo entre R$ 654,88 a R$ 1.521,80 por mês, de auxílio refeição. O banco estatal oferece 100% do benefício de assistência à saúde para os seus empregados e aposentados com custo médio de R$ 3.673,63 por mês. O BNDES tem 2,5 mil funcionários.
Na Petrobrás, a lista de benefícios, como abonos, adicionais, ausências autorizadas, auxílios e estabilidade, contém três páginas e meia e inclui, por exemplo, 100% da remuneração como gratificação de férias. No setor privado, a Constituição garante o direito às férias remuneradas uma vez por ano, com o pagamento de, no mínimo, um terço a mais sobre o salário normal. Esse adicional é chamado de terço constitucional. Além da petroleira, três estatais pagam aos funcionários mais de um terço: Docas do Espírito Santo (50%), Docas do Rio de Janeiro (50%) e Infraero (50%). O custo médio por empregado para Petrobrás com o plano de saúde dos empregados é de R$ 1.721,21 por mês. A participação da empresa no custeio do benefício de assistência à saúde é de 72% do total. Ao todo, são desembolsados R$ 2,25 bilhões por ano. A assistência da alimentação é de R$ 1.254,48 por funcionário por mês, além de R$ 192 de vale refeição para os que recebem assistência alimentar in natura, além de custeio de medicamentos. Com o plano de previdência, o gasto anual da Petrobrás em 2019 foi de R$ 4,4 bilhões. Na Eletrobrás, que está na lista de privatizações, o auxílio alimentação é de R$ 1.202,34 por mês (e são pagos 13 auxílios por ano). Os funcionários ainda têm direito a ajuda para creche e pré-escola de R$ 863,83 por mês (paga a funcionários com filhos de 6 meses a 6 anos) e o educacional de R$ 574,47 (para quem tem filho menor de 17 anos e 11 meses).
Auxílio. Na Docas do Espírito Santo, os funcionários têm direito a auxílio educação de R$ 590,71 por mês para filhos entre 7 e 16 anos de idade e R$ 740 como auxílio creche para filhos de até sete anos. Na Finep, o vale educação é de R$ 870,81 para filhos menores de 18 anos e R$ 326,51 para filhos menores de 24 anos e maiores de 18 anos para cursar faculdade. A divulgação dos dados acontece no momento em que o ministro Paulo Guedes e sua equipe buscam apoio no Congresso para avançar com as privatizações, tema que não andou nos dois primeiros anos do governo e que sofre resistências entre parlamentares, inclusive dos partidos que apoiam o governo. A área econômica não fala abertamente, mas quer chamar atenção para o que classifica de “privilégios” porque não encontra equivalência na iniciativa privada. No ano passado, o Ministério da Economia já tinha divulgado relatório em que mostrava que as estatais brasileiras pagam salários médios de até R$ 31,3 mil – isso sem contar as remunerações das diretorias executivas, que chegam a ganhar em média até R$ 2,9 milhões por ano. O documento evidencia números superlativos – e muitas vezes contrastantes com a realidade brasileira – de várias dessas empresas. No ano passado, a renda média do brasileiro ficou abaixo de R$ 2,5 mil.

*”Relatório traz dados que muitos queriam conhecer, diz secretário”*
*”Líder ruralista vê ‘melhor momento’ para pauta do setor”*
*”Especialistas têm dúvidas sobre ritmo da indústria”*

 

CAPA – Manchete principal: *”Fevereiro atípico terá até R$ 22 bi em ofertas de ações”*

*”Alta da indústria surpreende em dezembro, mas cenário ainda é frágil”* - Apesar de melhora, produção recua 4,5% em 2020 e tem segundo ano de queda

*”Estatais chegam a pagar mais de R$ 1 mil em vale-alimentação”* - Relatório do governo mostra benefícios concedidos por empresas, muitas vezes não previstos em lei

*”Estados são chamados a ajudar em ‘novo’ auxílio”* - Com superávit recorde, governos regionais poderiam desenvolver benefício, dizem economistas

*”SP não teve recessão em 2020 e crescerá 5% agora, diz Meirelles”* - Expectativa da vacinação e da volta à normalidade influenciam o nível de confiança, segundo secretário

*”Pandemia leva a queda de 6% no consumo de combustíveis em 2020”* - Vendas totalizaram 131,7 bilhões de litros no ano passado, menor patamar desde 2012

*”Piora da pandemia traz risco de recessão”* - Retomada depende de volta de circulação de pessoas e reedição do auxílio não preocupa, diz Ana Paula Vescovi

*”Morte por covid acelera em cidades pequenas”* - Pobreza e estrutura de saúde precária explicam aumento do peso de municípios menores nos óbitos

*”Anvisa diz ainda aguardar dados sobre vacina russa”* - Artigo na revista científica “The Lancet” apontou eficácia superior a 91% da Sputnik V contra covid-19

*”Pacheco e Lira negociam aprovar Orçamento até março”* - Presidente da Câmara cobrou de relator apresentação de parecer sobre a reforma tributária

*”Governo estabelece PEC Emergencial como prioridade”* - Ideia de reforma tributária ampla foi adiada

*”Vitória governista recompõe PSL e bolsonarista irá assumir comando da CCJ”* - Bia Kicis ficará na presidência de comissão estratégica

*”MDB ganha espaço em composição negociada por Alcolumbre no Senado”* - Partido vai comandar a primeira vice-presidência da Casa

*”Pedro Paulo diz que grupo do DEM no Rio seguirá decisão partidária de Maia”* - Para deputado licenciado, partido “perdeu o papel de liderar as forças de centro para 2022”

*”Ramos supera fogo amigo e se fortalece”* - Principal tarefa de Bolsonaro será a de reduzir tensão entre articuladores políticos

*”’Guedes corre mais risco com Lira do que com Maia’, diz Mendonça de Barros”* - Para Ribeiro, da MCM, foverno pagará mais caro por reformas menores

*”Setor privado preocupa-se com agenda de reformas”* - Segundo empresários, o desafio será conciliar o avanço na pauta liberalizante com o que chamaram de “gula fisiológica do centrão”

*”’Preço de manutenção da aliança será cada vez mais alto’”* - Bolsonaro deve dar maior atenção à agenda econômica, com a aprovação de reformas como a administrativa e fiscal, para permanecer no cargo até o fim de seu mandato, avalia professora da UFMG

*”Portaria pode prejudicar a Huawei”* - O ministro das Comunicações, Fábio Faria, reforçou ontem, que a rede privativa de uso exclusivo da administração federal - a ser bancada pelos vencedores do leilão de licenças de 3,5 GHz da tecnologia de quinta geração (5G) - somente contará com a participação de empresas privadas que respeitem as regras de governança adotadas pelo mercado de capitais no Brasil. Isso significa, no entender de integrantes do governo de Jair Bolsonaro, que as operadoras que vencerem a disputa pelas licenças da faixa de 3,5 GHz não poderão comprar equipamentos da chinesa Huawei. Serão leiloadas quatro licenças nacionais e oito regionais nessa faixa - a mais cobiçada do leilão. Os vencedores das demais faixas estão liberados para comprar equipamentos da Huawei. A barreira aos chineses foi defendida abertamente pelo filho do presidente Jair Bolsonaro, o deputado Eduardo Bolsonaro (PSL-SP), inspirado na decisão do governo do ex-presidente dos Estados Unidos Donald Trump de bloquear os fornecedores chineses para se proteger de suposta prática de espionagem comandada por Pequim. “Atendendo a diretrizes do governo Bolsonaro nós criamos essa rede que deve ter requisitos de governança corporativa exigidos no mercado acionário brasileiro", disse Faria, ontem no Palácio do Planalto.
A possibilidade de recorrer às regras impostas às empresas de capital aberto, reguladas pela Comissão de Valores Mobiliários (CVM), já havia sido considerada quando o governo cogitou publicar um decreto para impedir a compra de equipamentos da Huawei. Na avaliação de integrantes do governo, a companhia chinesa é a única entre as concorrentes diretas - Ericsson e Nokia - que não atende aos requisitos de transparência e compliance já cumpridos por grandes grupos com ações em bolsa. A exigência mencionada pelo ministro foi publicada na última sexta-feira, com a Portaria 1.924/20 assinada por ele mesmo. O texto indica que, para cumprir os “requisitos mínimos de segurança”, a rede privativa deve contar com funcionalidades de criptografia e utilizar “equipamentos projetados, desenvolvidos, fabricados ou fornecidos por empresas que observem padrões de governança corporativa compatíveis com os exigidos no mercado acionário brasileiro”. A portaria ministerial foi bem recebida pelo comando da Agência Nacional de Telecomunicações (Anatel), que temia os efeitos da ampla restrição à Huawei. Integrantes da agência, ouvidos pelo Valor, consideram que o mercado brasileiro poderia ter sua imagem arranhada por um gesto de intervenção estatal que resultaria em perdas financeiras para as teles e aumento de custo para os usuários finais, além do risco de investimentos serem prejudicados por contestações na Justiça.
Para Faria, o apoio da Anatel à solução proposta pelo ministério ficou claro na discussão de ontem sobre o edital, quando três diretores manifestaram voto pela inclusão dessa obrigação nas regras do leilão. Segundo o ministro, o presidente da agência, Leonardo Euler de Morais, apesar de não ter votado, já teria declarado apoio à iniciativa. Resolvida a questão em torno da Huawei, Faria ainda precisou dar explicações sobre quem vai assumir a operação da rede privativa do governo. Desde a publicação da portaria, o ministério é criticado por trazer a Telebras novamente para o jogo. Isso porque a estatal figura na lista de bens a serem transferidos à iniciativa privada e, mesmo assim, continuaria como responsável por operar toda a infraestrutura de rede do governo federal - a regra foi criada em decreto do ex-presidente Michel Temer. Ontem, Faria chegou a dizer, por meio de nota oficial, que o ministério está “alinhado com a política econômica do governo”. Parte do recado foi reiterada hoje: “A escolha do operador da rede privativa será feita com base em critérios de técnica e preço. Se houver necessidade, nós, governo federal, faremos até a alteração no decreto, porque quem vai administrar, vai operar, pode ser uma rede privada que atenda a todos os requisitos”.
Embora a discussão sobre a vulnerabilidade das redes 5G tenha sido incorporada pelo governo Bolsonaro em busca de alinhamento com a gestão Trump, as respostas mais contundentes contra ameaças de espionagem surgiram ironicamente para proteger as autoridades brasileiras de investidas do serviço secreto americano. Em 2013, ao saber que foi alvo de espionagem feita pela Agência de Segurança Nacional dos Estados Unidos (NSA), conforme denúncia do ex-agente Edward Snowden, a então presidente Dilma Rousseff deu o aval a uma série de medidas para aumentar a segurança na comunicação de governo. Na época, surgiu, por exemplo, a ideia de lançar o Satélite Geoestacionário de Defesa e Comunicações Estratégicas (SGDC), operado atualmente pelo Exército e pela Telebras.

*”Novo parque solar terá R$ 1,6 bi em MG”* - Projeto, dos grupos Solatio e Perfin, fornecerá 130 MW médios para indústria de silício por 20 anos

*”CVM absolve ex-conselheiros da petroleira”* - A Comissão de Valores Mobiliários (CVM) absolveu ex-membros do conselho de administração da Petrobras, em julgamento que analisou a condução da política de preços da estatal na época do governo da ex-presidente Dilma Rousseff. A acusação entendia que houve falha no dever de lealdade dos conselheiros por terem induzido investidores a erro ao retardar decisão sobre mudanças na precificação. Entre os acusados estavam o ex-ministro da Fazenda Guido Mantega, a ex-ministra do Planejamento e ex-presidente da Caixa Miriam Belchior e o ex-presidente do BNDES Luciano Coutinho. Além deles, respondiam ao processo os ex-conselheiros Francisco Roberto de Albuquerque, Marcio Pereira Zimmermann, Sérgio Franklin Quintella, Jorge Gerdau Johannpeter e José Maria Ferreira Rangel. O julgamento começou em dezembro de 2018 mas foi suspenso após o pedido de vistas do então diretor Henrique Machado. A decisão de ontem acompanhou o voto do relator original do caso, Pablo Renteria. Quando Machado pediu vistas do caso, já havia antecipado que teria uma visão diferente do relator. Ambos deixaram a CVM antes da conclusão do caso. O mandato de Renteria encerrou-se no fim de 2018, e o de Machado, em dezembro do ano passado. A diretora Flávia Perlingeiro, sucessora de Renteria, assumiu como relatora do processo. No julgamento realizado ontem, o presidente da CVM, Marcelo Barbosa, e os diretores Alexandre Rangel e Gustavo Gonzalez acompanharam o voto proferido pelo então diretor Renteria.
A lógica da política de preços da Petrobras era buscar paridade de longo prazo, não repassando volatilidades de curto prazo ao consumidor final. Investidores e conselheiros independentes questionaram a legalidade dessa política. Na ocasião, a área técnica da CVM concluiu que a política de reajustes não poderia ser considerada como ilegal. No entanto, encontrou outras infrações. Para os técnicos, os administradores acusados teriam suscitado nos investidores expectativas que não pretendiam atender. Os administradores não estariam dispostos a reajustar os preços dos combustíveis de maneira a viabilizar o cumprimento de metas financeiras aprovadas nos planos de negócios da empresa para os períodos 2013-2017 e 2014-2018. Haveria, portanto, “divergências entre os declarados objetivos da política de preços e sua implementação na prática”. Ou ainda “descasamento entre objetivos publicamente declarados e a condução da companhia de modo a inviabilizar a consecução deles”. Assim, para a acusação, eles haviam induzido os investidores em erro ao aprovar os planos de negócios da companhia para 2013-2017 e 2014-2018 e a política de preços divulgada em 29 de novembro 2013. Na época, em seu voto, Renteria entendeu que não era correta a leitura da acusação de que a política de preços teria criado junto ao investidor a expectativa de que algo mudaria na condução dos reajustes de preços de combustíveis. Para ele, havia “diversas evidências” a se demonstrar que os investidores receberam a divulgação de forma negativa, compreendendo que ela significava tão somente a continuidade do “status quo”.

*”Construtora da Odebrecht prevê retomada em 2021”* - Após ver sua receita despencar em 2020, OEC projeta alta de 88% do faturamento neste ano

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