quarta-feira, 10 de fevereiro de 2021

Análise de Mídia - 10/02/2021

 

DOS JORNAIS DE HOJE: A derrota da Lava Jato para o ex-presidente Lula no STF foi destaque na capa do Estadão, mas o jornal publicou uma reportagem burocrática sobre o julgamento, não reproduziu trechos de mensagens e não deu destaque ao voto de Gilmar Mendes nem à mudança de posição da ministra Cármen Lúcia. Mais burocrático do que o Estadão foi o jornal O Globo. É evidente que nenhum dos jornais mencionou os trechos mais duros do voto de Gilmar Mendes e muito menos a crítica que ele fez à “mídia”. A Folha é o jornal que mais estendeu a discussão. Foi uma reportagem burocrática sobre o julgamento, mas que reproduziu trechos das conversas dos integrantes da Lava Jato, um texto analítico e uma entrevista com Edson Fachin que abordou o possível final da “doença infantil do lavajatismo”, segundo o ministro. Já o Valor Econômico publicou uma reportagem também um pouco burocrática sobre o julgamento, mas mencionou a surpresa com o voto de Cármen Lúcia e apontou a dureza do voto de Gilmar Mendes reproduzindo uma ínfima parte. Além disso, o jornal abordou em outra reportagem uma entrevista do ministro Gilmar Mendes ao site Jota. Nela, Mendes falou que a suspeição de Moro deve anular apenas a sentença relativa ao tríplex do Guarujá.
Sobre a política e o governo federal, as discussões giram ao redor do auxílio emergencial, mas até as informações nos jornais são desencontradas. Além disso, há notícias sobre a mudança que Arthur Lira pretende promover da sala utilizada pela imprensa na Câmara. Os jornalistas passariam para um local distante e sem janelas. O Estadão publica reportagem sobre a relação entre o governo Bolsonaro e o Centrão. O ministro Luiz Eduardo Ramos afirmou que os militares entenderam a necessidade da aliança com o Centrão. O jornal mostra também que a falta de investimentos tem feito com que o Brasil reduza a quantidade de exames que sejam capazes de detectar novas variantes do coronavírus.
O Valor Econômico traz uma análise peculiar feita pelo presidente do Banco Central. Roberto Campos Neto afirmou em uma live que a recuperação econômica brasileira foi em “V”, mas perdeu força. Seria cômico se não fosse trágico. O texto ainda mostra que Campos Neto alegou que será muito tempo para compreender o coronavírus e como este afeta as pessoas.

 

CAPA – Manchete principal: ”Há sintomas de corrupção da democracia no país, diz Fachin”

EDITORIAL DA FOLHA - ”Largada queimada”: Jair Bolsonaro está em campanha pela reeleição desde o dia em que assumiu a Presidência, tornando esse o moto perpétuo de seu governo. Busca manter um insólito estado de coisas no qual, ao não produzir quase nada de útil, tira o fôlego dos outros atores políticos. A guinada do mandatário rumo ao pragmatismo, que começou com o cortejo ao centrão para resguardar-se de um processo de impeachment, culminou recentemente em triunfos nas eleições para as presidências da Câmara dos Deputados e do Senado. Seus aliados profissionais já tratam de questões de interesse político-eleitoral imediato, como a prorrogação do auxílio emergencial, enquanto Bolsonaro adere tardiamente ao entendimento universal de que a vacinação será a chave para a retomada econômica. Adversário em potencial mais vistoso no pleito de 2022, o governador paulista, João Doria (PSDB), também participa da movimentação precoce. Fatura com o sucesso de seu investimento na produção do imunizante Coronavac, caso em que um ativo eleitoral tem valor indiscutível para a sociedade. Ao contrário de Bolsonaro, entretanto, Doria ainda não dispõe de uma rota clara ao Planalto. Seu partido, notório por suas alas, encontra-se desorganizado após conduta vexatória na eleição da Câmara.
Ali, a bancada tucana rachou e boa parte dos 31 membros apoiou o nome de Bolsonaro para o comando da Casa, Arthur Lira (PP-AL). Doria identificou o ex-presidenciável Aécio Neves (MG) como foco do movimento, o que o mineiro nega, e partiu para o ataque. Chamou a cúpula da legenda e pediu coesão contra Bolsonaro, o que foi lido como uma tentativa de imposição —a proposta de aliados de que ele presidisse a sigla só fez aumentar a desconfiança. Instalou-se com isso um conflito intestino que poderá custar caro ao governador caso não seja resolvido de forma expedita. Além disso, o DEM, um parceiro tradicional, mergulhou em crise ao perder a presidência da Câmara. Na esquerda, o outro campo posicionado para 2022, prevalece a pulverização estimulada por Luiz Inácio Lula da Silva. O cacique petista —que ainda não deixou a aposta na vaga possibilidade jurídica de poder concorrer e quer se preservar— recolocou o nome do ex-prefeito e ex-ministro Fernando Haddad na praça. O PT decerto será ator importante no pleito e, sozinho, pode até chegar a um segundo turno, mas se ressentirá da dificuldade em dialogar com forças fora de sua órbita tradicional, na qual, ademais, já surgem outros nomes. Se não deixar a sombra do lulismo, correrá o risco de ser um adversário ideal para Bolsonaro.

PAINEL - ”PSDB gaúcho reage a plano de Doria de controlar partido e aponta autoritarismo de governador”: A ação de João Doria para dominar o PSDB, revelada pela Folha, gerou reação imediata da ala gaúcha da legenda, que tem no governador Eduardo Leite a principal ameaça ao projeto presidencial do paulista. Em conversas com aliados nesta terça (9), Leite deixou claro que não aceitará passivamente o rival tomar o partido. “Lamento decisões de cima para baixo. Se criticamos o autoritarismo de Bolsonaro, não podemos ter atitude igual”, diz o deputado federal Daniel Trzeciak (PSDB-RS), aliado do governador gaúcho. O também deputado Lucas Redecker (PSDB-RS) criticou a antecipação do debate eleitoral e defendeu a continuidade de Bruno Araújo na presidência do partido. Para ele, o sucesso de Doria na questão da vacina é um mérito inegável, mas não é determinante para escolha do candidato presidencial. “O que conta é o desempenho em quatro anos de mandato”, diz.

PAINEL - ”Aliados de Doria veem vacilação de presidente tucano contra Bolsonaro”
PAINEL - ”Falta direção clara ao PSDB, diz tucano Aloysio Nunes, que apoia João Doria para 2022”
PAINEL - ”Falta bom senso e a volta às aulas em SP está sendo açodada, diz prefeito de São Bernardo do Campo”
PAINEL - ”PSL tenta evitar que deputados concorram contra Bia Kicis para comandar CCJ”

PAINEL - ”Renan Calheiros apresenta projeto para anistiar hackers da Vaza Jato e quer urgência em proposta”: O senador Renan Calheiros (MDB-AL) apresentará nesta quarta (10) projeto para anistiar os hackers acusados de vazar as mensagens entre procuradores da Lava Jato e o ex-juiz Sergio Moro. Ele espera que a decisão do STF que garantiu a Lula o acesso aos diálogos dê impulso à proposta. O projeto prevê isentar as seis pessoas denunciadas pelo Ministério Público sob acusação de invadir os celulares de investigadores. Na justificativa do documento, Calheiros alega que os hackers apenas deram "divulgação" dos diálogos, o que "haverá de contribuir em futuro próximo para o aperfeiçoamento das instituições judiciais". Diz ainda que os envolvidos já pagaram "preço alto", pela exposição midiática e por terem sido detidos. O senador reconhece que não é possível reconhecer como "lícitas" as ações dos invasores mas que foi graças a elas que se conheceu "reais motivos e dissimulações" dos que se "se arvoravam na condição de paladinos da Justiça, juntamente com o chefe do esquema, o até então impoluto juiz Sérgio Moro". Desafeto da Lava Jato, Renan, novo líder da maioria no Senado, espera conseguir urgência para que a proposta seja votada direto em plenário. Há expectativa de que a senadora Kátia Abreu (PP-TO) seja a relatora. Ao Painel, a parlamentar disse que espera acelerar a tramitação da proposta. "Não podemos punir quem ajudou a abrir os olhos da nação para ilícitos da Lava Jato", avaliou Kátia.

PAINEL - ”Aliados apelam a Lira para não transferir jornalistas para salas sem janelas, mas presidente da Câmara fica irredutível”: Aliados do presidente da Câmara, Arthur Lira (PP-AL), fizeram apelo em privado para que ele revisse a decisão que transferiu a sala de imprensa para um local mais isolado. Mesmo reservadamente, Lira se mostrou irredutível.

PAINEL - ”Integrantes do governo estudam medida provisória para garantir verba extra para novo auxílio emergencial”
PAINEL - ”Diretor deixa grupo Livres e engrossa presença de liberais no governo Paes”

”Com críticas à Lava Jato, STF mantém decisão que autoriza Lula a acessar mensagens” - A Segunda Turma do STF (Supremo Tribunal Federal) manteve nesta terça-feira (9) a decisão que permitiu à defesa do ex-presidente Lula (PT) o acesso a mensagens trocadas entre integrantes da Lava Jato. Os diálogos foram hackeados e, mais tarde, apreendidos pela Polícia Federal no âmbito da Operação Spoofing, que investiga os invasores dos celulares de membros da operação. Os ministros Ricardo Lewandowski, Kassio Nunes Marques, Cármen Lúcia e Gilmar Mendes sustentaram que o grupo de sete procuradores que pediu a revogação do despacho que autorizou o acesso aos diálogos não tinha legitimidade para fazer essa solicitação ao Supremo. Lula já teve acesso às mensagens, mas os procuradores pediam que essa autorização fosse revogada e que o STF declarasse que ele não poderia usar os diálogos como prova de sua inocência nos processos a que responde. Na prática, os ministros mantiveram a decisão de Lewandowski em favor do ex-presidente. Edson Fachin divergiu e ficou vencido. Relator da Lava Jato no STF, Fachin discordou dos colegas em relação ao objeto do julgamento e disse que a corte não analisou apenas se os procuradores teriam o direito de acionar o Supremo. "O que se tem aqui, para além da questão da legitimidade, é o exame do fornecimento integral do material apreendido na 10ª Vara de Brasília", disse. O magistrado também defendeu que não caberia a Lewandowski tomar uma decisão sobre o tema porque a defesa de Lula já havia apresentado pedido parecido a ele enquanto relator de recursos do ex-presidente em curso no Supremo.
Lewandowski, por sua vez, afirmou que não se pronunciaria sobre a validade das conversas como provas, mas ressaltou que “a pequena amostra do material se afigura apta a evidenciar ao menos em tese uma parceria indevida entre órgão julgador e acusação”. Os demais ministros também disseram que a decisão não significa que consideram ou não as mensagens aptas a serem usadas como provas em processos criminais. Apesar disso, Gilmar leu diversos trechos dos diálogos, fez duras críticas à Lava Jato e frisou que o caso ainda deve ter mais "desdobramentos". A permissão para acessar as mensagens dá força ao pedido de Lula para que o Supremo declare a suspeição do ex-juiz Sergio Moro e anule a condenação contra o ex-presidente no caso do tríplex de Guarujá. O cenário mais provável, porém, é que o petista siga inelegível, pois deve ser mantida a condenação sobre o processo do sítio de Atibaia porque Moro não foi o responsável pela sentença de primeira instância nesse caso.
Uma parte substancial das conversas foi entregue ao site The Intercept Brasil, que, em parceria com outros veículos, incluindo a Folha, já havia publicado parte dos diálogos no que ficou conhecido como o escândalo da Vaza Jato. Lewandowski afirmou que concedeu a autorização ao petista porque as mensagens têm relação com o acordo de leniência da Odebrecht, ao qual os advogados tentavam ter acesso havia três anos. O ministro argumentou que tinha competência para analisar a solicitação porque a requisição sobre o acordo da empreiteira está sob sua relatoria desde o ano passado. Ele lembrou que, em agosto, a Segunda Turma determinou que a Lava Jato deveria entregar à defesa as informações sobre as tratativas com autoridades estrangeiras sobre o caso e que a operação resistiu em entregá-las. O ministro frisou que as conversas demonstram que a decisão foi acertada, uma vez que revelou contato direto de procuradores com autoridades estrangeiras sobre o acordo. “Não estou entrando no mérito, apenas concedi à defesa que tivesse acesso a elementos de convicção que estavam em poder do Estado e que se encontravam no bojo de uma ação penal na qual os tais hackers foram condenados com base inclusive numa primeira perícia no material arrecadado”, sustentou. Lewandowski classificou como “extremamente grave e impactante o que veio à tona”. “Deve causar perplexidade em todos aqueles com o mínimo de conhecimento do que seja o devido processo legal e o Estado democrático”, observou. O magistrado ainda sustentou que as mensagens não expuseram a intimidade de nenhum dos integrantes da Lava Jato e que foram entregues à defesa de Lula pela Polícia Federal com todos os cuidados devidos.
Além disso, o ministro afirmou que os diálogos revelaram “tratativas internacionais que ensejaram a presença de inúmeras autoridades estrangeiras em solo brasileiros, as quais, segundo consta, intervieram em investigações aparentemente à revelia dos trâmites legais, objeto específico da reclamação com possível prejuízo" a Lula. Em um voto breve, Kassio Nunes Marques, primeiro indicado do presidente Jair Bolsonaro ao STF, afirmou que não ainda não fez “qualquer juízo de mérito acerca da validade ou autenticidade do material coletado na operação”. Apesar disso, acompanhou Lewandowski: “Limito-me, portanto, nos precisos termos do voto do ministro relator, a conferir acesso à defesa do reclamante ao referido material, permitindo, assim, o fiel cumprimento da decisão”, disse. Fachin, porém, disse que não há registro de que foram tomados os cuidados devidos na entrega das mensagens. Segundo ele, há conversas privadas no material e até fotos de crianças. Ele também criticou a atuação de Lewandowski sobre o tema. "O MPF usou a palavra 'burla da relatoria'. Não vou repeti-la porque acho demasiadamente grave, mas entendo que a reclamação não retirou a prevenção deste relator para questões atinentes à ação penal aqui em tela, assim como para demais ações penais quando instado o STF a decidir", frisou. Um dos principais críticos da Lava Jato no Supremo, Gilmar aproveitou o julgamento para fazer duras críticas à força-tarefa da operação no MPF e a Sergio Moro. Para ele, essas mensagens revelam "o maior escândalo judicial da história". "Ou esses diálogos não existiram ou nós estamos diante de qualquer outra coisa. Mas se eles não existiram tem que se demonstrar que esses hackers de Araraquara são uns notáveis ficcionistas, eles escreveram tudo isso. Vejam os senhores o tamanho do constrangimento", disse.
As práticas da Lava Jato reveladas nos diálogos, segundo Gilmar, envergonhariam até sistemas totalitários como a União Soviética e a Alemanha Oriental. "É disso que estamos a falar, a não ser que se prove que isso não existiu", analisou. O ministros disse que a Lava Jato criou uma "indústria colossal de espionagem" ilegal e citou suposta parceria ilícita entre os investigadores e a superintendência da Receita Federal em Curitiba. O advogado Marcelo Knopfelmacher representa os integrantes do Ministério Público Federal no processo e afirmou que o pedido para que Lula não tenha acesso às mensagens não tinha “qualquer conotação político partidária ou ideológica”. “Trata-se de questão jurídica muito importante no modo de ver desse grupo de sete procuradores da República, que são vítimas dos hackers investigados na Spoofing, que invadiram inúmeros celulares”, disse. O advogado ressaltou, ainda, que Lewandowski não poderia ter dado essa decisão porque não seria o responsável pelo caso. Knopfelmacher sustentou que o processo deveria ser de competência de Fachin, relator da Lava Jato no STF, ou a ministra Rosa Weber, relatora de habeas corpus de réus na Spoofing. A Segunda Turma, porém, não concordou com a tese levantada pelos procuradores. Na hora do julgamento, os procuradores emitiram uma nota em que afirmaram ser ilegais os diálogos hackeados de seus celulares. "As supostas mensagens em poder dos hackers não tiveram sua autenticidade comprovada e são imprestáveis", disseram.
A subprocuradora Cláudia Sampaio falou em nome da PGR (Procuradoria-Geral da República) no processo e criticou a atuação do advogado de Lula, Cristiano Zanin, que, segundo ela, atuou de forma “deselegante” no processo. Ela também criticou Ricardo Lewandowski. Sampaio classificou a decisão do ministro como “absolutamente desfundamentada”. A subprocuradora destacou que Lula teve acesso a todo o material captado pelos hackers e não apenas às mensagens que lhe diziam respeito. “O eminente relator proferiu decisão desprezando uma jurisprudência construída por este STF de décadas de recusa de prova ilícita. O MPF entende que é um fato de extrema gravidade. De tantos anos que atuo neste tribunal, nunca vi algo desta magnitude. O presidente tem nas mãos material de opositores, e uso que ele vai fazer disso aparentemente não interessa à Justiça”, disse. O advogado de Lula, Cristiano Zanin, por sua vez, disse que as mensagens revelaram que procuradores da Lava Jato mantiveram contato com autoridades de outros países a respeito do acordo de leniência da Odebrecht por meios ilegais. “Não estamos tratando de conversas pessoais, familiares, entre amigos, mas de conversas entre agentes públicos que ocorreram em aparelhos funcionais e que dizem respeito a processos que correm na Justiça brasileira. É disso que se trata. Estamos falando aqui da prática de atos processuais clandestinos para esconder relações espúrias”, disse
O advogado ressaltou que as mensagens trocadas demonstram que, além de Lula, até ele mesmo foi monitorado de maneira ilegal pela Lava Jato. “Combinação entre procuradores e juiz, quebras ilegais de sigilo, monitoramento de advogados, monitoramento até mesmo, segundo as mensagens, de ministros de cortes superiores. Esse material não diz respeito à intimidade de nenhum procurador, diz respeito a um grande escândalo que está ocorrendo no sistema de Justiça”, frisou. Após o julgamento, Sergio Moro emitiu uma nota em que defendeu a Lava Jato e afirmou que a decisão do STF violou a jurisprudência da própria corte. "Lamenta-se que supostas mensagens obtidas por violação criminosa de dispositivos de agentes da lei possam ser acessadas por terceiros, contrariando a jurisprudência e as regras que vedam a utilização de provas ilícitas em processos", disse. Na visão dele, nenhuma das mensagens retrata quebra de imparcialidade ou algum ato ilegal. "A operação foi um marco no combate à corrupção e à lavagem de dinheiro no Brasil e, de certo modo, em outros países, especialmente da América Latina, colocando fim à generalizada impunidade destes crimes", acrescentou.
ALGUMAS DAS PRINCIPAIS MENSAGENS REVELADAS NO CASO TELEGRAM, EM 2019
- Moro para Deltan, em 2015:
"Fonte me informou que a pessoa do contato estaria incomodado por ter sidoa ela solicitada a lavratura de minutas de escrituras para transferências de propriedade de um dos filhos do ex Presidente. Aparentemente a pessoa estaria disposta a prestar a informação. Estou entao repassando. A fonte é seria."
contexto: O ex-juiz passou dica de investigação sobre o ex-presidente Lula ao Ministério Público, o que demonstra aconselhamento a uma das partes
- Deltan para procuradores, em 2016:
"Pede pro Roberto Leonel dar uma olhada informal"
contexto: O procurador menciona um auditor fiscal ao falar em investigações que envolviam dados sigilosos da Receita
- Moro para Deltan, em 2016:
"Olá. Diante dos últimos. desdobramentos talvez fosse o caso de inverter a ordem da duas planejadas"
contexto: O ex-juiz fez sugestões aos investigadores semanas antes de uma operação que mirava o ex-presidente Lula
- Moro para Deltan, em 2016:
"Excelente. In Fux we trust"
contexto: Deltan relatava ao ex-juiz um encontro com o hoje presidente do Supremo
- Moro para Deltan, em 2016:
"Não é muito tempo sem operação?"
contexto: O ex-juiz pedia a deflagração de mais fases da Lava Jato, após quase um mês sem novas etapas
- Moro para Deltan, em 2017:
"Que história é essa que vcs querem adiar? Vcs devem estar brincando."
contexto: O ex-juiz criticava a hipótese de adiamento do depoimento do ex-presidente Lula, marcado para a semana seguinte.
- Moro para Deltan, em 2017:
"Ah, não sei. Acho questionável pois melindra alguém cujo apoio é importante"
contexto: O ex-juiz reclamava da divulgação, na delação da Odebrecht, de menção a irregularidades eventualmente prescritas em campanha do ex-presidente Fernando Henrique Cardoso nos anos 1990
+++ O julgamento de ontem parece ter assustado as grandes empresas de jornalismo do Brasil. O julgamento marca suas mudanças de postura: Gilmar Mendes e Cármen Lúcia. Carmén Lúcia costuma sempre votar alinhada a Edson Fachin e a favor da Lava Jato, mas dessa vez foi diferente. No entanto, a Folha preferiu não falar sobre, uma forma de não criar polêmica. Da mesma forma, Gilmar Mendes embora venha sendo crítico da Lava Jato fez duras acusações contra a Operação que foram totalmente ignoradas pela Folha, assim como foram ignoradas pelo Jornal Nacional da Globo na noite de ontem. É bom lembrar, Mendes apontou a “mídia” como responsável pelo poder dado à Lava Jato.

”Lula recebe alta após ficar 3 dias internado em SP” - O ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva recebeu alta na manhã desta terça-feira (9) do Hospital Sírio-Libanês, em São Paulo, após ficar três dias internado com um quadro de bacteremia. Boletim médico divulgado pelo hospital informa que Lula, 75, deu entrada no sábado (6), foi internado e medicado com antibióticos por via venosa. Bacteremia é uma infecção bacteriana do sangue. O comunicado diz ainda que ele se encontra clinicamente estável e foi acompanhado pelas equipes médicas coordenadas pelos médicos David Uip e Roberto Kalil Filho. Em janeiro, foi divulgado que Lula teve diagnóstico de Covid durante viagem a Cuba, no fim de 2020. O petista, que estava sem sintomas, precisou ficar em quarentena por 14 dias no país. O ex-presidente havia viajado para participar de um documentário sobre a América Latina dirigido pelo cineasta americano Oliver Stone. Na ocasião, Lula fez uma tomografia que apontou lesões pulmonares compatíveis com Covid-19. Ele voltou para o Brasil no último dia 20. O ex-presidente, que passou um ano e sete meses preso entre 2018 e 2019, aguarda em liberdade o julgamento de seus recursos em instâncias superiores contra condenações impostas pela Justiça Federal do Paraná em dois processos. Também nesta terça-feira, ele obteve uma vitória no Supremo Tribunal Federal, em sessão em que a Segunda Turma da corte manteve a autorização para que sua defesa acesse mensagens de procuradores da Lava Jato que tinham sido apreendidas com hackers presos na Operação Spoofing. O ex-presidente pretende usar esse material em seu pedido de anulação das sentenças da Lava Jato.

ANÁLISE - ”Com decisão do STF a favor de Lula, Lava Jato parece chegar a ocaso por demérito próprio”: Apesar de não ser a primeira derrota da Operação Lava Jato no Supremo Tribunal Federal, a decisão que mantém acesso a materiais constantes em inquérito da Operação Spoofing à defesa do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva é a que atinge mais diretamente a sobrevivência, não só das ações em curso, mas também das condenações passadas. A significativa maioria de 4 a 1 na Segunda Turma não deixa de surpreender. A Operação Lava Jato já contou com apoio irrestrito do Supremo Tribunal Federal, seja em plenário ou em turmas. No seu auge, uma série de medidas excepcionais tomadas pelas instâncias inferiores foram chanceladas pelo tribunal, muitas vezes por unanimidade: a suspensão do exercício de mandato, a prisão em flagrante de parlamentares, a prisão antes do trânsito em julgado, o uso indiscriminado de prisões provisórias e a opacidade dos termos de colaboração premiada. A partir de 2018, o Supremo passou a arrefecer seu ânimo de fiador da Operação Lava Jato. Na Segunda Turma, o ministro Edson Fachin, relator da Operação Lava Jato, vez ou outra via-se perdedor.
O tribunal desde então colocou parâmetros para os termos de colaboração premiada, ponderou sua própria posição sobre a prisão após condenação em segunda instância e sobre a suspensão de exercício de mandato enquanto cautelar penal, corroborou a conexão de crimes comuns aos eleitorais e impôs a ordem às alegações finais entre réus e réus colaboradores. Agora, a Operação Lava Jato parece chegar ao seu ocaso, por seus próprios deméritos, sem ninguém a lhe servir de fiador. Ainda que os ministros tenham feito muitas ressalvas quanto à ausência de julgamento de mérito, ou seja, de não se tratar de uma decisão sobre a validade ou não das mensagens, a sessão foi pautada pelo espanto quanto ao teor das conversas. A possível combinação de teses e a orientação geral de estratégias processuais entre acusação e juiz foram classificadas pelos ministros como graves afrontas ao direito de defesa e ao Estado democrático de Direito. Não foram poucas as críticas ao “cpp do russo”, alusões às ilegalidades defendidas por Sergio Moro na condução dos processos, e à possível deslealdade processual dos procuradores federais. Aliás, foi o uso de aplicativo de mensagens como um processo paralelo pelos procuradores, onde eram reunidas indevidamente informações que deveriam estar nos autos, que serviu de fundamento, pelo ministro Ricardo Lewandowski, para que a defesa tivesse acesso às conversas.
Ao final, uma larga maioria da Segunda Turma do Supremo Tribunal Federal, vencido apenas o ministro Edson Fachin, resolveu o tema por questões processuais, sem reconhecer aos procuradores legitimidade para atuar no processo. Por se tratar de um recurso da defesa de Lula, não haveria interesse das pessoas físicas dos procuradores no caso, apenas do Ministério Público, enquanto instituição. O recurso feito por Deltan Dallagnol e outros procuradores federais tentava justamente impedir, por uma última vez, o acesso da defesa às mensagens objeto da Operação Spoofing. Neste inquérito são apuradas as responsabilidades pela invasão de aplicativos de comunicação e divulgação de mensagens de uma série de autoridades, algumas atribuídas a procuradores membros da Operação Lava Jato e ao ex-juiz Sergio Moro. Conhecida como Vaza Jato, a divulgação destas mensagens já levantava dúvidas sobre a integridade da Operação Lava Jato, tendo em vista que a colaboração entre acusação e defesa ali descritas comprovariam a falta de imparcialidade no julgamento, gerando nulidade de uma série de condenações. Agora, novas mensagens vêm à tona e, caso verídicas, podem colocar em suspeita as decisões tomadas por Sergio Moro quando, por interpretações também extravagantes das regras de competência, foi juiz à frente da maior parte dos casos da Operação Lava Jato. A depender da extensão das mensagens trocadas, muitos casos poderão ser anulados.
Ainda há um longo caminho e muitas questões jurídicas a serem solucionadas até que as nulidades sejam reconhecidas em turmas e no plenário. O Supremo deverá enfrentar o tema da veracidade ou não das mensagens e ainda se, dada a origem ilícita, poderiam ser usadas e em quais circunstâncias. Vale ressaltar que as provas ilícitas têm seu uso vedado pela acusação, mas permitidas como elemento de defesa. O auge, o arrefecimento e o ocaso da Operação Lava Jato deixam um legado preocupante. No Supremo, deixaram uma jurisprudência de exceção com alto custo para sua manutenção e para sua revisão e ministros divididos; nas instâncias inferiores, ficam as suspeitas de uso político dos processos criminais e a incapacidade de processar poderosos; nas operações contra a corrupção, paira o descrédito. Há, também, espaço para aprendizagem: o respeito ao devido processo legal não é opcional.
*Eloísa Machado de Almeida - Professora e coordenadora do Supremo em Pauta da FGV Direito SP

”Doença infantil do lavajatismo pode estar prestes a acabar, mas não a Lava Jato, diz Fachin” - O ministro Edson Fachin, relator da Lava Jato no STF (Supremo Tribunal Federal), afirma que o modelo de força-tarefa de investigações do Ministério Público “produz mais resultados”, mas ressalta que a dissolução da Lava Jato pela PGR (Procuradoria-Geral da República) não significa o fim da operação. Em entrevista à Folha, o magistrado diz que a Lava Jato chegou no “andar de cima” e que a operação “não só não acabou como mal começou”. Apesar disso, Fachin cita que há “sintomas de revigoramento” da corrupção por parte de agentes do Estado. Para o relator das investigações no Supremo, o que pode estar prestes a acabar é o “lavajatismo”, a doença infantil que surgiu da Lava Jato, segundo ele, e que de um lado só vê defeitos nas apurações e, de outro, só enxerga qualidades na atuação da operação. O ministro também demonstra preocupação com as eleições de 2022, diz que a democracia brasileira vive uma crise e critica a participação de militares da ativa no governo federal. Além disso, Fachin sustenta que o investigado torna-se réu no momento em que a Justiça aceita a denúncia do Ministério Público, o que significa dizer que, na visão dele, o novo presidente da Câmara, Arthur Lira (PP-AL), é réu e não pode assumir a Presidência da República.
- Como o senhor avalia a ação da PGR de acabar com a força-tarefa da Lava Jato?
- Do ponto de vista do resultado que se apresentou nesse período, entendemos que a Lava Jato, como em todas as ações humanas, tem virtudes e tem defeitos, mas não tenho a menor dúvida de que virtudes superam os defeitos. Não divinizo nem demonizo no sentido de entender que não há circunstâncias a verificar ou até mesmo a corrigir, como aliás o STF já fez. Já a decisão ao qual você se refere é uma decisão de organização do Ministério Público. Eu como magistrado ajo dentro das minhas atribuições e obviamente avaliar ações e a atuação do MP me incumbe a fazer quando em algum caso concreto a circunstância se apresentar.

- O senhor acredita que de alguma maneira o fim da força-tarefa passa um sinal ruim à sociedade em relação ao combate à corrupção?
- Primeiro, uma informação prática: o que acabou foram as forças-tarefas. A operação denominada Lava Jato não acabou e nem poderia, porque continua a independência dos membros do Ministério Público para investigar, e sempre que houver indícios de irregularidade e desvio de recursos deverão atuar. Então, essa é uma primeira informação: a Lava Jato diz respeito a um conjunto de agentes e instituições que integram o sistema de Justiça e o que deliberou-se diz respeito às forças-tarefas no âmbito de uma dessas instituições, que é o Ministério Público.

- Na avaliação do senhor a Lava Jato acabou ou ao menos reduziu as práticas reveladas pela operação?
- A corrupção de agentes do Estado infelizmente tem apresentado sintomas de revigoramento. A própria Lava Jato subiu até o andar de cima, onde se colocam essas relações espúrias entre poder econômico e o Estado, e ali eu diria que a Lava Jato não só não acabou como mal começou. Portanto há muitas coisas a fazer, há muitos procedimentos em curso.

- Quais seriam esses sintomas de revigoramento das práticas reveladas pela Lava Jato e que trazem preocupação?
- Quando se observa o panorama presente, começa a se verificar que alguns episódios de corrupção que pareciam em tese banidos do cenário nacional voltam a se apresentar, basta ver os jornais de 2018 para cá. Isso significa que há um sistema de forças que se alimenta das três corrupções. A que centraliza o poder e que vai contra democracia, a corrupção que sustenta as relações espúrias do poder econômico com o Estado e a dentro do próprio Estado. Há numerosos episódios recentes que revelam certo revigoramento. Também se observa a promoção de algumas iniciativas que buscam alterar os avanços legislativos que já foram conquistados. Portanto há esse revigoramento pelos casos concretos de corrupção que voltam a se verificar e por algumas mudanças legislativas que reinstalam uma pauta que foi superada com a democracia e com a República após 1988.

- O fim da força-tarefa da Lava Jato pode ser considerado outro sintoma do revigoramento dessas práticas?
- Os procuradores da República, os integrantes do Ministério Público têm autonomia de atuação e independência. A força-tarefa é uma comunhão de pessoas e de recursos para atuar em conjunto. Produz mais resultados do ponto de vista dos seus afazeres? A experiência mostra que sim. Mas isso não inibe que o Ministério Público cumpra suas funções.

- O senhor afirmou que o modelo produz mais resultados. Deveria, então, ter sido mantido?
- A definição do modelo é um tema que diz respeito à organização interna do MP. O que entendo é que a sociedade não tolera a conivência com a corrupção. Portanto independência e autonomia para realizar suas ações o MP tem, assim como a polícia. O que é fundamental é prover o trabalho deles de recursos necessários para que a autonomia seja exercida, porque senão vai ser autonomia em abstrato. Se vai se chamar força-tarefa ou Gaeco, o grupo especial, a denominação não define a essência da atuação, mas é fundamental que assim se dê. Numa frase muito pedestre eu me permitiria dizer que não importa a cor do gato, o que importa é se ele pega o rato.

- Qual dos três tipos de corrupção mais preocupa o senhor?
- Tenho nos dias atuais uma preocupação agravada com a corrupção da democracia, ou seja, com o conjunto das circunstâncias que mostram que Brasil está vivendo processo desconstituinte. E portanto, nesse sentido, há indubitavelmente uma preocupação imensa com a força republicana da Constituição de 1988 e especialmente porque há pelo menos sete sintomas que estão revelando hoje a corrupção da democracia no Brasil.

- Quais são os sintomas?
- Em primeiro lugar, a remilitarização do governo civil, que é um sintoma preocupante. Em segundo lugar, intimidações de fechamento dos demais Poderes. Em terceiro, declarações acintosas de depreciação do valor do voto. Em quarto, palavras e ações que atentam contra a liberdade de imprensa. Em quinto lugar, incentivo às armas e por consequência a violência —o Brasil precisa de saúde e educação, não de violência nem de armas. Em sexto lugar, a recusa antecipada de resultado eleitoral adverso. Em sétimo lugar, revelando portanto que vivemos uma crise da democracia, e a corrupção da democracia é o arbítrio, há um grave problema da naturalização da corrupção de agentes administrativos e portanto isso mostra que a corrupção da democracia está no presente momento associada às forças invisíveis da grande corrupção. A grande corrupção no Brasil funciona como o coronavírus, provoca efeitos danosos imensos, mas não é visível a olho nu.

- E qual a relação da corrupção da democracia com os casos de desvio de recursos públicos revelados pela Lava Jato?
- Quando tratamos da corrupção da democracia nós vemos que a corrupção dentro do Estado, dos agentes públicos, dessa que se ocupou substancialmente a Lava Jato —não exclusivamente, mas substancialmente—, é um horizonte importante, mas que não esgota os demais horizontes do ponto de vista da configuração da corrupção. Isso porque a corrupção dentro do Estado não existe por si só, ela é a rigor uma decorrência de uma teia complexa de relações que não começa nem acaba nas esferas administrativas.

- Como relator da operação no STF, o senhor acredita que não se pode falar em fim da Lava Jato?
- O que quem sabe esteja prestes a acabar é o lavajatismo, que é a doença infantil que surgiu da Lava Jato. De um lado, o lavajatismo que só vê na Lava Jato virtudes e não faz autocrítica e, do outro lado, o lavajatismo que só vê na Lava Jato defeitos e não reconhece, nada obstante alguns defeitos, a relevância dos trabalhos que foram levados a efeito.

- A corrupção da democracia pode representar um risco para as eleições presidenciais de 2022?
- Como vice-presidente do TSE [Tribunal Superior Eleitoral] e como futuro presidente que vai preparar as eleições de 2022 estou extremamente preocupado com as ameaças que a democracia vem sofrendo no Brasil e com aquilo que pode resultar das eleições de 2022. Minha preocupação central, razão principal pela qual hoje estamos conversando, é a preocupação com as eleições de 2022 e a higidez do sistema eleitoral brasileiro. É preciso defender a democracia, proteger a democracia e proteger o sistema eleitoral brasileiro. Dentro dele como instrumento da democracia nós vamos sair da crise sem sair da democracia.

- O senhor acredita que pode ocorrer algo similar à invasão do Congresso americano por apoiadores de Donald Trump?
- Sobre esse episódio eu chamaria a atenção não apenas do que ocorreu, mas pelo que não ocorreu. Note-se que lá não ocorreu a adesão de lideranças políticas à tentativa de golpe e não ocorreu a atuação ilegítima das forças de segurança e das Forças Armadas. E em terceiro lugar não ocorreu nenhuma aquiescência internacional. Esses três fatores bloquearam o golpe nos Estados Unidos, o sistema político reagiu, o sistema eleitoral mostrou sua legitimidade e sua reação acima das diferenças partidárias. É o que se espera aconteça aqui no Brasil para que a democracia não se corrompa em arbítrio. Nessa medida minha maior preocupação nesse momento é a corrupção da política.

- O senhor citou a militarização do governo e listou como fator que impediu o golpe nos EUA o não envolvimento das forças de segurança e das Forças Armadas nesse movimento. Aqui há risco de as Forças Armadas se envolverem em algum episódio parecido com o do Capitólio, caso ocorra?
- A atuação das Forças Armadas de 1988 para cá em meu modo de ver tem sido um exemplo de respeito ao Estado Democrático e à sociedade democrática. Apenas tem atuado nos limites de suas atribuições e como deve ser dar na democracia, subordinando-se ao exercício do poder civil e não se imiscuindo em tarefas de gestão e de governo. Portanto o que preocupa é cruzar essa linha e cruzar essa linha pode ser sim uma ameaça à democracia.

- A presença de um general da ativa no primeiro escalão do governo federal (Eduardo Pazuello, ministro da Saúde) é negativa para a democracia?
- Do ponto de vista da democracia e da subordinação a um governo civil, aparentemente o que se coloca em militares da ativa que são convocados para funções políticas de governo, é um sintoma, um indício que preocupa. Quanto mais isolado, quanto menos isso ocorrer, mais saúde terá a democracia brasileira.

- Na visão do senhor, qual é o marco temporal para um investigado ser considerado réu? O STF aceitou duas denúncias contra o presidente da Câmara, Arthur Lira (PP-AL), mas ainda não abriu formalmente a ação penal. Ele já é réu ou pode assumir a Presidência da República?
- Eu sou relator de numerosos procedimentos no tribunal e portanto sobre procedimentos cujo julgamento ainda está em curso e poderá ocorrer eu tenho por hábito não me manifestar. Em abstrato não há dúvida alguma, do meu ponto de vista, que o recebimento da denúncia torna o denunciado réu. Ponto.

”TSE rejeita ações do PDT contra Bolsonaro por disparo de mensagens nas eleições de 2018”

”Na pandemia, Lira quer colocar jornalistas em sala sem janelas na Câmara” - O presidente da Câmara, Arthur Lira (PP-AL), deu aval para que, a partir de quinta-feira (11), os jornalistas que cobrem as atividades do Legislativo sejam transferidos para uma sala menor e sem janelas durante a pandemia de Covid-19. A decisão foi comunicada nesta terça (9) pelo diretor-geral da Câmara, Sérgio Sampaio. Com a mudança, Lira pode se livrar de ser abordado pela imprensa, pois terá acesso direto ao plenário da Câmara. Hoje, ele precisa passar por uma área de circulação de jornalistas e representantes da sociedade que frequentam a Câmara —o chamado Salão Verde. Quando passam por essa área, os presidentes da Casa são geralmente questionados sobre pauta de votações, decisões polêmicas e demais fatos políticos. A área atualmente usada por profissionais da imprensa é do arquiteto Oscar Niemeyer. Conforme o projeto em estudo, o espaço, que hoje é amplo e arejado, com capacidade para abrigar ao menos 46 jornalistas, seria transferido para uma área que comporta apenas 41 e sem janelas. O esboço do projeto também não respeita as regras de distanciamento social para evitar propagação do vírus. A proposta não contempla cabines de imprensa, utilizadas por profissionais que querem fazer entrevistas reservadamente. Também não possui banheiros e copa, como é o caso do atual comitê.
Na sessão desta terça, alguns parlamentares criticaram a decisão de Lira, que não foi discutida com os deputados. Fernanda Melchionna (PSOL-RS) fez um apelo para que o comitê fosse mantido no local atual. “A liberdade de imprensa é uma das principais questões da Constituição Federal”, disse, no plenário. “Infelizmente, nós temos Jair Messias Bolsonaro, que ataca os jornalistas sistematicamente, e não será a Câmara dos Deputados que vai inviabilizar o livre exercício das jornalistas e dos jornalistas.” O deputado Kim Kataguiri (DEM-SP) também se manifestou e perguntou se a decisão de transferência dos jornalistas era definitiva. Lira, em resposta, afirmou que a decisão administrativa já estava tomada. Kataguiri também está coletando assinaturas em um ofício que será enviado à Mesa Diretora. No documento, ele defende a permanência do comitê no local atual. “A Câmara dos Deputados é um dos órgãos mais democráticos do Brasil. Aqui, nada deveria ser feito de forma secreta.” “A presença ostensiva da imprensa se justifica para permitir ao povo a mais absoluta transparência sobre todos os assuntos da Câmara. Respeitosamente, entendemos que a atitude de Vossa Excelência é equivocada, pois dá azo a que se cogite que a imprensa tem papel secundário nos trabalhos da Casa. Não tem. A imprensa é parte vital do processo democrático", acrescenta o documento.
No ofício, o deputado lembra que a localização da sala “serve a um propósito prático, que é permitir um acesso privilegiado e desimpedido dos órgãos da imprensa às atividades do Plenário, assim como serve a um propósito simbólico, que é destacar o lugar especial que a imprensa – e, consequentemente, o livro fluxo de informações e ideias – tem na Câmara dos Deputados”. Mais cedo, abordado por jornalistas, Lira afirmou que não discutiria com a imprensa questões administrativas. O deputado Fábio Trad (PSD-MS) criticou a medida de Lira. "A sala de imprensa que fica ao lado do plenário, mais do que o significado de transparência, simboliza a certeza de que a Câmara não teme, antes necessita desta proximidade para ser cada vez mais democrática", escreveu em uma rede social. "Reconsiderar esta decisão que afasta fisicamente os jornalistas do plenário resgatará o compromisso do Parlamento brasileiro em ser a primeira e mais interessada instituição no fortalecimento da liberdade de imprensa em nossa democracia", afirmou. A deputada Perpétua Almeida (AC), líder do PC do B na Câmara, afirma que decisões sem justificativas que dificultem o trabalho da imprensa não ajudam a democracia nem a transparência que o Congresso deve ter. "Cabe a nós parlamentares reforçar o papel da imprensa na democracia em meio a esta onda de retrocessos trazidas pelo governo Bolsonaro", disse, em uma rede social.
Em nota, a ANJ (Associação Nacional dos Jornais) lamentou a decisão. "Os jornalistas que atuam na Câmara têm papel essencial no acompanhamento das atividades da Casa e na relação dos deputados com a sociedade", indicou. "Toda medida que dificulta o trabalho da imprensa atenta contra a transparência do Parlamento e a necessária cobertura e acompanhamento dos trabalhos legislativos." A mudança do comitê de imprensa e outras alterações constam em projeto de resolução que deve ser votado nesta quarta-feira (10) pelos deputado —na pauta, entretanto, não há previsão específica de votação do texto. O atual comitê dá acesso ao plenário da Câmara e facilita o trânsito de jornalistas pelo Salão Verde. A nova sala fica no térreo, um andar abaixo do plenário, e também não dá acesso direto ao Salão Verde.
Por causa da pandemia, o acesso ao plenário está proibido para jornalistas. O trabalho da imprensa é realizado no Salão Verde ou no Salão Negro, local que foi preparado de acordo com as medidas de segurança contra a Covid-19 para entrevistas coletivas —quase que diárias— do ex-presidente da Câmara Rodrigo Maia (DEM-RJ) e outros parlamentares. Lira ressuscitou um projeto do ex-presidente da Casa Eduardo Cunha (MDB-RJ). A obra no local envolve a instalação de um elevador para cadeirantes no gabinete. A mudança também chegou a ser discutida quando o PT comandou a Câmara, mas não avançou. O Iphan (Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional) só deu aval à obra durante a gestão de Cunha. O emedebista pretendia realizar a reforma, mas acabou afastado e preso pela Operação Lava Jato acusado de receber propina por contratos com órgãos públicos e da Caixa Econômica Federal. “A intervenção, como foi concebida, não apresenta riscos de descaracterização do edifício e se restringe basicamente à reorganização e redistribuição interna de diversos ambientes de trabalho, conferindo mais clareza à organização e distribuição dos ambientes internos do edifício, não havendo nenhuma alteração, seja na volumetria do edifício, suas fachadas ou obras de arte integradas”, afirma o Iphan.
Lira foi eleito para comandar a Casa no primeiro turno com ajuda do governo Bolsonaro, que distribuiu cargos e emendas para partidos aliados em troca do apoio ao candidato alinhado ao Palácio do Planalto. Em nota nesta segunda-feira (8), o presidente da Câmara afirmou que a medida “em nada vai interferir na circulação da imprensa”, que continuará tendo acesso livre a todas as dependências da Câmara, como corredores, salões e plenário. “O objetivo da alteração é aproximar o presidente dos deputados, como eu falei em toda a minha campanha”, disse. O projeto de tomar o local da imprensa estava sendo conduzido pela deputada Soraya Santos (PL-RJ), aliada de Lira e que ocupava, até o começo do ano, a primeira-secretaria da Câmara, que cuida, por exemplo, das despesas da Casa. No dia 25 de janeiro, ela foi questionada sobre o plano de retirar a sala de jornalistas do local, afastando os profissionais do contato com o presidente da Câmara. Segundo a deputada, não é uma tentativa de atrapalhar o trabalho da imprensa. “A Câmara está repensando todos os seus espaços. É óbvio que onde está o comitê de imprensa, no nosso projeto, é o espaço justamente do presidente. Estamos resgatando a história. Houve um crescimento sem planejamento. Não podemos ter em Brasília, que é um cidade planejada, os espaços sem planejamento, e isso não tem nada a ver com cerceamento de liberdade, onde quer que esteja”, afirmou.

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”Bolsonaro exclui Mourão de reunião ministerial” - Em mais um episódio de desgaste, o presidente Jair Bolsonaro promoveu nesta terça-feira (9) uma reunião ministerial no Palácio do Planalto sem a presença do vice-presidente, o general Hamilton Mourão. O encontro, que não foi incluído inicialmente na agenda oficial da Presidência, reuniu 22 dos 23 ministros do governo. O único ausente foi o titular das Comunicações, Fábio Faria, que está em agenda no exterior. Segundo assessores palacianos, Bolsonaro avisou do encontro de maneira individual a cada uma das pastas, evitando asssim convocar uma reunião do conselho de governo, justamente para não precisar convidar Mourão. O vice-presidente faz parte do colegiado consultivo e costuma participar dos encontros. Recentemente, ele ficou ausente quando estava em recuperação após ter sido contaminado pelo coronavírus. Além da desconfiança que Bolsonaro tem de Mourão, o presidente já disse acreditar a integrantes da equipe ministerial que o militar vaza para a imprensa informações discutidas durante esses encontros.
Procurado, o vice-presidente confirmou que não foi convidado para a reunião e disse que Bolsonaro deve ter julgado "desnecessária" a presença dele. "Não fui convidado, não fui chamado. Então, acredito que o presidente julgou que era desnecessária a minha presença. Só isso. Não estou incomodado, não", disse no início da tarde.
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”Líderes do Senado aumentam pressão por auxílio desvinculado de ajuste fiscal” - Líderes das bancadas partidárias no Senado aumentaram nesta terça-feira (9) a pressão pela adoção de uma reedição do auxílio emergencial - ou medida análoga de assistência social para a população afetada pela pandemia - de maneira desvinculada de outras medidas compensatórias de ajuste fiscal. O presidente da Casa, Rodrigo Pacheco (DEM-MG), afirmou que pretende usar a “boa relação” com o presidente Jair Bolsonaro (sem partido) e com a equipe econômica para avançar nas negociações, encaminhando as propostas. Por outro lado, o presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto, afirmou que há muito pouco ou nenhum espaço para mais transferências sem algum tipo de contrapartida por causa da deterioração do quadro fiscal do país nos últimos meses. O presidente Rodrigo Pacheco conduziu a primeira reunião de líderes da atual legislatura, na manhã desta terça-feira. A reedição do auxílio emergencial foi o principal tema do encontro virtual. “Há um momento agora de reflexão sobre a necessidade dessas pessoas que estão vulnerabilizadas em função da pandemia, que é uma reedição de uma assistência emergencial ou de um programa análogo, incremento do Bolsa Família”, afirmou Pacheco.
“Há muitas ideias de diversos senadores e nós estamos agora em plena boa relação com o governo federal e com a equipe econômica e eu vou buscar repercutir ao ministro Paulo Guedes e a sua equipe o que é o sentimento do colégio de líderes, que é um sentimento de sensibilidade humana, de urgência e de profunda necessidade de se amparar essa camada da sociedade, com um auxílio que possa fazer com que sejam minimizados os impactos da pandemia”, completou.
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”Guedes planeja dar 50% de fundos a estados para tentar destravar reforma tributária” - A equipe econômica elaborou uma proposta que entrega 50% dos recursos dos fundos constitucionais, criados para reduzir as desigualdades nas regiões mais pobres, a estados para que esses entes possam elaborar uma política de desenvolvimento regional, beneficiando também os municípios. A medida pode liberar cerca de R$ 23 bilhões por ano para gestão dos entes. O plano é compensar governadores e prefeituras por eventuais perdas na reforma tributária, após uma alternativa anterior ter travado as discussões no Congresso. A equipe econômica, de acordo com membros ouvidos pela Folha, analisa o plano como contraproposta à ideia discutida no Congresso de criar um novo fundo para compensar os estados —algo a que o ministro Paulo Guedes (Economia) se opõe de maneira contundente. O impasse havia intensificado o imbróglio nas discussões sobre a reforma tributária, que já passavam por dificuldades por causa de problemas como a disputa por protagonismo e outras discordâncias entre governo, Câmara e Senado.
Na semana passada, os novos presidentes da Câmara, Arthur Lira (PP-AL), e do Senado, Rodrigo Pacheco (DEM-MG), definiram um cronograma para a reforma, que, segundo eles, deve ser analisada pelo Congresso até outubro. As mudanças que vêm demandando discussões sobre um novo fundo estão nas PECs (propostas de emenda à Constituição) 45 e 110, de autoria do Congresso, que incluem o ICMS (um imposto estadual) em uma fusão de tributos que criaria o IBS (Imposto sobre Bens e Serviços). Por ver complexidade na tarefa de unir tributos federais e regionais, Guedes prefere que as mudanças comecem apenas com seu projeto de lei que cria a CBS (Contribuição sobre Bens e Serviços), resultado da união dos federais PIS e Cofins.
O argumento dos governadores pela criação do fundo é que o fim do ICMS (imposto estadual) previsto nas PECs vai acabar com a guerra fiscal e impedir alíquotas menores como forma de atrair empresas a regiões menos desenvolvidas. Por isso, seriam necessários novos recursos para políticas de desenvolvimento regional e para estimular importações. Secretários de Fazenda estaduais defendem que a União separe uma parte da receita que recolher com o IBS. Durante as negociações, representantes dos estados chegaram a pedir que os recursos sejam direcionados ao novo fundo com R$ 485 bilhões em dez anos. Guedes, porém, avalia que o novo fundo poderia fazer a União quebrar ao exigir dela garantias que não poderiam ser executadas. A visão é reiterada por outros membros da equipe econômica, como a assessora especial do ministro, Vanessa Canado, e o secretário especial da Receita Federal, José Barroso Tostes Neto. Os fundos de desenvolvimento regional são geridos hoje pela União e seus recursos podem ser apenas emprestados para a iniciativa privada, com juros subsidiados. A proposta do ministério é que metade desses recursos —pelo menos R$ 23 bilhões por ano— seja entregue aos estados para que façam sua política de desenvolvimento regional diretamente e com mais autonomia.
Relator da reforma tributária, deputado Aguinaldo Ribeiro (PP-PB) ainda vai analisar a ideia. Ainda não há prazo para o texto ser apresentado. Com o plano elaborado pelo ministério, a pasta planeja que os recursos dos fundos sejam entregues em até cinco anos aos estados e municípios. Os entes também fariam a gestão dos fundos em parceria com bancos regionais (Banco do Nordeste, Banco da Amazônia e Banco do Brasil) e conselhos deliberativos das superintendências de desenvolvimento (Sudeco, Sudam e Sudene). A mudança não depende de aprovação do Congresso. O governo ainda quer uma avaliação periódica dos projetos financiados e das subvenções econômicas feitas com recursos dos fundos. Apesar da proposta, os estados já se manifestaram de forma contrária ao plano por entenderem que a maioria dos fundos não tem efetividade e que haveria dificuldade em usar os recursos. Rafael Fonteles, presidente do Comsefaz (Comitê Nacional dos Secretários de Fazenda) e secretário de Fazenda do Piauí, afirma que a proposta não gera os recursos demandados pelos entes. "A tese do governo é usar os fundos já existentes, mas eles são insuficientes. O valor anual [disponível nos fundos] é muito baixo", afirma. Apesar disso, ele sinaliza que a proposta já é um avanço nas negociações. "É um passo, mas insuficiente. A questão é quantificar isso, pois não acredito que daria certo apenas com essa solução", diz. Por enquanto, sem acesso ao projeto formal, os estados mantêm a proposta de criação do fundo e vão articular no Congresso para buscar a aprovação da ideia
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”Anvisa libera uso de doses de vacinas do consórcio Covax Facility sem autorização emergencial” - A Anvisa (Agência Nacional de Vigilância Sanitária) aprovou nesta terça-feira (9) uma resolução que retira a necessidade de registro e autorização de uso emergencial para as vacinas que forem distribuídas no Brasil dentro do consórcio Covax Facility, iniciativa da OMS (Organização Mundial de Saúde) que visa aumentar o acesso global a imunizantes contra a Covid-19. Segundo membros da agência, a ideia é facilitar a importação e o uso de doses de vacinas do consórcio, que segue parâmetros específicos de análise dentro da OMS. Com isso, essas doses da Covax já poderiam ser aplicadas assim que chegarem ao país e forem distribuídas aos estados, sem que haja necessidade de nova análise da agência para isso, como tem ocorrido com outras doses de vacinas importadas por laboratórios brasileiros. A medida também prevê regras para importação e monitoramento do uso dessas doses. Segundo a Anvisa, a isenção da necessidade de nova autorização do Brasil se justifica por causa da aprovação da OMS aos imunizantes, em processo que é acompanhado por membros da agência. "A dispensa está sustentada na avaliação que a Anvisa já faz dentro do grupo de especialistas da OMS", diz a diretora Meiruze Freitas, relatora da proposta. Para ela, a medida deve facilitar o acesso às vacinas do consórcio, que devem ser enviadas de forma escalonada.
Também segue modelo de outras leis no país que já facilitam o aval para produtos adquiridos via organizações internacionais para uso em programas de saúde. A nova regra foi aprovada por unanimidade. Ao aprovar a medida, diretores frisaram ainda a necessidade de ter o maior número de vacinas disponível, mas com base em critérios de segurança e eficácia. "Isso garante o acesso ágil à vacina", disse o diretor-presidente da agência, Antonio Barra Torres. Com a medida, o Ministério da Saúde deve informar à Anvisa o cronograma de importação das vacinas da Covax e verificar as condições de transporte e prazo de validade. A manifestação da Anvisa sobre o pedido de liberação da importação deve ocorrer em até 48h. Antes do uso, os lotes devem passar por análise do INCQS (Instituto Nacional de Controle de Qualidade em Saúde), o que já é de praxe na importação de vacinas. A Covax é uma iniciativa global coordenada pela Aliança Gavi para facilitar o acesso global a vacinas contra Covid-19. O objetivo é permitir que haja uma distribuição mais equitativa de doses entre os países. Ao todo, 191 participam do grupo.
Para ser comprado e distribuído pelo consórcio, um imunizante precisa ter sido pré-qualificado e autorizado pelo departamento de vacinas da OMS, que avalia dados de segurança e eficácia entregues pelos produtores e pode inclusive fazer inspeção em fábricas. Apesar do aval facilitado, a previsão é que haja um volume baixo inicial de doses ao Brasil por meio do consórcio nos primeiros meses. O consórcio prevê que o Brasil receba apenas 1,6 milhão de doses da vacina da AstraZeneca/Oxford no primeiro trimestre, e 6 milhões no segundo trimestre. O número, abaixo da previsão inicial do Ministério da Saúde, que citava 10 milhões a 14 milhões de doses a partir de fevereiro, reflete dificuldades de autorização, produção e distribuição que têm afetado campanhas de vacinação em vários lugares do mundo. A estimativa também pode ser alterada, pois depende de mais informações e capacidade de entrega pelas empresas. Atualmente, o acordo do Brasil na Covax prevê a obtenção de 42,5 milhões de doses. Ainda não há previsão de envio das demais doses. No fim da noite desta terça-feira, a resolução da Anvisa, com a decisão sobre a dispensa de autorização para uso emergencial do imunizante do consórcio, foi publicada em edição extra do DOU (Diário Oficial da União).

”Presidente da Anvisa reclama de 'críticas infundadas' e diz que MP de vacinação é 'ameaça concreta'” - Em meio a pressão do Congresso para alterar o prazo de análise de vacinas na Anvisa (Agência Nacional de Vigilância Sanitária), o diretor-presidente da agência, Antonio Barra Torres, fez um discurso nesta terça-feira (9) no qual reclamou de "críticas infundadas" baseadas em "argumentos rasteiros" e disse que a análise de vacinas é prioridade. Ele afirmou ainda que a medida provisória aprovada pelo Senado que dá cinco dias para que a Anvisa conceda autorização a vacinas já aprovadas em outros países representa uma "ameaça concreta" à agência. "Temos uma responsabilidade imensa que se vê agora sob ameaça concreta diante da possibilidade de que seja tirada das nossas mãos a análise do que pode ser ameaça ou não a saúde do povo brasileiro", disse. "Quem vai fazer uma análise dessas? Não tenho resposta." Para ele, a única opção é que a medida seja vetada, o que depende de decisão do presidente Jair Bolsonaro. "O artigo diz que a Anvisa concederá autorização temporária. Não está escrito que vai analisar o tema ou verificar se há risco ou não há. Só nos é dada uma opção, o sim. Se não vetar esse item, não terá mais a agência capacidade nenhuma além de conceder a autorização", diz. As declarações ocorreram em reunião de diretores.
Antes de citar a medida provisória, Barra Torres tentou fazer uma defesa da agência, afirmando que a decisão pela aprovação do uso emergencial de vacinas no Brasil levou a medidas semelhantes em outros países próximos. Ao cumprimentar servidores, também fez uma crítica indireta a pressões sofridas pela agência. "Não permitam que críticas infundadas, embasadas em rasteiros argumentos, desanimem os senhores. Falam por si os dados que acabei de apresentar", disse aos servidores, citando como exemplo positivo pedidos recentes feitos pela Pfizer e Fiocruz para registro definitivo das vacinas. "Cabeça erguida e apego à ciência como norte. Somos todos Anvisa", frisou. A manifestação foi apoiada por outros diretores. Um deles, Rômison Mota, citou que a agência enfrenta "ataques feitos por pessoas que sempre tiveram intenção de perseguir a agência e colocá-la no subsolo do Ministério [da Saúde]".
Atualmente, um dos principais críticos à agência tem sido o líder do governo na Câmara, Ricardo Barros (PP-PR). Na reunião, Barra Torres citou ainda alterações recentes nas regras da agência para uso emergencial de vacinas, afirmando que a retirada da cobrança de estudos de fase 3 no Brasil não impediu a Bharat Biotech de entrar com pedidos para testes no país. "Isso mostra que a chancela e sinal verde são importantes." Na mesma reunião, a agência também divulgou um informe técnico sobre essa mudança nas regras, na tentativa de defender a posição da Anvisa e também de rebater críticas de demora. A medida, aprovada na última semana, retirou a necessidade de estudos de fase 3 no Brasil para que empresas possam fazer esses pedidos. No documento, a Anvisa diz a exigência anterior desses estudos seguia um "princípio de precaução", já que não havia norma semelhante no país para análise de vacinas com estudos ainda em andamento. Por outro lado, justifica a mudança dizendo que a análise de mais vacinas contra Covid no mundo permitiu atualizar as regras, desde que observadas algumas condições, como ter acompanhamento dos participantes dos estudos internacionais por um ano.
O texto, que é assinado pela diretora Meiruze Fretas, rebate as críticas de demora na análise, afirmando que a maioria das autorizações a uso emergencial de vacinas no mundo têm levado de dois a seis meses –no Brasil, o prazo é de dez dias a 30 dias. "Esclarece-se que a maioria dos processos que culminam na autorização de uso emergencial internacionalmente são resultado de longo acompanhamento de submissão contínua de dados e informações, seguidos por sucessão de reuniões de orientações e esclarecimentos para submissão de detalhamento de informações necessárias à uma decisão sólida", informa o documento. "Dessa forma, essas autorizações têm sido alcançadas ao fim de meses de interação, que tem variado, em média, entre 2 a 6 meses para que seja possível reunir evidências que suportam a aprovação." Diz ainda que a Anvisa "não é o obstáculo a saúde pública" e defende que, no caso de vacinas experimentais desenvolvidas para a prevenção da Covid, "qualquer avaliação da Anvisa deve ser feita caso a caso, considerando a população-alvo, as características das vacinas, os dados de estudos pré-clínicos e clínicos, e a totalidade das evidências científicas disponíveis relevantes para o produto final".

ILONA SZABÓ DE CARVALHO - ”Um pacto pela prevenção e pela vida”
”Entenda como é feita a aplicação de uma vacina contra Covid-19”
”Não há evidência de que mercado de Wuhan foi epicentro da pandemia, diz OMS”
”Escolas estaduais reabrem em São Paulo com falhas de estrutura”

”Reino Unido hospitaliza até 100 crianças por semana com síndrome ligada à Covid-19, diz jornal”
”Duração da pandemia aumenta sentimentos negativos, mas pessoas se dizem mais solidárias, diz pesquisa”
”Game imersivo Quem Seremos? ajuda a refletir sobre como lidamos com a pandemia”

MENSAGEIRO SIDERAL - ”Emirados Árabes Unidos se tornam quinto país a ter um orbitador em Marte”
VIRADA PSICODÉLICA - ”Brasil é 3º país com mais artigos de impacto sobre psicodélicos”

”Doria aposta em obras de R$ 3,5 bi para revitalizar região do rio Pinheiros como vitrine para 2022”

MÔNICA BERGAMO - ”DEM discute lançar candidato a presidência para afastar ideia de que apoiará Bolsonaro em 2022”
MÔNICA BERGAMO - ”Prefeitura calcula que poderá vacinar até 2 milhões em SP até maio”

MÔNICA BERGAMO - ”Universidade dirigida por reitora bolsonarista inclui hidroxicloroquina em pergunta de vestibular”: O vestibular da UFGD (Universidade Federal da Grande Dourados), realizado no domingo (7), incluiu em suas questões um enunciado sobre cloroquina e hidroxicloroquina. O texto afirmava que “em 2020, o Ministério da Saúde, no Brasil, divulgou orientações para ampliar o acesso de pacientes com Covid-19 ao tratamento medicamentoso contendo cloroquina e hidroxicloroquina”. Em seguida, pedia para o candidato identificar a estrutura química das substâncias representadas graficamente. Em nota de repúdio, a diretoria da Associação dos Docentes da UFGD afirmou ser “inadmissível qualificar tais medicamentos para um tratamento”, uma vez que sua eficácia não foi comprovada. Desde 2019, a gestão da UFGD tem sido alvo de questionamentos por parte da comunidade acadêmica. Naquele ano, o governo Bolsonaro nomeou uma interventora, Mirlene Ferreira Macedo Damázio, para assumir o comando da instituição —e não o reitor eleito. Damázio ocupou o cargo até a última segunda-feira (8).

MÔNICA BERGAMO - ”Elza Soares e Linn da Quebrada integram projeto do Museu da Língua Portuguesa”
MÔNICA BERGAMO - ”PSOL pede que Câmara crie comissão para acompanhar investigação de ataques a parlamentares”
MÔNICA BERGAMO - ”Mario Frias presenteia amiga nomeada para cargo com duas fotos de Bolsonaro”
MÔNICA BERGAMO - ”Fundadores do Sleeping Giants Brasil serão entrevistados em live”

CAPA – Manchete principal: ”Governo prepara novo auxílio para o pós-carnaval”

VERA MAGALHÃES - ”A fé da Faria Lima”: Quando assiste impassível à deterioração da popularidade do presidente da República, os solavancos que ele dá em todas as partes tronchas de seu governo e o empilhamento de corpos na pandemia sem uma saída visível, o mercado, representado pela Avenida Faria Lima e adjacências espelhadas, age com a boa-fé dos ingênuos ou a má-fé dos cínicos? Eis uma ambivalência que vai se aprofundando à medida que os meses passam, cuja permanência pode levar a que seja cada vez mais difícil o país sair do atoleiro bolsonarista. O silêncio cúmplice do dito mercado e dos demais setores que deveriam mover a economia é o que dá a Bolsonaro a certeza de que ele pode fechar com o Centrão, enterrar a Lava-Jato, empurrar cloroquina goela abaixo do país, sabotar a vacinação e depois mentir dizendo que não o fez porque nada vai acontecer. E olha que Bolsonaro é, antes de tudo, um fraco. Covarde, mesmo. Ele morre de medo de impeachment, de crítica, de pesquisa, de adversário, da imprensa, do Supremo, justamente porque sabe de suas severas limitações intelectuais, da sua incompetência nata e do caráter precário de sua administração em todas as áreas.
Se uma pessoa assim incapaz chega ao ponto de dobrar a aposta e negar na cara dura declarações reiteradas de ataque às vacinas, é porque quem poderia contê-lo foi longe demais na condescendência. Basta analisar a mais recente pesquisa de avaliação do governo divulgada pela XP e pelo Ipespe. Semana após semana, a popularidade de Bolsonaro se deteriora. São 42% os que consideram o governo ruim ou péssimo, e 53% os que condenam sua atuação no curso da pandemia. Em qualquer país, esses indicadores, que espelham a tragédia econômica e social do bolsonarismo, seriam suficientes para que o presidente deixasse de mentir em praça pública e fosse instado a agir. Instado por quem? Pela elite econômica. Os mesmos clientes que recebem a pesquisa da XP e a comentam enquanto fazem o jogging matinal com os amigos nos clubes da elite paulistana, mas dão de ombros, porque não entendem o que isso tem a ver com sua vida. Só vão entender quando o descontentamento de uma parcela da população — hoje mais empobrecida do que antes da pandemia— levar Bolsonaro, não por senso de dever, mas pela sua covardia crônica, a reeditar o auxílio emergencial, e isso acabar de desarrumar as contas públicas.
Presos a uma armadilha mental em que só cabem fórmulas simplistas do que deveria ser a política econômica, esses agentes não entendem que o governo do capitão jamais entregará o que Paulo Guedes insiste em prometer. Pelo simples fato de que a sobrevivência política de Bolsonaro, sua única preocupação, depende de vender a alma ao Centrão nem que seja para arrombar o cofre. Por que diabos, então, esses senhores são tão covardes e assistem impassíveis aos crimes, às mentiras e à deterioração do espaço democrático que Bolsonaro promove há dois anos? Em nome de quê, exatamente? “Ah, mas agora que venceu as eleições do Congresso ficará mais fácil para o governo encaminhar suas pautas”, fingem raciocinar. Acreditar nisso é tão bizarro quanto assentir bovinamente quando o presidente diz na cara dura que sempre foi pró-vacina. Outros raciocínios entre a boa e a má-fé dão conta de que Bolsonaro vai se “moderar” e “dialogar”. Onde essas pessoas vivem? Basta um dado de ontem para desmontar essa lenda: o presidente excluiu o vice, um general, de uma reunião ministerial, porque sua mente conspiratória segue a todo o vapor. Na semana passada, escrevi neste espaço que o centro político estava deixando Bolsonaro se refestelar no sofá e sonhar com mais quatro anos, como um cunhado folgado. Aí vem a elite econômica e ainda se oferece para comprar mais cerveja gelada.

”Teste para 2022 – Doria faz ofensiva por candidatura à Presidência e expõe racha no PSDB”
”Após convite a Maia, tucano conversa com ACM Neto”

”Bolsonaristas reagem a empresas de tecnologia” - As grandes plataformas de tecnologia entraram na mira de parlamentares e autoridades alinhados ao presidente Jair Bolsonaro da chamada “ala ideológica”. A ofensiva ocorre por meio de projetos de lei para impedir a remoção de conteúdos de redes sociais e até de pedidos de explicação e investigação sobre bloqueios de contas. O movimento ocorre após plataformas como Facebook, Twitter e YouTube adotarem medidas para restringir publicações desinformativas ou que incitem a violência. Em um mês, foram excluídos perfis do ex-presidente americano Donald Trump após publicações incentivando o ataque ao Congresso dos EUA, postagens de Bolsonaro e do Ministério da Saúde receberem selos do Twitter com aviso de conteúdo desinformativo e o canal bolsonarista Terça Livre foi excluído do YouTube. Como mostrou O GLOBO na última segunda-feira, a atuação das redes também motivou uma reação do governo Bolsonaro para pressionar as empresas de tecnologia em fóruns internacionais. Em território nacional, a estratégia ficou a cargo principalmente de parlamentares da ala governista do PSL.
Desde que canais do blogueiro bolsonarista Allan dos Santos, entre eles o Terça Livre, foram removidos por violar regras da plataforma, aos menos três projetos de lei já foram protocolados na Câmara para limitar o poder das redes na moderação de conteúdo. O primeiro foi apresentado no mesmo que dia que os canais foram excluídos pelos deputados Luiz Philippe de Orleans e Bragança (PSL/SP), Filipe Barros (PSL/PR) e Helio Lopes (PSL/RJ). O texto propõe ao alterar o Marco Civil da internet para condicionar a decisões judiciais a remoção de postagens ou redução de seu alcance. Na prática, as plataformas não teriam mais autonomia para seguir suas próprias políticas de uso. Os deputados Caroline de Toni (PSL/SC) e Daniel Silveira (PSL-RJ) também apresentaram projetos. O da deputada permite a responsabilização civil de provedores que “rotularem conteúdos que expressem a opinião do usuário”. Já o de Silveira veda a retirada de mensagens “em desacordo com as garantias constitucionais de liberdade de expressão, comunicação e manifestação de pensamento”. Ao GLOBO, o deputado argumenta que propôs o projeto porque houve uma “rápida escalada de perseguição seletiva nas redes”.
— Não foi proposto que elas não possam remover. Elas podem, desde que, exista um caso concreto que afete o ordenamento jurídico e moral. O que vem ocorrendo é que estas empresas apenas agem em detrimento de perfis com ideologias políticas antagônicas as de seus CEOs — defendeu.
Em outra frente, a deputada federal Carla Zambelli (PSL-SP) acionou na última quinta-feira a Procuradoria Geral da República (PGR) para que abra um inquérito civil e ingresse com ações judiciais, com pedido de liminar, para o imediato restabelecimento dos canais de Allan dos Santos. No dia seguinte, sem citar o blogueiro, o secretário de Cultura, Mário Frias, determinou que a Secretaria de Direitos Autorais e Propriedade Intelectual (SDAPI), vinculada ao órgão que comanda, notifique o YouTube para que explique os atos de suspensão de usuários da plataforma. Allan dos Santos é investigado nos inquéritos que apuram a disseminação de fake news e a organização e financiamento de atos antidemocráticos. O YouTube afirma que os conteúdos do canal Terça Livre não seguiram suas diretrizes. A conta já havia sido notificada duas vezes sobre o descumprimento, uma delas por postar um discurso de Trump sobre o Capitólio, e tentou utilizar uma conta reserva para burlar as políticas da plataforma. Apesar das remoções, Allan dos Santos já voltou a postar vídeos no YouTube utilizando uma conta pessoal que soma mais de 70 mil inscritos. Pesquisador do Instituto Nacional de Ciência e Tecnologia em Democracia Digital (INCT-DD), João Guilherme Bastos destaca que a reação bolsonarista ganhou força principalmente com a remoção dos canais de Allan dos Santos pelo impacto financeiro que a medida pode provocar na rede de apoio ao presidente nas redes, enquanto as plataformas adotam políticas pouco transparentes para remover conteúdos.
— Essa reação aparentemente desproporcional tem uma raiz material muito nítida, que é o financiamento de toda uma rede de extrema direita que vai perder fonte de renda. Por outro lado, embora no caso do Terça Livre você tenha um ator que de forma recorrente violou políticas e termos de uso, essas políticas não são claras. É simples falar que vai remover postagens de quem divulgar fake news, mas a questão é decidir quem vai determinar ou não o que é uma fake news — alerta Bastos.
Marco Aurelio Ruediger, da Diretoria de Análise de Políticas Públicas da Fundação Getulio Vargas (DAPP/FGV), vê a reação de parlamentares bolsonaristas como uma estratégia voltada para as próximas eleições presidenciais e também critica a falta de transparência das empresas do setor:
— As políticas não são claras e alimentam a possibilidade desse tipo de manobra. Ao mesmo tempo, há um temor de ação mais duras das plataformas. Esse é um movimento preventivo da base do presidente já pensando em 2022 para garantir que seu espaço de atuação fique desobstruído nas redes. O que querem no fundo é que não haja nenhum tipo de moderação.
Procurados para comentar as reações de autoridades alinhadas a Bolsonaro, Facebook, Twitter e YouTube não quiseram se manifestar. Sobre a remoção de canais do Allan dos Santos, o YouTube reiterou que se reserva o direito de restringir a criação de conteúdo de acordo com os próprios critérios.

”Bolsonaro exclui Mourão de reunião com ministros”

”STF mantém com defesa de Lula diálogos entre Moro e procuradores”
+++ A reportagem curta teve o mesmo tom burocrático do Estadão.

”TSE arquiva duas ações que pediam cassação da chapa de Bolsonaro”
”Quatro prioridades do governo impactam ambiente”
”Aprovação acelerada – Anvisa isenta vacinas de consórcio de registro ou autorização emergencial”

”Estudo mapeia desregulação ambiental durante a pandemia” - Um grupo de pesquisadores que compilou despachos federais de regramento ambiental no Brasil encontrou durante o governo Bolsonaro 57 dispositivos legais que se encaixam nas categorias de “desregulação” e “flexibilização”, enfraquecendo regras de preservação. Mais da metade das medidas foi expedida após o ministro Ricardo Salles ter dito em reunião que pretendia “passar a boiada” das propostas do Executivo para o setor, enquanto a pandemia de Covid-19 concentrava a atenção da mídia. A pesquisa, que retrata um quadro de degradação do arcabouço de proteção ambiental no país, foi liderado pelas ecólogas Mariana Vale e Rita Portela, da UFRJ. As cientistas usaram para o estudo informações do projeto de transparência de dados Política por Inteiro, que lê o Diário Oficial da União usando robôs. O grupo se concentrou nos chamados atos “infralegais”, decisões do Executivo que não dependem de aval do Legistativo, de vários ministérios, mas que tivessem impacto ambiental. Também incluíram no estudo dados de desmatamento e aplicação de multas ambientais. O resultado do trabalho foi descrito em um artigo no periódico acadêmico Conservation Biology. “Encontramos uma redução de 72% nas multas ambientais durante a pandemia, apesar de um aumento no desmatamento da Amazônia durante o período”, escrevem os pesquisadores. “Concluímos que a atual administração está se aproveitando da pandemia para intensificar um padrão de enfraquecimento da proteção ambiental no Brasil.”
Flexibilização controversa
Entre as medidas destacadas pelos pesquisadores durante o período da pandemia está a que libera atividade de mineração em áreas que ainda aguardam autorização final, publicada em junho de 2020. Outra norma, no mês seguinte, reclassificou 47 diferentes pesticidas como de categoria menos danosa, sem respaldo em literatura científica. De setembro passado, os cientistas destacam a medida que facilita autorização para pesca industrial. “A autorização sai sem qualquer tipo de triagem ou avaliação dos pescadores e de suas práticas”, afirmam os cientistas. O estudo também comparou a taxa relativa de multas por desmatamento na Amazônia, e a comparou com o ano anterior. Quando a área de floresta derrubada atingiu quase 120 mil km² por mês em agosto de 2019, nos dois meses seguintes a quantidade de multas por esse tipo de crime na região oscilou entre 40 e 60 por mês. No auge da primeira onda da Covid-19, o desmatamento também foi alto, com quase 100 mil km² derrubados num mês, mas as multas ficaram abaixo de 10 por mês. O estudo também analisou mudanças de pessoal no Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama) e do Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio).
— Houve substituição de staff técnico em posições de chefia por staff não técnico, que foi marcada pela retirada de servidores com anos de experiência dentro das autarquias ambientais para serem substituídos, por exemplo, por policiais militares de carreira — afirma Erika Berenguer, ecóloga da Universidade de Oxford e coautora do estudo.
A reportagem encaminhou ao Ministério do Meio Ambiente uma cópia do estudo, mas não recebeu resposta até a conclusão desta edição.

”Ações pelo clima podem salvar milhões de vidas por ano”
”Novo auxílio – Pressionado pela ala política, Bolsonaro deve anunciar prorrogação após carnaval”
”Emprego não pode ser sustentado por medidas emergenciais, diz Economia”

Zeina Latif - ”Menos improviso, por favor”: É bastante óbvio que a vacinação em massa e a transferência de renda aos indivíduos mais vulneráveis ao impacto da pandemia são temas urgentes da política pública. Não faltaram alertas. Mesmo assim, falta foco e há muito improviso. A retomada da economia depende desses assuntos, interligados - quanto mais lenta a vacinação, maior a necessidade de socorrer os mais pobres. Não se trata apenas de garantir recursos orçamentários, mas de ter bons desenhos de políticas públicas. O governo falha nas duas frentes. A julgar pelo andar da carruagem, teremos a pior combinação possível: o aumento do endividamento público financiando medidas pouco eficazes. A reação à pandemia foi relativamente rápida do lado econômico, mas não nos preparamos para uma crise que ainda terá mais capítulos, em boa medida pelos próprios erros do governo. Pessoalmente, defendi uma gestão mais cautelosa e com foco especial na saúde, pois conter a doença ajudaria a limitar o contágio na economia. A crise prometia ser longa e o quadro fiscal já era frágil. A escolha, no entanto, foi outra. Como resultado, a saúde padeceu e ficou a fatura de um custo fiscal mais elevado na comparação mundial. Há muitas incertezas sobre quando atingiremos a “imunidade de rebanho” pela vacinação. Para começar, não há evidências claras sobre qual a taxa de imunidade para a Covid-19. Especialistas falam em 60%-80%, o que significa a necessidade de eficácia das vacinas nesse intervalo. No entanto, as estimativas não consideram as novas cepas e assumem a vacinação aleatória, o que não ocorre por razões estratégicas e morais – são prioridade os profissionais de saúde e os idosos.
Seria importante testagem em massa para mapear as novas cepas, algo improvável. Quanto mais demorar a vacinação, maior a ocorrência de mutações. Trata-se, pois, de uma “corrida entre vacinação e novas mutações”, nas palavras de Julio Croda. A tarefa vai além de adquirir vacinas e materiais tempestivamente – não se sabe ao certo esses números. Envolve logística, planejamento e treinamento de profissionais da saúde para reduzir perdas físicas e técnicas na vacinação. As perdas físicas (frasco ainda fechado) estão mais associadas a problemas de logística, como acondicionamento, e as perdas técnicas (frasco aberto) decorrem principalmente do manejo. O Ministério da Saúde adotou como parâmetro uma taxa de 5% de perda no Plano Nacional de Imunização, mas parece otimista em demasia. São poucas as pesquisas disponíveis sobre perdas em vacinação no Brasil, mas elas indicam taxas muito superiores às recomendadas pela OMS de 5% para frascos de dose única e 25% para dose múltipla - é o caso das vacinas da Covid-19 -, pois uma vez aberto o frasco, o prazo para a vacinação é bastante curto.
Uma pesquisa feita em 2015-17 por Scheila Mai e coautores para a região metropolitana de Porto Alegre - o 6o maior IDH entre as capitais – obteve taxa média de perda de 45,8%, sendo 29,1% para vacinas com dose única e 56,7% para dose múltipla. Outros estudos mostram grande heterogeneidade entre estados. Imagine as perdas em regiões mais carentes. Esse difícil quadro sugere que não voltaremos rapidamente à normalidade. Isso em meio à exaustão de políticas anticíclicas fiscal e monetária. A dívida pública elevada e crescente já contamina o ambiente macroeconômico, como no comportamento do dólar, e o Banco Central externou recentemente o desconforto com a baixa taxa de juros atual. Os políticos têm apontado a necessidade de estender o auxílio emergencial, por coerência ou por se preocuparem com a queda de aprovação do governo. Aqui também há improviso de um governo que preferiu procrastinar, talvez temendo o desgaste junto a investidores por conta de mais gastos por iniciativa do Executivo. O resultado é que não há estudo embasado tecnicamente para definir o valor e o público alvo. Depois dos excessos no programa anterior, tornou-se necessário focalizar melhor em quem realmente precisa. O governo deveria ter aperfeiçoado o Cadastro Único, por meio de convênios com os entes subnacionais, e encontrado fontes de recurso no orçamento. Saídas existem, como aponta Marcos Mendes, mas condicionadas a reformas. Desperdiçamos tempo valioso. Há um deserto a ser atravessado, e estamos sem provisões.

”Inflação desacelera, mas alimentos têm alta expressiva”

 

CAPA – Manchete principal: ”Segunda Turma do STF garante a Lula acesso a diálogos da Lava Jato”

EDITORIALDO ESTADÃO - ”A inflação está na mesa”: Comida, a principal despesa para a maioria das famílias, continua puxando a inflação, num ambiente de alto desemprego e condições agravadas pelo fim do auxílio emergencial. Sem essa ajuda, mais de 60 milhões de pessoas afundaram em dificuldades, enquanto os preços, já muito inflados, continuaram em alta. O custo da alimentação subiu 14,81% em 12 meses, mas esse número, já muito ruim, é apenas uma média. O arroz encareceu 74,14%. O feijão carioca, 18,53%. As carnes, 22,82%. Mesmo com algum alívio em janeiro, a pressão acumulada é muito forte. No mês passado a inflação ficou em 0,25% e o custo da alimentação subiu 1,02%. Foram taxas menores que as de dezembro – mas em cima de grandes aumentos em meses anteriores. Esses dados são do Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA). Convém levar em conta esses aumentos para avaliar o alívio, real ou aparente, ocorrido em janeiro. A taxa do mês foi bem menor que as de dezembro (1,35%) e da maior parte dos meses a partir de julho. Mas apenas dois itens, habitação e vestuário, ficaram mais baratos que no mês anterior, com recuos de 1,07% e 0,07%. O custo da habitação foi derrubado pela tarifa de eletricidade, com redução de 5,60%, resultante da passagem da bandeira vermelha para a amarela. Nos outros sete grandes itens pesquisados houve altas de preços. O aumento maior e de maior efeito foi o do custo da alimentação, de 1,02%, com impacto de 0,22 ponto na formação do resultado geral (0,25%). Os preços no varejo teriam sido bem mais altos, em janeiro e no segundo semestre de 2020, se produtores e distribuidores tivessem conseguido repassar as altas ocorridas no atacado.
Essas altas continuam. Na primeira prévia do Índice Geral de Preços – Mercado (IGP-M) de fevereiro os preços ao produtor subiram 2,54%, acumulando variação de 6% no ano e de 39,10% em 12 meses. Mas o repasse vem sendo contido pelas condições da demanda final, enfraquecida pelo desemprego e pelas dificuldades das famílias. Os preços ao produtor formam o principal componente do IGP-M, elaborado pela Fundação Getúlio Vargas. No atacado, os aumentos têm refletido as condições do mercado internacional e a cotação do dólar, muito pressionada desde o começo de 2020. Os dois fatores explicam a maior parte da alta de preços das matérias-primas, como o petróleo, o minério de ferro e os alimentos. O dólar tende a subir em relação ao real quando aumenta, no mercado, a insegurança quanto às contas do governo e à dívida pública. Esse efeito foi facilmente perceptível, nos últimos dias, durante as discussões, em Brasília, sobre fórmulas para retomada do auxílio emergencial e sobre a possível violação do teto de gastos. A indefinição do governo sobre a gestão de suas contas em 2021 tem sido uma importante fonte de dúvidas para o mercado.
Pressionando o dólar e os preços, a insegurança dos investidores em relação às finanças federais acaba, indiretamente, complicando a vida dos consumidores, especialmente dos mais pobres, já prejudicados pelas más condições do mercado de trabalho e pela perda de renda. Quem conseguiu juntar alguma reserva no ano passado, graças à ajuda emergencial, tem usado esse dinheiro – se ainda houver algum – para as compras essenciais. Os grandes saques da poupança, no mês passado, são em grande parte explicáveis pela piora das condições dos mais pobres. Mas também a classe média juntou alguma poupança em 2020 e pode agora estar usando esse dinheiro. A alta de preços, principalmente dos alimentos, assombra as famílias num momento muito complicado, com o governo incapaz de dizer como vai tocar a política econômica. No meio do nevoeiro, a inflação avança. Em 2020 o IPCA subiu 4,52% e ultrapassou o centro da meta oficial, de 4%. Nos 12 meses até janeiro a variação chegou a 4,56%. Neste ano será preciso um esforço maior de ajuste para atingir o centro do alvo, rebaixado para 3,75%. Se depender só do Banco Central, a resposta poderá ser uma alta de juros, um remédio com perigosos efeitos colaterais para as contas públicas e o emprego.

”STF garante a Lula mensagens da Lava Jato” - Em uma nova derrota da Operação Lava Jato, a Segunda Turma do Supremo Tribunal Federal (STF) decidiu ontem, por 4 a 1, manter o acesso da defesa do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva à íntegra do material apreendido na Operação Spoofing. A investigação mirou o grupo de hackers que invadiu celulares de autoridades, atingindo o ex-ministro da Justiça Sérgio Moro e procuradores que atuaram na força-tarefa da Lava Jato em Curitiba. O julgamento foi marcado por duras críticas dos ministros Gilmar Mendes e Ricardo Lewandowski às mensagens atribuídas a Moro e aos investigadores, reforçando o discurso de que o então magistrado agiu com parcialidade no processo. A discussão deve ter reflexos em outro caso: o que trata da suspeição do exjuiz ao condenar Lula na ação do triplex do Guarujá (SP). Nos bastidores do STF, a sessão foi vista como uma espécie de “prévia” do julgamento da suspeição de Moro, que deve ocorrer ainda neste semestre. A discussão na Segunda Turma também mostrou o isolamento do relator da Lava Jato, Edson Fachin, único voto favorável ao recurso apresentado pelo grupo de procuradores capitaneado pelo ex-coordenador da Lava Jato em Curitiba, Deltan Dallagnol.
“Já é possível depreender o funcionamento de uma certa combinação institucionalizada e permanente, a serem verdadeiras as mensagens, entre o juiz e os ex-membros da força tarefa”, criticou Gilmar. “A extrema gravidade dos acontecimentos perpetrados exige que se confira à defesa o direito de questionar e impugnar eventuais ilegalidades processuais que se projetam como reflexo da atuação coordenada entre acusação e magistrado”, frisou o ministro, em referência ao habeas corpus em que Lula acusa Moro de agir como um “inimigo”. Gilmar e Lewandowski são dois dos principais expoentes da parte crítica à Lava Jato no tribunal – e integrantes da ala garantista, mais propensa a acolher pedidos de investigados. No julgamento, os dois ministros intensificaram os ataques à atuação de Moro e da força-tarefa coordenada por Dallagnol, indicando os futuros votos pela suspeição do ex-juiz. Os procuradores pediram ao Supremo a derrubada da decisão de Lewandowski ou que Lula fosse obrigado a devolver as mensagens já obtidas. Também queriam que a Corte impedisse o ex-presidente de usar o conteúdo vazado “para qualquer finalidade que seja, inclusive defesas judiciais” – apenas o ministro Fachin se posicionou a favor desse último pedido, até uma decisão do plenário sobre a validade das provas.
Legitimidade. Prevaleceu no julgamento o entendimento de que o grupo de procuradores não tinha legitimidade para contestar a decisão de Lewandowski – papel que caberia à Procuradoria-geral da República (PGR). Indicado pelo presidente Jair Bolsonaro ao STF, o ministro Kassio Nunes Marques concordou com a rejeição do recurso, mas observou que não estava fazendo “qualquer juízo de mérito acerca da validade ou autenticidade” do material. A ministra Cármen Lúcia foi na mesma linha. “A polícia tem acesso aos dados, o Ministério Público tem acesso aos dados, e a defesa não tem acesso aos dados?”, questionou ela. O objetivo da defesa de Lula é fazer um pente-fino nas mensagens para tentar reforçar as acusações contra Moro. Para o advogado Cristiano Zanin Martins, defensor do petista, o material não diz respeito à intimidade de procuradores. “Estamos falando aqui da prática de atos processuais clandestinos para esconder relações espúrias”, disse. Já o advogado dos procuradores, Marcelo Knopfelmacher, ressaltou que Lula não foi vítima da Operação Spoofing nem teve o aparelho hackeado. Após o julgamento, Moro divulgou nota na qual afirma que “nenhuma das supostas mensagens retrata fraude processual” ou “incriminação indevida de algum inocente”.
+++ Reportagem burocrática, omitiu a maior parte dos argumentos apresentados pelos ministros do STF, mas principalmente, por Gilmar Mendes. De qualquer forma, a reportagem já se diferencia da publicada pela Folha porque coloca os votos de Gilmar Mendes e de Ricardo Lewandowski como os principais acontecimentos do julgamento.

”Muito além do Supremo” - O julgamento realizado pela Segunda Turma envolveu questões que extrapolam a matéria: preocupações quanto ao combate à corrupção; mas também legítimas indagações em relação à qualidade da democracia no Brasil, na contenção de agentes públicos aos limites da lei. Além, é claro, da corrida eleitoral de 2022. Trata-se do amplo direito à defesa e da transparência republicana: procuradores e o juizado observaram as leis ou cercearam direitos? A paixão se impôs, e não há confiança na boa fé dos envolvidos. Para a maioria, é impossível analisar o caso com espírito desarmado.
Não é segredo que os mais variados agentes políticos se favorecerão de erros processuais e excessos dos procuradores. Liquidar a Lava Jato, mais que corrigi-la, vem a calhar a muita gente, no governo e na oposição. Mas, sustentar agressões a direitos fundamentais e justificar erros inadmissíveis igualmente interessa a quem se deixou contaminar pelas disputas dos últimos anos. A eventual anulação de sua condenação tende a recolocar o ex-presidente Lula no jogo eleitoral de 2022. Com Lula realmente livre, o campo para Fernando Haddad ficará inviabilizado, a começar pelo PT. Não haveria ilegitimidade, mas o quadro muda: Lula ainda é o dono de considerável patrimônio político; não o doou, nem parece lhe agradar transferi-lo a herdeiros. Isso não deveria contar, mas entra no cálculo de quem acompanha os movimentos do STF. No asfixiante ambiente nacional, o esclarecimento e a saúde democrática têm papel secundário.
*Carlos Melo – Cientista político e professor do Insper

”Ramos afirma que militares ‘entendem’ aliança com Centrão” - Responsável pela articulação política que “entregou” o comando do Congresso a aliados do Planalto, o ministro Luiz Eduardo Ramos, da Secretaria de Governo, reagiu ontem a críticas sobre a aliança do presidente Jair Bolsonaro com o Centrão. “Não me envergonho”, disse ele ao Estadão, acrescentando que militares “entendem” a aproximação. O protagonismo do ministro, general de Exército da reserva, o fortaleceu no comando da relação com os parlamentares, mas causou incômodo entre parte dos militares. Um general disse que ele deveria se envergonhar. “Não tenho vergonha nenhuma, não. Tomei uma atitude coerente. Meu desprendimento de ter aberto mão da minha carreira no Exército mostra que estou a serviço do País.” Ainda segundo Ramos, os generais da ativa compreendem a aliança com partidos do Centrão. Bolsonaro conseguiu, ao se unir ao bloco, blindar seu mandato de ameaças de impeachment e agora tenta destravar a pauta do Planalto. “Tenho contato com vários generais, amigos meus, não há isso, não. Eles entendem que é o momento político, que estou cumprindo uma missão. Não há (constrangimento), muito pelo contrário”, afirmou.
Ramos comentou ainda a saída de generais descontentes com o Planalto, como Santos Cruz, demitido da Secretaria de Governo, e Rêgo Barros, ex-porta-voz da Presidência. “Não quero entrar no caminho de criticar A, B ou C. Agora, o general Rêgo Barros trabalhava comigo, estava dando tudo certo, sai e passa a criticar o governo. Santos Cruz trabalhava aqui, (sai) e passa a criticar o governo. Não tenho nada contra. Eles podem fazer isso”, afirmou Ramos. O titular da Secretaria de Governo ficou contrariado, especialmente, com declarações do general da reserva do Exército Francisco Mamede de Brito Filho, com quem já trabalhou. Brito afirmou que a quantidade de ministros militares incomoda não só quem está na reserva, mas também na ativa. “A imagem da instituição está arranhada. Ficam do lado de um governo que comete as barbaridades que estamos presenciando.” Brito também criticou a conduta de Ramos. “Não tem como dizer que ele está a serviço do País, ele serve ao governo. Se não se envergonha de ter feito isso, como não se envergonhou em outros eventos passíveis de constrangimento, eles vão continuar, têm suas motivações”, declarou o general, em referência à atuação do ministro nas eleições no Congresso.
Como mostrou o Estadão, o gabinete de Ramos se transformou em “QG” das campanhas do deputado Arthur Lira (PPAL) e do senador Rodrigo Pacheco (DEM-MG) – no local, conforme parlamentares, eram acertados verbas e cargos. Cerca de R$ 3 bilhões em verba extra foram liberados em troca de apoio. Para o general Brito, o “toma lá, dá cá” é uma “traição às promessas de campanha”. “Mais uma (promessa) que vai para o ralo. Se estivesse no governo, ficaria muito constrangido.” Ramos disse repudiar os comentários. “O que me incomodou foi um general que trabalhou comigo, sabe meus valores. Se ele acha que meu desempenho está tendo repercussão ruim no Exército, essas atitudes dele é que estão ficando ruins para ele. Ele não tem lastro moral nenhum. Se alguém tem que ter vergonha, é o general Brito pela maneira como saiu do Exército, ao não ser promovido a general de Divisão.” Brito considerou a declaração de Ramos um “ataque pessoal que não contribui para o debate”. Ele afirmou que saiu da Chefia do Estado-maior do Comando Militar do Nordeste seguindo protocolos militares.
‘Preconceito’. Para o general de Exército Maynard de Santa Rosa, ex-secretário de Assuntos Estratégicos de Bolsonaro, não é “saudável” rotular um arranjo político como corrupto. Disse, porém, que existe “preconceito” com o Centrão entre militares. “Só vai ter problema se o Centrão confirmar o preconceito.” Durante a campanha de 2018, Bolsonaro era crítico do Centrão, a quem chamava de “velha política”. Na época, o ministro do Gabinete de Segurança Institucional, general Augusto Heleno, ironizou: “Se gritar pega Centrão, não fica um meu irmão”, substituindo a palavra “ladrão”, da letra original.

”Bolsonaro exclui Mourão de reunião e expõe desgaste”
”Doria evita confronto por saída de Aécio”
”Alesp decide se abre processo contra Cury”

”Brasil vive ‘crise de reputação’ no exterior, afirma consultoria” - Apesar do esforço recente do governo brasileiro em melhorar a avaliação do País no exterior, um estudo feito pela consultoria Curado & Associados, especializada em gestão de imagem, aponta que o Brasil vive uma “crise de reputação”. O levantamento mostra que 92% de 1.179 textos publicados em veículos estrangeiros em 2020 apresentaram viés negativo sobre a administração de Jair Bolsonaro. O Itamaraty tem orientado embaixadas brasileiras a ter uma posição mais proativa em relação ao noticiário doméstico, numa tentativa de desfazer a imagem negativa do País e do governo no exterior. A ordem às representações na Europa e na Ásia é de passar um “pente-fino” no noticiário sobre o Brasil, que ganhou manchetes no exterior após alta nos índices de queimadas no fim de 2019. A análise das publicações feita pela consultoria, no entanto, chegou a um índice de imagem – chamado de índice de Valor, Gestão e Relacionamento (IVGR) – de -3,38, numa escala que vai de -5 a +5. Pela metodologia do índice, criado em parceria com estatísticos da Universidade Federal de São Carlos (UFSCAR), as crises de imagem começam quando o indicador está abaixo de -2.
O patamar negativo foi mantido nos 12 meses do ano, o que pode ser visto como indicativo de crise, segundo a fundadora da consultoria, Olga Curado. Para chegar ao número, os consultores analisaram textos de sete veículos: The New York Times e The Washington Post (Estados Unidos), The Guardian e The Economist (Inglaterra), El País (Espanha), Le Monde (França) e Der Spiegel (Alemanha). Foi observado que a imagem do governo que prevaleceu durante o ano foi de “incompetente” e “vulnerável”. No aspecto ético, o atributo “irresponsável” manteve média de 20% de participação em 2020. Às vésperas do registro do primeiro caso do novo coronavírus no Brasil, em fevereiro, o IVGR do governo apresentou seu momento menos negativo no ano. Ainda assim, ficou em -2,59, abaixo do patamar considerado de crise. Já entre abril e junho, no auge da primeira onda de covid-19 no País, o índice apresentou o pior momento, voltando a se deteriorar a partir de setembro por causa de outra cobertura desfavorável: a política ambiental e os incêndios na Amazônia e no Pantanal.
Das 1.179 matérias publicadas, 1.088 foram negativas (92%) e 91 positivas (8%). Entre as negativas, 52% estavam relacionadas à gestão da pandemia. No tema “outros”, destaque para textos sobre a crise econômica do Brasil fora do contexto da pandemia e a violação a direitos humanos. No grupo do noticiário positivo estavam abordagens sobre expectativas de retomada da economia e de reformas estruturais, concentradas no primeiro trimestre. Outros temas que geraram visibilidade positiva foram o pagamento de auxílio emergencial e testes com vacinas. Para o professor Anthony Pereira, do Brazil Institute e do Department of International Development do King’s College de Londres, o retrato já era esperado. “Não é uma surpresa, mas, de modo geral, houve muita cobertura negativa sobre outros países também”, comparou, citando ações do primeiro-ministro da Índia, Narendra Modi durante a pandemia; a postura do ex-presidente americano Donald Trump de não aceitar a derrota de sua reeleição; e a demora do premiê britânico, Boris Johnson, de aderir a medidas de quarentena. “Houve um superávit de cobertura negativa em 2020”, constatou.
Discursos. O professor disse ainda que a imagem negativa do governo brasileiro lá fora se deve não apenas por causa dos dados. “Os discursos também contribuem para isso, como o de que as ONGS incentivam a queima da floresta e o de que os dados sobre do Instituto Nacional de Pesquisa Espacial (Inpe) são uma mentira. Esse discurso negacionista e o desmantelamento da infraestrutura de combate a incêndios geraram essa imagem. Fora as falas nas áreas de direitos humanos e política externa”, afirmou Pereira. Procurado, o Itamaraty, responsável pela política externa do governo brasileiro, disse que o levantamento em veículos de imprensa “não parece refletir a opinião da população ou governos de outros países”. “O exercício da atividade diplomática no exterior inclui a comunicação formal, quando o assunto requer, entre o representante diplomático e os órgãos de imprensa, para permitir ao público conhecer também a perspectiva oficial brasileira a respeito de determinado assunto – contexto em que se inscreve o exemplo citado”, afirma nota do ministério.

”Senado decide que é constitucional julgar Trump e inicia impeachment”
”Milícias estreitam relação com Partido Republicano”
”Para OMS, é ‘muito improvável’ covid ser de laboratório”
”Kalashnikov lança fuzil para hipsters”
”Recontagem definirá que vai para 2º turno no Equador”

”Apesar do avanço de variantes, Brasil reduz exames para sequenciar vírus” - Em meio à alta de casos de covid-19 no País e ao avanço de novas variantes do coronavírus no mundo, incluindo uma cepa com origem no Amazonas, o Brasil reduziu o número de exames de sequenciamento genético do vírus, procedimento que tem como objetivo justamente verificar as linhagens circulantes em cada região e identificar o surgimento de novas variantes. Entre março e maio de 2020, início da pandemia, foram realizados 1.823 sequenciamentos no País. Já entre novembro e janeiro, foram 585 genomas sequenciados, conforme dados da Rede Genômica da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz) a partir das amostras depositadas no site Gisaid, banco online de sequenciamentos com dados do mundo inteiro. O depósito das análises no sistema Gisaid pode demorar algumas semanas e esse atraso pode ter algum impacto na redução, mas, segundo pesquisadores, apenas isso não explicaria a queda expressiva de 68% no número de genomas sequenciados entre os dois períodos. De acordo com cientistas, o número mais alto de análises feitas no início da pandemia tem relação com esforços de grupos de pesquisa que, em muitos casos, remanejaram recursos já existentes para outros estudos na investigação do coronavírus.
Somam-se a isso desafios como o baixo número de laboratórios especializados, recursos limitados e dificuldade na compra de insumos. Só um grupo de pesquisadores do Instituto de Medicina Tropical da Universidade de São Paulo (IMT-USP) sequenciou quase metade dos genomas de amostras coletadas em abril. O trabalho pôde ser feito porque os cientistas já tinham garantidos recursos da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (Fapesp) originalmente direcionados para o estudo de arbovírus. “Foram 427 sequências realizadas em abril. Depois, começamos a tentar entender transmissão intrahospitalar e fizemos muitos sequenciamentos do primeiro semestre”, diz Ester Sabino, professora do IMT. O grupo ainda trabalha no sequenciamento de genomas do SARS-COV-2, mas reduziu o ritmo no segundo semestre por dificuldades na obtenção de insumos. “Focamos em sequenciar amostras de projetos específicos coletadas no primeiro semestre. De outubro a inicio de dezembro, ficamos sem reagentes por alguns problemas de importação”, diz Ester. A cientista diz que seu grupo passou a integrar a rede Coronaômica, instalada em outubro pelo Ministério da Ciência e Tecnologia (MCTI) para ampliar a vigilância genômica no País. A rede repassará reagentes para o grupo da USP processar 200 amostras, mas os recursos ainda não foram enviados. O coordenador da rede, Fernando Spilki, explica que os trâmites burocráticos para compras de insumos por parte de órgãos do governo atrasam o processo, mas ressalta que os insumos já estão sendo distribuídos. “Há uma série de cuidados com o uso da verba pública, mas os investimentos estão chegando. Claro que devemos ampliar os sequenciamentos e, para isso, precisamos de ainda mais recursos, mas estamos conseguindo, mesmo com as limitações, identificar as novas variantes”, diz ele, que também é professor da Universidade Feevale.
A comunidade científica também reclama dos vetos do presidente Jair Bolsonaro à lei que previa a liberação de recursos do Fundo Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (FNDCT) que estavam contingenciados. A liberação da verba, prevista em R$ 4,3 bilhões, poderia acelerar a compra de insumos. Além da rede do MCTI, há laboratórios de referência definidos pelo Ministério da Saúde que recebem rotineiramente amostras de todos os Estados. A média de exames enviados por Estado é de 12 por mês. Em janeiro, a pasta montou uma rede de quatro laboratórios para ampliar o número de genomas sequenciados diante do surgimento de novas cepas, mas os números ainda estão são baixos. O projeto prevê sequenciar 1.200 amostras em 16 semanas. Questionado, o MCTI disse que a rede Coronaômica tem feito “uma excelente cobertura do território nacional”, com porcentagem similar a de países como os Estados Unidos. O País depositou cerca de 2,6 mil genomas no Gisaid, o equivalente a 0,02% dos casos registrados. O Reino Unido já sequenciou 215 mil genomas, o equivalente a 5,3% das suas infecções. Já a África do Sul fez 3,3 mil sequenciamentos (0,22% do total). Já o Ministério da Saúde destacou a instalação da rede de quatro laboratórios para o sequenciamento de 1,2 mil genomas, mas não comentou a queda no número de análises atuais em relação ao início da pandemia.

”Defensorias vão à Justiça por reforço na imunização no Amazonas”

”Reino Unido tem alta de síndrome infantil pós-covid” - Mais de cem crianças por semana estão sendo internadas em hospitais do Reino Unido com uma síndrome rara que está aparecendo semanas após serem infectadas pelo novo coronavírus, segundo informações do jornal britânico The Guardian. Trata-se da Síndrome Inflamatória Multissistêmica Pediátrica (SIM-P), um conjunto de reações do sistema imunológico que já havia aparecido em crianças durante os primeiros meses da pandemia no Reino Unido e que, agora, após o país assistir a um novo aumento recorde dos casos, voltou a acontecer com maior intensidade. Segundo o levantamento do Guardian, 75% das crianças mais afetadas pela SIM-P eram negras, asiáticas ou de minorias étnicas. Quase quatro em cada cinco crianças eram previamente saudáveis, segundo um levantamento dos casos.
Os sintomas mais comuns são febre persistente de até 40 graus, dores abdominais, pressão sanguínea muito baixa e manchas na pele. Em casos mais graves, podem evoluir para uma infecção generalizada. Muitos médicos chegaram a achar, no início da pandemia, que se tratava da também rara doença de Kawasaki, quadro inflamatório grave semelhante que aparece geralmente em bebês e crianças de até 5 anos. O avanço das estatísticas, porém, permitiu concluir que se trata de uma condição nova e diretamente ligada ao coronavírus. As reações aparecem cerca de um mês depois de a criança ter contraído covid-19, independentemente de ter tido uma versão grave ou leve e assintomática da doença. A estimativa é que uma a cada 5 mil crianças tenha desenvolvido a nova síndrome após contrair covid-19 no Reino Unido. Embora a proporção em relação ao total de infectados pelo vírus não esteja aumentando, o número de internações de pacientes com os sintomas está crescendo. Especialistas consultados estimam que, na primeira onda, em março, cerca de 30 crianças eram hospitalizadas por semana com SIM-P. O que tem intrigado os médicos é que a maioria das crianças que adquirem a síndrome está vindo de grupos sociais minoritários e mais frágeis do Reino Unido. Estatísticas coletadas pela infectologista Hermione Lyall, especialista em doenças infecciosas infantis do centro de pesquisas do Imperial College e da rede pública de saúde do país (NHS), mostraram que, de 78 crianças que tiveram a síndrome, 47% eram afro-caribenhas e 28%, asiáticas. Na população total, esses grupos representam perto de 14%.

”Não há motivo para pânico, avisam médicos brasileiros” - A informação de que cem crianças estão sendo internadas por semana em hospitais do Reino Unido por causa de uma síndrome rara desencadeada pela covid-19 deve ser vista com cautela pelos pais e profissionais da área de educação, segundo pediatras brasileiros ouvidos pelo Estadão. Eles avaliam que ainda é necessário estudar as causas do aumento de casos e se essas infecções são uma tendência em outros países. A alta de notificações na Europa trouxe preocupação, sobretudo neste momento de reabertura de escolas pelo Brasil.
A síndrome inflamatória multissistêmica pediátrica (SIMP), considerada rara, é uma espécie de reação grave e tardia à infecção pelo novo coronavírus. Entre os sintomas possíveis estão febre, dor abdominal, inchaço nas articulações, manchas na pele, inflamação no pulmão e nos rins. Nem sempre vem acompanhada de sintomas respiratórios. Pode atingir crianças e adolescentes. Até o início de outubro, o Ministério da Saúde havia registrado 511 casos no Brasil, com 35 mortes. Procurada ontem, a pasta não atualizou o balanço. O pediatra e infectologista Renato Kfouri, presidente do Departamento de Imunizações da Sociedade Brasileira de Pediatria (SBP), diz que casos da síndrome inflamatória multissistêmica pediátrica, que pode até levar à morte, são raros e não há motivo para desespero. “É preciso ver se o aumento tem sido proporcional aos demais casos, coisa que já estão investigando. Ou se há mesmo um novo aumento de casos. Nada de pânico, é preciso avaliar o que está acontecendo”, diz. “Se há aumento proporcional (ao crescimento de casos no Reino Unido) pode ser que tenha algo relacionado com a variante ou até a pessoas mais atentas ao diagnóstico. Mas é bom lembrar que tais eventos continuam sendo raros perto do número de casos e da incidência em crianças, acrescenta Kfouri. O avanço de uma variante britânica do novo coronavírus, mais contagiosa, tem preocupado especialistas.
Minorias. O aumento de casos da síndrome no Reino Unido está em levantamento do jornal The Guardian, segundo o qual 75% das crianças mais afetadas pela SIM-P eram negras, asiáticas ou de minorias étnicas – e quase quatro em cada cinco crianças eram previamente saudáveis. Fernanda Lima Setta, pesquisadora do Departamento de Pediatria do Instituto D’OR, diz não ter encontrado publicações científicas que relatassem esse aumento recente. “As crianças estão assintomáticas e, quatro a seis semanas depois, é como se fosse uma resposta dos anticorpos, que causam lesão dos órgãos alvo”, afirma a médica, também coordenadora-geral das UTIS pediátricas da Rede D’or-rio. A seu ver é possível notar a relação entre o ápice da pandemia em uma cidade e o pico de casos da síndrome inflamatória em crianças. “Aqui no Rio, internamos muitos casos de junho a setembro. Agora, começamos a ver menos. Não estamos vendo esse aumento.”
Relação. Em 2020, o Idor realizou estudo com pacientes de 1 mês a 19 anos que ficaram internados em UTIS por causa da covid e detectou que aqueles que desenvolveram a SIM-P apresentaram sintomas gastrointestinais – diarreia, vômito e dor de barriga. A indicação dos pesquisadores é de que os pais de crianças que apresentem esses sinais, além de prostração e febre sem causa aparente, devem levá-las ao hospital, pois não é possível notar os danos que a síndrome causa nos órgãos.

”Ex-diretor da Anvisa vai para o ‘grupo da Sputnik’”
”SP quer vacina dupla, contra covid e gripe”
”Cidade que espera vacinação em massa já vê procura por imóveis”

”Governo estuda ‘imposto temporário’ para bancar novo auxílio emergencial”
”Guedes quer ajuste para ter R$ 20 bi para auxílio”
”Mansueto descarta necessidade de mudar regra do teto até 2026”
”Preço de refinaria cai se Petrobras sobre interferência”
”Inflação desacelera com queda na energia”

 

CAPA – Manchete principal: ”Com pacote de ajuda da União, Estados investem 10,8% a mais”

”País convive com herança estatal do II PND” - Embora não tenham desmontado inteiramente, até os dias atuais, o modelo nacional desenvolvimentista que faliu durante a crise da dívida, em 1982, todos os presidentes, desde então, diminuíram a participação do Estado brasileiro na economia. Praticamente todos privatizaram ou concederam ao setor privado a gestão de serviços públicos como rodovias, telefonia e aeroportos, algo, ainda hoje, impensável para os defensores de um Estado utópico, provedor de bens e serviços de qualidade. O fato de todos os governos terem vendido estatais significa que o modelo de desenvolvimento exauriu-se, isto é, tornou-se insustentável do ponto de vista de seu financiamento tanto fiscal (recursos públicos) quanto externo (dívida bancária). O negacionismo dessa realidade - o pior defeito de um governante - por setores da burocracia estatal, do empresariado, da classe média e do meio político à esquerda e à direita produziu nas décadas seguintes a ruína econômica, traduzida pelo advento da hiperinflação, pela queda brutal da taxa média de crescimento do Produto Interno Bruto (PIB), pela deterioração da infraestrutura, pela forte contração das taxa de investimento dos setores público e privado etc.
O II Plano Nacional de Desenvolvimento (II PND) foi lançado em 1974, no governo Geisel (1974-1979), como resposta à crise internacional provocada pela primeira crise do petróleo. O objetivo, conforme anunciou o então presidente na ocasião, era evitar que a Ilha de Vera Cruz caísse numa recessão. Bem, o II PND não foram medidas tópicas, conjunturais, como redução de impostos, corte de juros ou oferta de crédito oficial subsidiado, mas, sim, um amplo conjunto de iniciativas, envolvendo o governo, o setor privado e o capital externo. Foi a maior intervenção do Estado na economia na história deste território. O objetivo do II PND era dotar o país de infraestrutura comparável à de nações ricas, de um poderoso setor de bens de produção (nos setores siderúrgico, de química pesada, metais não ferrosos e minerais não metálicos) e de energia (petróleo e derivados, energia hidroelétrica e fontes alternativas como etanol e energia nuclear). Foram durante aqueles anos que o número de estatais atingiu o ápice (382, segundo estudo da OCDE de 2017, realizado a partir de dados fornecidos pelo governo brasileiro). Toda a estratégia só seria viável se a taxa de juros, o custo dos quase US$ 100 bilhões que o país tomou emprestado na década de 1970, jamais subisse aqui e no mercado, “eppur si muove” (mas, ela se move). Com a segunda crise do petróleo, deflagrada em 1979, a inflação americana escalou degraus até chegar a 20% e, para abaixá-la, o Federal Reserve (Fed, o banco central dos Estados Unidos) moveu as taxas de juros com a mesma intensidade.
Uma continha rápida, grosso modo, evidentemente: no início daquela década, o país chamado Brasil devia pouco mais de US$ 6 bilhões ao exterior e o juro no mercado internacional era negativo; no início da década de 1980, a dívida estava em US$ 100 bilhões, e a taxa de referência do Fed, acima de 20%. Que tal? A crise da dívida, “a mãe de todas as crises”, se deu em 1982, quando o presidente era o general João Baptista Figueiredo, o último da longa ditadura militar (1964-1985) instaurada por aqui. Já movido pela necessidade de desidratar o Estado criado pelo II PND, Figueiredo instituiu o Programa Nacional de Desburocratização (Decreto n 83.740/79), liderado por Hélio Beltrão e o que mais fez pela “causa”, e criou a Secretaria Especial de Controle das Empresas Estatais (SEST). “Foi a primeira manifestação concreta de uma preocupação com o gigantismo estatal, com o claro objetivo de introduzir uma primeira agenda de reforma do Estado”, diz Luiz Chrysostomo de Oliveira Filho, especialista no tema das privatizações, tendo trabalhado na modelagem de algumas operações quando trabalhou no BNDES. “A primeira Comissão de Especial de Desestatização foi criada em 1981 [Decreto Presidencial 86215/1981] e fixou normas para transferência e desinvestimentos das empresas controladas, identificando na ocasião 140 prontas para serem vendidas.”
No governo Sarney (1985-1990), o tema privatização começou a ser discutido e, pela primeira vez, associou-se a venda de estatais à redução do endividamento público interno e externo (via conversão de dívida). Até hoje, alguns críticos fazem muxoxo em relação a isso, esquecendo-se de um fato importante: aquela miríade de estatais foi criada às custas do endividamento interno e externo do país. Nada mais justo e razoável que o dinheiro arrecadado com a venda seja destinado à amortização da dívida. O governo Sarney tentou, com a edição de vários decretos, ampliar o alcance do programa de venda das empresas, observa Chrysostomo, mas foi muito pressionado por grupos de interesses privados a não privatizar nada. “O Brasil vem realizando diversas desestatizações há mais de 30 anos, incluindo-se modelos de venda de controle, vendas de participação minoritária, concessões públicas e parcerias público-privadas (administrativas ou patrocinadas), presentes em todos os entes da federação”, conta Chrysostomo, que trata do assunto no livro “Reforma do Estado no Brasil” (Atlas, 2020), organizado pelo economista Fabio Giambiagi.
*Cristiano Romero é editor-executivo

”Para retomar auxílio, Economia quer volta da PEC do Orçamento de Guerra” - PEC Emergencial é outro objetivo da pasta liderada por Paulo Guedes

”Anvisa dispensa burocracia para vacinas do Covax” - Decisão segue praxe para imunizantes obtidos por intermédio da OMS

”Recuperação foi em “V”, mas perdeu força, afirma Campos Neto” - O presidente do Banco Central (BC), Roberto Campos Neto, disse ontem que, depois de um início de recuperação em formato de “V”, a atividade econômica do Brasil vem perdendo força. Segundo ele, ainda há “muito” a entender a respeito da nova variante do coronavírus na Amazônia. Além disso, o início de vacinação no país está lento. Ambos os fatores atrapalham a retomada, afirmou. Campos Neto traçou um cenário de atividade fraca no primeiro trimestre, com o desempenho do segundo trimestre dependendo da vacinação. “Acho que o segundo semestre vai ser melhor.” A desaceleração pode ser observada por exemplo nos índices gerentes de compra (PMI, na sigla em inglês), disse. O presidente do BC entende que a poupança acumulada durante a pandemia não deve ter grande impacto sobre a atividade no curto prazo.
Campos Neto lembrou que o país sairá da crise “com uma dívida mais alta” e um encurtamento da duração dos títulos. Mas houve também um aumento da participação de estrangeiros nas últimas semanas. Ele destacou que a inflação voltou a ser um tema importante. “Todos estão falando sobre isso nesses dias”, disse, lembrando, porém, que no ano passado a “inflação de serviços e outros componentes estavam bem abaixo da meta”. Ele reiterou que o mercado está projetando, por meio dos títulos públicos, inflação implícita maior no curto prazo e menor no longo prazo. Já o mercado de trabalho formal, disse ele, “está se recuperando rápido”, embora o informal “vá demorar mais”. A economia mundial também se recuperou inicialmente em V, segundo o presidente do BC, “mas em alguns lugares houve desaceleração maior do que outros”. Campos Neto afirmou que o quadro fiscal pode teoricamente influenciar as decisões de política monetária, desde que isso que afete a inflação. “A meta do BC é claramente a inflação”, disse em inglês em webinar promovido pelo Observatory Group. Segundo ele, a maneira como o quadro fiscal poderia impactar a condução da política monetária seria se as contas públicas afetassem a inflação esperada para o futuro.
Campos Neto voltou a fazer uma defesa enfática da importância do equilíbrio fiscal. O presidente do BC lembrou que não cabe à instituição opinar sobre novas medidas de estímulos fiscais, mas destacou a importância de que, se essas medidas forem adotadas, haja “contrapartidas” nos gastos públicos. Também afirmou que os “mercados estão muito sensíveis a pequenas mudanças” nos índices de inflação e que “há muito barulho” nos indicadores no curto prazo. Ele reforçou que a autoridade monetária mira um horizonte mais longo. “Precisamos fazer política [monetária] olhando para o longo prazo.” Como exemplo dessas mudanças de curto prazo, ele citou o Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) divulgado mais cedo. Campos Neto reforçou que há fatores temporários atuando sobre a inflação, como as transferências de renda realizadas no ano passado que ajudaram a elevar o preço dos alimentos. Ele lembrou, no entanto, que o Comitê de Política Monetária (Copom) já reconheceu que a inflação “se espalhou mais do que esperávamos”, além de os núcleos inflacionários estarem em um intervalo acima do compatível com o cumprimento da meta. “Estamos vigilantes a esse movimento de inflação temporária contaminando outros setores.”
O presidente também reiterou mensagem do Copom de que há diversos dados de inflação e atividade econômica a serem divulgados até a próxima reunião e que o colegiado irá usá-los para tomar sua decisão. Ele acredita que a maior demanda de países como China e Índia por produtos agropecuários deve levar a uma melhora nas contas externas brasileiras. De acordo com o presidente do Banco Central, os preços de commodities já indicam que haverá uma demanda mais estrutural por esses produtos, o que será benéfico para as transações em conta corrente do Brasil.

”IPCA desacelera em janeiro, mas pressão continua no 1º semestre” - Para economistas, movimento visto em janeiro é temporário

”Brasil liderou reformas no setor de serviços em 2020, afirma OCDE” - Para entidade, porém, país continua a impor restrições relativamente altas no comércio do segmento

”Bolsonaro acena para França ao lançar programa de proteção da Amazônia” - O Ministério do Meio Ambiente (MMA) lançou ontem um programa que pretende arrecadar R$ 3,2 bilhões ao ano para unidades de conservação na Amazônia. O “Adote um Parque”, que era prometido há meses pelo governo, permitirá que empresas ou pessoas físicas possam doar bens e serviços para contribuir com a proteção ambiental em parques nacionais. O grupo Carrefour já assinou um protocolo de intenções para assumir 75 mil hectares, ao custo de R$ 3,8 milhões. O programa foi lançado em evento no Palácio do Planalto. Jair Bolsonaro exaltou a parceria com grupo francês e defendeu que “não tem por que Brasil e França se distanciarem”, fazendo referência aos atritos com o presidente Emmanuel Macron, crítico das ações do governo brasileiro na conservação da Amazônia. “Podemos falar para aqueles que nos criticam: olha, nós não temos condições, por questões econômicas, de atender nesta área, venha nos ajudar. E uma empresa francesa foi a primeira que apareceu e isso, obviamente, é um marco para nós. É uma realidade, uma prova que o projeto despertou a atenção e o interesse de muitos empresários.”
Em outro trecho da fala, porém, Bolsonaro disse que alguns países usam “politicamente” os problemas ambientais do Brasil. "Quando acontece algum problema conosco, a grande maioria dos países entende isso, mas uma minoria usa politicamente. A gente sente. A nossa região amazônica é maior que a Europa Ocidental, cabe dentro dela mais de uma dezena de países da Europa. Como é difícil, Ricardo Salles [ministro do Meio Ambiente], tomar conta disso tudo. E vem aquela bronca, aquela.50 em cima do meu peito em especial.” Pioneiro no apoio à iniciativa, o presidente do Carrefour América Latina, Nöel Prioux, destacou ações do grupo em âmbito social e pontuou que a preservação de biomas brasileiros é considerada prioridade. Os parques de 132 unidades de conservação ocupam 15% do bioma, totalizando 63,6 milhões de hectares.

”Investimento nos Estados avança com ajuda da União” - Crescimento é de 10,8% graças a transferência de recursos

”Audiência de Pazuello é última barreira contra CPI” - Requerimento tem apoio de 30 senadores e preocupa governo

”Comissão de Orçamento será instalada hoje” - Presidente do grupo será a deputada Flávia Arruda (PL-DF)

”Câmara dá urgência para BC autônomo” - Projeto deve ser aprovado sem mudanças; Campos Neto poderá ter mandato até dezembro de 2024

”Projeto aproxima Brasil de norma de outros países” - Especialistas elogiam mandatos fixos para presidente e diretores do BC, mas há críticas quanto a perda de coordenação com equipe econômica

”Doria tenta presidir PSDB e amplia crise” - Governador convocou jantar da cúpula tucana após racha no DEM; grupo de Aécio reage a poder de SP

”Bolsonaro deixa Mourão de fora de agendas” - Presidente volta a agir para isolar vice

”Maia diante da sina dos antecessores”- Desafio será agrupar polo de oposição ao governo Bolsonaro

”STF decide a favor da defesa de Lula e nega recurso contra uso de mensagens” - A Segunda Turma do Supremo Tribunal Federal (STF) negou o recurso apresentado pelos procuradores da força-tarefa da Lava-Jato em Curitiba e manteve válido o compartilhamento das mensagens da Operação Spoofing com a defesa do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva. O placar foi de 4 a 1. Os ministros Nunes Marques, Cármen Lúcia e Gilmar Mendes votaram para referendar a decisão do relator, ministro Ricardo Lewandowski, que autorizou o acesso dos advogados ao material. Ficou vencido apenas o ministro Edson Fachin. Interceptadas por um grupo de hackers em 2019, as mensagens indicam que o coordenador da força-tarefa, procurador Deltan Dallagnol, e o então juiz Sergio Moro consultavam um ao outro nos atos processuais das ações penais envolvendo Lula, o que comprometeria as atuações independentes que, por lei, seriam obrigados a adotar. Os advogados de Lula devem anexar o material nos autos do habeas corpus (HC) em que pedem ao STF o reconhecimento da suspeição de Moro. Há expectativa de que esse julgamento ocorra ainda neste semestre; O ex-presidente teve uma condenação por corrupção passiva e lavagem relacionado a um triplex no Guarujá. Ontem o caso transitou em julgado na terceira instância, com a rejeição pelo STJ do último recurso da defesa do ex-presidente. O colegiado não entrou no mérito sobre a licitude do material como prova, mas ministros não deixaram de falar sobre o conteúdo dos diálogos.
Lewandowski disse que apenas concedeu à defesa acesso a elementos de convicção que estavam em poder do Estado. “É extremamente impactante o que veio à tona e causa perplexidade em todos aqueles com o mínimo conhecimento do devido processo legal”, disse. “A amostra do material já se afigura apta a evidenciar, ao menos em tese, uma parceria indevida entre órgão julgador e acusação.” Em um voto breve, Marques votou pela manutenção do compartilhamento das mensagens por uma questão preliminar técnica: ele entendeu que os procuradores do MPF de Curitiba não tinham legitimidade para apresentar o recurso. Apesar de seu alinhamento à ala garantista já ser conhecido, seu voto pró-Lula inflamou, nas redes sociais, as críticas ao presidente Jair Bolsonaro por tê-lo indicado ao STF. O voto de Cármen foi o que mais surpreendeu. Em geral, em processos envolvendo Lula, ela vinha aderindo à corrente pró-Lava-Jato de Fachin. Ontem, contudo, uniu-se à maioria. “Se a Polícia Federal e os procuradores têm acesso ao material e isso não representa risco, por que o réu não poderia ter?”, questionou.
Com mais um duro voto contra os procuradores de Curitiba, Gilmar afirmou que “a extrema gravidade dos acontecimentos exige que se confira à defesa o direito de impugnar eventuais ilegalidades processuais”. E ironizou: “Se os diálogos não existiram, os hackers de Araraquara são notáveis ficcionistas, dignos de um prêmio Nobel de literatura. Se existiram, é o maior escândalo judicial da humanidade.” Fachin foi o único a divergir. Disse que, embora a estratégia de defesa tenha sido impetrar uma reclamação sorteada ao ministro Lewandowski, deveria ser ele próprio a decidir sobre questões relacionadas às ações penais da Lava-Jato. Segundo o ministro, os advogados do petista deveriam ser impedidos de usar o material nos processos até que o plenário da Corte decidisse sobre a licitude das provas.
+++ A reportagem também é burocrática, mas não omite a mudança de postura da ministra Carmén Lúcia e destaca o voto de Gilmar Mendes.

”Gilmar diz que suspeição afetaria só processo do triplex” - O ministro Gilmar Mendes, do Supremo Tribunal Federal (STF), afirmou ontem que o julgamento sobre a suspeição do ex-juiz Sergio Moro no processo do tríplex do Guarujá terá reflexo na questão da inelegibilidade do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva. O ministro, no entanto, lembrou que o petista já é condenado em outros processos da Lava-Jato e a questão sobre se ele poderá ou não disputar uma nova eleição terá que ser discutido com base em cada condenação. “Nesse caso vamos discutir apenas a condenação do tríplex e, se essa condenação cair, ela afasta a inelegibilidade nesse caso. Em outros, terá que haver uma nova discussão e um novo exame. De modo que essa inelegibilidade do Lula passa por esse debate”, disse o ministro durante “live” promovida pelo site “Jota”. Em 2018, Lula estava preso e foi impedido de se candidatar à Presidência pois foi enquadrado na Lei da Ficha Limpa com base na sentença do processo do tríplex do Guarujá. Gilmar voltou a afirmar que vai levar o caso a julgamento, na Segunda Turma do STF, ainda este semestre. “Precisamos dar ao ex-presidente um julgamento digno, um julgamento justo.”
Segundo o ministro, ele tinha a expectativa de julgar a suspeição de Moro no plenário físico, mas como a pandemia está se alongando, vai discutir o caso em uma sessão por videoconferência. “Estou abrindo a possibilidade para julgar depois do Carnaval ou mais avante essa questão, até porque isso me daria uma certa paz de espírito de não ter mais que responder a essas questões”, disse. O ministro afirmou ainda que não deve utilizar, neste julgamento, as mensagens apreendidas pela Operação Spoofing, apesar de considerá-las “muito graves e preocupantes”. Ele também afirmou que não é preciso “pânico”, pois o resultado do julgamento sobre Lula não vai derrubar toda as condenações da Lava-Jato. “O que nós estamos discutindo é apenas o HC, que trata do tríplex. Eventualmente, essa discussão pode ter reflexo em outros casos. Mas isso vai levar à queda de tudo da Lava-Jato? Não acredito, o que está em discussão são tópicos.” O ministro, no entanto, disse que isso não diminuiu a crítica à Lava-Jato e a necessidade de se questionar “o que se precisa fazer para impedir que esse fenômeno não se repita”. “Quase tivemos um golpe no Brasil dado por membros do Ministério Público”, afirmou.

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