quinta-feira, 21 de janeiro de 2021

Análise de Mídia - 21/01/2021

 

DOS JORNAIS DE HOJE: Os veículos de imprensa continuam chamando atenção para os erros do governo federal no combate à pandemia. Embora as capas de todos os jornais destaquem a posse de Joe Biden nos EUA, o noticiário nacional continua concentrado na pandemia, eleição do Congresso e na possibilidade crescente do impeachment de Jair Bolsonaro. O ministro das Relações Exteriores entrou na berlinda e está sendo criticado de todos os lados. O Valor informa que até ministros do governo querem a demissão de Ernesto Araújo.
Na Folha, o editorial do jornal chama o ministro de “estorvo”. Além disso, a Folha mostra que a defesa do uso de cloroquina como tratamento precoce para o coronavírus continua a ser defendido pelo Ministério da Saúde. Essa notícia foi publicada por todos os jornais, com destaque para a informação de que o app da Saúde recomenda o uso até para bebês. Ainda sobre a pandemia, mas com relação aos crimes cometidos por Jair Bolsonaro durante esse período, a Folha e os outros jornais publicam as reações ao posicionamento que o PGR assumiu com relação a investigar o presidente. Outra reportagem que também teve versões em todos os jornais é sobre a nova exaltação das Forças Armadas feita por Jair Bolsonaro. Pressionado, o presidente busca a tranquilidade do mundo militar no qual autoridades não são questionadas, apenas ouvidas e obedecidas.
Sobre a pandemia, especificamente, a Folha de S. Paulo informa que os militares estão preocupados com a situação em cidades do Norte do país e que têm cobrado o ministro da Saúde. O mesmo jornal publica reportagem sobre levantamento feito pelo MPF que investiga a falta de oxigênio no Amazonas. As investigações mostram que sem qualquer explicação o Ministério da Saúde parou de enviar aviões com oxigênio para o Estado. Já a coluna Mônica Bergamo mostra que o ministro da Justiça pede investigação contra mais um crítico do ex-presidente, dessa vez da CNN.
O jornal O Globo segue a mesma toada da Folha, mas muito menos recheado de conteúdo. Em sua coluna, Merval Pereira critica a posição isolada do Brasil no mundo e traz o Partido dos Trabalhadores para criticar Jair Bolsonaro. Merval diz que Bolsonaro põe em curso uma política internacional com mais ideologia do que a do PT.
No Estadão não é diferente. O editorial do jornal afirma haver motivo para o impeachment de Jair Bolsonaro que chegou ao poder por se apresentar como o único capaz de derrotar o PT. O Estadão informa que a covid fez multiplicar o número de pedidos de impeachment.
O Valor Econômico, por sua vez, informa sobre as disputas internas do governo e aponta que o setor industrial está cada vez mais irritado com a forma como o governo Bolsonaro enxerga o Brasil.

 

CAPA – Manchete principal: *”Em posse, Biden exorta democracia e valor da verdade sobre mentiras”*

EDITORIAL DA FOLHA - *”Araújo, o estorvo”*: O chanceler Ernesto Araújo parece ter sido agraciado com o dom da profecia. Em outubro, ao discursar numa cerimônia de formatura de diplomatas no Instituto Rio Branco, o ministro das Relações Exteriores admitiu que o Brasil poderia se tornar um “pária internacional”. No tortuoso raciocínio do chanceler, isso seria positivo, pois ocorreria como resultado da defesa intransigente que o país faz da liberdade contra o globalismo. No mundo real, o Brasil de fato virou pária, mas por causa da incompetência do governo, notadamente a do Itamaraty, que, contrariando uma longa tradição de diplomacia profissional e voltada para objetivos estratégicos, virou uma caixa de ressonância dos piores desvarios ideológicos do presidente Jair Bolsonaro e de sua família. Essa decadência poderia ter sido apenas lamentável, mas agora é também trágica, porque, em meio à pandemia e à intensa competição de países por recursos médicos escassos, a diplomacia se converte em peça-chave para que se obtenham vacinas e outros insumos. Basicamente, não poderia haver momento pior para ser um pária. Não bastasse o erro estratégico do isolamento, o Itamaraty segue falhando nas decisões pontuais.
Quando se fala em insumos médicos, dois países são os mais relevantes —China e Índia. É dessas duas nações que o Brasil agora depende para conseguir os imunizantes e outros produtos que nos permitirão superar a epidemia. Temos contratos de fornecimento já firmados, mas que dependem de uma certa boa vontade das autoridades locais para que as remessas sejam despachadas sem delongas. A família Bolsonaro passou os últimos meses antagonizando Pequim e responsabilizando os chineses pelo novo coronavírus. O ministro Araújo, em vez de tentar relativizar declarações inconsequentes de políticos, fez coro a elas. Obviamente, tornou-se carta fora do baralho na relação com o principal parceiro comercial do Brasil. Existem canais de comunicação alternativos, que passam pela Vice-Presidência, pelo Ministério da Agricultura e até pelo estado de São Paulo. Mas não poder contar com o Itamaraty significa que o chanceler se tornou um ônus. Essa condição de estorvo se faz ainda mais evidente com a saída de Donald Trump da Casa Branca. Nesse cenário, remover Araújo decerto não basta para reposicionar a diplomacia do país; trata-se, porém, de medida imprescindível.

GABRIELA PRIOLI - *”Bolsonaro sequestrou o Brasil”*: Como presente de aniversário, eu gostaria que me dessem de volta a realidade como pauta. A discussão política foi sequestrada pelo delírio, e estamos todos exaustos. Mesmo quando o dia é de uma rara boa notícia, como foi o último domingo, não temos chance: a insanidade nos absorve. O nosso ministro da Saúde ficou frustrado, bravo mesmo, nem sequer comemorou o início da vacinação. Se isso não é sintoma da alucinação, não sei mais nada.
Respiramos fundo e tentamos fincar de volta os pés na realidade: temos uma vacina, mas para vacinar o nosso povo precisamos de agulhas e seringas. O momento é complexo, o mundo todo busca os mesmos insumos e, por isso, eles se tornam escassos. A realidade bastaria, mas nós temos o nosso desvario. O pai do Eduardo ficou bravo porque o embaixador da China respondeu ao seu filho mal-educado no Twitter e o governo perdeu a capacidade de interlocução. O povo brasileiro, que já enfrenta há anos a crise econômica que se agrava em virtude da pandemia e que enfrentou o negacionismo na saúde, enfrentará agora uma maior dificuldade no seu plano (que plano?) de imunização porque o filho do Jair arrumou briga nas redes sociais. Chega. Precisamos falar de outro assunto. Nesta quarta (20) tivemos a posse de Joe Biden nos EUA. Trump perdeu. Perde o negacionismo, o autoritarismo. O Brasil pode perder também, porque o Jair, que senta na cadeira da Presidência, decidiu não só fazer campanha em favor da reeleição do agora perdedor como saiu por aí falando que a eleição estadunidense foi fraudada. A realidade nos assusta com as possíveis sanções decorrentes do desvario. Em 2020, a Amazônia teve a maior taxa de desmatamento dos últimos dez anos. Jair nega, com alicerce nas vozes da sua cabeça. E não há com o que se preocupar, diz nosso chefe de Estado: "quando acaba a saliva, tem que ter pólvora!". A alucinação sequestrou o debate no Brasil. Logo aqui, que a gente tem tanta realidade para resolver.

MARIA HERMÍNIA TAVARES - *”Freios políticos em bom estado sustentam a democracia”*: No dia em que portadores da Covid-19 em Manaus começaram a morrer asfixiados por falta de oxigênio, Jair Bolsonaro participou, sem máscara, de uma festinha de aniversário no Clube Naval de Brasília. Apostou contra a imunização e, quando a vacina do Butantan, finalmente aprovada, começou a ser produzida, fez pouco de sua eficácia. O país entrou em 2021 com repique da pandemia e nenhuma iniciativa federal para contê-la ou reduzir seu impacto devastador na vida da população mais pobre e na atividade das empresas. Em cada área de atuação do governo federal —educação, ambiente, segurança, economia, política exterior—, incompetência e irresponsabilidade se deram as mãos. Nas suas muitas horas vagas, o presidente se ocupa alimentando suspeitas sobre as instituições eleitorais e soltando disparates sobre as Forças Armadas e a democracia. Comprova, dia sim, o outro também, que, além de não ter nem aptidão, nem ânimo para governar, abomina os valores e as regras do sistema. Mas, como lembrou o ex-ministro do Supremo Tribunal Federal Carlos Ayres Britto, em entrevista a esta Folha, "o regime democrático é para impedir que um governante subjetivamente autoritário possa emplacar um governo objetivamente autoritário". Desse ponto de vista, as coisas estão funcionando.
De acordo com levantamento recente do jornal O Estado de S. Paulo, nos dois últimos anos o Executivo federal sofreu 33 derrotas no STF em ações iniciadas por partidos de oposição, questionando nomeações, decretos e outros atos administrativos. Da mesma forma, até este Congresso —de maioria francamente conservadora— engavetou às pencas medidas provisórias vindas do Palácio do Planalto. Nada menos de 64 perderam a vigência sem ser apreciadas e quatro diretamente rejeitadas, ante 58 convertidas em lei —algo inédito desde que a Constituição de 1988 entregou ao titular do governo esse poderoso instrumento legislativo. No combate à Covid-19, muitos governadores desempenharam papel de contrapeso ao presidente, alheio ao que importa e dedicado a estimular os piores impulsos de seus ainda muitos apoiadores. Do lado da sociedade, também se destaca a disposição da grande imprensa de monitorar os governantes e das organizações sociais de denunciar seus malfeitos. Com o mandato a meio caminho, só é possível esperar de Bolsonaro mais do mesmo. Eis por que, do estado desses freios que sustentam o sistema democrático —contra as piores intenções do ex-capitão— continuará dependendo sua sorte e a possibilidade de que os eleitores sigam tendo a chance de decidir com liberdade.

PAINEL - *”Capitã da cloroquina foi escolha de bolsonaristas no governo e ganhou protagonismo com Pazuello”*: Na linha de frente do time de Eduardo Pazuello, a médica Mayra Pinheiro é o principal nome do Ministério da Saúde por trás das incessantes recomendações de remédios sem eficácia contra a Covid-19, como hidroxicloroquina e cloroquina. Partiram dela a força-tarefa de Manaus para incentivar o uso dos medicamentos, o ofício que afirma ser inadmissível a não utilização dessas drogas e também o TrateCov, página na internet que orienta a administração de cloroquina e antibióticos até para dor de barriga de bebê. Secretária de gestão do Trabalho e da Educação na Saúde, ela foi nomeada em janeiro de 2019, quando Luiz Henrique Mandetta era o ministro. Ele diz que ela foi uma escolha ideológica do governo, que teve apoio durante as eleições dessa ala politicamente mais radical, à direita, da medicina brasileira.
Mandetta afirma que sempre a considerou tecnicamente inferior aos demais e por isso deu a ela poucas atribuições, em um cargo de "menor valência". E que todos os projetos passados a ela eram em parceria, para que fosse monitorada. Secretários de Saúde ouvidos pelo Painel reclamam há algum tempo da presença dela no ministério. Mayra foi alçada ao protagonismo por Pazuello, que lhe encarregou de liderar ações do governo federal em Manaus desde o começo de janeiro. Em entrevista ao lado do governador Wilson Lima (PSC), defendeu explicitamente o uso da cloroquina, “a despeito da imprensa”, que, segundo ela, “desinforma”. No começo dessa entrevista, ela se diz representante de Pazuello, que duas semanas depois diria que a pasta não tem protocolo sobre uso de medicamentos como a hidroxicloquina contra a Covid-19 —o que não corresponde à realidade. Em maio, ela declarou que profissionais de saúde que se recusassem a disponibilizar cloroquina para seus pacientes poderiam ser julgados por omissão de socorro.
Mayra é a ponte do governo federal com grupo de médicos defensores dos fármacos sem eficácia comprovada contra a Covid-19. Ela que convidou aproximadamente dez deles em nome do Ministério da Saúde, pagando diárias de hotel e hospedagem, para fazerem ronda nas UBSs de Manaus e reforçaram aos profissionais de saúde que deveriam ministrar hidroxicloroquina e ivermectina para seus pacientes com coronavírus, como revelou o Painel. Ela ganhou holofotes pela primeira vez em 2013, quando foi até aeroporto hostilizar cubanos que participavam de curso do programa Mais Médicos. Juristas consultados pela Folha listam uma série de crimes em que a conduta de Mayra pode ser enquadrada. Para Conrado Hübner Mendes, professor de direito constitucional da Universidade de São Paulo (USP), o enquadramento mais preciso seria o crime de expor a vida ou a saúde de alguém a perigo, artigo 132 do Código Penal. "Nesse caso, é preciso demonstrar que a conduta gerou um risco concreto ao paciente, e isso gera duas situações: 1) o medicamento tem riscos e pode gerar efeitos colaterais, conforme já se demonstrou na literatura; 2) é preciso verificar se ministrou cloroquina, ou se deu prioridade à cloroquina no lugar de outro tratamento que fosse mais apropriado e com menor risco", diz Mendes.
Ele afirma que há divergência entre penalistas sobre o tema, mas que é possível sustentar, inclusive, na ocorrência de mortes pela ingestão desses medicamentos por influência de algum projeto de Mayra como o TrateCov, que houve homicídio culposo. Para Rafael Mafei Rabelo Queiroz, professor do departamento de Filosofia e Teoria Geral do Direito da USP, uma hipótese de enquadramento penal seria o crime de violação de determinação de autoridade sanitária, artigo 268 do Código Penal. "É como se o agente público dissesse: 'fique à vontade para não observar o distanciamento porque na hipótese de contaminação o tratamento precoce estará disponível'", explica. "Não é a simples promoção de um tratamento precoce que é enganoso. É a promoção desse tratamento com o desencorajamento permanente das medidas sanitárias, como se ele fosse uma alternativa para quem se contamina", completa. Nesse caso, diz, seria necessário provar que ela agiu com deliberada intenção de incitar o descumprimento de medidas sanitárias através da promoção de um enganoso tratamento precoce. Mafei também afirma que alguém que venha a ter algum problema de saúde devido à utilização da plataforma TrateCov pode responsabilizar civilmente o poder público. Eles concordam que, na esfera extra-penal, os projetos de Mayra podem desembocar em processos por improbidade administrativa também.

PAINEL - *”Sem ações do governo Bolsonaro, entidades organizam campanha independente pela vacinação”*: Diante da falta de ações do governo Bolsonaro, entidades decidiram organizar campanha independente pela vacinação contra a Covid-19. A “Abrace a Vacina” afirma ter o objetivo de informar setores da sociedade que, influenciados por notícias falsas, se mostram reticentes a tomar vacina. O Ministério da Saúde até agora não colocou nenhuma propaganda na rua.

PAINEL - *”TCU aprova abertura de fiscalização contra Pazuello com apoio de ex-ministro de Bolsonaro”*: O TCU aprovou nesta quarta (20) abertura de fiscalização contra o Ministério da Saúde sobre a falta de oxigênio em Manaus. A decisão teve voto do estreante do tribunal, Jorge Oliveira, ex-ministro de Bolsonaro.

PAINEL - *”Tribunal de Contas de SP implementa auxílio-saúde para conselheiros ao custo de R$ 500 mil por ano”*
PAINEL - *”Cumprimentos de Maia e Alcolumbre a Biden nas redes sociais refletem estilo de suas gestões”*
PAINEL - *”Comissão recomenda que judiciário e órgãos de governo evitem interferir nos preços dos produtos durante pandemia”*

*”Subprocuradores rebatem Aras e dizem que é atribuição da PGR investigar presidente da República”* - Integrantes do Conselho Superior do MPF (Ministério Público Federal) rebateram nesta quarta-feira (20) a nota em que a PGR (Procuradoria-Geral da República) afirmou ser competência do Legislativo a responsabilização da cúpula dos Poderes por eventuais ilícitos no enfrentamento da Covid-19, o que inclui o presidente Jair Bolsonaro (sem partido). Criticaram também Bolsonaro pela recente declaração que fez sobre as Forças Armadas decidirem se o país terá ou não democracia. E classificaram a fala de “clara afronta à Constituição”. Ministros do STF (Supremo Tribunal Federal) ouvidos sob reserva, por sua vez, disseram que o texto da PGR não se alinha ao que prega o texto constitucional. Isso porque, ao se eximir de responsabilizar autoridades, a Procuradoria abre mão de um dos principais poderes da instituição, que é o de ser fiscal da lei.
O texto divulgado pela PGR nesta terça-feira (19) e que motivou críticas no meio jurídico e político afirmou ainda que o estado de calamidade pública que o país enfrenta atualmente em razão da pandemia do coronavírus é “a antessala do estado de defesa”. Na avaliação de dois integrantes do STF, não há motivo para o procurador-geral da República, Augusto Aras, mencionar a possibilidade de decretação de estado de defesa. Para eles, apesar da crise de saúde, o estado de calamidade pública tem sido suficiente para o país enfrentar os problemas no combate à Covid-19. A análise de um dos ministros é que a nota de Aras foi mais uma sinalização em direção a Bolsonaro a fim de pavimentar o caminho para ser indicado ao Supremo. Em nota divulgada nesta quarta, seis subprocuradores-gerais da República que compõem o Conselho Superior do MPF afirmaram que investigar autoridades é atribuição de quem exerce as funções de procurador-geral da República. "Referida nota [da PGR] parece não considerar a atribuição para a persecução penal de crimes comuns e de responsabilidade da competência do Supremo Tribunal Federal”, afirmaram os subprocuradores. “Tratando-se, portanto, de função constitucionalmente conferida ao procurador-geral da República, cujo cargo é dotado de independência funcional."
O conselho é a instância máxima de deliberação administrativa na estrutura do Ministério Público Federal.Foi nesse colegiado que Aras, no ano passado, foi cobrado pelas críticas que desferiu às forças-tarefas da Lava Jato, em especial ao grupo de Curitiba. O repúdio à nota da PGR foi assinado por José Adonis Callou, José Bonifácio, José Elaeres, Luiza Frischeisen, Mário Bonsaglia e Nicolao Dino. Alguns deles tiveram os nomes incluídos, por votação interna, em listas tríplices para indicação ao posto de PGR. Aras foi uma escolha do presidente Bolsonaro fora dessa seleção. O chefe do Executivo já declarou que o atual PGR é nome “forte” para assumir vaga no Supremo. A nota da PGR desta terça foi uma resposta, segundo o texto, a “segmentos políticos” que “clamam por medidas criminais contra autoridades federais, estaduais e municipais”. Com a crise de desabastecimento de oxigênio medicinal no Amazonas, intensificaram-se as cobranças para que Aras investigue Bolsonaro e outras autoridades, entre elas o ministro da Saúde, Eduardo Pazuello.
Aras tem respondido a interlocutores que cabe a ele investigar o presidente em casos de crime comum, mas o crime de responsabilidade é atribuição do Legislativo. “O Ministério Público Federal e, no particular, o procurador-geral da República precisa cumprir o seu papel de defesa da ordem jurídica, do regime democrático e de titular da persecução penal, devendo adotar as necessárias medidas investigativas”, defenderam os seis subprocuradores. “Sem excluir previamente, antes de qualquer apuração, as autoridades que respondem perante o Supremo Tribunal Federal, por eventuais crimes comuns ou de responsabilidade (CF, art. 102, I, b e c)", acrescenta a nota. O texto do artigo mencionado diz que compete ao STF (Supremo Tribunal Federal) “processar e julgar, originariamente, nas infrações penais comuns, o presidente da República, o vice-presidente, os membros do Congresso Nacional, seus próprios ministros e o procurador-geral da República”. E, nas infrações penais comuns e nos crimes de responsabilidade, os ministros de Estado e os comandantes da Marinha, do Exército e da Aeronáutica, além de integrantes dos tribunais superiores, do TCU (Tribunal de Contas da União) e chefes de missão diplomática. Os subprocuradores afirmaram na nota de repúdio que, em cenário mundial em que se busca a adoção de medidas de prevenção e de emprego de recursos e estudos para produção de vacinas, o Brasil vive realidade diversa, como se verificou, por exemplo, no desabastecimento de oxigênio medicinal no Amazonas.
Além da debilidade da coordenação nacional de ações para enfrentamento da pandemia, disseram ainda os autores, o país assiste ao comportamento incomum de autoridades, revelado na divulgação de informações em descompasso com orientações científicas, na defesa de tratamentos preventivos sem comprovação médica. A ANPR, entidade que representa a categoria de procuradores da República, também se manifestou em nota. A associação afirmou que cabe ao MPF e a todos seus integrantes “a defesa contínua e intransigente da democracia e dos seus valores”. “Qualquer alusão, no atual estágio da democracia brasileira, a estados de exceção, inclusive aqueles previstos na própria Constituição, como os estados de sítio e de defesa, se mostra absolutamente desarrazoada”, afirmou a associação. A entidade disse que compete ao Ministério Público a prerrogativa “inafastável” de investigar a prática de crimes e processar os acusados, inclusive aqueles que são praticados, por conduta ativa ou omissiva, por autoridades públicas sujeitas a foro especial.
Em defesa de sua atuação, a PGR informou que vem adotando as providências cabíveis dentro de suas atribuições e de acordo com decisões do STF sobre as competências das esferas federal, estadual e municipal. Entre as providências, criou o Giac (Gabinete Integrado de Acompanhamento da Epidemia Covid-19), que tem a missão de buscar o diálogo e integração entre segmentos da sociedade e autoridades para a solução de questões emergenciais, como a falta de oxigênio medicinal na rede de saúde do Amazonas. A Procuradoria tem realizado também, segundo a assessoria de Aras, a fiscalização de verbas destinadas ao enfrentamento da pandemia. Inquéritos criminais foram abertos contra oito governadores suspeitos de desvios, incluindo o governador do Amazonas, Wilson Lima (PSC). Um deles resultou no afastamento de outro governador, Wilson Witzel (PSC), do Rio de Janeiro. As medidas intensificaram-se nos últimos dias, diante do grave quadro registrado em Manaus. A PGR abriu investigação criminal contra autoridades estaduais e municipais do Amazonas por suposta omissão no caso do oxigênio. Em relação ao governo federal, as medidas foram de caráter administrativo: Aras pediu esclarecimentos sobre o caso ao ministro da Saúde e requisitou a instauração, pela pasta, de um inquérito epidemiológico e sanitário.

ANÁLISE - *”Aras avisa que vai aliviar para Bolsonaro, mas é o que insinua que preocupa”*

*”Sob Bolsonaro, 'o Planalto não vai comentar' vira padrão de resposta a perguntas de jornalistas”* - "Prezado, o Planalto não vai comentar." A frase, com algumas variações, é uma das respostas mais comuns —quando há respostas— a questionamentos feitos por jornalistas de veículos nacionais e estrangeiros à Secretaria Especial de Comunicação Social da Presidência da República, a Secom. O órgão, que entre outras funções faz a assessoria de imprensa do presidente da República, já pertenceu à estrutura da Secretaria de Governo na atual administração, mas agora está oficialmente sob o guarda-chuva do Ministério das Comunicações. A Secom é comandada pelo secretário-executivo do ministério, Fabio Wajngarten. Levantamento feito pela Folha com base em de demandas de seus repórteres em Brasília à Secom ao longo de 2020 encontrou ao menos 36 emails com 92 perguntas ou pedidos de manifestação do presidente ou do governo. Deste total de mensagens encaminhadas, 20 não foram respondidas e, nas outras 16, o retorno era de que não seria feito qualquer comentário. Em 17 de abril, por exemplo, após Bolsonaro ter mencionado em duas ocasiões uma suposta pesquisa que indicava que 50% dos prefeitos brasileiros eram favoráveis à reabertura do comércio em meio à pandemia de Covid-19, a Folha pediu que a Secom indicasse o artigo ao qual o chefe do Executivo se referia. "Prezado jornalista, o Planalto não comentará. Atenciosamente, Secom/PR", foi a resposta.
Em 6 de maio, solicitou-se informações a respeito das regras para a gravação de reuniões ministeriais, assunto que ganhou relevância depois que o ex-ministro Sergio Moro acusou Bolsonaro de querer interferir na Polícia Federal e citou encontro de 22 de abril. A reportagem recebeu a mesma reposta dada à outra demanda. Jornalistas de outros veículos nacionais e internacionais também relataram, reservadamente, casos em que não tiveram perguntas respondidas pelo Planalto. No início do governo, o Executivo contava com um porta-voz, o general Otávio Rêgo Barros. Além de ler boletins, o militar respondia diariamente perguntas dos jornalistas. Com o destaque na mídia, Bolsonaro colocou o general na geladeira até que, em outubro do ano passado, oficializou a saída de Rêgo Barros. Procurado, o general disse que não se sentia confortável em fazer comentários envolvendo o governo. Quando a Secom estava sob a Secretaria de Governo do general Carlos Alberto dos Santos Cruz, Bolsonaro promovia periodicamente cafés da manhã com a imprensa. A prática foi interrompida ainda em 2019, depois que o presidente usou um termo pejorativo para se referir aos nordestinos. Sem o porta-voz e os cafés da manhã, o presidente passou a falar na entrada do Palácio da Alvorada. Porém, diante de perguntas que considerava incômodas ou manchetes do dia que não considerava favoráveis ao governo, Bolsonaro agredia verbalmente jornalistas, mandando-os, por exemplo, calar a boca.
O comportamento do presidente incitava seus apoiadores a xingar jornalistas. A hostilidade ascendeu a um ponto em que os principais veículos de comunicação do país decidiram deixar a cobertura na porta do Alvorada para não expor seus profissionais ao risco de agressão física. Em agendas em que está mais próximo dos jornalistas, Bolsonaro se recusa a responder perguntas. Em agosto passado, ao ser questionado sobre cheques no total de R$ 89 mil que teriam sido depositados entre 2011 e 2016 pelo ex-assessor Fabrício Queiroz e pela esposa dele, Márcia Aguiar, na conta da primeira-dama, Michelle Bolsonaro, o presidente ameaçou um repórter. "Minha vontade é encher tua boca na porrada", reagiu Bolsonaro. Em declarações longe dos repórteres, o presidente segue hostilizando a imprensa. No dia 18 de dezembro, ao discursar em formatura de soldados da Polícia Militar do Rio de Janeiro, ele incitou a PM contra jornalistas. "Essa imprensa jamais estará do lado da verdade, da honra e da lei. Sempre estará contra vocês. Pensem dessa forma para poder agir", disse Bolsonaro. Ainda no início do segundo semestre de 2020, Bolsonaro parou de falar com os jornalistas e passou a levar seus apoiadores para o jardim do Alvorada, numa área interna da residência oficial, onde a presença da imprensa é vetada.
Uma página bolsonarista do YouTube, no entanto, tem autorização para entrar, gravar e fazer perguntas. O material editado é publicado no canal, que também veicula imagens de momentos em que o presidente está cercado apenas pela entourage palaciana, sem imprensa por perto. Na terça-feira (12), Tercio Arnaud Tomaz, assessor especial da Presidência da República e integrante do chamado "gabinete do ódio", passou a compartilhar em uma rede social trechos gravados pelo canal simpático a Bolsonaro antes mesmo que a página fizesse a publicação. "Não tenho informações privilegiadas de dentro do Planalto, do Congresso ou de onde quer que seja", disse Anderson Rossi, dono do canal, em uma nota publicada no vídeo de terça. O Planalto não se manifestou. As conversas com apoiadores têm trechos excluídos na publicação, mas sempre estão presentes as críticas de Bolsonaro à imprensa. "Não em perseguição da minha parte. Não existe perseguição para nenhum órgão de imprensa. Eles continuam livres, muitos extrapolando, mentindo, desinformando. E digo mais: eles não deturpam mais, eles mentem", disse Bolsonaro em uma das interações com a claque.
Durante a pandemia de Covid-19, o acesso a informações também foi dificultado. No início da crise, Bolsonaro não adotou a prática de outros chefes de Estado de, diariamente, repassar pessoalmente informações sobre a crise sanitária. Durante um tempo, esse papel coube ao então ministro da Saúde, Luiz Henrique Mandetta. Com o subordinado em evidência e defendendo práticas com as quais não concordava, como o distanciamento social, Bolsonaro levou as entrevistas coletivas do Ministério da Saúde para o Planalto. As perguntas passaram a ser em número limitado, e nunca foi explicado o critério de definição dos veículos que poderiam apresentar indagações. ​Sob alegação de que se trata de agenda pessoal, compromissos do presidente como viagens de lazer também não são informados à imprensa, mesmo que utilizem estrutura paga com dinheiro público. Em seu livro de memórias "Uma Terra Prometida", o ex-presidente dos Estados Unidos Barack Obama relata seu incômodo no início do governo com o pool de imprensa, grupo de repórteres e fotógrafos que precisava ser alertado toda vez que ele deixasse a Casa Branca e era transportado em uma van do próprio governo. Na obra, Obama conta que os jornalistas o acompanhavam até mesmo quando saía para jantar com sua esposa, Michelle, ou ía assistir aos jogos de futebol das filhas.
O americano diz que coube a seu secretário de imprensa à época, Robert Gibbs, lhe explicar que os movimentos de um presidente são notícia e que os jornalistas precisavam estar presentes caso algo importante acontecesse. "A falta de transparência é algo que limita o exercício da democracia", diz o vice-presidente da ABI (Associação Brasileira de Imprensa), Cid Benjamin. Para o general Santos Cruz, a relação de um governo com a imprensa deveria ser baseada no respeito e na transparência. "Isso é o mínimo que tem que ter, 100% de transparência. Você está lá para servir à população. Uma das maneiras de servir é informar. Isso não é favor, é obrigação. Tudo é com dinheiro público", afirma o ex-ministro, que deixou o governo em junho de 2019. "As coisas são muito simples, não precisa ter grandes estratégias para você ser honesto, transparente e educado." A Folha encaminhou à Secom em dezembro oito perguntas a respeito dos assuntos abordados nesta reportagem. Os questionamentos, porém, também não foram respondidos, elevando para 21 o número de mensagens ignoradas. Em 2021, a prática se manteve. Foram encaminhadas 10 perguntas, mas nenhuma foi respondida até a publicação desta reportagem.

*”Nós, militares, seguimos o norte indicado pela população, diz Bolsonaro a integrantes da FAB”* - Dois dias após dizer que quem decide sobre eventual democracia ou ditadura são as Forças Armadas, o presidente Jair Bolsonaro (sem partido) afirmou nesta quarta-feira (20) que os militares seguem o norte indicado pela população. Bolsonaro discursou para integrantes da FAB (Força Aérea Brasileira) na cerimônia alusiva ao 80º aniversário do Comando da Aeronáutica. "O Brasil vem experimentando mudança ao longo dos últimos dois anos. Uma das mais importantes: temos um presidente da República que, juntamente com seu Estado Maior, ministros, acreditam em Deus, respeitam os seus militares, fato raro nas últimas três décadas em nosso país", disse Bolsonaro. "E também deve lealdade absoluta ao seu povo. Nós, militares das Forças Armadas, seguimos o norte indicado pela nossa população. Nós nos orgulhamos disso. Eu me orgulho das Forças Armadas e assim diz nosso povo em todos os momentos que é chamado a falar sobre ela", afirmou o presidente em seu discurso.
Bolsonaro disse que a Força Aérea nasceu "combatendo o nazismo e o fascismo" durante a Segunda Guerra Mundial e que mostrou desde o início de que lado estava. "Estava do lado da democracia e da liberdade", afirmou. Em um trecho mais político de sua fala, Bolsonaro disse que, quando é atacado, "dependendo de onde vêm estes fogos, tenho certeza que estamos no caminho certo". "Eu prego e zelo pela união de todos, pelo entendimento, pela paz e pela harmonia. Mas os poucos setores que teimam remar em sentido contrário, tenho certeza, vocês perderão", afirmou. Bolsonaro disse ainda que as Forças Armadas são a "grande base" para cumprir sua missão. "Hoje nós temos um governo que pensa no seu Brasil como um todo. E a grande base nossa para cumprir essa missão são a nossa Marinha, o nosso Exército e a nossa Aeronáutica. Porque vocês, jovens militares que estão à nossa direita, são o caldo do que é o povo brasileiro." Bolsonaro está acuado nos últimos dias por causa do fracasso de seu governo na enfrentamento à pandemia de Covid-19.
Na segunda-feira (18), um dia após ver seu principal adversário político, o governador João Doria (PSDB), vencer a queda de braço e iniciar a vacinação por São Paulo, Bolsonaro apelou a seu arsenal ideológico para levantar sua base popular mais fiel. Além de orar, reforçar diferenças entre homens e mulheres e criticar o socialismo, Bolsonaro enalteceu as Forças Armadas e disse que delas depende a democracia ou a ditatura em um país. "Por que sucatearam as Forças Armadas ao longo de 20 anos? Porque nós, militares, somos o último obstáculo para o socialismo. Quem decide se um povo vai viver na democracia ou na ditadura são as suas Forças Armadas. Não tem ditadura onde as Forças Armadas não apoiam", disse Bolsonaro no jardim do Palácio da Alvorada, na segunda-feira. "No Brasil, temos liberdade ainda. Se nós não reconhecermos o valor destes homens e mulheres que estão lá, tudo pode mudar. Imagine o Haddad no meu lugar. Como estariam as Forças Armadas com o Haddad em meu lugar?", indagou Bolsonaro no início da semana, referindo-se a seu adversário na eleição de 2018, Fernando Haddad (PT).​
+++ Pressionado, Jair Bolsonaro vai para o seguro mundo interno das Forças Armadas no qual o protocolo é calar diante da autoridade e respeitá-la porque a hierarquia está acima de qualquer outro fator. Talvez, uma boa provocação seria escrever ou criar um canal de comunicação com os “jovens militares”, não que tenha grande resultado, mas deixaria Jair Bolsonaro descontrolado.

FERNANDO SCHÜLER - *”Do Central Park ao Aparados da Serra: o que podemos aprender”*
*”De saída do comando do Senado, Alcolumbre quer ser vice-presidente da Casa ou ministro de Bolsonaro”*

SAÍDA PELA DIREITA- *”Fernando Holiday abre dissidência, e MBL vive crise sem precedentes”*: Surgido durante o processo de impeachment de Dilma Rousseff, o MBL (Movimento Brasil Livre) vive a maior crise interna em seus mais de seis anos de existência. Uma de suas figuras mais conhecidas, o vereador paulistano Fernando Holiday (Patriota) abriu uma dissidência interna em razão da disputa pela presidência da Câmara dos Deputados e não descarta deixar o movimento. Holiday apoia abertamente a candidatura do deputado federal Marcel van Hattem (Novo-RS) para a sucessão de Rodrigo Maia (DEM-RJ) e discorda das críticas feitas por outros líderes do MBL a ele. Nesta terça-feira (19), Van Hattem teve uma áspera discussão pelo Twitter com Renan Santos, coordenador nacional do movimento. O pano de fundo é a posição do deputado gaúcho de cautela com relação ao impeachment do presidente Bolsonaro, defendido de maneira incisiva pelo MBL. Renan compartilhou uma reportagem em que o parlamentar dizia que “impeachment sem crime de responsabilidade é tumulto na democracia”. Van Hattem, que já pertenceu ao MBL no passado, reagiu reclamando de “assassinato de reputação”, ao que passou a ser criticado por lideranças do movimento, como o próprio Renan e o deputado estadual paulista Arthur do Val, o Mamãe Falei, do Patriota. Em outro tuíte, Renan insinuou que o parlamentar seria um bolsonarista infiltrado no Novo.
Já o perfil oficial do MBL pediu ao deputado: “Tenha sabedoria para escolher seu caminho nesta encruzilhada. Bolsonaro nos quer, todos, reféns de seu projeto autoritário. Você também será usado e cuspido. Te aguardamos no lado certo da história”. A troca de farpas desagradou a Holiday, que fez questão de reforçar seu apoio ao deputado também nesta terça (19). Um dos principais líderes do movimento, o vereador não descarta um rompimento, segundo apurou o blog, embora por enquanto diga internamente que essa não é sua vontade. Ele tem criticado internamente o que vê como “pragmatismo” excessivo do MBL ao sinalizar apoio já no primeiro turno da disputa pela Câmara ao deputado Baleia Rossi (MDB-SP). Acha que isso poderia ocorrer só no segundo turno. Também acha injusta a referência a um suposto “bolsonarismo” de Van Hattem, e concorda com o deputado que pedidos de impeachment, para terem sucesso, precisam ser bem pensados e bem embasados. Em contato com o blog, Renan minimizou a divergência. “A gente não tem crise interna. estamos todos numa linha e o Holiday está em outra. É normal, já tivemos divergências no passado. O Holiday é brother, estamos conversando”, afirmou. Por enquanto, não há ruptura, mas Holiday se encontra isolado dentro do movimento. As principais lideranças, incluindo o deputado federal Kim Kataguiri (DEM-SP), estão unidas na crítica ao deputado do Novo. A situação é descrita como “sem precedentes” por uma liderança do MBL. A relação do vereador com seus colegas nos últimos dias tem sido fria, segundo relato ouvido pelo blog. Bem diferente da amizade estreita que todos no MBL sempre fizeram questão de demonstrar publicamente.
+++ A decadência de um movimento que sempre foi nanico, medíocre.

*”Alvo da Lava Jato e pilar da nova base de Bolsonaro, PP de Lira obtém vitórias no STF graças à ala garantista”* - Abrigando filiados que são alvos de cerca de metade das decisões de casos individuais mais importantes da Lava Jato no Supremo Tribunal Federal, o PP do deputado Arthur Lira (AL), candidato à presidência da Câmara, obteve vitórias na mais alta corte do país e vislumbra uma situação de equilíbrio. O partido é um dos principais implicados do escândalo de desvios de verbas da Petrobras e tem a sua cúpula sob investigação ou processo. Apesar disso, das decisões tomadas até agora pelo STF em casos da Lava Jato já objetos de denúncia, em 12 o investigado ou o réu do partido teve um resultado negativo e, em 8, positivo. O cenário pode ser considerado de relativo equilíbrio para a sigla, a primeira a ter um filiado condenado e preso na Lava Jato por ordem do STF —o deputado federal Nelson Meurer (PR), que acabou morrendo na cadeia em julho, vítima da Covid-19. Mesmo em movimentações recentes que não tiveram participação dos ministros da corte, integrantes do PP tiveram boas notícias. Em setembro, a Procuradoria-Geral da República voltou atrás em uma denúncia da Lava Jato que ela própria havia feito meses antes e recomendou a rejeição da acusação contra Lira, apoiado pelo presidente Jair Bolsonaro na disputa pela presidência da Câmara dos Deputados, em fevereiro. Quase a totalidade das principais decisões dos últimos anos favoráveis a integrantes do PP vieram dos ministros Gilmar Mendes, Dias Toffoli e Ricardo Lewandowski, chamados de garantistas por serem mais inclinados a valorizar o direito à presunção de inocência de investigados, acusados e réus, o que tem beneficiado também os outros dois partidos com maior número de casos, o MDB e o PT.
Esses ministros têm frisado em várias de suas decisões o julgamento de que muitas das denúncias ofertadas pela Procuradoria-Geral da República amparam-se quase apenas na palavra de delatores, carecendo de provas mais robustas para o prosseguimento do caso ou eventual condenação. O Ministério Público, por sua vez, afirma haver diversos outros elementos de provas a amparar a palavra dos delatores, como dados de quebras de sigilo e de busca e apreensão, o que encontrou bem mais acolhida nos votos de Edson Fachin, o relator da Lava Jato no STF, Celso de Mello e Cármen Lúcia, apontados como mais punitivistas. Celso de Mello se aposentou em outubro e foi substituído por Kassio Nunes Marques, indicado por Jair Bolsonaro, que seu uniu aos ministros garantistas. Esses ministros formaram, nos últimos anos, a Segunda Turma do STF, responsável por conduzir os principais casos da Lava Jato. O colegiado é formado por cinco integrantes. Além dos resultados favoráveis, o PP conta em dois casos com a paralisia provocada por longos pedidos de vista feitos por Gilmar Mendes.
A denúncia de que o presidente do PP, o senador Ciro Nogueira (PI), e o deputado Eduardo da Fonte (PP-PE) teriam tentado intimidar e comprar o silêncio de uma testemunha (inquérito 4.720) recebeu o voto de Fachin e Cármen Lúcia para ser acolhida e se transformar em ação penal em novembro de 2018. Desde então, ou seja, há mais de dois anos, está paralisada por um pedido de vista de Gilmar. O ministro também é responsável pela paralisia de vários meses do caso em que Ciro, Eduardo, Arthur Lira e o líder da maioria na Câmara, Aguinaldo Ribeiro (PP-PB) são acusados de formar o "quadrilhão do PP" para desviar recursos da Petrobras, o inquérito 3.989. Essa denúncia da PGR foi recebida pelo STF em junho de 2019, mas até hoje, um ano e meio depois, não conseguiu efetivar o passo processual seguinte, a abertura de ação penal, pois ainda estão sendo analisados recursos da defesa contra o recebimento da denúncia. Contribuiu para a morosidade até o adiamento de sessão sob a justificativa de que um dos advogados de defesa havia marcado uma viagem internacional. Procurado por meio da assessoria do STF, Gilmar não se manifestou sobre esses pedidos de vista. Esses quatro políticos do PP foram alvos, somados, de 16 denúncias na Lava Jato, algumas comuns a mais de um deles. A situação de cada um, no STF, é a seguinte: Ciro Nogueira teve uma denúncia rejeitada (acusação de receber R$ 2 milhões de propina da UTC), uma com indicação de arquivamento pela PGR (propina de R$ 1,6 milhão da Queiroz Galvão), duas não analisadas ainda (propina de R$ 7,3 milhões da Odebrecht e tentativa de intimidação de testemunha) e uma aceita (quadrilhão), mas ainda sem abertura de ação penal.
Arthur Lira teve duas ações rejeitadas pela 2º Turma do STF (recebimento de propina da UTC e de contratos da diretoria de abastecimento da Petrobras), uma aceita (quadrilhão), mas ainda sem ação penal, e uma em que foi denunciado pela PGR (R$ 1,6 milhão da Queiroz Galvão), mas a Procuradoria acabou voltando atrás e recomendando a rejeição da acusação. Fora da Lava Jato, o parlamentar teve aceita pelo STF denúncia sob acusação de receber R$ 106 mil em propina do então presidente da Companhia Brasileira de Trens Urbanos (CBTU), Francisco Colombo, em troca de apoio para mantê-lo no cargo. Eduardo da Fonte teve uma denúncia rejeitada (intermediar recebimento de propina para abafar a CPI da Petrobras), duas aceitas (a do quadrilhão e uma já com ação penal em curso, em que é réu sob a acusação de receber propina da UTC), uma não analisada (tentativa de coação de testemunha) e uma com indicação de arquivamento (R$ 1,6 milhão da Queiroz Galvão). Aguinaldo, uma aceita (quadrilhão), sem ação penal ainda, e uma com determinação da PGR para arquivamento (R$1,6 milhão da Queiroz Galvão). Procurado, o PP não quis se pronunciar sobre os casos. Em manifestações recentes e também nos autos das investigações, os políticos negam irregularidades e atribuem as denúncias única e exclusivamente à palavra de delatores que buscam se safar da Justiça.
O PP é o principal partido do centrão, o grupo que hoje dá sustentação política a Jair Bolsonaro no Congresso. Antes crítico, nos discursos, à política do toma lá da cá tradicional em Brasília, o presidente se rendeu à negociação de cargos e verbas com esses partidos com o objetivo, entre outros, de afastar a possibilidade de abertura de um processo de impeachment.
+++ A Folha de S. Paulo não se cansa de se irresponsável na cobertura de qualquer história que envolva a Operação Lava Jato. Desde a manchete, o jornal sugere que ministros garantistas estejam favorecendo o PP, ou que tenham alguma ligação obscura com o partido. Como pode, nessa altura do campeonato a Folha continuar sendo inconsequente?

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*”Com Biden, Ernesto Araújo tem que mudar, diz deputado evangélico alinhado a Bolsonaro”* - O deputado Pastor Marco Feliciano (Republicanos-SP) diz que o chanceler Ernesto Araújo, que sempre atacou a China e se mostrou um devoto do ex-presidente dos EUA Donald Trump, tem que mudar a estratégia da política externa brasileira. "Queiramos ou não, com a posse de [Joe] Biden [como presidente dos EUA] hoje à frente da maior potência mundial, o jogo todo muda", escreveu ele em mensagem enviada por WhatsApp à coluna. "Jogo novo requer estratégia nova. A antiga não serve mais", afirma. "Entendo que quanto mais tempo demoramos para mudar nosso posicionamento no plano internacional, pior será", segue o parlamentar, um dos mais alinhados com o presidente Jair Bolsonaro. Araújo está na marca do pênalti desde que Biden venceu Trump nas eleições norte-americanas. Ele sofreu novo e intenso desgaste nesta semana ao fracassar em negociações para importar vacinas de forma emergencial da Índia.
Aliados de Bolsonaro creditam a Araújo também o esgarçamento as relações diplomáticas com a China, o que estaria hoje dificultando a chegada de insumos para a fabricação de imunizantes contra o novo coronavírus pela Fiocruz e o Instituto Butantan. Feliciano prega o realinhamento urgente da diplomacia brasileira com a China. "A hora é de total pragmatismo nas relações internacionais. Já dizia o imperador Vespasiano que dinheiro não tem cheiro. E a China tem interesses geopolíticos de primeira ordem no Brasil. Somos a 8ª economia do mundo e a garantia da segurança alimentar chinesa. Está na hora de, com tranquilidade e soberania, realinharmos tudo isso com os chineses", diz. ​
Leia a íntegra da mensagem:
"Nós, conservadores, temos a característica de sermos essencialmente realistas. Por isso entendo que o ministro Ernesto, como conservador que é, compreende o atual momento. Queiramos ou não, com a posse de Biden hoje à frente da maior potência mundial, o jogo todo muda. Jogo novo requer estratégia nova. A antiga não serve mais! Entendo que quanto mais tempo demoramos para mudar nosso posicionamento no plano internacional, pior será. A hora é de total pragmatismo nas relações internacionais. Já dizia o imperador Vespasiano que dinheiro não tem cheiro. E a China tem interesses geopolíticos de primeira ordem no Brasil. Somos a 8ª economia do mundo e a garantia da segurança alimentar chinesa. Está na hora de, com tranquilidade e soberania, realinharmos tudo isso com os chineses. Nixon foi à China. Enfim, tenho convicção que o ministro Ernesto compreende tudo isso e, como grande patriota e diplomata que é, tomará as medidas necessárias para o melhor do povo brasileiro."

*”Embaixador do Brasil nos EUA celebra posse de Biden”*
*”Greta Thunberg usa tuíte antigo de Trump para debochar do republicano”*
*”Biden diz que Trump lhe deixou uma carta 'muito generosa'”*
*”Bolsonaro cumprimenta Biden pela posse e deseja 'excelente futuro' em carta”*

*”Mourão diz que EUA são 'farol' ao comentar posse de Biden, e Maia pede união contra radicalismo”*
*”Líderes europeus esperam que Biden mude política climática e retome colaboração militar”*
*”Em clima de campanha, Trump deixa Washington com promessa de voltar 'de alguma forma'”*
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TODA MÍDIA - *”Com palavras, Biden busca reverter imagem da América”*
#HASHTAG - *”Sentado com frio na posse de Biden, Bernie Sanders vira meme nas redes”*
ANÁLISE - *”Combinação de vazio e euforia marca inauguração de governo Biden”*
ANÁLISE - *”Unidade cromática em figurinos da posse de Biden emula discurso de união e aponta para sufragistas”*

*”China anuncia sanções contra 28 funcionários da administração Trump, incluindo Mike Pompeo”*
*”Forte explosão em prédio no centro de Madri deixa ao menos 3 mortos”*
*”Jack Ma, homem mais rico da China, aparece em vídeo após sumiço de 3 meses”*

*”Copom mantém Selic em 2%, mas abandona compromisso de não subir juros”* - O Copom (Comitê de Política Monetária) do Banco Central manteve a taxa básica de juros em 2% ao ano nesta quarta-feira (20), mas decidiu abandonar o compromisso de não subir juros nas próximas reuniões, o chamado de “forward guidance”. Isso significa que o Copom voltará a analisar o cenário econômico geral a cada reunião e poderá elevar a Selic, mas não especificou quando. No mercado, estima-se que os juros possam subir ainda no primeiro semestre e que terminem o ano pouco acima de 3%. "Em vista das novas informações, o Copom avalia que essas condições [para a manutenção do ‘forward guidance’] deixaram de ser satisfeitas já que as expectativas de inflação, assim como as projeções de inflação de seu cenário básico, estão suficientemente próximas da meta de inflação para o horizonte relevante de política monetária", diz o BC no comunicado da decisão. "Como consequência, o ‘forward guidance’ deixa de existir e a condução da política monetária seguirá, doravante, a análise usual do balanço de riscos para a inflação prospectiva", afirma o texto.
No cenário principal do BC, que considera estimativas de mercado para os juros, as projeções para a inflação são de 3,6% para 2021 e 3,4% para 2022. Os resultados estão próximos do centro das metas para esses dois anos (3,75% e 3,50%, respectivamente). Na decisão desta quarta, a autoridade monetária reafirma que mesmo sem o instrumento, o BC poderá manter a Selic no patamar atual. “O Comitê reitera que o fim do forward guidance não implica mecanicamente uma elevação da taxa de juros pois a conjuntura econômica continua a prescrever, neste momento, estímulo extraordinariamente elevado frente às incertezas quanto à evolução da atividade”, diz o comunicado. “As diversas medidas de inflação subjacente apresentam-se em níveis acima do intervalo compatível com o cumprimento da meta para a inflação." No comunicado, o comitê repetiu que a inflação permanece com fatos de risco em duas direções. A baixa atividade econômica pode puxá-la para baixo. Por outro lado, a piora nas contas públicas com o prolongamento das políticas fiscais de resposta à pandemia podem puxar os preços para cima. Para o BC, o risco fiscal elevado segue puxando para cima esse balanço de risco.
“O Comitê entende que essa decisão [de ainda não mexer nos juros] reflete seu cenário básico e um balanço de riscos de variância maior do que a usual para a inflação prospectiva e é compatível com a convergência da inflação para a meta no horizonte relevante, que inclui o ano-calendário de 2021 e, principalmente, o de 2022”, diz o Copom. O BC também afirma no comunicado da decisão que a inflação se prolongou além do esperado, mas reiterou que esse movimento é temporário e reflete a recente elevação no preço de commodities internacionais e seus reflexos sobre os preços de alimentos e combustíveis. “Apesar da pressão inflacionária mais forte no curto prazo, o Comitê mantém o diagnóstico de que os choques atuais são temporários, ainda que tenham se revelado mais persistentes do que o esperado.” Na última decisão de 2020, em dezembro, o Copom já tinha anunciado que retiraria em breve o compromisso de não subir juros. Esse compromisso é um instrumento secundário de política monetária, chamado de “forward guidance”, ou prescrição futura. Nele, o BC garantia não subir juros a menos que as expectativas de inflação sejam elevadas acima da meta ou que o regime fiscal seja alterado.
Como o comitê avalia que a taxa Selic está próxima do seu limite mínimo, recorreram ao recurso para tentar diminuir a especulação em torno da taxa básica de juros futura e aumentar o estímulo à economia sem cortar ainda mais os juros. Na ata da reunião anterior, o BC esclareceu que retirar o instrumento não significa uma alta automática nos juros. Ou seja, mesmo sem o "forward guidance", o comitê pode decidir manter a taxa com base na análise da conjuntura. A decisão veio em linha com as expectativas de mercado –todos os economistas consultados pela Bloomberg projetavam a manutenção da taxa. Esta é a quarta reunião seguida em que não há alteração na Selic, após um longo ciclo de queda iniciado em julho de 2019. Para o BC, o aumento do número de casos e o aparecimento de novas cepas do vírus, principalmente em economias desenvolvidas, poderá afetar a atividade. A autoridade monetária, no entanto, demonstrou otimismo com as vacinas e novos programas de estímulos. "Novos estímulos fiscais em alguns países desenvolvidos, unidos à implementação dos programas de imunização contra a Covid-19, devem promover uma recuperação sólida da atividade no médio prazo", avalia.
Para o comitê, a baixa atividade econômica favorece a manutenção dos juros em patamares baixos nos países desenvolvidos, favorecendo os emergentes. “A presença de ociosidade, assim como a comunicação dos principais bancos centrais, sugere que os estímulos monetários terão longa duração, permitindo um ambiente favorável para economias emergentes.” Em relação à atividade econômica brasileira, segundo o BC, indicadores referentes ao fim do ano passado têm surpreendido positivamente, mas não contemplam os possíveis efeitos do recente aumento no número de casos de Covid-19. "Prospectivamente, a incerteza sobre o ritmo de crescimento da economia permanece acima da usual, sobretudo para o primeiro trimestre deste ano, concomitantemente ao esperado arrefecimento dos efeitos dos auxílios emergenciais", analisa. O BC reafirmou ainda que considera importante a continuação do processo de reformas econômicas, que estão em tramitação no Congresso. O controle da inflação é a principal atribuição da autoridade monetária. Para isso, o BC define a meta da taxa básica de juros.
Quando a inflação está alta, o Copom sobe os juros com o objetivo de reduzir o estímulo na atividade econômica, o que diminui o consumo e equilibra os preços. Caso contrário, o BC pode reduzir juros para estimular a economia. A inflação oficial, medida pelo IPCA (Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo), fechou 2020 em 4,52%, acima da meta definida pelo CMN (Conselho Monetário Nacional), de 4%, mas dentro da tolerância de 1,5 ponto percentual para cima e para baixo. Até setembro, as expectativas giravam em torno de 2%, com o efeito deflacionário (redução de preços) da crise e da queda na atividade econômica. As estimativas se elevaram com a alta nos preços de alimentos e combustíveis. Desde então, o BC afirma que o movimento é temporário. Segundo o relatório Focus desta semana, no qual o BC divulga as projeções do mercado, os economistas subiram mais as expectativas de inflação para 2021, que ficaram em 3,43%. Há um mês, a estimativa era de 3,37%. A meta para o ano é de ​3,75%, com tolerância 1,5 ponto percentual. Antes da pandemia, em fevereiro, a autoridade monetária havia indicado que a taxa ficaria em 4,25% ao ano nas reuniões seguintes, depois de cinco reduções seguidas. O BC retomou o ciclo de queda da Selic com a deterioração do cenário econômico. Até agosto, os juros caíram em todas as reuniões, mas o ciclo de queda foi interrompido em setembro.
+++ É impressionante como os cadernos de economia informam seus públicos sem transparência. Esse texto, por exemplo, menciona o Boletim Focus que é algo recorrente, mas nunca esclarece o que é o boletim Focus, quem o confecciona e como. É como se fosse uma autoridade a ser respeitada e ponto.

PAINEL S.A. - *”Mesmo com alta no ecommerce, setor de transporte fica estagnado em 2020”*
PAINEL S.A. - *”Ação de alunos na Justiça pede reagendamento do Enem para quem perdeu a prova”*
PAINEL S.A. - *”Facebook atualiza inteligência artificial que descreve imagens para cegos”*
PAINEL S.A. - *”Justiça suspende redução de benefício fiscal para medicamentos em SP”*
PAINEL S.A. - *”Para apoiar Manaus, empresas tentam contratar avião cargueiro russo”*
PAINEL S.A. - *”Compras com cupom de desconto ou dinheiro de volta na internet crescem 50% em 2020, diz empresa”*

*”Bolsas americanas batem recorde com posse de Biden, enquanto Ibovespa cai”*
*”Analistas já veem Selic perto de 4% ao fim do ano”*
*”Pandemia pode impactar retomada do Brasil em 2021, diz Fitch”*
OPINIÃO - *”Desinvestir é uma estratégia perdedora para o BNDES”*

*”Revisão de ICMS é esforço coletivo por investimento em áreas prioritárias, defende governo de SP”*
*”Impacto de alta de ICMS sobre pequeno produtor de leite é maior que arrecadação, diz setor”*
ANÁLISE - *”Secretário de agricultura dos EUA volta ao cargo, mas com desafios novos”*
*”Prova de vida: INSS não vai cortar benefícios até o fim de março”*

CIDA BENTO - *”Vacinação e esquizofrenia”*
*”Vazamento pode ter exposto na internet 220 milhões de dados pessoais de brasileiros”*
*”Mercedes anuncia SUV elétrico compacto em aposta para enfrentar Tesla”*
*”Trump perdoa ex-engenheiro do Google condenado por roubar segredos comerciais”*

*”Disparidades regionais agravam mortalidade por Covid no Brasil, diz estudo”* - A mortalidade de pacientes brasileiros internados com Covid-19 é mais alta em comparação com outros países e tem sido agravada pelas disparidades regionais de leitos e de recursos existentes no sistema de saúde. A conclusão é de um estudo recém publicado na revista científica The Lancet Respiratory Medicine, que analisou 254.288 mil pacientes, com idade média de 60 aos, internados em hospitais públicos e privados nos seis primeiros meses da pandemia (entre fevereiro e agosto). É a maior pesquisa do gênero já publicada no mundo. No Norte e no Centro-Oeste, por exemplo, 17% dos pacientes foram intubados fora da UTI em comparação com 8% no Sul e 13% no Sudeste.
“É um sinal de sobrecarga. Ou não tinha mais leito de UTI ou não conseguiram transferir o paciente. Quando precisa de ventilação invasiva, é um doente muito grave e é preciso ter um ambiente monitorado, uma equipe capacitada”, diz o médico intensivista e epidemiologista Otavio Ranzani, pesquisador da USP e um dos autores do estudo. Das internações analisadas, 47% dos pacientes tinham idade inferior a 60 anos, 16% não apresentavam comorbidades e 72% receberam algum suporte respiratório (invasivo ou não invasivo) durante a internação. A pesquisa não diferenciou pacientes das redes pública e privada de saúde. ​A mortalidade geral foi de 38% e aumentou conforme o avanço da idade (de 12% , entre 20 e 30 anos, para 66% para os acima de 80 anos) e das complicações. Nos doentes com menos de 60 anos, a taxa média de mortalidade ficou em 20%. A proporção geral de mortes hospitalares foi maior entre pacientes analfabetos (63%), negros (43%) e indígenas (42%). A mortalidade também foi mais frequente em pacientes internados na UTI (59%) do que naqueles assistidos na enfermaria (29%). Entre os intubados, a mortalidade foi de 80% contra 24% entre os que receberam ventilação não invasiva. As complicações mais associadas às mortes foram baixo nível de oxigênio no sangue (45%), dificuldade respiratória (43%) ou dispneia (41%). (...)

*”Prefeitura de São Paulo espera piora de casos de Covid-19 para a próxima semana”*
*”Justiça mantém provas do Enem no próximo domingo (24)”*

*”Cidades no Amazonas e Pará preocupam Defesa, e militares cobram atuação da Saúde”* - Integrantes do Ministério da Defesa estão alarmados com a situação de cidades do interior do Pará e do Amazonas. Municípios dos dois estados têm enfretado falta de oxigênio para pacientes com Covid-19. O aumento de casos graves em regiões de difícil acesso mobilizou militares. Nesse cenário, aliados do ministro da Defesa, Fernando Azevedo e Silva, passaram a cobrar o Ministério da Saúde para garantir insumo e vacina nas localidades. Em Manaus, pacientes morreram por falta de oxigênio nas unidades de saúde. Pacientes tiveram de ser transferidos para outros estados. Como mostrou a coluna Mônica Bergamo, sete pessoas que estavam internadas no Hospital Regional de Coari (AM) morreram na manhã de terça-feira (19) também por falta de oxigênio.​ Esta é uma das cidades que preocupam a Defesa. Além de Coari, militares acompanham de perto os casos em Manacapuru, Nhamundá, Itacoatiara e Parintins, todas no Amazonas. No Pará, o alerta acendeu em relação às cidades de Oriximiná e Faro.
O receio é que a nova cepa do coronavírus registrada em Manaus se espalhe por outras regiões. Complica o atendimento o fato de municípios na Amazonônia serem de difícil acesso. Fardados temem que uma nova onda de Covid-19 sobrecarregue o sistema de saúde. Os municípios no interior contam com pouca estrutura e teriam de encaminhar pacientes às capitais, que já estão sobrecarregadas. O MPF ( Ministério Público Federal) no Amazonas já identificou problemas de estoque crítico de oxigênio em Coari, Parintins, Itacoatiara e Tabatinga. Os militares ficaram alarmados na mesma semana em que a juíza Jaiza Maria Fraxe, titular da 1ª Vara Federal Cível no Amazonas, determinou que os governos federal e estadual fizessem a imediata distribuição do insumo ao interior do estado. Como mostrou a Folha nesta semana, a magistrada também decidiu na segunda-feira (18) que o Poder Executivo deve fornecer oxigênio a pacientes tratados em casa, especialmente crianças.
Integrantes da Defesa dizem que haviam percebido a gravidade da situação nesses municípios antes da ordem da juíza diante de relatórios de membros do Comando do Norte. O Exército tem fardados espalhados nessas cidades. Além disso, houve também pedido de socorro de prefeitos. O Ministério da Saúde, comandado pelo general da ativa Eduardo Pazuello, se mobilizou para garantir a entrega de oxigênio a Manaus, após pedido do governo estadual. A pasta solicitou suporte de aviões da FAB (Força Aérea Brasileira). A situação crítica nas pequenas cidades fez com que a própria Defesa procurasse a Saúde e articulasse ajuda. Segundo militares, entre terça (19) e quarta (20), vários aviões desembarcaram em municípios levando oxigênio, EPIs (equipamentos de proteção individual) e vacina. Em algumas cidades, o transporte é feito em lanchas, pois o acesso é fluvial. Na decisão de segunda, a juíza Jaiza Maria também determinou que, em cinco dias, União e estados devem apresentar um plano de vacinação da população. Em seguida, precisam dar início a uma campanha de imunização.
Como mostrou a Folha na terça, as cidades identificadas pela Defesa, que ficam no oeste do Pará, passaram a registrar escassez de oxigênio em unidades de saúde em meio ao aumento de casos de Covid-19. Os municípios fazem divisa com o Amazonas. Na cidade de Faro (920 km de Belém), seis pessoas, duas delas da mesma família, morreram nesta semana em unidades de saúde com falta de oxigênio, escassez de leitos e medicamentos. Apenas na comunidade Nova Maracanã, 34 pacientes estão hospitalizados, de acordo com a prefeitura. A cidade tem 12 mil habitantes. O prefeito de Faro, Paulo Carvalho (PSD), afirmou à Folha que o sistema público de saúde da região vive um colapso. "Os prefeitos vão se ajudando, quem está com oxigênio arruma para um, troca. O governo do estado tem disponibilizado aviões, mas a logística é muito delicada", disse. A prefeitura recebeu 20 novos cilindros com oxigênio. O produto, no entanto, duraria até, no máximo, esta quarta-feira. Também no Baixo Amazonas, o prefeito de Oriximiná, William Fonseca (PRTB), contou ao jornal que o município precisa de ajuda principalmente com o transporte de insumos. As distâncias são o principal desafio do ponto de vista logístico.
Até o momento, a Secretaria de Saúde de Oriximiná não encontrou a variante P1, cepa da Covid-19 identificada em Manaus por pesquisadores, entre os novos casos registrados na cidade. Apesar de tentar se desvincular da crise que assola o Amazonas, o governo federal é alvo de um procedimento preliminar de investigação que apura se houve omissão no fornecimento de oxigênio por parte do Ministério da Saúde, mesmo sabendo dos problemas. A pasta foi avisada da situação crítica de escassez de oxigênio em Manaus seis dias antes do colapso dos hospitais. Um ofício da White Martins, a empresa fornecedora do produto, foi enviado à pasta naquele dia. Pazuello tem 15 dias para explicar à PGR (Procuradoria-Geral da República) se houve eventual omissão no fornecimento do insumo, mesmo sabendo do problema. A PGR instaurou um procedimento preliminar de investigação, chamado notícia de fato. Se entender que há elementos para apurar responsabilidades e crimes, pode pedir ao STF (Supremo Tribunal Federal) a abertura de um inquérito.​

*”MPF investiga paralisação de transporte de oxigênio na véspera do colapso em Manaus”* - O MPF (Ministério Público Federal) investiga uma paralisação de transporte de oxigênio de uso hospitalar na véspera do colapso dos hospitais de Manaus. Pacientes com Covid-19 em diferentes unidades de saúde morreram asfixiados em razão da falta do insumo. O alvo da investigação, na esfera cível, é o Ministério da Saúde. Diante da suspeita de que pode ter havido crime na paralisação do transporte e envolvimento de autoridades com foro privilegiado, o procurador da República Igor Spíndola encaminhou ao procurador-geral da República, Augusto Aras, a partir criminal da investigação. O MPF no Amazonas conduz apenas a parte cível. O inquérito investiga também a conduta de autoridades estaduais e municipais.
“A gente já utilizava oxigênio de fora há uma semana. A demanda já era superior à oferta feita pela White Martins. A FAB (Força Aérea Brasileira) tem os aviões adequados e estava trazendo”, disse Spíndola à Folha. “O fato é que não chegou mais avião entre os dias 13 e 14. Não chegou oxigênio. Os aviões pararam de fazer a rota”, afirmou. O colapso definitivo dos hospitais, com o esgotamento do oxigênio, ocorreu na quinta-feira, dia 14. “A gente está tentando entender o que aconteceu. Isso é objeto de uma investigação específica”, disse o procurador. O MPF já apresentou à Justiça Federal uma ação civil pública que pediu uma decisão obrigando a União a fornecer oxigênio aos hospitais, em caráter de urgência. A Justiça atendeu ao pedido e determinou o fornecimento a Manaus e a cidades do interior. No dia 13, véspera do colapso, Spíndola recebeu uma ligação do secretário de atenção especializada em saúde do Ministério da Saúde, coronel Luiz Otávio Franco Duarte. Na chamada, o coronel pediu que o MPF adotasse “medidas absolutamente irrazoáveis” contra a White Martins. “Expliquei que a gente não é a AGU (Advocacia-Geral da União). Que ele deveria usar a AGU”, disse o procurador.
O coronel é citado em um dos relatórios elaborados pela Força Nacional do SUS, que detalham com riqueza de dados a escalada da crise de oxigênio desde o dia 8. Os relatórios, que já apontavam a escassez do insumo, o momento em que os hospitais entravam na reserva e até mesmo o momento exato do colapso, foram revelados pela Folha em reportagem publicada na terça (19). Franco telefonou para o procurador da República no dia 13. No dia 12, ele já culpava a White Martins, conforme a Força Nacional do SUS. Após uma visita ao Hospital Universitário Getúlio Vargas, uma unidade de saúde federal, o secretário teria apontado a “necessidade urgente de autuar a White Martins pela negligência quanto ao abastecimento de oxigênio no estado do AM”, como consta em um dos relatórios. A empresa sempre negou ter sido negligente. No dia 8, mandou um email ao Ministério da Saúde detalhando o que estava ocorrendo em Manaus. “Ele (coronel Franco) poderia ter avisado [na ligação feita na quarta, dia 13]: [o oxigênio] vai acabar amanhã. Mas, na quarta à tarde, ninguém avisou nada”, afirmou o procurador da República que atua em Manaus. “A gente teria corrido para fazer qualquer coisa emergencial, como a gente fez na quinta. Eu acordei na quinta e tinham duas horas de oxigênio. Eu não conseguiria resolver em duas horas. Em 24 horas, se eu tivesse sido avisado, certamente. Alguma coisa teríamos conseguido, teríamos gritado: ‘Esses aviões não podem parar’”, complementou o procurador. Spíndola acredita que alguma decisão, relacionada à paralisação do transporte, possa ter partido do Ministério da Saúde. “Nenhuma autoridade de saúde local ou federal parecia alarmada com o fato de que o oxigênio acabaria no outro dia.”
A informação inicial repassada por integrantes do ministério ao MPF foi de que o avião da FAB havia parado de fazer a entrega de oxigênio levado de outros estados. A aeronave teria quebrado, segundo essa informação inicial repassada a procuradores da República. A paralisação do transporte ocorreu do dia 13 para o dia 14, quando então ocorreu o colapso dos hospitais. “Nos outros dias, com a vinda de mais aviões, descobrimos que tinham mais aviões. Tanto que não pararam de fazer a rota desde então”, disse Spíndola. Até agora, a PGR instaurou apenas uma notícia de fato, que é um procedimento preliminar para apurar a conduta do ministro da Saúde, general da ativa Eduardo Pazuello, na crise de oxigênio. Aras deu 15 dias para Pazuello explicar a omissão diante de todos os alertas que recebeu sobre a escassez crítica do insumo em Manaus. Se o procurador-geral entender que há indícios de crime, ele pode requisitar ao STF (Supremo Tribunal Federal) a abertura de um inquérito para investigar a conduta do general. Ministros de Estado têm foro privilegiado, na esfera criminal, junto ao STF.

*”Centrais sindicais anunciam acordo com Venezuela para oxigênio semanal a Manaus”* - O Fórum das Centrais Sindicais, entidade que reúne a CUT (Central Única dos Trabalhadores), Força Sindical, CSB (Central dos Sindicatos Brasileiros) e outras organizações de trabalhadores, anunciou nesta quarta-feira (20) um acordo com o governo da Venezuela para fornecer oxigênio semanalmente a Manaus, onde o sistema de saúde colapsou nesta pandemia da Covid-19. Os hospitais do estado ficaram sem oxigênio na última semana e pacientes internados com Covid-19 morreram sufocados. Manaus, a 950 km da fronteira com a Venezuela, vai receber 80 mil litros por semana de oxigênio venezuelano, segundo as organizações sindicais. O país vizinho já enviou, na terça (19), 107 mil litros. O estado do Amazonas calcula um déficit diário de 50 mil litros de oxigênio. No acordo, a Venezuela fornecerá o oxigênio e as centrais sindicais ficarão responsáveis pela logística (transporte e distribuição do produto), segundo a entidade. O primeiro comboio deve chegar na próxima semana, anuncia a entidade.
O auxílio oferecido pelo governo Nicolás Maduro ocorre em um contexto em que a autoridade do ditador não é reconhecida pelo presidente Jair Bolsonaro. O mandatário brasileiro considera que o presidente do país é o deputado Juan Guaidó. Na última semana, aliados de Guaidó questionaram a oferta de oxigênio do governo Maduro. À Folha, o deputado Julio Borges, responsável pelas Relações Exteriores do autoproclamado governo Guaidó, criticou a ajuda. Chamou de oportunismo político, afirmou que era uma tentativa de Maduro de mudar sua imagem e disse que os hospitais venezuelanos estão desabastecidos. O presidente Bolsonaro ainda não agradeceu a ajuda venezuelana. Dirigentes do PT, próximos do governo Maduro, como o ex-presidente Lula e a deputada Gleisi Hoffmann, fizeram agradecimentos públicos. O governador do Amazonas, Wilson Lima (PSC), que era próximo de Bolsonaro, também agradeceu ao governo venezuelano. A crise de oxigênio acabou virando crise política para o presidente Bolsonaro, que tem dedicado esforços em suas redes sociais, principal meio de comunicação com seu público, para divulgar ações pelo Amazonas.
Só nesta quarta, divulgou a contratação de 72 médicos para atender pacientes com Covid em Manaus e a criação de uma nova rota para transportar oxigênio entre Porto Velho (RO) e a capital amazonense, entre outras publicações. Conforme a Folha mostrou, o ministro da Saúde, general da ativa Eduardo Pazuello, foi avisado sobre a escassez crítica de oxigênio em Manaus por integrantes do governo do Amazonas, pela empresa que fornece o produto e até mesmo por uma cunhada sua que tinha um familiar “sem oxigênio para passar o dia”. Pazuello também foi informado sobre problemas logísticos nas remessas.

*”Bolsonaro tenta falar com Xi Jinping para liberar insumos chineses de vacinas”* - O presidente Jair Bolsonaro (sem partido) pediu uma chamada telefônica com o líder chinês Xi Jinping para fazer um apelo pela liberação de insumos para a fabricação de vacinas contra a Covid-19. De acordo com interlocutores que acompanham as negociações, o presidente orientou que o Itamaraty fizesse os trâmites para solicitar a conversa com as autoridades em Pequim. O Palácio do Planalto está apreensivo com os atrasos na liberação de matéria prima para a fabricação de insumos para vacinas contra o coronavírus, que podem atrasar ainda mais o cronograma de imunização. O tema é hoje um dos principais focos de preocupação no Planalto e a avaliação é que era preciso tentar um contato de alto nível. Pessoas que acompanham o tema disseram que ainda não é possível dizer se o telefonema será realizado. A tentativa da chamada ocorre também diante da análise de que a interlocução do ministro Ernesto Araújo (Relações Exteriores) está desgastada com a embaixada da China em Brasília devido aos posicionamentos adotados pelo chanceler.
Embora tenha começado a campanha de imunização com a Coronavac —desenvolvida por uma farmacêutica chinesa em parceria com o Instituto Butantan—​, o Brasil corre o risco de ficar sem matéria prima para a produção das doses necessárias para os próximos meses. Os insumos são produzidos na China e as dificuldades encontradas também ameaçam a Oxford/AstraZeneca, vacina que no Brasil deve ser fabricada pela Fiocruz (Fundação Oswaldo Cruz). O tema tem mobilizado auxiliares de Bolsonaro e o governador de São Paulo, João Doria (PSDB), adversário do Planalto que tem sido protagonista no esforço de imunização. Nesta quarta-feira (20), Ernesto, um dos principais expoentes da ala ideológica do governo, negou que problemas de "natureza política" estejam interferindo no fornecimento de insumos para vacinas contra a Covid-19 pela China e disse que os obstáculos identificados são causados pelo excesso de demanda. Ele disse ainda que, no momento, não é possível estabelecer prazos para a chegada da matéria prima da China ou para a entrega de doses prontas do imunizante que o país tenta importar da Índia.
"Nós não identificamos nenhum problema de natureza política em relação ao fornecimento desses insumos provenientes da China", declarou o ministro, que participou nesta quarta-feira (20) de uma reunião informal de uma comissão parlamentar que acompanha a crise do coronavírus. "Nem nós no Itamaraty aqui de Brasília, nem a nossa embaixada Pequim, nem outras áreas do governo identificaram problemas de natureza política, diplomática. Não identificamos nenhum percalço nesse sentido." "Em relação aos insumos provenientes da China, também não é possível falar de prazo nesse momento. Claro que a gente está trabalhando e todo o governo federal... para que o prazo seja o mais breve possível", acrescentou.
O governo brasileiro também tem discutido com autoridades indianas a divulgação de um comunicado público no qual o país asiático garanta que as doses da vacina de Oxford serão enviadas ao Brasil no curto prazo. Segundo relatos feitos à Folha, nos últimos dias negociadores do governo entraram em contato com diplomatas indianos para solicitar uma posição que arrefeça o mal-estar criado com a demora no envio de imunizantes contra o coronavírus. A avaliação entre auxiliares do presidente Bolsonaro é que os sucessivos adiamentos na liberação da carga têm gerado desgaste para o Palácio do Planalto, que apostava na importação para o dar o pontapé na campanha de imunização no Brasil. Uma cerimônia estava sendo preparada para o ato, mas acabou desmobilizada diante do fracasso da operação. Algum tipo de compromisso público da Índia é visto por aliados de Bolsonaro como uma forma de ao menos reduzir os danos políticos que o atraso tem causado. Interlocutores no Planalto têm a expectativa de que o envio dos 2 milhões de doses ocorra na próxima semana, mas outros envolvidos nas negociações têm previsões menos otimistas. Eles apontam que as autoridades indianas ainda não deram sinalização de que a entrega possa ocorrer ainda neste mês.
Analistas indicam que a as recorrentes ofensas contra a China disparadas pelo presidente brasileiro e por seu filho, o deputado Eduardo Bolsonaro (PSL-SP), podem estar criando problemas nas conversas diplomáticas para desobstruir as negociações. O próprio Araújo saiu em defesa de Eduardo em uma troca pública de críticas entre o parlamentar e o embaixador da China no Brasil, Yang Wanming. Diplomatas ouvidos disseram que não é possível determinar se as dificuldades para a autorização dos insumos são uma resposta às declarações anti-China do governo Bolsonaro. Mas destacaram que é inquestionável que o atual clima político “no mínimo” não ajuda nas conversas.​ Na conversa com parlamentares nesta quarta, Ernesto afirmou que a avaliação do Itamaraty é que existe um problema de demanda "muito grande por esses insumos". "Acho que todos os países, praticamente, estão no processo de vacinação. Temos presente que outros países que precisam importar esse insumo da China estão basicamente na mesma situação, ainda não receberam as entregas", complementou. O chanceler negou em mais de uma vez que questões políticas estejam interferindo. "Eu queria mencionar mais especificamente a esse respeito, mostrando que não há nenhum problema político na relação com a China. Queria reiterar: nós temos uma relação madura, construtiva, muito correta e tranquila com a China." Pressionado pelas críticas pela ameaça de atraso no cronograma, o governo mobilizou três ministros para conversar com o embaixador chinês. Participaram da conferência telefônica nesta quarta os ministros Eduardo Pazuello (Saúde), Tereza Cristina (Agricultura) e Fábio Faria (Comunicações).
"O governo federal vem tratando com seriedade todas as questões referentes ao fornecimento de insumos farmacêuticos para produção de vacinas (IFA). O Ministério das Relações Exteriores, por meio da embaixada do Brasil em Pequim, tem mantido negociações com o Governo da China. Outros ministros do Governo Federal têm conversado com o Embaixador Yang Wanming." O comunicado do Planalto ressaltou que o governo "é o único interlocutor oficial com o governo chinês", numa declaração entendida como uma resposta ao presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ). O deputado também teve conversa com Yang nesta quarta para tratar da autorização de venda dos insumos. Após o encontro, ele disse que os atrasos ocorrem por razões "técnicas" e não políticas.

*”Maia encontra embaixador da China e diz que razões técnicas atrasam importação de insumo para vacina”* - O presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ), disse nesta quarta-feira (20), após reunião com o embaixador da China, Yang Wanming​, que o atraso na exportação de insumos para a produção de vacinas no Brasil ocorre por razões "técnicas" e não políticas. "O embaixador deixou claro que não há nenhum obstáculo político, que foi a tramitação técnica que atrasou um pouco, mas que eles estão trabalhando junto com o governo, de forma clara, pela aceleração [da exportação] dos insumos para o Brasil", afirmou Maia depois da conversa, antecipada pela coluna Monica Bergamo. A demora na chegada do IFA (Ingrediente Farmacêutico Ativo) deve atrasar a fabricação da Coronavac pelo Instituto Butantan e do imunizante de Oxford/Astrazeneca, que será produzido pela Fiocruz.
Em documento enviado nesta terça (19) ao Ministério Público Federal, a Fiocruz prevê que só deve entregar no início de março as primeiras doses da vacina de Oxford/AstraZeneca produzidas no Brasil, já que a chegada de insumos da China atrasou. A promessa anterior, feita no final de dezembro, era fornecer o primeiro lote do imunizante por volta de 8 de fevereiro. O insumo está pronto para ser embarcado ao Brasil, mas o governo chinês ainda não liberou o envio. Segundo Maia, os entraves técnicos envolvem justamente burocracias ligadas à exportação da carga. O deputado disse não haver prazo para a entrega dos produtos, mas afirmou haver "claramente" um empenho do governo e da embaixada chinesa para o material chegar "o mais rápido possível" no Brasil. "Tenho certeza que o diálogo que tem sido feito do governo de São Paulo [com a China] e a preocupação e importância que tem para a China a relação bilateral com o Brasil vai fazer com que a gente consiga avançar o mais rápido possível não apenas para a importação dos insumos para a vacina do Butantan como a da Fiocruz."
Maia ainda afirmou que no momento é preciso ignorar "conflitos políticos" como o que há entre os governos brasileiro e o chinês e disse que quem tiver "boa relação" com a China "pode e deve ajudar". "A única questão, é a impressão que dá, ele [o embaixador] não falou nada disso, mas no diálogo com quadros da embaixada, é a falta de diálogo do governo brasileiro com a embaixada. É incrível como a questão ideológica para alguns prevalece em relação à importância de salvar vidas", comentou. A relação do Brasil com a embaixada da China tornou-se tensa devido a críticas feitas pela família do presidente Jair Bolsonaro e por integrantes do governo ao país asiático. Tanto o chanceler brasileiro Ernesto Araújo como o filho do presidente Eduardo Bolsonaro (PSL-SP) já fizeram críticas à China e ao embaixador chinês. Eduardo chegou a culpar a "ditadura chinesa" pela pandemia do novo coronavírus.
Além do presidente da Câmara, o presidente do grupo parlamentar Brasil-China do Senado, Roberto Rocha (PSDB-MA), enviou um ofício na tarde desta terça-feira à embaixada do país asiático. O senador solicita um "entendimento quanto ao fluxo de insumos destinados pelo seu país para a produção da vacina contra a Covid-19. Rocha afirma que o Brasil possui um complexo logístico de distribuição vacina que vai permitir a rápida imunização da população, em tempo recorde. No entanto, argumenta, é necessário que não faltem os insumos chineses necessários. Sem citar Bolsonaro e seus filhos, o senador afirma que houve impasses diplomáticos entre os dois países, mas que não devem abalar a cooperação. "Também não desconheço que houve impasses diplomáticos que afetaram o relacionamento entre o Brasil e a China, recentemente, mas que nada representam diante da fecunda cooperação realizada em diversas áreas, desde o restabelecimento das relações diplomáticas entre nossas nações, em 1974", afirma a nota. "Estou certo de contar com a vossa compreensão humanística pela qual todos os brasileiros ficarão profundamente gratos", completa.

*”Brasil pede à Índia garantia e previsão de entrega de vacinas contra Covid”*
*”Apesar de atraso em início de campanha, Bolsonaro diz que vacinas foram entregues no dia 'D-1'”*
*”Prefeitura de SP começa vacinação de indígenas em aldeia onde 60% tiveram Covid”*
*”Lewandowski manda Anvisa apresentar informações sobre análise da vacina russa Sputnik V”*

*”No vácuo da gestão Bolsonaro, grupo cria campanha de vacinação contra coronavírus”*
*”Aplicativo do Ministério da Saúde estimula usar hidroxicloroquina para tratar Covid até em bebês”*
*”Após fala de Pazuello, conselho pede a revogação de normas que citam 'tratamento precoce' para Covid”*
*”Vacinação de irmãs médicas em Manaus gera críticas sobre critério para imunização contra Covid”*

*”Medo da Covid-19 aumenta recusa de visitas de agentes para combate à dengue em SP”*
*”Jockey Club de SP consegue liminar para não pagar IPTU em 2021”*
MIRIAN GOLDENBERG - *”Além das mortes diárias, brasileiros vivem uma morte simbólica”*

MÔNICA BERGAMO - *”Ministro da Justiça requisita inquérito policial contra advogado que criticou Bolsonaro na CNN”*: O ministro André Mendonça, da Justiça, pediu mais um inquérito com base na Lei de Segurança Nacional para investigar falas críticas ao presidente Jair Bolsonaro. O alvo agora é o advogado Marcelo Feller, de São Paulo. A Polícia Federal, subordinada a Mendonça e ao presidente, já abriu uma investigação. Em julho do ano passado, quando integrava o quadro “O Grande Debate”, da CNN, Feller citou estudos e disse que o discurso do presidente era responsável por pelo menos 10% das mortes por Covid-19 no país. Na época, o ministro do STF (Supremo Tribunal Federal) Gilmar Mendes tinha acusado o Exército de se associar a um “genocídio” na crise do novo coronavírus. Feller também comentou: “Não é o Exército que é genocida, é o próprio presidente, politicamente falando”. No pedido à PF, Mendonça disse que a acusação pode “lesar ou expor a perigo de lesão” o próprio regime democrático “e a pessoa do Presidente da República”. Mendonça já pediu investigações com base na Lei de Segurança Nacional também contra os colunistas da Folha Ruy Castro e Helio Schwartsman, contra o jornalista Ricardo Noblat e o cartunista Aroeira. O advogado Alberto Toron, que representa Feller, diz que a iniciativa “revela uma faceta opressiva contra a liberdade de expressão e crítica e, mais ainda, contra a liberdade de imprensa, pois Feller falava na condição de debatedor contratado da CNN”. O advogado vai impetrar um habeas corpus pedindo o trancamento da investigação. “Feller disse o que hoje todos dizem: que o presidente tem responsabilidade sobre a política que resultou nessa multidão de mortos”, afirma.

MÔNICA BERGAMO - *”Conselho homenageará a primeira vacinada no Brasil e a enfermeira que a imunizou”*
MÔNICA BERGAMO - *”Justiça determina que Governo de SP forneça dados sobre IncentivAuto a grupo ambientalista”*

CAPA – Manchete principal: *”’A democracia prevaleceu’”*

MERVAL PEREIRA - *”Isolados no mundo”*: Já tivemos um governo cujo embaixador em Washington, Juracy Magalhães, dizia que “o que é bom para os Estados Unidos, é bom para o Brasil”. Embora a esquerda latino-americana sempre tenha tido uma relação mais próxima do Partido Democrata, o governo Lula em 2008 preferia um presidente republicano, porque seria "menos protecionista" e menos "próximo dos tucanos". A relação dos tucanos com o Partido Democrata foi fortalecida pela amizade entre os ex-presidentes Fernando Henrique e Bill Clinton, uma relação também especial nasceu entre Lula e Bush, que teve uma convivência mais amistosa com ele do que com Fernando Henrique Cardoso, que já declarou que sentiu "asco físico" por Bush.
Provavelmente Bush sentia em Fernando Henrique uma rejeição intelectual que não acontecia com Lula, cujo temperamento é mais parecido com o dele. Embora tenha sido Obama que o chamou de “o cara”, fazendo com que sua imagem internacional se fortalecesse, nunca foram próximos e, em sua autobiografia “Uma terra prometida”, Obama comentou que soube do envolvimento do ex-presidente brasileiro em falcatruas, o que irritou Lula. O fato é que até mesmo governos militares como o do General Geisel souberam lidar com a política externa de maneira pragmática, reatando relações diplomáticas com a China e reconhecendo a libertação das colônias portuguesas na África, mesmo com comunistas liderando as guerras de libertação. Com Bolsonaro, voltamos ao tempo em que tudo vindo dos Estados Unidos conservador e retrógrado de Donald Trump estava bom, embora não tenhamos tido nenhuma vantagem por esse relação de subserviência ideológica. A vitória de Biden foi rejeitada pelo governo Bolsonaro até que Trump desistisse de tentar anular o pleito, e nenhum governo brasileiro torceu tanto por um candidato quanto o de Bolsonaro por Trump.
A consequência é que vamos ficar, como se previa, isolados, párias na comunidade internacional, porque estamos na contra mão do mundo ocidental, onde nos inserimos geopoliticamente. Joe Biden assumiu a presidência dos Estados Unidos, vai retomar as políticas que fizeram dos EUA uma liderança mundial: o acordo do clima de Paris, o nuclear com o Irã, e vai voltar à Organização Mundial do Comércio (OMC). O Brasil está agora sobrando. Não consegue ficar bem nem com os governantes com a mesma tendência. Narendra Modi, o Primeiro-Ministro da Índia, é um politico de direita que poderia ser uma ligação com Bolsonaro, mas entramos em conflito com a Índia por causa de interesses americanos ao não apoiar a reivindicação de quebra de patentes na pandemia que favoreceria as empresas indianas, maiores fabricantes de insumos farmacêuticos. A resposta veio com o retardamento das doses de vacina contra a COVID-19 para o Brasil. É inacreditável que o país não tenha percebido que o BRICS era um organismo importante geopoliticamente. Desprezou-o até o ponto em que o Secretário de Estado de Trump, Mike Pompeo elogiou o Brasil por ter deixado de lado os BRICS. Nunca houve tanta clareza de que nem sempre os interesses do Brasil são os dos Estados Unidos.
O Brasil nesses dois anos de bolsonarismo sempre cedeu aos EUA, e entrou em conflitos desnecessários, com a China, com a Índia, com a Argentina. Uma política externa tosca, que acha que pode ter uma relação normal com o novo governo democrata, e pode culpar o embaixador chinês pelos desentendimentos, depois de praticamente vetar a tecnologia 5G chinesa. Com Biden vai piorar, porque ele é um outro tipo de político, liberal, e a nossa relação com os EUA vai ficar muito difícil se não houver uma mudança, primeiro do chanceler, que está nos envergonhando no mundo. Estamos com uma perspectiva muito ruim no exterior e o caso das vacinas é uma prova inconteste. Bolsonaro é pragmático, mudou na política do Congresso da água pro vinho, se adaptou ao Centrão. Só que para mudar a política externa, teria que evoluir, mas é quase impossível que venha a ter uma visão ampla da política externa, neutra em relação a interesses ideológicos específicos. Faz uma política externa mais ideológica do que a do PT. Bolsonaro não entende política externa como de Estado.

*”Na carona da vacina – Políticos ‘apadrinham’ início da imunização; em 5 estados, há também casos de ‘fira-filas’”*
*”Conselho do MPF reage a nota de Aras sobre ilícitos de Bolsonaro”*
*”Licenciados são convocados para votar na eleição da Câmara”*

*”Produção de vacinas emperrada – Irritado, Bolsonaro convoca ministros e cobra soluções para imunização e Manaus”*

*”Site do Ministério da Saúde indica ‘tratamento precoce’ com cloroquina”*
*”Força-tarefa pela vida – Com 31 mil vacinados, cidade do Rio avança na imunização de profissionais da saúde”*

*”Crucial para a retomada – Empresas assumem papel de incentivas a vacinação para recuperar saúde e economia”*

 

CAPA – Manchete principal: *”’A democracia prevaleceu’”*

EDITORIAL DO ESTADÃO - *”A alternativa a Bolsonaro”*: Está claro para um número cada vez maior de cidadãos que Jair Bolsonaro não reúne mais condições de continuar na Presidência e que sua permanência no poder põe em risco a vida de incontáveis brasileiros em meio à pandemia de covid-19, em razão de sua ignominiosa condução da crise. O mais inepto presidente da história pátria só se segura no cargo, do qual jamais esteve à altura, porque ainda não foram reunidas as condições políticas para seu afastamento constitucional. Essas condições políticas dependem majoritariamente de um entendimento não em relação aos muitos crimes de responsabilidade que Bolsonaro já cometeu, hoje mais que suficientes para um robusto processo de impeachment, e sim em relação ao projeto de país que se pretende articular para substituir o populismo raivoso do bolsonarismo. Nunca é demais lembrar que o bolsonarismo só triunfou na campanha presidencial de 2018 porque as forças de centro não foram capazes de apresentar uma alternativa eleitoralmente poderosa ao PT, enquanto Jair Bolsonaro falava abertamente em “fuzilar” petistas. Depois de tantos anos de empulhação lulopetista, marcados por corrupção, arrogância e incompetência, o eleitorado se deixou seduzir pela “autenticidade” de Bolsonaro, que espertamente se apresentou como o único capaz de derrotar Lula da Silva e impedir a volta do PT ao poder.
Faltou aos partidos tradicionais compreender as aflições de milhões de brasileiros frustrados com a falta de perspectiva de crescimento pessoal e indignados com tantas promessas descumpridas pelos políticos, em especial depois da passagem pelo poder dos mercadores de ilusão liderados pelo demiurgo de Garanhuns. Historicamente, esses cidadãos formam a clientela preferencial dos populistas, com suas soluções fáceis e radicais – muitas vezes em detrimento dos pilares institucionais que sustentam a democracia. Assim, a tarefa dos partidos genuinamente interessados na manutenção da democracia e na criação de condições para o crescimento sustentado do País é muito mais complexa: a política tradicional deve ser capaz de convencer os eleitores de que é preciso fazer sacrifícios para que haja desenvolvimento e, sobretudo, de que não se alcançam soluções reais para os problemas, dos mais comezinhos aos mais graves, fora da concertação política proporcionada pelo debate público legitimado pelas instituições democráticas. Ou seja, a negação do bolsonarismo. Não será nada fácil – especialmente tendo em vista a qualidade sofrível de muitas das atuais lideranças políticas –, mas a crise brasileira não admite acomodação ou discursos vazios. Não basta ir às redes sociais para atacar Bolsonaro e cobrar o impeachment; é preciso construir um discurso político forte o bastante para reduzir a clientela do presidente e oferecer uma alternativa concreta aos desencantados que ele cooptou.
Como disse em entrevista ao Estado o cientista político alemão Jan-werner Müller, autor do livro O que é populismo?, “não é suficiente dizer ‘não somos Trump’ ou algum outro autoritário”, em referência ao ex-presidente norteamericano Donald Trump e seus discípulos, como Jair Bolsonaro. “É preciso oferecer uma visão positiva que responda aos problemas reais das pessoas.” Além disso, enfatizou Müller, as elites “precisam ter a coragem de romper com os populistas”. As elites a que se refere o estudioso alemão são aquelas que, voltadas exclusivamente para seus interesses privados, emprestam seu peso socioeconômico a um governo que, a título de salvar o Brasil do comunismo e do lulopetismo, se notabiliza pela indecência e pela irresponsabilidade. Ao mesmo tempo, é preciso reformar o que Müller chama de “infraestrutura crítica da democracia”, especialmente o sistema político, para torná-lo mais representativo do conjunto dos cidadãos, e valorizar a informação de qualidade contra a usina de patranhas disseminadas por redes sociais. Sem isso, eleitores continuarão a se encantar com a mendacidade patológica de Bolsonaro, dando sobrevida política a quem já deveria ter sido banido da vida pública há muito tempo.

*”Nota de Aras gera reação no Congresso, STF e MP”* - Diante do crescente apoio à tese de impeachment do presidente Jair Bolsonaro, uma nota pública divulgada pelo procurador-geral da República, Augusto Aras, anteontem, provocou críticas no Congresso e no próprio Ministério Público e foi considerada um “desastre” por ministros do Supremo Tribunal Federal (STF). Na manifestação, Aras citou a pandemia do novo coronavírus para insinuar que Bolsonaro pode decretar estado de defesa com o objetivo de preservar a estabilidade institucional e disse que o tempo é de “temperança e prudência”. Embora o chefe da PGR não tenha citado a palavra impeachment, o tom de sua nota acendeu o sinal de alerta. A leitura política foi a de que o procurador-geral dá sinais no sentido de preservar Bolsonaro e o ministro da Saúde, Eduardo Pazuello, no momento em que cresce a pressão para tirar o presidente do Palácio do Planalto, sob o argumento de negligência na condução da pandemia do coronavírus. No texto, Aras pôs na conta do Congresso a análise de “eventuais ilícitos que importem em responsabilidade de agentes políticos da cúpula dos Poderes da República” e acenou com o risco de a crise desembocar na decretação de um estado de defesa.
A nota chamou a atenção, ainda, por ter sido divulgada um dia depois de Bolsonaro ter dito que “quem decide se o povo vai viver na democracia ou na ditadura são as suas Forças Armadas”. A frase do presidente foi alvo de críticas. Em seguida, Aras procurou se defender de cobranças sobre o andamento de investigações que podem desembocar no impeachment de Bolsonaro. “O estado de calamidade pública é a antessala do estado de defesa. A Constituição Federal, para preservar o Estado Democrático de Direito e a ordem jurídica que o sustenta, obsta alterações em seu texto em momentos de grave instabilidade social”, afirmou o procurador-geral da República. “A considerar a expectativa de agravamento da crise sanitária nos próximos dias, mesmo com a contemporânea vacinação, é tempo de temperança e prudência, em prol da estabilidade institucional”. Previsto no artigo 136 da Constituição, o estado de defesa prevê uma série de medidas coercitivas, como restrições de direitos de reunião, de sigilo de correspondência, e de comunicação telegráfica e telefônica. Além disso, acaba com garantias, como a exigência do flagrante para uma prisão. A medida pode ser decretada para preservar ou restabelecer a ordem pública e a paz social “ameaçadas por grave e iminente instabilidade institucional ou atingidas por calamidades de grandes proporções na natureza”. Antes, porém, o presidente precisa ouvir os Conselhos da República e de Defesa Nacional e submeter o texto ao Congresso.
Perplexidade. O ministro Marco Aurélio Mello, do Supremo, disse estar “perplexo” com a nota de Aras. “A sinalização de que tudo seria resolvido no Legislativo causa perplexidade”, afirmou o magistrado ao Estadão. “Não se pode lavar as mãos. O que nós esperamos dele (Aras) é que realmente atue, e com desassombro, já que tem um mandato e só pode ser destituído pelo Legislativo”. Seis dos dez integrantes do Conselho Superior do Ministério Público Federal também demonstraram “preocupação” com o texto e assinalaram que investigar é tarefa da instituição. “O Ministério Público Federal e, no particular, o procurador-geral da República, precisa cumprir o seu papel de defesa da ordem jurídica, do regime democrático e de titular da persecução penal, devendo adotar as necessárias medidas investigativas a seu cargo”, escreveram os conselheiros José Adonis Callou, José Bonifácio Borges de Andrada, José Elaeres Marques Teixeira, Luiza Cristina Fonseca Frischeisen, Mario Luiz Bonsaglia e Nicolao Dino, todos subprocuradoresgerais da República.
Na avaliação do senador Alessandro Vieira (Cidadania-se), a manifestação de Aras foi a tentativa de empurrar para o Congresso a própria responsabilidade. “Isso me pareceu uma busca desesperada de tentar se eximir porque existe a pressão de mais de 210 mil mortes por covid no País. Não há indicativo nenhum de estado de defesa. Não seria referendado pelo Congresso”, afirmou o senador, que assumirá a liderança do Cidadania no Senado a partir de fevereiro. A Executiva Nacional do partido aprovou ontem a defesa do impeachment de Bolsonaro. Para a deputada Perpétua Almeida, líder do PCDOB na Câmara, Aras tem atuado “no mesmo compasso” de Bolsonaro. “Um dia o presidente diz que quem decide se o País vai ter democracia ou ditadura são suas Forças Armadas. No outro, o Aras faz esse tipo de ameaça. O que ele está querendo com isso? Flertar com atos antidemocráticos do presidente?”, observou ela. “Estado de calamidade pública não pode ser direcionado para estado de defesa. Isso é uma obstrução da ordem democrática”, disse o líder da minoria na Câmara, José Guimarães (PT-CE).

*”Covid multiplica pedidos de impeachment”* - As falhas do governo federal no combate à covid-19 fizeram explodir os pedidos de impeachment contra o presidente Jair Bolsonaro (sem partido). Desde o início de seu mandato, 61 foram protocolados na Câmara dos Deputados; apenas 7 pedidos são anteriores a março do ano passado, quando teve início a pandemia. A crise sanitária nacional e a falta de oxigênio que provocou a morte de pacientes no Amazonas e no Pará são base também para uma nova denúncia coletiva que, pela primeira vez, une cinco partidos de oposição (PT, PDT, PSB, Rede e PCDOB) e deve ser protocolada até o fim da semana.
Há 56 pedidos de impeachment parados sob responsabilidade da presidência da Câmara, a quem cabe submeter as denúncias ou não à análise dos deputados. Outros 5 foram arquivados por questões formais, como a falta de assinaturas. Embora tenha evitado analisar as denúncias e esteja prestes a encerrar seu mandato à frente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ) disse no início da semana que será “inevitável” discutir o impeachment de Bolsonaro “no futuro”. A pressão de partidos e movimentos sociais para que Bolsonaro seja processado por crime de responsabilidade cresceu significativamente nas últimas semanas e consolida a tendência iniciada com a pandemia. Panelaços voltaram a ser registrados após o caos em Manaus. Neste fim de semana, por exemplo, estão previstas carreatas em diversas capitais com o mote #Fora Bolsonaro (mais informações nesta página). Do total de 56 pedidos ativos de impeachment, 10 foram protocolados em maio do ano passado, 13 em abril e 14 em março. Ao menos 26 das denúncias contra o chefe do Executivo citam sua participação em manifestações antidemocráticas, em atos e falas contra o Congresso Nacional e o Supremo Tribunal Federal; 21 pedidos tratam diretamente de ações do presidente no combate à covid-19. As denúncias consultadas nesta reportagem foram divulgadas em levantamento da Agência Pública. O Estadão também analisou uma lista enviada pela Secretaria-geral da Mesa Diretora da Câmara dos Deputados, que inclui os protocolos arquivados.
Entre os 21 pedidos que tratam da pandemia, os motivos citados incluem a interferência de Bolsonaro em ações de distanciamento social promovidas por Estados e municípios, a promoção de medicamentos sem eficácia comprovada contra a covid-19 e a participação em aglomerações sem máscara. Em julho, um documento assinado por personalidades como Chico Buarque, Walter Casagrande, Frei Betto e Dira Paes afirmava que “o presidente minimizou o problema desde que o SARSCOV-2 (...) chegou ao país, ora mencionando tratar-se de uma ‘gripezinha’, ora buscando realizar campanhas contra o distanciamento social”. A denúncia conclui que Bolsonaro cometeu crimes de responsabilidade contra a segurança do País, contra a probidade na administração, contra a existência da União e contra o livre exercício dos direitos políticos, individuais e sociais. O documento mais antigo em análise é de 13 de março de 2019, foi apresentado pela advogada e artista plástica Diva Maria dos Santos e se refere a uma publicação de Bolsonaro no twitter, citando “golden shower” – vídeo postado pelo presidente (e depois apagado) em que dois homens aparecem em atos obscenos no carnaval.

*”’Evangélicos, ruralistas e bancada da bala’ dão vantagem a Lira”* - Candidato do governo Jair Bolsonaro à presidência da Câmara dos Deputados, Arthur Lira (Progressistas-al) lidera a corrida pelo cargo nas três principais bancadas temáticas da Casa. De acordo com levantamento feito com base no placar Estadão, o líder do Centrão tem mais votos declarados do que seu principal adversário, Baleia Rossi (MDB-SP), entre os deputados que integram as bancadas ruralista, evangélica e ‘da bala’. A eleição está marcada para o dia 1º de fevereiro. A maior diferença proporcional entre os dois se dá entre os evangélicos. Neste grupo, Lira soma cem votos declarados enquanto Baleia alcança 21. Para reverter este quadro, o emedebista teria de conquistar os “indecisos” e ainda tirar votos de seu concorrente, já que nem a soma de seus apoios com o total de parlamentares que não quiserem responder à enquete seria suficiente para ultrapassar o alagoano. Pesquisas que medem a taxa de aprovação de Bolsonaro colocam os eleitores evangélicos como os mais satisfeitos em relação ao governo, o que poderia explicar a vantagem de Lira entre os deputados que representam esse eleitorado. Em dezembro, por exemplo, pesquisa Xp/ipespe mostrou que 53% dos entrevistados que se dizem fiéis a alguma denominação evangélica consideravam a gestão federal boa ou ótima. No caso da bancada ruralista, Bolsonaro já cobrou por diversas vezes o apoio dos deputados, argumentando que o campo “nunca teve um tratamento tão justo e honesto” como em seu governo. O líder da bancada, deputado Alceu Moreira, no entanto, criticou a insistência do presidente e até já declarou apoio a Baleia. Neste grupo, a vantagem de Lira é menor: 106 a 47.
Presidente da Frente Parlamentar da Agropecuária, Moreira afirma que o apoio ao emedebista não é geral entre a bancada, mas que vai exigir do candidato o compromisso com pautas nas quais não houve abertura com o atual presidente, Rodrigo Maia (DEM-RJ). A prioridade, segundo ele, é a reforma tributária. Uma das propostas em discussão no Congresso foi apresentada por Baleia Rossi. Além disso, a frente dos ruralistas vai cobrar a votação de projetos do setor, entre eles a regularização fundiária. O projeto foi um dos temas de atrito entre Maia e o líder da bancada ruralista. Já os representantes da chamada ‘bancada da bala’, que reúne deputados que já foram militares, que compuseram equipes da Polícia Civil e que apoiaram majoritariamente a eleição de Bolsonaro em 2018, a diferença de apoios é da ordem de 40% pró-lira. Neste grupo, porém, 89 parlamentares não aceitaram responder à enquete do Estadão, o que, em tese, aumenta as chances do emedebista de reduzir a margem para seu concorrente.

*”Biden vê EUA testados após 1.461 dias sob Trump; ‘democracia prevaleceu’”* - Joe Biden tomou posse ontem como o 46.º presidente dos EUA com um contundente apelo pela união dos americanos como saída para o acúmulo de crises – econômica, sanitária e política. Depois de meses com as instituições sob ataque do ex-presidente Donald Trump, que questionou a legitimidade das eleições presidenciais, e após uma invasão ao Capitólio por extremistas, Biden considerou que o país havia sido testado e celebrou: “A democracia prevaleceu”. “Hoje celebramos o triunfo não de um candidato, mas de uma causa: a causa da democracia”, disse na abertura de seu primeiro discurso como presidente, feito a uma plateia de poucos convidados, com os gramados do National Mall vazios. Por medo de atos violentos, 25 mil homens da Guarda Nacional bloquearam acesso do público. Ao lado do combate à pandemia e à crise econômica, Biden elencou o combate ao terrorismo doméstico e ao supremacismo branco como desafios de sua gestão, dando nome ao que Trump evitou condenar e ajudou a inflamar nos seus 1.461 dias como presidente. Ao clamar pelo fim da intolerância em um país dividido, Biden chamou o momento atual de uma “guerra incivil” que opõe “o vermelho (cor do Partido Republicano) ao azul (cor do Partido Democrata), o rural ao urbano, o conservador ao liberal”. Em seu discurso, o democrata saudou a ciência, a diversidade, a democracia, a união e a política.
O novo presidente admitiu que assumiu o país em um dos momentos mais difíceis e desafiadores da história e, em solidariedade às famílias dos 400 mil mortos por covid-19 nos EUA, pediu um minuto de silêncio. Em uma de suas 17 ordens executivas assinadas ainda ontem (mais informações nas páginas A14 e A15), Biden determinou a obrigatoriedade do uso de máscara em propriedades federais para evitar a disseminação do coronavírus. Com a mão sobre uma Bíblia que está com sua família há 128 anos, Biden prometeu proteger a Constituição. Primeira mulher e primeira negra a chegar à Casa Branca, a vice-presidente Kamala Harris prestou seu juramento minutos antes em uma cerimônia conduzida pela juíza Sonia Sotomayor, a primeira latina da Suprema Corte. Eleito em um ano de protestos antirracismo de magnitude comparável aos da época do movimento pelos direitos civis, Biden prometeu lutar pela justiça para todos e organizou uma posse com aceno a diferentes alas da sociedade. Uma performance da cantora Jennifer López, descendente de portoriquenhos – com direito a uma intervenção da cantora em espanhol –, ocorreu após o juramento prestado por Kamala.
O governo montado por Biden é o mais diverso da história americana, uma sinalização ao eleitorado jovem que cobra quadros políticos que representem com mais fidelidade a população. O time de Biden é também reconhecido pela experiência política, que o presidente eleito valoriza, um contraponto às nomeações políticas da era Trump. “Ouçam uns aos outros. Vejam uns aos outros. Mostrem respeito uns pelos outros”, pediu. Há quase 50 anos na política, o ex-senador, ex-vice-presidente e agora presidente americano afirmou que a política “não precisa ser um fogo violento, destruindo tudo em seu caminho”. “Cada desacordo não precisa ser causa de guerra total. E devemos rejeitar a cultura na qual os próprios fatos são manipulados e até fabricados”, afirmou Biden. O primeiro ato do democrata como presidente foi a proclamação de 20 de janeiro, data em que ocorrem as posses presidenciais, como o Dia Nacional da União. A lista de medidas do democrata em suas primeiras horas de trabalho no Salão Oval inclui a reversão de marcas do governo Trump contra imigrantes, como a paralisação da construção do muro com o México, e a derrubada da restrição de entrada de imigrantes de países de maioria muçulmana.
Em sua última quebra de protocolos como presidente, Trump não compareceu à posse. Ele perdeu popularidade na reta final de seu governo, com a recusa em aceitar a transição de poder, a insistência na narrativa de fraude eleitoral e a incitação de extremistas – que o levou a ser alvo de um segundo processo de impeachment. Biden marcou o contraste que pretende impor no seu governo, na comparação com o antecessor. Em recado ao mundo, foi claro: os EUA voltarão a ser um parceiro confiável e participarão de negociações internacionais. Como sinal da volta dos americanos ao tabuleiro multilateral, Biden assinou uma ordem para recolocar o país no Acordo Climático de Paris logo que chegou à Casa Branca. Trump havia retirado os americanos do pacto em 2017. A ausência do republicano na cerimônia foi ignorada por Biden, que agradeceu a seus antecessores presentes e ao vicepresidente do governo Trump, Mike Pence. Na plateia, Barack Obama, Bill Clinton e o republicano George W. Bush acompanharam a cerimônia ao lado das ex-primeiras-damas.

*”Vigilância indica ameaça que deve permear mandato”*

*”Bolsonaro exalta ‘parceria’ e cita Acordo de Paris”* - O presidente Jair Bolsonaro cumprimentou ontem Joe Biden pela posse como 46.º presidente dos Estados Unidos e disse ter expressado, por meio de uma carta enviada a ele, a “visão de um excelente futuro para a parceria Brasileua”. Segundo Bolsonaro, que levou 38 dias para reconhecer a vitória democrata, a relação entre os dois países é “longa e sólida” e se baseia em “valores elevados, como a defesa da democracia e das liberdades individuais”. Ele dedicou trecho da carta para abordar a questão das mudanças climáticas e o Acordo de Paris. A pronta manifestação do presidente brasileiro representa uma revisão da forma como ele vinha se comportando no processo eleitoral americano. Bolsonaro foi um dos últimos chefes de Estado a reconhecer a vitória de Biden, ao lado do presidente da Rússia, Vladimir Putin, e do presidente do México, Andrés Manuel López Obrador. Com base na apuração dos Estados, a imprensa dos EUA projetou, em 7 de novembro, a vitória de Biden. Só em 15 de dezembro o Ministério das Relações Exteriores divulgou nota reconhecendo o resultado. Durante o período eleitoral americano, Bolsonaro disse que apoiava a reeleição de Donald Trump. Chegou a afirmar que viajaria a Washington para a cerimônia de posse. “Sigo empenhado e pronto para trabalhar pela prosperidade de nossas nações e o bem-estar de nossos cidadãos”, escreveu Bolsonaro no Twitter. Na carta divulgada ontem, o presidente brasileiro diz ser “grande admirador dos EUA”. Ele sustenta que passou a “corrigir” o que chamou de “equívocos de governos” anteriores que “afastaram o Brasil dos EUA”.
Clima. Na sequência do documento, o brasileiro cita relações bilaterais entre os dois países no campo econômico, tecnológico e do desenvolvimento sustentável. Bolsonaro dedica um trecho da carta para falar sobre mudanças climáticas, proteção ambiental e Amazônia. “Estamos prontos, ademais, a continuar nossa parceria em prol do desenvolvimento sustentável e da proteção do meio ambiente, em especial a Amazônia, com base em nosso diálogo ambiental, recém-inaugurado. Noto, a propósito, que o Brasil demonstrou compromisso com o Acordo de Paris com a apresentação de suas novas metas nacionais”, diz Bolsonaro na carta. O tratado assinado por 195 países estabelece esforços conjuntos para tentar conter o aumento da temperatura do planeta a menos de 2°C até o fim do século. Horas após tomar posse e cumprindo uma promessa de campanha, Biden assinou 17 ordens executivas, incluindo o retorno dos EUA ao Acordo de Paris. Em 2019, no primeiro ano do seu mandato, Bolsonaro disse que, “por ora”, o Brasil continuaria no acordo.
Em um dos debates com Trump durante a disputa presidencial, o então candidato Joe Biden fez críticas ao desmatamento na Amazônia. Ele disse que “começaria imediatamente a organizar o hemisfério e o mundo para prover US$ 20 bilhões para a Amazônia, para o Brasil não queimar mais a Amazônia”. A declaração gerou uma resposta de Bolsonaro, que, na ocasião, classificou o comentário como “lamentável”, “desastroso e gratuito” e fez uma série de postagens críticas a Biden no Twitter. A carta de Bolsonaro a Biden menciona ainda a Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE). “Na OCDE, com o apoio dos EUA, o Brasil espera poder dar contribuição mais efetiva e aumentar a representatividade da organização.” O vice-presidente Hamilton Mourão afirmou que a relação com os EUA continuará “de Estado para Estado”, e o país americano segue como “farol” de modelo democrático no Ocidente. Alinhado a Trump, o ministro das Relações Exteriores, Ernesto Araújo, disse que “com Bolsonaro, o Brasil retomou a vocação de uma parceria profunda com os EUA, em benefício dos dois povos e da liberdade em todo o mundo”. “Esperamos, com o presidente Biden, aprofundar essa parceria, diante dos novos desafios que se deparam aos nossos ideais comuns”, escreveu o chanceler no Twitter.
Congresso. Em nome do Congresso brasileiro, os presidentes do Senado, Davi Alcolumbre (DEM-AP), e da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ), cumprimentaram Biden e Kamala Harris. Para Maia, a mudança na presidência americana é oportunidade de união com o Brasil para o “fortalecimento da democracia, do combate ao radicalismo e da proteção do meio ambiente”. “Que nossos países possam manter abertos os canais do diálogo e do entendimento”, escreveu Alcolumbre no Twitter.
Interesses. Reservadamente, embaixadores de alto escalão do Itamaraty avaliam que a Secretaria de Estado reconhece o profissionalismo dos quadros brasileiros. Eles afirmam que há interesses econômicos e comerciais, além de outras colaborações diversas, entre elas a militar, mais abrangentes do que eventuais divergências. Além disso, dizem que Biden não tem interesses em, ao se afastar completamente, abrir espaço para o avanço da influência chinesa na América Latina, um objetivo do do presidente Xi Jinping. Num primeiro momento, no entanto, a relação e as tratativas devem se reduzir a um mínimo possível, atrapalhando, por exemplo, as conversas por acordo comercial entre os países, alardeado pelo Ministério da Economia. Há desconfianças de lado a lado sobre como a relação pode se construir, por causa do choque de agendas, e quais atores poderão aproximar os presidentes.

*”Rússia cobra ampliação de pacto nuclear”*
*”Trump aposta em base política no interior”*

*”SP zera insumo para fabricar vacinas e apela por saída diplomática com a China”* - A matéria-prima para a produção de mais doses de vacina contra a covid-19 no Brasil “já foi quase que totalmente processada”, segundo informou ontem o presidente do Instituto Butantan, Dimas Covas, o que esgota a capacidade de fabricação do imunizante. O anúncio foi feito em uma entrevista coletiva convocada pelo governador João Doria (PSDB) para tratar de ações de combate à doença, em que Covas novamente apelou para que o governo federal, em especial o presidente Jair Bolsonaro e o ministro das Relações Exteriores, Ernesto Araújo, se empenhem para acelerar a importação dos insumos da China.
Embora o Butantan tenha capacidade de finalizar e distribuir cerca de 1 milhão de doses por dia, essa produção depende do recebimento dos insumos. E, até que a produção atinja essa capacidade, é preciso um período de até seis dias para ajustes na fábrica do instituto. “Peço ao nosso presidente, ao ministro das Relações Exteriores, que nos ajudem a aplainar essa relação com a China e que haja procedimentos, solicitação para que os procedimentos burocráticos para esta exportação aconteça no mais curto período de tempo”, disse Covas. Na coletiva, o quadro traçado foi o seguinte: há 46 milhões de doses de vacina garantidas pelo Butantan até abril. Depois, caso os insumos da Fiocruz cheguem (a previsão de entrega de doses prontas da vacina de Oxford pela fundação foi adiada de fevereiro para março), o País poderá contar com mais 100 milhões de doses. Esse total de doses vacinaria 73 milhões de pessoas. Se o governo federal se manifestar, poderá tentar comprar mais 54 milhões de doses da Coronavac produzidas pelo Butantan com base em insumos importados da China. E a produção própria, no melhor cenário, só seria possível a partir de novembro.
Segundo Covas, o Butantan aguarda autorização do Ministério das Relações Exteriores da China, última instância burocrática para a exportação dos insumos, para conseguir importar mais 5,4 mil litros de matéria-prima capazes de produzir cerca de 5 milhões de novas doses da Coronavac. “No governo chinês, a burocracia envolve três instâncias. O Ministério da Saúde, o NMPA, que é a Anvisa da China e a aduana. Tem de passar por essas três instâncias e, adicionalmente, o Ministério das Relações Exteriores”, afirmou. “A autorização dessas três primeiras instâncias já foi dada. Aguardamos a última.” Doria afirmou que as dificuldades são de ordem exclusivamente administrativa. “Não há nenhuma restrição comercial nem a São Paulo nem ao laboratório Sinovac, com o qual temos tido uma relação excelente”, disse, ao lembrar que a parceria comercial entre Butantan e Sinovac vem de antes da pandemia. “A exportação de vacinas depende de autorização do governo chinês”, acrescentou. “Há um mal-estar claro do governo chinês com o governo brasileiro. Isso é óbvio. Não é por outra razão que o presidente da Câmara (Rodrigo Maia) foi se encontrar hoje (ontem), ainda que virtualmente, com o embaixador da China. Há um mal-estar depois de tantas agressões pronunciadas e lideradas pelo presidente Bolsonaro contra a China, contra a vacina da China, contra ‘vachina’ e as outras desqualificações que fez, e manifestações de dois de seus filhos, Eduardo e Carlos”, afirmou Doria.
Compra federal. O acordo do Butantan com Sinovac se encerrará em abril, quando a empresa chinesa terá terminado de enviar material suficiente para produção de 46 milhões de doses. Depois disso, de acordo com Covas, até há a possibilidade de uma remessa extra de material para 54 milhões de doses, mas essa 2ª opção de compra está condicionada a um pedido de compra do ministério, que até agora não foi feito. Em nota, o Ministério da Saúde afirmou que, em 8 de janeiro, a pasta e o Butantan “acertaram que todas as vacinas produzidas pelo laboratório serão adquiridas pelo governo federal e incorporadas” ao plano nacional de vacinação. Sobre o pagamento, o ministério diz que “os recursos estão empenhados, ou seja, reservados para tal fim”. O valor será pago, acrescenta, quando as 100 milhões de doses e a nota fiscal forem entregues à pasta.

*”Governo isola Araújo em negociação com Pequim por insumos”* - O chanceler Ernesto Araújo foi excluído das negociações com a China para a compra de vacinas e insumos contra a covid-19. Depois que o presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ), conversou ontem com o embaixador chinês Yang Wanming para tratar do assunto, o governo divulgou nota para afirmar que é “o único interlocutor oficial com a China” nas negociações. Maia, porém, disse ter ouvido de representantes chineses que ninguém do governo federal havia procurado a embaixada até então. “Agora, nesse momento, não podemos olhar para conflitos políticos e todos que têm relação com a China podem ajudar”, acrescentou o presidente da Câmara. Quase ao mesmo tempo, o governador João Doria deu (PSDB) deu entrevista na qual anunciou que o escritório de São Paulo em Xangai também está atuando nas negociações. O presidente Jair Bolsonaro reuniu ontem ministros, no Palácio do Planalto, e pediu que todos saíssem em defesa do governo na guerra das vacinas. Apesar de gostar de Ernesto Araújo, um integrante da ala ideológica do governo, Bolsonaro avalia que ele não deve conduzir qualquer tratativa com a China sobre as vacinas. Mesmo escanteado, porém, o chanceler disse que divergências políticas não foram o motivo do atraso na entrega de insumos para a produção do imunizante.
‘Relação madura’. “Temos relação madura, construtiva, muito correta, tranquila com a China”, afirmou o ministro, ontem, ao participar de uma reunião fechada com deputados, por videoconferência. Mais tarde, foi divulgada uma nota preparada pelo Ministério das Comunicações, comandado por Fábio Faria, dizendo que “outros ministros do Governo Federal têm conversado com o Embaixador Yang Wanming”. O texto menciona que, ontem mesmo, o próprio Faria e os ministros da Saúde, Eduardo Pazuello, e da Agricultura, Tereza Cristina, haviam participado de “conferência telefônica” com o embaixador. “O Ministério das Relações Exteriores, por meio da embaixada do Brasil em Pequim, tem mantido negociações com o Governo da China”, destaca a nota. Amigo do deputado Eduardo Bolsonaro (PSL-SP), filho “zero três” do presidente, Araújo já se referiu à covid-19 como “comunavírus” e se envolveu em polêmica com Wanming, no ano passado.
Em novembro, por exemplo, o chanceler saiu em defesa de Eduardo, que, nas redes sociais, havia associado o governo chinês à “espionagem” por meio da tecnologia 5G. Na ocasião, o presidente chegou a elogiar Araújo pela iniciativa. Agora, no entanto, o Palácio do Planalto considera que, diante dos problemas entre o chanceler e Wanming, outros ministros podem ficar à frente das tratativas com a embaixada. Na outra ponta, Bolsonaro escalou o titular das Comunicações para “ajudar Pazuello”. A tarefa de Faria, na presente situação, é preparar um plano na tentativa de vencer a batalha da comunicação envolvendo os episódios relativos ao coronavírus. Apesar das pressões para demitir Pazuello, o presidente não pretende tirá-lo do cargo agora. O grupo de partidos reunidos no Centrão quer a cadeira do ministro e já chegou a apresentar até mesmo o nome de Ricardo Barros (Progressistas -PR), líder do governo na Câmara, para seu lugar. Barros já foi ministro da Saúde na gestão Temer. Mas Bolsonaro acha que remover Pazuello agora seria o mesmo que assinar um atestado de incompetência, além de dar o braço a torcer a Doria.

*”Manaus vacina até filho de deputado; MP cobra critérios”* - O Ministério Público (MP), a Defensoria Pública e o Tribunal de Contas do Estado (TCE) do Amazonas questionaram o governo do Estado sobre o número de doses da Coronavac recebidas, o rateio entre as cidades e a lista de profissionais de saúde imunizados. A vacinação do filho de um deputado estadual e de duas irmãs filhas de um empresário local, todos médicos recém-formados, motivou críticas ontem. Na noite de anteontem, David Dallas e as gêmeas Gabrielle e Isabelle Kirk Lins publicaram fotos nas redes sociais do momento em que recebiam as doses da vacina. O jovem é filho do deputado estadual Wanderley Dallas (Solidariedade). Elas, de 24 anos, são filhas dos donos da universidade e hospital Nilton Lins, alugado pelo governo para funcionar como hospital de campanha. Os três não vinham atuando na linha de frente de combate à covid-19. Só Isabelle teve sua nomeação publicada no Diário Oficial do Município um dia antes da vacinação. Os outros dois tiveram a nomeação publicada no dia seguinte. Eles não ocupam cargos de médicos, mas de gerentes de projetos – com salários de cerca de R$ 15 mil. O Estadão procurou os três, mas não conseguiu contato. A prefeitura respondeu apenas que as duas jovens foram vacinadas por serem funcionárias, mas não respondeu por que uma delas só foi nomeada depois. Também não explicou o caso de Dallas. O prefeito de Manaus, David Almeida (Avante), publicou ontem em suas redes sociais que baixaria uma portaria proibindo as pessoas de postarem fotos nas redes sociais após serem vacinadas.
Questionamentos. Defensoria, MP e TCE cobram o Estado sobre o total de doses distribuídas entre os municípios. Consta no site do Ministério da Saúde que chegariam para Manaus 101 mil doses de vacina e só chegaram 40 mil. Segundo o ofício enviado ao governo pelos órgãos de controle, outros municípios também receberam menos, como Parintins, que iria receber 4.974 doses, mas recebeu pouco mais de mil esta semana. “Não há transparência alguma nos dados, estamos enviando ofícios sobre essa falta de informações ao governo do Estado desde a primeira fase da pandemia”, afirmou defensor público do Estado, Rafael Barbosa.
A Defensoria pediu ajuda aos coordenadores do Atlas Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS), da Universidade Federal do Amazonas. O grupo cruzou dados de vacinas recebidas com o previsto pelo plano estadual de imunização. “Alguns municípios, como Amaturá, receberam 173% da quantidade de vacinas para a 1ª fase. O governo diz que é para vacinar as duas fases, para facilitar a logística com municípios muito longínquos, mas se fosse assim, seria 200% do total. Os números não batem”,diz Danilo Egle, coordenador técnico do ODS. Membro do Conselho Regional de Enfermagem, Cleide Martins disse que houve hospitais onde, além dos profissionais de saúde, foram vacinados outros setores, como a direção dos hospitais e outros funcionários. Já o presidente do Sindicato dos Médicos, Mário Vianna, cobrou a vacinação de todos os profissionais de saúde. “Se continuarem a adoecer no nível que estão adoecendo, vai faltar oxigênio e profissionais de saúde.” Sobre os questionamentos feitos pelo TCE, o governo amazonense informou que vai prestar todas as informações requisitadas pelo tribunal.

*”Procurador apura omissão do AM em crise do oxigênio”*

*”App da Saúde indica cloroquina até a bebês”* - O aplicativo Tratecov, lançado pelo Ministério da Saúde para orientar o enfrentamento da covid-19, recomenda uso de antibióticos e cloroquina, ivermectina e outros fármacos para náusea e diarreia ou para sintomas de uma ressaca, como fadiga e dor de cabeça. A lista de medicamentos sem eficácia comprovada é sugerida pela plataforma, que só pode ser usada por médicos, para qualquer soma de dois sintomas, mesmo se o paciente não saiu de casa ou teve contato com um infectado nas duas últimas semanas.
Como mostrou o Estadão, o aplicativo foi apresentado pelo ministro Eduardo Pazuello na semana passada, quando esteve em Manaus (AM). O Ministério da Saúde afirma que o Tratecov sugere o diagnóstico por meio de sistema de pontos que obedece a “rigorosos critérios clínicos”. O teste com o produto é feito em Manaus, onde mais de 340 profissionais de saúde foram cadastrados no sistema. O ministério planeja expandir seu uso a outras cidades. A indicação de uso de cloroquina e antibiótico pode ser feita até a um recém-nascido com diarreia e fadiga, pois a idade não interfere na pontuação apresentada pelo aplicativo. Se o médico não quiser receitar o “tratamento precoce”, precisa justificar dentro do aplicativo, por exemplo, pela “recusa do paciente”, “contraindicação médica” ou “falta do medicamento”. O governo Bolsonaro se isolou na defesa do uso dos medicamentos, que compõem o “kit covid”. Além da Sociedade Brasileira de Infectologia (SBI), também a Associação Médica Brasileira (AMB) passou a rejeitá-lo. “Evidências científicas demonstram que nenhuma medicação tem eficácia na prevenção ou no ‘tratamento precoce’ para a covid-19 até o presente momento”, afirma nota conjunta das duas, divulgada anteontem.
Pressão. Na semana passada, Pazuello e sua equipe foram à capital do Amazonas. O ministro deixou a cidade na véspera do anúncio da falta de oxigênio. Sua passagem pelo Estado ficou marcada pela pressão sobre profissionais de saúde para que usem medicamentos sem eficácia comprovada, como a cloroquina. A Procuradoria da República no Estado abriu inquérito civil para apurar se o ministério foi omisso na ajuda à região. Em Manaus, no dia 11, o ministro afirmou que o pilar da estratégia do ministério contra a pandemia é o “tratamento precoce”. “Diagnóstico não é do teste. Não aceitem isso. É do profissional médico. O tratamento, a prescrição, é do médico, e a orientação é precoce, disse Pazuello. “A medicação pode e deve começar antes dos exames complementares. Caso o exame lá na frente der negativo, reduz a medicação e tá ótimo. Não vai matar ninguém”, completou. Pressionado, Pazuello modulou o discurso e disse, na segunda-feira, 18, que jamais incentivou o uso de medicamento algum e apenas defendeu o “atendimento precoce”. No discurso público do governo federal, porém, a defesa do atendimento ou tratamento precoce se mistura com a pressão pelo uso da cloroquina. Há farto registro de alegações de Pazuello e de Bolsonaro de que o “kit covid” dá certo, o que contraria a própria Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa). Em outubro passado, Pazuello disse ter ficado “zero bala” após tomar o tal “kit completo”. Dias depois, o general foi internado num dos hospitais mais caros de Brasília por complicações da covid-19. Ainda em Manaus, na última semana, a equipe de Pazuello fez visitas a unidades de atendimento do SUS. Além de escutar sobre a crise na cidade, a equipe entregou folders recomendando uso do “kit covid”.
Opções. Em nota, o Ministério da Saúde afirma que o Tratecov orienta opções terapêuticas e oferece autonomia para o médico decidir. “A pasta também esclarece que a lista de medicamentos sugeridos na plataforma pode sofrer alterações de acordo com os estudos científicos em andamento”, argumenta o ministério. E acrescenta: “Tratecov é uma ferramenta criada para auxiliar médicos na coleta de sintomas e sinais de pacientes. A plataforma utiliza um protocolo clínico para fazer um diagnóstico rápido por meio de um sistema de pontos, obedecendo rígidos protocolos clínicos. O objetivo é dar maior segurança e rapidez no diagnóstico clínico e no tratamento da covid-19."

*”BC mantém Selic em 2% ao ano, mas já indica que juro pode voltar a subir”*

 

CAPA – Manchete principal: *”Joe Biden prega união e reverte ações de Trump”*

*”Guedes ganha disputa dentro do governo”* - Na semana passada, o ministro da Economia, Paulo Guedes, travou uma batalha dentro do governo para evitar que uma vinculação tornasse o Orçamento da União ainda mais engessado. Desta vez, seu opositor foi o ministro da Ciência e Tecnologia, Marcos Pontes. Guedes ganhou a disputa, mas o presidente Jair Bolsonaro anunciou que a guerra não acabou. E prometeu, em sua ‘live’ semanal, insistir no assunto. O projeto de lei complementar 135/2020, que impede o contingenciamento das despesas orçamentárias custeadas pelo Fundo Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (FNDCT), foi aprovado pelo Congresso Nacional no fim do ano passado. Ao sancionar o projeto na semana passada, Bolsonaro vetou dispositivo que proibia o governo de destinar os recursos do FNDCT para a reserva de contingência da União, ou seja, guardar o dinheiro para ajudar no resultado fiscal. O projeto previa também que os R$ 4,3 bilhões que estavam na reserva de contingência no Orçamento de 2020 fossem usados para financiar despesas relacionadas à inovação e ao desenvolvimento científico e tecnológico, neste ano, junto com os R$ 4,8 bilhões que estão na reserva de contingência do Orçamento de 2021. Ou seja, no total seriam mais R$ 9,1 bilhões em gastos adicionais na área. Bolsonaro também vetou.
Depois de fazer os vetos, o presidente disse, em sua “live” do dia 14 de janeiro, que o dinheiro arrecadado para o FNDCT deve mesmo ser gasto em ciência e tecnologia. E informou que o ministro Marcos Pontes queria que o dinheiro do FNDCT (na reserva de contingência) fosse aplicado já. O presidente afirmou que, por uma questão de legislação, questão de responsabilidade fiscal e por questão do teto de gasto, isso não é possível. Mas anunciou que, assim que as novas mesas do Senado e da Câmara forem escolhidas, o governo vai encaminhar um projeto de lei mudando a legislação. “Ninguém quer furar o teto, mas queremos que o dinheiro descontado do empresariado para fins de pesquisa seja aplicado para isso”, disse. Para a área econômica, a aplicação dos recursos que estão retidos estoura o teto de gastos. O FNDCT foi criado em 1969 e tem por objetivo financiar a inovação e o desenvolvimento científico e tecnológico do país. Ele conta com receitas próprias: parcela do valor de royalties sobre a produção de petróleo ou gás natural; percentual das receitas oriundas da compensação financeira pela utilização de recursos hídricos para fins de geração de energia; e parcela da contribuição de intervenção no domínio econômico, entre outras. As receitas do FNDCT são vinculadas às despesas da área de ciência e tecnologia, ou seja, não podem financiar outras despesas orçamentárias. O que o governo faz, há muito tempo, para contornar esta vinculação? Destina a maior parte dos recursos arrecadados pelo FNDCT para a reserva de contingência, que consta do Orçamento da União.
Em 2020, por exemplo, R$ 4,28 bilhões dos recursos arrecadados pelo FNDCT foram destinados à reserva de contingência e apenas R$ 1,63 bilhão foi aplicado, de acordo com o relatório de execução orçamentária e financeira do fundo, disponível na página da estatal Financiadora de Estudos e Projetos (Finep) na internet. Em 2019, R$ 3,39 bilhões foram destinados à reserva de contingência e R$ 1,41 bilhão foi gasto. Os recursos destinados à reserva de contingência são contabilizados na conta única do Tesouro Nacional como sendo do FNDCT. Mas eles ficam retidos, ou seja, eles ajudam a atingir a meta fiscal do ano. Posteriormente, o governo edita medida provisória utilizando os recursos acumulados na conta única para abatimento da dívida pública. O projeto de lei complementar 135/2020, de autoria do senador Izalci Lucas (PSDB-DF), muda a Lei de Responsabilidade Fiscal (LRF), proibindo que as despesas de pesquisa e desenvolvimento científico e tecnológico, custeadas com recursos do FNDCT, sofram contingenciamento. Exceto se houver frustração das receitas que compõem o fundo. A proibição de que a tesoura do corte atinja as despesas de ciência e tecnologia, seja para o governo obter a meta fiscal, seja para deixar as despesas dentro do teto de gastos, já constava da Lei de Diretrizes Orçamentárias (LDO). Ou seja, a equipe econômica já tinha essa limitação para o contingenciamento. A diferença, agora, é que a proibição passou a constar em lei complementar.
Guedes conseguiu, no entanto, anular o engessamento da mudança. Para controlar os gastos na área de ciência e tecnologia, bastaria ao ministro da Economia continuar com a prerrogativa de destinar recursos do FNDCT para a reserva de contingência. Por isso, Guedes sugeriu que Bolsonaro vetasse o artigo do PLP 135/2020 que proíbe a alocação de valores do FNDCT para a reserva de contingência. O argumento utilizado pelo ministro foi que a medida resultaria em mais despesas neste ano, com rompimento do teto de gastos. Bolsonaro aceitou. O ministro sugeriu também que o presidente vetasse o artigo que determina que os recursos do FNDCT retidos na reserva de contingência de 2020 fossem integralmente disponibilizados para execução orçamentária e financeira após a aprovação da lei complementar. O argumento usado foi que a medida atrapalhará a execução de projetos e ações já planejadas das demais áreas do governo. Bolsonaro também aceitou. Em entrevista à Rádio Senado, o senador Izalci Lucas disse que vai lutar para que os vetos de Bolsonaro sejam derrubados pelo Congresso. Ele acha que contará com o apoio dos outros parlamentares. “Todos eles sabem da importância de o país ter investimentos em ciência, tecnologia e inovação. Não vejo nenhuma dificuldade de derrubar os vetos”, afirmou. Aparentemente para acalmar o ministro Marcos Pontes, Bolsonaro prometeu encaminhar projeto de lei ao Congresso para determinar que os recursos do FNDCT sejam aplicados somente nas áreas de pesquisa e desenvolvimento científico e tecnológico. Assim que houver as mudanças nas mesas do Senado e da Câmara.

*”Comércio do Brasil com EUA é o que mais sofre com a pandemia”* - Vendas aos americanos recuaram 27,8% em 2020, mais de quatro vezes a queda geral dos embarques brasileiros para o mundo

*”Presidente do Ipea ‘não tem noção’ sobre indústria, diz setor”* - A fala do presidente do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea), Carlos Von Doellinger, ao Valor, na qual defendeu que o Brasil deixe de apoiar a indústria e coloque foco em suas vantagens comparativas, como agronegócio e a mineração, provocou mal-estar e forte reação no setor industrial. A visão é que o Brasil não pode ser comparado com países com população muito menor, como Austrália, e precisa, sim, desenvolver a indústria como fonte de geração de empregos e de aumento da renda. “Essa posição demonstra que o presidente do Ipea, lamentavelmente, não tem a mínima noção da importância da indústria para a produtividade e o desenvolvimento dos demais setores da economia”, disse ao Valor, em nota, o presidente da Confederação Nacional da Indústria (CNI), Robson Andrade, falando também pelas 70 associações do Fórum Nacional da Indústria. “Não estou subestimando a importância dos setores agrícola e mineral. Mas o fato é que o Brasil se transformaria em uma roça, a fazenda do mundo, exportando apenas commodities e matérias-primas, assim como empregos de qualidade, para as economias mais desenvolvidas”, diz.
A CNI destaca que apenas a indústria manufatureira nacional é responsável por 25% da arrecadação federal. Responde por 50,6% das exportações e por 65% dos investimentos em pesquisa e desenvolvimento. E cada R$ 1 produzido na indústria de transformação gera R$ 2,40 na economia nacional. Na agricultura é R$ 1,66, e, no comércio e serviços, R$ 1,49. Para o diretor da Associação Brasileira da Indústria Química (Abiquim) André Cordeiro, o raciocínio de Doellinger repete a lógica da medida tomada pela rainha Maria I, há mais de dois séculos, quando proibiu fábricas e manufaturas no Brasil. “Isso não deu certo. A indústria que é capaz de gerar maior renda e bem-estar para a população. O Brasil não pode se dar ao luxo de concentrar atividades. Não pode prescindir de uma indústria grande e de base tecnológica”, diz Cordeiro. Ele afirma ainda que o problema do Brasil é seu elevado custo para se produzir, em termos tributários e de outras obrigações. Nesse sentido, explica, não poderia nem ser considerado alto o volume de mais de R$ 300 bilhões em gastos tributários, um quinto do chamado “custo Brasil”. “Nossa indústria é competitiva e eficiente. Nossos grandes problemas são logística, custo de capital alto, falta de segurança jurídica e uma carga tributária elevada”, salientou.
O presidente-executivo da Associação das Indústrias de Vidro (Abividro), Lucien Belmonte, demonstrou muita contrariedade com as declarações. Para ele, o raciocínio de Doellinger é como se estivesse dizendo que a montadora Ford fez bem em sair do Brasil. “É impressionante em um país com indústria ampla e diversificada ouvir algo assim. É uma desconexão com a realidade brutal. No fim das contas, a gente não é necessariamente competitivo porque temos o governo mais caro do mundo”, afirmou, referindo-se a questões como custo tributário, energético e logístico. “A gente não está pedindo proteção. A nossa carga tributária é muito mais alta que as de serviços e agro, é uma questão de reforma tributária.” O vice-presidente da Fiesp e presidente da Associação Brasileira da Indústria de Plástico (Abiplast), José Ricardo Roriz Coelho, também atacou a fala de Doellinger. “É lamentável que ele tenha este conceito equivocado do papel da indústria”, disse, atacando a comparação com a Austrália. “Os países que tiveram uma participação expressiva da indústria no PIB chegaram muito mais rápido ao grau de desenvolvimento”, acrescentou. E disse que a indústria brasileira ajudou a desenvolver a agricultura.
Para o consultor Welber Barral, da BMJ Consultores Associados, em teoria, o Brasil tem de aproveitar suas vantagens comparativas, porém, com mais de 200 milhões de pessoas teria dificuldade para criar renda e emprego só com a produção agrícola, que remunera pouco o trabalhador e passa por processo de mecanização. E o setor de serviços não é desenvolvido o suficiente para absorver os trabalhadores. “Na prática, o risco de problemas sociais é muito alto,” Lembrou que os EUA são grandes exportadores de commodities, com serviços desenvolvidos e não abriram mão da indústria. Ressaltou que o setor é penalizado pelo sistema tributário desde 1988, enquanto agricultura exportadora e mineração pagam pouco e serviços têm regimes especiais. “O Brasil tem muito a dar em competitividade para a indústria, principalmente com a reforma tributária.” Para o professor da UnB José Oreiro, Doellinger fala como se a indústria fosse “algo que está acima da capacidade cognitiva dos brasileiros”. “Esse é um argumento ridículo e totalmente contrário à evidência empírica disponível. Entre 1930 e 1980, o Brasil cresceu a uma taxa média de 8% ao ano puxado pelo crescimento do setor manufatureiro”, disse. “Vantagens competitivas não são um dado da ‘natureza’; mas são construídas ao longo do tempo”, completou.

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*”Butantan espera insumo para este mês”* - Governo de São Paulo faz gestões em Pequim e diz que falta aprovação de apenas uma de quatro instâncias chinesas

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*”Planalto recorre a “diplomacia paralela” para obter vacinas”* - Aumentam dentro do governo pressões pela demissão do chanceler Ernesto Araújo

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