O Estadão já havia se posicionado com um editorial sisudo, na última sexta-feira. “A maioria das denúncias contra o presidente por crime de responsabilidade ocorreu em função de sua conduta no enfrentamento da crise sanitária”, publicaram os editorialistas. “Jair Bolsonaro deu mostras mais que suficientes de que não vai mudar. O Direito e a Política dispõem de instrumentos para sanar essas situações. Que o presidente da Câmara não tenha receio de usá-los.” No domingo, foi a vez da Folha de S. Paulo. “O impeachment é recurso extremo, vagaroso e sempre traumático. Infelizmente não há como ignorar a conduta indigna de Bolsonaro, nem os quase 60 pedidos de abertura de processo que aguardam decisão já tardia.” Nenhum teve, porém, a verve da coluna de Míriam Leitão, publicada também no domingo, pelo Globo. “Muitos dizem não ser estratégica a defesa do impeachment agora, porque ele seria barrado pela anomia das instituições. Isso não é argumento para não defender o impeachment do presidente Bolsonaro” escreveu. “Ele cometeu inúmeros crimes e precisa responder por eles. Se a democracia brasileira não tiver forças para tanto, ela mudará o passado. Serão injustos os impeachments anteriores. O mais grave, contudo, não é a mudança do passado, mas a do futuro. Brasileiros estão morrendo hoje pela gestão criminosa da pandemia. Em nome dos sem futuro a democracia brasileira precisa encarar o seu maior desafio.”
As ruas também já se movimentam, ainda que discretamente. Separadas, esquerda e direita protestaram em favor do impeachment, no fim de semana. No sábado, a Frente Brasil Popular e a Frente Povo Sem Medo, de esquerda, organizaram carreatas em pelo menos 21 capitais e grandes cidades do país. Ontem foi a vez da direita, com o MBL e o Vem Pra Rua seguindo o mesmo modelo de protesto motorizado (para evitar o contágio pela Covid-19) em pelo menos sete cidades. (UOL)
Em Brasília, Bolsonaro passeou de moto com apoiadores e se recusou a comentar os protestos. (Poder 360)
As pesquisas caminham. De acordo com a pesquisa Atlas, 53% da população considera que hora de abrir o processo. (El País)
E o bolsonarismo sofreu um racha inesperado. Sob pressão do Sleeping Giants Brasil, a rede de farmácias Drogas Raia removeu seus anúncios do canal do Youtube Terça Livre, cujo dono, Allan dos Santos, é um dos investigados no inquérito sobre fake news aberto no STF. No Twitter, a empresa disse não compactuar “com disseminação de notícias falsas”. Foi a senha para que virasse alvo de pedidos de boicote por parte de apoiadores do governo. O curioso é que, pelo menos até o início do ano passado, a Raia era uma empresa listada como apoiadora de Bolsonaro, com opositores ao governo pedindo seu boicote.
No mesmo dia em que a Procuradoria-Geral da República abriu um inquérito para investigar sua conduta no combate à Covid-19, o ministro da Saúde, general Eduardo Pazuello, foi despachado para Manaus sem previsão de volta. Ele levou na bagagem 132,5 mil doses da vacina de Oxford/AstraZeneca recebidas pelo Brasil na sexta-feira.
Manaus (e o Amazonas em geral) virou uma espécie de epicentro das diversas crises envolvendo a pandemia. Diante das denúncias de violação da prioridade na vacinação, a Justiça Federal exigiu que a prefeitura manauara divulgue diariamente a lista de vacinados e determinou que os fura-fila não recebam a segunda dose da vacina. (A Crítica)
Após quatro dias viajando por algumas das piores estradas do país, chegaram ontem a Manaus seis carretas vindas de Roraima transportando 160 mil m3 de oxigênio – o suficiente para dois dias da atual demanda no estado. Em apenas oito dias, o Amazonas registrou mais mil mortes pela doença, incluindo quem morreu asfixiado. Desde o início da pandemia até o último dia 15, haviam sido 6.043 óbitos. Pelos números divulgados neste sábado, eram 7.051. (A Crítica)
Mas o colapso não está mais restrito ao Amazonas. O governador de Rondônia, Marcos Rocha (PSL), pediu o envio de mais médicos ao estado e anunciou a transferência de doentes para outras unidades da Federação.
Em todo o país já foram registrados 8,8 milhões de casos de Covid-19 e mais de 217 mil mortes. Somente no domingo foram 606 óbitos, lembrando que costuma haver subnotificação nos fins de semana, corrigida nos dias úteis seguintes. Em oito estados há tendência de alta nas mortes: MG, GO, MT, AM, RO, RR, TO e AL.
No Rio, o MP investiga contratos suspeitos assinados pelo governador afastado Wilson Witzel com base na “Lei Covid”. São respiradores que não funcionam, testes de coronavírus rejeitados e outros equipamentos guardados em galpões que custam R$ 1 milhão por mês.
E começaram a ser distribuídas ontem as doses da vacina de Oxford/AstraZeneca importadas pela Fiocruz.
Mas a vacina que deu o que falar por aqui no fim de semana foi a da Pfizer. Na sexta-feira, a CNN Brasil informou que o CEO mundial do laboratório, Abert Bourla, havia escrito a Bolsonaro em setembro pedindo pressa nas negociações para venda do imunizante a fim de garantir a entrega diante da demanda de outros países. Não obteve resposta.
No sábado, o Ministério da Saúde divulgou uma nota dura, dizendo que a Pfizer buscava uma “conquista de marketing” e mencionando a necessidade armazenar a vacina a uma temperatura de -70ºC. Para especialistas, a resposta do governo demonstrou inabilidade e pode afastar outras empresas. (Estadão)
Então... Em Israel, que adotou a vacina da Pfizer e já imunizou 25% de sua população, a internação de pessoas com mais 60 anos por Covid caiu mais de 60% desde o início da vacinação. O país começou a imunizar jovens entre 16 e 18 anos para evitar contaminação durante os exames vestibulares.
Painel: “Empresas privadas brasileiras negociam com o governo uma autorização para importar 33 milhões de doses da vacina de Oxford/Aztrazeneca. O plano é que a pasta edite um ato descrevendo as condições para a liberação. Pelo acordo em andamento, metade do total dos imunizantes seria doado ao SUS. O restante iria para funcionários e familiares das companhias que fazem parte da negociação (Vale, Gerdau, JBS, OI, Vivo, Ambev, Petrobrás, Santander, Itaú, Claro, Whirlpool e ADN Liga, entre outras).” (Folha)
E o Reino Unido anunciou ter detectado pelo menos 77 casos de Covid-19 provocados pela variante sul-africana do Sars-Cov-2 e nove pela mutação amazonense. O governo pediu reforço no isolamento social pois ainda não há certeza de que as vacinas em uso são eficientes contra essas variantes.
Numa eleição marcada pelas rígidas normas de isolamento social, Marcelo Rebelo reelegeu-se presidente de Portugal no primeiro turno, com 61,1% dos votos. A abstenção de 60% foi recorde, mas esperada, devido à pandemia. (Público)
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