sexta-feira, 8 de janeiro de 2021

Donald Trump quer conceder um perdão presidencial preventivo a si mesmo

 Donald Trump apostou alto ao insuflar seus apoiadores, culminando com a invasão do Congresso na quarta-feira. Perdeu e agora tenta salvar o que resta de seu mandato. Dois sinais são claros. O primeiro foi um vídeo com o tardio reconhecimento da derrota para Joe Biden e o anúncio de uma “transição ordeira” para o próximo governo. O outro, a discussão com aliados e advogados sobre a possibilidade de conceder um perdão presidencial preventivo a si mesmo, de modo a não poder ser processado no futuro.

A preocupação dele não é infundada. Michael Sherwin procurador-geral federal em Washington disse que sua equipe está investigando todos os envolvidos, não apenas os que invadiram o prédio. Indagado se isso incluía o presidente, Sherwin enfatizou “todos” e disse: “Se as provas indicarem crime, eles serão processados”. Enquanto isso, mais e mais líderes democratas e vários republicanos pedem que o vice-presidente Mike Pence invoque a 25ª Emenda da Constituição e destitua Trump, mas pessoas ligadas a Pence dizem que ele é contra a ideia. (New York Times)

E o Wall Street Journal, um dos bastiões do conservadorismo nos EUA, pediu em editorial que Trump renuncie.

A leniência com (ou mesmo o apoio aos) atos de vandalismo foi demais até para colaboradores leais do presidente americano. Duas secretárias (ministras), Elaine Chao (Transportes) e Betsy DeVos (Educação), pediram demissão, juntamente com pelo menos dez outros funcionários de alto escalão. Quem também anunciou a saída foi Steven Sund, chefe de polícia do Congresso, duramente criticado pela resposta tímida ao ataque da turba. (CNN)

E Trump foi banido do Facebook e do Instagram, pelo menos até Biden assumir. “Acreditamos que os riscos de permitir que o presidente continue a usar nosso serviço durante este período são simplesmente grandes demais”, disse Mark Zuckerberg. A plataforma - junto com outras redes sociais, como Twitter e Snapchat - já havia bloqueado por 24 horas as contas do presidente americano após ele incitar a invasão ao Capitólio na quarta. O Twitter ainda ameaçou Trump de ser banido definitivamente se não parar de violar regras da plataforma com suas falsas alegações de que a eleição foi fraudada, mas já liberou novamente seu perfil. O Twitch já foi mais direto e desativou a conta de Trump.

Poderosos ou anônimos, alguns apoiadores de Trump começaram a sofrer consequências dos acontecimentos de quarta-feira. A editora Simon & Schuster cancelou o contrato para lançamento do livro The Tyranny of Big Tech, do senador republicano pelo Missouri Josh Hawley, previsto para junho. Além de questionar o resultado do voto popular, Hawley é acusado de ter incitado a turba que invadiu o Capitólio. Já um dos invasores foi fotografado dentro do Congresso com o crachá de uma empresa de marketing direto sediada em Maryland. Ele ontem foi demitido por justa causa.

Paul Krugman: “Então podemos finalmente usar a palavra com F? Não se deve utilizar levianamente o termo ‘fascista’. Não significa ‘gente de quem eu discordo’ nem é um sinônimo para ‘maus atores políticos’. Donald Trump é, de fato, um fascista – um autoritário disposto a usar de violência para atingir seus objetivos racistas e nacionalistas. Assim como muitos de seus apoiadores. Se você ainda tinha dúvidas, o ataque ao Congresso deve tê-las desfeito. E se a História nos ensina algo sobre como lidar com fascistas, é que o apaziguamento é inútil. Ceder a fascistas não os apazigua, apenas os encoraja a avançar mais.” (New York Times)




Meio em vídeo. Se aquilo aconteceu na mais antiga democracia do mundo, uma das mais estáveis do mundo, nos Estados Unidos, então, pode acontecer em qualquer lugar. Pode acontecer aqui. Porque quando uma turba invade o Congresso incitada pelo presidente, é a própria democracia que está ameaçada. E, neste momento, nossos deputados e senadores estão decidindo se suas Casas serão presididas por um nome deles — ou um daquele que está no Planalto. Nesta edição extra do Ponto de Partida, Pedro Doria faz uma análise da invasão dos manifestantes pró-Trump ao Capitólio, o Congresso dos Estados Unidos. Veja no Youtube.




Ao comentar os atos de vandalismo em Washington, o presidente Jair Bolsonaro fez uma ameaça nada velada à democracia. “Aqui no Brasil, se tivermos o voto eletrônico em 22, vai ser a mesma coisa. A fraude existe, a imprensa vai falar ‘sem provas’, mas a fraude existe”, disse ele a apoiadores na porta do Palácio do Planalto. Mais uma vez sem apresentar qualquer prova, ele afirmou ter havido fraude nas últimas eleições americanas e até no pleito que o elegeu, em 2018.

Rodrigo Maia (DEM-RJ), presidente da Câmara, reagiu, dizendo que Bolsonaro supera os “delírios e devaneios” de Donald Trump. No Twitter, o deputado disse que a “frase do presidente Bolsonaro é um ataque direto e gravíssimo ao TSE e seus juízes” e que “os partidos políticos deveriam acionar a Justiça para que o presidente se explique”.

Já o presidente do TSE, ministro Luís Roberto Barroso, afirmou que o tribunal lida com “fatos e provas”. Em nota, ele disse que provas de eventuais fraudes devem ser “apresentadas por vias próprias” para serem examinadas pela corte “com toda a seriedade”. Apesar de repetir a acusações de fraudes em eleições brasileiras em função da urna eletrônica, Bolsonaro jamais apresentou alguma evidência delas.

Quem também relacionou as cenas de vandalismo em Washington à situação política brasileira foi o ministro do STF Edison Fachin, que comandará o TSE em 2022. Para ele, os acontecimentos nos EUA devem “colocar em alerta” a democracia brasileira.




Com o início em dezembro do processo de impeachment, o governador afastado do Rio, Wilson Witzel, deveria ter seu salário reduzido em um terço. Além do corte não ter sido feito, ele acaba de receber um aumento de 11%, beneficiado pelo reajuste que o governador em exercício, Cláudio Castro, concedeu a si mesmo e a seus secretários. A defesa de Witzel disse que ele devolverá o terço do salário recebido indevidamente, mas não comentou o aumento.




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