terça-feira, 12 de janeiro de 2021

Análise de Mídia - 12/01/2021

 

DOS JORNAIS DE HOJE: A notícia que é destaque em todas as capas dos jornais é o anúncio da Ford sobre o fechamento de suas fábricas no Brasil. As reportagens mostram que governos e sindicatos foram pegos de surpresa, mas analistas apontam que nos últimos anos a empresa já vinha dando sinais de que o país não estava em seus planos. O governo Bolsonaro se isentou de qualquer responsabilidade afirmando que a decisão da Ford faz parte de uma reestruturação global da empresa. No entanto, analistas dizem que todas as marcas estão sendo reestruturadas e que o risco é que outras vejam poucas vantagens em se manterem no Brasil.
O noticiário econômico da Folha informa também que Paulo Guedes está contente porque vê como reduzidas as chances da volta do auxílio emergencial. Qualquer incremento de verba para programas sociais teria que ocorrer a partir do Bolsa Família. Além disso, o jornal aponta que o Banco do Brasil vai fechar 112 agências. Os outros jornais também publicaram a notícia. Já o Valor Econômico publica reportagem sobre um estudo realizado por um professor de contabilidade que abriu uma grande polêmica com a Febraban. O estudo aponta que a carga de impostos é muito menor do que a propagada pelas instituições financeiras. A Federação dos Bancos negou com veemência e questionou os métodos utilizados na análise. As duas partes, porém, concordam que é necessária uma reforma tributária no Brasil. O jornal ainda publica reportagem sobre o descontentamento da indústria com a falta de atuação do governo em medidas antidumping.
O noticiário político continua com atenções voltadas para as eleições no Congresso, embroa não exista qualquer definição e apenas a declaração de apoios que também pouco significam já que a votação é secreta e podem ocorrer “traições” de todos os lados. Entretanto, um tema relevante e que está presente nos jornais O Globo, Estadão e Valor é o que altera a relação dos governos estaduais com as polícias militares. O Estadão que chamou a atenção para o tema no início da semana publica reportagem com a posição de governadores que são críticos à proposta. O Valor Econômico por sua vez ouviu especialistas que fizeram duras críticas e afirmaram que o Estado democrático de Direito passaria a correr sério risco caso as mudanças fossem aprovadas.
Vale mencionar ainda reportagem da Folha sobre a utilização de dados na internet. O jornal publica reportagem sobre um dos fundadores da World Wide Web que tenta agora criar um serviço de acúmulo de dados que seria administrado pelos próprios usuários, aumentando a privacidade. A leitura interessante faz parte de uma série de textos que o jornal vem publicando sobre a privacidade na internet e os riscos da fake news. Em contrapartida, a Folha mostrou que o jornalismo profissional tem capacidade de salvar as democracias e, por isso, precisa ser defendido. Aliás, a valorização da qualidade do jornalismo profissional é defendida no editorial de hoje do jornal. Uma argumentação que cai por terra diante da reportagem também publicada no jornal de hoje sobre contratos do ex-sócio de um dos filhos do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Após todo o caso provocado pela Lava Jato e das incertezas sobre os objetivos da Operação que foram levantadas pela mesma Folha, o jornal volta a publicar reportagem que deixa a desejar em termos de apuração e profundidade, mas que atira na lama biografias. Seria uma parceria do jornalismo profissional com o universo das fake news. Parceria que trouxe o Brasil ao caos no qual se encontra.

 

CAPA – Manchete principal: ”Ford fechará suas fábricas no Brasil”

EDITORIAL DA FOLHA - ”Toda informação”: “Produtores de conteúdo de qualidade e registro histórico como a Folha têm o desafio de fazer prevalecer os valores do jornalismo profissional na cacofonia própria do meio digital, em que informação e entretenimento, realidade e rumor, notícias e ‘notícias falsas’ tendem a se confundir e quase tudo se expressa com igual estridência, reproduzido de forma desligada do contexto original.” O desafio foi descrito na atual edição do Projeto Editorial deste jornal, publicada há quatro anos, e submetido a teste acadêmico inédito na última campanha eleitoral. Conduzido por cientistas políticos de universidades do Brasil e dos EUA, o trabalho chegou a conclusão alvissareira: o jornalismo profissional diminui significativamente a probabilidade de uma pessoa acreditar em fake news. A difusão de informação confiável continua sendo o melhor antídoto ao veneno que intoxicou as democracias nos últimos anos. Só funciona, porém, em sociedades que gozam de liberdade de expressão —um valor ameaçado. A defesa da livre circulação de ideias, o que evidentemente inclui ideias ruins, precisa ser intransigente. Não pode ocorrer segundo as conveniências de momento, como se vê mais uma vez na ação das grandes empresas de tecnologia, hoje difusoras importantes do jornalismo de qualidade.
O oligopólio bilionário age em peso agora para bloquear a comunicação do presidente dos EUA, Donald Trump, e de seus seguidores. Não se trata mais de alertar o internauta para a falta de veracidade do que é dito. Nos dias derradeiros deste caótico governo, as big techs ficaram subitamente corajosas a ponto de congelar as contas do homem mais poderoso do mundo. Saltam aos olhos, nesse episódio, a força oligopolista das gigantes de tecnologia, que remaram em conjunto na mesma direção, e a incoerência em relação ao que prometiam pouco tempo atrás. “Não é nosso papel interferir quando políticos falam”, afirmava o Facebook há menos de dois anos. As empresas mostram, novamente, pequena disposição a defender valores. Resistência que é necessária, para citar outro exemplo recente, contra a intimidação descabida que o governo Jair Bolsonaro faz ao anunciar novos inquéritos contra jornalistas por causa da opinião expressada. O poder econômico das empresas de tecnologia se converteu em poder político. É extremamente perigoso deixar que elas o usem para estrangular o debate público. Isso não é compatível com os valores do jornalismo profissional, antídoto contra as fake news das redes sociais. Cabe ao poder público regular a ação das big techs, garantindo a livre circulação de ideias.
+++ Triste é ver a Folha não fazer um pingo de autocrítica sobre a cobertura que realizou nos últimos anos e mesmo assim apresentar esse discurso bonito de que o jornalismo profissional salva as democracias e que este é um jornal que busca o melhor. O problema é que busca o melhor pra ele mesmo e não para o conjunto da sociedade, muito menos a pluralidade de versões que constrói a realidade.

GUILHERME BOULOS - ”2021, o ano da vacina”: 2021 será o ano da vacina, apesar de Bolsonaro e graças à dedicação de cientistas no Brasil e no mundo. As vidas perdidas são irreparáveis e deixam um rastro de luto e sofrimento. Mas, finalmente, podemos hoje ver uma porta de saída para a pandemia do coronavírus. Há, porém, uma outra epidemia, não menos devastadora, que ameaça o Brasil em 2021: a da miséria. Ela foi contida até aqui devido ao auxílio emergencial —aprovado contra a vontade de Bolsonaro em março—, que beneficiou 68 milhões de famílias. O auxílio atendeu a 67% dos desempregados brasileiros e a mais de 40% das mulheres chefes de família. O valor representa mais da metade da renda familiar para 23 milhões de pessoas e a única fonte para outros 9 milhões. Ou seja, estamos falando da fronteira entre ter ou não comida na mesa. Acabar com o benefício, em meio à segunda onda da pandemia, é um gesto bárbaro de irresponsabilidade social, ainda mais ante o fato de que no fim do ano o país chegou a 14,1 milhões de desempregados, recorde da série histórica do IBGE. Os quase 70 milhões de famílias que deixarão de receber o auxílio a partir deste mês têm diante de si um mercado de trabalho sem oportunidades. Estarão jogadas à própria sorte.
Estamos falando de gente com fome. De mais gente morando na rua, já que o benefício é utilizado por muitos para pagar o aluguel de algum cômodo nos fundões urbanos. Estamos falando de desespero. Se isso se traduzirá em saques e convulsão social, como em outras crises, é algo imponderável. Aos que, de mesa cheia, não se sensibilizam com a fome dos outros, falemos então das consequências econômicas. Serão R$ 32 bilhões a menos na economia por mês. Quem recebe o auxilio gasta no consumo, frequentemente no comércio local: no mercado, no açougue, na padaria do bairro. Sem esse dinheiro em circulação, poderemos ter uma nova onda de falências nos pequenos negócios e mais desemprego. É notório que os programas de transferência de renda têm efeito econômico multiplicador, ampliando o consumo popular, estimulando a geração de emprego e gerando impacto positivo na arrecadação tributária. Mas até aqui a maioria da elite política e econômica do país lava as mãos e assiste placidamente à tragédia anunciada da epidemia de miséria. Uniram-se no mote de Bolsonaro: "não posso fazer nada". Aliás, não é a primeira vez que bolsonaristas e liberais —adversários no tema da vacina— se juntam quando as vidas que estão em jogo são apenas as do andar de baixo. Neste início de ano, as grandes batalhas nacionais serão pelo início da vacinação e pela manutenção do auxílio emergencial. Nos dois casos, trata-se de defender a vida.

JOSIAS VIEIRA DO NASCIMENTO JUNIOR - ”Evangélicos pelo clima”: O que não falta é versículo da Bíblia falando do meio ambiente. Em alguns lugares, ele aparece como o Jardim do Éden; em outros, como a criação. Mas, de um jeito ou de outro, está sempre lá. Por conta disso, sempre me perguntei por que os evangélicos não falavam muito sobre o tema. Seria falta de pregação? Foi aí que descobri que o problema, na verdade, era que eu estava olhando para o lado errado. As pessoas evangélicas realmente não falam muito sobre o tema, mas têm posicionamentos a se considerar. Uma pesquisa realizada em dezembro pela agência Purpose, com 2.000 evangélicos em todo o país, revelou que cerca de 77% gostariam que sua igreja apoiasse atividades ambientais. Isso mostra que o povo de Deus já entendeu que, além de estender a mão às pessoas que mais precisam, o chamado da igreja também é preservar matas, florestas e seus animais.
Em um país onde os evangélicos tiveram papel central na eleição presidencial, é relevante o fato de que 76% dos evangélicos entrevistados desaprovam as políticas ambientais do governo Jair Bolsonaro —num levantamento onde essa questão aparece como a terceira mais relevante na hora de decidir o voto. São pessoas que vão à igreja todos os domingos, mas que não negligenciam as notícias nos jornais na segunda, pela manhã. A mobilização política e de ajuda das igrejas evangélicas, que sempre teve muita força nos governos e em obras assistencialistas, parece pronta a dar mais um passo, agora no sentido do relacionamento em harmonia com a natureza. Mais do que pregações sobre o tema, faltavam pesquisas. Foi a partir dos resultados desse levantamento e das análises que ele possibilitou que nasceu o Evangélicos pelo Clima, uma coalizão formada por pessoas, igrejas e organizações evangélicas, pensando e atuando em prol do meio ambiente —e unidas pelo entendimento de que Deus tem uma missão para nós e convidou a igreja, como parte de sua criação, para a reconciliação de todas as coisas com Ele.
Cristãos e cristãs que, através de uma aliança com Deus, se comprometeram com a convivência harmônica no meio ambiente e que evidenciam que essa pauta não pode mais seguir sendo negligenciada pelas igrejas e pelos políticos —principalmente aqueles que têm os evangélicos como base de apoio e voto. São igrejas e pessoas presentes em todo o espectro da fé e prática evangélica, desde o campo mais histórico ao mais pentecostal, que estão unidas para se conscientizarem sobre a pauta climática, mas também para agirem juntas em seus territórios por todo o país. Quando descobri esse esforço por algo que prezo tanto, corri para fazer parte. Assinei a carta e, hoje, me somo aos esforços de irmãos e irmãs comprometidos em evidenciar, na vida prática, que o Reino de Deus se concretiza na harmonia do todo que Ele criou. E, se você é evangélico e também acredita que nosso chamado vai além de frequentar a escola dominical, fica aqui o convite para que faça o mesmo. Porque zelar pela criação é cuidar da natureza.
*Josias Vieira do Nascimento Junior - Ecoteólogo da Igreja Batista em Coqueiral (Recife) e coorganizador da Coalizão Evangélicos pelo Clima

PAINEL - ”Anúncio da Ford pegou de surpresa governadores que temem efeitos também sobre arrecadação”: O anúncio da Ford de interromper a fabricação de veículos no Brasil pegou de surpresa os governos de Ceará e Bahia. Aos cearenses, a empresa deu sinais em dezembro de que os negócios não iam bem, mas não falava nada de fechamento. Além dos danos aos empregos, governadores anteveem problemas também de arrecadação. Na Bahia, a Ford pagou cerca de R$ 200 milhões em impostos em 2019, valor que caiu quase à metade no ano passado, em razão da pandemia. O governador Camilo Santana (PT-CE) tem dito que, como a previsão de fechamento da unidade que fabrica a Troller no estado é só no fim do ano, tentará reverter a situação. Rui Costa (PT-BA) culpou o governo federal em vídeo gravado na noite desta segunda (11). Disse que enquanto alguns só fazem “politicagem”, dia após dia fábricas estão fechando no país, por falta de competência do governo, que não avançou na reforma tributária e gera um clima de insegurança institucional. Para técnicos do governo federal, no entanto, o fechamento das atividades da Ford no Brasil era uma tragédia anunciada. A operação já não dava resultado e a montadora alegava ter mais de R$ 1 bilhão em créditos de ICMS acumulados não utilizados.

PAINEL - ”Deputados do PT fazem representação contra Doria para saber de onde saiu dinheiro para Coronavac”: Deputados estaduais petistas levaram ao Ministério Público de SP representação questionando a fonte de recursos de importação e produção da Coronavac pelo Butantan. Eles argumentam que os investimentos propagandeados pela gestão João Doria (PSDB) não aparecem nas contas de 2020 nem na previsão de 2021. Em junho, o Butantan anunciou gasto de R$ 85 milhões para os testes da vacina. Já em setembro, a gestão tucana assinou contrato de compra de 46 milhões de doses da Sinovac, por US$ 90 milhões (cerca de R$ 505 milhões). Segundo o instituto, porém, a verba não saiu do Orçamento do estado e, por isso, não está contabilizada. O instituto informou que os recursos são da Fundação Butantan, entidade de natureza jurídica privada, e se colocou à disposição dos deputados para esclarecimentos. Paulo Fiorilo (PT) e José Américo (PT) vão pedir detalhes do financiamento.

”Com apoio do PT, candidato de Alcolumbre e Bolsonaro amplia bloco no Senado” - A bancada do PT no Senado anunciou nesta segunda-feira (11) que vai apoiar Rodrigo Pacheco (DEM-MG) na eleição para a presidência da Casa, que será realizada em fevereiro. Também no mesmo dia a bancada do PSC aderiu à campanha de Pacheco. O senador mineiro agora conta com o apoio de seis partidos —DEM, PROS, PSC, PSD, PT e Republicanos— que contabilizam 29 senadores. Também podem seguir o mesmo caminho nesta semana PDT (3 senadores), PL (3) e PP (7). São necessários 41 votos para vencer a disputa, caso todos os parlamentares compareçam para votar. A votação, no entanto, é secreta e há chances de traições. Pacheco é o candidato do atual presidente da Casa, Davi Alcolumbre (DEM-AP), que se engajou na disputa e vem negociando pessoalmente os apoios. O presidente Jair Bolsonaro (sem partido) também comunicou que o senador mineiro era seu escolhido, em reunião com o líder do governo no Senado, Fernando Bezerra Coelho (MDB-PE), na sexta-feira (8). Bolsonaro, no entanto, ainda não anunciou publicamente sua preferência.
Aliados relatam que a estratégia de Alcolumbre e Pacheco era justamente fechar o máximo de acordos antes da escolha do candidato rival, do MDB. O MDB, que tem a maior bancada, anunciou ainda em dezembro que teria um candidato único na eleição, mas ainda não definiu o nome. Eram pré-candidatos inicialmente o líder da bancada, Eduardo Braga (MDB-AM); o líder do governo no Senado, Fernando Bezerra Coelho (MDB-PE); o líder do governo no Congresso, Eduardo Gomes (MDB-TO); e a presidente da CCJ (Comissão de Constituição e Justiça), Simone Tebet (MDB-MS). Bezerra e Gomes, por serem líderes do governo, perderam força após o chefe do Executivo mencionar o apoio a Pacheco. Ambos devem se retirar da corrida nesta semana. O segundo golpe seguido veio com a decisão petista, que afeta diretamente Braga, o único pré-candidato da sigla com aceitação na bancada do PT.
À Folha, o líder do MDB afirmou não entender o fato de os petistas fecharem aliança com o candidato apoiado por Bolsonaro. “Eu tive uma conversa muito amistosa e muito respeitosa com a bancada do PT na sexta-feira, na qual pedi para que tivéssemos a oportunidade de apresentar nosso candidato. Mas eles preferiram tomar essa decisão”, afirmou Braga, que se reuniu com os petistas na condição de líder de bancada, e não pré-candidato. “Eu respeito [a decisão], mas o que eu posso dizer é que não compreendo”, completou. O MDB vai antecipar a escolha de seu candidato, que estava prevista inicialmente para a próxima sexta-feira (15). A bancada se reúne inicialmente nesta terça-feira (12), para a cerimônia de filiação dos senadores Veneziano Vital do Rêgo (PB) e Rose de Freitas (ES). Há chances de que a decisão do partido possa ser anunciada no mesmo dia. Além de fortalecer a candidatura de Pacheco, a decisão petista também tende a abrir caminho para a indicação de Tebet. A senadora é considerada independente e conta com o apoio do movimento suprapartidário Muda Senado —que tem 18 parlamentares.
O MDB, no entanto, terá uma equação difícil para fechar. O partido sempre teve uma posição governista, independentemente de quem esteve no Palácio do Planalto. Os líderes do governo no Senado e no Congresso, respectivamente, Bezerra e Gomes, são da sigla. Por isso pdoe haver uma articulação interna para enfraquecer o nome de Tebet. Além disso, uma eleição sem grandes rupturas entre os partidos de centro e centro-direita no Senado poderia abrir caminho para alianças mais fortes na Câmara dos Deputados, onde Baleia Rossi (MDB-SP) tem reais chances de vitória. A bancada petista buscou deixar claro ao longo do dia que a aliança com o candidato de Alcolumbre e Bolsonaro se tratava de uma questão circunstancial. “Nós conversamos longamente com o Rodrigo Pacheco, que mostrou prezar pela independência do Senado e pelas liberdades. Não está comprometido com a necropolítica do atual governo”, afirmou o senador Humberto Costa (PT-PE), que acrescentou ser inicialmente contra essa estratégia, mas acabou convencido que seria o melhor caminho para o partido.
“O Bolsonaro apoia o Rodrigo Pacheco, mas ele [Rodrigo] não tem compromisso com o Bolsonaro. E qual seria a nossa outra opção? Simpatizamos com o Eduardo Braga, mas não há garantia que seria ele o escolhido [do MDB]. Há [entre os pré-candidatos] dois líderes do governo e uma representante do movimento Muda PT”, completa, fazendo um trocadilho com o movimento Muda Senado, que defende a Lava Jato. Como condição para seu apoio, o partido havia solicitado o comando da importante CAS (Comissão de Assuntos Sociais). Em encontro mais recente com Pacheco, a sigla abriu a possibilidade também de continuar com a presidência da CDH (Comissão de Direitos Humanos e Legislação Participativa) e da Comissão de Meio Ambiente. As duas últimas podem representar obstáculos para o governo Bolsonaro avançar em assuntos ligados à pauta de costumes, além de as crises de desmatamento e queimadas terem se tornado grandes problemas para o Planalto. Para tentar evitar críticas de embarcar numa aliança com Bolsonaro, ao anunciar sua escolha, o PT divulgou uma longa nota na qual afirma que o acordo se dará exclusivamente para a eleição no Senado e que não vai abrir mão de suas bandeiras. “Esses compromissos apresentados ao candidato Rodrigo Pacheco (DEM/MG) têm o sentido de enfrentar a agenda de retrocessos pautada pelo governo de extrema direita no campo dos direitos humanos e dos direitos constitucionais, e em defesa do Estado democrático de Direito e da soberania nacional”, afirma o texto. “O PT tem bastante claro que a aliança com partidos dos quais divergimos politicamente, ideologicamente e ao longo do processo histórico se dá exclusivamente em torno da eleição da Mesa Diretora do Senado Federal, não se estendendo a qualquer outro tipo de entendimento, muito menos às eleições presidenciais.”
A nota da bancada afirma que a decisão levou em consideração a “grave situação econômica, social e política do país”, além da “necessidade de reforçar a institucionalidade e a legalidade democráticas no âmbito do Estado brasileiro”. O PT diz ainda que foram considerados para a aliança dois aspectos centrais: a independência do Poder Legislativo e a proposição de uma agenda para superar a “gravíssima crise” que atravessa o Estado brasileiro, com ações para desmontar o Estado democrático de Direito. A bancada também ressalta que vai continuar defendendo suas plataformas, como a defesa da vida, desenvolvimento com sustentabilidade ambiental, compromissos com os mais pobres, combate à fome e violações de direitos humanos, homofobia, racismos e machismo. “O PT continuará lutando, dentro e fora do parlamento, pela soberania nacional, contra as privatizações de empresas estratégicas ao desenvolvimento, contra a agenda neoliberal que compromete o presente e o futuro do país, em defesa dos direitos dos trabalhadores, pelo impeachment de Jair Bolsonaro e pelo resgate dos direitos políticos e cidadãos do ex-presidente Lula”, afirma a nota.

”Bolsonaro cobra apoio da bancada ruralista a Arthur Lira em disputa na Câmara”

”Fim de mandato de Maia 'está mexendo com a cabeça dele', diz Mourão” - De volta ao trabalho após duas semanas de confinamento por ter contraído o novo coronavírus, o vice-presidente Hamilton Mourão (PRTB) criticou nesta segunda-feira (11) o presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ), por causa das declarações que o deputado fez sobre o presidente Jair Bolsonaro (sem partido) no fim de semana. No último sábado (9), Maia fez críticas contundentes a Bolsonaro nas redes sociais. Em meio às disputas pelo comando da Câmara e sobre a vacina contra a Covid-19, o deputado chamou Bolsonaro de covarde. "Bolsonaro é covarde", escreveu Maia ao compartilhar uma notícia segundo a qual Bolsonaro teria culpado o ministro da Saúde, general Eduardo Pazuello, pelo atraso da vacinação no Brasil. Horas depois, em nova publicação, Maia escreveu: "Bolsonaro: 200 mil vidas perdidas até agora. Você tem culpa".
Ao Painel o presidente da Câmara foi além e afirmou que Bolsonaro é irresponsável. "Não podemos mais aceitar um ministro que não entende de saúde e um presidente irresponsável que nega o vírus." "Todos estamos cansados disso, desse negacionismo e dessa irresponsabilidade. Está na hora de uma reação forte de todos nós, brasileiros, contra a irresponsabilidade do governo", afirmou Maia. Para Mourão, estas são declarações "fora de propósito" e que "não contribuem nem constroem nada". "Nitidamente, ele está perdendo a mão. Parece que este final de período dele aí de cinco anos [na verdade, 4 anos e meio] como presidente da Câmara está mexendo com a cabeça dele", disse Hamilton Mourão em entrevista à Rádio Gaúcha.
Como a Folha mostrou, apesar de Maia ter subido o tom contra Bolsonaro, a abertura de um processo de impeachment do presidente da República está descartada. Os cerca de 60 pedidos já feitos, contudo, não deverão ser arquivados. Ficarão na gaveta à espera do próximo chefe da Casa. Antes de falar à rádio, Mourão disse, ao chegar à Vice-Presidência, que será necessário ter uma boa relação com quem quer que venha a ser eleito presidente da Câmara e do Senado. "Acho que, em qualquer hipótese, o governo tem que ter uma boa conexão com a Câmara e o Senado, no sentido da gente conseguir aprovar aí o que é necessário para o país poder avançar", disse Mourão. "Precisamos trabalhar forte esse ano. Na minha visão, os dois que estão candidatos hoje, se você for analisar, em mais de 90% dos votaram com o governo, os dois", disse referindo-se aos deputados Baleia Rossi (MDB-SP) e Arthur Lira (PP-AL). Na entrevista à rádio, Mourão também criticou a postura do governador João Doria (PSDB-SP), afirmando que ele "avançou o sinal" na disputa política criada em torno da vacinação contra Covid-19.
O vice-presidente foi indagado sobre a invasão do Congresso dos Estados Unidos por apoiadores do presidente Donald Trump. Mourão disse que foi uma "manifestação violenta", mas, fazendo uma retrospectiva de episódios ocorridos ao longo da história americana, disse que "nada me surpreende quando acontecimentos desta natureza acontecem nos Estados Unidos. Sobre a declaração do presidente Jair Bolsonaro de que, sem voto impresso, a situação no Brasil seria pior em 2022, Mourão disse não acreditar em manifestações. Em sintonia com o presidente, Mourão afirmou que é a favor do voto impresso no Brasil. "Na minha visão de cidadão, não vejo nenhum problema que, na hora que eu digitar meus numerozinhos lá na urna, saia um boleto, como você, quando vai lá no banco e digita no terminal eletrônico, e aquele boleto você coloca numa urna do lado, de modo que, depois, poderia haver uma conferência. Não vejo nenhum problema nisso aí", disse Mourão. O vice-presidente também condenou a decisão do Twitter de banir Trump permanentemente. "Acho que é antidemocrático isso aí. Acho que o Mark Zuckerberg não é eleito para nada, ele não tem o direito de cassar a palavra de ninguém", afirmou Mourão, para quem "só a Justiça poderia fazer isso". O CEO do Twitter é Jack Dorsey. Zuckerberg comanda o Facebook.

”Supremo acumula denúncias da PGR à espera de julgamento há mais de três anos”
”OAB vê 'intimidação da imprensa' em pedido do ministro da Justiça para investigar Ruy Castro e Ricardo Noblat”
”Juiz nega pedido para anular indicação do filho de Napoleão Nunes Maia ao CNJ”
JOEL PINHEIRO DA FONSECA - ”Redes Sociais aceitaram sua responsabilidade, mas precisam de critérios mais claros”

”Serviço de ex-sócio de Lulinha teve sobrepreço de R$ 4,7 mi em gestões de Paes, diz tribunal” - Um serviço realizado pela empresa de Jonas Suassuna, ex-sócio de Fábio Luís Lula da Silva, filho do ex-presidente Lula, para a Prefeitura do Rio de Janeiro teve um sobrepreço de R$ 4,7 milhões, aponta relatório do Tribunal de Contas do Município. O serviço de disparo de mensagens de Central 1746, feito por três anos das duas primeiras gestões do prefeito Eduardo Paes (DEM) —que voltou ao comando da cidade em 2021—, é um dos alvos de investigação da Operação Mapa da Mina, deflagrada há cerca de um ano. Depoimentos apontam que o acordo com o município foi obtido por meio de influência do ex-presidente. O contrato foi fechado em 2011 entre a Secretaria Municipal da Casa Civil e a Oi, que subcontratou a Gol Mobile, de Suassuna, para executar todo o serviço. Planilhas das duas empresas obtidas pela Folha indicam que a firma do empresário recebeu 51,3% do total pago pelo município e 76% do líquido recebido pela Oi –após o desconto de impostos. A suspeita da PF é de que o dinheiro pago pela tele à Gol Mobile era direcionado à família do ex-presidente Lula, por meio de Suassuna. Uma parte teria sido usada na compra do sítio de Atibaia (SP), cuja reforma gerou condenação do ex-presidente.
O ex-presidente e seu filho afirmaram não ter qualquer relação com o serviço prestado por Suassuna. O empresário declarou que o serviço prestado foi fiscalizado pela Receita Federal, sem ter sido detectada qualquer fraude. A Oi disse que auditoria externa não detectou irregularidades. O TCM já impôs multa ao ex-subsecretário de Gestão da Casa Civil municipal Francisco Bandeira pelo contrato. A corte também abriu novo processo para responsabilizar outros agentes envolvidos na contratação. Um dos alvos é Guilherme Schleder, ex-secretário da Casa Civil e escolhido para a pasta de Esportes na nova gestão Paes. Os auditores do TCM identificaram que o município pagou R$ 0,39 por SMSs enviados a usuários da Central 1746 (usada para queixas de cidadãos), enquanto havia outro acordo fechado na prefeitura pelo mesmo serviço que custava R$ 0,05 por mensagem. Isso fez com que o município desembolsasse R$ 5,4 milhões entre 2011 e 2014, em vez de R$ 692 mil com base no acordo mais barato.
Também chamou a atenção dos auditores do TCM-RJ o fato de a prefeitura pagar valores idênticos para períodos diferentes num serviço de demanda "aleatória". Foi o que ocorreu para os períodos entre outubro e dezembro de 2011 e janeiro e fevereiro de 2012. Para cada um dos intervalos a Oi recebeu a mesma quantia exata: R$ 899.999,98, o equivalente a 2,3 milhões de SMSs para cada período. No total, o município pagou pelo disparo de 13,8 milhões de SMSs no período de quase três anos —uma média de mais de duas mensagens por habitante do Rio de Janeiro. As supostas irregularidades no serviço foram reveladas pela Folha em 2017. Emails obtidos na investigação da PF com autorização judicial indicam que o deputado Pedro Paulo (DEM), aliado mais próximo de Paes, direcionou a contratação da empresa de Suassuna. Ele é ex-secretário da Casa Civil e agora comanda a pasta de Fazenda, Planejamento e Controladoria. Mensagens internas da Oi também indicam que servidores da prefeitura pressionavam para que a tele repassasse com agilidade os recursos para a Gol Mobile. Num deles, o contrato é tratado com um “projeto político” e que “não é uma prestação de serviço tradicional”.
Marco Aurélio Vitale, ex-diretor do grupo empresarial de Suassuna, afirmou à Folha em 2017 que o serviço foi obtido por "indicação puramente política", com atuação de Lula. O ex-governador Sérgio Cabral, que firmou acordo de delação com a PF, também afirmou que interferiu junto a Paes a pedido do ex-presidente para que a empresa de Suassuna fosse beneficiada em contratos do município. O empresário, sócio de Lulinha na empresa Gamecorp até dezembro de 2019, pagou R$ 1 milhão por uma parte do sítio de Atibaia, frequentado pelo ex-presidente Lula. Também quitou aluguéis do filho do ex-presidente, além de ter comprado um apartamento de R$ 3 milhões para que Fábio Luís morasse. A PF afirma que Suassuna cobrou um aluguel abaixo do valor de mercado. A Operação Mapa da Mina ainda não resultou em denúncia contra os investigados. O caso ficou praticamente parado por um ano após sua deflagração porque foi transferido da força-tarefa da Lava Jato de Curitiba para a de São Paulo em março deste ano. No início de dezembro, a Justiça Federal de São Paulo determinou o envio do caso para o Rio de Janeiro. A defesa de Lulinha está recorrendo da decisão e pede o arquivamento do caso.
LULINHA JAMAIS FOI SÓCIO DA EMPRESA, DIZ DEFESA
A defesa de Fábio Luís afirmou, em nota, que o filho do ex-presidente Lula “jamais foi sócio da empresa Gol Mobile, do empresário Jonas Suassuna, do Rio de Janeiro”. “O que se vê, mais uma vez, são malabarismos para envolver Fábio Luiz Lula da Silva em uma história que não é dele. As suspeitas devem ser investigadas, mas não podem ser tratadas como verdades”, afirmam os advogados Fábio Tofic e Marco Aurélio de Carvalho, em nota. “Nos últimos 15 anos, Fábio teve sua vida revirada pela Polícia Federal, pelo Ministério Público e pela Justiça. Jamais se conseguiu demonstrar qualquer ilegalidade”, declararam os defensores do filho do ex-presidente. O advogado Cristiano Zanin, que representa Lula, afirmou que não comentaria o caso porque “não há qualquer vínculo real com o ex-presidente”. “Segundo a lei, declarações de delator não têm qualquer valor probatório”, afirmou Zanin, sobre os depoimentos de Cabral e Vitale. O advogado Ary Bergher, que representa Suassuna, disse que os valores do negócio são de responsabilidade da Oi, que firmou contrato com o município.
Ele declarou também que o serviço prestado para a Oi pela Gol Mobile não envolvia a emissão de SMS comum, mas também o fornecimento de “tecnologia inteligente, consistente no envio e recebimento de mensagens de qualquer operadora a destinos específicos, e no disparo de respostas particularizadas aos usuários” “[Era] Atividade extremamente complexa, que demandava que a Gol Mobile fosse uma empresa broker, desenvolvedora de uma plataforma própria e com funcionários treinados”, afirmou Bergher. “Por fim, destaca-se que todos os contratos da Gol Mobile concernentes a esses serviços foram fiscalizados pela Receita Federal, não tendo tal órgão atestado qualquer irregularidade”, declarou o advogado. A Oi disse, em nota, que "colabora de forma transparente com as investigações de autoridades competentes, prestando todos os esclarecimentos necessários, tanto na esfera administrativa como na judicial". "A Oi informa ainda que o contrato mencionado foi objeto de investigação forense conduzida por auditor externo independente, que não identificou qualquer indício de ilegalidade praticada pela companhia", afirma a nota da tele. Paes, Pedro Paulo e Schleder afirmaram, por meio da assessoria de imprensa, que não foram notificados da decisão do TCM e só se pronunciaram após a comunicação oficial.
+++ É impressionante a hipocrisia da Folha que fala em bom jornalismo no seu editorial como um fator fundamental para salvar as democracias, mas ao mesmo tempo publica uma reportagem como essa cheia de expressões como “supostamente” ou “há indícios de que”. Ora, não há apuração, não há qualquer certeza. Mais uma vez, a Folha publica dados preliminares e com associações de supostas sequências que não estão provadas. Materiais como esse servem apenas para jogar nomes na lama. Não há nada aqui.

”Por 'incitação à insurreição', democratas iniciam 2º processo de impeachment de Trump”
”Por minutos, site do Departamento de Estado dos EUA aponta que mandato de Trump acabou”
”Horas após sair do ar, Parler entra com processo contra a Amazon”

”Às vésperas da posse de Biden, Israel ordena construção de 800 casas em assentamentos na Cisjordânia” - O premiê de Israel, Binyamin Netanyahu, anunciou nesta segunda-feira (11) um novo plano para construir cerca de 800 casas para colonos judeus na Cisjordânia, uma área também reivindicada pelos palestinos. A decisão ocorre a nove dias da posse do novo presidente dos EUA, Joe Biden, que já declarou ser contrário aos assentamentos feitos por Israel na região em disputa —posição contrária à de Donald Trump. Os palestinos criticam a instalação de casas nesses locais porque a presença das moradias impede a criação de um Estado palestino, algo que buscam há décadas. "Estamos aqui para ficar. Nós vamos continuar a construir na terra de Israel", escreveu Netanyahu em uma rede social ao anunciar a medida. O premiê está atualmente em campanha para a eleição legislativa marcada para 23 de março, que pode tirá-la do comando do país depois de mais de dez anos consecutivos no cargo. Esse será o quarto pleito em dois anos no país. A instabilidade política acontece porque nas votações anteriores nem o governo nem a oposição conseguiram conquistar a maioria no Parlamento. Assim, para se manter como primeiro-ministro, Netanyahu precisa do apoio —e dos votos— de grupos conservadores e religiosos, que costumam ser favoráveis aos assentamentos no território ocupado.
Uma das preocupações de Netanyahu é impedir o crescimento do partido de direita Nova Esperança na próxima eleição. A agremiação é liderada pelo ex-deputado Gideon Sa'ar, um grande defensor da existência dos assentamentos. Ex-aliado do premiê, ele rompeu com Netanyahu no fim de 2020 e agora promete derrubá-lo do poder. O líder da oposição, o deputado Yair Lapid (da sigla centrista Yesh Atid), criticou a decisão. "Trata-se de um anúncio irresponsável. Biden ainda não tomou posse, e o governo [de Israel] já está nos levando a um confronto desnecessário", disse ele, que é um ex-ministro de Netanyahu. Já o Ministério de Relações Exteriores da Autoridade Palestina afirmou em nota que o governo israelense está correndo contra o tempo para tentar aprovar as novas construções antes do fim do mandato de Trump. No ano passado, o presidente americano chegou a tentar mediar um acordo de paz na região. Pelo plano, apoiado por Netanyahu, os palestinos ficariam com um território fragmentado, ligado por estradas e túneis. A proposta foi rechaçada pelos palestinos, que se recusaram a participar da negociação por considerarem o projeto pró-Israel. A equipe do republicano também tem buscado estimular a retomada das relações entre países árabes com Israel, muitas das quais rompidas devido à questão palestina. Nos últimos meses, Emirados Árabes Unidos, Bahrein, Marrocos e Sudão assinaram acordos com o governo israelense —nenhum deles se manifestou sobre o anúncio desta segunda.
O republicano é um grande aliado de Netanyahu. Em novembro, o secretário de Estado dos EUA, Mike Pompeo, visitou um assentamento na Cisjordânia e disse avaliar que a construção dessas moradias não desrespeita a lei internacional, oficializando a mudança de posição de Washington sobre o tema. No entanto, grande parte da comunidade internacional —incluindo a ONU e a União Europeia— discorda desse entendimento e há uma grande expectativa de que a gestão Biden retome o posicionamento anterior do governo dos EUA, de que Israel não deve construir moradias nas áreas em disputa. Pela resolução da ONU de 1947 que dividiu a região e permitiu a criação do Estado de Israel, a maior parte da Cisjordânia deveria ficar sob controle do futuro Estado Palestino. Israel, porém, ganhou o controle da região —assim como de Jerusalém Oriental— em 1967, durante a Guerra dos Seis Dias. Desde então, milhares de israelenses passaram a morar nos assentamentos da região. Atualmente, quase 500 mil colonos judeus vivem na Cisjordânia, em meio a 3 milhões de palestinos. A questão é um dos pontos mais delicados das negociações de paz na região, já que os palestinos exigem a expulsão dos colonos. O governo israelense, por sua vez, afirma que os judeus têm laços históricos com a região e se recusa a debater a retirada dos assentamentos.
O Estado de Israel já foi condenado em cortes internacionais por causa dos assentamentos, que muitas vezes acabam sendo foco de tensões. No mês passado, uma colona israelense, Esther Horgen, foi morta enquanto praticava exercícios próximo do assentamento onde morava, na Cisjordânia —um suspeito palestino foi preso pelo crime. O marido da vítima chegou, inclusive, a pedir que o governo israelense intensificasse a ocupação da região como resposta ao episódio. Segundo o anúncio desta segunda, o assentamento onde o casal e seus seis filhos moravam, Tal Menashe, deve receber cem novas casas. Além dele, as novas moradias serão feitas em Beit El, Rehelim, Shavei Shomron, Barkan, Karnei Shomron e Givat Zeev. De acordo com o site The Times os Israel, um painel do Ministério da Defesa deve aprovar ainda na próxima semana a construção das casas, mas não há data definida para o início das obras.

”Biden recebe segunda dose da vacina contra a Covid-19”
”Pandemia escancara situação de asilos clandestinos em Portugal”
”Presidente de Portugal recebe diagnóstico de Covid-19; veja líderes que tiveram a doença”

”China enfim define data para início de investigação da OMS sobre origem do coronavírus” - A equipe de especialistas da Organização Mundial da Saúde (OMS) designada para investigar as origens da pandemia de Covid-19 chegará à China na quinta (14), confirmaram autoridades do país nesta segunda (11). A falta de autorização de Pequim atrasou a chegada da aguardada missão, no que o ministro das Relações Exteriores da China chamou de "mal entendido". A Comissão Nacional de Saúde, que anunciou a data, havia postergado a chegada da equipe, marcada inicialmente para o início de janeiro, e não deu detalhes de qual será o itinerário da missão da OMS no país. O diretor-geral da organização da ONU, Tedros Adhanom Ghebreyesus, elogiou a notícia. "Estamos ansiosos para trabalhar juntos com os nossos pares [chineses] nesta missão importante para identificar a origem e sua introdução na população humana", escreveu ele no Twitter.
Antes, quando os especialistas foram barrados de entrar no país, no início do mês, forçando dois membros da equipe a retornar, Tedros havia dito estar "muito desapontado". A China tem sido acusada de encobrir o atraso na reação inicial à pandemia, permitindo a disseminação do vírus, registrado pela primeira vez na cidade de Wuhan, no final de 2019. Os EUA pedem uma investigação transparente liderada pela OMS e criticaram os termos da missão, que permitiu a participação de cientistas chineses na primeira fase da pesquisa preliminar. Pequim tem buscado moldar a narrativa de quando e onde a pandemia começou. Um diplomata sênior, Wang Yi, por exemplo, afirma que "mais e mais estudos" mostram que o patógeno emergiu em diversas regiões. Um especialista em saúde ligado à OMS disse que as expectativas de que a missão chegue a uma conclusão após a viagem à China devem ser "muito baixas".

”Argentinas presas por abortarem buscam absolvição após legalização”
”EUA recolocam Cuba em lista de Estados patrocinadores de terrorismo”

”Biden escolhe ex-diplomata que negociou acordo nuclear com Irã para chefiar CIA” - O presidente eleito dos Estados Unidos, Joe Biden, anunciou nesta segunda-feira (11) a nomeação de William Burns, um diplomata aposentado que ajudou a manter negociações secretas com o Irã, como chefe da CIA, a agência americana de Inteligência. Burns passou mais de três décadas no corpo diplomático do país. Foi embaixador na Rússia entre 2005 e 2008 e chegou a ser o número 2 do Departamento de Estado. Atualmente, ele preside o Carnegie Endowment for International Peace, um think tank dedicado às relações internacionais com sede nos Estados Unidos. O nome de Burns era cogitado para ocupar o cargo de secretário de Estado, dada sua longa experiência com o Irã. Ele esteve envolvido nas negociações ocultas que abriram o caminho para o pacto nuclear assinado em 2015 por Teerã e grandes potências ocidentais. Trump, no entanto, decidiu retirar o país do acordo. "O fato de termos feito isso de forma discreta, ou secretamente, causou alguma polêmica", disse Burns em uma entrevista em 2016. "Mas a realidade é que, após 35 anos sem manter contato diplomático com o Irã, havia muitas circunstâncias prévias, muitas desconfiança e muitas queixas." O escolhido para ser o secretário de Estado do governo Biden foi Antony Blinken.

”Ford vai fechar todas as fábricas no Brasil e encerrar produção no país” - A Ford anunciou nesta segunda-feira (11) que vai encerrar todas as atividades fabris no Brasil neste ano. A empresa começou o ano de 2020 com 8.000 funcionários no Brasil. De lá para cá, a companhia foi realizando desligamentos. Hoje, conta com 6.171 contratados. A Ford anunciou que serão demitidos 5.000 trabalhadores no Brasil e na Argentina, sem dar detalhes. O grupo remanescente no mercado brasileiro vai manter algumas operações locais. A sede da montadora na América do Sul continuará sendo no Brasil, e o campo de provas de Tatuí, bem como o centro de desenvolvimento da Bahia continuam operando. De acordo com a consultoria Bright, especializada no setor automotivo, 84,9% dos 138 mil carros vendidos pela Ford no Brasil em 2020 foram produzidos no país. A montadora fechou o ano passado com 7,1% de participação no mercado, índice que vinha em queda nos últimos anos. Ficou no quinto lugar em vendas de carros de passeio e veículos comerciais leves, atrás de General Motors (17,35%), Volkswagen (16,8%), Fiat (16,5%) e Hyundai (8,6%). Em decorrência desse anúncio, a Ford prevê um impacto de aproximadamente US$ 4,1 bilhões em despesas não recorrentes, incluindo cerca de US$ 2,5 bilhões em 2020 e US$ 1,6 bilhão em 2021.
Aproximadamente US$ 1,6 bilhão será relacionado ao impacto contábil atribuído à baixa de créditos fiscais, depreciação acelerada e amortização de ativos fixos. Os valores remanescentes de aproximadamente US$ 2,5 bilhões impactarão diretamente o caixa e estão, em sua maioria, relacionados a compensações, rescisões, acordos e outros pagamentos. A montadora já havia encerrado a produção na fábrica de São Bernardo do Campo (ABC), que foi vendida para a Construtora São José. Agora, a empresa confirma a interrupção imediata das atividades em Camaçari (BA), onde produz os modelos Ka e EcoSport. Em nota, o governo da Bahia lamentou a saída da Ford do Brasil e diz que já busca alternativas para substituir a montadora americana. “O governo do estado lamenta o encerramento da produção nas plantas da Ford em Camaçari (BA), Taubaté (SP) e da Troller, em Horizonte (CE). O governo destaca os impactos socioeconômicos consequentes do fechamento da empresa, importante geradora de empregos e renda no estado”, diz o texto.
A nota também informa que o governador Rui Costa, assim que soube da decisão, entrou em contato com a Fieb (Federação das Indústrias do Estado da Bahia) para discutir a formação de grupo de trabalho com a proposta de avaliar alternativas ao fechamento. “O governo estadual também entrou em contato com a Embaixada Chinesa para sondar possíveis investidores com interesse em assumir o negócio na Bahia”, destaca o texto da nota. A unidade de Taubaté (interior de São Paulo), que fabrica motores e transmissões, e em Horizonte (CE), unidade em que produz o utilitário Troller T4, serão fechadas ao longo do ano. O governador de São Paulo João Doria se manifestou em sua rede social. "Lamento decisão da Ford de encerrar sua produção de automóveis no Brasil. A medida afeta o fechamento de fábricas no Ceará, Bahia e SP. Foi decisão global da Ford Motors", escreveu no Twitter, destacando que seriam mantidos 700 trabalhadores no estado, uma parte em Tatuí, onde está o campo de provas, e outra, na capital. Após o fechamento da fábrica de São Bernardo do Campo, a Ford optou por transferir sua sede para a cidade de São Paulo. O endereço do novo local não chegou a ser divulgado, pois a inauguração foi adiada devido a pandemia. A aérea administrativa está hoje trabalhando em regime de home office. O Sindicato dos Metalúrgicos de Taubaté convocou uma assembleia de emergência em frente à fábrica para discutir ações em conjunto com os trabalhadores. A plenária teve início 17h30. A unidade tem cerca de 830 funcionários.
Em nota, a prefeitura da cidade também disse lamentar o fechamento da planta da Ford "e a consequente demissão dos 830 funcionários, entendendo que a crise econômica mundial tem reflexos na cidade". A gestão municipal afirmou que a cidade não pode arcar sozinha com o prejuízo do encerramento das atividades da fábrica. "Ainda nesta semana, o Executivo terá reuniões com representantes do Sindicato dos Metalúrgicos e do governo do Estado para buscar alternativas", diz a nota. Em comunicado, a empresa afirma que “atenderá a região com seu portfólio global de produtos, incluindo alguns dos veículos mais conhecidos da marca como a nova picape Ranger produzida na Argentina, a nova Transit, o Bronco, o Mustang Mach 1, e planeja acelerar o lançamento de diversos novos modelos conectados e eletrificados.”
Em nota, a Anfavea (associação das montadoras) disse que não vai comentar sobre o fechamento das fábricas da Ford no Brasil. “Trata-se de uma decisão estratégica global de uma das nossas associadas. Respeitamos e lamentamos. Mas isso corrobora o que a entidade vem alertando há mais de um ano, sobre a ociosidade da indústria (local e global) e a falta de medidas que reduzam o Custo Brasil." Para a Fiesp (Federação das Indústrias do Estado de São Paulo), a decisão da Ford é "um movimento que tem de ser olhado com atenção". "A Fiesp tem alertado sobre a necessidade de se implementar uma agenda que reduza o custo Brasil, melhore o ambiente de negócios e aumente a competitividade dos produtos brasileiros. Isso não é apenas discurso", afirmou. Segundo a entidade, a alta carga tributária brasileira faz diferença na hora da tomada de decisões. A Fiesp pede reformas estruturais, redução de impostos e melhoraria da competitividade da economia brasileira para atração de investimentos e geração de empregos. Para a CNI (Confederação Nacional da Indústria), a decisão da montadora "é um sinal de alerta para os governos federal, de estados e municípios, além do Congresso Nacional, sobre a necessidade de aprovar, com urgência, medidas para a redução do Custo Brasil". A entidade cita a reforma tributária como medida prioritária. Na Bolsa de Nova York, as ações da Ford fecharam em alta de 3,33%, a US$ 9,30 (R$ 51,18) cada. O índice S&P 500 cedeu 0,66%.
HISTÓRIA
A montadora chegou no país há mais de cem anos, oficialmente. Foi a primeira grande fabricante de veículos a se instalar no Brasil, que vivia a pré-história do automóvel. O termo montadora vem daí: os veículos vinham aos pedaços dos EUA, cabia aos operários encaixar as peças. A autorização para o início das operações no centro de São Paulo foi dada no dia 24 de abril de 1919. Os US$ 25 mil disponibilizados vieram da Argentina, primeiro país sul-americano a receber instalações da empresa. O ano do centenário marcou o fim da produção de caminhões da empresa no Brasil e o adeus dos modelos Fiesta e Focus. O primeiro sucesso no país foi um modelo de porte compacto, o Ford Modelo T. Graças a ele, a empresa passou dos 12 funcionários de 1919 para cerca de 130 em 1924, ano em que foram feitos 5.000 veículos entre carros, caminhões e tratores. O interesse pelo automóvel crescia no Brasil e, entre 1925 e 1927, a Ford inaugurou linhas de montagem em Recife, Porto Alegre e Rio. O Modelo A, mais conhecido como Fordinho, surgiu na época e logo virou o mais vendido do país. Os negócios foram bem até 1929, quando a quebra da Bolsa de Nova York e a crise no Brasil à beira da Revolução de 1930 mudaram o cenário.
Nos anos seguintes, foram fechadas as linhas de montagem fora de São Paulo. As dificuldades no Brasil e no exterior fizeram a marca pensar em nacionalizar componentes. Os planos ganharam corpo durante a Segunda Guerra Mundial (1939-1945). A produção ficou parada em grande parte desse período, por queda na demanda e falta de peças. Com o fim do conflito, o mercado brasileiro começa a receber os carros compactos que fazem parte da reconstrução da Europa. Um desses modelos é o inglês Ford Prefect, que chega por volta de 1947. Em 1953, a montadora se muda para o bairro do Ipiranga (zona sul de São Paulo). Dois anos depois, começa o processo de nacionalização, com cabines de picapes e caminhões feitas com aço de Volta Redonda (RJ). A notoriedade da marca se consolidou com o lançamento de seu primeiro carro produzido no Brasil, o sedã grande Galaxie 500. O modelo transformou a Ford em referência de luxo. Aquele 1967 teve outro marco: a montadora adquiriu o controle da Willys-Overland do Brasil e assumiu as fábricas de São Bernardo do Campo (ABC) e de Taubaté (interior de São Paulo). Os carros em desenvolvimento pela Willys vieram junto: em 1969, chegava às lojas o Ford Corcel, desenvolvido em parceria com a Renault. Essa configuração de empresa perdurou nos anos seguintes. A grande mudança ocorreu em 1987, com o estabelecimento da Autolatina, parceria regional com a alemã Volkswagen. Foi uma década ruim para a montadora americana, que perdeu mercado e teve de se reerguer com o lançamento do primeiro Fiesta nacional, em 1996.

ANÁLISE - ”Instabilidade desde 2014 tornou insustentável para Ford manter fábricas no Brasil”

PAINEL S.A. - ”Funcionários da Ford programam madrugada de vigília em fábrica de Taubaté”: Após a assembleia que reuniu 500 empregados da Ford de Taubaté (SP) na segunda (11), trabalhadores determinaram uma madrugada de vigília em frente à montadora. A ordem era para que as portas permanecessem fechadas. “Nada entra e nada sai” foi a orientação de Cláudio Batista da Silva, que preside o Sindicato de Metalúrgicos no município. A notícia sobre o fechamento das fábricas no Brasil foi comunicada pela Ford ao sindicato por telefone às 15h30. “Clima de velório”, relata Silva. O dia de mobilização em Taubaté será para encaminhar os próximos passos. No radar do sindicato está uma reunião com o governador João Doria (PSDB), intermediada pelo prefeito Saud (MDB), segundo o líder sindical. Setecentas pessoas seguirão empregadas no estado, mas não na área fabril. Para Ricardo Bacellar, sócio da área automotiva da KPMG no Brasil, a pandemia apenas catalisou a situação desfavorável da montadora no país. “A Ford não tomou essa decisão por desgostar do Brasil,” afirma. A conjuntura envolve prioridade de investimentos em mercados rentáveis e em produtos como carros elétricos e autônomos. Há 22 anos, o Rio Grande do Sul foi preterido na escolha de uma fábrica da Ford, que optou pela unidade da Bahia. A companhia abandonou as obras em estágio de terraplenagem em Guaíba após um impasse nas negociações com o então governador gaúcho Olívio Dutra (PT). “Os benefícios para a Ford, incluindo a concessão de um empréstimo de R$ 210 milhões [em 1999], pareciam ser incompatíveis com a situação fiscal na época. A isso se somou o fato de o regime automotivo do Nordeste tornar a escolha da Bahia muito mais vantajosa à montadora”, diz estudo recente do governo Eduardo Leite (PSDB-RS) sobre benefícios fiscais.

PAINEL S.A. - ”Seguro privado para pessoas cresce 4,5% no ano da pandemia”
PAINEL S.A. - ”Entregadores reclamam de bloqueio na Loggi e prometem ação contra empresa”
PAINEL S.A. - ”Bombril lança pano umedecido com álcool 70%”
”Ford ganhou bastante dinheiro no Brasil e poderia ter retardado saída, diz Mourão”
”Anúncio da Ford demonstra falta de credibilidade do governo, diz Maia”

ANÁLISE - ”Permanência da sede da Ford em SP indica que fechamento no Brasil pode não ser definitivo”

”Governos de SP e Bahia buscam alternativa ao fechamento da Ford” - O governo de São Paulo criou uma força-tarefa para tratar dos impactos do fechamento da fábrica da Ford em Taubaté, município na região do Vale do Paraíba, em São Paulo. Serão duas frentes: uma para atender os metalúrgicos, outra para buscar investidores interessados na fábrica. A secretária de Desenvolvimento Econômico do estado, Patricia Ellen, disse à Folha que se reunirá na terça (12) com o prefeito de Taubaté, João Saud (MDB), para definir um plano de mitigação dos efeitos do fechamento da fábrica para a cidade. Na Bahia, onde o fechamento da fábrica de Camaçari deve ser imediato, o governador Rui Costa (PT) anunciou a criação de um grupo de trabalho para atrair uma nova montadora para o estado. Em São Paulo, a força-tarefa, segundo Patricia Ellen, incluirá ainda a Secretaria de Desenvolvimento Regional, o Investe SP (agência de fomento do governo do estado), centrais sindicais e associações representativas. “O prefeito [de Taubaté] virá pessoalmente para criarmos um plano de mitigação do impacto para os trabalho”, diz Ellen. “Essa força-tarefa deverá ter ações tipicamente de recolocação de trabalhadores, como cursos de qualificação.” A fábrica da Ford em Taubaté tem cerca de 830 funcionários que produzem motores e transmissões. A unidade ainda não será imediatamente desativada. Segundo o comunicado da montadora, isso ocorrerá ao longo deste ano.
Uma nova utilização para as instalações da planta fabril será a outra frente da força-tarefa do governo do São Paulo. Patricia Ellen diz que, junto da Investe SP, a gestão estadual quer articular uma “destinação que permita o impulsionamento econômico da região.” A notícia de que a Ford fecharia todas as fábricas no Brasil chegou ao governo de São Paulo por meio de uma conferência telefônica com o presidente da Ford América do Sul, Lyle Watters. “Nós lamentamos, obviamente, mas [a decisão] vem de uma série de notícias da reestruturação global que a Ford está fazendo”, afirma. Ellen destacou que a montadora ainda manterá cerca de 1.400 funcionários no Brasil, metade dos quais em São Paulo. Em Tatuí, a empresa manterá o campo de provas. A unidade administrativa, que funcionava em São Bernardo do Campo, foi transferida para a capital depois do fechamento da fábrica do ABC paulista. Mais cedo, o governador João Doria (PSDB) disse, por meio do Twitter, lamentar a decisão da Ford. Em nota, o governador da Bahia, Rui Costa (PT), disse já ter iniciado articulações para atrair investimetnos para a fábrica. "Não vamos ficar parados. Já entrei em contato com embaixadas de outros países, especialmente asiáticos, para efetivar o convite para que indústrias automotivas venham visitar nosso parque e conhecer nossa infraestrutura", afirmou.

”Inaugurada há 20 anos, fábrica da Ford de Camaçari foi alvo de disputa entre estados”

”Guedes 'celebra' Orçamento limitado e não prevê auxílio emergencial” - Interessado em mostrar a investidores que o governo tem compromisso com o controle dos gastos públicos, o ministro Paulo Guedes (Economia) vem tratando como positiva a não aprovação do Orçamento deste ano pelo Congresso, o que impõe uma trava para as despesas do governo. Com a limitação nas contas, a equipe econômica afirma não trabalhar com a possibilidade de fazer novos pagamentos do auxílio emergencial a trabalhadores informais afetados pela pandemia do novo coronavírus. Para auxiliares de Guedes, no momento, só é possível discutir uma reformulação do programa Bolsa Família dentro do Orçamento já previsto para o ano. Mudanças mais amplas devem ser propostas após a eleição da cúpula do Congresso, marcada para o início de fevereiro. A pasta quer voltar a discutir a fusão de programas sociais existentes hoje, ideia que já foi alvo de veto do presidente Jair Bolsonaro (sem partido).
Sem controle da crise sanitária e com a taxa de desemprego em alta, o fim do auxílio emergencial foi criticado por políticos e especialistas. Nas negociações para a sucessão do comando do Congresso, parlamentares pressionam pela aprovação de novas parcelas da assistência. As disputas políticas no Legislativo no ano passado travaram a tramitação do Orçamento de 2021, que ainda não foi aprovado. Com isso, a norma prevista na legislação limita os gastos discricionários dos ministérios --como custeio da máquina pública e investimentos-- a um doze avos do valor previsto para o ano. Pela regra, o governo não tem autorização para ampliar despesas, se desejar. Para Guedes e membros da pasta, o dispositivo obriga o Executivo a travar o cofres ao mesmo tempo em que força o Congresso a discutir o tema caso os parlamentares queiram implementar novas ações para enfrentar os efeitos da pandemia.
Guedes retornou das férias nesta segunda-feira (8) e promoveu reuniões com subordinados. Segundo auxiliares, até que sejam retomados os trabalhos no Legislativo no próximo mês, a pasta deve se concentrar apenas em discussões internas para formatar o plano que será priorizado. Segundo fontes, janeiro será um mês de observação política, sem anúncio de medidas. A avaliação é que qualquer proposta apresentada agora será contaminada pela disputa às presidências da Câmara e do Senado. Até a votação do projeto de Orçamento, a pasta deverá apresentar ainda um ajuste nas contas para que as despesas de 2021 fiquem dentro do teto de gastos. A alteração é necessária porque muitos desembolsos foram reajustados pela inflação acumulada em 2020, que se acelerou no fim do ano. Técnicos do Ministério da Economia ainda finalizam os cálculos, mas números preliminares indicam que o corte na programação de gastos possa ficar entre R$ 10 bilhões e R$ 20 bilhões. Essa redução pressiona ainda mais despesas discricionárias, que já estão menores que R$ 90 bilhões, patamar considerado baixo.
De acordo com pessoas próximas a Guedes, a prioridade da pasta em 2021 será a geração de emprego e renda. A partir de fevereiro, a equipe econômica quer retomar as negociações para a criação de um imposto aos moldes da extinta CPMF para bancar um corte de encargos trabalhistas. A ideia sofre com rejeição de membros do governo e lideranças parlamentares. A carteira Verde e Amarela, que reduzia custos de contratação de funcionários jovens e que perdeu a validade sem votação do Congresso, pode ser relançada. Segundo membros da equipe econômica, 2021 não terá grandes inovações por parte da pasta. Isso porque uma série de medidas elaboradas pelo ministério e ainda defendidas por Guedes seguem pendentes de análise no Legislativo. A lista inclui o pacto federativo e a reforma administrativa. Na seleção de prioridades também está a chamada PEC (Proposta de Emenda à Constituição) Emergencial, que permite o acionamento de gatilhos de ajuste fiscal em momentos de aperto nas contas públicas, reduzindo especialmente gastos do governo com pessoal. A medida, que poderia abrir espaço para programas sociais ou investimentos em obras públicas, gerou embate no Congresso e foi engavetada após tentativas de desidratação do texto.
Sem apoio dos parlamentares para aprovar essas propostas no ano passado, a equipe econômica vai insistir na necessidade de corte de despesas obrigatórias para abrir espaço no Orçamento, a ser usado na ampliação ou até mesmo reformulação do Bolsa Família. Mesmo com a perspectiva de um orçamento reforçado em 2021 (R$ 34,8 bilhões, ante R$ 32,5 bilhões em anos anteriores), o programa social não deve conseguir atender a todas as famílias que cairão na faixa de pobreza e extrema pobreza em razão da crise da Covid-19. Há uma proposta no governo para fazer mudanças internas no Bolsa Família (dentro do orçamento de R$ 34,8 bilhões), o que resultaria num aumento do benefício médio de R$ 192 para R$ 200 por mês. Mas, com isso, menos famílias entrariam no programa. Já há cerca de 1,3 milhão de famílias habilitadas e que aguardam para passar a receber o benefício. Entram na fila de espera famílias que já tiveram o pedido e dados analisados. Se as mudanças forem adotadas, ainda restarão mais de 1 milhão de famílias na fila. Por isso, técnicos dos ministérios da Economia e da Cidadania discutem se atender a mais pessoas carentes não seja mais eficiente.

”Morre aos 78 anos Raymundo Magliano Filho, presidente da Bolsa entre 2001 e 2008”
”Em 4ª alta seguida, dólar volta a R$ 5,50 e acumula alta de 6% em 2021”
”Covid, meio ambiente e geopolítica estão entre os riscos às empresas em 2021, diz pesquisa”
”Marca de botas Dr. Martens quer entrar na Bolsa de Londres”
VAIVÉM DAS COMMODITIES - ”Atraso na vacinação impacta nas negociações externas do agro”

”BB anuncia reestruturação que prevê fechamento de 361 unidades e programa de demissão voluntária” - O Banco do Brasil aprovou um conjunto de medidas que diminuem sua estrutura organizacional com fechamento de pontos de atendimento e programas de demissão voluntária. Serão encerradas 361 unidades, sendo 112 agências. As medidas foram anunciadas nesta segunda-feira (11) ao mercado. O banco estima que a economia anual com as medidas alcance R$ 353 milhões em 2021 e R$ 2,7 bilhões até 2025. A discussão sobre um enxugamento da estrutura do BB existia desde meados do ano passado, mas ganhou força e profundidade com a chegada de André Brandão, presidente do BB que tomou posse em setembro de 2020. A cúpula do banco já tinha visões sobre a necessidade das mudanças, mas o desenvolvimento do plano só foi adiante após a posse do executivo vindo do HSBC. As mudanças anunciadas já estavam em grande parte acertadas com o Ministério da Economia, principalmente as que envolvem desligamento de pessoal. A estratégia é rever a necessidade de atendimento físico e fortalecer os canais digitais, que já representam a maior parte das operações. De acordo com o banco, a Covid-19 acelerou esse movimento. A quantidade de transações em guichês de caixa no BB caiu 42% desde 2016, enquanto o uso digital dobrou no mesmo período e já responde por 86% das transações. "Essa tendência não apenas continua como se acentuou fortemente durante a pandemia, antecipando em mais de um ano nossas projeções de uso dos canais digitais", afirma o banco em comunicado.
Para o vice-presidente da Moody's, Alexandre Albuquerque, o anúncio do plano de reestruturação do BB é positivo para a rentabilidade do banco, uma vez que a queda nas receitas e os custos elevados de crédito na esteira da pandemia de coronavírus podem continuar pressionando os resultados. "O foco no gerenciamento de despesas, incluindo a diminuição do número de agências, deve gerar redução de custos de R$ 353 milhões em 2021 —e de R$ 2,7 bilhões no agregado até 2025", disse Albuquerque em nota. Desde abril do ano passado, o aplicativo do banco ganhou mais 4,7 milhões de usuários, chegando a 19,4 milhões, com uma média diária de crescimento 273% maior do que antes da pandemia. O contato via WhatsApp também registrou crescimento expressivo, chegando a quase 600 mil atendimentos por dia. As medidas anunciadas nesta segunda envolverão, ao todo, 870 unidades pelo país. Além do encerramento de atividades de parte delas, outras 243 agências terão suas funções reduzidas ao serem transformadas em postos de atendimentos (que não têm gerente). O banco também vai transformar 145 unidades de negócios em lojas. Elas possuem terminais, mas não guichês de caixa.
Também serão criadas 28 unidades de negócios especializadas (sendo 14 agências voltadas a agronegócio e 14 escritórios para clientes que dão prioridade a serviços de forma digital), com aproveitamento de espaços já existentes. Segundo João Fukunaga, coordenador da CEBB (Comissão de Empresa dos Funcionários do Banco do Brasil) e dirigente sindical do Sindicato dos Bancários e Financiários de São Paulo, Osasco e região, apesar de a sinalização do BB ser a de uma aposta maior na digitalização dos sistemas, é preciso cautela nessa migração. "O banco está forçando um atendimento digital. Mas existe uma quantidade significativa de pessoas, principalmente de 60 anos ou mais, que procura atendimento nas agências físicas. Além disso, muito da digitalização está acontecendo por conta da pandemia. Acho prematuro um movimento desses esperando que todo esse fluxo continue nos canais alternativos mesmo depois do isolamento social", afirmou. De acordo com o Banco do Brasil, as mudanças nas agências acontecerão a partir de 22 de fevereiro e serão comunicadas aos clientes por SMS, aplicativo de celular, site na internet, terminais de autoatendimento, além de correspondências, e-mail e cartazes nas agências.
A mudança de agência é automática. Os clientes não precisam fazer nenhum procedimento e podem manter seus cartões e senhas para transações, mesmo que haja alteração no número da conta. Foram aprovadas pelo banco ainda duas modalidades de desligamento incentivado voluntário aos funcionários. O Programa de Adequação de Quadros, para redistribuir força de trabalho, e o PDE (Programa de Desligamento Extraordinário), disponível a todos os funcionários do BB que atenderem aos pré-requisitos. A estimativa do BB é que cerca de 5.000 funcionários façam adesão aos dois programas. O número final de desligamentos, assim como o impacto financeiro, serão informados ao mercado após o encerramento do prazo (em 5 de fevereiro). Quem aderir ao PDE do Banco do Brasil terá direito às verbas rescisórias (garantidas por lei) e a um incentivo calculado em cima do salário base, podendo chegar a até cerca de R$ 450 mil. Segundo Fukunaga, funcionários ainda estão preocupados com um possível rebaixamento de cargos. "Quando o banco encerra 361 unidades, são 361 gerentes gerais que também ficam sem postos e precisarão ser realocados caso não entrem nos programas do banco. Isso significa que esse funcionário corre o risco de ser realocado para um cargo inicial ou menor do que o seu", disse.
Uma fonte a par do assunto que preferiu não se identificar afirmou que um gerente geral do Banco do Brasil pode ganhar até R$ 20 mil, dependendo do tempo de casa e de outros fatores. Um cargo inicial dentro do banco, no entanto, tem salário de R$ 6 mil. O enxugamento de agências continua um movimento observado desde o governo do então presidente Michel Temer (de 2016 a 2018). Em 2017, houve uma reformulação significativa para eliminar 781 agências (14% do total da época), sendo que 379 seriam convertidas em postos de atendimentos e 402 unidades seriam encerradas, somando-se a outras 51 agências que tinham começado a ser fechadas em outubro de 2016. Do fim de 2016 até o fim de 2019, foram eliminadas 1.390 agências tradicionais (uma redução de 27%). No mesmo período, o banco desligou 7.432 funcionários (cerca de 7% do total inicial). Para Albuquerque, da Moody's, os programas de desligamento voluntário do BB podem trazer uma queda adicional de custos para o banco. "A reestruturação também permite que o banco adapte as agências bancárias às novas demandas dos clientes, enquanto os ganhos com redução de custos podem ser investidos em novas tecnologias e em melhorias que o Banco do Brasil precisa promover para se manter competitivo", disse.
As demissões no setor bancário aumentaram durante a pandemia e aconteceram mesmo diante do lucro bilionário dessas instituições. Antes do Banco do Brasil, os outros quatro maiores bancos do país (Bradesco, Caixa Econômica Federal, Itaú e Santander) já haviam promovido desligamentos ao longo de 2020. Um levantamento feito pelo Dieese aponta que nos primeiros dez meses do ano passado, o segmento contava com um saldo negativo de 8.086 vagas, sendo 13,7 mil contratados contra 21,8 mil desligados no período. Ainda de acordo com o Dieese, o mês com o pior saldo em 2020 foi outubro, que contabilizou mais de 6,8 mil demissões contra 1,3 mil novos contratos. O saldo negativo indicou que 5,6 mil postos de trabalho foram fechados no período. Especialistas já haviam analisado que a maior digitalização no setor bancário seria o maior motor para o enxugamento das estruturas. Outro fator seria o menor juros básicos no país, em 2% ao ano, que também influencia por exigir um maior corte de custos no segmento. Perto das 15h53 as ações do Banco do Brasil na Bolsa de Valores brasileira estavam caindo 1,28%, cotada em R$ 39,28.

MICHAEL FRANÇA - ”Estereótipo sobre identidade social influencia sua trajetória?”

”Tim Berners-Lee criou a web, e agora quer reformar o mundo digital” - Trinta anos atrás, Tim Berners-Lee inventou padrões simples, mas potentes, para localizar, conectar e apresentar documentos multimídia online. Ele os libertou para o mundo, lançando a World Wide Web. Outros se tornaram bilionários com a internet, enquanto Berners-Lee virou o condutor das normas técnicas que visavam ajudar a web a florescer como instrumento igualitário de conexão e compartilhamento de informação. Hoje com 65 anos, Berners-Lee acredita que o mundo online enlouqueceu. Excesso de poder e de dados pessoais, disse ele, são detidos por gigantes tecnológicas como Google e Facebook –"silos" é o termo genérico que ele prefere, em vez de se referir às empresas pelo nome. Alimentadas por vastos conjuntos de dados, disse ele, elas se tornaram plataformas de vigilância e monitoras da inovação. Os órgãos reguladores manifestaram preocupações semelhantes. As big techs estão enfrentando regulamentos mais duros na Europa e em alguns estados americanos, liderados pela Califórnia. Google e Facebook foram atingidos por processos antitruste Mas Berners-Lee está adotando uma abordagem diferente: sua resposta ao problema é uma tecnologia que dê mais poder aos indivíduos. O objetivo, segundo ele, é avançar para "a web que eu queria originalmente".
Os "pods" –"personal online data stores" (lojas de dados pessoais online)– são um ingrediente técnico chave para alcançar esse objetivo. A ideia é que cada pessoa controle seus próprios dados –sites visitados, compras com cartão de crédito, rotinas de exercícios, músicas escutadas– em um cofre de dados individual, geralmente uma fração do espaço no servidor. As companhias poderiam obter acesso aos dados de uma pessoa, com permissão por meio de um link seguro, para tarefas específicas, como processar um aplicativo de empréstimo ou apresentar uma publicidade personalizada. Elas poderiam linkar e usar a informação pessoal seletivamente, mas não armazená-la. A visão de Berners-Lee de soberania dos dados pessoais contrasta acentuadamente com o modelo de coleta e acúmulo adotado pelas grandes empresas tecnológicas. Mas tem alguns ecos da fórmula original da web --um conjunto de padrões tecnológicos que os desenvolvedores podem usar para escrever programas e que empresários e companhias podem usar para construir empresas. Ele iniciou um projeto de software de fonte aberta, chamado Solid, e mais tarde fundou uma empresa, a Inrupt, com John Bruce, um veterano de cinco startups anteriores, para estimular a adoção.
"Isto tem a ver com criar mercados", disse Berners-Lee, que é o diretor tecnológico da companhia. A Inrupt apresentou em novembro seu software de servidor para empresas e órgãos governamentais. E a startup está avançando com um punhado de projetos-piloto neste ano, incluindo alguns com o Serviço Nacional de Saúde britânico e com o governo de Flandres, a região da Bélgica de língua holandesa. O modelo empresarial inicial da Inrupt é cobrar taxas de licenciamento por seu software comercial, que usa a tecnologia de fonte aberta Solid, mas tem ferramentas reforçadas de segurança, gerenciamento e para desenvolvedores. A companhia sediada em Boston levantou US$ 20 milhões (R$ 107 milhões) em capital de risco.
As startups, comentou Berners-Lee, podem exercer um papel crucial para acelerar a adoção de uma nova tecnologia. A web, segundo ele, realmente decolou depois que a Netscape lançou o software de navegação da web e a Red Hat levou o Linux, sistema operacional de fonte aberta, para os centros de dados corporativos. Ao longo dos anos, empresas dedicadas a proteger a privacidade dos usuários online surgiram e desapareceram. O software dessas "infomediárias" era muitas vezes limitado e complicado, atraindo apenas os mais preocupados com a privacidade. Mas a tecnologia se tornou mais rápida e inteligente –e a pressão sobre as big techs está crescendo. As companhias de tecnologia formaram um Projeto de Transferência de Dados dedicado a tornar portáteis os dados pessoais que elas detêm. Hoje ele inclui Google, Facebook, Apple, Microsoft e Twitter. A Comissão Federal de Comércio dos EUA recentemente realizou um workshop "Data to Go" (algo como "dados para viagem"). "Neste ambiente regulatório em mudança, há uma oportunidade de mercado para a firma de Tim Berners-Lee e outras oferecerem melhores maneiras de os indivíduos controlarem seus dados", disse Peter Swire, especialista em privacidade na Faculdade de Administração Scheller da Universidade Tecnológica da Geórgia.
A Inrupt está apostando que as organizações confiáveis serão inicialmente as patrocinadoras dos "pods" (casulos). Eles são gratuitos para os usuários. Se o conceito pegar, poderão surgir serviços de dados pessoais de baixo custo ou grátis –semelhantes aos serviços de e-mail atuais. O Serviço Nacional de Saúde tem trabalhado com a Inrupt em um projeto-piloto para tratamento de pacientes de demência que passa do desenvolvimento ao campo neste mês. O objetivo inicial é dar aos cuidadores acesso a uma visão mais ampla da saúde dos pacientes, suas necessidades e preferências. Cada paciente tem um pod Solid com um formulário "Tudo sobre Mim" com informação apresentada pelo paciente ou um parente autorizado, complementando o registro de saúde eletrônico da pessoa. O pod poderia dizer que o paciente precisa de ajuda para tarefas diárias, como levantar da cama, amarrar os sapatos ou ir ao banheiro. Também poderia incluir o que acalma o paciente quando fica agitado –talvez música country ou filmes clássicos antigos. Mais tarde, dados da atividade de um Apple Watch ou Fitbit poderão ser acrescentados. O objetivo médico, segundo Scott Watson, diretor técnico do projeto-piloto, é melhorar a saúde e dar o atendimento menos estressante ao paciente. "E é uma mudança fundamental em como compartilhamos informação nos sistemas de atenção à saúde", disse ele.
O projeto inicial começará com até 50 pacientes na região de Manchester, no Reino Unido, e será avaliado durante alguns meses. Em Flandres, região com mais de 6 milhões de habitantes, o governo espera que a nova tecnologia de dados possa oferecer oportunidades para empresários e companhias locais e novos serviços aos cidadãos. Os dados pessoais dos pods poderão ser ligados a dados públicos e privados para criar novos aplicativos, disse Raf Buyle, arquiteto da informação que trabalha para o governo de Flandres. Um app potencial, disse Buyle, poderia sugerir estradas e modos de transporte para ir ao trabalho, quando as restrições da Covid-19 forem suspensas. Esse app, disse ele, poderia combinar dados de localização do smartphone da pessoa com preferências de exercícios e para redução da pegada de carbono, previsão do tempo, horários de transportes públicos e locais para pegar bicicletas gratuitas ou de aluguel. "A maioria dos casos de uso interessante virá de companhias que criarem novos apps em cima dos dados", disse Buyle.
Para Berners-Lee, o empreendimento Solid-Inrupt é um projeto-solução. Ele passou a vida profissional defendendo o compartilhamento de informação, a abertura e o empoderamento pessoal online --como diretor do consórcio da World Wide Web, presidente do Instituto de Dados Abertos e professor no Instituto de Tecnologia de Massachusetts (MIT) e na Universidade de Oxford. Entre seus prêmios está um Turing Award, chamado de Nobel da computação. Na Inglaterra, seu país natal, ele é cavaleiro da coroa –Sir Tim. "Mas Tim ficou cada vez mais preocupado com o poder do mundo digital ser usado contra o indivíduo", disse Daniel Weitzner, pesquisador principal no Laboratório de Inteligência Artificial e Ciência da Computação no MIT. "Essa mudança é o que a Solid e a Inrupt pretendem corrigir." A força para dar aos indivíduos maior controle de seus dados pessoais, disse Berners-Lee, muitas vezes começa como uma questão de privacidade. Mas um novo acordo sobre dados, segundo ele, exigirá que empresários, engenheiros e investidores vejam oportunidades de novos produtos e serviços, como fizeram com a web. A visão em longo prazo é um mercado descentralizado e pujante, alimentado por empoderamento pessoal e colaboração, disse Berners-Lee. "A visão final é muito poderosa", afirmou.
Se sua equipe poderá realizar essa visão é incerto. Alguns no campo dos dados pessoais dizem que a tecnologia da Solid-Inrupt é demasiado acadêmica para desenvolvedores da corrente dominante. Eles também questionam se a tecnologia alcançará a velocidade e o poder necessários para se tornar uma plataforma para futuros apps, como assistentes de software animados pelos dados de uma pessoa. "Ninguém vai discutir a direção", disse Liam Broza, fundador da LifeScope, um projeto de dados de fonte aberta. "Ele está no lado certo da história. Mas o que está fazendo vai realmente funcionar?" Outros dizem que a tecnologia Solid-Inrupt é apenas parte da solução. "Há muito trabalho fora do projeto de Berners-Lee que será vital para a visão", disse Kaliya Young, catedrática do Workshop de Identidade na Internet, cujos membros se concentram na identidade digital. Berners-Lee disse que sua equipe não está inventando um sistema de identidade próprio, e que qualquer coisa que funcione poderá ser plugada em sua tecnologia. O Inrupt enfrenta uma série de desafios técnicos, mas nenhum difícil demais, segundo Bruce Schneier, conhecido especialista em segurança de computadores e privacidade, que entrou na Inrupt como chefe de arquitetura de segurança. E Schneier é um otimista. "Esta tecnologia poderá destravar uma enorme quantidade de inovação", potencialmente se tornando uma nova plataforma, como o iPhone foi para os apps de smartphones, disse ele. "Acho que ela tem uma boa probabilidade de mudar o funcionamento da internet", disse. "Estranhamente, Tim já fez isso."

”Acordo com farmacêutica impediu divulgação de dados completos de eficácia da Coronavac”
”Com 65% de eficácia, Indonésia aprova uso emergencial da Coronavac”
ENTREVISTA - ”Sem vacina para todos, população poderá ter falsa impressão de proteção quando campanha começar, diz Carla Domingues”
”Vacinação começa no dia D e na hora H em todo o Brasil, diz Pazuello, sem dar data e hora”

”Recuperado da Covid-19, Mourão destoa de Bolsonaro e diz que vai tomar vacina”
”OMS prevê aprovar uso emergencial da Coronavac em março”
”Mais de 100 PMs são afastados por dia devido ao coronavírus”
”SP registra a maior média móvel de casos de Covid-19 desde agosto”

”Bolsonaro promete novos decretos para atiradores e defende aumento de armas no país”
”Universidade tem dois reitores após Bolsonaro nomear professora menos votada”
”Diretor responsável pelo Enem morre de Covid em meio a pressão para adiar exame”

”Onças estão se adaptando à degradação ambiental na Amazônia, sugere estudo da UFPA”

”Ministério do Meio Ambiente realiza 1º leilão de parques nacionais com proposta de R$ 20 milhões” - Os parques nacionais de Aparados da Serra e Serra Geral, na divisa entre Santa Catarina e o Rio Grande do Sul, foram os primeiros parques leiloados pela atual gestão do Ministério do Meio Ambiente (MMA), nesta segunda-feira (11). Vizinhos e com gestão integrada, eles são conhecidos como terra dos cânions, por causa das gigantes encostas verticais, permeadas por cachoeiras e rios. Segundo o MMA, a concessão tem valores de investimentos estimados em R$ 260 milhões ao longo dos 30 anos. O leilão foi fechado com a proposta de R$ 20,5 milhões iniciais, valor 2.700% superior ao lance mínimo, de R$ 718 mil. Outras cinco empresas também apresentaram propostas: Soul Parque, Parque Sul, Agro Latina, Consórcio Aparados da Serra e Parques dos Cânions. O grupo vencedor é a Construcap, que também havia vencido a concessão do parque Ibirapuera, concedido pela Prefeitura de São Paulo em 2019. Segundo nota do MMA, o grupo ficará responsável pela revitalização, modernização, operação, manutenção e gestão dos parques e deverá oferecer serviços de apoio aos turistas, incluindo alimentação, estacionamento, segurança e outros. “É uma comemoração para o setor. A Construcap está enviando sinais de que vai levar esse setor a sério. O BNDES está modelando 36 parques. O mercado de concessão de parques naturais está acontecendo e o cenário está ficando robusto”, avalia Guilherme Naves, sócio da consultoria Radar PPP.
Uma das prioridades da agenda do ministro do Meio Ambiente, Ricardo Salles, a concessão de parques nacionais foi encampada também pelo BNDES através do Programa de Parcerias de Investimentos (PPI), que tem outros 13 parques nacionais na lista de concessões em andamento na página do programa, em parceria com o Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio), órgão do MMA responsável pela gestão das unidades de conservação. “Frente às preocupações que expressei no início do governo, quando o anúncio era ‘toma que o filho é teu’, hoje avalio positivamente o edital de concessão, que tem envolvido competências complementares do MMA, BNDES e ICMBio. Isso é bom para ter equilíbrio nos contratos, que também passaram pelo pelo Tribunal de Contas da União, que é uma outra instância de validação”, avalia Fernando Pieroni, diretor-presidente do Instituto Semeia, ONG que fomenta parcerias para melhorar o acesso aos parques. As concessões dos parques são voltadas aos serviços para atendimento ao público, de modo que a gestão da conservação da biodiversidade continua sob responsabilidade do ICMBio (Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade), órgão do governo federal.
Entretanto, há preocupação entre gestores ambientais com a possível diminuição da autonomia do ICMBio para a gestão das unidades de conservação. Além da entrada do BNDES no programa de concessões de parques, o MMA criou no último ano uma Secretaria de Biodiversidade, com objetivos semelhantes aos do ICMBio. “O que preocupa é a tendência de favorecer somente as empresas concessionárias, sem a mesma preocupação com a conservação da natureza, o fortalecimento do órgão gestor, no caso o ICMBio, e principalmente as comunidades locais e tradicionais”, afirma Cláudio Maretti, ex-presidente do ICMBio. “Por exemplo, no caso dos Parques Nacionais Aparados da Serra e Serra Geral, temos pelo menos uma comunidade quilombola à qual deveriam ser dadas as condições de optar pelo aproveitamento do turismo de base comunitária, ainda que vinculado à concessão de serviços”, aponta.
Entre as vantagens para o empreendedor apontadas por gestores ambientais ouvidos pela reportagem estariam as dispensas do pagamento de outorga sobre futuros empreendimentos e do pagamento por porcentagem de arrecadação, a redução de encargos e contrapartidas como apoios à pesquisa e à educação ambiental e ainda a retirada de bonificações que apoiavam as atividades comunitárias. A concessão dos parques Aparados da Serra e Serra Geral também conta com o desafio da regularização fundiária. Segundo dados do ICMBio, a União ainda precisa adquirir terras particulares correspondentes a 82,5% da área do parque Serra Geral e 29,7% no caso de Aparados da Serra. A concessionária teria a possibilidade de pagar pelas indenizações, já que as áreas coincidem com as marcadas no projeto básico da concessão como potenciais atrações turísticas. A Construcap afirmou em nota à Folha que “avalia com entusiasmo o segmento de concessão dos parques e aguardará a conclusão das demais etapas do processo licitatório para se manifestar”. Procurado, o ministro do Meio Ambiente não retornou ao contato da reportagem.

MÔNICA BERGAMO - ”Impeachment de Bolsonaro depende de pressão das ruas, acredita OAB”: A discussão sobre a abertura de um processo de impeachment de Jair Bolsonaro pode ganhar temperatura —mas não, por enquanto, velocidade. A OAB, considerada a principal entidade que poderia desencadear o processo, já debate internamente o tema. No entanto, acredita que seu andamento depende da pressão popular. “É preciso abrir a discussão, porque os fatos [que envolvem Bolsonaro em eventual crime de responsabilidade] são graves. Mas o ritmo dela será ditado pelas ruas e pelo Congresso Nacional”, diz o presidente da OAB, Felipe Santa Cruz. Lideranças que devem ter poder de decisão sobre o tema pensam a mesma coisa. E acreditam que, depois do início da campanha de vacinação contra o novo coronavírus, protestos podem ganhar impulso.

MÔNICA BERGAMO - ”Aras evita denunciar Bolsonaro e prefere debater medidas para aumentar confiança nas urnas eletrônicas”: O procurador-geral da República, Augusto Aras, está sob pressão para pedir investigação contra Jair Bolsonaro por causa das declarações atacando a confiabilidade das urnas eletrônicas —e, portanto, das eleições brasileiras. Aras, no entanto, não deve tocar o assunto adiante. Em vez disso, ele abriu uma discussão interna para que a PGR (Procuradoria-Geral da República) encaminhe propostas ao TSE (Tribunal Superior Eleitoral) com medidas que enterrem de vez a discussão sobre a confiabilidade das urnas.

MÔNICA BERGAMO - ”Hospital das Clínicas de SP começa a se preparar para vacinação de cerca de 25 mil funcionários”
MÔNICA BERGAMO - ”Novo inquérito de Covid-19 em São Paulo ajudará a definir volta às aulas na cidade”
MÔNICA BERGAMO - ”Posto de testes de Covid-19 em Trancoso foi idealizado por dono de laboratório que tem casa no local”

CAPA – Manchete principal: ”Ford sai do país culpando mau ambiente econômico”

”Estados enfraquecidos – Governadores e especialistas criticam projeto que reduz controle sobre a PM”
”Candidatos, Lira e Rossi divergem sobre o assunto”
”PT decide apoiar Rodrigo Pacheco no Senado”
”Diante do avanço rival, MDB antecipa escolha de candidato”

”Bancada ruralista se divide na eleição da Câmara”
”Aliados de Lira se queixam de acordo por emendas”
”Para Maia, demora em vacinar pode levar a impeachment”
”MP-RJ: procurador-geral não delegará ações do caso Queiroz”

”Gilmar arquiva inquéritos contra André Esteves”
”Ford sairá do Brasil – Montadora vai demitir 5 mil empregados no Brasil e na Argentina”

 

CAPA – Manchete principal: ”Após um século, Ford encerra produção de veículos no País”

EDITORIAL DO ESTADÃO - ”Vacinar para crescer”: Vacinação é dado essencial para qualquer previsão econômica, nacional ou global, neste momento, e só o presidente Jair Bolsonaro e seus ajudantes de ordens parecem desconhecer esse fato. “A vacinação vai começar no dia D e na hora H”, disse na segunda-feira o ministro da Saúde, intendente Eduardo Pazuello, recusando-se mais uma vez a falar seriamente sobre datas e critérios de um suposto plano federal de imunização contra a covid-19. Seu chefe continua a representar dois papéis. Um dia depois de assinar medida provisória para flexibilizar normas de aquisição de vacinas e insumos, o presidente reapareceu com sua face mais natural. “Vacina, sendo emergencial, não tem segurança ainda. Ninguém pode obrigar ninguém a tomar algo que (sic) você não tem certeza das consequências.” Esse mesmo presidente havia sido, como seu líder Donald Trump, um entusiasmado propagandista da cloroquina.
Dirigentes e economistas de instituições multilaterais, como o Fundo Monetário Internacional (FMI), analistas do mercado financeiro e técnicos de grandes consultorias condicionam suas projeções para 2021 – e para os três ou quatro anos seguintes – à evolução das condições sanitárias. A maior ameaça à recuperação econômica, por enquanto, é o surgimento de novas ondas de contaminação pelo coronavírus, já observado nos Estados Unidos e em vários países da Europa Ocidental. Em contrapartida, a esperança de uma retomada veloz e firme é relacionada a avanços médicos, especialmente ao rápido progresso da vacinação. “Progressos com vacinas e tratamentos, além de mudanças para reduzir a transmissão, nos locais de trabalho e no comportamento dos consumidores, poderão permitir um retorno aos níveis pré-pandêmicos mais veloz do que se havia projetado, sem deflagrar novas ondas de infecção”, de acordo com o FMI. “Pela primeira vez desde o início da pandemia, há esperança de um futuro mais brilhante”, segundo comentário divulgado pela Organização para Cooperação Econômica e Desenvolvimento (OCDE). As avaliações do FMI e da OCDE surgiram, em dezembro, depois de notícias sobre avanços na elaboração de vacinas. Esperanças e temores em relação à economia continuam vinculados, neste começo de ano, à luta contra a covid-19. Os Barômetros Globais divulgados no Brasil pela Fundação Getúlio Vargas (FGV) são exemplos de como as projeções dependem das expectativas sobre a doença. Esses barômetros, baseados em tendências pesquisadas em cerca de 50 países, incluem avaliações da economia atual e expectativas em relação aos seis meses seguintes. Em janeiro o Barômetro Coincidente subiu de 93,9 pontos para 95, revertendo a queda registrada em dezembro e indicando pequena melhora na avaliação das condições presentes. Denotando maior otimismo, o Barômetro Antecedente variou 6,1 pontos e atingiu 11,6. Esse otimismo, segundo análise da FGV, pode ser reflexo do início da vacinação em vários países.
No caso do Barômetro Antecedente, no entanto, a região do hemisfério ocidental seguiu caminho oposto ao das demais, apresentando a única variação negativa. Essa trajetória é explicável, de acordo com o relatório, pela “morosidade da vacinação em alguns países” e pelo “cenário crítico da pandemia no Brasil e nos Estados Unidos”. A importância econômica da pandemia – e da vacinação – também tem sido ressaltada nas projeções elaboradas no Brasil. Um claro exemplo é o documento do Banco Safra sobre as perspectivas de 2021. “O início da vacinação contra o vírus da covid-19” – assim começa o documento – “deu confiança ao consumidor e tem-se refletido na apreciação da maioria dos ativos globais, incluindo os brasileiros.” No caso do Brasil, pressupõe-se ampla vacinação a partir de janeiro, uma das condições para um crescimento estimado em 4,2% (para a economia global a projeção é de 5,2%). Além de aparecer em várias passagens do relatório, a vacinação é tema de um box de três páginas, um décimo da extensão do documento. Com tanta coisa escrita, é difícil dizer se chegará a ser lido pelo presidente da República.

”Governadores atacam proposta sobre polícias” - Governadores já se mobilizam contra dois projetos de lei orgânica das polícias civil e militar que restringem o poder político dos Estados sobre as tropas armadas e os bombeiros em todo o País. Parte dos chefes dos Executivos estaduais apontou inconstitucionalidade e interferência do Palácio do Planalto nas polícias, uma das bases de apoio do presidente Jair Bolsonaro. A reação mais forte partiu do governador de São Paulo, João Doria (PSDB), que acusou Bolsonaro de querer “intimidar governadores através de força policial militar”. Como revelou o Estadão, os projetos preveem mudanças significativas na estrutura das polícias. Estabelecem, por exemplo, mandatos de dois anos para os comandantes-gerais da PM, dos Bombeiros e delegados-gerais de Polícia Civil, além de condicionantes para que sejam demitidos. As propostas são alvo de lobby classista e foram discutidas com o Ministério da Justiça e Segurança Pública, sem que tenham sido ainda formalmente submetidas à Câmara dos Deputados. O projeto que trata da PM é antigo e foi apresentado pelo Executivo em 2001, ainda no governo Fernando Henrique Cardoso. O texto em discussão, porém, é uma proposta de substitutivo preparada pelo deputado Capitão Augusto (PL-SP), ouvindo associações e comandantes. Ele também é o relator do projeto. No caso da Polícia Civil, a proposta foi enviada pelo governo em 2007, mas acabou totalmente reformulada por entidades como a Associação dos Delegados de Polícia (Adepol) e a Confederação Brasileira de Policiais Civis (Cobrapol).
“Somos radicalmente contra”, disse Doria ontem ao Estadão. “Já mobilizamos a bancada de São Paulo e outros governadores estão mobilizando suas bancadas.” Rival político e virtual adversário de Bolsonaro na eleição presidencial de 2022, o tucano afirmou que “logicamente” há interferência política do Planalto na proposta das polícias. Para ele, os projetos são de “uma visão de quem gosta de pólvora”. “Essa proposta veio do Legislativo, mas inspirada no Palácio do Planalto, nessa visão de quem gosta de pólvora, de cheiro de pólvora, que é o presidente Jair Bolsonaro”, reagiu Doria durante entrevista coletiva em que fez novos anúncios sobre a vacina Coronavac, do Butantã e da empresa chinesa Sinovac. “Qual é a razão disto, se historicamente as polícias militares, assim como a Polícia Civil, sempre atenderam, dentro da hierarquia, a orientação dos governos estaduais? Não há nenhuma razão que justifique, exceto a militarização desejada pelo presidente Bolsonaro para intimidar governadores através de força policial militar.” Nos gabinetes do Palácio dos Bandeirantes, o tucano foi além. Comparou a tentativa de dar autonomia às polícias a um “processo de ditadura”, de acordo com um auxiliar. Os projetos de lei viraram tema de debate no grupo de Whatsapp dos governadores. Segundo Doria, a maioria é contra. Mas nem todos quiseram se manifestar publicamente, a exemplo dos governadores de Minas Gerais, Romeu Zema (Novo), e do Rio, Claudio Castro (PSC), ambos aliados políticos de Bolsonaro. Outros alegaram não ter recebido informações oficiais sobre as propostas de mudança.
‘Princípio federativo’. Alguns governadores, porém, afirmaram que os projetos de lei interferem em suas atribuições constitucionais. “Creio que o Supremo (Tribunal Federal) declararia inconstitucional se isso um dia fosse aprovado no Congresso, na medida em que viola o princípio federativo e também por vício de iniciativa”, disse o governador do Maranhão, Flávio Dino (PCDOB). “Matéria desse tipo só pode tramitar nas Assembleias Legislativas, por iniciativa privativa dos governadores. Logo, quem desejar debater deve buscar as instâncias competentes dos Estados.” Como os projetos de lei estavam circulando apenas entre policiais, os governadores ainda não haviam se debruçado sobre essa articulação nem sobre o impacto dos projetos em suas prerrogativas. “Não estava no nosso radar”, disse o governador Wellington Dias (PT), do Piauí, presidente do Fórum de Governadores do Nordeste. “Nossa posição é manter o princípio constitucional do poder do eleito na escolha da equipe para as áreas executivas e a Segurança Pública é uma delas.” As propostas também entraram na pauta dos candidatos à presidência da Câmara, Baleia Rossi (MDB-SP) e Arthur Lira (Progressistas-al). Enquanto Baleia classificou a matéria como “inoportuna”, Lira admitiu que pode pautar os projetos “sem preconceitos”. Questionados pelo Estadão, os dois únicos governadores originários das carreiras envolvidas, Carlos Moisés (PSL), de Santa Catarina – coronel dos Bombeiros –, e Marcos Rocha (PSL), de Rondônia – coronel da PM –, não quiseram se manifestar.

”Candidatos na Câmara divergem sobre o tema”
”Siglas bancam jatos para campanhas de Lira e Baleia Rossi”
”Parlamentares bolsonaristas lideram interações nas redes”
”PT vai apoiar candidato de Alcolumbre”

”Para pressionar Pence por remoção, Câmara pede impeachment de Trump”
”Simpatizantes do presidente organizam ‘marcha das milícias’”
”Amazon desativa rede social usada por conservadores”

”Pazuello quer aumentar tempo entre 1ª e 2ª doses do imunizante de Oxford”
”Média de óbitos em SP sobe 49% em 1 semana”
”Ford anuncia fim da produção de carros no País após um século e demitirá 5 mil”

”Mudança global pressiona montadoras” - O anúncio de fechamento das fábricas da Ford no Brasil foi um choque e uma surpresa para quase todo mundo. Quem acompanha mais de perto esse mercado, porém, não se surpreendeu tanto assim. Os analistas dizem que a indústria automobilística vem tentando se reinventar no mundo todo, e uma das alternativas é focar nos veículos elétricos e híbridos. A corrida para chegar a produtos viáveis nos mercados globais está deixando para trás empresas e países que entraram tarde, ou ainda nem participam dessa disputa, avalia Cássio Pagliarini, da Bright Consulting. Esse processo exige elevados investimentos e, no caso da Ford, tudo indica que a matriz não quis ter esse gasto no Brasil. O movimento anunciado ontem é algo similar ao que ocorreu recentemente com a Mercedes-benz, que em dezembro fechou sua fábrica de automóveis em Iracemápolis (SP).
Em comunicado, a Ford afirma vai concentrar a produção da América Latina na Argentina e no Uruguai. Para Marcus Ayres, sócio-diretor da consultoria Roland Berger, duas razões teriam, na sua opinião, favorecido o país vizinho. Uma delas é que a Argentina produz a Ford Ranger, um dos carros-chefe da companhia. Além disso, a economia argentina é altamente dolarizada, o que facilitaria o repasse de aumento de custos. Hoje, 70% da produção Argentina é exportada. No Brasil, a situação do setor automotivo já vem em ritmo lento desde a crise de 2014, e foi intensificada pela queda drástica no mercado provocada pela pandemia da covid-19. Não bastasse a situação global, o governo brasileiro não tem demonstrado interesse em definir uma política industrial que indique se o caminho aqui será o de carros elétricos, híbridos ou híbridos a etanol. “Está faltando uma orquestração política no setor”, diz Pagliarini, que foi funcionário da Ford por 25 anos. Em sua opinião, “há um perigo muito grande” de outras montadoras seguirem a decisão da Ford. “Temos muita capacidade instalada e não cabem tantas fábricas, aqui e no mundo”, afirma.
Velocidade. “O Brasil é um país de infinitas possibilidades, mas no setor automotivo há algumas coisas que precisam se mover um pouco mais rápido para se adequar à nova realidade”, diz Ayres. Ele destaca que os três pilares da indústria automobilística são: posicionamento dos produtos, performance e progresso. “Quanto mais rápido a indústria se mover na ideia desses três pilares para se adequar à nova realidade, mais robusta ela ficará. Se ela ficar parada nessas três dimensões, daí eu não tenho dúvida alguma de que o movimento que vimos com a Ford poderemos esperar para outras montadoras.” Para Ayres, a decisão da Ford de sair do País não foi uma novidade. Esse movimento já vinha sendo sinalizado desde 2019, com a venda da fábrica de caminhões de São Bernardo do Campo, no ABC Paulista. A estratégia da companhia, que culminou com a decisão de encerrar as operações no País, ocorreu porque uma série de veículos produzidos no Brasil não estavam alinhados com os objetivos globais da empresa, diz. “A Ford está se movendo para ser uma montadora de SUVS (utilitários esportivos), o segmento mais lucrativo, e de veículos elétricos.”
Já Ricardo Bacellar, sócio-líder de Industrial Markets e Automotivo da KPMG no Brasil, aponta que a decisão da Ford decorre de uma série de fatores, começando pelo aumento da concorrência, que comprometeu as suas margens de rentabilidade – uma situação que a pandemia ajudou a deteriorar. A necessidade de quarentena, que no período mais rígido fechou concessionárias, obrigou as montadoras a correrem para acelerar os investimentos em digitalização, algo que não foi acompanhado pela Ford. “Ela acabou afastando os clientes. Várias montadoras optaram pelos lançamentos rápidos em seus canais digitais. Houve uma necessidade de investir muito”, diz. Atraídas por incentivos fiscais, inúmeras montadoras se instalaram no País de olho em um mercado de pelo menos 3 milhões de veículos por ano. Hoje, as fábricas locais têm capacidade para produzir 5 milhões de veículos por ano. Em 2020, no entanto, foram fabricados 2 milhões e deve levar, segundo projeções, cerca de mais cinco anos para o setor voltar a patamares da pré-pandemia, de cerca de 3 milhões de unidades. Mas, segundo Cássio Pagliarini, “a Ford decidiu não esperar”.

”Decisão de gigante americana pega sindicatos de surpresa”
”Ford saiu por ‘decisão global’, diz governo”
”Falta de estoques afeta entrega de carros a locadoras”

 

CAPA – Manchete principal: ”Ford fecha no Brasil e Bahia já busca montadora chinesa”

”Governo quer usar 1ª dose de vacina para conter pandemia, diz Pazuello” - Segundo o ministro, a vacinação “vai começar no dia D e na hora H em todos os Estados do Brasil”

”SP mantém data de vacinação e pode adiar 2ª dose” - O governador João Doria afirmou que o governo federal não firma uma data para início da vacinação por interesse eleitoral

”Sigilo barra divulgação de eficácia da Coronavac” - Cálculo com base em dados do Butantan sugere efetividade de 64%

”Média de mortes por covid na semana é 59% maior” - Casos também apresentam crescimento expressivo de 42%; óbitos estão em alta em 14 Estados

”Confiança do consumidor recua com emprego e renda em baixa” - Indicador mostra famílias menos otimistas que empresas

”Poupança criada na pandemia não deve ir tão cedo para consumo” - Maior parte dos que economizaram na crise pretende manter recursos guardados nos próximos meses

”Bancos pagaram menos imposto sobre renda, diz estudo” - Os bancos brasileiros pagaram bem menos tributos do que indicariam as alíquotas de Imposto de Renda Pessoa Jurídica (IRPJ) e Contribuição Social sobre Lucro Líquido (CSLL) ao longo do período de 2010 a 2019, segundo um estudo feito por Paulo Henrique Pêgas, professor de contabilidade tributária do Ibmec e da Fipecafi. A Federação Brasileira de Bancos (Febraban), porém, rebate duramente a análise, diz que a metodologia usada não é correta e, por isso, leva a conclusões erradas sobre a carga tributária dos bancos. “O Brasil cobrou das suas principais instituições financeiras apenas 14,3% de imposto de renda sobre o lucro que elas tiveram. Assim, do expressivo resultado apresentado, de R$ 721 bilhões, nossa legislação tributária decidiu retirar apenas R$ 103 bilhões, sobrando um lucro líquido de R$ 618 bilhões”, disse Pêgas no estudo, que avalia as demonstrações contábeis das instituições no período. “Deste lucro, os acionistas das instituições financeiras colocaram no caixa R$ 289 bilhões (47%), livre de tributação, recebidos por meio de dividendos e juros sobre capital próprio [JCP]”, acrescentou.
A Febraban rebate. “Não é cabível, muito menos verdadeiro, afirmar que a carga tributária média sobre o setor bancário é de 14%. As instituições financeiras estão sujeitas à mesma legislação do IRPJ aplicável aos demais contribuintes e a alíquota sobre a renda dos bancos é a maior do mundo (45%)”, diz. “Não é possível afirmar que a carga tributária sobre o setor é de 14% com base na construção feita no trabalho, que se ressente, inclusive, de um maior tecnicismo. Primeiro, porque não se mostra nada correto fazer uma agregação, para um longo período de tempo, de valores nominais sem as devidas correções e sem considerar eventos societários importantes [como fusões e aquisições]”, acrescenta. Pêgas explica que a parcela correspondente ao JCP foi o principal redutor da carga dos bancos, em um total de R$ 78 bilhões nas dez instituições pesquisadas. “Essa foi a escolha do país quando estruturou e manteve o modelo tributário atual. E começamos 2021 sem qualquer mudança neste processo, ou seja, ele vem desde 1995 quando foi estruturado, atravessou governos de diferentes correntes e partidos”, disse. A Febraban lembra que o tratamento tributário dado à distribuição de JCP tem limitações regulatórias e impacta todos os setores, refletindo opção administrativa do país em concentrar a tributação nas empresas, diferente da tendência mundial. “A grande maioria dos países, visando o fomento da economia, possui alíquotas corporativas bem inferiores às brasileiras”, ressalta a entidade.
Pêgas analisou o balanço dos seguintes bancos: Itaú, Banco do Brasil, Bradesco, Santander, Safra, BTG Pactual, Citibank, ABC, Daycoval e Rabobank. Além da avaliação individualizada dessas instituições, ele agregou os dados e chegou à conclusão geral “É uma falácia dizer que as empresas pagam muito imposto sobre lucro no Brasil. E os bancos pagam menos ainda”, disse ao Valor. A Febraban, porém, salienta que o cálculo da alíquota efetiva varia conforme cada instituição devido às regras tributárias e seria bem mais complexo do que consta no método do contador. “A complexidade para a definição da alíquota efetiva no setor financeiro é ainda maior, pois deve considerar o crescimento do crédito, o impacto da inadimplência, aquisições ocorridas no período, as oscilações da Selic e as limitações regulatórias do JCP. Se não analisadas de forma profunda e apropriada, tais premissas levam a distorções elevadas, impactando as conclusões sobre o tema”, diz a entidade. Apesar de a análise de Pêgas centrar foco no setor financeiro, o professor destaca que essas instituições não seriam vilões no tema tributário, cujo desenho acaba gerando essa erosão na base tributária também de outros setores. “Na verdade, a alíquota média de cem das maiores empresas brasileiras, incluindo os bancos, alcança 21%”, disse. Para o contador, é preciso corrigir esse modelo regressivo de tributação sobre a renda e também a complexidade do sistema, desmontando o chamado “manicômio tributário”.
O estudo analisa várias etapas do processo tributário dos bancos. Ele diz que as instituições apresentaram ao longo da década analisada expressivo lucro antes do recolhimento do IR. O professor destaca que, após esse registro, as instituições desembolsaram de IR+CSLL de 32% (chamado por ele de “alíquota efetiva corrente”). Mas parte disso (18%), segundo ele, representou mero adiantamento realizado para o fisco. Isso porque, explica, os bancos colocaram no ativo contábil essa parcela adiantada, que vai sendo abatida conforme as provisões para créditos duvidosos vão sendo baixadas a prejuízo ou revertidas. “Os bancos terminaram 2019 com quase R$ 200 bilhões de saldo no ativo devido a desses adiantamentos. Com a pandemia, nos três primeiros trimestres de 2020, o saldo do ativo aumentou pelo menos em um terço, sendo este o motivo que levou os maiores bancos que aqui atuam a apresentar resultado positivo na linha final durante os nove meses iniciais do ano”, explicou, avançando a análise para o período pandêmico. A Febraban, por sua vez, destaca que as provisões são despesas, que reduzem os resultados e que são feitas obrigatoriamente por questões regulatórias e prudenciais. “Em praticamente todos os países relevantes comparáveis ao Brasil, essa provisão é dedutível para fins tributários, o que não acontece no Brasil. Esta precisamente é a origem dos créditos tributários de diferenças temporárias relativos a PDD”, diz a entidade. “Considerando apenas os cinco maiores bancos, em junho de 2020, eles tinham em seus ativos aproximadamente R$ 153 bilhões em crédito tributários de PDD, recursos que não são corrigidos e que na prática funcionam como uma espécie de imposto pago pelas instituições.”
Pêgas ainda ressalta que, ao longo dos dez anos analisados, houve expressiva distribuição de lucros, quase metade do lucro líquido do período. “Não é objetivo do artigo polemizar se a tributação dos bancos está certa ou errada. Contudo, as informações apresentadas podem e devem ser úteis para auxiliar nossos legisladores na tomada de decisão em relação a cobrança de tributos sobre o lucro das instituições financeiras no Brasil”, diz, em referência à reforma tributária. A Febraban também se posiciona de maneira favorável à reforma tributária, “necessária para colocar ordem e simplificar um sistema com muitas distorções”.

”Regra fiscal é entrave para volta do auxílio” - Para governo, retomada da ajuda emergencial exige obediência a teto e fonte de financiamento

”Indústria reclama da redução de medidas antidumping pelo Brasil” - Enquanto no mundo as medidas antidumping contra importações consideradas com preços desleais aumentaram em 25% na média na última década, no Brasil elas caíram 54%, segundo levantamento da Confederação Nacional da Indústria (CNI). Em recente relatório, a Organização Mundial do Comércio (OMC) mostra que entre janeiro e junho de 2020 houve aumento de 69% no número de investigações antidumping iniciadas por países do G-20 (que reúne grandes economias industrializadas e emergentes) comparado a julho-dezembro de 2019. O Brasil abriu quatro investigações, a Índia, 98, a Austrália, 15, o Canadá, 12, e a Argentina,11. A Índia, integrante do Brics, continua sendo o principal utilizador dessas medidas para frear importações. O Brasil, na outra direção, tornou-se menos fechado, mas a representação da indústria mostra o descontentamento com o que considera remédio comercial fragilizado. “Na prática, quando reduz o número dessas medidas [antidumping] justamente em um momento em que o mundo a amplia, o Brasil deixa sua indústria à mercê de práticas desleais de mercado’’, reclama o diretor de Desenvolvimento Industrial da CNI, Carlos Eduardo Abijaodi.
Nesse cenário, a CNI defende a criação de um sistema que permita o acompanhamento em tempo real das importações brasileiras de bens dos principais setores alvos de práticas consideradas desleais de mercado. Para Abijaodi, o que acontece atualmente é que o governo brasileiro, nas investigações antidumping, “favorece a empresa do outro país em detrimento da indústria nacional, dificultando o uso de medidas antidumping por quem está defendendo emprego e renda no Brasil”. O governo brasileiro atualizou regras antidumping, incluindo o instrumento de interesse público. Isso ajuda a modificar ou suspender medidas antidumping que forem mais prejudiciais para o conjunto da economia do que benéficas para um determinado setor que sofre com a importação considerada desleal. Com essa legislação, o país ficou em linha com o que fazem parceiros como União Europeia, Canadá e Nova Zelândia. Mas a indústria reclama que o instrumento de interesse público deveria ser exceção, mas está sendo adotado como regra e, com isso, afetando o setor. A indústria reclama também que, na revisão de medidas antidumping, o Brasil reduziu em cerca de 40% na média as taxas aplicadas aos produtos para sua entrada no país. Alega também que, em 16% dos casos, o Brasil concedeu um tratamento mais favorável para a China na aplicação de sobretaxas antidumping, ao considerar o país asiático como economia de mercado. Segundo a entidade, nos casos contra a China, o Brasil exige mais detalhes da indústria nacional do que EUA e União Europeia.

”’Fúria de titãs’ na tela do Senado” - MDB não conta mais com favoritismo
”Lira e Baleia reafirmam apoio a teto” - Candidatos a presidente da Câmara convergem em preocupação fiscalista”*

”Bolsonaro cobra voto de ruralistas em Arthur Lira” - Líderes do agronegócio no parlamento declararam apoio a Baleia Rossi

”‘Obsessão com 2022 levará país ao descaminho’” - Para ex-governador, ausência de vacinação imediata e de ações para retomada do crescimento farão com que país tenha novo “voo de galinha” neste ano

”Lira aceita debater projetos sobre polícias” - Baleia afirma que propostas são sem sentido e diz que União e Estados devem cooperar entre si

”Blindagem a PMs atende a plano de Bolsonaro” - Especialistas em segurança pública consultados pelo Valor criticaram os dois projetos de lei que buscam dar autonomia às polícias civil e militar e são defendidos por aliados do presidente Jair Bolsonaro (sem partido) no Congresso. Tanto o diretor-presidente do Fórum Brasileiro de Segurança Pública, Renato Sérgio de Lima, quanto o antropólogo Luiz Eduardo Soares, ex-secretário Nacional de Segurança Pública, e a cientista política Ilona Szabó, presidente do Instituto Igarapé, consideram que as propostas, se aprovadas, representariam uma “blindagem” das corporações, com graves consequências políticas, institucionais, fiscais e para as eleições presidenciais em 2022. “Esse projeto significa a blindagem definitiva e irreversível das polícias e a declaração de sua independência, o que corresponderia, sejamos francos, ao fim das veleidades democráticas no Brasil. Populações vulneráveis já são reféns. Governadores já são reféns. A resistência pela democracia sofreria seu revés mais grave”, afirma Soares.
Para Renato Sérgio de Lima, entre os pontos mais preocupantes está o processo de federalização da segurança pública brasileira - cuja competência é estadual segundo a Constituição de 1988 - agravado pela falta de controle do poder político. Ele argumenta que a reforma da Previdência, de 2019, já incluiu um “jabuti” nesse sentido, ao atribuir ao presidente da República, e não aos governadores, a prerrogativa de legislar sobre o assunto no que se refere à polícias. “Ou seja, é uma coisa que vem acumulando, de pouquinho em pouquinho. Vai fechando o cerco e, chega em 2022, está tudo dominado, para usar uma expressão popular”, diz. Para Lima, os projetos passam ao largo de preocupações da área, como a eficácia do policiamento, e se atêm a questões de prerrogativas e status: “É uma peça que, de segurança pública, não tem nada. É de blindagem corporativista. Os governadores passariam a ser meros pagadores de folha”. Ou nem isso, aponta. Lima afirma que a tendência é que a União passasse a arcar com a despesa, como já ocorre em relação à capital federal, por meio de um fundo constitucional. “A União já paga as polícias do DF. O projeto não fala isso, porque se falasse, obviamente, a área econômica não aprovaria. É um jabuti. Mas esse é o resultado lógico”, afirma. O analista diz que os gastos dos Estados com a folha de segurança giram em torno de R$ 70 bilhões. Mas poderiam chegar a R$ 150 bilhões com as reivindicações de isonomia com a polícia do Distrito Federal, a mais bem remunerada.
Lima lembra que a proposta relativa à Polícia Militar é de 2001 mas foi no governo Bolsonaro que ganhou força “exatamente por esse pacto tácito” que o presidente “tem com os policiais”. O especialista afirma que a invasão do Congresso dos Estados Unidos por apoiadores do presidente Donaldo Trump, na semana passada, mostrou que a preocupação “não é um mero diletantismo de alguns analistas”. O Bolsonaro está tentando construir por baixo essas duas leis porque aí as polícias teriam autonomia total para rivalizar com os governadores, e ele ter a prerrogativa de poder controlar e decidir o destino das polícias, o que as fariam até mais poderosas que as Forças Armadas”, diz. Ele lembra que jornais como “The Washington Post” e “The Guardian” apontaram que “vários dos manifestantes que invadiram o Capitólio eram policiais”. “Imagine agora algo nas eleições de 2022 parecido com o que aconteceu com o Trump e as polícias lá na frente digam: ‘Ah, a gente não aceita, acha que teve fraude’. Quem é que vai segurar?”, diz. De acordo com o projeto sobre a Polícia Militar, o comandante da força seria escolhido por lista tríplice enviada pela corporação e só poderia ser demitido com o aval da Assembleia Legislativa.
Para Ilona Szabó, além de conflitar com o pacto federativo brasileiro, as propostas pretendem dar uma autonomia às polícias que são incompatíveis com o Estado Democrático de Direito. Em sua opinião, “as instituições armadas do Estado, como as polícias e as Forças Armadas, precisam estar sob comando civil e subordinadas às leis e às lideranças eleitas democraticamente”. Defensor da desmilitarização das polícias, Luiz Eduardo Soares classifica as propostas como “um insulto à democracia” e “uma ameaça da maior gravidade ao que nos resta do Estado democrático de direito”. Ele argumenta que a transição política no Brasil, durante a redemocratização no anos 1980, em função de sua natureza negociada, permaneceu incompleta por várias razões. “Entre as quais porque os militares egressos da ditadura conseguiram inserir o artigo 144 na Constituição, por meio do qual nos tornaram herdeiros do modelo policial forjado na ditadura”, diz. A Constituição de 1988 prevê que o artigo 144 seja regulamentado em lei, o que a bancada da bala há duas décadas tenta aprovar de acordo com seus interesses. “Não se pode confundir profissionalismo com autonomização sob o risco de criarmos anomalias graves nas instituições e resultados perigosos para a sociedade”, afirma Ilona.
Para Soares, o artigo 144, como herança da ditadura, teria produzido um enclave institucional: em plena democracia, as polícias preservaram práticas, crenças e valores racistas, classistas, refratários à democracia, ao poder civil e à autoridade republicana: “Esse fenômeno só foi possível por conta da cumplicidade de setores dominantes do Ministério Público e do Judiciário, e da pusilanimidade de lideranças políticas”. Lima lembra que no caso do motim dos policiais militares ocorrido no Ceará, em fevereiro do ano passado, a condescendência do governo federal foi explícita. “Mesmo o então ministro da Justiça Sergio Moro não condenou a greve. E o próprio comandante da Força Nacional [Antônio Aginaldo de Oliveira] disse que eles eram ‘gigantes’”, recorda Lima, que também reclama da falha do MP no controle externo das polícias. “E aí, tanto em termos formais como institucionais e políticos, vamos criando uma instituição total, que vai decidir no fundo sobre o futuro do país”, alerta. O analista afirma que a força das duas propostas não está “no conteúdo delas, que é ruim, mas no fato de que Bolsonaro está se beneficiando de um afastamento dos governos estaduais e federal dessa pauta”: “Nunca quiseram levar adiante uma discussão mais estratégica”.
Luiz Eduardo Soares afirma que “a luta dos democratas, na segurança pública, sempre foi pela mudança do artigo 144”: “ os governadores - com variações de grau no tempo e no espaço - não comandam, efetivamente, as polícias. Eles não o admitem para não parecerem fracos e para não romperem alianças com as polícias - das quais, na prática, são reféns”. O antropólogo afirma que “aliar-se a um poder insubordinado significa rendição política ilegal” e que essa insubordinação se constata pela “autonomização verificada na ponta, nas ações nas favelas e periferias, mostrando que até mesmo hierarquia e disciplina não existem, de fato”: “A proposta que está sendo gestada pela bancada da bala, ligada ao governo federal, é a pá de cal na luta de três décadas dos movimentos de direitos humanos pelo controle legalista da atividade policial. É o sepultamento de qualquer hipótese de reforma do modelo policial - único no mundo e sabidamente fracassado. Representa fechar o cofre e jogar a chave ao mar”.

”Doria diz que propostas provocam militarização” - Governador paulista se disse radicalmente contra as propostas de mudança do marco sobre policias

”Para OAB, titular da Justiça criminaliza e tenta intimidar trabalho da imprensa” - Ministro da Justiça já havia requisitado abertura de inquérito policial para intimidar jornalistas em 2020

”Morre Alencar Furtado, ex-deputado federal do MDB cassado pela ditadura” - Ex-parlamentar fez discurso na TV em que denunciou o desaparecimento de quem se opusesse ao regime militar brasileiro

*”’Bolsonaro não se reelege sem ‘mini boom’ de commodities’”*Para Zucco, popularidade subiu com auxílio emergencial, mas quadro não se repetirá

”Após vários sinais, Ford deixa Brasil” - Há pelo menos seis anos empresa já sinalizava a perda de interesse pelo país

”Leilão da Fiol ganha força com novos projetos ferroviários” - Antes visto como projeto de apenas um interessado, ferrovia poderá atrair concorrência

”Bahia prepara concessões de saneamento e rodovias” - Estado começa a estruturar concessões regionais de água e esgoto, começando por Feira de Santana

”Cimenteiras pedem vacina e as reformas econômicas” - Depois de crescer 11%, em 2021, comercialização aumentará só 1% neste ano

”Farmácia escapa da crise e inicia novo ciclo de aberturas” - Projeção é de 900 lojas a mais no ano; alta nas vendas pode repetir 2013

 

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