Um ano depois da primeira morte conhecida em Wuhan, na China, provocada pelo novo coronavírus, os casos mundiais ultrapassaram 90 milhões e o número de mortes está prestes a bater dois milhões. Enquanto as nações do mundo lutam para adquirir vacinas, as mutações descobertas inicialmente no Reino Unido e na África do Sul estão se espalhando rapidamente —uma terceira cepa, considerada também mais contagiosa que a original, foi identificada pelo Japão em pessoas que chegaram do Brasil. A expansão descontrolada do novo vírus e as estratégias de vacinação desenhadas por muitos países têm preocupado especialistas. Uma delas é aumentar o intervalo entre a administração da primeira e da segunda dose da imunização, como quer o ministro da Saúde do Brasil, Eduardo Pazuello, que anunciou nesta segunda-feira que o Governo Bolsonaro vai priorizar a aplicação da primeira dose para o maior número de pessoas possível. Para os especialistas, isso poderia ter o efeito de um caldo de cultivo para novas variantes resistentes do coronavírus. Eles acreditam que esperar três meses entre uma dose e a outra pode fazer as defesas se enfraquecerem o suficiente para que o vírus aprenda a vencê-las. “Permitir que o vírus circule de maneira descontrolada, acumulando diversidade genética, e depois proteger de maneira incompleta a população com as vacinas é o que alguém faria para gerar mutantes resistentes às vacinas”, adverte Paul Bieniasz, um virologista da Universidade Rockefeller (Estados Unidos). Diante de um quadro de atrasos e incertezas, nos aproximamos cada vez mais de completar um ano nas trincheiras contra a covid-19. Tanta tensão passa uma fatura. A fadiga é uma das consequências mais incômodas e inesperadas da atual pandemia. Estamos esgotados. E por muitos motivos. A Organização Mundial da Saúde (OMS) denominou de fadiga pandêmica o cansaço derivado do esgotamento gerado pela hipervigilância e pelo medo de um vírus que ninguém vê. O cansaço pode nos levar a relaxarmos as medidas preventivas, mas para isso há remédio. Pilar Jericó ouviu especialistas que recomendam algumas práticas relacionadas ao bem-estar e ao cuidado pessoal para combater a exaustão. Nos EUA, a trincheira é dupla. Além da pandemia, a crise política. Nesta segunda, os democratas deram o primeiro passo para iniciar o quarto processo de impeachment da história dos Estados Unidos, o segundo contra Donald Trump, com a apresentação do documento de acusação na Câmara dos Representantes. A resolução atribui ao presidente o crime de “incitamento à insurreição” por seu papel no violento assalto ao Congresso realizado em 6 de janeiro. A revolta, que custou a vida de cinco pessoas, mergulhou o país em uma turbulência sem precedentes na história recente, a apenas 10 dias da troca de Governo. O colunista Oliver Stuenkel analisa como o colapso da União Soviética eliminou a ameaça existencial que ajudava a estabilizar a política norte-americana. "Carente do grande projeto nacional de derrotar o comunismo, a política começou a priorizar intrigas que apequenaram a elite política dos EUA", avalia. Os perigos da polarização não estão apenas nos EUA. Ameaças de neonazistas a vereadoras negras e trans alarmam e expõem avanço do extremismo no Brasil. Ataques contra vereadoras de várias cidades ocorreram no mês de dezembro. A polícia ainda busca autores. As vítimas relatam uma rotina de medo. “A violência não é só objetiva. A violência política acompanha a minha trajetória e a das outras vereadoras ameaçadas, com barreiras que vão se criando para que a gente não tenha êxito. Nenhuma mulher deveria enfrentar tanta coisa para exercer um direito básico da democracia”, contou a vereadora Carol Dartora, primeira vereadora negra eleita nos 327 anos da Câmara Municipal de Curitiba, ao EL PAÍS. | |||||
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