quinta-feira, 11 de fevereiro de 2021

Análise de Mídia - 11/02/2021

 

DOS JORNAIS DE HOJE: As capas de O Globo e Estadão destacam a aprovação da autonomia do Banco Central, mas puxam por aspectos um pouco diferentes. O Estadão escolhe palavras que dão a entender que a mudança é algo positivo, que vai promover mais estabilidade. O Globo indica que a aprovação da autonomia é um aceno do Centrão à agenda de Paulo Guedes. O Valor Econômico também aborda o Banco Central, mas pela situação econômica do país. O jornal aponta que a atividade fraca gera um dilema para o Banco Central. Já a capa da Folha de S. Paulo apresenta uma denúncia. O jornal diz que o governo federal utilizou a Fiocruz para produzir comprimidos de cloroquina.
O resultado do julgamento sobre as mensagens da Lava Jato poderem ser acessadas pela defesa do ex-presidente Lula continua rendendo. Artigos apresentam reflexões sobre os efeitos da decisão. Merval Pereira, obviamente, foi crítico do resultado e mais ainda, criticou quem critica os jornalistas que apoiaram acriticamente a Lava Jato. Já a Folha, informou que os advogados de Lula não vão utilizar as mensagens entre os procuradores no processo que julga a suspeição de Sergio Moro. Por outro lado, o jornal informa que a defesa do ex-presidente já está utilizando as mensagens em outros processos contra Lula. Em uma pequena revisão sobre o passado recente, os jornais publicam hoje reportagens sobre o livro que conta a biografia do geral Villas Boas. O ex-comandante do Exército afirmou que o famigerado tuíte que pressionou o STF a manter o ex-presidente Lula preso contou com o endosso de toda a cúpula militar. Ainda sobre a Lava Jato, a Folha informa que ex-presidentes da associação de procuradores declaram apoio ao fim das forças-tarefa da Lava Jato. Outra reportagem mostra que o ministro do STF Alexandre Moraes decidiu impedir que a Lava Jato determine o destino do dinheiro recuperado pela operação. A decisão partiu de um pedido de PDT e PT.
Sobre o PT, Folha e Valor Econômico reproduzem trecos da entrevista que Fernando Haddad concedeu ao jornalista Kennedy Alencar. A Folha informa ainda que o presidente Jair Bolsonaro não aceitou a indicação do reitor eleito na UFscar por este ser ligado ao Partido dos Trabalhadores.
Já sobre a Lava Jato, o Estadão informa que o PGR faz um novo ataque contra a operação e pede que o Conselho Nacional do Ministério Público abra investigação contra a força-tarefa. Já sobre os procuradores, o jornal informa que eles temem a inércia do PGR no julgamento sobre a suspeição de Sergio Moro.
O noticiário menos específico se concentra nos rachas internos de PSDB e DEM e também nas dificuldades de relação que se colocam entre os dois partidos após a eleição na Câmara. Além disso, os jornais abordam a volta do auxílio emergencial que é cada vez mais uma realidade. O Valor Econômico publica reportagem sobre a preocupação do governo brasileiro sobre a base de Alcântara agora que mudou em parte o viés e os interesses do governo dos EUA.

 

CAPA – Manchete principal: *”Saúde usou Fiocruz para produzir cloroquina”*

EDITORIAL DA FOLHA - *”O alerta de Fachin”*: O relator da Operação Lava Jato no Supremo Tribunal Federal, ministro Edson Fachin, mostra-se preocupado com a higidez da democracia brasileira. Numa rara entrevista, concedida a esta Folha, o magistrado teceu um raciocínio interessante, amalgamando três gêneros de corrupção a ameaçar o país. O primeiro seria o da concentração do poder político, o segundo, o da promiscuidade entre o poder econômico e o Estado, e o terceiro, o da criminalidade do colarinho branco dentro do serviço público. Em todos esses flancos, diz Fachin, há sinais de deterioração. É difícil discordar do diagnóstico, a julgar pela própria situação da Lava Jato, em xeque em razão de seus próprios erros, mas também pela reação de malfeitores influentes que desejam escapar da punição. Os excessos notórios da operação comandada de Curitiba por um grupo de procuradores, sob o crivo do então juiz Sergio Moro, passam por rigorosa revisão no próprio STF. Essa parte saudável do processo, no entanto, vem acompanhada de um cerco político ao legado positivo da operação, que foi o de submeter elites, outrora imunes e à vontade para saquear o Estado, ao risco de condenação. A melhor saída desse quadro seria, como anseia Edson Fachin, derrotar o lavajatismo —o pastiche que confundiu o dever funcional de agentes públicos de perseguir a corrupção com devaneios ideológicos e político-partidários—, mas manter vivo e sóbrio o espírito republicano da operação.
Nada disso será possível se o que o ministro chamou de “processo desconstituinte”, que associa sem nomear à ascensão de Jair Bolsonaro, conseguir se aprofundar. A excessiva participação de militares no governo, a intimidação contra o Poder Legislativo e o Judiciário, o incentivo às armas na sociedade, a campanha bolsonarista para desacreditar o sistema eletrônico de votação e as ameaças de tropicalizar arruaças do trumpismo em caso de derrota eleitoral são elementos a que Fachin alude para sustentar seus temores. De fato, esse conjunto de fatores concorre para retardar, se não para reverter, a marcha civilizatória da sociedade brasileira. As instituições do Estado democrático de Direito, entre elas o Supremo Tribunal Federal, têm conseguido evitar estragos maiores, não sem despender enorme quantidade de energia. O conúbio recente do presidente da República com a nata da política tradicional e paroquial foi o resultado prático do seu entrechoque com aquele rochedo institucional. Percebeu que estaria em apuros se não mudasse no mínimo de tática. Que ninguém se iluda, porém, sobre alterações profundas na mentalidade presidencial. Ali o cesarismo continua ativo como sempre.

GABRIELA PRIOLI - *”Privacidade só quando convém”*: A segunda turma do STF manteve a decisão que garantia ao ex-presidente Lula o acesso às mensagens apreendidas pela PF na operação Spoofing. Não há nenhuma decisão sobre o uso das mensagens como prova. O dano publicitário, porém, não depende da formalidade do processo. Moro sabe disso. Sabe porque se valeu desse expediente na operação que, sucesso de marketing, o levou ao ministério. Quem não se lembra do áudio interceptado ilegalmente e divulgado pelo então juiz para influenciar o ânimo dos brasileiros? O STF decidiu que a conversa não poderia ser usada como prova, mas o estrago estava feito.
O problema de uma operação como a Lava Jato, pervertida pela promiscuidade, é que ela, em vez de fortalecer o combate à corrupção, o esvazia. A concentração de poder nas mãos de um juiz e de alguns poucos procuradores, pela distribuição dos processos e em termos publicitários, fez com que só a eles se vinculasse a luta pela moralidade na vida pública. Pelo erro de alguns, pagará o preço a agenda como um todo. A favor do combate à corrupção estavam —e estão— os que defendem que ele seja empreendido dentro da legalidade e sem personalismos. Quem prejudica não é quem aponta ou reconhece a falha, mas quem falhou. Agora, por motivos distintos, estarão na mesma trincheira contra a operação aqueles que a criticam por apreço ao texto constitucional (entre os quais me coloco) e os que contra ela se colocam, inversamente, pelo desprezo à Constituição e às leis. É como o juiz das garantias, sancionado por Bolsonaro. Você pode ser a favor do juiz das garantias para aprimorar a imparcialidade essencial ao Judiciário, o que é bom. Ou você pode ser a favor dele para proteger o Flávio, o que é péssimo. De um lado, o interesse protegido é o dos cidadãos de modo geral; do outro, é o do meu filho. Talvez a nossa vida nessa República seja uma eterna instrumentalização de interesses legítimos em favor de interesses escusos.

BRUNO BOGHOSSIAN - *”Ex-comandante deixa claro que Exército tentou intimidar STF em 2018”*: A cúpula do Exército trabalhou por dois dias para redigir um par de tuítes que seria divulgado pelo general Eduardo Villas Bôas em 3 de abril de 2018. Naquela noite, o então comandante publicou mensagens que falavam em "repúdio à impunidade" e que ficaram marcadas como uma pressão sobre os ministros do STF que julgariam um habeas corpus do ex-presidente Lula. Segundo Villas Bôas, o texto foi escrito por "integrantes do Alto Comando" e recebeu sugestões de “comandantes militares de área”. Da trama que envolveu a cúpula da Força, saíram 74 palavras que citavam um Exército "atento às suas missões institucionais", num aceno óbvio a defensores de uma intervenção militar. O ex-comandante narrou o caso como se descrevesse os caminhos burocráticos de um memorando pelos escaninhos do Exército. Numa entrevista ao pesquisador Celso de Castro para o livro "General Villas Bôas: conversa com o comandante", ele tentou revestir a mensagem de boas intenções, mas o relato não escondeu a intimidação ao Supremo.
Villas Bôas afirmou que, na véspera do julgamento que poderia deixar Lula fora da cadeia, o Exército tinha preocupação com o "extravasamento da indignação" de grupos que pediam uma intervenção militar. Disse ainda que o "público interno" da Força tinha "ansiedade semelhante" e acrescentou que o objetivo dos tuítes era "um alerta, muito antes do que uma ameaça". Faltou explicar a diferença entre uma ameaça e um alerta feito pelo comandante de tropas armadas. Além disso, se a intenção era acalmar militares irritados e os golpistas que ele mesmo já definiu como tresloucados, não faria sentido mandar nenhum alerta. O depoimento mostra que aquelas mensagens eram uma advertência com endereço certo: os 11 ministros do Supremo. Páginas à frente, Villas Bôas comenta a eleição de Jair Bolsonaro e diz que o Exército tinha "preocupação de que a política voltasse a entrar nos quartéis". Faltou ao general emitir um segundo "alerta" em 2018.

PAINEL - *”Lira criará grupos para debater lei eleitoral, e partidos querem rediscutir cláusula de barreira”*: O presidente da Câmara dos Deputados, Arthur Lira (PP-AL), avisou a líderes partidários que criará em breve duas comissões para discutir mudanças na lei eleitoral. Um dos pontos que devem entrar em debate é a flexibilização da cláusula de barreira, que ameaça diversas legendas na eleição de 2022. A criação de federações partidárias e o modelo do “distritão”, em que são eleitos os mais votados nos estados para o Congresso, também estão entre os temas que devem ser analisados. Para valerem no ano que vem, mudanças precisam ser aprovadas até outubro. A discussão do voto impresso, bandeira de bolsonaristas, não está prevista, mas nada impede que seja incluída por algum parlamentar. Tanto o tema das federações como o do "distritão" já foram discutidos pela Câmara no âmbito de uma reforma política e rejeitadas em 2017. Há uma avaliação de políticos, no entanto, que é preciso revisar o atual sistema para torná-lo mais viável.
O presidente do MDB, Baleia Rossi (SP), por exemplo, defende que sejam autorizadas as federações isto é, a chance de siglas se unirem para disputar eleições proporcionais. Integrantes de legendas de esquerda, como o PC do B, também defendem. Deputados do Norte, por exemplo, avaliam que seus partidos terão dificuldade de eleger deputados federais em 2022 pelas regras vigentes, por exemplo. Eles acreditam que, com o fim das coligações, seria mais fácil aprovar o "distritão". O tema, porém, enfrenta resistência no Senado. Esses assuntos devem ser debatidos em uma comissão que revisará o sistema político. Já o outro colegiado discutirá um novo código eleitoral-- o que existe é de 1965. A ideia é reunir as resoluções e jurisprudências em um conjunto de leis. A deputada Margarete Coelho (PP-PI) será a relatora da proposta. "Vamos discutir toda a parte preparatória para votar. Alistamento, candidaturas, prazos, coligações, crimes eleitorais, ações eleitorais, prestação de contas. São os atos para votar e o voto. Precisamos discutir muito seriamente as competências da Justiça Eleitoral também", disse a deputada ao Painel.

PAINEL - *”Hoje crítico, PT era entusiasta da autonomia do BC no início do governo Lula”*: O PT, que agora ataca a autonomia do Banco Central, foi entusiasta da ideia no começo do governo do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Entre seus defensores estavam os ex-ministros da Fazenda Guido Mantega e Antonio Palocci, além de José Dirceu, da Casa Civil. Em 2003, a bancada federal na Câmara apoiou o projeto, que era parte do pacote do partido para se mostrar confiável ao mercado. "O importante é discutir a autonomia administrativa do Banco Central", disse Dirceu logo após a vitória de Lula, em 2002. O partido defendia o modelo inglês, em que a política econômica é decidida pelo governo e executada pelo BC de forma autônoma. Agora, a oposição ao projeto acabou unindo o PT a um de seus maiores algozes, o ex-deputado Roberto Jefferson, delator do mensalão. Em rede social, o cacique do PTB disse que é contra "submeter nossa política monetária aos globalistas".
+++ Dizer que um posicionamento comum “une” o PT a Roberto Jefferson é praticar um jornalismo muito raso.

PAINEL - *”Deputados do PSDB lançam nota em apoio a presidente do partido após ofensiva de Doria”*
PAINEL – *”Bruno Covas assina manifesto que pede retomada do auxílio emergencial por Bolsonaro”*
PAINEL - *”Helder Barbalho manda ofício a Pazuello cobrando envio de mais vacinas ao Pará”*
PAINEL - *”Sindicatos de motoristas de app e de ambulantes acionam Justiça para comprar vacinas no setor privado”*

PAINEL - *”Ex-presidentes de associação de procuradores da República apoiam fim da Lava Jato”*: Quatro ex-presidentes da Associação Nacional dos Procuradores da República (ANPR) assinaram uma carta aberta em que apoiam o encerramento da operação Lava Jato. No texto, Alvaro Augusto Ribeiro Costa, Wagner Gonçalves, Ela Wiecko de Castilho e Antônio Carlos Bigonha afirmam que a troca de mensagens entre procuradores da operação Lava Jato e o ex-juiz Sergio Moro sugerem "relacionamento informal (...) incompatível com a missão constitucional do MP, realizado fora dos balizamentos da lei processual penal, com desprezo às garantias fundamentais dos acusados e em desrespeito às normas que regem a cooperação internacional". "O estatuto constitucional do Ministério Público conferiu aos seus membros prerrogativas irrenunciáveis e deveres incompatíveis com atividades desenvolvidas à margem da Instituição. Sua definição constitucional e legal, ademais, não admite usurpação das atribuições de seus órgãos constitucional e legalmente definidos, por parte de indivíduos ou grupos, sob qualquer denominação, especialmente quanto às suas relações institucionais com os Poderes da República, agentes públicos e demais entidades públicas ou privadas, notadamente estrangeiras", continua a carta. Eles também defendem que o STF mantenha a publicidade das mensagens tornadas públicas no âmbito da Operação Spoofing, contrariando posicionamento da Procuradoria-Geral da República, que, por meio da subprocuradora-Geral da República Cláudia Sampaio Marques, opôs-se ao compartilhamento do conteúdo.
"A publicidade das mensagens deve ser mantida pelo Supremo Tribunal Federal, para garantir que os fatos venham ao escrutínio público, que sejam identificadas as ilicitudes praticadas no exercício do ofício e seus responsáveis submetidos ao devido processo legal e ampla defesa. Não comungamos com o pragmatismo punitivista de que os fins justificam os meios", diz o texto. A carta vai de encontro ao posicionamento da própria ANPR, que na semana passada solicitou que o ministro do STF Ricardo Lewandowski revogasse decisão que deu à defesa de Lula acesso ao material apreendido no curso da Operação Spoofing.

*”Com Bolsonaro, DEM busca respaldo federal para disputas centrais de 2022”*
+++ A reportagem é baseada em informações de bastidores e informa que o DEM tem interesse em reeleger sua bancada de parlamentares e eleger governadores sem ser oposição a Jair Bolsonaro. Estariam apostando no voto conservador.

*”ACM Neto tenta fazer contenção de danos em jantar com Doria”*
+++ A reportagem classifica o movimento do DEM na eleição da Câmara como uma guinada bolsonarista, mas o texto informa que ACM Neto tentou deixar aberta a possibilidade de que o seu partido apoie João Doria em 2022. Ele tenta ainda evitar que o vice-governador do Estrado deixa o DEM e migre para o PSDB. A grande questão com relação ao vice em SP é que João Doria havia prometido que Rodrigo Garcia seria o candidato ao governo estadual.
A reportagem lembra que o próprio PSDB passa por uma crise interna que abala, pelo menos temporariamente, o projeto de Doria para 2022.

*”Em oposição a Doria, diretórios estaduais do PSDB pedem prorrogação do mandato de Bruno Araújo”*

DEPOIMENTO - *”Avesso a jornalistas, Lira quer concretizar antigo projeto de encastelar presidentes da Câmara”*: A decisão de Arthur Lira (PP-AL) de mudar de lugar o seu gabinete tem efeitos que vão além dos obstáculos ao trabalho diário de jornalistas. A obra-relâmpago materializa um antigo projeto de encastelar presidentes da Câmara em uma arquitetura distante dos olhos da imprensa e do escrutínio público. Ao levar o gabinete para um local que fica ao lado e com acesso direto ao plenário —onde funciona hoje a sala usada por repórteres de vários veículos que fazem a cobertura jornalística da Câmara—, Lira e seus sucessores ficarão a salvo, em prejuízo da transparência, de uma rotina que está no centro de alguns dos acontecimentos mais marcantes da história do país. Em suma, nem ele nem os vários políticos e outros integrantes da sociedade que orbitam ao redor dos presidentes da Câmara precisarão mais passar diante das câmeras, microfones, gravadores e perguntas de jornalistas ao transitar entre o gabinete e o plenário, durante as votações.
E a depender da obra —cujos custos e detalhes ainda permanecem sob sigilo—, nem mesmo quando entrar ou sair da Câmara. Cheguei à Sucursal de Brasília da Folha em fevereiro de 2003, sendo deslocado diretamente para ser setorista da Câmara —no jargão jornalístico, o repórter responsável pela cobertura diária de determinada instituição. Com isso, em vez da Redação, o meu posto fixo de trabalho por vários anos seguintes foram os salões, corredores, gabinetes e plenários da Câmara, tendo no comitê de imprensa —o local que Lira quer transformar em seu gabinete— o ponto de apoio para escrever as reportagens. Um local sem mesa ou cadeira, amplo e todo acarpetado em tom verde, porém, sempre foi mais especial e marcante, para o trabalho de jornalistas e para a história. Situado no coração da Câmara, com de cerca de 2.000 metros quadrados, o Salão Verde é exatamente o local a ser evitado por quem quer se esconder do escrutínio público. É um dos espaços de maior circulação da Casa, por onde passam deputados, assessores, funcionários, visitantes, lobistas, jornalistas, entre vários outros, e que se transforma em um formigueiro humano no dia de votações importantes. O vaivém se explica porque no salão estão as entradas do plenário onde ocorrem as votações, além de ser ponto de passagem para quem entra e sai da Câmara.
Em uma das extremidades opostas à das entradas do plenário está o corredor que leva às salas da presidência da Câmara. Ou seja, o principal caminho para chegar ao gabinete pela manhã, para sair à noite, e para ir ao plenário e voltar durante as votações passa, necessariamente, pelo Salão Verde. E por jornalistas que lá fazem plantão em busca de informações. Foi exatamente no Salão Verde que momentos cruciais da história do país se desenrolaram. Foi lá, por exemplo, que o então presidente da Casa Eduardo Cunha (MDB-RJ) anunciou à imprensa, em dezembro de 2015, a deflagração do processo de impeachment de Dilma Rousseff (PT). Foi lá também que, meses antes, Cunha foi alvo de protesto com uma chuva de notas falsas de dólar jogadas em sua direção quando ele dava entrevista à imprensa. E foi lá que, por diversas e diversas vezes, foi questionado por jornalistas, ao chegar ou sair da Câmara, ao transitar entre seu gabinete e o plenário, sobre as contas que tinha na Suíça —com a insistência e a firmeza que exigem o jornalismo independente e o interesse público.
Foi no Salão Verde, também, que Severino Cavalcanti (PP-PE), presidente em 2005, teve que explicar por várias vezes as acusações de que recebeu um mensalinho de um fornecedor da Casa, escândalo que lhe custou o cargo. Para além dos casos de corrupção, os presidentes da Câmara são abordados principalmente sobre assuntos que estão na ordem do dia no país, já que ocupam um dos cargos dos mais importantes —o que define a pauta de votações da Casa, sendo o segundo na linha sucessória da Presidência da República. Rodrigo Maia (DEM-RJ), por exemplo, teve que ali dar explicações e ouvir pressões em uma infinidade de ocasiões nos seus quatro anos e seis meses como presidente da Casa, em votações importantes que conduziu, como a da reforma da Previdência. O desejo de se esconder dos holofotes e de só responder a perguntas em ambiente controlado, no momento em que julgar conveniente, é um desejo antigo na Câmara, que remonta, pelo menos, à gestão de João Paulo Cunha (PT), que comandou a Casa a partir do momento em que me tornei setorista da Folha no local, em 2003.
Sob o argumento da comodidade, de ter um espaço mais amplo para trabalhar e alocar assessores, de ter a rapidez de entrar e sair do gabinete durante as votações, e por alegadas questões de segurança, vários presidentes desde João Paulo acalentaram a proposta que, agora, Lira desengaveta. Na hora H, porém, nenhum deles tocou o projeto pra frente, até pelas restrições históricas e legais, já que a área atualmente usada por profissionais da imprensa foi projetada por Oscar Niemeyer (1907-2012). Falei com alguns deles. "Eu aconselharia o presidente Arthur Lira a não fazer a mudança, a não alterar uma tradição da Casa. Poderia parecer retaliação contra a imprensa, o que não seria bom para o início de sua presidência em um momento tão difícil do país", afirmou Aldo Rebelo (SP), que comandou a Câmara pelo PC do B em 2005 e 2006. Embora diga considerar essa uma decisão exclusiva do presidente da Casa e que veja como natural a reorganização de espaços, Marco Maia (PT-RS), que presidiu a Câmara em 2011 e 2012, afirmou ser contra qualquer encastelamento. "O presidente da Câmara precisa falar, dizer o que ele está pensando e ouvir o que a sociedade está pensando sobre os mais variados temas, afinal de contas o Parlamento é uma representação da sociedade. Quanto mais contato, mais próximo, mais ouvir a sociedade, menos ele vai errar na condução do processo legislativo."
A Câmara afirma que a obra não irá afetar o tombamento histórico, a arquitetura e os conceitos elaborados por Niemayer porque, em suma, não serão feitas alterações estruturais de monta —serão movidas apenas divisórias, além de mudanças elétricas e hidráulicas e no sistema de ar-condicionado. Apesar de possivelmente haver aquisição de mobiliário novo, pretende-se usar como mão de obra contratos atuais de manutenção predial. A expectativa é que o novo gabinete da presidência da Câmara esteja pronto em meados de 2021, afirmam assessores. Lira sempre foi um político de bastidores, avesso não só a discursos em plenário como ao contato com jornalistas —até esta quarta-feira (10), por exemplo, o novo presidente da Câmara não deu nenhuma entrevista coletiva, fez apenas pronunciamentos em que perguntas não foram permitidas. Um dos maiores símbolos históricos da necessidade de extrema transparência por parte dos detentores de cargo público se materializou nas palavras do juiz da Suprema Corte dos Estados Unidos Louis Brandeis (1856-1941), segundo quem a luz do sol é o melhor desinfetante. Brasília tem um pôr do sol que inunda diariamente as redes sociais. Como esse abaixo, visto a partir do comitê de imprensa da Câmara. O exato lugar que Lira quer ocupar com objetivos que destoam da célebre frase do juiz norte-americano, dita há mais de cem anos.

*”No Congresso dos EUA, jornalistas têm acesso livre a galerias e corredores, mas não aos plenários”*
*”Deputados contestam Lira, que chama de 'oportunismo político' crítica por mudar área da imprensa na Câmara”*

*”Assembleia de SP admite processo contra deputado que apalpou colega; relatoria fica com o PT”* - O Conselho de Ética da Assembleia Legislativa de São Paulo votou de forma unânime pela admissibilidade, nesta quarta (10), do processo que a deputada Isa Penna (PSOL) move contra o deputado Fernando Cury (Cidadania) por ter sido apalpada por ele em plenário. Essa é a primeira etapa de tramitação do caso no Conselho de Ética. O segundo passo, de definição de um relator, também já foi dado. A relatoria ficará com o deputado Emidio de Souza (PT), segundo foi acordado com a presidente do colegiado, deputada Maria Lúcia Amary (PSDB). Emidio terá 15 dias para analisar provas, depoimentos, defesa e decidir pelo arquivamento do caso ou propor alguma punição a Cury. Seu relatório precisa ter o aval de 6 dos 9 membros do conselho. A cassação é a pena mais grave prevista no regimento. Cury também pode ser advertido verbalmente, censurado (verbalmente ou por escrito) ou ter seu mandato suspenso temporariamente. O regimento prevê que, para cassação ou suspensão, é preciso o aval do plenário em votação secreta. A suspensão exige maioria dos presentes num quórum de 48 deputados, enquanto a cassação demanda o mínimo de 48 votos favoráveis. Entre os deputados, a cassação é vista como hipótese remota, enquanto a suspensão parece mais provável. Há ainda uma nova representação contra Cury pelo mesmo fato apresentada na semana passada pelas deputadas Professora Bebel (PT), Marcia Lia (PT) e Marina Helou (Rede). A admissibilidade dessa representação será analisada no conselho na próxima semana.
Nas redes sociais, Isa comemorou o resultado unânime. "Apesar desse ótimo resultado, não podemos baixar a guarda, pois a cassação não está garantida. A luta continua para que não haja impunidade no caso!", tuitou. Em nota, Cury afirmou receber a abertura do processo com serenidade. "Durante todo o processo, serão apresentados argumentos e provas para demonstrar que não houve, em nenhum momento, qualquer ato de assédio, importunação sexual ou intenção de constranger ou desrespeitar a deputada Isa Penna e seu mandato." ​ O deputado Estevão Galvão (DEM) participou da sessão desta quarta. Ele não faz parte do conselho, mas é corregedor da Casa e, portanto, tem direito à voto. O conselho também analisou dois pedidos de suspeição de deputados que fazem parte do colegiado e não acatou nenhum deles. Isa havia pedido que o deputado Alex de Madureira (PSD) fosse excluído do julgamento de seu caso, por considerá-lo implicado no ocorrido. Alex é o deputado com quem Cury conversa antes de se dirigir à deputada e tocá-la. O vídeo da sessão plenária mostra que Alex tenta segurar Cury logo antes do assédio.
Em uma derrota para Isa, por 8 votos a 2, Alex não foi considerado suspeito para julgar o caso. Erica Malunguinho (PSOL) e Emidio votaram a favor de excluí-lo. O conselho tampouco acatou pedido da defesa de Cury, de excluir Malunguinho do conselho. Os dez deputados votaram a favor da permanência dela. O advogado de Cury, Roberto Delmanto Junior, estava presente na sessão e defendeu que Malunguinho não poderia participar por já ter, em rede social, pré-julgado o caso ao defender a admissibilidade do processo. O entendimento unânime dos deputados —entre os de esquerda, de direita e os decanos da Casa— foi o de que o processo na Assembleia não se sujeita às regras do processo judicial, embora deva também ser imparcial. Para os parlamentares, Malunguinho tem o direito de se manifestar sobre o caso.​ Malunguinho argumentou que tirá-la do conselho seria deslegitimar a decisão da Assembleia que a colocou ali e isso não seria razoável com "o histórico, a independência e a lisura da comissão". "Nós não somos juristas, mas somos deputados; não temos a obrigação de ficar calados, mas a obrigação de falar", disse Barros Munhoz (PSB).
A sessão virtual do conselho foi conturbada, com problemas técnicos e deputados falando ao mesmo tempo. O deputado Wellington Moura (Republicanos) questionou a presença de Isa e do advogado de Cury, mas o regimento permite a participação. Emidio, que foi nomeado relator após a sessão, defendeu a presença de Isa e de Delmanto, e argumentou que o conselho deveria ouvir o advogado. Ponderou ainda que os ritos de votação da suspeição de Alex e de Malunguinho deveriam ser iguais para evitar a judicialização da tramitação no futuro. Delmanto afirmou que o julgamento no conselho deveria ser "sereno e sem politização", argumentou que Cury tem um histórico de respeito às mulheres e disse que "uma pessoa não é só um ato, é sobretudo sua história de vida". Em resposta ao advogado, Emidio afirmou que o conselho não está julgando "a vida pregressa" de Cury. "Estamos julgando um fato da vida dele. [...] Vamos ter que nos pronunciar independentemente do comportamento dele anteriormente."​ Houve ainda discussão entre Adalberto Freitas (PSL) e Isa. O deputado afirmou que se sentiu desrespeitado, constrangido e pressionado quando, em sessão plenária na semana passada, Isa o interrompeu cobrando que ele declarasse se votaria pela admissibilidade ou não. De forma irônica, Isa afirmou que não sabia que o deputado era sensível e que falaria com mais carinho. Também pediu desculpas a ele.
O Conselho de Ética tem apenas duas parlamentares mulheres, a presidente Maria Lúcia, que é membro efetiva, e Malunguinho, que é suplente de Carlos Giannazi (PSOL). O deputado lhe cedeu lugar para aumentar o número de mulheres. A acusação ao Conselho de Ética foi protocolada pela deputada em 17 de dezembro, dia seguinte à sessão em que Cury lhe tocou. Isa pede a cassação do deputado por quebra de decoro parlamentar. A peça de acusação diz que Cury praticou importunação sexual quando “colocou a sua mão direita sobre a cintura e seio da vítima e a encoxou”. O código penal descreve a importunação sexual como “praticar contra alguém e sem a sua anuência ato libidinoso com o objetivo de satisfazer a própria lascívia ou a de terceiro” e prevê pena de um a cinco anos de prisão. Na acusação, Isa reforça que o toque foi sem anuência e que foi libidinoso por ser direcionado a partes íntimas do corpo —o seio e as nádegas. Na avaliação da deputada, houve quebra de decoro porque Cury ofendeu não só a dignidade de Isa “mas de toda a população do Estado de São Paulo representada pela Assembleia Legislativa” e colocou em risco “o exercício da função parlamentar das mulheres eleitas”. A defesa prévia de Cury foi apresentada ao conselho na segunda-feira (8). Na peça de 32 páginas, Delmanto nega que tenha havido toque no seio e argumenta que Cury não teve intenção de assediar ou importunar sexualmente, que não houve "maldade", "má-fé", "conotação sexual" ou desrespeito a Isa "em sua condição de mulher e de parlamentar" no que chama de "rápido e superficial abraço". O advogado pede que o Conselho de Ética leve em conta o passado de Cury e diz que ele nunca teve histórico de ações machistas ou de desrespeito a mulheres.
Apesar de protocolada em dezembro, a acusação de Isa só teve andamento no Conselho de Ética na última semana, por causa do recesso parlamentar que paralisou as atividades dos deputados do dia 17 de dezembro até o último dia 1º. Já no primeiro dia da volta do recesso, o conselho notificou Cury a apresentar sua defesa em cinco dias, prazo que venceu na segunda. Com isso, a admissibilidade pôde ser analisada nesta quarta. O caso também é investigado pelo Ministério Público de São Paulo, que começou a ouvir depoimentos de deputados indicados por Isa como testemunhas. O desembargador João Carlos Saletti, do Tribunal de Justiça de São Paulo, autorizou, no último dia 15 a abertura da investigação pelo Ministério Público. O deputado tem foro especial por prerrogativa de função. A defesa de Cury, porém, alega não ter sido ouvida por Saletti e pede que ele reveja a autorização para a investigação ou a paralise até que os argumentos do deputado sejam apresentados à corte. O desembargador ainda não respondeu ao pedido. Em outra frente, a defesa de Cury, também argumentando cerceamento de defesa, conseguiu suspender na Justiça o processo de expulsão do deputado do partido Cidadania. O conselho de ética da legenda já opinou pela expulsão, mas cabe ao diretório nacional decidir. O diretório recorreu e está à espera de decisão do Tribunal de Justiça do Distrito Federal.

*”Fachin abre divergência, e STF tem 4 votos contra e 1 a favor ao direito ao esquecimento”*
*”Entenda o debate sobre direito ao esquecimento que será julgado pelo Supremo”*

*”Moraes, do STF, decide que Promotoria não pode destinar recursos de delações e multas da Lava Jato”* - O ministro Alexandre de Moraes, do STF (Supremo Tribunal Federal), concedeu uma decisão liminar (provisória) nesta quarta-feira (10) para estabelecer que o Ministério Público não pode definir a destinação de valores decorrentes de condenações criminais e acordos de colaboração premiada ou de leniência. A medida é considerada uma derrota da Lava Jato, que não poderá mais definir para onde irão os recursos oriundos de acordos firmados pela operação. A decisão deverá ser analisada pelo plenário da corte em data ainda não definida. O entendimento vai ao encontro do que foi defendido pela AGU (Advocacia-Geral da União), que faz a defesa do governo federal. O órgão, que está sob o guarda-chuva da gestão do presidente Jair Bolsonaro (sem partido), também sustentou que cabe à União definir a destinação dos valores oriundos de acordos judiciais. No despacho individual, o ministro sustentou que as “receitas oriundas de acordos de natureza penal, como toda e qualquer receita pública, devem, ao ingressar nos cofres públicos da União, ter a sua destinação a uma específica ação governamental definida por lei orçamentária editada pelo Congresso Nacional”. Da mesma forma, o ministro disse que o Ministério Público não tem o poder de vincular a destinação do recurso, por exemplo, para a área que foi lesada pelo agente público envolvido em crime que fez acordo com os investigadores. A decisão foi tomada em uma ação em que o PT e o PDT pedem que o Supremo decida que a Promotoria não tem competência para definir a destinação dos valores.
“Em que pesem as boas intenções de magistrados e membros do Ministério Público ao pretender destinar verbas resultantes de sanções criminais para projetos sociais e comunitários –e para o enfrentamento à grave crise de saúde pública decorrente da pandemia do coronavírus–, devem ser respeitados os limites estabelecidos pela Constituição Federal, bem como a expressa atribuição ao Congresso Nacional para deliberar sobre a destinação das receitas públicas”, afirmou Moraes. O ministro destacou que o acordo homologado por ele próprio a pedido da PGR (Procuradoria-Geral da República) para destinar parte de um fundo de R$ 2,6 bilhões da Lava Jato recuperado da Petrobras à saúde e à educação não representa uma autorização para o órgão decidir a destinação dessas receitas. “A homologação do acordo não constitui precedente em favor da possibilidade de que órgão judiciário determine a alocação ou vinculação de recursos públicos, pela singela razão de que a excepcional resolução da questão, naqueles autos, dependeu da efetiva participação de todos os Poderes, órgãos e autoridades com competência constitucional para a alocação de receitas públicas. E, em última análise, a destinação ali acordada somente se tornou efetiva com a aprovação dos atos normativos apropriados pelo Congresso Nacional.”

FERNANDO SCHÜLER - *”Rawls em tempo de barricadas”*

*”Haddad fala em acordo geral de partidos para derrotar Bolsonaro em eventual 2º turno de 2022”* - Candidato derrotado do PT nas últimas eleições presidenciais, o ex-prefeito e ex-ministro Fernando Haddad disse nesta quarta-feira (10) que o antibolsonarismo "é muito maior" do que o antipetismo, esse último apontado como um dos fatores que levaram à vitória do presidente Jair Bolsonaro em 2018. Em participação no UOL Entrevista, Haddad disse que seu candidato para 2022 é o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), apesar de esse estar vetado pela Lei da Ficha Limpa. Sobre alianças para a disputa nacional, disse que o PT "é um partido aliancista" [que sempre tenta alianças], mas que cada partido tem sua dinâmica.
Questionado sobre um cenário hipotético em 2022, em um segundo turno com Bolsonaro de um lado e o governador João Doria (PSDB-SP) ou o apresentador Luciano Huck de outro, Haddad afirmou que os partidos democratas deveriam formalizar um tipo de acordo. "Um acordo público para não acontecer o que aconteceu em 2018, qualquer que seja o representante das oposições. Porque quem tem que responder essa pergunta é quem votou no Bolsonaro no segundo turno, conhecendo o Bolsonaro." "Não pode ser um compromisso só do PT, tem que ser um compromisso geral. É um compromisso das oposições que esse projeto está destruindo o país? Então nós temos condição de conversar", disse. Sobre a pandemia do novo coronavírus, Haddad disse que o auxílio emergencial precisa voltar até que a população brasileira esteja vacinada contra a Covid-19. Na entrevista ao colunista do UOL Kennedy Alencar, Haddad disse que a gestão Bolsonaro "foi o maior erro da história da República". "Daqui a cem anos nós vamos lembrar o erro que nós cometemos", disse, em referência a seu adversário na disputa de 2018.
Comparada a disputa em que foi derrotado com a do ano que vem, ele comentou que "o antibolsonarismo é muito mais forte hoje". "Muito maior. É um escândalo um país como o Brasil ser presidido por uma pessoa dessa qualidade. É um escândalo mundial. O Brasil está fora, completamente fora do circuito, por causa da Presidência do Bolsonaro." Sobre a disputa de 2022, Haddad indicou, na semana passada, que Lula lhe pediu para colocar o "bloco na rua". Mesmo assim, o ex-prefeito disse ter preferência pelo ex-presidente. "Em 2018 [meu candidato] era o Lula e, em 2022, continua sendo." Questionado se tem vontade de ser presidente, Haddad disse que "é a mesma coisa perguntar para um padre se ele quer ser papa". "São circunstâncias históricas que permitem a você, combinando uma série de fatores. Presidente da República não é uma coisa que se decide ser. Você pode querer muito ser, pode ter desejo, pode ter projeto, pode ter partido, pode ter tudo, mas isso é muito do destino."
Haddad questiona como negar que Lula estaria sendo "vítima de uma violência". "E que eu gostaria que ele pudesse decidir se ele pode ser ou não, com seus direitos [políticos] restabelecidos." Lula não pode ser candidato porque foi condenado em segunda instância nos processos do tríplex e do sítio. A defesa do ex-presidente tenta derrubar as sentenças no STF (Supremo Tribunal Federal) com base na tese de que o ex-juiz Sergio Moro foi parcial na condução das ações penais. Por causa das condenações, Lula está enquadrado na Lei da Ficha Limpa, regra que o barrou da disputa presidencial de 2018, vencida por Jair Bolsonaro (sem partido). Apesar de o PT ter insistido com a candidatura de Lula até setembro de 2018, o partido acabou substituindo o ex-presidente por Haddad. Caso nada mude até lá, o ex-prefeito prevê que "vai acontecer o que aconteceu em 2018". "Agora passaram-se dois anos, nós temos toda a condição de provar o golpe que foi dado na candidatura do Lula e defender que ele possa rodar o país e disputar a eleição", completou.
Questionado sobre ser um "candidato poste" do ex-presidente, Haddad classificou a fala como tentativa de gerar "intriga" no partido. "O PT tem que ficar imobilizado até esperar uma decisão que não vem. Esse habeas corpus faz dois anos que não é julgado. Enquanto isso, o PT fica imobilizado e o Bolsonaro em campanha. Eu vou colocar o bloco na rua e já tomei as providências na minha vida privada para ficar totalmente disponível para esse projeto. Não há possibilidade de gerar intriga dentro do PT", afirmou. O petista também criticou a atitude dos partidos de oposição com relação à condenação de Lula. O PT defende que o ex-presidente foi alvo da Operação Lava Jato para sair da disputa eleitoral. "Por que o PSDB não vem a público e diz 'gente, deixa o Lula, ou outro petista, concorrer à eleição livremente'. É muita violência. Não tem um gesto da direita, dita democrática, em relação a uma violência que está sendo cometida. Que tanto medo as pessoas têm? De uma pessoa que ficou oito anos na Presidência da República sem atentar contra uma instituição, sobretudo contra aquelas que tinham o dever de combater a corrupção, como ele promoveu. Não tem cabimento isso", completou.
Haddad diz que, se não fossem as fake news e a "fraudulenta delação de Antonio Palocci", o PT teria ganhado a eleição em 2018. Ao falar sobre os pedidos de impeachment contra Bolsonaro no Congresso, Haddad avaliou que agora é mais difícil discutir o tema. "A minha avaliação é que ficou muito mais difícil agora discutir o impeachment porque já estamos na segunda metade do mandato, e o Bolsonaro, via centrão, simplesmente loteou o governo e se fortaleceu, para manter não só o seu mandato, mas para blindar seu filho Flávio Bolsonaro", disse. Com e eleição da presidência do Senado e da Câmara dos Deputados, na semana passada, Haddad vê o presidente "blindado". "O Bolsonaro se blindou nesse momento, e a eleição das mesas deixou claro que ele se enfraqueceu como presidente, mas fortaleceu aqueles que vão protegê-lo até 2022", afirmou.

MÔNICA BERGAMO - *”Advogado de Lula diz que não usará mensagens hackeadas para provar parcialidade de Moro”*: A defesa do ex-presidente Lula afirma que não usará as mensagens de Sergio Moro com os procuradores da Operação Lava Jato no habeas corpus em que acusa o ex-juiz de parcialidade. O processo deve ser julgado ainda neste semestre pela Segunda Turma do STF (Supremo Tribunal Federal). "A parcialidade de Moro já está mais do que provada", diz o advogado Cristiano Zanin Martins. "Não precisamos adicionar novos elementos no processo", segue ele. As mensagens foram apreendidas na Operação Spoofing com os hackers que invadiram os telefones celulares de procuradores e de autoridades de Brasília. O STF deu à defesa de Lula amplo acesso a seu conteúdo. Uma parte delas já tinha sido divulgada pelo site The Intercept Brasil em parceria com veículos de imprensa —entre eles, a Folha. Os diálogos mostram Moro orientando a acusação e até mesmo indicando testemunhas contra Lula aos procuradores. A inclusão das mensagens no habeas corpus que acusa o ex-juiz de parcialidade abriria uma nova discussão: a do uso delas como prova. Moro e os procuradores sustentam que elas foram obtidas ilegalmente pelos hackers e que portanto são imprestáveis como prova. A defesa de Lula diz acreditar que elas são, sim, válidas. E já se prepara para usá-las em processos que envolvem o ex-presidente. Não seria o caso, no entanto, de incluí-las no julgamento da parcialidade. "Não precisamos de novas discussões no processo, que já tem provas suficientes. À defesa interessa que o julgamento, que começou em 2018, seja concluído", afirma Zanin.
Ele afirma que o habeas corpus foi apresentado em 2016 e aponta o que considera provas já então elencadas contra Moro: a gravação e o monitoramento de advogados de Lula para acompanhar a estratégia da defesa, a decretação da condução coercitiva do ex-presidente "para demonizá-lo perante a opinião pública" e a divulgação de conversas do petista com Dilma, bem como de diálogos privados de seus familiares. Posteriormente os advogados incluíram na lista também a suspensão, por Moro, do sigilo da delação premiada de Antonio Palocci dias antes do primeiro turno da eleição presidencial, "o que favoreceu o candidato Jair Bolsonaro", e a adesão imediata do ex-juiz ao governo Bolsonaro logo depois das eleições. Convidado, ele aceitou ser ministro da Justiça. O ex-juiz divulgou nota na terça (9) em que diz lamentar que "supostas mensagens obtidas por violação criminosa de dispositivos de agentes da lei possam ser acessadas por terceiros, contrariando a jurisprudência e as regras que vedam a utilização de provas ilícitas em processos". Afirmou ainda que "nenhuma das supostas mensagens retrata fraude processual, incriminação indevida de algum inocente, sonegação de prova, antecipação de julgamento, motivação político-partidária, quebra da imparcialidade ou qualquer ato ilegal ou reprovável".

*”Sociedade se deu conta do fracasso do neoliberalismo, diz Correa sobre volta da esquerda no Equador”*
*”No 4º dia de contagem, segundo turno no Equador segue indefinido”*
LÚCIA GUIMARÃES - *”Com absolvição quase certa no Senado, Trump enfrenta mais problemas legais”*
*”Biden mobiliza forças para mandar sinal militar para China e Rússia”*

*”Acusação de impeachment sustenta que invasores só marcharam até o Capitólio após aval de Trump”*
*”Biden anuncia sanções contra militares que deram golpe em Mianmar”*
*”União Europeia diz que não vai adotar vacina russa contra Covid-19”*
*”Boris convoca Elton John e Michael Caine contra os antivacina; veja vídeo”*
*”Em vitória de relações-públicas, China colhe boa repercussão após missão da OMS em Wuhan”*

*”Câmara aprova projeto de autonomia do Banco Central; texto vai para sanção”* - A Câmara dos Deputados aprovou nesta quarta-feira (10) o projeto de lei complementar que estabelece mandatos fixos para o presidente e diretores do Banco Central, o que reduziria as chances de interferência política na autoridade monetária, de acordo com os defensores da proposta. O texto-base foi aprovado, por maioria, sem mudanças em relação ao que saiu do Senado. O placar da votação foi 339 a favor e 114 contrários. Os deputados rejeitaram sugestões de mudanças ao projeto. O texto segue para sanção presidencial. O projeto foi aprovado no Senado em novembro e está entre as prioridades do governo federal. No entanto, era visto como secundário pelo ex-presidente da Câmara Rodrigo Maia (DEM-RJ), que defendia a votação de pautas consideradas mais urgentes, como a PEC (Proposta de Emenda à Constituição) Emergencial, que traz mecanismos de ajuste fiscal, e a reforma tributária.
(...)
Segundo o projeto, a prioridade do Banco Central será assegurar a estabilidade dos preços. A autoridade monetária terá como objetivos secundários perseguir o pleno emprego, zelar pela estabilidade do sistema financeiro e suavizar oscilações da atividade econômica. O texto prevê que a autoridade monetária tenha mandatos fixos de quatro anos para o presidente e os diretores da instituição. Com isso, a demissão por iniciativa do presidente da República seria dificultada. Atualmente, além de não haver mandato, os dirigentes podem ser demitidos por iniciativa do presidente da República. De acordo com o projeto, as demissões podem ocorrer no caso de solicitação dos próprios dirigentes, por enfermidades, em casos de condenações transitadas em julgado ou proferida por órgão colegiado ou por comprovado e recorrente desempenho insuficiente. No caso de baixo desempenho, a dispensa precisará de aval do Senado. O argumento é que esse procedimento tem como objetivo blindar a instituição de interferência políticas. Pela proposta, o presidente do BC iniciará seu mandato no primeiro dia útil do terceiro ano do mandato do presidente. Para que possa assumir, o nome precisa ter sido aprovado pelos senadores em votação secreta no plenário da Casa.
A votação foi marcada por atritos entre a oposição e deputados que defendem a autonomia do BC. O deputado Ivan Valente (PSOL-SP) afirmou que a intenção da esquerda era “impedir que a ‘bolsa banqueiro’” fosse aprovada. “No momento em que o Brasil precisa discutir claramente as suas prioridades, que são o auxílio emergencial e a pandemia, nós estamos votando a autonomia do Banco Central”, criticou. Já Leo de Brito (PT-AC) criticou a votação da autonomia e disse que os deputados estavam discutindo o auxílio banqueiro, para os banqueiros tomarem conta do Banco Central do Brasil”. Relator do texto, o deputado Silvio Costa Filho (Republicanos-PE) defendeu o projeto. “Tenha a certeza de que os objetivos que nós buscamos foram construir na direção de que possamos ter um Banco Central autônomo e independente e que de fato ele cumpra seu papel primário, que é controlar a inflação e manter o equilíbrio da taxa de juros”, disse. Em discurso, o deputado Paulo Ganime (Novo-RJ) lembrou que a autonomia era um tema debatido há 30 anos. “Quando falamos do Banco Central, o seu principal papel, na verdade, o que deveria ser talvez o seu único papel, é justamente a contenção da inflação”, disse. Ele defendeu ainda os mandatos de presidente e diretores do BC. “Isso traz segurança para o Brasil, para os brasileiros, para quem quer investir, quem vai trazer, sim, a retomada econômica”, afirmou. “O brasileiro quer trabalhar, o brasileiro quer ter oportunidade, quer ter emprego, quer ter renda própria, quer correr atrás de seus sonhos e poder fazer isso. E, sem as reformas necessárias, como a autonomia do Banco Central, reforma tributária, reforma administrativa, nós não vamos chegar lá.” O ministro Paulo Guedes (Economia) se empenhou para que a proposta de autonomia do BC fosse aprovada. O assunto foi tratado com Lira pouco depois que o novo presidente da Câmara assumiu o cargo.
(...)
Além do projeto de autonomia do BC, o presidente da Câmara ainda espera concluir, nesta semana, a votação do novo marco legal do câmbio. Os temas, além das reformas tributária e administrativa, estão entre as prioridades do governo para o ano. Em nota, o BC considerou que a aprovação do texto é “um passo importante”. “Essa mudança é o resultado de um longo processo de amadurecimento institucional, onde os benefícios de um banco central autônomo, transparente e responsável foram ficando claros para a sociedade”, afirmou.

PAINEL S.A. - *”No Carnaval da pandemia, Anitta vai para ilha deserta e app de namoro faz jogo virtual”*
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*”Pacheco diz que imposto para bancar auxílio não é o 'ideal' e equipe econômica descarta medida”*
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*”Governo começa a recriar medidas da pandemia com MP que flexibiliza crédito”* - O governo editou uma MP (medida provisória) que flexibiliza exigências para concessão de crédito, repetindo uma iniciativa tomada durante o ano passado após a chegada da Covid-19 ao país. A medida pode ser a primeira de uma série de ações adotadas no ano passado para mitigar o impacto econômico gerado pelo coronavírus e que podem voltar em 2021 diante da continuidade da pandemia. No momento, o governo analisa recriar ações como o auxílio emergencial (em menor escala), a antecipação do 13º​ do INSS (Instituto Nacional do Seguro Social) e a reativação do programa de manutenção do emprego. As medidas foram sinalizadas ao longo das últimas semanas e ainda estão em discussão. A equipe econômica defende que há pouco ou nenhum espaço fiscal para retomá-las sem algum tipo de contrapartida fiscal, visão que encontra resistência no Congresso. No caso da MP voltada ao crédito, publicada nesta quarta-feira (10), o novo texto resgata o teor de uma MP de abril de 2020, que perdeu sua validade e se limitava exclusivamente a bancos públicos. Agora, instituições privadas também terão exigências flexibilizadas para emprestar. A principal medida é a suspensão temporária, até 30 de junho de 2021, da exigência de apresentação das Certidões Negativas de Débitos em contratações e renegociações de crédito com instituições financeiras públicas ou privadas.
(...)
A flexibilização foi um pedido da CNI (Confederação Nacional da Indústria), para quem as linhas emergenciais anunciadas ou futuras precisam ter o maior alcance possível. Na visão da entidade, não faria sentido limitar ou restringir o uso de linhas e benefícios anticrise apenas às empresas em regularidade. As MPs têm força imediata de lei e valem por quatro meses, demandando posterior aprovação pelo Congresso para virarem definitivamente leis ordinárias após esse prazo. A SPE (Secretaria de Política Econômica), do Ministério da Economia, elaborou uma nota técnica afirmando que as medidas anticrise permitiram a reversão das expectativas de crescimento econômico para 2020 a nível menos crítico. Mesmo assim, os técnicos da pasta afirmam que a geração de emprego e de renda no longo prazo não pode ser sustentada pelas medidas emergenciais, pois depende de fatores estruturais do mercado, como produtividade da mão de obra, ambiente de negócios e segurança jurídica. "São necessárias reformas que criem marcos legais que estabeleçam segurança jurídica e um ambiente de negócios favorável no Brasil para quem quer investir e empreender. Para aumento da produtividade na economia, são necessárias as privatizações e concessões, a abertura comercial, a correção da má alocação de recursos, a reforma tributária, a desburocratização, entre outras reformas", afirma a SPE.

*”Varejo deve continuar fraco neste início de ano com corrosão na renda das famílias”*
*”Empresários atribuem retração do comércio ao fim do auxílio e à piora da pandemia”*
VINICIUS TORRES FREIRE - *”Entenda por que a autonomia do BC não muda quase nada”*
*”Novo vazamento expõe dados de mais de 100 milhões de contas de celular”*

*”Fundo Verde reabre para captação depois de três anos”*
*”Bolsa tem terceira queda seguida e volta aos 118 mil pontos”*
SOLANGE SROUR - *”Do risco de deflação ao perigo da inflação”*

*”Teles atacam edital do 5G no Congresso e dizem que regras impõem gastos de ao menos R$ 6 bi”* - As operadoras de telefonia atacaram ao menos duas exigências de investimentos impostas pelo edital do leilão do 5G durante audiência pública realizada pela Câmara dos Deputados nesta quarta-feira (10). Para elas, a construção de uma rede fechada para o governo Bolsonaro e o deslocamento de satélites para evitar interferências com a TV aberta tomará ao menos R$ 6 bilhões dos investimentos nas redes da nova tecnologia. As empresas estimam em cerca de R$ 25 bilhões o valor das frequências (faixas no ar por onde as teles fazem trafegar seus sinais). De acordo com a proposta do edital em discussão na Anatel (Agência Nacional das Telecomunicações), o governo decidiu abrir mão de dinheiro no ato do leilão em troca de investimentos obrigatórios. Esses investimentos são contrapartidas por pagarem menos nas licenças e não se confundem com investimentos próprios a serem realizados pelas empresas. Para as teles, diversas exigências são indevidas por não terem relação com as redes de quinta geração. Entre as exigências estão levar fibra óptica para a região amazônica ou a municípios que poderiam ser mais bem atendidos por meio de rádio devido a questões geográficas.
Diante de tantos pontos controversos com o setor, o presidente da Anatel, Leonardo de Moraes, pediu vista do processo e paralisou a votação pelo conselho diretor da agência até 24 de fevereiro, quando deverá apresentar seu voto. As operadoras estimam que, como boa parte das contrapartidas não tem especificação –não se sabe, por exemplo, a dimensão de cobertura da rede privativa do governo– o valor total pode ultrapassar os R$ 25 bilhões do preço das frequências. Por isso, exigem melhorias e mudanças no edital sob pena de questionarem o edital na Justiça. Ou, que os cálculos sejam rapidamente apresentados pela Anatel.
No debate , representantes das operadoras –que participarão do leilão– e das principais associações do setor deixaram claro que estão alinhados em relação às contrapartidas e em guerra quanto a aspectos técnicos da nova rede a ser implantada. As teles se posicionaram contrariamente à construção de uma rede para Bolsonaro porque não podem, como empresas de capital aberto em sua grande maioria, investir em uma rede que será entregue para um competidor –no caso, a Telebrás. “Essa rede não pode ser construída pelas empresas. Tem de ser licitada para alguém construir. Existe questionamento sobre nós construirmos essa rede, que ainda será operada pela Telebras”, disse Fábio Andrade, vice-presidente de Relações Institucionais da Claro. “E ainda falta explicação da dimensão dessa rede [se vai operar somente em Brasília ou em outros estados].” Desde a privatização do setor, as empresas participam de licitações públicas e geram receitas com a prestação do serviço para órgãos públicos, inclusive a Presidência da República. De acordo com as regras do edital propostas pelo conselheiro da Anatel Carlos Baigorri, como esses investimentos serão descontados do preço mínimo das frequências, cabe à União definir os projetos e os padrões a serem adotados. Um deles é a construção dessa rede privativa para o governo, que não deverá conter equipamentos da fabricante chinesa Huawei. Foi a saída encontrada para evitar que Bolsonaro barrasse a gigante chinesa da construção das redes comerciais 5G no país –o que atrasaria a oferta do serviço e o tornaria mais caro.
Outra obrigação é a distribuição, por parte das teles, de receptores de TV para os brasileiros que captam programas da televisão aberta via satélite ou que assinam pacotes de canais fechados, como os da Sky. Os satélites operam atualmente na faixa de frequência de 3,5 GHz, que será utilizada pelo 5G. Na proposta do edital, que seguiu diretriz do Ministério das Comunicações, esses equipamentos terão de ser deslocados para outra faixa de frequência (migração). Na audiência, as operadoras defenderam que essa solução custará R$ 3 bilhões a mais do que se fossem distribuídos filtros para evitar interferências nas antenas parabólicas (mitigação). “Não entendemos como entrou no edital uma solução que tira R$ 3 bilhões em investimentos do 5G”, questionou Marcos Ferrari, presidente da Conéxis, associação das operadoras de telefonia. “O edital adotou a migração da Banda C [faixa em que hoje operam os satélites] para a banda KU [faixa mais elevada e sem uso maciço]. Isso custa R$ 3 bilhões a mais e vai atrasar a instalação do 5G em ao menos dois anos.” Os representantes da Tim, Mario Girasole, e da Vivo, Átila Araújo, defenderam a mudança no edital e a retomada da proposta anterior de distribuição de filtros. “Temos absoluta segurança de que a solução da mitigação [uso de filtros] é segura, mais rápida e mais barata que a da migração”, disse Araújo, da Vivo.
Segundo ele, o prazo estabelecido pelo edital de 300 dias para a migração é “muito arriscado” com “grande possibilidade de não cumprimento”. Ainda de acordo com o edital, somente após esses 300 dias as operadoras poderiam dar início à exploração comercial da faixa de 3,5GHz, o chamado “filé mignon” do 5G, que permitirá a oferta de velocidades até cem vezes superiores às do 4G. Girasole, vice-presidente de assuntos regulatórios da Tim, expôs um racha entre as empresas ao defender publicamente o chamado “padrão 16” das novas redes 5G, outra proposta do edital. Por esse padrão, as empresas terão que construir redes novas e totalmente independentes para a quinta geração. Segundo o conselheiro Baigorri, é esse padrão que forçará as empresas a entregarem uma “Ferrari e não um Fusca” com o 5G. Isso significa que as teles pretendiam aproveitar as redes já existentes e trocar os rádios para funcionarem com o 5G, seguindo uma receita de investimento que se repete desde o início da telefonia celular no país. À medida que as novas tecnologias surgiram, entravam em campo com a instalação de antenas de rádios para permitir a exploração das novas faixas de frequência. É por isso que as empresas já lançaram serviços com velocidade similar à do 5G por meio de suas redes –e frequências– existentes. Baigorri não vetou esse tipo de oferta de serviço, mas decidiu que, para efeitos de cumprimento de obrigações de cobertura 5G, só entrarão na conta investimentos novos de “5G puro-sangue”, o chamado padrão Stand-Alone.
Neste padrão, equipamentos já instalados não conversam com os demais. Ou seja: exigem uma rede totalmente nova e que, segundo o relator, garantirão funcionalidades como cirurgia à distância, carros autônomos e indústrias conectadas. Caso contrário, na avaliação do relator, teríamos um "4G Plus". A Claro afirmou que “é preciso mais tempo para se chegar a esse estágio”. Andrade afirmou que a empresa “estará pronta para entregar uma Ferrari quando o Brasil precisar dessa Ferrari” e que, até lá, a empresa gostaria de continuar utilizando sua rede com um produto 5G. A Claro alega que essa escolha –pelo 5G puro-sangue– irá encarecer o serviço para o consumidor e atrasar a oferta (até que as novas redes sejam construídas) em até três anos. A Tim rechaçou essa posição. “Não demora e não encarece”, disse Girasole. “Teremos de construir essas redes de qualquer forma e para isso vamos pagar um pedágio. O pedágio é o lance mínimo pelas frequências [adquiridas no leilão]. A questão é saber se vamos embarcar nessa estrada de bicicleta ou de avião de caça.” Para ele, a única garantia de entrega de velocidade 5G com latência de milissegundo [tempo de resposta entre o telefone e um site de internet, por exemplo] é na rede 5G puro-sangue. “Uma pesquisa da GSMA [associação global das operadoras de celular] mosttra que 85% das operadoras que têm 5G pretendem migrar para Stand-Alone até 2022. Por que não começarmos já com essa rede?"

*”Elon Musk quer energia limpa, mas Tesla carrega 'poluição' de bitcoin”*

*”Documentos mostram que Saúde usou Fiocruz para produzir 4 milhões de comprimidos de cloroquina”* - O Ministério da Saúde usou a Fiocruz (Fundação Oswaldo Cruz) para a produção de 4 milhões de comprimidos de cloroquina, com o emprego de recursos públicos emergenciais voltados a ações contra a Covid-19 e com destinação prevista do medicamento a pacientes com coronavírus. Documentos da pasta obtidos pela Folha, com datas de 29 de junho e 6 de outubro, mostram a produção de cloroquina e também de fosfato de oseltamivir (o Tamiflu) pela Fiocruz, com destinação a pacientes com Covid-19. Os dois medicamentos não têm eficácia contra a Covid-19, segundo estudos. O dinheiro que financiou a produção partiu da MP (Medida Provisória) nº 940, editada em 2 de abril pelo presidente Jair Bolsonaro (sem partido) para o enfrentamento de emergência do novo coronavírus, como consta nos dois documentos enviados pelo Ministério da Saúde ao MPF (Ministério Público Federal) em Brasília. A MP abriu um crédito extraordinário, em favor do ministério, no valor de R$ 9,44 bilhões. Para a Fiocruz, que é vinculada à pasta, foram destinados R$ 457,3 milhões para "enfrentamento da emergência de saúde pública de importância internacional decorrente do coronavírus".
Na exposição de motivos sobre a MP, não houve detalhamento de como o dinheiro seria gasto. O texto da Presidência da República enviado ao Congresso fala em "produção de medicamentos". Os documentos enviados ao MPF apontam gastos de R$ 70,4 milhões, oriundos da MP, com a produção de cloroquina e Tamiflu pela Fiocruz. Os ofícios associam a produção dos dois medicamentos aos recursos destravados para a pandemia. As drogas se destinam a pacientes com Covid-19, segundo os mesmos ofícios, elaborados por uma coordenação da Secretaria de Ciência, Tecnologia, Inovação e Insumos Estratégicos em Saúde. No Brasil, a Fiocruz é a responsável pela importação e produção da vacina desenvolvida pela farmacêutica AstraZeneca e pela Universidade de Oxford. A Fiocruz também desenvolve pesquisas para o desenvolvimento de uma vacina nacional. Segundo a instituição, a produção de cloroquina e de Tamiflu não impactou as ações voltadas a pesquisas, testes e desenvolvimento de imunizantes, por se tratarem de unidades distintas no órgão.
Na sexta-feira (5), a fundação afirmou à Folha que Farmanguinhos, o instituto responsável pela fabricação de medicamentos, produziu cloroquina para atender ao programa nacional de prevenção e controle da malária. "Farmanguinhos produz cloroquina somente para o que está previsto em sua bula. A bula descreve que a cloroquina é indicada para profilaxia e tratamento de ataque agudo de malária e no tratamento de amebíase hepática, artrite, lúpus, sarcaidose e doenças de fotossensibilidade", disse. Nesta quarta-feira (10), após questionamentos da reportagem sobre os novos documentos, a Fiocruz reafirmou o que disse na nota anterior. "Farmanguinhos não produziu em 2020 ou está produzindo o referido medicamento para outras indicações." Segundo a instituição, o Ministério da Saúde informou que poderia fazer uma solicitação, mas isso não teria se concretizado. Farmanguinhos entregou 16,8 milhões de doses de Tamiflu para "tratamento e profilaxia de gripe em adultos e crianças com mais de um ano" e outro lote será entregue em 2021, cita a nota. Nem a Fiocruz nem o Ministério da Saúde comentaram o uso dos recursos da MP voltada a ações contra o coronavírus para a produção dos dois medicamentos. Em nota, o Ministério da Saúde disse que a aquisição da cloroquina não foi concretizada, que a produção deve ser explicada pela Fiocruz e que o Tamiflu não é para Covid-19, mas para influenza. "Ao atuar no tratamento da influenza, ele favorece a redução da sobrecarga ao sistema de saúde em função do aumento de doenças respiratórias."
Em 29 de junho, Farmanguinhos já produzia 2,5 milhões de cápsulas de fosfato de oseltamivir 30 mg, 2,35 milhões de 45 mg e 11 milhões de 75 mg, o que totaliza 15,85 milhões de doses. "Esses quantitativos em produção serão custeados por meio de recursos destinados à Fiocruz, pela medida provisória nº 940", cita o primeiro documento do Ministério da Saúde. O investimento previsto era de R$ 70,4 milhões. "Dada a capacidade produtiva do laboratório público e a necessidade deste ministério, esses medicamentos serão fornecidos ao longo dos próximos cinco meses." A mesma lógica valia para a cloroquina: "Também com esses recursos alocados à Fiocruz, por meio da Medida Provisória nº 940, está em processo de produção por Farmanguinhos/Fiocruz o montante de 4.000.000 de comprimidos de disfosfato de cloroquina 150 mg. Esse montante tem previsão de entrega nos meses de julho e agosto". Um novo documento, elaborado em 6 de outubro pela mesma área do Ministério da Saude, confirmou as informações de junho. Dessa vez, a pasta informou que "foi realizada a aquisição" do Tamiflu, em julho, junto a Farmanguinhos, com o uso de recursos destravados pela MP nº 940. "O Ministério da Saúde tem distribuído o fosfato de oseltamivir para o enfrentamento à pandemia e tem recomendado o uso concomitante com outros medicamentos por até cinco dias até exclusão de influenza, em pacientes pediátricos com diagnóstico de Covid-19", afirma. O protocolo de uso do medicamento o recomenda para gripe e síndrome respiratória aguda grave.
O documento também dá o panorama sobre a cloroquina produzida na Fiocruz: "Com os recursos alocados à Fiocruz, por meio da MP nº 940, para a aquisição de medicamentos, encontra-se em processo de aquisição junto a Farmanguinhos o montante de 4.000.000 de comprimidos de difosfato de cloroquina 150 mg". O medicamento "está sendo distribuído de acordo com as orientações do Ministério da Saúde para manuseio medicamentoso precoce de pacientes com diagnóstico da Covid-19", afirma. A cloroquina da Fiocruz se soma a outras ofensivas do Ministério da Saúde. O Laboratório Químico Farmacêutico do Exército produziu 3,2 milhões de comprimidos de cloroquina, a um custo de R$ 1,16 milhão, a partir de pedidos feitos pelos Ministérios da Saúde e da Defesa. Já os EUA, ainda no governo de Donald Trump, doaram 2 milhões de comprimidos ao Brasil. No sábado (6), a Folha mostrou que o governo Bolsonaro mobilizou pelo menos cinco ministérios, uma estatal, dois conselhos da área econômica, Exército e Aeronáutica para distribuir o medicamento. Com base na reportagem, o PDT ingressou no STF (Supremo Tribunal Federal) com uma notícia-crime contra o presidente nesta terça-feira (9). Dados do Ministério da Saúde mostram a distribuição de 5.416.510 comprimidos de cloroquina; 481.500 de hidroxicloroquina; e 22.380.510 de Tamiflu. O total gasto, segundo o Localiza SUS, foi de R$ 89 milhões. O ministro da Saúde, general da ativa Eduardo Pazuello, passou a ser investigado nas esferas cível e penal pela distribuição de cloroquina. Há procedimentos contra o ministro no MPF na primeira instância e na PGR (Procuradoria-Geral da República). Uma auditoria do TCU (Tribunal de Contas da União) apontou ilegalidade no uso de dinheiro do SUS com essa finalidade.

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SÉRGIO RODRIGUES - *”Linguisticamente (final)”*

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MIRIAN GOLDENBERG - *”Por que tantos brasileiros sofrem de incontinência verborrágica?”*
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*”Em sintonia com agenda ideológica, Bolsonaro vetou candidato à reitoria da UFSCar por ligação com PT”* - Mais votado pela comunidade acadêmica e primeiro colocado na lista para a reitoria da UFSCar (Universidade Federal de ​São Carlos) enviada ao governo, o professor Adilson Jesus de Oliveira teve o nome preterido pelo presidente Jair Bolsonaro (sem partido) por causa de sua filiação ao PT, segundo relatos de membros do governo feitos à reportagem. O veto está em sintonia com a agenda ideológica do governo.Oliveira disse à Folha que já se desfiliou da sigla e que nunca exerceu militância partidária. Seu nome, no entanto, ainda consta nos registros de filiação do TSE (Tribunal Superior Eleitoral), o que, segundo informações colhidas pela reportagem, foi o que pesou para a nomeação da segunda colocada na lista tríplice, a professora Ana Beatriz de Oliveira. Bolsonaro e aliados mantêm discurso de que as universidades são aparelhadas pela esquerda. Ao escolher nomes que não ganharam as eleições internas, o governo tem quebrado tradição, consolidada antes de seu governo. Reitores e professores veem a postura como um ataque à autonomia universitária.
Questionado, o MEC (Ministério da Educação) não respondeu. Desde o início de sua gestão, o presidente escolheu 39 reitores para as unidades federais. Desses, 14 foram nomeados por pessoas que não lideravam a lista. Há ainda cinco instituições de ensino federal que tiveram um interventor nomeado para comandar a universidade. A nomeação é feita pelo presidente, mas isso ocorre após ouvir o MEC. O tema tem sido levado ao presidente pelo ministro da Educação, Milton Ribeiro, nos encontros que ambos têm no Planalto. O ex-ministro Abraham Weintraub já havia indicado, durante audiência no Senado em março de 2019, que o governo estava retendo nomeações por causa de questões políticas. O IFBA (Instituto Federal da Bahia), por exemplo, teve a nomeação de reitor atrasada em mais de um ano —no caso de institutos, apenas um nome é enviado ao governo. Em agosto passado, Bolsonaro nomeou para o comando da UFRGS (Universidade Federal do Rio Grande do Sul) o professor Carlos André Bulhões, terceiro colocado na consulta. Essa escolha foi anunciada com antecedência pelo deputado bolsonarista Bibo Nunes (PSL-RS).
No caso das universidades, a legislação atual define que uma lista com três nomes seja encaminhada pela universidade ao presidente da República, a quem cabe a escolha de um dos três nomes. O vice-reitor também é escolhido da mesma forma. Há ainda previsão legal de que a lista seja definida, dentro das instituições, em processo eleitoral em que o peso de voto dos professores seja de no mínimo 70%. Essa regulamentação é de meados da década de 1990, durante o governo Fernando Henrique Cardoso (PSDB). Uma demanda da comunidade acadêmica, no entanto, é a possibilidade de a escolha ser paritária, com participação de professores, servidores técnico-administrativos e alunos. Assim, há abertura para que as instituições façam consultas à totalidade da comunidade acadêmica. Depois disso, os conselhos universitários (que contam com maior representação de professores) instalam comissões eleitorais e definem a lista tríplice de modo a respeitar a vontade da comunidade na consulta. Isso ocorre em várias universidades federais. Na UFSCar, que também adota esse procedimento, os nomes incluídos na lista tríplice foram apenas de docentes ligadas à chapa vencedora —a professora Ana Beatriz de Oliveira compunha a chapa de Oliveira como pró-reitora de extensão (na universidade, as chapas são compostas por toda a equipe diretiva, embora somente o reitor e o vice-reitor são levados ao presidente).
O processo na federal de São Carlos foi marcado também por ação judicial que chegou a cancelar, no ano passado, uma primeira lista tríplice. Um candidato derrotado na consulta paritária e não contemplado pela lista elaborada pelo conselho universitário foi à Justiça para ter seu nome incluído no processo de eleição tocado pelo órgão. A universidade refez o processo dentro do conselho universitário, incluindo o nome do derrotado, Fernando Moreira. Ele teve apenas dois votos na votação no conselho universitário e a lista tríplice foi composta por integrantes da chapa vencedora, a exemplo da primeira relação. O professor Oliveira, preterido para o cargo apesar de liderar a lista tríplice, disse que o governo precisa expor as motivações de sua decisão. Segundo o professor, que é físico, o fato de ele ser um divulgador de informações científicas pode ter colaborado para essa decisão. A Folha não conseguiu contato com a nova reitoria, que assumiu o cargo e manteve a equipe e os projetos elaborados na campanha liderada por Oliveira. O professor preterido não fará parte da nova gestão. Bolsonaro patrocinou duas MPs (medidas provisórias) de Weintraub para tentar mudar o formato de escolha dos reitores e reduzir a autonomia das universidades. Ambas não prosperaram.
A primeira, editada em dezembro de 2019, perdeu validade em maio passado porque não foi apreciada pelos parlamentares. O segundo texto, de junho de 2020, autorizava nomeações durante a pandemia sem a realização de consulta à comunidade --essa MP nem sequer tramitou e foi devolvida pela presidência do Senado alguns dias depois. As movimentações do governo federal com relação às nomeações provocaram duas ações no STF (Supremo Tribunal Federal), de autoria do PV e da OAB (Ordem dos Advogados do Brasil). No sexta-feira (5), a corte seguiu voto do ministro Alexandre de Moraes e indeferiu pedido para que o mais votado fosse nomeado. Prevaleceu o entendimento de que a lei permite a escolha entre os nomes da lista. Voto vencido nesse pedido de liminar, o relator das ações, ministro Edson Fachin, havia se posicionado no sentido de que o princípio constitucional da autonomia universitária garante a primazia das universidades na escolha de seus dirigentes. O tema ainda será analisado em definitivo pelo Supremo. Neste ano, Bolsonaro ainda poderá nomear nove reitores de federais. O Brasil tem 69 universidades ligadas ao MEC.

*”Em aula online sobre racismo na USP, tenente-coronel da PM é chamado de 'macaco'”*
*”Senado ratifica Convenção Interamericana contra o Racismo”*
*”Escritor Lira Neto desiste de livro sobre pandemia bancado pelo governo do Ceará”*
*”Moradores de rua acusam prefeitura de fazer jardins para tirá-los de praça na zona leste de SP”*
*”Governo decide retirar militares da Amazônia e limitar fiscalização a 11 cidades de 4 estados”*

MÔNICA BERGAMO - *”Damares convoca grupo para revisar o Programa Nacional de Direitos Humanos”*: O governo de Jair Bolsonaro promoverá a revisão do Programa Nacional de Direitos Humanos (PNDH). A ministra Damares Alves, da Mulher, da Família e dos Direitos Humanos, publica nesta quinta (11) portaria para convocar um grupo de trabalho que discutirá o tema. Damares quer chamar pessoas da sociedade civil, de outros ministérios e de conselhos de governo para discutir um novo texto, a ser aprovado até dezembro. O PNDH, feito para efetivar políticas públicas alinhadas com o sistema internacional de Direitos Humanos, do qual o Brasil faz parte, estabelece medidas em áreas como segurança, educação e direitos de minorias. Ele prevê, por exemplo, a ampliação do controle de armas de fogo em circulação no país e o estímulo ao desarmamento. Um dos capítulos prevê a construção de “museus, memoriais e centros de documentação sobre a resistência” à ditadura militar. O plano tem ainda entre seus objetivos estratégicos a garantia “do respeito à livre orientação sexual e identidade de gênero”. Uma de suas orientações é exigir de projetos financiados pelo governo federal a “adoção de estratégias de não discriminação” em razão de classe, raça, etnia, crença, gênero, orientação sexual e identidade de gênero. Na avaliação do ministério, o texto atual, criado por decreto em 2009, tem metas inatingíveis e pouco focadas em “ações efetivas e de impacto social”.

MÔNICA BERGAMO - *”Lula já usa mensagens hackeadas de Moro para questionar processos”*: Os advogados de Lula já começaram a usar as mensagens hackeadas de Sergio Moro com procuradores da Lava Jato de Curitiba em processos judiciais. Uma parte dos diálogos foi apresentada nesta semana na ação que apura, na 13ª Vara Federal de Curitiba, a doação, pela Odebrecht, de um terreno para a construção de nova sede do Instituto Lula. As conversas, de acordo com a defesa do petista, mostrariam que os procuradores receberam “informalmente, de maneira clandestina e fora do processo”, informações de autoridades da Suíça contidas em sistemas de dados da empreiteira. Elas indicariam também que o FBI e a diplomacia dos EUA colaboraram com as investigações. “E nada disso está no processo”, diz o advogado Cristiano Zanin Martins. Moro e os procuradores não reconhecem as mensagens e dizem que foram obtidas de forma ilegal.

MÔNICA BERGAMO - *”Hospital de São Paulo já recebeu seis pacientes com suspeita de contaminação pela nova cepa de coronavírus”*
MÔNICA BERGAMO - *”Documentários exibidos no É Tudo Verdade 2020 estão entre pré-indicados ao Oscar”*
MÔNICA BERGAMO - *”Chico Chico lança marchinha carnavalesca na sexta (12)”*
MÔNICA BERGAMO - *”Gerando Falcões realiza leilão beneficente com itens de vestuário para adultos e crianças”*

CAPA – Manchete principal: *”Câmara aprova autonomia do BC, em aceno à agenda de Guedes”*

EDITORIAL DO GLOBO: *”Vitória no STF estimula projeto político de Lula”*: A vitória de Lula no julgamento da Segunda Turma do Supremo não significa que ele deva ser incluído no páreo para as eleições de 2022. Para começar, isso nem estava em questão. Foi autorizado apenas o acesso — nem sequer o uso — ao material furtado das conversas entre o então juiz Sergio Moro e procuradores da Lava-Jato, apreendido pela Operação Spoofing. Mesmo que Lula seja inocentado no futuro, é difícil crer que saia candidato. O que a decisão lhe traz é a esperança de enterrar as condenações da Lava-Jato e voltar a exercer papel mais relevante na política nacional. O resultado do julgamento é mais um revés para os defensores da operação e de seus métodos. A tese dos advogados de Lula é que as mensagens comprovam o conluio entre Moro e procuradores, Deltan Dallagnol à frente, na condução de investigações e acusações. De acordo com essa tese, os processos contra Lula não passaram de jogo combinado entre quem denuncia e quem julga, maculando os princípios da isenção e do livre direito de defesa. É uma tese para lá de discutível, tamanha a quantidade e a qualidade das provas acumuladas. Mas só será avaliada num próximo julgamento da Turma, sobre o pedido para invalidar a condenação no caso do tríplex do Guarujá (o ministro Gilmar Mendes pediu vista do processo). Os próximos passos serão acompanhados com atenção. Caso Lula consiga se livrar da condenação por Moro, ainda continuará inelegível, devido à condenação proferida pela juíza Gabriela Hardt, substituta de Moro na 13ª Vara Federal de Curitiba, no processo sobre o sítio de Atibaia. Mas já terá sido um passo para deixar de ser “ficha-suja”, que dará força a suas críticas à Lava-Jato. O segundo e decisivo passo será dado se a defesa recorrer no processo do sítio e também obtiver êxito.
Na Segunda Turma, costumam ser favoráveis à defesa os ministros Gilmar e Ricardo Lewandowski, da ala “garantista”. Desta vez, também votaram em favor de Lula (e contra o relator da Lava-Jato, Edson Fachin) os ministros Nunes Marques e Cármen Lúcia. Esperava-se que Cármen, da ala “consequencialista”, ficasse do lado dos procuradores, que reclamaram do acesso ao material, concedido por Lewandowski aos advogados de Lula. Mas ela defendeu o direito de a defesa acessar os diálogos, alegando que, se polícia, Ministério Público e juiz podem fazê-lo, não faria sentido os advogados de Lula não poderem. Cármen também concordou com Lewandowski, relator da ação, e Nunes Marques, ao afirmar que a reclamação só poderia ter sido feita pela Procuradoria-Geral da República. O voto de Nunes Marques, recém-empossado na Corte, era especialmente aguardado, porque poderia dar indicação de como ele se posicionará diante do pedido de anulação das condenações de Lula. O ministro votou em poucos minutos, evitando comentários, mas sua posição foi considerada um sinal positivo para a defesa. O desdobramento político do caso ainda é incerto. Ainda que as condenações de Lula sejam anuladas, o mais provável é que a fartura de recursos protelatórios abra espaço a novos julgamentos. Lula já deu a entender que Fernando Haddad será o candidato do PT em 2022. Para Bolsonaro, o melhor cenário será um segundo turno contra um petista, como em 2018. Diante dos tropeços da oposição de centro, não surpreenderá se, mesmo com Lula fora, o confronto se repetir.

MERVAL PEREIRA - *”E la nave va”*: Em novembro de 1993, a Polícia Federal encontrou na casa do diretor de relações institucionais da Odebrecht em Brasília, Ailton Reis, documentos que implicavam 350 políticos em esquema de corrupção na distribuição de verbas do Orçamento da União para empreiteiras. O material acabou sendo neutralizado por erros banais cometidos pelo senador José Paulo Bisol, membro da CPI do Orçamento. Bisol trocou algumas siglas da Odebrecht, como DDPA, que significava “Dirigentes de Países”, por “Dirigentes Políticos de Áreas”. Foi desmoralizado. O escândalo se esvaneceu rapidamente dentro do Congresso. Anos depois, em 2009, aconteceu a operação Castelo de Areia, contra a empreiteira Camargo Corrêa, que teve quatro diretores presos. Os documentos indicavam que a empresa usava doleiros e contas no exterior para pagar propina para autoridades públicas e políticos de sete partidos. Em 2010, o advogado Márcio Thomaz Bastos conseguiu que o ministro do STJ Cesar Asfor Rocha, depois acusado por Palocci de ter recebido propina por essa sentença, anulasse toda a investigação, sob a alegação de que partira de uma fonte anônima. O ponto fora da curva aconteceu no chamado mensalão do PT, ocorrido em 2005, que levou à prisão empresários e políticos, condenados pela primeira vez pelo Supremo Tribunal Federal.
Em março de 2014 começou a Operação Lava-Jato, enterrada oficialmente no dia 4 deste mês, com a decisão do procurador-geral da República, Augusto Aras, de desmontar a força-tarefa que funcionava em Curitiba havia sete anos, a maior e mais exitosa operação de combate à corrupção no país, que retomou todos esses escândalos anteriores, colocou na cadeia empreiteiros e políticos, que desde sempre financiaram relações políticas corruptas. Inclusive o ex-presidente Lula, que agora luta na Justiça para anular suas condenações, da mesma maneira que historicamente foram anuladas todas as investigações sobre corrupção política no país. No julgamento sobre o acesso da defesa de Lula às mensagens roubadas dos procuradores da Lava-Jato por hackers, o ministro Edson Fachin disse que o recurso não poderia ter sido enviado a Ricardo Lewandowski, pois ele, sim, é o ministro responsável. O Ministério Público classificou a manobra de “burla da relatoria”. O voto da ministra Cármen Lúcia tem um sentido que transcende a disputa política, baseado numa simples questão: todos tiveram acesso a essas informações, então a defesa de Lula poderia ter também. O que não quer dizer, segundo a ministra, que sejam legais. Acredito que o plenário decidirá pela ilegalidade delas, mas não terá importância, porque os diálogos já foram divulgados. Por isso, a defesa de Lula anunciou ontem que não os usará no julgamento da parcialidade do então juiz Moro. O objetivo já foi alcançado: dar visibilidade aos diálogos roubados, que não foram periciados, para influir na opinião pública e nos ministros do STF.
Fazem o que acusam Moro de ter feito, ao divulgar o diálogo entre a então presidente Dilma Rousseff e Lula, que impediu a manobra de colocá-lo no Gabinete Civil, blindado da Justiça. Há até uma interpretação hilária de um dos diálogos, em que o procurador Dallagnol recebe nos Estados Unidos a informação da condenação de Lula. “Dallagnol na Disney enquanto aqui Lula é condenado”, brinca um dos procuradores. Dallagnol responde “Presente da CIA”. Petistas alegam que ele está confessando que a prisão foi um presente da CIA, quando está claro que está gozando a mania de dizerem que os procuradores trabalham para CIA e que ir à Disney teria sido uma recompensa. Há quem veja nos diálogos revelação de que o jornalismo profissional colaborou acriticamente com a Operação Lava-Jato. Mas e os que colaboram com o petismo para inocentar Lula de todas as acusações, seriam esses os verdadeiros jornalistas? O caso agora virou uma luta política de narrativas. Durante cinco anos, prevaleceu a da Lava-Jato. A reação do establishment político veio, como aconteceu na Itália das Mãos Limpas. Nada indica que seja o fim, como disse o ministro Edson Fachin.
#ficaimprensa
+++ Merval usa a lógica bolsonarista para argumentar contra a falta de crítica de jornalistas que sustentaram a narrativa da Operação Lava Jato cegamente. Ele apela para o maniqueísmo. “quem não está desse lado, está do lado oposto”. Não surpreende então que ele compare tanto Lula e Bolsonaro. O mundo para ele talvez seja limitado.

*”Oposição à deriva – Eleição na Câmara aprofunda divisão nos partidos que vão enfrentar Bolsonaro em 2022”*
ENTREVISTA: EDUARDO LEITE, governador do Rio Grande do Sul - *”Não misturei o meu sobrenome ao de Bolsonaro”*
*”Aras pede ao conselho do MP investigação contra Lava-Jato”*

*”Procurador quer que Odebrecht deixe de pagar escritório que contratou Moro”*
*”Conselho de Ética da Alesp abre processo contra Fernando Cury”*
*”Quatro ministros do STF votam contra direito ao esquecimento”*

*”Villas boas: publicação sobre julgamento de Lula teve endosso do Exército”* - Comandante do Exército nos governos Dilma Rousseff e Michel Temer, o general Eduardo Villas Bôas revelou que postagens polêmicas feitas no Twitter na véspera do julgamento, em 2018, pelo Supremo Tribunal Federal (STF) de habeas corpus do ex-presidente Lula para recorrer da condenação em liberdade, em 2018, foram articuladas e “rascunhadas” em conjunto com o Alto Comando da instituição. As declarações fazem parte do livro “General Villas Bôas: conversa com o comandante, recém-lançado pela Editora FGV, a partir de depoimentos concedidos pelo general ao longo de cinco dias entre agosto e setembro de 2019. A entrevista, com mais de 13 horas de duração, foi comandada pelo professor e pesquisador Celso de Castro. Vítima de uma rara doença neuromotora de caráter degenerativo, Villas Bôas hoje respira com ajuda de aparelho e se locomove em cadeira de rodas. Na véspera do julgamento, Villas Bôas afirmou, no Twitter, que a instituição "julga compartilhar o anseio de todos os cidadãos de bem de repúdio à impunidade". E que o Exército também defende o "respeito à Constituição, à paz social e à Democracia", e que a instituição "se mantém atenta às suas missões institucionais". Na época, a postagem foi interpretada, principalmente no PT, como uma pressão sobre o STF.
No livro, o militar narra que o texto foi redigido por várias mãos na alta cúpula do Exército. "O texto teve um 'rascunho' elaborado pelo meu staff e pelos integrantes do Alto Comando residentes em Brasília. No dia seguinte da expedição, remetemos para os comandantes militares de área. Recebidas as sugestões, elaboramos o texto final, o que nos tomou todo expediente, até por volta das 20 horas, momento que liberei para o CComSEx (Setor de comunicação do Exército) para expedição", descreveu Villas Bôas. A postagem gerou reação na época. Sem citar diretamente Villas Bôas, o então ministro do STF Celso de Mello disse que um comentário realizado por "altíssima fonte" foi "claramente infringente do princípio da separação de Poderes" e alertou contra "práticas estranhas e lesivas à ortodoxia constitucional". O general afirma que o então ministro da Defesa, Raul Jungmann, e o então ministro-chefe do Gabinete de Segurança Institucional (GSI), Sérgio Etchegoyen, não foram avisados da postagem, assim como os chefes da Marinha e da Aeronáutica. Mesmo não sendo alertados, o texto do post não foi rechaçado por Jungmann e Etchegoyen, após a publicação. Durante a entrevista, o general afirma que duas motivações moveram o Alto Comando do Exército a adotar a ofensiva. Uma delas foi o aumento das demandas por uma intervenção militar em encontros com empresários e pessoas da sociedade civil. Apesar de classificar estes que clamavam por uma ruptura em outra parte do livro como “tresloucados”, ele afirma que agiu daquela forma para conter uma possível convulsão social.
"Externamente, nos preocupavam as consequências do extravasamento da indignação que tomava conta da população. Tínhamos aferição decorrente do aumento das demandas por uma intervenção militar. Era muito mais prudente preveni-la do que, depois, sermos empregados para contê-la. Internamente, agimos em razão da porosidade do nosso público interno, todo ele imerso na sociedade. Portanto, compartilhavam de ansiedade semelhante", descreve. No livro, o militar voltou a classificar o episódio como "oportuno". "Tratava-se de um alerta, muito antes que uma ameaça", narra em trecho da entrevista. A mesma opinião já havia sido manifestada pelo general em entrevista ao GLOBO, na série "Décadas de Ruptura". A postura de Villas Bôas nas redes sociais converge com um projeto pessoal empregado por ele naquela oportunidade para que o "Exército voltasse a ser ouvido com naturalidade". Com isso, os militares falariam mais com a imprensa, ocupando os espaços de debate. Vários deles, como Villas Bôas, foram para o Twitter. Outros atuavam nos bastidores na tentativa de influenciar a narrativa política. Ao longo da última década, o general Rêgo Barros, então chefe do Centro de Comunicação do Exército, foi responsável por comandar todo o planejamento para discutir estratégias e atitudes de comunicação, cuja agenda envolvia reuniões diárias.
Bolsonaro rompeu com politicamente correto
Em outro trecho, ao falar sobre o governo Bolsonaro, Villas Bôas refuta a ideia de que o presidente representa a volta dos militares ao poder, mesmo havendo recorde de miliares em cargos de primeiro e segundo escalão. Para o general, "Bolsonaro deu ênfase ao combate ao politicamente correto, do qual a população estava cansada.” Segundo o general, a esquerda aderiu ao "politicamente correto" com "pautas esvaziadas desde a queda do comunismo", a partir da oposição de classes. Isso faz, na avaliação do militar, que haja dificuldade de enxergar a realidade, sem se importar com os resultados produzidos. Para ele, isso mostra que a sociedade está "carente de valores universais, que igualem as pessoas pela condição humana, acima da classificação aleatória que se lhes atribui." "Quanto maior a ênfase, por exemplo, nas teorias de gênero, maior a homofobia; quanto mias igualdade de gêneros, mais cresce o feminicídio; quanto mais se combate a discriminação racial, mais ela se intensifica; quanto maior o ambientalismo, mais se agride o meio ambiente; e quanto mais forte o indigeníssimo, pior se tornam as condições de vidas de nossos índios", relatou na entrevista.
Questionado sobre a conversa entre ele e o presidente, quando este disse que o general era um dos responsáveis pela sua chegada ao Palácio do Planalto, disse que a conversa “morrerá” entre eles e que “não foi um tema de caráter conspiratório”. No livro, ao mesmo tempo em que rechaça a sua proximidade com a política, assim como a do Exército, o militar relata encontros com o ex-presidente Michel Temer para discutir uma reação do Exército à possibilidade de impeachment e também com os presidenciáveis de 2018 para debater “projeto nacional”. Sobre o governo Dilma, o general afirma que havia um distanciamento da cúpula militar com o Planalto, diferentemente da relação nos dois mandatos do ex-presidente Lula. Diz que os indícios de corrupção, a evolução negativa da economia e os moldes da Comissão da Verdade despertaram "um sentimento de traição em relação ao governo". "Foi uma facada nas costas, mesmo considerando que foi decorrência de antigos compromissos assumidos pela presidente Dilma", relata o general, para quem a comissão foi vista como "revanchismo".

*”Operação na Amazônia – Governo quer retirar militares e limitar fiscalização a 11 municípios”*
*”Banco Central ganha autonomia – Presidente e diretores da autarquia terão mandatos fixos”*
*”Relator do Orçamento diz que quem passa fome não pode esperar”*

 

CAPA – Manchete principal: *”BC ganha autonomia e diretoria terá mandato fixo e estabilidade”*

EDITORIA DO ESTADÃO - *”Hora de pensar no futuro”*: É cedo para dizer se as eleições de Arthur Lira (PP-AL) e Rodrigo Pacheco (DEM-MG) para as presidências da Câmara dos Deputados e do Senado, respectivamente, representaram uma vitória política do presidente Jair Bolsonaro. O Estado revelou com detalhes como o Palácio do Planalto mobilizou mundos e fundos – bilionários fundos “extraorçamentários”, é bom dizer – para angariar votos para os dois candidatos da preferência do presidente da República. Porém, já nos primeiros dias dessa nova “coalizão”, ficou bastante claro o desalinhamento entre as agendas do Executivo e do Legislativo. Se, por um lado, ainda não é possível atestar o triunfo político de Bolsonaro – só o comportamento do Congresso nos próximos dias vai dizer –, por outro, é seguro afirmar que as vitórias de Lira e Pacheco, sobretudo a do presidente da Câmara, representaram um abalo na formação da chamada frente ampla de oposição ao governo com vistas à eleição geral de 2022. Basta ver como três dos partidos com maior consistência ideológica – PT, PSDB e DEM – se comportaram nessa espécie de “ensaio geral” que foram as eleições legislativas.
O racha no DEM foi ainda mais profundo do que o visto em outros partidos de centro e centro-direita. Em entrevista ao jornal Valor, Rodrigo Maia, ex-presidente da Câmara dos Deputados, disse, em termos duros, que foi traído por quem considerava um “amigo de 20 anos”, em referência a ACM Neto, presidente da legenda. “Ele (ACM Neto) entregou a nossa cabeça em uma bandeja para o Palácio do Planalto”, disse Maia, que cogita agora ir para um partido que “será de oposição ao presidente Jair Bolsonaro”. Ao apostar todas as fichas nas vitórias de Lira e Pacheco, Bolsonaro pode ter mirado no que viu e acertado no que não viu. A ele interessa muito o enfraquecimento do movimento de formação de uma frente ampla de oposição a seu governo que esteja absolutamente comprometida com a defesa inarredável das liberdades democráticas e dos valores republicanos consagrados pela Constituição, com as reformas estruturais de que o País tanto precisa e, não menos importante, com uma gestão responsável da crise sanitária, para, mais adiante, permitir a reconstrução do País uma vez superados os efeitos mais adversos desse flagelo da pandemia. Quem também ganha com os reveses políticos do centro democrático é o sr. Lula da Silva. Não por acaso, o dono do PT e candidato em 2022, caso lhe sejam restituídos os direitos políticos pelo Supremo Tribunal Federal (STF), ordenou que Fernando Haddad começasse a “rodar o País” para fazer campanha. “Ele (Lula) me chamou para uma conversa no último sábado (dia 30/1) e disse que não temos mais tempo para esperar. Me pediu para colocar o ‘bloco na rua’ e eu aceitei”, disse o ex-prefeito de São Paulo.
Portanto, de um lado, tem-se Bolsonaro usando a força da Presidência da República para cooptar apoio político e manter a adesão de sua base de apoiadores mais aguerridos no patamar em que está – cerca de 25% do eleitorado. De outro, há o PT colocando o “bloco na rua” desde já, e não para lançar Haddad candidato, como pode parecer, mas o próprio Lula, e com isso explodindo pontes na própria esquerda, na prática impedindo a composição da frente democrática de oposição a Bolsonaro. Caso os partidos que compõem o centro democrático não aprendam com os erros cometidos em 2018 e construam desde já uma alternativa viável ao descalabro que é o governo de Jair Bolsonaro, não é remota a chance de que a Nação, em 2022, se veja diante do infortúnio de ter de escolher, mais uma vez, entre duas propostas populistas e irresponsáveis para o País, à esquerda e à extrema direita. O centro democrático deve se unir em torno da construção de um projeto de país que não passe mais pela degradação política que tanto Bolsonaro como Lula tão bem representam. É hora de egos feridos e vaidades darem lugar à concertação em torno de projetos vitais para o Brasil. Caso contrário, em 2022, os brasileiros estarão diante de uma escolha terrível – uma repetição do passado recente.

*”Bancada do DEM já reflete virada governista da sigla”* - A maioria da bancada do DEM na Câmara é simpática às pautas do governo no Congresso e não descarta apoiar o presidente da República, Jair Bolsonaro, na disputa pela reeleição em 2022. A provável saída do ex-presidente da Câmara Rodrigo Maia (RJ) do partido também não provocará uma “debandada” dos deputados da legenda. As conclusões são de um levantamento do Estadão com os parlamentares da sigla na Casa. Nos últimos dias, a reportagem contatou os 27 deputados em exercício do partido. Dos 22 que responderam às perguntas, só dois – Alexandre Leite (SP) e Kim Kataguiri (SP) – descartaram apoiar Bolsonaro em 2022. Outros seis disseram que vão apoiar o atual presidente da República na disputa pela reeleição. Os demais afirmaram que não decidiram ainda, mas deixaram aberta a possibilidade de defender uma aliança com Bolsonaro. E nenhum deputado, com exceção de Maia, pretende deixar o DEM.
Boa parte dos que foram ouvidos também se mostraram dispostos a apoiar as pautas do governo na Câmara, ainda que o alinhamento não seja automático. Segundo o líder do partido, Efraim Filho (PB), a bancada “segue a linha da independência”. O grupo “aprovará os temas com os quais temos identidade, especialmente a agenda econômica, mas preservará a autonomia de divergir com temas discrepantes”, disse ele. Apesar disso, a sigla conta com dois ministros na gestão Bolsonaro (Onyx Lorenzoni na Cidadania e Tereza Cristina na Agricultura), além de um deputado na função de vice-líder do governo na Câmara (Paulo Azi, BA) e um no Congresso (Pedro Lupion, RJ). No começo de fevereiro, a eleição para a presidência da Câmara expôs divergências entre figuras poderosas do partido, como Maia e o ex-ministro da Saúde Luiz Henrique Mandetta, e a maioria dos deputados. Inicialmente, o DEM apoiou o candidato de Maia à presidência da Câmara, Baleia Rossi (MDBSP). Às vésperas da votação, porém, o partido retirou o apoio ao emedebista e adotou a neutralidade. A mudança favoreceu o candidato apoiado por Bolsonaro, Arthur Lira (PP-AL), que saiu vitorioso no primeiro turno, com 302 votos.
Questionado pelo Estadão, Maia disse que o posicionamento dos colegas de bancada não o surpreendeu. “Nenhuma novidade. O resultado da eleição da Câmara mostrou que isso é uma tendência no partido. Independência não existe. Ou você é governo ou é oposição”, disse o ex-presidente da Câmara. Maia também reconheceu que seu plano de deslocar o partido da direita para o centro do espectro político deu errado. “Pela pesquisa que vocês (da reportagem) fizeram, parece que sim, né? O projeto de levar o DEM para o centro fracassou”, disse. Sobre a inexistência de um movimento de saída de deputados do DEM, Maia disse que não está trabalhando para provocar uma revoada na sigla. “Eu não convidei ninguém para sair comigo do partido. Nem mesmo o prefeito do Rio, Eduardo Paes”, disse ele. As respostas dos deputados ao Estadão contrariam o discurso do presidente nacional do DEM, ACM Neto. Anteontem, Neto jantou em São Paulo com o governador João Doria (PSDB) e, segundo o tucano, disse que a sigla não apoiará Bolsonaro no Congresso e nem na disputa de 2022. Doria também tem a intenção de disputar a Presidência nas próximas eleições.
Pouco após o governador relatar o encontro em entrevista a jornalistas ontem, ACM Neto divulgou uma nota. No texto, o ex-prefeito de Salvador diz que “não permitirá, neste momento, que aconteça qualquer debate interno sobre o processo eleitoral de 2022”. “Esse assunto não compõe a agenda prioritária do País, e nem da sigla”. “Tal como vem acontecendo desde o início de 2019, o DEM mantém sua posição de independência em relação ao governo federal, não estando sequer sob discussão partidária, qualquer posição diferente desta”, diz o texto assinado pela Executiva Nacional da legenda. O Estadão apurou que Neto tenta se livrar da pecha de “adesista” colada nele por Maia. O apelido foi reforçado após o ex-prefeito dizer que não poderia descartar uma aliança com Bolsonaro em 2022. Levantamento. Dos 27 parlamentares procurados pela reportagem, só quatro não responderam aos questionamentos: Carlos Henrique Gaguim (TO), Igor Kannário (BA), Juninho do Pneu (RJ) e Marcos Soares (RJ). Do total, quatro são presidentes de diretórios regionais do partido, o que significa que têm maior influência nas decisões partidárias. São eles: Alan Rick (AC), Hélio Leite (PA), Norma Ayub (ES) e Professora Dorinha (TO).
O conjunto das respostas mostra que parte da bancada está magoada com Maia — ainda mais depois das últimas declarações públicas dele com críticas ao partido. Arthur Oliveira Maia (BA), por exemplo, ironizou ao ser perguntado se sairia do DEM. “Kkkkk Era só o que faltava. Rodrigo já vai tarde”, disse ele por mensagem de texto. Apesar do sobrenome, o baiano não tem parentesco com o carioca. “Ninguém na bancada, depois da última entrevista que ele deu, está feliz com ele ( Maia). Depois daquela entrevista, ele acabou com o nome dele. De vez. Se estava ruim (o clima), agora está péssimo”, disse o deputado Luís Miranda (DF), referindo-se à entrevista do ex-presidente da Câmara para o jornal Valor Econômico, publicada na segunda-feira. Sobre o apoio ou não a Bolsonaro, alguns deputados foram enfáticos ao defender suas posições. Kataguiri, por exemplo, disse que prefere fazer “campanha pelo voto nulo antes de apoiar Bolsonaro”. Pedro Lupion (RJ), por sua vez, disse que é “óbvio” que defenderá a reeleição. A maioria, no entanto, preferiu a cautela. “Agora é momento de falar de Brasil”, afirmou José Schreiner (GO). “É muito cedo para falar de 2022. A gente nem sabe se estará vivo (até lá)”, disse Elmar Nascimento (BA).

*”ACM Neto janta com Doria em SP e nega adesão a Bolsonaro”*
*”Após investida de Doria, ala tucana faz ato pró-Leite”*
*”PSDB do Rio oferece chefia do diretório a Maia”*
*”Ministros veem risco de censura no ‘direito ao esquecimento’”*

*”Aras faz nova ofensiva contra a Lava Jato”* - O procurador-geral da República, Augusto Aras, encaminhou à Corregedoria do Conselho Nacional do Ministério Público (CNMP) um pedido de investigação contra integrantes da força-tarefa da Operação Lava Jato em Curitiba. A solicitação partiu do presidente do Superior Tribunal de Justiça (STJ), Humberto Martins. Para Martins, mensagens apreendidas na Operação Spoofing indicariam que procuradores pretendiam vasculhar, sem autorização judicial, a movimentação patrimonial de ministros da Corte. Em ofício enviado a Aras na sexta-feira passada, o presidente do STJ pedia a Aras que o Conselho do Ministério Público investigasse a conduta do ex-coordenador da Lava Jato no Paraná Deltan Dallagnol, e do procurador Diogo Castor de Mattos. Conversas entre os dois foram divulgadas pela CNN Brasil. As mensagens fazem parte da investigação da Operação Spoofing, que mirou um grupo hacker acusado de invadir aparelhos celulares de dezenas de autoridades do País, entre elas o ex-juiz da Lava Jato e ex-ministro da Justiça e Segurança Pública Sérgio Moro e procuradores da República. Em uma das conversas, Deltan escreve: “A RF (Receita Federal) pode, com base na lista, fazer uma análise patrimonial, que tal? Basta estar em Eproc (processo judicial eletrônico) público. Combinamos com a RF.” O então coordenador da forçatarefa no Paraná continua: “Furacão 2”. Diogo Castor de Mattos, que integrava a força-tarefa na ocasião, afirma então não acreditar no envolvimento do ministro do STJ Felix Fischer em eventuais irregularidades. “Felix Fischer eu duvido. É um cara sério”, responde o procurador a Deltan. “Furacão 2” seria uma referência à Operação Furacão. Deflagrada em abril de 2007, a investigação atingiu o então ministro do STJ Paulo Medina, depois denunciado sob acusação de integrar um esquema de venda de sentenças judiciais.
‘Gravidade’. “Considerando a gravidade das informações trazidas na reportagem, solicito que tome as necessárias providências para a apuração de condutas penais, bem como administrativas ou desvio ético, dos procuradores nominados e de outros procuradores da República eventualmente envolvidos na questão”, escreveu Martins a Aras. O procurador-geral enviou o pedido de investigação para o corregedor do Conselho do Ministério Público, Rinaldo Reis, a quem caberá avaliar se há ou não elementos suficientes que justifiquem a abertura de um procedimento interno contra Deltan e Castor de Mattos. Por meio de nota, a Corregedoria Nacional do Ministério Público afirmou que está analisando a representação movida pelo presidente do Superior Tribunal de Justiça e que, portanto, ainda não há uma manifestação oficial sobre o caso.
‘Factoides’. Na segunda-feira passada, procuradores da Lava Jato enviaram ofício ao STJ no qual afirmam que as mensagens divulgadas não são autênticas e que a divulgação delas busca “criar factóides” e “criar artificialmente um ambiente de irregularidades e ilegalidades” com fim “sensacionalista”. Uma cópia do documento também foi enviada à Procuradoria-geral da República e à Corregedoria Nacional do Conselho Nacional do Ministério Público. “Se fossem verdadeiras as alegações de supostas ilegalidades, seriam facilmente constatáveis nos respectivos autos”, argumentam. Ainda segundo os procuradores, não houve perícia oficial das mensagens divulgadas pela reportagem e tal procedimento não seria possível porque os hackers poderiam editar o conteúdo das conversas. “Basta retirar ou acrescentar uma vírgula no texto, uma simples palavra como ‘sim’ ou ‘não’, alterar a ordem dos diálogos para comprometer o seu conteúdo e entendimento.”

*”Força-tarefa teme ‘inércia’ de PGR em julgamento de Moro”* - Se, de um lado, o julgamento da Segunda Turma do Supremo Tribunal Federal que referendou a autorização ao ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva para acessar parte das mensagens obtidas na Operação Spoofing encerra a disputa em torno do compartilhamento do material, de outro reacende as discussões sobre o pedido de suspeição do ex-juiz Sérgio Moro. As conversas solicitadas pela defesa de Lula foram roubadas por hackers e apreendidas na investigação que mirou o grupo acusado pela invasão dos celulares de autoridades. Em um primeiro momento, a defesa do petista considerava usar o material para reforçar a acusação de que ex-juiz foi parcial ao condená-lo a nove anos e meio de prisão no caso do triplex do Guarujá. Após o julgamento, a estratégia deve ser abandonada, como mostrou o jornal O Globo. A defesa de Lula também vinha apresentando laudos de profissional independente contratado para periciar o material. Essas perícias, no entanto, não foram referendadas pelo STF. Os ministros observaram que a autenticidade das conversas e a validade jurídica do material, obtido ilicitamente, não seriam discutidas nesta etapa. O resultado da sessão, sem juízo de valor sobre o conteúdo, foi tido como uma vitória parcial pela defesa dos procuradores da formação original da Lava Jato.
A preocupação agora é com os desdobramentos no processo que pede a suspeição de Moro e pode levar à anulação da condenação de Lula. Na reclamação sobre o acesso às conversas, os procuradores contrataram o escritório dos advogados Marcelo Knopfelmacher e Felipe Locke Cavalcanti. Os defensores conseguiram pressionar para que a decisão monocrática de Lewandowski fosse levada ao plenário em prazo exíguo. No entanto, no habeas corpus da suspeição do ex-juiz, as providências estão nas mãos do procurador-geral da República, Augusto Aras. Nos bastidores, o chefe do Ministério Público Federal tem sido considerado “inerte” no caso. Questionada, a Procuradoria-geral da República disse que o órgão apresentou recurso contra a decisão de Lewandowski e que, na sessão de anteontem do STF, a subprocuradora Cláudia Sampaio Marques fez defesa “enfática” do posicionamento da instituição.

*”Alesp abre processo contra deputado acusado de assédio”*

*”Acusação usa vídeo inédito para provar ação de Trump no ataque ao Capitólio”* - Deputados democratas usaram ontem vídeos inéditos para sustentar a acusação contra Donald Trump no julgamento do impeachment do presidente, realizado no Senado. As imagens mostram os senadores sendo retirados do plenário, no dia 6 de janeiro, quando o Congresso foi atacado. A acusação também sustentou, com apresentação de um documento, que a marcha do dia 6 de janeiro não estava autorizada a caminhar do local de discurso de Trump rumo ao Capitólio, mas a permissão foi concedida quando a equipe do ex-presidente se envolveu na organização do evento. Em uma das cenas, o então vice-presidente, Mike Pence, é conduzido por agentes do Serviço Secreto, junto de sua família, para fugir dos invasores. No andar inferior, apoiadores de Trump buscavam Pence e a presidente da Câmara, a democrata Nancy Pelosi, com intuito de matá-los. Os senadores assistiram em silêncio e, pela primeira vez, viram os registros internos das câmeras de segurança. A acusação aposta na sensibilização dos parlamentares, que são ao mesmo tempo juízes e vítimas do ataque. “Trump renunciou ao seu papel de comandantechefe e tornou-se o incitadorchefe”, disse Jamie Raskin, líder do grupo de deputados responsáveis pela acusação.
Entre as cenas, há imagens do segurança Eugene Goodman, que distraiu a multidão para evitar que extremistas chegassem ao plenário, orientando o senador Mitt Romney a mudar de direção. No vídeo, o republicano corre para não se defrontar com os invasores. Em outra imagem, o atual líder da maioria no Senado, o democrata Chuck Schumer, corre junto aos seguranças de um lado para o outro em um corredor. Os democratas relembraram as vezes em que Trump s rejeitou a transição pacífica de poder, antes da eleição, com vídeos e imagens das frequentes postagens do ex-presidente no Twitter com falsas acusações de fraude eleitoral. A acusação sustenta que Trump tentou deslegitimar o processo eleitoral durante meses e instigou seus apoiadores a lutarem contra a certificação de Joe Biden, sendo responsável pela tentativa de ataque ao Capitólio. No dia da invasão, Pence tinha a missão de conduzir a sessão de certificação da eleição de Biden, na função de presidente do Senado. Trump, no entanto, continuava a clamar vitória e dizia que os democratas fraudaram o resultado. Em discurso no dia 6, ele pediu que a multidão lutasse por ele. “Se Pence fizer a coisa certa, nós vencemos.”
“Ele construiu essa multidão por muitos meses”, disse o deputado Eric Swaldell, um dos líderes da acusação. “Ele os fez acreditar que a vitória foi roubada e os incitou para que pudesse roubar a eleição para ele mesmo.” Os republicanos, porém, não pretendem condenar Trump, que pode se tornar inelegível com o impeachment. Os democratas precisam do voto de 17 dos 50 senadores republicanos e só então abrir a votação para torná-lo inelegível. Mas as defecções são consideradas improváveis em razão da influência que Trump ainda exerce na base eleitoral do partido. Pesquisa realizada pelo site Vox em e pelo Data for Progress mostrou que 72% dos eleitores republicanos questionam o resultado da eleição e 74% dizem que as alegações de fraude contribuem para esse sentimento. O julgamento deve se estender durante o fim de semana. No sábado, a pedido da defesa, não haverá sessão. A expectativa é encerrar o caso no início da semana que vem. Nenhum dos dois partidos pretende prolongar o impeachment, que tem resultado já esperado. Os republicanos querem virar a página de um ataque que marcou negativamente a história do partido. Os democratas desejam liberar a pauta do Congresso para discutir o pacote de socorro econômico de Biden.

*”Twitter diz que baniu ex-presidente para sempre”*
*”De sua mansão na Flórida, republicano vê sessão pela TV”*
*”China tem queda de nascimentos na pandemia”*
*”Exercícios militares americanos aumentam tensão no Mar da China”*

*”Faculdades públicas e particulares vão manter ensino remoto no 1º semestre”*
*”Escolas suspendem parte das aulas presenciais após casos”*
*”OMS avaliza uso geral da vacina de Oxford”*

*”Militares vão deixar Amazônia; fiscais vão focar 11 cidades”* - O vice-presidente, Hamilton Mourão, confirmou ontem o fim da Operação Verde Brasil 2, de militares na Amazônia, em 30 de abril. A promessa agora é focar o trabalho dos agentes ambientais em 11 municípios com taxas mais altas de desmate. O Estadão apurou que o fim “prematuro” está ligado à falta de verba federal para o Ministério da Defesa. Em setembro, conforme previam metas do Conselho Nacional da Amazônia Legal, presidido por Mourão, o objetivo era manter os militares até o fim de 2022. A ida das tropas foi uma tentativa da gestão Jair Bolsonaro de responder às críticas ao desmate, no Brasil e no exterior. Durante a quarta reunião do conselho, o vice-presidente disse que, no lugar da Verde Brasil 2, o órgão passa a trabalhar sobre o “Plano Amazônia 21/22”, que terá a “colaboração das agências de fiscalização dos Ministérios da Justiça, Meio Ambiente, Agricultura e Gabinete de Segurança Institucional”. Na prática, os militares saem para que o trabalho na floresta prossiga com agentes de Ibama, Instituto Chico Mendes de Biodiversidade (ICMBIO), Polícia Federal e Rodoviária.
Mourão afirmou que o governo considera a possibilidade de contratação de pessoal temporário para atuar nas fiscalizações ambientais, mas lembrou da situação fiscal difícil e da necessidade de aval da área econômica. A Verde Brasil 2 começou em 15 de maio de 2020. “Custou R$ 410 milhões. Não é uma operação extremamente cara”, disse o vice-presidente, apesar desse valor superar, de longe, os orçamentos de órgãos como Ibama, ICMBIO e Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe). “Houve comentários de algumas agências dizendo que, se tivessem esse dinheiro, fariam muito melhor. Isso tudo faz parte do debate. Caso for necessário, novamente, o emprego das Forças Armadas, isso será proposto ao presidente da República e ele tomará a decisão que melhor lhe prover.” O Plano Amazônia 21/22 terá, segundo o governo, “quatro eixos de atuação”, para continuidade de ações de fiscalização e combate aos crimes ambientais e fundiários, como desmatamento ilegal e queimadas na floresta. O plano menciona “priorização de áreas onde a ocorrência da ilicitude pode afetar de maneira mais decisiva os resultados da gestão ambiental; aumento da efetividade da fiscalização e o fortalecimento dos órgãos; contenção dos ilícitos em conformidade com a lei; e oferta de alternativas socioeconômicas à população dentro do princípio do desenvolvimento sustentável”. Segundo Mourão, foram levantados 11 municípios do País que mais desmatam e o trabalho de fiscalização dos órgãos federais, neste ano, deverá se concentrar nessas áreas. Na prática, todas são conhecidas dos órgãos ambientais. “Levantamos que 70% do desmatamento e dos crimes ambientais ocorrem em 11 municípios. Sete estão localizados no Pará, um em Rondônia, dois no Amazonas e um em Mato Grosso”, comentou ele. O vice-presidente não apresentou a lista de cidades. Pelos dados do Prodes, hoje os municípios com maior ocorrência de desmatamento no País são: Altamira (PA), São Felix do Xingu (PA), Porto Velho (RO), Lábrea (AM), Novo Progresso (PA), Itaituba (PA), Apuí (AM), Colniza (MT), Pacajá (PA) e Portel (PA).
Resultados. Ao falar sobre resultados da Verde Brasil 2, o vice-presidente disse que, entre 1.º de junho e 31 de janeiro deste ano, houve redução de 19% no desmatamento, quando comparado ao mesmo intervalo anterior. “No período anterior, haviam sido 7.900 metros quadrados de desmatamento. Neste período foram 6.400 m²”, disse o vice-presidente. “A nossa meta é aquela colocada no Acordo de Paris. Em 2030, não pode ter mais desmatamento ilegal.” No último balanço anual, o desmate na Amazônia teve alta de 9,5%. Entre agosto de 2019 e julho de 2020, a devastação alcançou 11.088 km², ante 10.129 km² nos 12 meses anteriores. Esses dados são do Prodes – o sistema do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais, do Ministério da Ciência e Tecnologia, que fornece a taxa oficial do desmatamento por ano. A perda florestal entre 2019 e 2020 equivale a sete vezes o tamanho da cidade de São Paulo. Sobre a permanência dos militares em 2022, o ministro do GSI, Augusto Heleno, chegou a confirmar em setembro que estava “mais ou menos acertada”. O aperto financeiro, porém, levou à desistência do plano e à decisão de acabar com a participação já em abril deste ano. Duas fontes do alto escalão do governo ouvidas pela reportagem afirmaram que não se trata de uma decisão tomada por Mourão, mas sim de negociação acompanhada de perto pelo ministro da Defesa, Fernando Azevedo, em contato direto com Jair Bolsonaro.
Nova métrica. O vice-presidente afirmou que o governo trabalha em parceria com o BNDES para uma nova “métrica” que ajude a apurar os resultados das ações do governo no setor, mas não deu mais informações. Questionado, Mourão disse também que o governo tem recebido sinais de outras nações e empresas interessados em colaborar, mas não deu detalhes. O vice-presidente disse que segue no conselho da Amazônia. Na terça, Mourão foi excluído de uma reunião no Palácio do Planalto que teve 22 dos 23 ministros (um estava viajando).

*”Congresso aprova autonomia do BC, que também buscará o pleno emprego”*
*”Campos pode ser no BC o presidente mais longínquo”*

 

CAPA – Manchete principal: *”Atividade fraca impõe dilema ao Banco Central”*

*”Para driblar restrições, fábricas criam turno de 12 horas em Manaus”* - Parte da indústria de Manaus aumentou nesta semana o ritmo de produção para tentar recuperar o que deixou de ser fabricado nas duas semanas anteriores, mesmo com a restrição à circulação de pessoas em vias públicas entre 19h e 6h. A medida foi estabelecida para combate a segunda onda de covid-19 no Estado, que está na fase roxa, a mais grave da doença. Novos turnos acordados entre indústrias e empregados estabeleceram o regime de 12x36, no qual o trabalhador jaz jornada de 12 horas e fica em casa por um dia e meio, explica Wilson Périco, presidente do Centro da Indústria do Estado do Amazonas (Cieam). Nesse turno, diz ele, o trabalhador chega à empresa antes das 19h, quando se dá o toque de recolher e sai da fábrica somente depois das 6h do dia seguinte, horário em que já está liberada a circulação. Essa, explica Périco, foi a forma encontrada para tentar recuperar a produção perdida nas duas últimas semanas sem violar regras de isolamento social adotadas pelo governo do Amazonas. Segundo Périco, cerca de 30% a 40% das indústrias passaram a aplicar esses turnos mais longos nesta semana. Outros preferiram esperar por eventual flexibilização maior das regras de distanciamento social.
Valdemir Santana, presidente do sindicato dos metalúrgicos do Amazonas, diz que apoia o novo sistema de turnos. Para ele, não há razão de não permitir o trabalho nas indústrias, em que os empregados são obrigados a seguir protocolos sanitários. O novo horário, diz ele, permite que os empregados dos habituais três turnos de trabalho voltem a se revezar. (...)

*”Redução de prazo para análise de vacinas traz risco sanitário, diz Anvisa”* - Presidente da agência afirma esperar veto de Bolsonaro à medida provisória

*”SP entra com ação no STF para ter leitos de UTI covid”*

*”Trajetória da dívida pública não foi tão ruim”* - A União vive uma situação muito difícil na área fiscal, registrando déficits primários continuados desde 2014. Mas, mesmo com os elevados gastos realizados no combate à pandemia em 2020, a trajetória da dívida pública foi menos desfavorável do que as previsões do próprio governo e dos analistas do mercado. Em outubro, por exemplo, o Tesouro Nacional projetava que a dívida bruta do setor público ficaria em 96% do Produto Interno Bruto (PIB), ao fim do ano. Ela terminou em 89,3% do PIB, de acordo com o Banco Central. Ou seja, 6,7 pontos percentuais abaixo da previsão. No início da pandemia, alguns analistas chegaram a prever que ela atingiria 100% do PIB. Vários motivos explicam o desempenho menos desfavorável. O primeiro foi o resultado primário do setor público, que ficou abaixo das previsões. Em seu Relatório de Projeções da Dívida Pública, do terceiro quadrimestre, divulgado no fim de outubro, o Tesouro Nacional trabalhou com a previsão de que o déficit primário do setor público consolidado ficaria em 12,7% do PIB em 2020.
O déficit primário do ano passado ficou, no entanto, em 9,49% do PIB, segundo o Banco Central. Houve uma recuperação da receita tributária da União a partir de junho do ano passado, o que melhorou o resultado fiscal. Assim, o governo foi menos pressionado a fazer emissões de títulos para obter recursos para pagar as suas despesas, o que resultou em menor endividamento. A Instituição Fiscal Independente (IFI), entidade do Senado, deu duas outras explicações para o fenômeno, em seu Relatório de Acompanhamento Fiscal, divulgado no mês passado. A menor queda da atividade econômica e uma aceleração da inflação no fim de 2020 foram os fatores que, conjuntamente, elevaram o PIB nominal, mostrou a IFI. A dívida pública é sempre comparada ao PIB, que mede o que foi produzido no país em determinado ano. Se o PIB aumenta mais do que o previsto, melhora a relação dívida/PIB. Foi o que ocorreu em 2020. A IFI lembrou que, em novembro do ano passado, o IBGE divulgou os resultados definitivos das contas nacionais de 2018, observando que, em valores correntes, o PIB daquele ano foi revisado para R$ 7,004 trilhões. Com isso, a taxa de crescimento entre 2017 e 2018 passou de 4,6% para 6,4%. No início de dezembro, o IBGE divulgou as revisões das informações referentes a 2019 e à primeira metade de 2020. O PIB de 2019 foi alterado de R$ 7,257 trilhões para R$ 7,407 trilhões, com o crescimento nominal de 2018 para 2019 passando de 5,3% para 5,8%.
O PIB nominal também aumentou porque a inflação acelerou no fim do ano passado. O IPCA passou de 0,89% em novembro para 1,35% em dezembro, a maior variação mensal desde fevereiro de 2003, observou a IFI. O IPCA encerrou o ano com alta de 4,52%, ou seja, 0,52 ponto acima do centro da meta de inflação. A entidade do Senado explicou ainda que o deflator do PIB também aumentou, em relação à estimativa inicial. O deflator é uma medida de inflação mais ampla que o IPCA, pois reflete a variação de preços de todos os bens e serviços produzidos internamente. Os dois índices caminham na mesma direção, embora, como observou a IFI, o deflator do PIB costume evoluir acima do IPCA. Com a economia caindo menos do que o previsto e com o deflator do PIB subindo mais do que se esperava, o valor nominal do PIB em 2020 também foi maior do que as projeções iniciais. Em seu relatório de outubro, o Tesouro Nacional trabalhou com uma retração do PIB em 2020 de 5%, em termos reais. Em dezembro, já com todas as revisões feitas pelo IBGE, o Banco Central mudou sua projeção para o PIB e passou a considerar uma queda real de 4,4%. O dado oficial será divulgado pelo IBGE no início de março.
Depois de a dívida bruta do setor público (DBGG) atingir 96% do PIB em 2020, o Tesouro projetou, no relatório de outubro, que ela seguirá crescendo mais lentamente nos próximos anos, chegando a 100,8% do PIB em 2026, quando adquiriria uma trajetória decrescente. A Secretaria do Tesouro Nacional (STF) alterou a periodicidade do relatório, que passará a ser semestral, a partir deste ano. As projeções para 2021 e para o período de dez anos, com os novos parâmetros, só serão conhecidas em abril, com revisão em outubro. Por conta dos gastos da União para preservar a população da pandemia, a dívida bruta aumentou 15 pontos percentuais do PIB no ano passado. É uma elevação muito expressiva, principalmente para um país emergente como o Brasil. Mas o fato é que a trajetória futura para a dívida pública bruta é muito melhor, hoje, do que a projeção feita em outubro pelo Tesouro. Se o governo gastar R$ 20 bilhões com o novo auxílio emergencial de R$ 200, que seria concedido pelo prazo de três meses, para um número menor de pessoas do que no ano passado, a trajetória futura para a dívida ainda será melhor do que aquela traçada em outubro pelo Tesouro. Ou seja, é possível dar o auxílio sem a criação de um novo imposto.
O objetivo de um novo imposto é, claramente, o de melhorar a meta de resultado primário deste ano. O governo precisa avaliar se o custo de mudar a estratégia de ajuste fiscal - até agora focada no controle e redução das despesas - vale a pena. Trilhar o caminho do aumento da carga tributária para resolver a questão fiscal, como foi feito em passado recente, talvez seja um erro.
*Ribamar Oliveira é repórter especial

*”Volta de auxílio ruma para consenso no Congresso”* - Ideia agrada tanto base governista como oposição; maior entrave é como financiar benefício

*”Solução ‘impopular’ pagaria benefício, dizem especialistas”* - Dinheiro poderia vir de corte de gastos e cancelamento de incentivos fiscais, defende diretor da IFI

*”PEC Emergencial pode poupar até R$ 79 bi para Estados e municípios”* - Cenário previsto por economista depende de aprovação de medidas como corte de salários e jornada

*”Busca por recursos inclui responsabilidade fiscal, diz Guedes”* - Ministro volta a dizer que não se pode empurrar gastos para gerações futuras

*”Pressão americana acende alerta sobre acordo de Alcântara”* - Diante das pressões crescentes do Partido Democrata e da sociedade civil americana sobre temas como direitos humanos e proteção às minorias no Brasil, o governo Jair Bolsonaro e interlocutores do presidente no Congresso Nacional colocaram uma nova preocupação no radar: o futuro do acordo de salvaguardas tecnológicas com os Estados Unidos e da base de lançamentos espaciais em Alcântara, no Maranhão. O temor em Brasília é que, pressionados pela ala mais estridente do partido e pelas reiteradas cobranças da opinião pública, Joe Biden e o Capitólio cedam a apelos por uma revisão do acordo. O tratado foi assinado em março de 2019, durante visita de Bolsonaro ao ex-presidente Donald Trump em Washington, e promulgado em fevereiro de 2020 no Brasil. O presidente do Grupo Parlamentar Brasil-Estados Unidos, senador Roberto Rocha (PSDB-MA), foi o primeiro a entrar abertamente no circuito. Ele acionou o embaixador americano em Brasília, Todd Chapman, propondo o agendamento de uma reunião virtual com a secretária do Interior, Deb Haaland, e dois congressistas democratas críticos de Bolsonaro.
Haaland tem origem indígena e é a primeira a assumir um cargo desse patamar. No ano passado, ela liderou um grupo de deputados se mobilizaram para dificultar a implementação de acordos entre os dois países, entre eles o de salvaguardas tecnológicas, fundamental para proteger tecnologias americanas usadas em futuros lançamentos de Alcântara. No ofício a Chapman, enviado no dia 5 e obtido pelo Valor, Rocha pede a videoconferência para “uma apresentação inicial da situação dos quilombolas e das vantagens do acordo Brasil-EUA” para o uso da base em Alcântara. O senador maranhense também propôs uma ida do grupo parlamentar a Washington para “dar continuidade aos trabalhos” e convidou as autoridades americanas para uma visita ao Brasil - a fim de “desfazer conclusões equivocadas” sobre a situação de comunidades quilombolas no local. O movimento do governo brasileiro e de sua base aliada foi deflagrado depois de Biden ter recebido recebeu um dossiê, avalizado por acadêmicos de grandes universidades e ONGs, no qual ele é aconselhado a congelar acordos, negociações e alianças políticas com o Brasil enquanto Bolsonaro estiver na Presidência.
O documento cita especificamente a questão da Base de Alcântara. Sobre isso, Rocha escreve no ofício que o relatório norte-americano trata os quilombolas “de forma idílica” e “como se tivessem sendo expulsos do paraíso”. O senador do PSDB teve, inclusive, uma reunião com Todd Chapman para tratar do assunto. “É preciso levar informação para não deixar isso [Acordo de Salvaguardas] ser contaminado”, explicou Rocha. Bolsonaro também decidiu marcar posição. Ele viaja hoje ao Maranhão para fazer a “entrega de títulos de propriedade rural no Centro de Lançamento de Alcântara (CLA)”. O ministro de Ciência e Tecnologia já havia adotado um gesto parecido. Ele foi ao Maranhão, na última sexta-feira, para uma reunião da Comissão de Desenvolvimento Integrado para o CLA. Sua intenção é assinar parcerias com empresas estrangeiras para viabilizar o primeiro lançamento em Alcântara até o fim de 2022. Questionada sobre o receio em torno do futuro de Alcântara, a embaixada americana informou que “a política externa dos EUA é formulada levando em consideração o amplo interesse nacional dos EUA” e frisou “desconhecer quaisquer revisões específicas relativas a tratados ou acordos EUA-Brasil”.
Reservadamente, diplomatas brasileiros com conhecimento das relações bilaterais avaliaram que as últimas pressões sobre Biden não ganharam tração nem na mídia, nem no governo americano. Por isso, acreditam que esse tipo de apelo por revisão de acordos ou negociações têm poucas chances de prosperar, por ora. Na visão de um funcionário do Itamaraty, o embaixador Chapman é um dos principais interessados em baixar a poeira e conseguir executar essa aproximação, podendo vendê-la mais adiante como um feito diplomático de sua estadia no Brasil. Indicado por Trump, ele chegou há quase um ano em Brasília e faz parte dos quadros do Departamento de Estado.

*”Saída de militares vai restringir ações na Amazônia”* - Atuação ficará restrita a 11 municípios de 4 Estados, segundo Mourão

*”Estudo mostra efeito prolongado da construção sobre a atividade”* - Gastos complementares no pós-obra impulsionam o PIB, revela trabalho da CBIC

*”Demanda de energia sobe em dezembro pelo 5º mês”* - Crescimento foi de 3,7% em relação ao mesmo mês de 2019

*”Câmara aprova autonomia do Banco Central”* - Campos Neto terá mandato até 2024 e terá de fomentar o emprego “na medida das possibilidades”

*”Ex-dirigentes apontam diminuição de risco político”* - Ex-presidentes e diretores do Banco Central comemoraram a aprovação do texto-base que estabelece a autonomia formal da autoridade monetária brasileira

*”Estudo divulgado pelo Banco Mundial diz que modelo debilita combate à desigualdade”* - Um estudo publicado pelo Banco Mundial aponta relação entre independência do BC e desigualdade nos países. Segundo o texto para discussão produzido pelos economistas Michael Aklin (Universidade de Pittsburgh), Andreas Kern (Universidade Georgetown) e Mario Negre (Banco Mundial), a independência do banco central restringe indiretamente a política fiscal e acaba por enfraquecer a capacidade do governo de se envolver na redistribuição de renda. O material foi publicado em janeiro na página do banco e estava sendo usado por políticos - como o senador José Serra (PSDB-SP) - e economistas contrários à autonomia do Banco Central, aprovada ontem na Câmara. O texto aponta que a independência do BC incentiva os governos a desregulamentar os mercados financeiros. E isto geraria uma explosão nos valores de ativos, que, em geral, estão na mão dos mais ricos. Além disso, aponta, “para conter pressões inflacionárias, os governos promovem ativamente políticas que enfraquecem o poder de barganha dos trabalhadores”.
De acordo com a pesquisa, em um país com o BC independente, o governo se vê pressionado a adotar políticas que aumentam a desigualdade. “Observe que, neste modelo, a desigualdade é um efeito colateral e não um objetivo em si. Não estamos afirmando que o BC independente está causando desigualdade. Em vez disso, estamos postulando que ele modifica os incentivos dos formuladores de políticas para adotar políticas de compensação”, explicam. O estudo analisou dados de 121 países, no período de 1980 a 2013. E encontrou que nessa janela de tempo, os mais ricos ganharam participação na renda total dessas nações, em detrimento das camadas com menor renda. “O efeito foi pior para os 10% mais pobres, mas também foi negativo e estatisticamente significativo para os 60% de renda mais baixa na população. Os 20% mais ricos viram sua participação na renda aumentar (e os 10% mais ricos ainda mais)”, informam os autores. Apesar de publicado pelo Banco Mundial, o estudo não reflete a posição do banco, que, ao Valor, defendeu a independência dos BCs. “Na busca pelos seus objetivos de erradicar a pobreza extrema e aumentar a prosperidade compartilhada, o Banco Mundial encoraja a discussão e a pesquisa sobre os impactos distributivos das políticas econômicas. Como todos os artigos publicados na série ‘Policy Research Working Papers’, este é apenas a opinião de seus autores e não do Banco Mundial”, diz o organismo multilateral.
“A independência do Banco Central é uma pedra angular crucial para a formulação de uma boa política macroeconômica e, portanto, para o desenvolvimento econômico de longo prazo. A contribuição da independência do Banco Central para a estabilidade de preços e do mercado financeiro - que são bases importantes para o crescimento econômico, redução da pobreza e prosperidade compartilhada - está bem estabelecida”, completa. Segundo o Banco Mundial, a independência do Banco Central também é importante para garantir uma regulamentação sólida dos bancos e outras instituições financeiras, pelo seu papel de supervisor em muitos países. Para o pesquisador-chefe do Instituto Mercado Popular, Carlos Góes, o material não vai muito além de identificar uma correlação no tempo, sem provar a causalidade. “Não é surpreendente, já que a maior parte dos países ricos, que adotou maior independência do BC no período, viu a desigualdade doméstica crescer no mesmo período. Não significa que aumentar independência do BC aumenta a desigualdade”, salienta o economista. “O resto da literatura indica que os efeitos da independência do BC são assimétricos entre países ricos e países em desenvolvimento. Não sabemos nem se essa correlação se manteria se a amostra fosse restrita a países latino-americanos ou em desenvolvimento”.

*”Senado proíbe desativação de hospitais de campanha antes de ampla vacinação”* - Senadores também deram aval para que o Brasil tome emprestado até US$ 1 bilhão com o Bird

*”Reação a Doria dá fôlego a Eduardo Leite”* - Deputados reúnem-se com gaúcho; presidente do PSDB ficará até maio de 2022, em derrota ao governador
*”Jantar em São Paulo sela armistício entre PSDB e DEM”*

*”Haddad diz que apoia Lula para presidente”* - O ex-prefeito e ex-ministro Fernando Haddad (PT) afirmou ontem que apoiará a candidatura do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) à Presidência nas eleições de 2022. O petista disse que não há chances de “intrigas” entre ele e Lula prosperarem. Atualmente, Lula está inelegível por ter sido condenado por corrupção. Haddad foi a alternativa do PT para substituir o ex-presidente em 2018 contra Jair Bolsonaro e é visto como possibilidade também para as eleições do ano que vem. Em entrevista em vídeo ao vivo ao portal “UOL” ontem, Haddad esquivou-se de responder sobre sua disposição em concorrer à Presidência caso Lula siga impedido até 2022. “Tenho uma relação com Lula de mais de 20 anos. Percam as ilusões de que alguém possa me intrigar com Lula. Isso não vai acontecer. Sou amigo do Lula, correligionário, colaborador.” Questionado, o ex-prefeito disse que se sente preparado para ser presidente da República, mas que considera isso uma “missão” e uma questão de ‘destino”. “São circunstâncias históricas que permitem a você [se tornar presidente], com uma série de fatores.” Haddad reforçou ter confiança de que decisões judiciais vão possibilitar que Lula dispute as eleições de 2022.
A defesa do ex-presidente tenta provar na Justica que houve parcialidade no julgamento de Lula pelo ex-juiz federal Sergio Moro. Anteontem, a Segunda Turma do Supremo Tribunal Federal (STF) autorizou os advogados de Lula a terem acesso ao conteúdo de mensagens trocadas entre Moro e a força-tarefa da Lava-Jato, em que o ex-juiz orienta a ação da procuradoria. Os dados vêm da Operação Spoofing, da Polícia Federal. “Agora temos toda a condição de provar o golpe que foi dado na candidatura do Lula e defender que ele possa disputar a eleição. O meu candidato em 18 era o Lula e em 22 continua sendo”, disse Haddad. “Eu fiquei com muita esperança de que a justiça está tardando mas vai chegar.” Haddad afirmou que Lula e ele colocarão “o bloco na rua” para discutir nos próximos meses com a população saídas para problemas do país. Ele citou um documento de 200 páginas formulado pela Fundação Perseu Abramo, do PT, com um plano de reconstrução econômica e social para o país. “Querem que o PT fique imobilizado. Enquanto isso Bolsonaro fica em campanha. Não vamos fazer isso. Meu bloco tá na rua. Já tomei as providências na minha vida pessoal para ficar totalmente dedicado a esse projeto.”

*”Centrão dá autonomia ao BC e captura Anvisa”* - Desapego pela regulação sugere que bloco apenas acumula créditos para cobrar de Guedes em breve

*”STJ decide hoje se torna Witzel réu e o mantém afastado do cargo”* - Governador afastado é acusado de corrupção e lavagem de dinheiro

*”MPF faz 1ª denúncia após fim da Lava-Jato”* - Equipe da força-tarefa agora atua no modelo de grupo de combate à corrupção

*”Tuíte de Villas Bôas em 2018 passou pelo Alto Comando”* - Revelação está em livro publicado pela FGV, com base em entrevista concedida em 2019

*”Perda de renda faz varejo ter o pior dezembro desde 2000”* - Retração no consumo das famílias provoca queda de 6,1%

*”Atividade fraca e pressões inflacionárias dificultam os próximos passos do BC”* - O tombo das vendas no varejo em dezembro tornou mais difíceis e incertos os próximos passos do Banco Central (BC) em relação à taxa de juros. De um lado, há sinais de que a atividade está mais fraca do que se imaginava, com o fim do auxílio emergencial e o avanço da pandemia; de outro, a inflação segue pressionada, com a alta dos preços de commodities e o câmbio desvalorizado, num cenário de dúvidas quanto à sustentabilidade das contas públicas. Para o economista-chefe do Banco Fator, José Francisco de Lima Gonçalves, a atividade tende a frustrar as expectativas, o que deve fazer com que os modelos apontem uma inflação mais baixa do que projetam atualmente. Ele considera que a tendência mais forte, nesse cenário, é que os juros não subam na reunião de março do Comitê de Política Monetária (Copom), embora seja importante ver o resultados de indicadores como a Pesquisa Mensal de Serviços (PMS) de dezembro, a ser divulgada hoje. “Alta de preços de alimentos é queda na renda real das famílias, não aceleração da inflação. Se [a alta] não for geral e persistente, não é inflação”, diz Gonçalves.
Ex-diretor de Política Monetária do BC, Luiz Fernando Figueiredo entende que o BC está indicando que vai reduzir a intensidade de uma política monetária que é muito expansionista. O que ficou claro, segundo Figueiredo, é que existem chances razoáveis de o BC elevar o juro na próxima reunião, em março. “Provavelmente começa com 0,25 ponto percentual, em março, e vai vendo. Se até a reunião de março vierem dados fracos de atividade, pode esperar para maio. Mas [também] pode aumentar em março e fazer outra alta em maio”, afirma Figueiredo para quem o BC agirá com muita calma. “O objetivo não é sair de uma situação de política [monetária] frouxa, expansionista, para uma política neutra ou apertada Só está reduzindo a intensidade do que está fazendo”, diz Figueiredo, sócio da Mauá Capital. Ele considera que o BC não vive um “dilema” representado entre uma atividade fraca, de um lado, e pressões inflacionárias, de outro. Considera que os últimos números do núcleo do Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) estão mais “tranquilos”. Por outra parte, argumenta, o dado do varejo foi muito ruim. “Isso pode querer dizer que o crescimento que se esperava mais forte esteja mais fraco? A resposta é sim, pode ser.”
Ex-secretário do Tesouro Nacional, Carlos Kawall aponta que o BC enfrenta, mais uma vez, uma situação de baixo crescimento econômico e inflação pressionada. Ele não vê, no entanto, outro caminho que não o cumprimento da meta da autoridade monetária, que é de controle dos preços, mesmo em um cenário de atividade econômica fraca. “De um lado, a atividade econômica sugere uma alta dos juros mais para frente. Do outro, temos a inflação e o risco fiscal. No momento atual, me parece haver predominância do risco mais adverso, que é o risco fiscal. Infelizmente o risco fiscal é grande”, diz Kawall, hoje diretor do Asa Investments. Na sua avaliação, a única saída para essa sinuca de bico do BC é a disciplina fiscal e a realização de reformas. Kawall acredita que o caminho para a recuperação da economia não é evitar a elevação dos juros quando ela é necessária para o controle da inflação, mas sim a redução das incertezas, com compromisso fiscal. Ele vê com preocupação uma eventual retomada de estímulos na magnitude dos adotados no ano passado pelo governo, que segundo ele provocaram “o pior dos mundos”. “O governo gastou muito e mal e, antes mesmo do fim do ano já se vê desaceleração, com mostraram os dados do varejo”, completa. Kawall diz que uma extensão do auxílio emergencial só deveria ser considerada por um período curto e como política social, com valor de no máximo até R$ 30 bilhões, e não como estratégia para a recuperação da economia, e acompanhado por reformas.

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