A guerra entre os palácios do Planalto e dos Bandeirantes em torno da vacinação contra a Covid-19 ganhou mais um capítulo. Com a chegada na manhã de ontem dos insumos para a produção da CoronaVac pelo Instituto Butantan, o governador de São Paulo, João Dória, afirmou que pretende começar a vacinar sua população já em janeiro, dois meses antes do previsto para a primeira fase da imunização nacional. Os insumos recebidos ontem permitem a produção de um milhão de doses da vacina, desenvolvida pelo laboratório chinês SinoVac. Em novembro, o Butantan, parceiro no Brasil da empresa chinesa, já havia recebido 120 mil doses completas. A vacinação, porém, depende de sinal verde da Anvisa.
Enquanto Doria recebia o material da China e criticava a demora do governo federal em iniciar a vacinação, o presidente Jair Bolsonaro disse a apoiadores que não poderá ser cobrado depois por “problemas” provocados pelos imunizantes.
Coluna do Estadão: “Quem conhece a Anvisa por dentro acha que já seria difícil para o governador paulista obter êxito nesse cronograma mesmo se contasse com a boa vontade da agência e do Planalto. Imagine sendo inimigo de Jair Bolsonaro.” (Estadão)
Painel: “O anúncio de João Doria (PSDB) de que pretende iniciar a vacinação em janeiro, antes do governo federal, alarmou os demais governadores e lideranças no Congresso. O risco é que o descompasso gere uma corrida desorganizada, estimulando pessoas a viajarem a São Paulo atrás das doses. Secretários estaduais de saúde pretendem aumentar a pressão para que Eduardo Pazuello (Saúde) se comprometa em comprar e aplicar no resto do país a vacina que estiver pronta primeiro.” (Folha)
Na terça-feira, a Anvisa divulgou os requisitos para autorização de uso emergencial de vacinas, incluindo já estar na fase 3 de testes e ter realizado experiências com voluntários no Brasil. A CoronaVac se enquadra neles.
E o Senado aprovou dois itens ligados à vacinação. Primeiro, ratificou a aprovação pela Câmara da MP que libera quase R$ 2 bilhões para compra da vacina desenvolvida pela Universidade de Oxford, com a qual a Fiocruz tem parceria. Em seguida, os senadores aprovaram um projeto que torna a vacina contra covid-19 direito de todos e gratuita, priorizando os grupos de risco. A matéria ainda tem que passar pela Câmara e pela sanção presidencial.
Distante da política e dos laboratórios, a Covid-19 continua matando. Passou de 1,5 milhão o número de vítimas da doença em todo o mundo. Em primeiro lugar estão os EUA, com 274.577 óbitos, seguido pelo Brasil, com 174.531.
Além da “liderança” no número de mortos, os EUA bateram o recorde de cem mil internações diárias. O presidente eleito Joe Biden, que toma posse em janeiro, disse que a distribuição da vacina será “livre de custos” no país, que não tem um sistema público e universal de saúde. Além disso, os ex-presidente Barack Obama, George W. Bush e Bill Clinton se ofereceram para tomar publicamente a vacina como forma de estimular a população. Já o atual, Donald Trump, segue no time negacionista.
Em diversas frentes para conter a segunda onda, o governo de São Paulo proibiu a comemoração de Réveillon em bares, restaurantes e hotéis. Já Santa Catarina adotou toque de recolher e limitação de passageiros em transporte público. (Folha)
Um dia depois de dizer que daria prioridade a vacinas armazenáveis em câmaras frias comuns, o Ministério da Saúde disse que não descarta mudança na rede de armazenamento para poder usar o imunizante da Pfizer, que requer temperaturas em torno de -70ºC. Poucas unidades de saúde no país têm equipamento para isso. (Globo)
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