quarta-feira, 30 de dezembro de 2020

Em votação histórica no Senado, Argentina legaliza o aborto

 


A Argentina fez história nesta madrugada e se tornou o primeiro grande país da América Latina a legalizar o aborto. Em uma sessão emocionante no Senado, acompanhada por uma maré verde feminista e grupos religiosos contrários do lado de fora, os legisladores deram o sinal verde que faltava para autorizar a interrupção legal e segura da gravidez até a décima quarta semana de gestação. Foi um triunfo de um movimento de mulheres que cresceu e se capilarizou nos últimos anos na sociedade argentina e foi capaz de conquistar parlamentares até então contrários ao procedimento.

Desta vez, diferente de dois anos atrás quando a pauta foi a votação, mas fracassou, a Casa Rosada de Alberto Fernández pôs seu peso a favor do projeto apesar da proximidade do mandatário com o papa Franscisco. É o que contam, de Buenos Aires, Mar Centenera e Federico Rivas Molina. “Quando eu nasci, as mulheres não votavam, não herdávamos, não podíamos ir à universidade. Não podíamos nos divorciar, as donas de casa não tínhamos aposentadoria. Sinto emoção pela luta de todas as mulheres que estão lá fora agora. Por todos elas, que seja lei”, declarou a senadora Silvia Sapag durante o debate, em uma síntese do tom dos discursos verdes, a cor símbolo do movimento feminista no país.

Também nesta edição, a diretora do EL PAÍS no Brasil, Carla Jiménez, põe a lupa nas declarações de Jair Bolsonaro, que voltou a zombar da tortura sofrida na ditadura pela ex-presidenta Dilma Rousseff: "Decrépito torturador de almas, Bolsonaro não cabe no cargo de presidente e sua monstruosidade se destaca no mundo em que vivemos. Quando a Argentina avança no debate sobre aborto, jovens vão às ruas no Peru, chilenos reescrevem sua Constituição, o presidente brasileiro vai se tornando um corpo estranho". Já Gil Alessi conversa com duas expoentes do combate ao feminicídio no Brasil, a promotora Gabriela Mansur e Cristiana Bento, subsecretária de Políticas para Mulheres do Estado do Rio de Janeiro, sobre a série de assassinatos recentes no feriado de fim de ano e a reação do Judiciário.

Para fechar o ano com otimismo, o especialista em dados do EL PAÍS Kiko Llaneras analisa 42 boas notícias de 2020 e reflete sobre o ano da peste: "A vacina mais rápida da história salvará milhões com uma tecnologia impensável quando você estava no ensino médio. O vírus vai sendo contido por décadas de progresso. Mais quantas mortes esta epidemia teria provocado em 1970?".

Obrigado por mais um ano juntos, feliz ano novo e cuide-se! Nossa newsletter entra em pausa e volta na primeira segunda-feira de 2021. Até lá!



Em votação histórica no Senado, Argentina legaliza o aborto
Em votação histórica no Senado, Argentina legaliza o aborto
Congresso inicia debate de projeto de lei de interrupção voluntária da gravidez que permite o aborto livre até a 14ª semana de gestação
OPINIÃO | Não haverá aumento de abortos, haverá menos condenadas
No total, 39.000 mulheres são hospitalizadas a cada ano por interromper a gravidez na Argentina. Quase 80 foram levadas à Justiça

RetrospecTIB 2020

 



Intercept chegou a 2020 com o reconhecimento — e a responsa — de ser um veículo capaz de causar reviravoltas no cenário nacional. Tínhamos planos e uma falsa ideia de algum controle: no comecinho do ano já fazíamos reunião sobre a cobertura das eleições municipais, imaginando que aquele seria o assunto do ano. Só que não. Poucas semanas depois, 2020 se revelou um desafio muito maior, com a explosão de uma pandemia de proporções que o planeta não testemunhava havia um século. 

Em meio ao choque causado pela nova realidade (nada normal) que se impôs, imediatamente toda a equipe passou a trabalhar de casa. A pandemia acabou se tornando a principal fonte das nossas pautas de impacto em 2020. Foi um ano pesado, instável, mas com alguns momentos que nos fizeram acreditar que todo o empenho valeu a pena. Por isso, quero dividir com você os trabalhos da equipe do TIB que tiveram impactos positivos e práticos no dia a dia dos brasileiros.

Em janeiro, uma investigação da repórter Nayara Felizardo revelou que os médicos do trabalho pagos pela Sama, empresa exploradora de amianto em Goiás, ajudaram a ocultar doenças causadas pelo material nos trabalhadores da empresa. Nayara acompanhou a trajetória de 13 ex-funcionários que, após contraírem asbestose, relataram a doença para a empresa e foram demitidos. Seis deles morreram devido às complicações da asbestose. Em outubro, a reportagem levou o prêmio Anamatra de Direitos Humanos na categoria mídia eletrônica. 🎉

No início de abril, denunciamos que a startup de reforço educacional Alicerce, que tem Luciano Huck, o eterno presidenciável, como sócio, dispensou dezenas de profissionais via WhatsApp (!), após o fechamento das escolas, devido à pandemia. A matéria gerou um bafafá imediato e forçou a Alicerce e Huck a se posicionar, voltar atrás e anunciar um plano de apoio aos funcionários. 

Dias depois, registramos em vídeo o penoso dia a dia dos sepultadores do cemitério paulista de Vila Formosa, o maior do Brasil. O vídeo sensibilizou os restaurantes do coletivo Cozinha de Combate, que decidiram doar 60 quentinhas por dia para os sepultadores. Além disso, o projeto Por Nossa Conta passou a entregar 60 cestas básicas e outras 60 cestas de limpeza para os trabalhadores. Impacto concreto na vida de trabalhadores que enfrentaram a covid-19 na linha de frente. Orgulho máximo!

No fim do mesmo mês, um mega escândalo: revelamos a compra superfaturada de 200 respiradores-fantasma em Santa Catarina. Os aparelhos foram comprados por R$ 33 milhões de uma empresa carioca que nunca tinha fornecido o equipamento. A denúncia foi um pesadelo para o governo catarinense e levou a prisões, queda de secretários e uma CPI do caso. Essa foi uma das investigações mais relevantes da nossa história.

Escancaramos, numa matéria em junho, um esquema de espionagem massiva da Agência Brasileira de Inteligência (Abin) com dados de 76 milhões de pessoas (um terço do país). A agência pediu ao Serpro, estatal de processamento de dados, que extraísse dados detalhados de todos os motoristas do país. Depois da matéria, o governo revogou a autorização dada à Abin para usar os dados do Denatran.

Outro caso que mudou a vida de trabalhadores foi o da JBS. Em agosto, revelamos que os funcionários da gigante de alimentos foram orientados a guardar suas máscaras descartáveis e reutilizá-las – elas deveriam ir pro lixo, na verdade. Os funcionários da empresa faziam isso por cinco dias, aumentando muito o risco de contágio por coronavírus. Depois da publicação, o Tribunal Regional do Trabalho determinou que a empresa fornecesse máscaras para troca diária aos funcionários do frigorífico do município de Garibaldi (RS) — e que capacitasse as equipes em relação aos EPIs. 

Mas talvez o principal papel do Intercept em 2020 tenha sido na denúncia de casos de abuso contra as mulheres. No fim de agosto, uma reportagem construída ao longo de meses, entrevistando mulheres de seis países, apurou denúncias de assédio e abuso sexual do produtor de cinema Gustavo Beck. Após a denúncia, o festival de Roterdã anunciou o afastamento de Beck e a abertura de uma investigação interna do caso. O produtor foi cortado também dos festivais Viennale e IndieLisboa. A matéria repercutiu em ao menos sete países, pelo menos 10 novas vítimas se posicionaram, e a campanha #MeToo Brasil ganhou as redes. Pouco depois, em novembro, o caso da promoter e influenciadora Mariana Ferrer chocou o Brasil. Desde 2019, a jovem denunciava publicamente ter sido estuprada pelo empresário André de Camargo Aranha em uma festa. Em setembro de 2020, André foi absolvido, revoltando quem acompanhava o caso. O Intercept teve acesso com exclusividade ao vídeo de uma das audiências e revelou para o país o teor misógino das falas do advogado de Aranha na sessão, que o ministro Gilmar Mendes chegou a definir como “tortura”. Em poucas horas, milhões de pessoas assistiram e compartilharam o vídeo. Órgãos como OAB e o CNJ pediram publicamente explicações e anunciaram investigações; veículos de todo o país repercutiram o caso; milhares foram às ruas no Brasil e no exterior em apoio a Mariana e, em dezembro, a Câmara dos Deputados aprovou um projeto de lei que altera Lei de Abuso de Autoridade, tornando crime a “violência institucional”.

Este texto já está muito longo, então vou parar por aqui. Tem mais impacto, eu te garanto – nem mencionei o caso de Flávio Rachadinha, o afastamento de Deltan Dallagnol da Lava Jato ou como fizemos a Ambev mudar uma campanha publicitária. Esse foi um ano muito especial para o Intercept. Nunca recebemos tanto apoio, e nossa audiência nunca foi tão alta. Fizemos muito graças aos milhões que nos seguem, nos acompanham, compartilham nossas reportagens e nos sustentam. Obrigado a todos vocês.

Trabalhando sob um governo autoritário, sem plano de ação para a crise do século (como um leitor nosso comprovou), vivendo em recessão e com a maior taxa de desemprego desde 2012, nós não teríamos chegado até aqui se não fosse a força do movimento que ajudamos a criar. E esse é, certamente, o maior resultado do nosso trabalho. Hoje somos uma força irrefreável contra os desmandos de Bolsonaro, o poder do agronegócio, a corrupção no Judiciário, o avanço da extrema direita. Eles têm medo do Intercept. E não é de mim ou de algum jornalista. O que eles temem é a força das nossas denúncias, é a cobrança pública que vem com elas. Eles têm medo de vocês e da repercussão do nosso trabalho. 

O ano de 2021 tem tudo para ser um “2020.2”, por isso não é hora de esmorecer. O que a gente quer é ver esse movimento ainda mais forte, com maior capacidade de pressionar por mudanças. 

Os direitos humanos, o meio ambiente, a democracia, as populações vulneráveis e os trabalhadores precisam de um jornalismo realmente preocupado com eles  — e esse é o jornalismo que fazemos no Intercept. Se você acredita que isso é transformador, aceite nosso pedido hoje: colabore com o que puder e da forma que puder com o TIB. A gente não tem medo de trabalho, de censura, nem de cara feia. Vem com a gente pra cima deles.



Que 2021 seja um ano melhor! 

Um abraço,

Alexandre de Santi
Deputy editor

terça-feira, 29 de dezembro de 2020

Onda Neymar incentiva elevação de contágios de covid-19

 


“É hora de fazer história. O mundo está nos observando.” Assim escrevem mais de 1.500 personalidades da cultura da Argentina em uma carta aberta sobre a sessão no Senado que nesta terça-feira começa a decisiva e última votação para a legalização do aborto no país vizinho. Se o sim vencer, a Argentina se tornará primeiro grande país da América Latina a reconhecer o direito das mulheres de decidir sobre seus corpos, seguindo os passos do Uruguai, Cuba, Guiana – e a Cidade do México. O placar é incerto e espera-se que apertado, em uma jornada a entrar noite adentro. À diferença da tentativa anterior no Legislativo, desta vez há uma pressão oficial: Alberto Fernández é o primeiro presidente em exercício a apoiar o aborto legal, relata a correspondente Mar Centenera, de Buenos Aires.

A Argentina também deve começar nesta terça a vacinação contra a covid-19enquanto o Brasil se enrosca cada vez mais em imbróglios políticos e técnicos sobre os fármacos. Nesta terça, a fabricante Pfizer, cuja vacina já está sendo aplicada nos EUA, no Reino Unido e no México, anunciou que não vai pedir a autorização emergencial para aplicá-la no Brasil com críticas veladas à Anvisa. Já o repórter Breiller Pires mostra como Neymar se tornou um símbolo dos ricos e celebridades que planejam grandes festejos de fim de ano apesar da pandemia e lotam o extremo sul da Bahia em meio à alta de ocupação de UTI na zona. “Não vemos nenhum alerta em relação a essas festas de fim de ano, nenhuma orientação efetiva por parte dos governantes", diz Helio Bacha, consultor da Sociedade Brasileira de Infectologia (SBI).

Sim, há luz no fim do túnel depois do maldito 2020

 


Sim, há luz no fim do túnel depois do maldito 2020, tanto para vislumbrar um mundo sem covid=19 como para retomar a economia global, a ponto de o caos que levou milhões ao desemprego ficar para trás. A chegada das vacinas é a materialização dessa esperança, na voz de economistas e cientistas. David Fernández analisa as otimistas (ainda que titubeantes) previsões do mercado para o próximo ano. Chegar à saída pode ser questão de meses, diz Karen Ward, estrategista-chefe do J.P. Morgan Asset Management. Ward acredita que no segundo semestre do ano que vem, “poderia haver uma retomada significativa da atividade, depois que as vacinas forem fornecidas, que a demanda reprimida for liberada e a vida começar a voltar à normalidade”.

Essa é a mesma data prevista pela bioquímica húngara Katalin Karikó para que a vida “provavelmente volte ao normal” no planeta. Considerada a mãe da vacina contra a covid-19, Karikó desenvolveu por décadas avanços-chave para os imunizantes elaborados agora pela Moderna e pela BioNTech. Ela conta sua história a Nuño Dominguez direto de casa, nos arredores da Filadélfia, nos Estados Unidos: "Recebia uma carta de rejeição atrás da outra de instituições e empresas farmacêuticas quando lhes pedia dinheiro para desenvolver essa ideia”.

Depois de um ano tão caótico, 2021 só poderia começar com uma mensagem de otimismo, mas o ano que chega vem também carregado de alertas. “As coisas não voltarão a ser como antes. Começamos a ter consciência de que foi a civilização que criou e espalhou o vírus: os aviões e os carros, as concentrações multitudinárias e os estádios de futebol”, diz o neuropsiquiatra Boris Cyrulnik, um dos 10 especialistas de áreas variadas ouvidos por Marc Bassets para tentar projetar o futuro. “Se restabelecermos as mesmas condições de consumo e de transporte, em dois ou três anos haverá outro vírus e será preciso recomeçar”, alerta Cyrulnik.

Mas 2020 nos deixa lições importantes e trouxe alguns alentos. A repórter Beatriz Jucá listou boas notícias – sim, houve algumas — do ano da covid-19. O próprio fortalecimento da ciência é uma delas, assim como as correntes de solidariedade que minoraram o sofrimento de um ano que trouxe tanta dor para o mundo.

 

quarta-feira, 23 de dezembro de 2020

O Brasil ultrapassou 188 mil mortos por Covid-19 com os 936 óbitos registrados na terça-feira, com a média móvel mais alta desde setembro

 A presidente da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz), Nísia Trindade, informou nesta terça-feira que a vacina de Oxford começa a chegar ao Brasil em fevereiro. A instituição deve receber dois milhões de doses nas duas primeiras semanas do mês e começar a produzir até 700 mil doses diárias, a partir da terceira semana. Desenvolvida pela universidade britânica em parceria com o laboratório AstraZeneca, o imunizante se chamará no Brasil Covid-Fiocruz.

Lembram quando os promotores de São Paulo pediram para entrar na lista de prioridade da CoronaVac, do Instituto Butantan? A reação os fez voltar atrás. Pois o STF e o STJ não estão nem aí para repercussão negativa. Representantes de ambos os tribunais procuraram a Fiocruz querendo uma reserva de doses para seus ministros e servidores. O pedido do STJ já foi negado pela instituição, sob alegação de que não cabe a ela “atender a qualquer demanda específica”. Já o STF, que pretende imunizar 7 mil servidores, ainda aguarda resposta. (Estadão)

E, acreditem, camelôs em Madureira, um dos maiores centros de comércio popular da Zona Norte do Rio, estariam vendendo vacinas falsas contra Covid-19. Por “um galo” (R$ 50), o cliente levava uma dose da “SARS-CoV-2 Vacine” numa caixa cheia de ideogramas chineses. Com mais R$ 10, a farmácia ao lado aplicava a injeção, prometia o camelô. A Guarda Municipal disse não ter identificado esse comércio em seu patrulhamento de rotina. (Folha)

Também no Rio, cientistas identificaram uma nova cepa do coronavírus, embora não haja indicação de que ela seja mais transmissível ou agressiva. (Globo)

O Brasil ultrapassou 188 mil mortos por Covid-19 com os 936 óbitos registrados na terça-feira, com a média móvel mais alta desde setembro. Desde o início da pandemia, 7.320.020 pessoas contraíram a doença, 55.799 delas ontem.

Por conta do avanço da doença, o estado de São Paulo inteiro entrou em fase vermelha, a mais restritiva, durante os feriados de Natal e Ano Novo. O governo paulista teme um descontrole da doença, a exemplo do que aconteceu nos EUA depois do Dia de Ação de Graças, no mês passado. Somente atividades essenciais, como serviços de saúde e supermercados, poderão funcionar. (Folha)

A decisão do governador João Doria (PSDB) caiu mal entre os setores de comércio e serviços. Lojistas temem a debandada dos consumidores, enquanto restaurantes reclamam que já haviam comprado suprimentos e se programado para atender clientes no período. (Estadão)

Nos EUA, após meses de negociação para aprovar no Congresso um pacote de US$ 900 bilhões (R$ 4,6 trilhões) contra a Covid, o presidente Donald Trump se recusou a assinar a medida. Ele quer elevar de US$ 600 (R$ 3.096) para R$ 2 mil (R$ 10.320) o auxílio direto a famílias em necessidade.

E a Covid-19 se tornou, no sentido literal da palavra, uma pandemia. O Exército chileno identificou 36 pessoas contaminadas na estação de pesquisa Bernardo O'Higgins, na Antártida, até então o único continente livre da doença. Todos foram levados de volta para o Chile.




A Santa Sé e a Polícia Civil do Pará investigam denúncias de assédio e abuso sexual que teriam sido praticados por Dom Alberto Taveira Corrêa, arcebispo de Belém. Em agosto, quatro ex-alunos de um tradicional seminário na região metropolitana da capital paraense levaram à Justiça as denúncias. Os abusos teriam ocorrido até 2014, quando os jovens estavam em vias de se ordenar ou de deixar o seminário. Eles tinham entre 15 e 20 anos. Segundo as denúncias, Dom Alberto identificava jovens “com tendências homossexuais” e os atraia sobre o pretexto de ajudá-los, ganhando sua confiança e praticando os abusos. No início deste mês, o arcebispo declarou, em redes sociais e em carta a padres, que é acusado de “crimes de ordem moral” sem ter tido a “oportunidade de ser ouvido”. As conclusões do inquérito, que corre em segredo de Justiça, não foram divulgadas. (El País)




Saul Klein, filho do fundador das Casas Bahia, é acusado de estupro e aliciamento por 14 mulheres, revela Mônica Bérgamo. A defesa admite que Klein é um “sugar daddy” (homem que sustenta mulheres mais novas em troca de sexo), mas nega as acusações. Segundo os advogados, seu cliente é vítima de tentativa de extorsão. (Folha)

Prefeito do Rio passará Natal de tornozeleira

 


O presidente do Superior Tribunal de Justiça, Humberto Martins, transformou na noite de ontem a prisão preventiva do prefeito afastado do Rio, Marcelo Crivella (Republicanos), em prisão domiciliar com uso de tornozeleira eletrônica. O ministro justificou sua decisão dizendo que o prefeito faz parte de grupo de risco de Covid-19. Ele precisará permanecer em endereço fixo, não pode ter contato com qualquer pessoa fora familiares, médicos ou seus advogados e terá de entregar telefones e computadores.

Crivella havia sido preso na manhã de terça-feira e afastado do cargo por decisão judicial. Após audiência de custódia, a desembargadora Rosa Helena Penna Macedo Guita havia decidido manter a prisão. Crivella é apontado pelo Ministério Público como comandante de uma organização criminosa operada pelo empresário Rafael Alves.

Bela Megale: “Em delação firmada com o Ministério Público Estadual do Rio, empresários que participaram do esquema de corrupção envolvendo Marcelo Crivella revelaram o pagamento de 2% e 3% de propina sobre os contratos firmados com a gestão do prefeito.” (Globo)

Outra acusação do MP contra Crivella é de tentar obstruir as investigações. Segundo os promotores, em setembro, durante uma operação policial, o prefeito entregou aos investigadores o celular de outra pessoa, não o próprio, e com um chip antigo. Na mesma ocasião, ele se recusou a revelar a polícia a senha de um de seus telefones. Mas o caso mais curioso aconteceu em março, a primeira fase da Operação Hades. Crivella telefonou para o empresário Rafael Alves, apontado como operador do esquema de propinas, no momento que a polícia fazia uma ação. Foi um delegado, não o empresário que atendeu a chamada do prefeito. (Globo)

Segundo Lauro Jardim, a desembargadora decretou a prisão de Crivella agora porque, ao deixar a prefeitura em janeiro, ele perderia o foro privilegiado, levando o processo para uma instância inferior. (Globo)

As investigações não se limitam ao prefeito. O Ministério Público do Rio de Janeiro identificou uma movimentação atípica de quase R$ 6 bilhões na Igreja Universal do Reino de Deus, da qual Crivella é bispo licenciado, entre maio de 2018 e abril de 2019. Para os promotores, a igreja, liderada por Edir Macedo, tio do prefeito, seria usada para lavar dinheiro do esquema de propinas.

Uma das consequências políticas da prisão de Crivella é que seu partido, o Republicanos, deixa de ser uma alternativa para o presidente Jair Bolsonaro, que está sem legenda e viu fracassar a tentativa de criar sua Aliança pelo Brasil. Não se sabe por quanto tempo seus filhos, o senador Flávio e o vereador Carlos, permanecerão no partido. (Estadão)

Andréia Sadi: “O que a ala política do governo federal temia aconteceu: um dos principais candidatos apoiados pelo presidente foi preso. Fontes que conversaram com o blog afirmam que, por um erro de estratégia do presidente na campanha, o Planalto deu de 'bandeja' à oposição a possibilidade de exploração da prisão de Crivella como um caso de um aliado do presidente - e vão colar o episódio à imagem do governo federal.” (G1)

A prisão de Crivella, além de agitar as rodas políticas, serviu de matéria prima para uma das mais exuberantes indústrias nacionais, a da sátira. Marcelo Adnet, Fábio Porchat e outros humoristas não perdoaram. E o compositor Edu Krieger fez até uma homenagem natalina.




Falando a apoiadores em Santa Catarina, o presidente Jair Bolsonaro voltou a atacar sem provas o sistema de votação brasileiro e chegou a dizer que, “sem voto impresso em 2022, pode esquecer a eleição”. Ele não deixou claro se estava falando de não conseguir se reeleger ou se estava ameaçando impedir a realização do pleito.




Painel: “Uma declaração de Dilma Rousseff (PT) na noite de segunda embolou de novo as perspectivas de escolha do candidato à presidência da Câmara do bloco de Rodrigo Maia (DEM-RJ). A petista questionou se há ‘alguém mais contra a democracia do que foi o MDB’, em sinal de veto a Baleia Rossi (MDB-SP). Além de Dilma, o ex-prefeito Fernando Haddad (PT) também se colocou contra Baleia internamente. O impeachment foi relembrado, para mencionar que o MDB não cumpre acordos.” (Folha)




Impunidade é a palavra de ordem. Em vias de deixar a Casa Branca, Donald Trump, perdoou 20 condenados. Na lista estão dois assessores envolvidos no escândalo da influência russa nas eleições de 2016, quatro militares condenados por mortes de civis no Iraque e três ex-congressistas republicanos acusados de corrupção. Só gente boa. Já na Rússia, Vladimir Putin assinou um decreto concedendo imunidade vitalícia e retroativa a todos os ex-presidentes e seus familiares. (Folha)




O Sul do Brasil encontra a face mais dura da pandemia

 


Quando a pandemia do novo coronavírus começou a se espalhar pelo Brasil, no início do ano, a região Sul parecia ter armas privilegiadas para contê-la. Com sistemas de saúde mais fortes diante da conjuntura de desigualdade que assola o país, os sulistas viam a pandemia crescer de forma mais lenta. Agora, o país observa uma nova alta, que tem um certo protagonismo do Sul. Juntos, os três Estados que formam a região são responsáveis por um terço de todos os novos casos registrados no Brasil durante a última semana epidemiológica ―que vai de 13 a 19 de dezembro. A reportagem de Beatriz Jucá detalha a situação complicada que a região tenta combater ―com hospitais lotados, fila para UTI em alguns locais e dificuldade de contratar mais profissionais de saúde para ampliar a assistência. Esse agravamento da pandemia também levou o Estado de São Paulo, o mais populoso do Brasil, a aumentar as medidas de restrição entre o Natal e o Ano-Novo. Entre os dias 25 e 27 de dezembro e de 1º a 3 de janeiro grande parte do comércio voltará a fechar. Ficarão liberados para funcionar apenas de serviços e atividades essenciais, como farmácias, mercados e padarias.

No Rio de Janeiro, enquanto a covid-19 também avança e lota hospitais, a prisão do prefeito Marcelo Crivella fecha um ano infernal para a política do Estado, que além da detenção do prefeito teve o governador sofrendo um processo de impeachment por acusações de corrupção, a exemplo dos gestores anteriores.

Na Europa, onde o coronavírus também voltou a avançar com força, cientistas estudam a virulência da ‘mutação britânica’ do Sars-Cov-2 e dão como certo que o vírus já se espalhou. “Provavelmente esta nova versão já está em muitos outros países da Europa”, diz Ravindra Gupta, pesquisador da Universidade de Cambridge e membro do consórcio nacional de coronavírus do Reino Unido. Agora, os pesquisadores buscam entender se as mudanças genéticas da nova cepa do coronavírus aumentam sua capacidade de infectar e causar a covid-19.

 

O Sul do Brasil encontra a face mais dura da pandemia de coronavírus
O Sul do Brasil encontra a face mais dura da pandemia de coronavírus
Região que tinha um sistema de saúde mais robusto agora tem hospitais lotados, fila de espera por UTI e dificuldade para contratar profissionais de saúde

terça-feira, 22 de dezembro de 2020

Nesta segunda-feira, o Brasil registrou 549 novos óbitos, segundo o consórcio de veículos de comunicação, No total, 187.322 mortes foram registradas desde o início da pandemia.

 A Anvisa antecipou em dez dias a concessão do certificado de boas práticas à fábrica da SinoVac na China, onde são produzidas as doses da CoronaVac – que também é feita no Brasil pelo Instituto Butantan. A certificação é fundamental tanto para aprovação definitiva quanto para o uso emergencial do imunizante. Na quinta-feira o Butantan deve receber mais 5,5 milhões de doses da vacina.

Nesta segunda-feira, o Brasil registrou 549 novos óbitos, segundo o consórcio de veículos de comunicação, elevando a média móvel de mortes nos últimos sete dias a 769 pessoas, o que representa uma alta de 25% em relação às duas semanas anteriores. No total, 187.322 mortes foram registradas desde o início da pandemia. Todas as regiões apresentaram tendência de alta nos óbitos.

O governo de São Paulo avalia apertar ainda hoje as regras de quarentena, após as mortes por Covid-19 saltarem 34% na cidade em quatro semanas – o número de casos aumentou 54% no mesmo período. O governador João Doria (PSDB) teme uma explosão de novas infecções e óbitos após as festas de fim de ano. (Folha)

Mas Doria não parece estar em sintonia com seu próprio secretário de Educação. Rossieli Soares defende a volta obrigatória dos alunos às aulas presenciais, afirmando haver um “massacre educacional” de crianças e adolescentes com a quarentena. Embora cite estudos, Soares tem motivos pessoais: seu filho adolescente foi diagnosticado com depressão devido ao afastamento da escola. (Estadão)

A Comissão Europeia aprovou ontem a vacina produzida pela Pfizer e pela BioNTech e deve começar a imunização no próximo dia 27, segundo sua presidente, a alemã Ursula von der Leyen. Embora a aprovação tenha sido conjunta, cada país do bloco será responsável pela aplicação da vacina em seu território. Para botar a campanha na rua, foram convocados estudantes de medicina, médicos aposentados, farmacêuticos e soldados. Desde o início da pandemia, cerca de 470 mil pessoas morreram de Covid-19 nos países da UE. Diversos deles tiveram de adotar medidas mais duras de isolamento diante da segunda onda da pandemia.

A OMS negou ontem que a nova cepa do coronavírus esteja “fora de controle”, ao contrário do que disse o ministro da Saúde britânico, Matt Hancock. Michael Ryan, diretor de emergências da entidade, disse que a taxa de reprodução do vírus, 1,5 (dez pessoas contaminadas infectam 15 saudáveis), não é a maior já observada na pandemia. Entretanto, ele elogiou medidas de bloqueio, como a suspensão de voos provenientes do Reino Unido, onde a nova cepa do vírus está mais ativa. Hoje mais países, entre eles a Rússia, adotaram restrições ao tráfego aéreo britânico.

Na contramão, o Brasil disse que vai manter os voos vindos do Reino Unido e “acompanhar a situação”. Qualquer decisão nesse assunto é tomada por um grupo interministerial, do qual a Anvisa faz parte. (Folha)

Nos EUA, o presidente eleito Joe Biden, de 78 anos, recebeu a primeira dose da vacina da Pfizer. Ele fez questão de ser fotografado recebendo e injeção e cumprimentando os profissionais de saúde. “Estou fazendo isso para que pessoas se sintam seguras para tomar a vacina, na vez delas”, disse Biden.

E o Congresso americano aprovou um pacote de US$ 900 bilhões (R$ 4,6 trilhões) para reduzir os efeitos da Covid-19 sobre a economia. O dinheiro será dividido entre famílias vulneráveis, pequenas empresas e fundos para distribuição de vacinas.




A Polícia Federal apreendeu nos últimos dias, na divisa entre Pará e Amazonas, 131,1 mil m3 de toras de madeira nativa, volume suficiente para a construção de 2.620 casas populares. É maior apreensão deste tipo já feita no país e foi possível graças à apreensão de uma balsa e a observações de satélite. Embora a região tenha projetos de manejo, nenhum madeireiro apareceu até o momento com documentação para comprovar a origem legal das toras e reivindicá-las. O MPF quer evitar que a madeira apreendida vá a leilão, o que permitiria ao madeireiros recuperá-la e legaliza-la. (Folha)



Prefeito do Rio Marcelo Crivella é preso

 


Enquanto esta edição fechava, agora de manhã, a Polícia Civil e o Ministério Público batiam à porta do prefeito do Rio, Marcelo Crivella (Republicanos). Foi preso. Ele é investigado a respeito do suposto ‘QG da propina’ instalado em seu governo. Também foram presos o empresário Rafael Alves e o delegado Fernando Moraes, enquanto o ex-senador Eduardo Lopes, contra o qual também há mandado de prisão, não foi localizado. A investigação começou em 2018, a partir da delação do doleiro Sergio Mizrahy, que afirmou fazer a lavagem de dinheiro do esquema. Segundo a polícia, empresas que queriam fechar contratos ou tinham dinheiro a receber do município entregariam cheques a Rafael Alves, irmão de Marcelo Alves, então presidente da Riotur. Em troca, Rafael facilitaria a assinatura dos contratos e o pagamento das dívidas. Como o vice de Crivella morreu durante o mandato, o presidente da Câmara dos Vereadores, Jorge Felippe (DEM) deve assumir a prefeitura. O ex-prefeito Eduardo Paes (DEM), que venceu o atual por 64% a 35%, assume o governo logo que virar o ano. (G1)




Três meses depois de vir a público que o deputado Eduardo Bolsonaro (PSL-SP) usava dinheiro vivo em transações imobiliárias na Zona Sul do Rio de Janeiro, a Procuradoria-Geral da República informou ao STF que abriu uma investigação sobre o caso. As transações aconteceram ente 2011 e 2016, quando ele já ocupava uma cadeira na Câmara, e há suspeita de que o pagamento em espécie seja um artifício para lavagem de dinheiro. A apuração preliminar corre sob instrução do ministro Luís Roberto Barroso. Eduardo é o filho Zero Três do presidente Jair Bolsonaro — e o terceiro a ser alvo de uma investigação. (Globo)

Falando nos irmãos, o senador Flávio Bolsonaro (Republicanos-RJ), investigado pelo esquema de “rachadinhas” quando era deputado estadual no Rio, renunciou ao cargo de terceiro secretário da Mesa do Senado, revela Andréia Sadi. A decisão foi oficializada no dia 11, mas não foi divulgada. Adversários do senador dizem que a renúncia foi uma estratégia dele para diminuir a pressão no Conselho de Ética, onde também é investigado. Este é, justamente, um dos principais temas governistas na disputa pela presidência do Senado. O Planalto teme que Rodrigo Pacheco (MDB-MG), candidato de Davi Alcolumbre a sua sucessão, seja ‘muito independente’ e entregue Flávio ao conselho caso a pressão aumente. (G1)




Pois é... Enquanto isso, a Procuradoria-Geral da República entrou com um pedido para que o Supremo Tribunal Federal reveja a decisão monocrática do ministro Kassio Nunes Marques alterando a Lei da Ficha Limpa. Marques suprimiu o trecho da lei que determinava a inelegibilidade de oito anos a partir do fim do cumprimento da pena. Na prática, garantiu que ninguém ficaria mais de oito anos inelegível, pois a conta sempre começaria a partir da condenação sem incluir a pena. Entre as alegações da PGR estão que esse dispositivo já havia sido considerado constitucional pelo Supremo e que, ao aplicar a decisão para as eleições em andamento, Marques feriu o princípio de que mudanças de regra só valem para o pleito seguinte. Com o STF em recesso o caso deve ser analisado pelo presidente, Luís Fux. Em outubro, Fux anulou uma decisão monocrática do ministro Marco Aurélio que autorizava a soltura de um traficante por uma tecnicalidade, provocando uma reação furiosa do colega.

Como Nunes Marques determinou que sua alteração na lei valha já para as eleições de 2020, ela pode abrir caminho para que candidatos ficha suja que foram eleitos, mas estão com as candidaturas em análise no TSE, assumam prefeituras e vagas de vereador no país. (Estadão)




O grupo do presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ) ainda não escolheu o nome para disputar a sucessão na casa, mas um dos favoritos, Baleia Rossi (MDB-SP), vive uma situação peculiar. Segundo o Painel, da Folha, partidos de esquerda estão mais propensos a apoiá-lo, achando que ele pode unificar o grupo e vencer em primeiro turno o candidato bolsonarista Arthur Lira (PP-AL). A esquerda quer do próximo presidente um compromisso de proteção às instituições “contra os ataques autoritários” de Bolsonaro. O problema é que, segundo o Globo, Rossi não é consenso dentro do próprio partido. O MDB quer comandar o Senado e teme que uma candidatura forte na Câmara atrapalhe esses planos.




A deputada estadual Renata Souza (PSOL-RJ) registrou na polícia ameaça de morte ocorrida em rede social. Um homem disse que ela “falava demais” e iria “perder a linguinha” do mesmo jeito que a vereadora Marielle Franco, de quem Renata foi assessora, assassinada em março de 2018.




Live do Meio hoje. Às 19h, a equipe do Meio estará ao vivo nas redes sociais para fazer um balanço dos acontecimentos que marcaram 2020, uma conversa em live com os leitores. Foi o ano em que a sociedade teve que aprender na prática o que é resiliência. Venha compartilhar com a gente as suas experiências ao longo dos últimos meses e as expectativas para o ano que está por vir. O nosso chat estará aberto. Acompanhe no YouTube e no Facebook.