segunda-feira, 18 de janeiro de 2021

Análise de Mídia - 18/01/2021

 

DOS JORNAIS DE HOJE: O destaque de todas as capas é o início da vacinação contra a covid-19 no Brasil. Porém, as manchetes também anunciam que São Paulo se antecipou ao calendário nacional. Ainda sobre a crise sanitária vivida pelo país, Folha e Valor mostram que juristas respeitados querem o impeachment de Jair Bolsonaro. Na Folha, o ex-ministro do STF Ayres Brito defende o processo contra Bolsonaro e, no Valor, uma reportagem mostra que um manifesto assinado por mais de 352 personalidades pede que Augusto Aras abra processo de investigação contra Jair Bolsonaro pela postura que o presidente adotou diante da pandemia.
Sobre o início da vacinação em São Paulo, a coluna Painel da Folha aponta que outros governadores criticaram a postura de João Doria. A coluna menciona que o governador do Piauí Wellington Dias está entre os críticos. Para além da polêmica do momento, o jornal sugere a existência de uma disputa política no STF. A reportagem informa que a decisão do presidente da corte de proibir a reeleição de Maia e Alcolumbre desencadeou tanta insatisfação que outros integrantes do STF estariam operando para inviabilizar o mandato de Fux. No entanto, o texto carece de fontes de informação que comprovem a teoria. A Folha publica também reportagem sobre o perfil do candidato à presidência do Senado Rodrigo Pacheco.
O jornal O Globo tenta chamar atenção do seu público leitor para a PEC da segunda instância. De acordo com a reportagem, nem Baleia Rossi nem Arthur Lira pretendem colocar a proposta em votação. O Globo aborda ainda a volta das críticas de Jair Bolsonaro às decisões do STF. Outro destaque no jornal é uma reportagem sobre a mudança nos planos para a estruturação do setor energético do país.
O Estadão mostra que os partidos de oposição ao governo têm ingressado com ações no STF para impedir o avanço de pautas caras a Jair Bolsonaro. A reportagem mostra que a Rede é o partido com maior número de ações nesse sentido. Sobre o setor energético, o Estadão informa que a queda nos preços de equipamentos fez com que o Brasil dobrasse a produção de energia solar. Além disso, o jornal publica reportagens sobre as mudanças no mercado de trabalho e como o sindicalismo brasileiro estaria perdendo força diante do novo contexto dos trabalhadores.
O Valor Econômico publica reportagem sobre o risco da dispensa de licenciamentos ambientais para construção de empreendimentos. A ideia defendida pelo Ministério da Economia pode provocar um aumento na judicialização de obras. O jornal ainda apresenta o que pode ser um desenho das intenções dos partidos da centro-direita para a eleição presidencial de 2022.

 

CAPA – Manchete principal: *”Após decisão unânime da Anvisa, vacinação começa em São Paulo”*

EDITORIAL DA FOLHA - *”Vacinas, enfim”*: A aprovação unânime pela Anvisa de duas vacinas contra a Covid-19 encerra um atraso injustificável e explicita como deveria funcionar o Estado brasileiro, não prevalecesse no Planalto o delírio ideológico patrocinado pelo presidente Jair Bolsonaro. A diretoria da agência dissipou neste domingo (17) o temor de que faltaria com o dever por subserviência política. Em nove dias, a Agência Nacional de Vigilância Sanitária analisou milhares de dados e documentos e autorizou o uso emergencial dos imunizantes Coronavac, do Instituto Butantan, e Covishield, da Fundação Oswaldo Cruz, desenvolvidos em parcerias internacionais —e, concluiu-se, seguros e eficazes. Gerentes e diretores da autarquia, durante mais de cinco horas de reunião, se estribaram na objetividade e na lógica das evidências para cortar o nó górdio do negacionismo irresponsável. As apresentações foram exaustivas, sóbrias, transparentes e esclarecedoras. Alguma retórica se ouviu, mas pareceu mais que justificada: a hora é grave. Viram-se votos firmes de solidariedade às vítimas da incúria do Estado na tragédia em Manaus e alhures, afirmações sem subterfúgios da inexistência de alternativas terapêuticas, repúdio decidido à negação da ciência, recomendação inequívoca de que o distanciamento social continua imperativo. O país assistiu pela TV a uma refutação completa da irresponsabilidade criminosa protagonizada pelo presidente, por seus filhos e por parlamentares de baixa extração.
Igual e deplorável figura faz o ministro da Saúde, Eduardo Pazuello, general da ativa que conspurca as Forças Armadas ao curvar-se a Bolsonaro. Não caia no esquecimento sua indignidade ao fazer pressão para que autoridades amazonenses recorressem ao kit Covid dos charlatães, quando era de oxigênio que os moribundos precisavam. Na Anvisa essa chusma não logrou fincar bandeiras. Temos vacinas, enfim, à sua revelia. E a primeira a materializar-se foi logo aquela que o presidente jurou jamais adquirir e depreciava como vacina chinesa, supostamente inconfiável e teratogênica. O governador paulista, João Doria (PSDB), fez o que dele se poderia esperar: logo após a reunião da Anvisa, promoveu o que será visto como a primeira imunização nacional. Mônica Calazans, 54, enfermeira, recebeu a primeira injeção da Coronavac após a autorização. Um lance de marketing, pois sim, como se lamuriou Pazuello. Mas Doria só pôde colocá-lo em prática porque trabalhou pela saúde pública, algo que o ministro ainda precisa aprender —se não for dispensado antes por Bolsonaro, que já se livrou de dois ministros médicos para entregar a pasta a militares ineptos para a função. A vitória política do governador tucano é o aspecto menos importante do ponto final da Anvisa na demora revoltante que a omissão e o diversionismo federais impuseram ao único instrumento para combater a pandemia.
Basta de improvisação, como implorar a potentados estrangeiros por um lote ínfimo de doses e colar adesivo em avião para trazer da Índia uma quimera. Chegou a hora —já passa, na verdade— de Bolsonaro e Pazuello começarem a cumprir sua obrigação. Como resultado da inação, tão bem exemplificada ao contratar-se um único fornecedor, o país inicia tarde sua campanha de vacinação sem contar com doses suficientes para imunizar nem mesmo o primeiro grupo prioritário do mal-ajambrado plano federal. O momento pede um esforço nacional hercúleo para estancar a propagação do coronavírus, reduzir a mortandade e fazer as vacinas chegarem ao maior número de brasileiros necessitados no menor espaço de tempo. Autoridades sanitárias nos três níveis de governo precisam unir-se e coordenar-se para várias tarefas inadiáveis. Antes de mais nada, há que garantir novos fornecedores de vacinas e seringas no exterior ou acelerar a produção doméstica. Multiplicar e equipar postos de vacinação, em rede ainda mais eficiente que a mobilizada no passado, responsável pelo sucesso do Brasil nesse campo. Montar sistema ágil para cadastrar vacinados e assegurar que tomem a segunda dose. Neste momento de escalada preocupante da Covid, o mais necessário é Bolsonaro, em seu próprio interesse político, sair do caminho e permitir que os setores qualificados do Estado façam seu trabalho. O presidente e seu ministro, hoje, são os maiores inimigos da saúde pública. Que a decisão acachapante da Anvisa tenha sido o primeiro passo para sua derrota.

PAINEL - *”Vacinação adiantada de Doria divide governadores e gera mal-estar em grupo de WhatsApp”*: A decisão de João Doria (PSDB-SP) de aplicar a primeira vacina neste domingo (17) gerou mal-estar. Em grupo de WhatsApp de governadores, Wellington Dias (PT-PI) disse que a atitude foi lamentável. "O entendimento sempre foi o Brasil numa mesma data. Um estado coloca os demais como de segunda categoria", escreveu. A insatisfação chegou a Eduardo Pazuello (Saúde), que sentiu confiança para convidar governadores a um ato simbólico nesta segunda-feira (18). Até o fim da noite, Doria não tinha respondido no grupo. Nos bastidores, governadores se dividiram. Alguns dizem ter sido uma atitude previsível do tucano, de explorar politicamente os efeitos do acerto de ter apostado na ciência e na vacina contra o negacionismo de Jair Bolsonaro e seu ministro. Outros endossaram a crítica. Na visão de parte do grupo, a ação do governador paulista deu sobrevida a Pazuello. Quem não concordou decidiu ir para o lado do enfraquecido ministro com a justificativa de que devem todos se unir ao plano nacional de imunização. Quem criticou Doria diz que o ato convocado pelo titular da Saúde estará maior por causa da insatisfação gerada. Alguns deles tinham o mesmo discurso de Pazuello: a vacina é do SUS, não de SP. Convidado para a cerimônia, Doria enviará o vice-governador Rodrigo Garcia (DEM) em seu lugar.

PAINEL - *”Após troca de farpas com Pazuello, Doria vai mandar vice para ato de entrega de vacinas com o ministro”*

PAINEL - *”Escolha final de enfermeira Monica Calazans como 1ª imunizada foi pessoal de Doria”*: A escolha final por Monica Calazans como primeira imunizada foi pessoal do governador João Doria (PSDB), às 22h30 da sexta (15), após analisar sugestões feitas pela Secretaria de Comunicação. A aplicação aconteceu minutos depois de a Coronavac, vacina do laboratório Sinovac produzida no Brasil em parceria com o Instituto Butantan, ter seu uso emergencial aprovado pela Anvisa (Agência Nacional de Vigilância Sanitária). A expectativa é que o imunizante reduza significativamente a incidência de casos graves da doença, diminuindo a lotação dos sistema de saúde, e transformando a Covid, enfim, em uma “gripezinha”. Monica Calazans, 54, trabalha na UTI do Instituto de Infectologia Emílio Ribas, em São Paulo. Com obesidade, hipertensão e diabetes, ela faz parte do grupo de risco. Calazans foi vacinada pela enfermeira Jéssica Pires de Camargo, 30. A aplicação da vacina ocorreu em caráter simbólico, ao lado de Doria, fiador da Coronavac no país.

PAINEL - *”Ministério da Saúde promete a estados que vai criar sistema de acompanhamento em tempo real das vacinas”*
PAINEL - *”Reunião do Solidariedade nesta segunda deve marcar oficialização de apoio a Baleia Rossi”*

PAINEL - *”Deputado é incluído em grupo de parlamentares pró-Arthur Lira, chama Bolsonaro de 'louco' e sai”*: Apoiador de Baleia Rossi (MDB-SP) na disputa pela presidência da Câmara, o deputado Júnior Bozzella (PSL-SP) foi incluído no grupo de WhatsApp dos parlamentares apoiadores de Arthur Lira (PP-AL). “Amigos, me perdoem a ousadia, mas não posso comungar com uma candidatura patrocinada por um insano e inconsequente", escreveu, referindo-se a Jair Bolsonaro, fiador de Lira.

*”Atuação de ministros do STF no recesso ofusca Fux em discussão sobre Covid e Lula”* - A iniciativa de quatro ministros do STF (Supremo Tribunal Federal) de seguir trabalhando durante as férias tirou o tradicional protagonismo da presidência do STF nesse período e esvaziou os poderes do ministro Luiz Fux, atual chefe da corte. A estratégia dos magistrados foi uma resposta às disputas internas do tribunal, acentuadas pela reviravolta no julgamento sobre a reeleição para o comando do Congresso, e tem dado certo. O fato de o ministro Ricardo Lewandowski ter permanecido em atuação no recesso, por exemplo, retirou de Fux o poder sobre o principal tema do país no momento: a vacinação contra a Covid-19. O mesmo ocorreu com o pedido do ex-presidente Lula (PT) para ter acesso a mensagens captadas na Operação Spoofing, que investiga hackers que invadiram o celular de integrantes da Lava Jato e vazaram mensagens trocadas pelo ex-juiz Sergio Moro e o procurador Deltan Dallagnol, entre outros diálogos de investigadores. Caso o recurso tivesse ido para a mesa de Fux, um dos principais defensores da Lava Jato no STF, provavelmente teria sido rejeitado e o caso teria o destino oposto. Lewandowski impôs uma derrota à operação e autorizou o acesso do petista às conversas. Os outros três ministros que seguiram trabalhando, Gilmar Mendes, Alexandre de Moraes e Marco Aurélio, ainda não tomaram nenhuma decisão polêmica nesse período. A avaliação interna, porém, é que o sinal emitido por eles ao permanecer em atuação surtiu o efeito esperado, o de limitar os poderes do atual presidente. A decisão de Gilmar, Moraes e Lewandowksi de não sair de férias ocorreu depois do julgamento que impediu os atuais presidentes da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ), e do Senado, Davi Alcolumbre (DEM-AP), de disputarem a reeleição no cargo.
Os magistrados votaram a favor da possibilidade de ambos serem reconduzidos e contavam com o voto favorável de Fux nesse sentido. Em conversas reservadas, os ministros dizem que o presidente da corte tinha se comprometido em liberar a reeleição e que Gilmar, relator do caso, só incluiu o tema para análise no plenário virtual por causa dessa sinalização. Assim, o voto contrário de Fux soou como uma traição. Os colegas interpretaram que o presidente do tribunal não cumpriu a palavra e ainda os expôs, pois, se soubessem que não tinham maioria, não precisariam ter argumentado a favor da reeleição na contramão do que diz a Constituição. A avaliação dos ministros, que contava com a simpatia de Fux, é que valia a pena fazer uma interpretação alargada da Constituição para garantir a permanência de Maia e Alcolumbre na chefia do Congresso. Isso porque ambos eram vistos como peças importantes para impor freios ao presidente Jair Bolsonaro nos enfrentamentos com o Supremo e com o próprio Legislativo.
Diante da reviravolta no julgamento e do veto à reeleição, os ministros passaram a discutir formas de controlar a gestão de Fux à frente do Supremo. Uma das ideias que deve ser levada à frente é a inviabilização do plenário em 2021, com pedidos de vista e votos longos. Outra estratégia para enfraquecer o presidente foi justamente seguir o trabalho durante o recesso e não deixar concentrado no comando do Supremo a responsabilidade de responder pelo tribunal nesse período. Os ministros enviaram ofício à presidência para comunicar que não sairiam de férias. Nos bastidores, foram travadas discussões sobre o tema, e a conclusão é que os ministros deixaram Fux de mãos atadas. Isso porque, diante do excesso de processos em curso no tribunal e ainda mais durante uma crise de saúde sem precedentes, o presidente não teria argumento para dizer que não gostaria de dividir trabalho. Além disso, diferentemente da ação coordenada de um grupo seguir em atuação, como aconteceu neste ano, decisões isoladas no recesso em casos sem tanta relevância já ocorreram e nunca foram contestadas. Por meio de nota, o gabinete de Lewandowski afirmou que, por ser relator de diversos processos sobre a Covid-19, ele "não se sente no direito de descansar diante do enfrentamento da pandemia".
E ele foi o ministro que mais trabalhou neste recesso. Relator de ações que questionam a atuação do governo em relação à vacinação contra a Covid-19, Lewandowski foi protagonista no embate entre o Governo de São Paulo, comandado por João Doria (PSDB), e o governo federal sobre o tema. Em 8 de janeiro, o magistrado impôs um revés ao presidente Jair Bolsonaro e impediu a União de requisitar seringas e agulhas do Executivo paulista destinados ao plano estadual de imunização contra o coronavírus. Também no recesso, o ministro cobrou explicações do Ministério da Saúde em relação ao estoque de insumos para a vacinação. Geralmente, o presidente divide os poderes do recesso apenas com o vice. Fux, por exemplo, sairá de férias em 18 de janeiro e dará lugar à ministra Rosa Weber, vice-presidente da corte, que fica no posto até dia 31, quando a corte retoma os trabalhos. Todos os anos o recesso dura cerca de 15 dias e é emendado por férias coletivas dos ministros. O gabinete de Lewandowski informou que, durante o recesso, que foi de 20 de dezembro a 6 de janeiro, foram recebidos 123 pedidos urgentes e em todos houve alguma decisão. “Foram analisados habeas corpus, reclamações e medidas cautelares em ADI, ACO e ADPFs relacionadas aos processos sobre o combate à Covid-19, dos quais o ministro Ricardo Lewandowski é o relator”, afirmou. Entre 6 e 12 de janeiro, chegaram ao gabinete 19 casos urgentes e todos também já foram analisados, segundo a assessoria do ministro.
Vera Chemim, especialista em direito constitucional e mestre em administração pública pela FGV, afirma que a permanência dos ministros no trabalho tem relação direta com o julgamento que vetou a reeleição no Congresso. “Essa conduta é realmente anormal e remete lamentavelmente a uma motivação de natureza política e interpessoal”, analisa. Segundo Chemim, discordâncias internas levaram a essa situação. “Digo isso porque se constata a existência de conflitos entre seus próprios membros. Conflitos que são decorrentes de divergências políticas, o que não deveria ocorrer no Poder Judiciário, que deve ser técnico e apolítico”, diz. A constitucionalista afirma que a divisão interna ocorre principalmente devido a temas relacionados à Lava Jato e ao combate à corrupção. Ela também cita a criação do juiz de garantias, que foi aprovada pelo Congresso e teve a implantação da medida suspensa por decisão de Fux.
No fim do ano passado, advogados renomados entraram com um habeas corpus no Supremo em que pedem a suspensão do despacho de Fux contra o juiz de garantias. Relator do caso e um dos ministros que seguiram em atuação no recesso, Alexandre de Moraes pediu, no primeiro dia do recesso, esclarecimentos a Fux. Na resposta, o presidente não deu uma data para o plenário analisar sua decisão monocrática e disse que realizou duas audiências públicas e que o terceiro encontro sobre o tema foi cancelado devido à pandemia. Em tese, não caberia habeas corpus contra despacho individual de ministro do STF, mas, em meio aos conflitos internos, Moraes resolveu pedir informações em vez de arquivar a ação.
+++ A reportagem é interessante e sugere uma disputa política dentro da Suprema Corte brasileira. O que enfraquece o texto é a presença de somente uma fonte corroborando com a sugestão do jornal. Um analista é muito pouco para decidir à distância o que acontece no STF.

CELSO ROCHA DE BARROS - *”Jair Bolsonaro é o policial com o joelho no pescoço de Manaus enquanto a cidade grita 'I Cant Breathe'”*

*”Próximo de Bolsonaro e acusado de 'rifar' Temer, Pacheco busca sair da sombra de Alcolumbre”* - Dois representantes de bancadas governistas, mas com perfis diferentes, Rodrigo Pacheco (DEM-MG) e Simone Tebet (MDB-MS) são os dois principais nomes na disputa pela presidência do Senado, cuja eleição será em fevereiro. Ambos apresentam um histórico de votações muito parecido, apoiando o governo Jair Bolsonaro em pautas importantes, principalmente na área econômica. No entanto, apresentam trajetória e comportamento distintos. Tebet entrou na política seguindo os passos do pai, Ramez Tebet, que há 20 anos foi eleito para a mesma presidência do Senado. Pacheco, por sua vez, é herdeiro de empresas familiares e entrou na política pelas conexões feitas nos tempos de advogado criminalista de sucesso. O senador mineiro herdou uma articulação política do seu padrinho, o atual presidente do Senado, Davi Alcolumbre (DEM-AP), e agora precisa mostrar independência. Tebet, por outro lado, precisa mostrar que não é tão independente e assim romper resistências a seu nome, que começam na sua própria bancada.
Após a primeira semana com as duas candidaturas definidas, o senador mineiro, que tem apoio de Bolsonaro, obteve uma ampla vantagem no apoio de bancadas, reunindo em torno de si oito partidos que reúnem teoricamente os votos necessários para obter a maioria no Senado —41. Estão do seu lado aliados improváveis, como Flávio Bolsonaro (Republicanos-RJ) e a bancada do PT. Como a votação é secreta, no entanto, pode haver traições internas. E essa é a aposta do núcleo ligado à senadora, após um começo de campanha que começou abaixo do esperado, ao não obter a integridade dos votos que considerava certo, principalmente das bancadas do Podemos (que conta com 9 senadores) e do PSDB (7). Os tucanos racharam e por isso a liderança decidiu liberar a bancada para votarem como quiserem. Senadores aliados de Rodrigo Pacheco (DEM-MG) usam o estereótipo mais comum em relação aos mineiros para descrevê-lo: alguém reservado, que trabalha nos bastidores, bom articulador e que sabe aproveitar a oportunidade quando ela aparece.
No caso de Pacheco, ele estava no local certo e na hora certa. Quando o STF (Supremo Tribunal Federal) decidiu, em dezembro, barrar a reeleição para o comando da Câmara dos Deputados e do Senado, o senador mineiro herdou grande parte da articulação que havia sido feita por Alcolumbre. O senador do Amapá tinha a certeza de que permaneceria mais dois anos no cargo. Pacheco não era necessariamente a primeira opção do senador, que levou vários nomes para a benção do presidente Jair Bolsonaro (sem partido), como Antonio Anastasia (PSD-MG) e Nelsinho Trad (PSD-MS). Mas a corrida afunilou, com a desistência do primeiro e a rejeição ao segundo. Acima de tudo, pesou a proximidade com o presidente do Senado. Pouco antes do Natal, Alcolumbre levou seu apadrinhado para um almoço no Palácio do Alvorada, ocasião em que foi efetivamente avalizado. Inicialmente, a promessa era de que Bolsonaro não iria interferir contra a candidatura, declarando uma certa neutralidade. O presidente, no entanto, começou a fazer vistas grossas quando Alcolumbre e Pacheco passaram a usar a influência do governo nas negociações. Quando cobrado pelo rival, o MDB, em uma reunião com o líder do governo no Senado, Fernando Bezerra Coelho (MDB-PE), Bolsonaro enfim declarou que o senador mineiro era seu candidato. Bolsonaro já tinha uma boa relação com Pacheco quando ambos eram deputados federais e, em 2019, quando já era presidente, fez questão de convidá-lo para viagem oficial à Ásia, convite aceito pelo mineiro. O entorno do presidente reconhece, no entanto, que Pacheco, apesar de ser um provável aliado, não deve adotar a mesma postura governista de Alcolumbre. O senador tem um perfil independente e é crítico da pauta de costumes, cara aos parlamentares bolsonaristas. Em 2019, ele votou contra medida que flexibilizava porte e posse de armas, bandeira eleitoral de Bolsonaro na campanha presidencial de 2018.
Por outro lado, aproximou-se nos últimos dois anos da equipe econômica do governo, ajudando em articulações para avançar a agenda de reformas. Ganhou pontos com Paulo Guedes ao relatar e chegar a um acordo para a votação da nova lei de falências. Caso eleito, um de seus desafios será sair da sombra de Alcolumbre, principalmente se ele decidir continuar no Senado —há a possibilidade de que o atual presidente da Casa assuma um ministério, abrindo a vaga de suplente para seu irmão, Josiel Alcolumbre, que perdeu as eleições para a Prefeitura de Macapá (AP). Aliados também avaliam que Pacheco vai precisar administrar um complicado sistema de alianças feito pelo seu padrinho, que colocou no mesmo lado Bolsonaro, bancadas de centro e de direita e o PT. Como vem afirmando em tom de brincadeira um senador, vai chegar a hora em que Pacheco vai precisar trair alguém, agora restaria saber se será apenas um dos atores envolvidos, dois ou os três.
De todos os compromissos assumidos nas alianças, o mais notório é de que não será candidato ao Governo de Minas Gerais. A condição foi articulada pela cúpula nacional do DEM para atrair para sua aliança a segunda maior bancada do Senado, o PSD, com seus 11 votos. Abre espaço, portanto, para as candidaturas de Alexandre Kalil (PSD), prefeito reeleito de Belo Horizonte, ou para o senador Carlos Viana (PSD-MG). Pacheco pode chegar à presidência do Senado com apenas seis anos de atuação no Congresso, a maior parte dele em um mandato na Câmara dos Deputados. Quando deputado federal, presidiu a importante CCJ (Comissão de Constituição e Justiça) durante o período em que o colegiado analisava as denúncias contra o então presidente Michel Temer, seu então correligionário no MDB. Em um ato descrito como de independência pelos seus atuais aliados e de traição pelos antigos, Pacheco indicou como relator da denúncia o deputado Sérgio Zveiter (MDB-RJ), que leu um duro parecer favorável à admissibilidade da denúncia pelo crime de corrupção passiva contra Temer.
O episódio foi um dos fatores que influenciaram a decisão de deixar seu antigo partido, migrando para o DEM pelas mãos do presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ). Pacheco também citou problemas regionais, principalmente a possibilidade de aliança do MDB em Minas Gerais com o PT de Fernando Pimentel. Ironicamente, Pacheco e PT se aproximaram no Senado, facilitando a adesão petista a sua candidatura. O movimento petista abriu as portas para outros partidos de oposição apoiarem o candidato, como o PDT. Um ponto de crítica nos corredores do Senado é o conflito de interesse entre sua atuação parlamentar e os negócios de sua família. Pacheco fez carreira de sucesso como advogado criminalista, mas também é herdeiro de empresas de transporte rodoviário de passageiros. No fim do ano passado, em um sinal de prestígio do senador mineiro, o governo federal indicou para a ANTT (Agência Nacional de Transportes Terrestres) um assessor de seu gabinete, o ex-deputado estadual em Minas Gerais Arnaldo Silva Júnior.
Apesar de o nome ter sido aprovado na comissão, houve mal estar com senadores, especialmente com Kátia Abreu (PP-TO), que atacou a falta de experiência do indicado, “um assessor do gabinete do senador, uma indicação explícita e reconhecida para todo o Brasil”, disse. Para evitar novas polêmicas ou comentários que atrapalhem a costura de alianças, o senador mineiro entrou em um modo de total discrição. Nada de eventos públicos. Enquanto sua rival, Simone Tebet (MDB-MS) usa as redes sociais para tratar de sua candidatura, para condenar a invasão do Congresso americano por apoiadores de Donald Trump e para tratar de vacinas contra a Covid-19, Pacheco está em um silêncio virtual quase absoluto. Foram apenas três postagens no último mês, todas para lamentar mortes recentes de políticos mineiros. A previsão é que o silêncio seja quebrado apenas nesta semana. Isso porque, apesar de todos saberem da sua candidatura, de ter conquistado o apoio público de oito bancadas do Senado, que reúnem a maioria dos senadores —desconsiderando possíveis traições—, o evento que vai oficializar o seu nome ainda está por acontecer.

*”Considerada independente e combativa, Tebet modulou postura para romper resistências”*

*”Fundos públicos deram R$ 1,7 milhão a candidatos que precisavam de só 1 voto para se eleger”* - Fontes públicas de financiamento de campanhas, os fundos eleitoral e partidário distribuíram, juntos, cerca de R$ 1,7 milhão para candidatos a prefeito que concorriam sozinhos em 2020 e que, portanto, só precisavam de um voto válido cada para se eleger. A eleição municipal contou com 106 chapas do tipo, das quais 68 foram agraciadas com recursos públicos, segundo o TSE (Tribunal Superior Eleitoral). A essas foram cedidos R$ 1.735.898, a maior parte proveniente do fundo eleitoral (92,23%), que colocou ao todo R$ 2,035 bilhões no pleito de 2020. Tabulados pela Folha, os números aparecem nas contas declaradas pelos candidatos à Justiça Eleitoral. A prestação dos eleitos em primeiro turno foi encerrada no dia 15 de dezembro; no entanto, os dados não têm consolidação automática e podem sofrer variações, segundo o TSE. Mesmo com a vitória garantida, os candidatos únicos, de municípios que têm, segundo projeções do IBGE, entre 982 e 36.881 habitantes, não economizaram verba pública em santinhos, adesivos, jingles e lives. Gastaram ainda no apoio às candidaturas a vereador de aliados e com assessorias jurídica e contábil.
Entre as candidaturas isoladas, a que recebeu maior repasse público foi a da prefeita Larissa Rocha (PSD), reeleita em Tenente Ananias (RN), de 10.855 habitantes, com R$ 100 mil cedidos pelo fundo eleitoral e integralmente gastos pela então candidata. Ela destinou a maior parte (R$ 76,6 mil) às redes sociais, com vídeos e lives superproduzidas em que costumava minimizar o fato de ser candidata única e pedia comparecimento às urnas, o que deu resultado: recebeu 4.510 votos e terá cinco correligionários entre os sete vereadores na Câmara Municipal.
O prefeito reeleito de Jupi (PE), Marcos Patriota (DEM), aparece em segundo entre os candidatos isolados que tiveram aporte público, com R$ 90.040,10 recebidos do fundo partidário. Em meio à pandemia da Covid-19, ele também se concentrou na campanha digital, à qual destinou R$ 50 mil. Em terceiro, aparece Moises Aparecido de Souza (PSD), conhecido como Professor Moises, reeleito para mais quatro anos à frente da Prefeitura de Catanduvas (PR). Ele recebeu R$ 75 mil do fundo eleitoral e tem declarado como sobras R$ 5.648,23. O prefeito dividiu os gastos entre materiais gráficos e repasse aos candidatos a vereador de sua coligação, que incluiu também PSC, PL e PT, além de ter credenciado 28 fiscais, que receberam R$ 100 cada, para acompanhar a votação no município de 10.167 habitantes. Na sequência do ranking das candidaturas isoladas com maior aporte público, aparecem Matheus Martins (PSB), reeleito em Terezinha (PE), e a prefeita eleita de Jurema (PI), Kaylanne Oliveira (MDB), que receberam R$ 70 mil e R$ 65 mil, respectivamente. Ambos concentraram gastos em santinhos e adesivos. No caso de Martins, há declarada uma sobra do fundo eleitoral, de R$ 472,12, o que não há nas contas de Kaylanne, que, entre suas despesas, tem R$ 10,3 mil destinados para a compra de fogos de artifício.
Candidatos únicos que não tiveram apoio dos fundos também tiveram gastos, mas em menor medida. Entre eles, a média de despesas contratadas foi de R$ 19.705,37, menos da metade do que de quem recebeu dinheiro público, que contratou R$ 41.457,71. Os candidatos agraciados com o aporte não precisavam necessariamente usar todo o montante recebido. No caso da verba do fundo eleitoral, o que não fosse gasto deveria ser devolvido à União. Até então, do valor cedido às candidaturas únicas, apenas R$ 31.992,46 constam como sobras de campanha. O repasse do dinheiro público a elas atendeu às regras dos próprios partidos, que tiveram, a depender de sua representatividade no Congresso, maior fatia do fundo eleitoral, criado em 2017 para suprir a proibição de doações privadas e de pessoas jurídicas. A única exigência do TSE é que houvesse aplicação proporcional para mulheres e negros.
OS MAIORES REPASSES DOS FUNDOS PÚBLICOS ÀS CANDIDATURAS ÚNICAS
1. Larissa Rocha (PSD), Tenente Ananias (RN) - R$ 100.000
2. Marcos Patriota (DEM), Jupi (PE) - R$ 90.040
3. Professor Moises (PSD), Catanduvas (PR) - R$ 75.000
4. Matheus Martins (PSB), Terezinha (PE) - R$ 70.000
5. Kaylanne Olivera (MDB), Jurema (PI) - R$ 65.000
6. Domingos de João Nobre (DEM), Diogo de Vasconcelos (MG) - R$ 64.000
7. Toninho de Caridade (PSD), Caridade do Piauí (PI) - R$ 60.000
8. Ze Willian (PL), Panamá (GO) - R$ 60.000
9. Ailton Guimarães (Avante), Nova União (MG) - R$ 56.124
10. Edson Vilela (PSB), Carmo do Cajuru (MG) - R$ 50.000
10. Glairton Cunha (PP), Jaguaretama (CE) - R$ 50.000
10. Professor Volmar (PSL), Salgado Filho (PR) - R$ 50.000
CANDIDATOS FALAM EM LEGITIMIDADE E APOIO A VEREADORES
A Folha tentou contato com cada um dos prefeitos citados através do email e redes sociais informados por eles próprios à Justiça Eleitoral. Também procurou por email e telefone os diretórios partidários estaduais de cada um, além de telefonar, no caso dos reeleitos, às prefeituras envolvidas. No caso da prefeita Larissa Rocha (PSD), a Folha obteve apenas posicionamento da direção nacional de seu partido, que se limitou a pontuar que o repasse dos recursos dos fundos públicos foi definido pelas instâncias partidárias locais. Professor Moises (PSD) reforçou a legalidade da verba recebida e afirmou ter visto necessidade em usá-la para estimular as candidaturas a vereador de sua coligação, tal como Ailton Guimarães (Avante), que disse ainda ter recusado repasse maior oferecido por deputados. Glairton Cunha (PP) e Professor Volmar (PSL) pontuaram, ambos em nota, justificativas parecidas. Volmar ainda negou ver desperdício nos gastos e disse só ter tido certeza certeza de que seria candidato único na semana da eleição, quando a Justiça Eleitoral indeferiu, em terceira instância, pedido de registro de coligação adversária, por descumprimento de prazos eleitorais.
Ze Willian (PL), que também justificou a aplicação do aporte público no apoio a aliados que concorriam à Câmara Municipal, disse ser um desperdício precisar concorrer na condição de candidato único: "Deveria mudar a lei, para quando for assim, já ser aclamado vencedor". ​Domingos de João Nobre (DEM) afirmou ter usado todo o recurso na tentativa de obter um resultado robusto, o que, na avaliação dele, daria maior legitimidade ao governo. "Por ser uma cidade muito pequena, o que conta é peso de urna. Já pensou se eu fosse eleito só com o meu voto? Eu queria ter todos os votos", disse o prefeito do município com 3.790 habitantes. Edson Vilela (PSB) apontou argumento semelhante. "Sem votação expressiva, a representatividade da autoridade municipal seria modesta e frágil", disse, em nota. Também em nota, Toninho de Caridade (PSD) disse que, independentemente de não ter tido concorrentes, as contas atendem ao limite e aplicações previstas na norma eleitoral. A Folha não obteve, até a publicação deste texto, retorno dos eleitos Marcos Patriota (DEM), Matheus Martins (PSB) e Kaylanne Oliveira (MDB).

*”Lalo de Almeida é premiado como o fotógrafo ibero-americano do ano”*

ENTREVISTA DA 2ª - *”Impeachment é para quem dá as costas para Constituição, como Bolsonaro, diz ex-ministro do STF”*: Ao dar reiteradas amostras de que "tem o pé atrás" com a Carta Magna de 1988, o presidente Jair Bolsonaro se credenciou para o impeachment, uma sanção tão severa que "somente se aplica àquele presidente que adota como estilo um ódio governamental de ser, uma incompatibilidade com a Constituição", diz Carlos Ayres Britto, 78, ex-ministro do STF. "Respostas [para a crise sanitária] como 'e daí?' ou 'não sou coveiro' não sinalizam um caminhar na contramão da Constituição?" Tudo do ponto de vista jurídico, porque cabe ao Congresso decidir o destino do chefe do Executivo, e é bom que seja assim, afirma. Ministro do Supremo Tribunal Federal de 2003 a 2012, nomeado por Lula no primeiro ano de governo do petista, em 2016 ele disse à Folha que impeachment não é golpe. Comentava, então, a possibilidade de Dilma Rousseff ser destituída, o que acabou acontecendo naquele ano. "Ortodoxamente quarentenado", saindo apenas uma vez por mês, "de carro e máscara, só pra espairecer", Britto espera a vacina contra a Covid-19 chegar. De casa, concede esta entrevista, em que sugere "menos incontinência verbal e mais continência à Constituição" para o Brasil.
- Boa tarde, ministro.
- Queria, antes, falar uma coisa. Não se pode tapar sol com peneira: há uma crise que é múltipla. Os Poderes não se entendem devidamente. Definição antiga de Antonio Gramsci: crise é aquele estado de coisas em que o velho demora a morrer, e o novo não consegue nascer. No caso brasileiro, o velho que não larga o osso é uma espécie de visceral pé atrás com a Constituição. Há um boicote a ela. As forças mais reacionárias temem que, de tão humanizada que é, ela vai dar jeito no país. O governante central é assim, tem o pé atrás com essa Constituição, consciente ou inconscientemente. Quanto ao impeachment, essa mais severa sanção tem explicação. Somente se aplica àquele presidente que adota como estilo um ódio governamental de ser, uma incompatibilidade com a Constituição. É um mandato de costas para a Constituição, se torna uma ameaça a ela. E aí o país se vê numa encruzilhada. A nação diz, "olha, ou a Constituição ou o presidente". E a opção só pode ser pela Constituição.

- Então o sr. crê que a conduta de Bolsonaro na crise sanitária o credenciou ao impeachment?
- Diria que o conjunto da obra sinaliza o cometimento de crime de responsabilidade. Porém, o processo é de ordem parlamentar.

- Do ponto de vista jurídico, quais seriam esses crimes de responsabilidade?
- Pelo artigo 78, o presidente assume o compromisso de observar as leis, promover o bem geral do povo brasileiro. Ou seja, não é representante dos que votaram nele, dos ideólogos que pensam igual a ele. É de todo o povo. Menos incontinência verbal e mais continência à Constituição. A sociedade civil vai entendendo que regime democrático é para impedir que um governante subjetivamente autoritário possa emplacar um governo objetivamente autoritário. Se o presidente não adota políticas de promoção da saúde, segmentos expressivos da sociedade —a imprensa à frente— passam a adverti-lo de que saúde é direito constitucional. Prioridades na Constituição não estão sendo observadas: demarcação de terra indígena, meio ambiente.

- E no contexto da pandemia?
- O povo diz "saúde é o que interessa, o resto não tem pressa", a Constituição, que saúde é dever do Estado e direito de todos. Salta aos olhos: ele promove aglomerações, não tem usado máscara, não faz distanciamento social. Respostas como "e daí?" ou "não sou coveiro" não sinalizam um caminhar na contramão da Constituição?

- A atuação da Anvisa é independente?
- A agência deve dançar conforme a música da ciência, atuando sempre tecnicamente. Por isso e para isso é que ela foi criada por lei, sob a forma de autarquia. E autarquia é pessoa jurídica. Não órgão de uma outra pessoa jurídica —no caso, a União. Sua fidelidade não a esse ou aquele partido, essa ou aquela ideologia, esse ou aquele governo.

- Acredita que haverá vontade política para remover Bolsonaro?
- Esse tipo de análise é mais da ciência política.

- Muita gente diz que o impeachment é um trauma forte demais para um país, sobretudo no meio de uma pandemia. Concorda?
- Trata-se de uma avaliação que incumbe às duas casas do Congresso. Pondero o seguinte: o ideal, em qualquer democracia, é que todo presidente popularmente eleito inicie e conclua o seu mandato. Foi eleito democraticamente para isso. Agora, à luz da Constituição, há intercorrências que podem caracterizar crimes de responsabilidade com suficiente gravidade para a decretação do impeachment.

- Outra crítica comum: o Congresso pode sentar em cima do impeachment por razões pouco republicanas, como conchavos políticos, e que não é bom que só ele possa decidir se o presidente sai.
- É uma opção constitucional. Muitas vezes você não tem a melhor saída, salvo todas as outras. Como Winston Churchill dizia sobre a democracia ser o pior regime, exceto todos os outros. Olha, entendo que não há saída que supere em qualidade essa de entregar ao Congresso a avaliação do crime de responsabilidade. Agora, os parlamentares vão responder pelos seus votos eleitoralmente.

- Bolsonaro mais de uma vez usou tom de ameaça contra o STF. A corte está a perigo ou as instituições estão funcionando?
- Sim, elas estão. Já internalizamos a ideia fundamental de que a democracia não é regime de força, mas tem que ser suficientemente forte para não se deixar matar nunca. Por exemplo, já há compreensão de que as próprias Forças Armadas estão regradas num título constitucional para defender as instituições democráticas.

- Descarta um novo 1964?
- Internalizaram o sucesso civilizatório e não embarcarão em nenhuma canoa furada do autoritarismo.

- Não teria como fechar o Supremo com um cabo e um soldado, como disse Eduardo Bolsonaro?
- Não prosperaria de jeito nenhum.

- O líder do governo Bolsonaro [na Câmara, Ricardo Barros, do PP] advoga por um plebiscito para nova Constituinte.
- Uma Assembleia Nacional Constituinte a gente sabe como começa, mas não como termina. O pressuposto da convocação de uma é a falência múltipla da Constituição em vigor, uma que já deu o que tinha que dar. Não é o caso do Brasil, pois a nossa precisa é de tempo para dizer a que veio. E veio, reconheçamos, como um projeto de vida nacional tão democrático quanto humanista e civilizado.

- Quando Bolsonaro diz que o STF o proibiu de "qualquer ação" contra a Covid, que pelo tribunal ele tinha que "estar na praia, tomando cerveja", ele mente. Atitudes assim exigem um enfrentamento aberto pelos ministros ou uma postura de contenção de danos, de não enervar mais uma relação já tensa entre Poderes?
- É muito subjetivo e passa muito por quem estiver na presidência, que exerce uma orientação institucional. Mas a autocontenção depende das circunstâncias. Há momentos em que é preciso uma reação mais pronta, mais enérgica até, e há momentos em que se faz uma avaliação de que não é motivo para uma interpelação.

- E nesse caso?
- Diria: por exemplo, quando o presidente reiteradamente coloca dúvida sobre a precisa quantidade de votos que obteve na última eleição, e vai além para questionar a eficácia da urna eletrônica, pode sim vir a ser interpelado pelo Tribunal Superior Eleitoral. Porque esse tipo de afirmação coloca em xeque a qualidade da Justiça Eleitoral e aturde o próprio eleitor soberano.

- Como avalia a indicação de Kássio Nunes ao STF?
- Não conheço mais de perto o ministro. Mas o que sei dele é de que, tecnicamente, dá conta do recado.

- Bolsonaro garantiu a pastores que sua segunda nomeação seria terrivelmente evangélica.
- Tão difícil às vezes qualificar esses pronunciamentos do Bolsonaro. Requisito de investidura do cargo não é a embocadura religiosa de ninguém. Até porque a Constituição instituiu o Estado laico. Diz o artigo 19: é vedado ao Estado "estabelecer cultos religiosos ou igrejas, subvencioná-los, embaraçar-lhes o funcionamento ou manter com eles ou seus representantes relações de dependência ou aliança". Não sei por que essa referência à qualidade evangélica de um dos futuros nomeados. É um indiferente jurídico a formação religiosa da pessoa, mas dizer como se fosse condição de investidura é estranhável.

- O Supremo deve atuar em pautas de costumes que não prosperam no Legislativo?
- A Constituição enuncia, didaticamente: as normas definidoras dos direitos e garantias fundamentais têm aplicação imediata. Aí você diz, "mas se tais direitos e garantias padecerem da falta de norma regulamentadora, não é preciso esperar o Congresso editar essa lei"? A Constituição é um posto Ipiranga, dá resposta para tudo: "Conceder-se-á mandado de injunção sempre que a falta de norma regulamentadora torne inviável o exercício dos direitos e liberdades constitucionais". Isso ao lado da ação direta de inconstitucionalidade por omissão legislativa. Por isso que o STF, diante da mora do Legislativo, fez incidir sobre os atos de homotransfobia a lei criminalizadora do racismo.

- O apreço da população pelo STF já foi mais alto. A rejeição é agravada com, por exemplo, o pedido de reserva de vacinas. A autocrítica da corte é válida?
- Sempre válida. No caso da vacina, parece que houve mal entendido. O Supremo não reivindicou, apenas se inscreveu por antecipação. Não é, segundo me pareceu, reivindicar para si a primazia. Hoje nós temos essa universal circunstância da internet. A Internet empoderou as pessoas. As redes sociais estão se tornando antissociais. Então é isso, você trouxe à baila outra variável. Nós ainda vamos ralar para administrar com sensatez as plataformas.

- Nossa democracia corre perigo?
- Toda democracia vive sob risco de morte, porque todas as que morreram foi de “morte matada”, não de “morte morrida”. O que varia é o tamanho do risco. Dois poderosos antídotos contra os democraticidas já existem no país: é que ninguém pode impedir que a imprensa fale primeiro sobre as coisas, nem que o Judiciário fale por último. Assim como já existe aquela parelha de antídotos que se lê no pensamento de Thomas Jefferson, o segundo presidente dos EUA: “O preço da liberdade é a eterna vigilância”; “a arte de governar consiste exclusivamente na arte de ser honesto”.

- E o caso Trump?
- É que a democracia não está a salvo de acidentes eleitorais de percurso. Daí que, ante extrema sectarizacão, surjam eleitos de extrema esquerda, ou de extrema direita, e até mesmo os de extrema ignorância, no sentido negacionista da própria ciência. É quando essa democracia mesma aciona mecanismos aptos a fazer a ficha cair: a sociedade se apercebe de que não pode continuar a pagar um mico civilizatório. E na primeira oportunidade eleitoral, o povo se decide a apear tais governantes. Fica a lição de que um povo que elege mal os seus governantes se torna tão vítima quanto cúmplice de sua própria desgraça.

*”Nos primeiros dias, Biden vai usar decretos para romper com políticas de Trump”* - O presidente eleito dos Estados Unidos, Joe Biden, herdou uma coleção de crises como não se via há gerações e pretende estrear seu governo com dezenas de ordens executivas, e propostas legislativas, em uma “blitz” de dez dias que visa marcar um ponto de inflexão em um país que cambaleia com a pandemia de Covid-19, crise econômica, tensões raciais e agora os efeitos da invasão do Congresso. A equipe de Biden elaborou uma série de decretos que ele estará autorizado a emitir após sua posse, na quarta-feira (20), para começar a reverter algumas das políticas mais polêmicas do presidente Donald Trump. Assessores esperam que a enxurrada de atos, sem esperar pelo Congresso, crie uma sensação da energia do novo presidente, mesmo que o Senado coloque seu antecessor sob julgamento. Em seu primeiro dia na Presidência, Biden pretende ordenar uma série de medidas que serão em parte concretas e em parte simbólicas. Elas incluem o fim da proibição de viagens de e para vários países de maioria muçulmana, o retorno ao acordo climático de Paris, a ampliação dos limites relacionados à pandemia sobre despejos de inquilinos e pagamentos de empréstimos estudantis, uma ordem para se usar máscaras em prédios federais e viagens interestaduais e outra para que as agências federais descubram como reunir crianças que foram separadas das famílias depois de cruzar a fronteira. Todas essas informações constam de um memorando distribuído neste sábado (16) por Ron Klain, o futuro chefe de gabinete da Casa Branca, e obtido pelo jornal The New York Times.
Os planos das ordens executivas surgem depois que Biden anunciou que pressionará o Congresso a aprovar um pacote de estímulo econômico e alívio à pandemia de US$ 1,9 trilhão (R$ 10,6 trilhões), indicando a intenção de ser agressivo sobre questões políticas e confrontar os republicanos desde o início para que aceitem sua liderança. Biden também pretende apresentar projetos de lei abrangentes em seu primeiro dia no cargo, fornecendo um caminho para a cidadania a 11 milhões de pessoas que estão ilegalmente no país. Juntamente com sua promessa de vacinar 100 milhões de americanos contra o coronavírus nos primeiros cem dias, é um amplo conjunto de prioridades para um novo presidente, que poderá ser um teste definitivo sobre sua capacidade de fazer acordos e comandar o governo federal.
Para Biden, um início enérgico poderá ser crítico para levar o país além dos dramas intermináveis em torno de Trump. Nos 75 dias desde sua eleição, Biden deu pistas sobre o tipo de presidente que ele espera ser —focado nos grandes temas, resistente às vozes mais estridentes em seu próprio partido e desinteressado em se envolver no combate político minuto a minuto, por meio do Twitter, que caracterizou os últimos quatro anos e ajudou a conduzir a multidão no ataque ao Capitólio. Entretanto, em uma cidade que se tornou um campo armado desde o ataque em 6 de janeiro, com as festividades de posse reduzidas por causa da pandemia e da ameaça de terrorismo doméstico, Biden não pode contar muito com uma lua de mel. Enquanto muitos republicanos, em particular, ficarão aliviados com sua ascensão depois do incendiário Trump, os problemas que aguardam Biden são tão ameaçadores que até um veterano com meio século na política poderá ter dificuldade para comandar a nau do Estado. E mesmo que as inimizades partidárias da era Trump diminuam um pouco, restam profundas divisões ideológicas sobre a substância das políticas de Biden —sobre impostos, gastos do governo, imigração, sistema de saúde pública e outras questões—que contestarão grande parte de sua agenda no Congresso. "Você tem uma crise de saúde pública, um desafio econômico de proporções enormes, tensões étnicas e raciais e polarização política movida a esteroides", disse Rahm Emanuel, ex-prefeito de Chicago que foi o principal assessor dos presidentes Barack Obama e Bill Clinton. "Esses desafios exigem atos grandes e amplos. O desafio é se há um parceiro do outro lado para negociar. A transição de Biden foi diferente da de qualquer outro presidente, como serão seus primeiros dias de governo. O espírito de mudança e otimismo habitual que cerca um presidente recém-eleito foi obscurecido por um presidente derrotado que se recusa a admitir o fato e a ceder o foco de atenção.
Biden passou a maior parte desse período tentando não se distrair enquanto montava um gabinete e uma equipe da Casa Branca com veteranos no governo que notadamente parece a administração Obama que terminou há quatro anos. Ele reuniu um time de extensa diversidade em raça e gênero, mas sem muitas das figuras mais progressistas do partido, para decepção da esquerda. "Ele obviamente priorizou a competência e a longa experiência em muitas de suas nomeações", disse o deputado Ro Khanna, da Califórnia, que foi copresidente nacional da campanha do senador Bernie Sanders nas primárias. Mas, segundo disse, a equipe de Biden procurou progressistas como ele próprio. "Espero que continuemos vendo progressistas que tendem a ser mais jovens e novos no partido ocuparem muitos cargos de subsecretários e secretários assistentes, mesmo que não estejam no topo", disse Khanna. No topo estará uma das figuras mais conhecidas na política americana moderna, mas que pareceu evoluir nas últimas semanas. Depois de uma vida inteira em Washington, esse homem incansável e falante, de ambição consumidora, que sempre tinha algo a dizer e algo a provar parece ter cedido o lugar a uma versão mais autoconfiante, de 78 anos, que finalmente alcançou o sonho de sua vida. Ele não sentiu a necessidade de buscar as câmeras nas últimas dez semanas —na verdade, sua equipe se esforçou para protegê-lo de exposição imprevista, por medo de qualquer tropeço— objetivo que será mais difícil depois da posse.
"Ele está muito mais calmo", disse o deputado James Clyburn, da Carolina do Sul, um aliado próximo. "A ansiedade da disputa e a pressão da campanha ficaram para trás. Mesmo depois que a campanha e a eleição terminaram, toda a loucura que vinha do campo de Trump, você não sabe como tudo isso vai se desenrolar. Você pode saber como vai acabar, mas fica nervoso sobre como vai se desenrolar. Então agora tudo isso ficou para trás." Ao longo de sua carreira, Biden foi um indicador para o centro de seu partido, mais moderado nos anos 1990 quando isso estava na moda e mais liberal durante a era Obama, quando o centro de gravidade mudou. Ele é menos conduzido por ideologia do que pela mecânica de montar uma lei que satisfaça a vários centros de poder. Um "político de tato", como ele gosta de dizer, Biden é descrito por assessores e amigos como mais intuitivo sobre outros políticos e suas necessidades do que foi Obama, mas menos um pensador moderno.
Como Obama —e notadamente ao contrário de Trump—, Biden vê poucos noticiários na televisão, além de uma olhada ocasional em "Morning Joe" na MSNBC enquanto caminha na esteira, ou os programas de entrevistas de domingo. Os assessores lembram que raramente ele comentou algo que ouviu na televisão. Biden será a primeira verdadeira criatura do Capitólio a ocupar a Casa Branca desde o presidente Gerald Ford, nos anos 1970. Mais que os antecessores recentes, ele compreende como outros políticos pensam e o que os move. Mas sua confiança de que poderá fazer acordos com os republicanos vem de uma era em que a cooperação bipartidária era valorizada, mais que desprezada, e ele poderá descobrir que Washington hoje se tornou tão tribal que as antigas maneiras não se aplicam mais. "Joe Biden é alguém que entende como a política funciona e como são importantes as sensibilidades políticas de ambos os lados, o que é drasticamente diferente do presidente Obama", disse o ex-deputado Eric Cantor, da Virgínia, que, como líder republicano na Câmara, negociou com Biden e passou a apreciá-lo. "Eu pensaria que talvez chegue um tempo em que Washington consiga fazer alguma coisa", disse Cantor, que perdeu uma primária republicana em 2014 em parte por ser visto como muito inclinado a trabalhar com Biden. "Nesta altura não sei, os elementos radicais de ambos os lados estão tão fortes que será difícil."
A determinação de Biden em pedir ao Congresso uma ampla reforma das leis de imigração salienta as dificuldades. Em sua proposta de legislação, que ele pretende revelar na quarta, Biden pedirá o acesso à cidadania para cerca de 11 milhões de imigrantes sem documentos que já vivem nos EUA, incluindo aqueles em situação temporária e os chamados "dreamers" [sonhadores], que vivem no país desde que eram crianças. O projeto de lei incluirá maior ajuda estrangeira para as economias devastadas da América Central, oportunidades seguras de imigração para os que fogem da violência e reforço nos processos contra traficantes de drogas e de pessoas. Ao contrário dos presidentes anteriores, porém, Biden não tentará conquistar o apoio de republicanos reconhecendo a necessidade de novos e extensos investimentos em segurança de fronteiras em troca de suas propostas, segundo uma pessoa inteirada do assunto. Isso poderá dificultar a aprovação de seu plano no Congresso, onde os democratas controlarão as duas Casas, mas por uma margem mínima. Tudo isso explica por que Biden e sua equipe resolveram usar o Poder Executivo o máximo possível no início do governo, enquanto ele testa as águas de um novo Congresso. Em seu memorando à equipe graduada de Biden no sábado, Klain salientou a urgência das crises sobrepostas e a necessidade de que o novo presidente aja rapidamente para "reverter os danos mais graves do governo Trump".
Enquanto outros presidentes emitiram atos executivos logo depois de assumirem o cargo, Biden pretende assinar uma dúzia só no dia da posse, incluindo a reversão da proibição de viagens, a ordem para usar máscaras e a volta ao acordo de Paris. No segundo dia de Presidência, Biden lançará atos executivos relacionados à pandemia do coronavírus, visando ajudar as escolas e empresas a reabrirem em segurança, expandir os testes, proteger trabalhadores e esclarecer padrões de saúde pública. No terceiro dia, ele ordenará a seus órgãos de gabinete que "tomem medidas imediatas para levar alívio econômico às famílias de trabalhadores", escreveu Klain no memorando. O Congresso está amplamente travado há anos, e mesmo com os democratas controlando a Câmara e o Senado, Biden enfrentará um percurso íngreme depois de sua primeira explosão de decretos. Tom Daschle, da Dakota do Sul, um ex-líder democrata no Senado que trabalhou com Biden durante anos, disse que o próximo presidente tem um senso agudo dos desafios que enfrenta e das negociações necessárias. Como líder, Daschle lembrou que quando as coisas davam errado e ele se queixava, Biden brincava: "Espero que valha o carro", referindo-se ao veículo com motorista oferecido ao líder do Senado. Hoje, enquanto Biden prepara a mudança para a Casa Branca , disse Daschle, "estou quase inclinado a dizer: 'Bem, seja o que ele tenha de enfrentar agora, espero que valha a casa'".

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ESPER KALLÁS - *”Agora liberadas, vacinas continuarão a ser estudadas em busca de respostas”*: Este foi um dia histórico para a ciência brasileira. Depois do lançamento do estudo há cerca de seis meses, a Coronavac —do Instituto Butantan e da Sinovac— recebeu a aprovação emergencial pela Anvisa. Também recebeu aprovação a Covishield —a vacina de Oxford/AstraZeneca, com dados mais completos, pois anunciou seus resultados cerca de dois meses antes, com possibilidade de esmiuçar mais as informações. Sabemos que ambas as vacinas são eficazes e seguras. Protegem contra o desenvolvimento da Covid-19, principalmente as formas moderadas e graves da doença. Fato inédito na história recente do Brasil, a sessão pública da Anvisa teve grande audiência, quase como um jogo de final de campeonato. E isso já é fantástico. O leitor não imagina a satisfação de cientistas, pesquisadores e profissionais de saúde pública por testemunharem como a realização de dois estudos, a divulgação dos resultados e o julgamento da procedência do uso emergencial atraiu tanto a atenção dos brasileiros.
Nosso país está acordando para a importância da ciência, da inovação e do desenvolvimento tecnológico como as formas mais rápidas para buscar soluções para enfrentar problemas brasileiros. E, aqui, uma pandemia com impacto profundo. Como diz o nome, a aprovação emergencial reflete a necessidade da adoção de medida para uma situação excepcional que, portanto, precisa ser rápida. Há muito mais a ser explorado. A segurança conta com informações muito sólidas. Em sua grande maioria, os efeitos colaterais das vacinas, quando ocorrem, aparecem rapidamente. E o tempo que transcorreu desde o início dos dois estudos mostra que ambas as vacinas são muito seguras e bem toleradas. Ainda assim, efeitos colaterais raros e raríssimos não seriam percebidos em algumas dezenas de milhares de voluntários. Somente o emprego da vacina durante a campanha nos dará também esta resposta. O acompanhamento de vacinados é conhecido como farmacovigilância e faz parte das ações dos gestores de saúde.
Mesmo com a demonstração de que são eficazes, não sabemos com detalhes como o sistema de defesa constrói a proteção. Ambos os estudos devem explorar as peculiaridades de como o corpo monta suas armas e quais testes ajudariam a dizer se cada vacinado está protegido. Também é impossível determinar, em tão curto período de tempo, qual é a durabilidade da proteção. Lembrem-se que metade dos participantes receberam vacina, enquanto a outra metade recebeu placebo, substância inerte que não estimula a defesa contra a Covid-19. Isso tudo sem que os voluntários e os pesquisadores soubessem quem recebeu o quê. Com a revelação de que ambas as vacinas são eficazes, o código é aberto e todos que receberam placebo serão convidados a receber, agora, a vacina. Depois disso, os estudos continuam. E os casos de Covid-19, se houver, serão documentados ajudando a esclarecer até quando há proteção. O investimento em mais projetos de pesquisa, desenvolvimento e inovação abriu caminho para novas descobertas e novas soluções, para melhorar a qualidade de vida dos brasileiros e aliviar o sofrimento humano. Tomara que vários jogos de futebol como esse possam figurar com mais frequência na mídia brasileira.

*”Veja o que se sabe sobre a vacinação contra a Covid-19 no Brasil”*
*”Doria volta a criticar Bolsonaro por falas antivacina e pró-cloroquina”*

*”Pazuello mente ao dizer que tem vacina em mãos e acusa Doria de marketing”* - O ministro da Saúde, Eduardo Pazuello, afirmou neste domingo (17) que o governo federal tem em mãos vacinas do Butantan e da AstraZeneca, apesar de a pasta ainda não contar com nenhuma dose disponível. Ele ainda criticou o governador de São Paulo, João Doria (PSDB), que iniciou a vacinação no estado neste domingo (17). “O Ministério da Saúde tem em mãos, neste instante, as vacinas, tanto do Butantan quanto da AstraZeneca [em parceria com a Fiocruz]. E nós poderíamos, num ato simbólico, ou numa jogada de marketing, iniciar a primeira dose em uma pessoa. Mas em respeito a todos os governadores, prefeitos e todos os brasileiros, o Ministério da Saúde não fará isso”, disse o ministro em entrevista no Instituto Nacional de Traumatologia e Ortopedia, no Rio de Janeiro. Ele afirmou que o governo federal determinou por medida provisória que a coordenação do plano nacional de vacinação seja executada pelo Ministério da Saúde, em plano apresentado ao STF, lançado de maneira solene no Palácio do Planalto, por todos os governadores.
"Quebrar essa pactuação é desprezar a igualdade entre os estados e todos os brasileiros construída ao longo de nossa história com o programa nacional de imunização. Quebrar isso é desprezar a lealdade federativa. Não permitam movimentos políticos e eleitoreiros se aproveitando da vacinação", criticou o ministro. Sem mencionar o nome de Doria, ele disse que o único objetivo da pasta tem que ser salvar mais vidas e não "fazer propaganda própria". Neste domingo, em São Paulo, o governador participou de vacinação da primeira pessoa escolhida para tomar a Coronavac, imunizante desenvolvido pela chinesa Sinovac em parceria, no Brasil, com o Instituto Butantan. Mônica Calazans, 54, recebeu o imunizante depois que a Anvisa aprovou o seu uso emergencial. Na última sexta (15), o Ministério da Saúde solicitou urgência para a entrega das 6 milhões de doses do Butantan, por enquanto com o governo de São Paulo. Além disso, a Fiocruz aguarda a chegada de 2 milhões de doses de vacina da AstraZeneca, que ainda estão em negociações com a Índia para que seja autorizada a entrega, segundo o próprio Pazuello. "É provável que a gente coordene essa entrega no começo da semana", disse o ministro. Ele afirmou que a Índia começaria sua vacinação no sábado (16).
O ministro disse estar confiante de que nessa semana o Brasil deve receber as vacinas da Índia e apontou que as 6 milhões de doses do Butantan são do Ministério da Saúde. "Todas, inclusive a que foi aplicada agora, é uma questão jurídica. Tudo que tem no estado de São Paulo é contratado e pago pelo Ministério da Saúde e o contrato é de exclusividade, 100% das doses", disse o ministro. Ele reafirmou que a coordenação do plano nacional de imunização é do Ministério de Saúde por força de lei. Disse ainda que está pactuado com os governadores que todas as doses recebidas serão distribuídas de forma proporcional aos estados. "Qualquer movimento fora dessa linha está em desacordo com a lei", declarou. Pazuello disse que nesta segunda (18), a partir das 7h, o Ministério da Saúde vai iniciar a distribuição da vacina para todos os estados, com apoio do Ministério da Defesa, com deslocamento aéreo. "Amanhã farei uma entrega simbólica aos estados e depois a FAB inicia a distribuição. Cada estado tem o seu plano logístico, são pactuados conosco, mas são dos estados, que fazem a distribuição dentro dos municípios", afirmou o ministro. Ele afirmou que São Paulo pode fazer sua vacinação, mas que ela deve acontecer em todos os estados. Segundo ele, a vacinação será igualitária e simultânea "qualquer movimento fora a isso está em desacordo com a lei".
Mesmo tendo dito que possui as doses das vacinas em mãos, ele planejou apenas para quarta-feira (20), 10h, o início do plano nacional de imunização em todos os estados. Ou seja, a vacinação nos demais estados ocorrerá apenas três dias após o início do processo de imunização em São Paulo. Pazuello declarou que o Butantan tem, no momento, produzido algo em torno de 900 mil doses e mais cerca de 1,5 milhão em fase final, chegando próximo de 3 milhões de doses feitas no Brasil. Porém, o instituto ainda não pediu aprovação de uso emergencial para as doses produzidas no país. "A aprovação da Anvisa é para as 6 milhões de doses importadas. O Butantan ainda tem que pedir e comprovar as suas ações para conseguir a utilização de uso emergencial para as doses produzidas no Brasil", disse o ministro. Pazuello confirmou que, no que depender do governo federal e do Ministério da Saúde, a vacina não será obrigatória e não confirmou se vai participar da vacinação. "Quando chegar o meu momento de tomar a vacina, se a estratégia for essa, eu tomo agora. Mas está um pouco longe ainda", disse Pazuello.

*”Minutos após aval da Anvisa, enfermeira de SP recebe a primeira vacina contra a Covid no Brasil”*
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THIAGO AMPARO - *”O Brasil é uma enfermeira preta vacinada”*

*”Parentes abanam pacientes com papelão em hospital de Manaus”*
*”Imunização protege indivíduo e sociedade; entenda por que se vacinar”*

*”Com salas cheias, candidatos foram impedidos de fazer Enem”* - Candidatos foram impedidos de fazer o Enem (Exame Nacional do Ensino Médio) neste domingo (17) por lotação das salas de prova. Em diversos estados do país, os estudantes relatam que foram barrados pelos fiscais de prova com a justificativa de que as salas já tinham atingido a capacidade máxima de participantes. A distribuição dos candidatos por sala é de responsabilidade do Inep (Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais), que havia assegurado ter espaços o suficiente para que todos os 5,7 milhões de inscritos fizessem a prova com segurança. A Folha já havia mostrado que o Inep não garantiu que todas as salas de aplicação foram organizadas para receber candidatos até 50% da capacidade dos espaços. A aposta de integrantes do órgão era de que muitos alunos deixariam de ir fazer a prova, o que garantiria baixa ocupação. Jhennifer Silva, 24, foi fazer a prova na escola estadual Pedro Malozze, em Mogi das Cruzes. Ela entrou no local às 12h30, meia hora antes do fechamento dos portões, mas foi impedida de entrar na sala.
“Uma fiscal estava segurando todo mundo que chegava, dizendo que eles não tinham mais espaço para nos colocar. Cerca de 60 pessoas na minha escola foram impedidos de fazer a prova”, disse. A fiscal pediu que os candidatos escrevessem seus nomes em uma lista e os orientou a ligar para o Inep e solicitar a remarcação do exame. “Tenho medo de não conseguir fazer a prova, não me deram nenhum documento que me assegure isso.” Situação parecida ocorreu em Pelotas (RS), com Arthur Tavares, 19, que também foi barrado de entrar na sala de prova. Ele disse que entrou na escola estadual Sylvia Mello por volta das 12h30. “Quando entrei já tinha uma fila, com outras 20 pessoas, que estavam esperando para ver se conseguiriam nos realocar. No fim, disseram que não tinha espaço e nos mandaram embora.”
Bianca Coelho também chegou ao local de prova 25 minutos antes do fechamento dos portões na Uniasselvi, em Canoas (RS) e foi barrada pelos fiscais. Ela questionou quantas pessoas havia na sala, mas não foi informada. “É um desrespeito com os estudantes. Se tivessem avisado que poderiam barrar os candidatos se houvesse superlotação, eu teria me programado para ir mais cedo.” Além de terem sido prejudicados por não fazer a prova na data marcada pelo Inep, os candidatos temem não conseguir fazê-la na reaplicação, marcada para fevereiro. O Inep não respondeu sobre os candidatos que foram impedidos de fazer a prova. No sábado (16), a Defensoria Pública da União entrou com um novo pedido na Justiça Federal para tentar barrar a realização do Enem já que documentos mostravam que o Inep não garantiu a redução prometida de candidatos por sala. Na terça (12), a UFSC (Universidade Federal de Santa Catarina) encaminhou um documento ao Inep informando que as salas de suas instalações tinham ocupação de 80%. A instituição diz que a condição para ceder os espaços foi de que seria respeitado o limite de 40%, o que não ocorreu. Segundo a Defensoria, ficou evidente que o órgão mentiu para as instituições que cederam o espaço para aplicação da prova e também para a justiça sobre as medidas adotadas para garantir a segurança dos candidatos.

MÔNICA BERGAMO - *”Anvisa demorou seis meses para aprovar pesquisa de antivirais contra Covid-19”*

MÔNICA BERGAMO - *”Governo Bolsonaro é denunciado novamente à Corte Interamericana por insultar vítimas da ditadura”*: A bancada do PSOL na Câmara dos Deputados, o Instituto Vladimir Herzog e o Núcleo de Preservação da Memória Política voltaram a denunciar o governo Bolsonaro à Corte Interamericana de Direitos Humanos por não cumprir disposições da sentença que condenou o Brasil por violação dos direitos humanos na Guerrilha do Araguaia.
BIS 
As entidades já haviam enviado uma primeira denúncia à corte em maio de 2020, após Bolsonaro ter recebido o tenente-coronel reformado do Exército Sebastião Curió Rodrigues de Moura, 85, que atuou na repressão à guerrilha durante a ditadura.
CEP 
No novo documento são listadas exaltações de Bolsonaro ao coronel Brilhante Ustra e a fala em que ele coloca em dúvida o fato de Dilma Roussef ter sido torturada.

MÔNICA BERGAMO - *”Entidades pedem urgência ao Congresso na deliberação da reforma tributária”*: Um grupo criado por entidades como a Endeavor, de apoio ao empreendedorismo, o Centro de Liderança Pública e a coalizão por igualdade Unidos Pelo Brasil enviará um manifesto ao Congresso pedindo urgência na deliberação sobre a reforma tributária.
BOLSO 
Criado no fim de 2020, o Movimento Pra Ser Justo entregará o documento aos candidatos à presidência da Câmara dos Deputados e do Senado.

MÔNICA BERGAMO - *”Museu do Pontal consegue R$ 271 mil em financiamento coletivo para montar jardim externo”*
MÔNICA BERGAMO - *”Grupo de 160 adolescentes da Fundação Casa fará Enem em fevereiro”*

CAPA – Manchete principal: *”Enfermeira de São Paulo é a 1ª brasileira vacinada; campanha começa quarta-feira”*

*”Proposta engavetada – PEC da segunda instância não está entre as prioridades de Arthur Lira e Baleia Rossi”* - Parada há quase um ano na Câmara dos Deputados, a Proposta de Emenda à Constituição (PEC) que permite a prisão após a condenação em segunda instância deverá seguir a passos lentos sob o comando da próxima Mesa Diretora, que tomará posse no mês que vem. A tendência é que os dois principais candidatos à presidência da Casa, Baleia Rossi (MDB-SP) e Arthur Lira (PP-AL), não tratem a aprovação do texto como prioridade. Os dois deputados já se pronunciaram sobre temas como o auxílio emergencial e reformas econômicas, mas, até o momento, ignoram a proposta que antecipa a execução da pena.
Parlamentares ligados à pauta entendem que haverá obstáculos políticos para que o assunto seja deliberado ao longo do ano, independentemente de qual dos dois seja o vencedor. Há, tanto no arco de alianças de Lira quanto no de Baleia, partidos e deputados que são contra a mudança. O tema ganhou impulso na Câmara no fim de 2019, depois que o Supremo Tribunal Federal (STF) reverteu o entendimento anterior e condicionou a prisão ao trânsito em julgado dos processos, ou seja, o esgotamento de todos os recursos. A admissibilidade da proposta — o reconhecimento de que não fere o texto constitucional — já foi aprovada, por 50 votos a 12, na Comissão de Constituição e Justiça, e o projeto foi em seguida para análise de uma comissão especial. O relatório final já foi apresentado, mas as reuniões do colegiado foram interrompidas com o início da pandemia. Autor da PEC, o deputado Alex Manente (Cidadania-SP) procurou Baleia e Lira para cobrar a votação da proposta. Ambos responderam que não há objeção contra a pauta, mas condicionaram o andamento a uma decisão coletiva dos líderes partidários.
— Os dois disseram que pautarão, desde que seja uma demanda do colégio de líderes. Mais do que esperar compromisso de campanha, temos que tornar o tema uma mobilização da população. É óbvio que a pandemia tomou conta da pauta, mas só com mobilização da sociedade conseguiremos efetivamente pautar a PEC — diz Manente.
O partido de Manente, o Cidadania, apoia a candidatura de Baleia Rossi. Entretanto, o parlamentar não esconde a simpatia pela candidatura de Marcel Van Hattem (Novo-RS), que trabalha pela aprovação da matéria. Em 2020, o presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ), chegou a prometer a votação para dezembro. Sem consenso, no entanto, o texto não avançou. Relator da PEC, Fábio Trad (PSD-MS) diz que o projeto está pronto. O texto estende a possibilidade de cumprimento da condenação em segunda instância a todas as esferas do direto. Além do processo criminal, valerá, por exemplo, para causas trabalhistas, cíveis e tributárias.
— Não vou mudar o relatório, porque ele está pronto, acabado, fruto de um amplo entendimento da comissão.
Em fevereiro do ano passado, o ex-ministro Sergio Moro foi à comissão e defendeu que a mudança se aplicasse, inclusive, para processos já em andamento, mas o relatório prevê que a nova regra seja válida para ações protocoladas após a promulgação da PEC. Réu em duas ações penais derivadas de investigações da Operação Lava-Jato, Lira se empenhou no ano passado em costurar entendimentos contra trechos do pacote anticrime apresentado por Moro. O assunto integrava o conjunto de propostas que o então ministro levou à Câmara, mas a comissão que analisou as sugestões entendeu que a execução da pena após a condenação em segunda instância precisaria ser tema de uma PEC, não de um projeto de lei. Em seu discurso de campanha, Lira costuma dizer que não fará avaliações sobre o mérito de propostas específicas. Afirma que pautará projetos com maioria entre líderes.
— O nosso encaminhamento é não ter preconceito contra nenhum tipo de pauta — disse o candidato do PP, que tem o apoio do presidente Jair Bolsonaro.
Baleia, por sua vez, tem buscado centrar o discurso na defesa da democracia e nas reformas, como a tributária e administrativa. Ao se aliar ao PT, segundo aliados, não faria sentido fazer da PEC uma bandeira de campanha. O partido é contra a pauta. Desde que o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva foi preso após condenação em segunda instância, os parlamentares passaram atacar a possibilidade de antecipação do cumprimento da pena.
Sem resposta
Ex-líder do Podemos, José Nelto (GO) tentou condicionar o apoio do partido a um candidato que fosse a favor da pauta. Até agora, no entanto, não obteve resposta.
— Estamos querendo o compromisso dos candidatos Arthur Lira e Baleia Rossi a favor da PEC da segunda instância e do fim do foro privilegiado. Mas, até agora, ninguém me respondeu — disse Nelto ao GLOBO.
A tendência do Podemos é anunciar apoio a Lira no fim de janeiro. A presidente do partido, Renata Abreu, centraliza as negociações. As condições sugeridas por Nelto, no entanto, não devem influenciar na decisão.

*”Bolsonaro interrompe trégua e volta a criticar STF”* - Após um período de trégua, decisões de ministros do Supremo Tribunal Federal (STF) voltaram a entrar na mira do presidente Jair Bolsonaro. Nas últimas semanas, ele reclamou de “interferências” em questões relacionadasà tributação sobre a importação de armase ao combate à Covid-19. As manifestações públicas apontam para o fim de um “cessar-fogo” iniciado em meados do ano passado, quando a prisão de Fabrício Queiroz, ex-assessor do senador Flávio Bolsonaro (Republicanos-RJ) e amigo da família, forçou o presidente a selar um armistício com o Poder Judiciário. Na sexta-feira, em meio ao colapso do sistema de saúde de Manaus, Bolsonaro disse que foi “castrado” pelo Supremo e que estava “desobedecendo” a Corte ao ajudar a capital amazonense. Mas, na verdade, o que o tribunal decidiu, em abril de 2020, foi que estados e municípios teriam autonomia para tomar decisões locais. Ou seja, o governo federal segue podendo realizar ações, mas de abrangência nacional. No mesmo dia, declarou que não fica satisfeito com muitas decisões do tribunal. Disse ainda que há pautas no STF que, caso sejam aprovadas no futuro, vão representar uma “catástrofe” para o Brasil.
O presidente acrescentou ainda que, se dependesse da Corte, ele tinha que “estar na praia agora, tomando uma cerveja”, além de ter chamado os ministros de “velhinhos” que ficaram “apavorados” após uma visita do então ministro da Saúde, Luiz Henrique Mandetta. No fim do ano passado, outro tema gerou reclamações do presidente: adecisão do ministro Edson Fachin de suspender a alíquota zero para a importação de revólveres e pistolas, que havia sido determinada pela Câmara de Comércio Exterior (Camex), do Ministério da Economia. Na ocasião, Bolsonaro disse que o assunto “não tem nada a ver com o Supremo” e que Fachin estava decidindo sobre legislação tributária. Na quinta-feira, voltou ao assunto e classificou a decisão como uma “sentença esfarrapada”. Embora as ofensivas de Bolsonaro contra o STF tenham voltado a acontecer, ainda não houve reação da Corte — quando o presidente voltou a levantar, sem provas, a hipótese de fraudes nas urnas eletrônicas, Fachin e o ministro Luís Roberto Barroso retrucaram, mas sob as condições, respectivamente, de vice e presidente do Tribunal Superior Eleitoral. O presidente do Supremo, Luiz Fux, não considerou necessário dar uma resposta, para evitar bate-boca entre os Poderes. Na visão dele, essa necessidade existiria apenas se houvesse algum excesso.
— A relação do STF com o Palácio do Planalto é hoje de independência e harmonia — resumiu Fux.
Desde que tomou posse na presidência do STF, ele tem mantido mais distância em relação a Bolsonaro, em comparação com a relação que Dias Toffoli tinha com o presidente. Fux se limitou a fazer uma visita de cortesia, no dia 23 de dezembro, e a cumprimentar Bolsonaro em eventos públicos. Já Toffoli chegou a receber o presidente da República para uma pizza em casa e costumava frequentar o Palácio da Alvorada.
“Diálogo saudável”
Um auxiliar próximo a Bolsonaro, ligado à área jurídica do governo, disse ao GLOBO, em reservado, que hoje existe “um natural e saudável diálogo institucional”. Segundo ele, o tom pode variar, mas, o que importa, é que os canais de diálogos prossigam sempre abertos. Até mesmo uma “vitória” rendeu críticas do presidente ao STF. Nas últimas semanas, Bolsonaro comentou mais de uma vez o resultado de julgamento sobre o direito de amantes a pensão e partilha de bens após a morte de um cônjuge, o que foi vetado pela Corte por 6 votos a 5. Ele aproveitou para criticar Celso de Mello, seu desafeto. Para o presidente, o ex-ministro “com toda a certeza” teria votado do outro lado, “contra a família”.

*”Uso emergencial – Anvisa aprova vacinas da Fiocruz e do Butantan; campanha começa na quarta”*
*”São Paulo inicia imunização e cria polêmica com Planalto”*
*”Abstenção recorde marca primeiro dia do Enem”*
*”Dose insuficiente – No primeiro lote da vacina, Rio cobrirá 20% do grupo prioritário”*

*”Sem mais hidrelétricas – Governo deve recorrer a termelétrica, solar e eólica para ampliar capacidade”* - O Brasil terá este ano o menor aumento de capacidade de geração de energia elétrica registrado desde 2012, enquanto convive com uma das maiores secas nas regiões das principais hidrelétricas nos últimos 90 anos, de acordo com o Ministério de Minas e Energia (MME). Essa situação, aliada à possibilidade de crescimento econômico nos próximos anos, despertou no governo a necessidade de reformular o planejamento para diversificar a expansão das formas de geração de eletricidade, com maior ênfase em termelétricas. A falta de chuvas gerou até campanha do governo federal em TV aberta sobre o uso consciente de água neste início de ano. Na próxima década, o governo aposta na construção de oito vezes mais usinas termelétricas e de fontes renováveis, como eólica e solar, em comparação ao crescimento previsto da geração hidrelétrica.
Nas térmicas a gás, o governo planeja a instalação de 16.751 megawatts (MW) de energia — acima da capacidade atual de geração, de 15.199MW. Para energias renováveis, a previsão é instalar 16.363MW de usinas eólicas e 5.332MW de solares. Para efeito de comparação, o sistema elétrico nacional conta hoje com 3.710MW de energia solar e 18.240MW de geração eólica, que vem batendo recordes, especialmente no Nordeste. Para as hidrelétricas, a previsão é instalar apenas 4.537MW. Esse cenário vai reduzir a fatia da geração de hidrelétricas na matriz energética do país de 58% em 2021 para 49% em 2030, enquanto as eólicas pularão de 9% para 13%. O planejamento também prevê a expansão da chamada geração distribuída, quando a energia é gerada no local de consumo ou próximo a ele, como placas solares em telhados de residência — a modalidade sairá de 7% para 14% da capacidade instalada do país. Apesar dessas previsões, o ano de 2020 foi marcado pela não realização de leilões de energia nova, adiados por conta da pandemia e da retração da economia, que reduziu o consumo. É por isso que, neste ano, o Ministério de Minas e Energia prevê nove leilões de geração e dois de transmissão.
— O ano de 2021 será de muito trabalho no planejamento e execução desses leilões — diz o presidente da Empresa de Pesquisa Energética (EPE), Thiago Barral.
Custo de transmissão
A previsão, de acordo com dados da Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel), é que entrem em operação neste ano 4,7 mil MW de eletricidade a partir de termelétricas, usinas eólicas, solares, de biomassa e pequenas hidrelétricas. Como base de comparação, 4,9 mil MW correspondem a uma potência suficiente para atender a 6,1 milhões de pessoas, pouco menos que a população da cidade do Rio, de 6,7 milhões. O cenário é visto com atenção por especialistas do setor elétrico, já que há uma perspectiva de recuperação da economia nos próximos anos, com o início da vacinação contra a Covid-19. O Operador Nacional do Sistema Elétrico (ONS) prevê um crescimento médio anual da demanda de 3,6% até 2025. O coordenador do Grupo de Estudos do Setor Elétrico da UFRJ (Gesel), Nivalde de Castro, descarta risco de faltar energia a curto prazo, mas ressalta que os leilões são necessários para equilibrar o setor:
— É tudo uma questão de planejamento. Além disso, o desafio é continuar tendo chuva para manter as hidrelétricas cheias.
Para o futuro, Luiz Augusto Barroso, ex-presidente da EPE e atual presidente da consultoria PSR, afirma que as fontes renováveis serão protagonistas da expansão da geração no Brasil. Segundo ele, essas fontes hoje são mais baratas que outras alternativas. Esse cenário, por outro lado, irá exigir do setor elétrico alternativas que complementem a matriz, já que essas fontes são intermitentes, pois dependem de sol e vento.
— Historicamente, as hidrelétricas sempre prestaram esse serviço, e isso permitiu ao Brasil ter uma matriz de geração muito renovável. Mas, olhando para frente, não teremos mais hidrelétricas, por razões não só ambientais, mas de competitividade econômica — afirma.
O Brasil ainda tem capacidade disponível para construir hidrelétricas. Mas 77% do potencial pesquisado pelo governo estão em áreas protegidas, como terras indígenas, territórios quilombolas e unidades de conservação. Além disso, são áreas distantes dos grandes centros consumidores, o que encarece o custo da transmissão.
Mudanças climáticas
Barroso diz ainda que o país precisará incluir no planejamento setorial as restrições causadas pelas disputas por usos múltiplos das barragens das hidrelétricas, além das mudanças climáticas:
— O setor elétrico vai precisar fazer um estudo sério sobre a verdadeira disponibilidade hídrica para a geração de energia e entender melhor os efeitos das mudanças climáticas nessa disponibilidade hídrica. Esses fatores podem ser condicionantes para mudar a forma como o sistema brasileiro é gerenciado.
O diretor do Instituto Ilumina, Renato Queiroz, ressalta também a importância da fiscalização das obras. Dados da Aneel apontam que 391 dos 991 projetos de energia previstos para entrar em operação entre 2021 e 2028 estão em atraso. Dos 38.938MW previstos, 15.100MW estão com o cronograma original.
— O governo precisa fiscalizar mais e saber o que de fato vai sair do papel. Os projetos precisam ser monitorados. Há uma demanda reprimida grande no Brasil e, a depender do crescimento econômico, haverá alta no consumo, mas esse cenário é muito incerto, já que não há um ambiente confortável para investimento — lembra Queiroz.
O presidente do Instituto Acende Brasil, Claudio Sales, destaca ainda a necessidade de investir em transmissão de energia e subestações de eletricidade:
— São 37 mil quilômetros, até 2030, de expansão de linhas de transmissão. Atualmente são 157 mil quilômetros, além disso, tem que modernizar o parque atual. O sistema de transmissão tem que se antecipar à geração, mas há um alto grau de incerteza.
Procurado, o MME disse que a expansão da oferta de energia elétrica considera várias fontes e recursos energéticos disponíveis, de forma a contribuir para a segurança energética, a competitividade e a sustentabilidade. A pasta acrescentou que, nos próximos dez anos, sete novas usinas hidrelétricas podem, eventualmente, entrar em operação. E outras 15 têm condições de se viabilizar após 2030. O órgão reconhece haver dificuldades por conta de processos e prazos envolvidos na obtenção de licenças ambientais. O MME cita ainda a necessidade de garantir segurança ao sistema, o que virá das termelétricas a gás. Estas, ressalta, ajudarão a enfrentar períodos de estiagem (que prejudicam as hidrelétricas) e a instabilidade inerente às usinas eólicas e solares.

*”Aéreas precisam de até R$ 80 bi em ajuda financeira”*

 

CAPA – Manchete principal: *”Anvisa aprova uso emergencial de vacinas; SP iniciam imunização”*

EDITORIAL DO ESTADÃO - *”Visibilidade e ciência”*: Ninguém que examine a evolução recente do mundo do trabalho tem qualquer dúvida de que, depois das exigências impostas pela pandemia de covid-19, o trabalho em domicílio ganhará ainda mais importância nos próximos anos. Em 2019, antes, portanto, de o mundo ter a mais remota ideia do imenso desastre sanitário em que mergulharia pouco depois, 260 milhões de pessoas no mundo trabalhavam em sua residência em troca de remuneração. Esse número equivale a 7,9% de todas as pessoas empregadas no planeta. Dados preliminares dos primeiros meses do ano passado indicavam que cerca de um quinto dos trabalhadores (ou 20%) estava trabalhando no domicílio. Quando as cifras de 2020 forem divulgadas, decerto o número de pessoas que trabalham em casa superará largamente o do ano anterior, afirma a Organização Internacional do Trabalho (OIT) no estudo O trabalho em domicílio: da invisibilidade ao trabalho decente. O título sintetiza o objetivo da publicação. Com o estudo, a OIT pretende mostrar a dimensão e as condições do trabalho em domicílio, ainda pouco visível do ponto de vista da proteção legal, e apontar os meios pelos quais tais condições podem ser melhoradas para que esse tipo de ocupação se equipare, nos seus aspectos essenciais, ao trabalho desempenhado nos ambientes tradicionais das empresas. É o caminho para dar visibilidade e decência ao trabalho em casa. É, obviamente, um mundo heterogêneo em muitas de suas características. Em pelo menos 13 países estudados pela OIT as pessoas que trabalham em casa correspondiam a mais de 15% do total de empregados. A maioria dessas pessoas (65%) se concentra na região da Ásia e do Pacífico.
O número de mulheres que trabalham em casa correspondia a 56% do total. É a solução que boa parte dessas mulheres encontrou para melhorar a remuneração familiar sem abandonar suas responsabilidades domésticas, o que resulta normalmente em jornada de trabalho estendida. O fator financeiro e uma certa maleabilidade da jornada são alguns dos aspectos positivos do trabalho em domicílio. Muitas de suas características, porém, exigem reflexão das autoridades e dos órgãos de inspeção a respeito das condições em que trabalha a população. A remuneração dos que trabalham em casa é normalmente menor do que a dos que exercem seu trabalho nos locais mantidos pelos empregadores. Essa defasagem é praticamente universal, tanto em relação ao tipo de trabalho como no que se refere ao desenvolvimento dos países. No Reino Unido, a remuneração do trabalho em domicílio é 13% menor do que a dos trabalhadores que não estão baseados em suas casas; nos Estados Unidos, a diferença é de 15%; na Argentina e no México, de 50%. A flexibilidade de horário, em princípio um benefício, pode deixar de sê-lo. É o que ocorre quando a demanda é variada, o que resulta em longos tempos de ociosidade e períodos também longos de intensa atividade, o que afeta o tempo pessoal e familiar.
É alto o índice de informalidade nesse tipo de trabalho. Nem todos os que trabalham em domicílio dispõem de adequada proteção previdenciária e de assistência médica, embora em vários casos estejam mais sujeitos a riscos de acidentes de trabalho. Por estarem isolados, os que trabalham em casa nem sempre conhecem seus direitos nem têm acesso pleno a sindicatos. Por não serem treinados regularmente, não alcançam condições para avançar em suas carreiras. Há meios para enfrentar e superar essas deficiências. Um deles é a aplicação, por mais países, das normas da OIT sobre o trabalho em domicílio (Convenção n.º 177), até agora adotadas por apenas dez países. Outro é assegurar aos trabalhadores em domicílio o exercício pleno da liberdade sindical. O combate à informalidade é outro mecanismo para dar decência e visibilidade para o trabalho em casa. O inevitável aumento do número de trabalhadores em domicílio causado pela pandemia impõe urgência à adoção de medidas como essas, adverte a OIT.

*”Oposição aciona STF para impor derrotas ao Planalto”* - Partidos de oposição, alguns com pouca representatividade no Congresso, têm conseguido impor os maiores reveses sofridos pelo Palácio do Planalto no Supremo Tribunal Federal (STF). Levantamento feito pelo Estadão nas principais ações que contestam decretos, medidas, nomeações e outros atos do governo federal aponta que, nos últimos dois anos, Jair Bolsonaro sofreu 33 derrotas no STF, a maioria delas na análise de casos movidos por adversários políticos. Analistas avaliam que essas legendas acabaram assumindo, na principal arena jurídica do País, um protagonismo que até tempos atrás era da Procuradoria-geral da República. Com uma bancada de apenas uma deputada federal e dois senadores, a Rede é, até agora, quem mais sucesso obteve no Supremo na ofensiva contra o Executivo. Além de partidos políticos, a Ordem dos Advogados do Brasil (OAB), confederações de trabalhadores, a Associação Brasileira de Imprensa (ABI) e os governos de São Paulo, Maranhão e Mato Grosso também acionaram o STF para barrar iniciativas do governo federal.
Após o pífio desempenho de Marina Silva na eleição presidencial de 2018, quando obteve apenas 1% dos votos válidos no primeiro turno, a Rede traçou uma estratégia jurídica que já resultou em 18 ações que derrotaram o atual ocupante do Planalto. Entre as vitórias da Rede estão as decisões do Supremo de manter a demarcação de terras indígenas com a Fundação Nacional do Índio (Funai), impor limites à atuação da Agência Brasileira de Inteligência (Abin) e proibir o governo de monitorar servidores “antifascistas”. Também foi em uma ação da Rede que o ministro Ricardo Lewandowski obrigou o ministro da Saúde, Eduardo Pazuello, a informar prazos para o plano vacinação contra a covid-19 em todo o País. “No momento em que vivemos, de ameaça à democracia e aos direitos individuais, os partidos que se dizem de oposição não podem se limitar à arena legislativa, do Parlamento. É nosso dever moral e civilizatório acionar o Judiciário”, disse o senador Randolfe Rodrigues (Rede-ap). Depois da Rede, PDT (10 ações), PSB (9) e PT (7) foram os autores de ações que mais conseguiram enquadrar o Planalto – algumas são assinadas por mais de uma legenda. Na outra ponta da lista, apenas uma ação da Procuradoria-geral da República conseguiu reverter medida do governo Bolsonaro (mais informações na página ao lado).
Em dezembro de 2019, o ministro Luís Roberto Barroso suspendeu mudanças no funcionamento do Conselho Nacional da Criança e do Adolescente (Conanda), a pedido da ex-procuradora-geral da República Raquel Dodge. As alterações promovidas pelo governo esvaziavam a participação de entidades da sociedade civil na tomada de decisão do colegiado. “A PGR parece em estado de hibernação. Augusto Aras (atual procurador-geral da República) prefere uma atuação discreta e de não confronto com o governo Bolsonaro”, disse Rafael Viegas, doutorando em Administração Pública e Governo pela FGV-SP. Escolhido por Bolsonaro para o cargo sem participar da votação interna promovida por procuradores, Aras é considerado um aliado do chefe do Executivo e está cotado para uma vaga no Supremo. Até 1988 a PGR detinha o monopólio de contestar leis e atos normativos perante o Supremo. Depois da nova Constituição, o rol foi ampliado – partidos, Advocacia-geral da União (AGU), OAB e governos estaduais ganharam essa prerrogativa, o que ampliou o número de processos que chegam à Suprema Corte. “O litígio no STF hoje tem como protagonistas os partidos e as confederações ou entidades de classe. Os dados mostram uma retração da atuação da Procuradoria-geral da República no controle de atos do Executivo”, avaliou a professora Eloísa Machado, da FGV Direito SP.
Pandemia. O mapeamento do Estadão identificou um total de 63 processos que culminaram em derrotas do Planalto, considerando casos decididos individualmente por ministros ou julgados pelo plenário. Os resultados desfavoráveis para Bolsonaro se aceleraram após a Organização Mundial de Saúde (OMS) declarar oficialmente a pandemia do novo coronavírus, em março do ano passado. Um mês depois, o Supremo contrariou o presidente da República ao julgar uma ação do PDT e decidir que Estados e municípios têm autonomia para impor medidas de isolamento social para conter o avanço da pandemia. Em guerra com governadores e prefeitos que defendem a quarentena, Bolsonaro tem usado esse entendimento do STF para se distanciar das consequências econômicas provocadas pela pandemia, colocando o ônus em adversários políticos – e no próprio tribunal. “Pelo Supremo Tribunal Federal eu tinha que estar na praia agora, tomando uma cerveja”, disse Bolsonaro na sexta-feira, se eximindo de responsabilidades pelos efeitos da covid-19 no País. O Supremo, no entanto, não proibiu a União de tomar medidas para combater a disseminação do novo coronavírus. Outras derrotas para o governo vieram com a caneta do ministro Alexandre de Moraes, que suspendeu a nomeação de Alexandre Ramagem, amigo do clã Bolsonaro, para a direção-geral da Polícia Federal e mandou o Ministério da Saúde retomar a divulgação da íntegra dos dados de covid-19 em balanços diários. Essa segunda decisão de Moraes, que acabou chancelada por unanimidade pelos colegas, foi tomada em três ações distintas: da OAB, PDT e uma terceira assinada conjuntamente por Rede, PCDOB e PSOL. O levantamento considerou o resultado uma única derrota do governo, por se tratar do mesmo tema.
‘Minimalista’. Além de incomodar o Planalto e a PGR, o número cada vez maior de ações movidas por partidos provoca questionamentos de alas do STF que criticam uma “judicialização da política” e defendem uma atuação “minimalista” da Corte. “Cheguei a dizer em sessão que os partidos de oposição estavam utilizando o Supremo para fustigar o governo Bolsonaro. Isso não é bom em termos de paz social. Claro que o acesso ao Judiciário é livre, está assegurado constitucionalmente, mas deve ocorrer presente a razoabilidade”, disse à reportagem o ministro Marco Aurélio Mello.

*”Equipe da Rede monitora atos pelo ‘Diário oficial’”* - Responsável pelas principais ações que levaram o Supremo Tribunal Federal (STF) a impor derrotas ao governo do presidente Jair Bolsonaro, a Rede Sustentabilidade é um partido que reúne mais advogados em sua equipe do que parlamentares em atuação no Congresso. Um quarteto de jovens advogados, na faixa de 26 a 34 anos, é responsável por elaborar as peças jurídicas que já contestaram decretos, vetos e medidas provisórias do governo federal. Por causa da pandemia do novo coronavírus, o grupo tem trabalhado em esquema de home office, discutindo pelo Whatsapp e outras ferramentas de trabalho em grupo (como o Zoom e o Google Drive) a fundamentação de ações que atingem a vida de milhões de brasileiros.
A estratégia de “guerrilha jurídica” começa desde cedo, quando a equipe do partido monitora os diversos atos do governo federal publicados no Diário Oficial da União. Os textos, alguns sobre questões técnicas que podem parecer ininteligíveis em um primeiro momento, são submetidos a um pente-fino para identificar eventuais ilegalidades. O time da Rede também acompanha reportagens divulgadas na imprensa, que, segundo eles, ajudam a dimensionar o impacto de medidas, a esclarecer o que está em jogo e a apontar ações do governo que ainda não vieram a público. Foi o que aconteceu, por exemplo, quando o site de notícias UOL revelou a existência de um dossiê contra servidores que se declaram antifascistas nas redes, o que fez o partido entrar com uma ação no Supremo para impedir qualquer monitoramento nesse sentido. Por 9 a 1, o Supremo atendeu ao pedido da legenda e suspendeu qualquer ato do Ministério da Justiça de produção ou compartilhamento de informações sobre cidadãos “antifascistas”. “Benza Deus a imprensa livre do meu país”, disse a relatora do caso, ministra Cármen Lúcia, no julgamento.
Pautas. Um dos maiores entusiastas da legenda em acionar a Justiça é o senador Randolfe Rodrigues (Rede-ap). Após discussões internas, as ações costumam ficar prontas no mesmo dia. Segundo o advogado Bruno Lunardi, caçula do quarteto jurídico da Rede, com apenas 26 anos, as pautas que o partido mais defende no Supremo são o estado democrático de direito, a tutela dos direitos sociais e a proteção às minorias. “O que estimula o ajuizamento de ações são justamente esses três pilares, no sentido mais de tentar fazer Justiça para evitar eventuais atropelos autocráticos do governo”, afirmou o advogado.

*”’PGR não se move por interesses políticos’, afirma Aras”*

*”MPF homologa fim de inquérito sobre ação da Volks na ditadura”* - O Ministério Público Federal formalizou na sexta-feira passada o arquivamento do inquérito aberto contra a Volkswagen pelo apoio da montadora alemã à repressão durante a ditadura militar no Brasil (1964-1985). O encerramento da investigação é resultado do Termo de Ajustamento de Conduta (TAC) firmado com a empresa para garantir a reparação judicial pela anuência a violações aos direitos humanos.
Nos termos acertados, em troca da não proposição de ações penais, a partir de 21 de janeiro a Volkswagen deve começar a pagar a multa de R$ 36,3 milhões a ex-trabalhadores da empresa presos, perseguidos ou torturados durante a ditadura e a iniciativas de promoção de direitos humanos – como o Fundo de Defesa de Direitos Difusos, o Fundo Especial de Despesa de Reparação de Interesses Difusos Lesados e o Memorial de Luta por Justiça desenvolvido pela seccional da Ordem dos Advogados do Brasil em São Paulo. O documento é assinado pelo subprocuradorgeral Carlos Alberto Vilhena. O processo, encabeçado pela Procuradoria Federal dos Direitos do Cidadão, chegou a ser alvo de um pedido de reconsideração formulado por centrais sindicais e outras entidades da sociedade civil, mas saiu do papel em menos de 60 dias após a abertura do período para análise das cláusulas do acordo e dos pontos do inquérito, que tem mais de 1,2 mil páginas. Em setembro, quando o termo foi anunciado, o Estadão conversou com o procuradorgeral de Justiça de São Paulo, Mário Sarrubbo, que também participou das negociações. O chefe do Ministério Público paulista defendeu o ajuste como um paradigma sob o aspecto da reparação judicial. Na ocasião, a cúpula das instituições envolvidas no processo já avaliava que o caso poderia abrir caminho para a adoção de métodos de consenso e colaboração na punição de violações aos direitos humanos cometidos durante o regime militar que aguardam desfecho há décadas.
‘Irrestritamente leal’. Um relatório encomendado pela própria Volkswagen ao pesquisador Christopher Kopper, professor da Universidade de Bielefeld, na Alemanha, apresentado em 2017, apontou que a empresa foi “irrestritamente leal ao governo militar” no Brasil “e compartilhou seus objetivos econômicos e de política interna”. Segundo o pesquisador, até 1979 a Volks mantinha um “apoio irrestrito” à ditadura que não se limitava a declarações de lealdade pessoais. Em 1969, foi iniciada uma colaboração entre a segurança industrial da montadora e a polícia política do regime militar por meio do chefe do departamento de segurança industrial, Ademar Rudge, oficial das Forças Armadas. Consta no relatório que as trocas de informações levaram à prisão ao menos sete empregados da fábrica da Volkswagen em São Bernardo do Campo, na Grande São Paulo. Um dos presos, o operário Lúcio Bellentani, relatou à Comissão Nacional da Verdade (CNV), instaurada pelo governo Dilma Rousseff (PT), que a segurança industrial da Volks não só permitiu sua prisão, como também a tortura. O documento aponta ainda que até 1980, a Volks do Brasil também demitiu empregados por participação em atividades sindicais.

*”Estudo detecta ação de empresas em campanhas de desinformação”* - Cresceu o número de países em que governos e partidos políticos recorrem ao serviço de empresas privadas para manipular a opinião pública nas redes sociais em 2020, aponta um relatório da Universidade de Oxford, no Reino Unido. A pesquisa identificou que em ao menos 48 países companhias são contratadas para operar redes de desinformação ou de contas falsas nas plataformas digitais, em um negócio que movimentou US$ 60 milhões desde 2009. A quantidade de países onde esse fenômeno ocorre é 92% superior à registrada em 2019 e mais que o dobro do que o contabilizado em 2018. Os autores do estudo integram um grupo da universidade britânica que desde 2016 mapeia a ação global de “tropas virtuais” ligadas a atores políticos que disseminam a prática de propaganda computacional na internet – isto é, o uso de algoritmos, automação e contas operadas por humanos para espalhar informações e propagandas enganosas nas redes sociais.
Segundo o relatório, no Brasil há evidências da atuação de agências governamentais, partidos políticos, empresas e também influenciadores, que trabalham em conjunto com atores políticos para disseminar propaganda computacional. Para manipular o debate público nas redes sociais, as tropas virtuais se utilizam de diferentes estratégias e ferramentas. De acordo com o documento, o Brasil pertence ao grupo de 57 países em que foram registradas evidências do uso de bots ou contas automáticas. O País também está ao lado de outras 78 nações em que as redes de propaganda computacional recorrem a contas ciborgues, ou seja, que são operadas por humanos, mas agem de maneira semelhante a bots – postando repetidamente para inflar o debate sobre um assunto nas redes sociais. O Brasil também aparece entre 76 países em que as “tropas virtuais” coordenam a criação de canais de conteúdos de desinformação. Os pesquisadores identificaram ainda a ação dessas redes na promoção de ataques a adversários políticos, ativistas e jornalistas.

*”Aliados de Trump lucram vendendo acesso e oferecendo perdões, diz jornal”* - Enquanto Donald Trump se prepara para deixar o cargo na quarta-feira, um mercado lucrativo para dar acesso ao presidente e tentar prospectar perdões presidenciais e comutações de pena está chegando ao auge, com alguns de seus aliados cobrando taxas de criminosos ricos ou seus associados para pressionar a Casa Branca por clemência, segundo documentos obtidos e entrevistas feitas pelo jornal The New York Times. O mercado de indultos reflete o tráfico de influência que definiu a presidência de Trump, bem como a sua abordagem heterodoxa para exercer poderes presidenciais de clemência. Perdão e comutações de pena têm o objetivo de mostrar misericórdia, mas Trump usou muitos deles para recompensar aliados pessoais ou políticos.
O lobby do perdão esquentou quando ficou claro que Trump não tinha como contestar sua derrota nas eleições, dizem lobistas e advogados. Um deles, Brett Tolman, ex-promotor federal que aconselhou a Casa Branca sobre indultos e comutações, lucrou com seu trabalho de clemência, arrecadando dezenas de milhares de dólares nas últimas semanas para fazer lobby junto à Casa Branca por perdão para o filho de um ex-senador do Arkansas, um traficante de drogas e uma socialite acusada de fraude fiscal. O ex-advogado pessoal de Trump John Dowd vendeu para criminosos condenados seus serviços como alguém que poderia conseguir perdões por causa de seu relacionamento próximo com o presidente, aceitando dezenas de milhares de dólares de um criminoso rico e aconselhando ele e outros clientes em potencial para solicitar o perdão a Trump. O caso mais notório é da exconselheira de campanha de Trump Karen Giorno que teve acesso ao entorno do presidente mesmo depois de comandar a campanha de Trump na Flórida em 2016. Ela se reuniu em 2018 com John Kiriakou, um ex-agente da CIA condenado por divulgar ilegalmente informações confidenciais. Na reunião, no escritório de seu advogado em Washington, Kiriakou disse que havia sido injustiçado pelo governo e estava pedindo perdão para que pudesse carregar uma arma e receber sua pensão.
Em julho de 2018, Giorno assinou um acordo com Kiriakou, um documento obtido pelo New York Times, “para buscar o perdão total junto ao presidente Donald Trump por sua condenação” por US$ 50 mil, com um bônus de US$ 50 mil se ela conseguisse um perdão. Giorno disse que nunca falou com Trump diretamente sobre Kiriakou e não pressionou ninguém em seu governo por um perdão. Kiriakou disse que também falou com Rudolph Giuliani, advogado de Trump, em uma reunião em uma festa. Na ocasião, quando Giuliani foi ao banheiro, um de seus confidentes teria dito a Kiriakou: “Giuliani poderia ajudar, mas vai custar US$ 2 milhões, ele vai querer US$ 2 milhões”, Kiriakou lembrou. “Eu ri. US$ 2 milhões – você está louco?”, disse Kiriakou. “Mesmo se eu tivesse US$ 2 milhões, não os gastaria para recuperar uma pensão de US$ 700 mil.” Após o impeachment de Trump por incitar seus partidários antes da invasão no Capitólio, e com os líderes republicanos se voltando contra ele, o poder de perdão continua sendo uma das últimas e mais aventadas soluções unilaterais para um presidente cada vez mais isolado e errático. Ele sugeriu aos assessores que deseja dar o passo sem precedentes de perdoar a si mesmo. Ele também discutiu a concessão de perdões preventivos para seus filhos, seu genro e conselheiro sênior, Jared Kushner, e para Giuliani. A Casa Branca não quis comentar.
Estudiosos do direito e alguns advogados especializados em perdão presidencial dizem temer a perspectiva de tais movimentos, bem como o espectro dos amigos e aliados de Trump se oferecendo para buscar perdão para outros em troca de dinheiro. “Esse tipo de tráfico de influência é inédito, um sistema de privilégios especiais que nega consideração às centenas de pessoas comuns que obedientemente esperam na fila, conforme exigido pelas regras do Departamento de Justiça, e é uma violação básica do esforço de longa data para fazer esse processo pelo menos parecer justo”, disse Margaret Love, que dirigiu o processo de clemência do Departamento de Justiça de 1990 a 1997. Trump evitou esse processo mais do que qualquer presidente recente, criando um sistema de controle pessoal na Casa Branca sobre o qual Kushner teve uma influência significativa e contou com a contribuição de uma rede informal de consultores externos. Esse sistema, dizem os especialistas, favorece os requerentes de perdão que têm conexões com Trump ou sua equipe, ou que pagam alguém que tem. Concessões de clemência presidencial e lobby para elas tem pouca ou nenhuma regulação, especialmente os feitos por advogados, e não há nada de ilegal em associados de Trump sendo pagos para fazer lobby por clemência. No entanto, qualquer oferta explícita de pagamento ao presidente em troca de perdão pode ser investigada como possível violação das leis de suborno. Nenhuma evidência surgiu de que Trump recebeu uma oferta de dinheiro em troca de um perdão.

*”Washington reforça segurança e duas pessoas são presas”*
*”Opositor é preso no aeroporto ao voltar à Rússia”*
*”Londres promete vacinas todos os adultos até setembro”*

*”Anvisa libera Coronavac e vacina Oxford; São Paulo começa imunização”*
*”João Doria fala em ‘Dia V’ de vida, da verdade e da vitória”*

*”Em votos, Anvisa refuta existência de tratamento precoce”* - Nos pareceres e votos que embasaram a aprovação do uso emergencial das vacinas Coronavac e de Oxford ontem, servidores e diretores da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), em contraponto ao presidente Jair Bolsonaro e ao ministro Eduardo Pazuello, defenderam a ciência e a segurança das vacinas e refutaram a existência de tratamento precoce contra a covid – defendida pelo Ministério da Saúde e por Bolsonaro com base em medicamentos comprovadamente ineficazes, como a hidroxicloroquina. Antes mesmo do início dos votos dos cinco diretores da Anvisa, a Gerência-geral de Medicamentos da agência argumentou que a recomendação pela aprovação dos imunizantes se justificava, entre outras razões, pela ausência de tratamentos efetivos contra a covid. A diretora relatora dos processos, Merluze Freitas, também ressaltou esse ponto em seu voto. “Até o momento, não contamos com alternativa terapêutica aprovada e disponível para prevenir ou tratar a doença causada pelo novo coronavírus”, declarou ela.
Também contrariando Bolsonaro, que já lançou dúvidas sobre a segurança das vacinas, os diretores ressaltaram a importância do imunizante para controlar a pandemia e alertaram para a necessidade da manutenção das medidas de proteção individual. “(Considerando) Que as vacinas são a forma mais eficaz de prevenir doenças infecciosas, salvando milhões de vidas em todo o mundo, acompanho a relatora e voto por autorizar o uso emergencial em caráter experimental das vacinas de covid-19”, disse o diretor Romison Rodrigues Mota. Até o diretor-presidente da Anvisa, Antonio Barra Torres, aliado de Bolsonaro e que criou polêmica em março ao participar de atos sem máscara com o presidente, defendeu as medidas de proteção individual e recomendou que a população se vacine. “A imunidade com a vacinação leva um tempo para se estabelecer. Mesmo vacinado, use máscara, mantenha o distanciamento social e higienize suas mãos. Confie na Anvisa, confie nas vacinas que a Anvisa certifica e, quando elas estiverem ao seu alcance, vá e se vacine”, declarou.
Ciência. Os diretores também defenderam decisões baseadas na ciência e negaram interferência na agência. “O momento é histórico, de enfrentamento real à pandemia, capaz de reverter esse cenário devastador, um divisor de águas na história. Daí a importância de uma análise acertada, sempre pautada no equilíbrio e na cientificidade”, disse a diretora Cristiane Jourdan Gomes. No voto mais duro contra os negacionistas e a negligência, o diretor Alex Campos, que foi chefe de gabinete do ex-ministro Luiz Henrique Mandetta, defendeu o caráter técnico da agência e criticou a ação do Estado no combate á pandemia. “No nosso vocabulário, não há espaço para negação da ciência, tampouco para a politização. A tragédia de Manaus é a expressão mais triste e revoltante da falha objetiva do Estado, em todos os níveis. As imagens nos últimos dias nos fazem prestar homenagem sincera a esses brasileiros do Amazonas, e a todos que foram vítimas da covid e da incúria do Estado”, disse.

*”Enem tem falta recorde e alunos barrados”*

*”Queda de preço de equipamentos faz País dobrar geração de energia solar”* - A geração de energia solar dobrou a capacidade instalada no País em 2020, depois de R$ 13 bilhões em investimentos. Segundo especialistas, a redução de preços de equipamentos tem atraído mais empresas e consumidores. A Associação Brasileira de Energia Solar informa que o aumento da potência conquistada no ano passado é suficiente para iluminar 3,7 milhões de domicílios. Dados da Associação Brasileira de Energia Solar mostram que a capacidade instalada do setor saltou de 4,6 para 7,5 gigawatts em 2020, o que dá para iluminar até 3,7 milhões de domicílios; desde 2012, custos para geração saíram de US$ 100 para US$ 20 o megawatt-hora
A geração de energia solar dobrou sua capacidade instalada no País em 2020, na esteira de R$ 13 bilhões em investimentos, e promete repetir o feito agora em 2021. Segundo especialistas, por trás desse quadro está principalmente a redução de preços de equipamentos nos últimos anos, que têm atraído mais empresas e consumidores para esse mercado, aliada ao fato de o Brasil ter uma das melhores irradiações solares do mundo. Segundo a Associação Brasileira de Energia Solar (Absolar), em 2020 a capacidade instalada saltou de 4,6gigawatts (GW) para 7,5 GW, puxada por um aumento de 2,2 GW só da chamada geração distribuída – a partir de sistemas instalados em telhados, fachadas de edifícios e pequenos terrenos, por exemplo. Essa potência é suficiente para iluminar 3,7 milhões de domicílios. A previsão é que o número alcance 12,6 GW neste ano, também impulsionado pela autogeração. Em termos de investimentos, o resultado também impressiona. Dos R$ 13 bilhões desembolsados no ano passado, quase 80% foram bancados por projetos de geração distribuída. O restante ficou por conta da chamada geração centralizada (projetos que são vendidos em leilões de energia do governo). Para 2021, a projeção é que a autogeração atraia mais R$ 17,2 bilhões, o equivalente a 76% dos R$ 22,6 bilhões estimados para todo o setor pela Absolar.
Desde 2012, quando despontou comercialmente no País, a energia solar teve seu preço reduzido em 80% – de US$ 100 o megawatt-hora para cerca de US$ 20. O preço fica abaixo do custo de todas as outras fontes, com exceção da geração eólica. “Isso está fazendo com que a classe média baixa também passe a enxergar a energia solar como um bom investimento, não apenas a classe alta, como era no começo”, diz a diretora comercial da Win Energias Renováveis e coordenadora da Ab sol arno R iode Janeiro,c amilanas cimento. Segundo ela, o comércio também tem se voltado para a fonte solar para reduzir seus custos fixos, em meio à crise trazida pela pandemia. No caso da Win, distribuidora de módulos criada em 2019, Camila viu o volume de negócios crescer 200% em plena pandemia. Equipamentosque há dez anos custavam R$ 30 mil, hoje são encontrados pela metade do preço. Por R$ 15 mil, uma residência que tenha a conta de luz de R$ 350 por mês consegue instalar um sistema. Para negócios como um salão de beleza, que consome muita energia, o investimento na compra e instalação dos módulos pode sair R$ 45 mil.
Baterias. “Hoje em dia, deixou de ter só um apelo ambiental, como era anos atrás, e passa por uma questão financeira. As pessoas instalam realmente para reduzir a conta de luz”, avalia o presidente do Portal Solar, Rodolfo Meyer, a primeira e maior plataforma de energia solar do País. O Portal tem 20 mil empresas cadastradas e recebe a visita de cerca de 350 mil pessoas por mês, que acessam a plataforma em busca de financiamento, produtos e informação. Para 2021, espera-se que mais 5,4 mil empresas entrem no mercado. Meyer prevê uma grande evolução do segmento nos próximos anos, principalmente com a chegada das baterias. Elas vão possibilitar independência do consumidor em relação às distribuidoras de energia. Ainda em fase de desenvolvimento, vão funcionar como pilhas para armazenar energia. Estão seguindo a mesma trajetória de queda de preços dos equipamentos de energia solar. Em dois anos, segundo o presidente do Solar,devem ganhar espaço entre os consumidores para utilizar a energia solar à noite ou quando não houver sol. Roberto Brandão, pesquisador do Grupo de Estudos do Setor Elétrico (Gesel) da Universidade Federal do Rio de Janeiro, avalia que a energia solar tem potencial para liderar a matriz elétrica brasileira no longo prazo, se a questão das baterias for resolvida. Hoje, essa fatia ainda é de 1,6%.

*”Crise pressiona marcas de carros de luxo”* - A decisão da Ford de encerrar produção no País coloca holofotes em todo o setor, em especial nas marcas de carros de luxo que produzem em baixa escala. O grupo já teve a primeira baixa um mês antes da Ford, quando a Mercedesbenz fechou a fábrica de Iracemápolis (SP). Outra marca do segmento, a Audi, ficará parada ao longo deste ano e só em 2022 decidirá se mantém ou não a linha de produção no complexo da Volkswagen em São José dos Pinhais (PR). As marcas premium abriram fábricas entre 2014 e 2016, elevando o status da indústria brasileira que, por muitos anos, teve produção voltada aos chamados carros populares. As três alemãs (Audi, BMW e Mercedes) e a britânica/indiana Jaguar Land Rover investiram R$ 2,2 bilhões para uma capacidade conjunta de 102 mil automóveis ao ano e 4 mil empregos diretos. Em seis anos, elas produziram 140 mil veículos. No ano passado, foram 14 mil. A Mercedes avalia o que fazer com as instalações e como indenizar os 370 funcionários. A Audi diz que sua equipe está trabalhando na Volkswagen.
O presidente da Bright Consulting, Paulo Cardamone, vê muitos obstáculos para a manutenção da produção de modelos de pequena demanda, como são os carros de luxo. “Chega um momento em que, pelo baixo volume, não faz sentido”, afirma. Além disso, diz, com o patamar do dólar nos últimos anos não dá para operar uma fábrica que depende de muitos itens importados. “Desde o início dessas operações, (o dólar) sempre foi um risco alto”, avalia Cardamone, para quem mesmo com a moeda a R$ 3 valeria a pena importar esses carros que, hoje, representam menos de 1% da venda total. Rafael Cagnin, economistachefe do Instituto de Estudos para o Desenvolvimento Industrial (Iedi), confirma que este nicho de mercado, mesmo com produção local, usa mais componentes importados, o que é um desafio com a taxa de câmbio. Ele lembra que há uma ruptura das cadeias de valor internacionais e movimentos de sua reorganização em âmbito global. “Podemos ver muitas mudanças nos próximos anos, nem todas, porém, negativas, que podem favorecer a reconstrução da cadeia de fornecedores nacionais de autopeças.”
Para Cagnin, a indústria local precisa de novo padrão, mais em linha com paradigmas mundiais como a adoção da indústria 4.0. “Para isso, é fundamental que preservemos um arranjo macroeconômico favorável, com taxa de câmbio competitiva, juro baixo e avanço nas reformas.” Líder em vendas no segmento, a BMW informa que os planos no País permanecem inalterados “e todos focados no médio e longo prazo”. Informa que aderiu ao programa Rota 2030 (que impõe metas de emissões e segurança para novos carros) e continua trabalhando “para se manter com alta capacidade de se reinventar”. Cerca de 80% das vendas da marca são de produtos feitos em Araquari (SC). A Jaguar Land Rover, com fábrica em Itatiaia (RJ), confirma “a manutenção da fábrica para 2021”. Diz que a linha dos modelos Evoque e Discovery trabalha com a mesma capacidade produtiva de antes da pandemia. “Sem dúvida, o compromisso e estratégia da Jaguar Land Rover no mercado brasileiro é de longo prazo”, diz, em nota. Além da expectativa de um mercado em alta, o que trouxe as quatro marcas ao País foi a medida adotada pelo governo Dilma Rousseff de taxar em 30 pontos porcentuais o IPI de carros importados de fora do Mercosul e do México, com intuito de atrair a produção local.
Sem elétricos. O baixo volume de vendas não é o único motivo para o fechamento da fábrica da Mercedes-benz. Segundo Luiz Carlos Moraes, diretor da empresa, a matriz está focada nos desafios de eletrificação, digitalização e carbono neutro. “Diante disso, está fazendo uma revisão de sua cadeia global de produção.” O Brasil não foi incluído. Ele lembra que o mercado já estava em dificuldades e foi ainda mais impactado pela pandemia. “Tudo isso levou à decisão de encerrar a produção em Iracemápolis. Os novos Classe C e GLA serão importados.” O diretor de relações institucionais da Audi, Antonio Calcagnotto, afirma que há um grande esforço do grupo para retomar as operações no Paraná. “Estamos tentando trabalhar com a Alemanha para produzir dois novos modelos em 2022.” Ele não descarta a produção de carros elétricos quando o mercado tiver demanda maior.
Segundo o executivo, a marca entende que a produção local “nos dá independência, agilidade em lançamentos, manobras de vendas e vale a pena, mesmo que os volumes sejam baixos”. A filial enfrenta dois obstáculos: a matriz quer ao menos um sinal do governo de que vai devolver os créditos tributários que tem direito a receber, ainda que parcelados ou por meio de compensação. A dívida com a marca em créditos de IPI é de R$ 210 milhões. Com a Mercedes, é de R$ 70 milhões. A outra dificuldade é convencer o governo a reduzir o Imposto de Importação (II) de peças, em especial os itens de alta tecnologia até que haja escala para produção local. Em 2020, as vendas de carros de luxo no Brasil somaram 43,9 mil unidades, queda de 16% ante 2019 – o mercado total caiu 26%, para 1,95 milhão de unidades. A líder no segmento foi a BMW, com 12,4 mil unidades, incluindo produção local e importados. O segundo lugar foi da Volvo, com 7,7 mil carros – a marca sueca cogitou ter fábrica no País, mas desistiu e manteve-se como importadora. Na sequência, estão Audi (6,9 mil), Mercedes (6,8 mil), Land Rover (4,6 mil) e o restante é pulverizado entre marcas esportivas como Porsche e Ferrari.

*”Mudanças no trabalho, aceleradas pela pandemia, desafiam sindicatos”* - Nas últimas décadas, o movimento sindical brasileiro obteve conquistas memoráveis. Sua galeria de troféus inclui a eleição de Lula, o seu grande líder, para a Presidência da República, a criação do PT, um partido com raízes operárias que chegou ao poder pela via democrática, e a realização de greves históricas, que mudaram os rumos políticos do País, como a dos metalúrgicos do ABC, em São Paulo, nos anos 1970, durante o regime militar. Nos governos petistas, os sindicatos e seus dirigentes se tornaram tão fortes e influentes que a expressão “República sindicalista” voltou a ser usada por muitos analistas e adversários políticos. Embora a difusão e até a criação do termo sejam atribuídas a Carlos Lacerda, o líder da extinta UDN, em referência ao governo João Goulart (1961-1964), foi no período em que o PT ocupou o Palácio do Planalto, provavelmente, que ele encontrou a sua mais completa tradução. Os anos dourados do movimento sindical, porém, parecem ter ficado para trás – e não apenas pelo desgaste de Lula e do PT, com a corrupção que prosperou nos governos do partido, e pelos pecados cometidos na economia, que jogaram o País na maior recessão de que se tem notícia em todos os tempos.
“Futuro incerto”. Com o avanço da tecnologia na produção e no trabalho, acelerado pela pandemia, as condições que favoreceram o protagonismo dos sindicatos desde a redemocratização estão desaparecendo rapidamente, e até agora eles não encontraram uma saída par atentar manter a relevância e até mesmo garantira sua sobrevivência. “Nunca o futuro dos sindicatos foi tão incerto ”, diz LeôncioMartins rodrigues, autor do livro destino do sindicalismo( Ed. Edusp ,336 págs.), umareferência na área. lançado em 1999, o livro já apontava, com base em experiências e dados dos países desenvolvidos, o declínio dos sindicatos, em decorrência da globalização e da tecnologia, e sugeria que o fenômeno poderia ser duradouro e se alastrar pelo mundo (veja o quadro ao lado).
Embora só agora, com as mudanças tenham se torna domais visíveis no Brasil, elas já vinham ocorrendo lá fora desde o fim do século 20. Segundo Rodrigues, o processo se manifestou de forma tardia no país porque os sindicatos se beneficiaram de “circunstâncias excepcionais ”, que permitiram a ascensão de Lula como líder sindical e a sua chegada ao poder, com o PT. Mas, em sua avaliação, essa conjunção favorável dificilmente vai se repetir. “Não há sinal de que isso vai voltar”, afirma. Os desafios que os sindicatos têm pela frente são grandiosos. A revolução tecnológica, turbinada pela robotização crescente da indústria, pelo desenvolvimento da inteligência artificial, pela digitalização do trabalho nos escritórios e pela popularização do e-commerce, deverá afetar o emprego, as atividades profissionais, a renda da população e até a educação, com forte impacto na atuação dos sindicatos. Nos próximos anos e décadas, o ambiente em que os sindicatos operam será muito menos favorável do que no passado recente. Coma chamada 4.ª Revolução Industrial, os empregos na indústria, que já vêm em queda livre há algum tempo, vãos e torna ruma fração doque eram. Isso deverá minar a capacidade de mobilização do movimento, que se beneficiava da presença de um grande número de trabalhadores no chão de fábrica para fazer a sua pregação e exercitara musculatura.
Home office. Nas atividades administrativas e de atendimento ao público, como os call centers e o comércio, atingidas em cheio pela aceleração da automação na pandemia, o cenário não é muito diferente. A decisão de muitas empresas de manter parte dos empregados em home office depois que a covid-19 se for vai complicar ainda mais o quadro. Uma parcela dessa mão de obra será absorvida pelo setor de serviços, mas isso também não aliviará muito a situação. No setor de serviços, tradicionalmente, a mobilização já é bem mais complicada, devido à maior dispersão de trabalhadores. “Quando a mão de obra se desloca de uma base industrial mais forte para o setor de serviços, que é mais atomizado, dominado por micros, pequenas e médias empresas, fica mais difícil organizar os trabalhadores”, diz o sociólogo e consultor Clemente Ganz Lúcio, ex-diretor técnico do Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos (Dieese) e hoje envolvido numa força-tarefa formada pelas centrais, par atentar formular um anova estratégia de atuação para o movimento sindical.
Aplicativos. Ao mesmo tempo, novas formas de contratação estão ganhando espaço no mercado, como alternativa ao sistema de trabalho em tempo integral, no qual os sindicatos se movimentam com maior desenvoltura. Favorecidas pela reforma trabalhista de 2017, que é alvo da ira dos sindicalistas, apesar de agradarem as empresas e muitos profissionais, elas incluem o trabalho parcial, pelo qual o empregado trabalha até 25 horas semanais, e o intermitente, em que o funcionário é convocado para trabalhar conforme a necessidade das empresas e ganha por hora trabalhada. Com o corte de vagas formais, regido pela Consolidação das Leis do Trabalho( CLT ), muitos empregados vãos e tornar empreendedores. só no ano passado ,1,9 milhão detra balhadores se registrou como M EI( microempreendedor individual ), de acordo como serviço de Apoio às Micro e Pequenas Empresas (Sebrae), um recorde desde o surgimento da categoria, em 2009. O número de prestadores de serviço para os aplicativos de entrega e transporte, como Uber, ifood e Rappi, que não mantêm vínculo empregatício, também se multiplicou. “O mundo moderno nãoé de emprego, é de trabalho”, afirma o advogado e consultor Magnus Apostólico, exdiretor de Relações Trabalhistas da Febraban, a entidade que reúne os bancos do País.
Além de tudo isso, há uma mudança significativa de mentalidade ocorrendo na sociedade, que se revela, em toda a sua extensão, no caso dos motoristas e entregadores de aplicativos. Embora os sindicatos tentem aliciá-los, sob o argumento de que a relação deles com as empresas deveria ser regida pela CLT, a maior parte da turma não quer nem ouvir falar do assunto. “Hoje, os próprios trabalhadores falam que querem ser donos da própria vida”, diz o consultor. “Não existe coisa pior para os sindicatos doque acharque têm influência e aba seque eles acreditam representar dizer‘ olha, eu nem sei que vocês existem’.” Para o sociólogo José Pastore, presidente do conselho de emprego e relações de trabalho da federação do Comércio de São Paulo, isso não significa que os sindicatos vão desaparecer. Nem que o trabalho formal vai acabar. Em sua visão, várias atividades exigem formalização de vínculo com os empregados, por questões estratégica sede confidencialidade. Ainda assim, para superar as mudanças trazidas pela revolução digital, os sindicatos terão de mostrar que são capazes de se reinventar e se adaptar aos novos tempos.

*”Resistência à automação dificulta adaptação aos novos tempos”* - Na pregação dos sindicalistas, duas palavras têm presença garantida nos últimos tempos: “uberi-zação” e “precarização”. Elas simbolizam com perfeição a postura defensiva predominante no movimento sindical contra as novas formas de contratação de profissionais e o avanço da tecnologia na produção e no trabalho. Como os ludistas nos primórdios da Revolução Industrial, na Inglaterra, no século 19, que promoviam a quebra das máquinas nas indústrias por acreditar que iriam acabar com os empregos, os sindicalistas agora resistem à revolução digital e querem ditar o seu ritmo, para tentar evitar que os robôs e a inteligência artificial ganhem espaço. “O que o movimento sindical talvez tenha dificuldade de entender, pela velocidade com que as coisas estão acontecendo, é que a automação ou a digitalização não é uma decisão da empresa, mas de mercado. Se ela não fizer isso e o seu concorrente fizer, vai morrer e provocar mais desemprego”, afirma o advogado e consultor Magnus Apostólico. Aparentemente, o mundo ideal, na visão de muitos dirigentes sindicais, seria aquele em que tudo continuaria como está, sem que qualquer fator levasse os profissionais a sair da “zona de conforto”. A percepção geral é de que a lei que proibiu as bombas de autosserviço nos postos de gasolina, para garantir o emprego dos frentistas, aprovada em 1999, representa “uma conquista dos trabalhadores” e não um freio à produtividade e à modernização do País. “No Brasil, essas mudanças modernizadoras são feitas com enorme dificuldade”, diz Almir Pazzia-notto Pinto, ex-presidente do Tribunal Superior do Trabalho (TST) e ex-ministro do Trabalho. Segundo ele, a própria Constituição inclui entre os direitos dos trabalhadores a proteção contra as transformações trazidas pela tecnologia. “Como é possível impedir a automação em nome da proteção a uma mão de obra não qualificada?”, questiona. “A mão de obra qualificada não tem receio da automação e da digitalização.”
Jetsons. Para tentar sobreviver neste cenário e recuperar a relevância perdida nos últimos anos, os sindicatos terão, provavelmente, de deixar de lado postura defensiva e procurar se adaptar aos novos tempos. A luta contra a tecnologia jamais foi bem-sucedida, exceto por curtos períodos, que pouco ou nada representam no curso da história. Apesar da resistência dos ludistas no início da industrialização, a Inglaterra logo se tornou uma potência econômica, com a multiplicação da produção, o corte de custos e a oferta de bens acessíveis a uma massa de consumidores inimaginável até então. Como se constatou depois, a industrialização levou à criação de milhões de empregos, ao aumento generalizado da renda e a uma prosperidade como nunca se tinha visto. Se, por um lado, a tecnologia elimina algumas ocupações, por outro cria novas demandas e permite o aumento da produtividade, que é a força motriz do desenvolvimento. A questão é que sempre haverá uma defasagem de tempo entre uma coisa e outra, como na Inglaterra de dois séculos atrás. “O importante é admitir que a tecnologia está transformando os empregos atuais”, afirma o sociólogo José Pastore. “As pessoas só vão conseguir trabalhar se acompanharem essa transformação.” De acordo com ele, um estudo do Fórum Econômico Mundial apontou que, em dez anos, o mundo terá de requalificar cerca de um bilhão de trabalhadores atingidos pelo avanço da tecnologia. “Sou da geração dos Jetsons. Adorava ver os Jetsons. Tudo isso está chegando”, diz Ricardo Pattah, presidente da União Geral de Trabalhadores (UGT) e um dos sindicalistas que mais têm se movimentado para implementar ações de capacitação. “Só que, se não nos prepararmos para isso, vamos ter tantos miseráveis que o mundo vai ficar caótico.”
No Brasil, porém, a capacitação profissional sempre foi consideradauma questão menor pelos sindicatos e eles nunca entrar ampara valer na área. “Os sindicatos deixaram os trabalhadores sem as competências e habilidades necessárias para concorrer em um mundo cada vez mais ágil e online”, diz o economista Gabriel Pinto, autor do livro Passaporte para o Futuro (Edições Cândido, 2020). Em paralelo a esses esforços isolados, o movimento sindical se movimenta para mudar de forma radical a organização das entidades. A ideia é aproveitar a reforma sindical parada no Congresso para acabar com a atual classificação de sindicatos e criar grandes organizações setoriais, com base nacional. No caso da indústria, seria criado um sindicato com todos os trabalhadores que atuam no setor – assalariados, terceirizados, autônomos e prestadores de serviço, de todos os ramos de atividade. “A classificação atual fragmenta a representação sindical”, diz o sociólogo Clemente Ganz Lúcio. Por ora, os sindicatos estão procurando usar a tecnologia em seu favor, desenvolvendo aplicativos e ferramentas para permitir a associação de trabalhadores pela internet. Com a pandemia, as assembleias virtuais se tornaram um instrumento precioso para os dirigentes tentarem se aproximar mais de suas bases.

 

CAPA – Manchete principal: *”São Paulo antecipa-se, inicia a vacinação e Pazuello reage”*

*”Especialistas apontam problemas legais em norma que dispensa licenciamento”* - Há um mês, o Ministério da Economia apresentou uma resolução que prevê a dispensa de licenciamentos de alvará de construção e habite-se para obras e edificações consideradas de baixo risco. A ideia é incentivar a construção civil e agilizar processos. A decisão, no entanto, preocupa urbanistas e especialistas em Direito, pois esbarraria em inconstitucionalidades. As dificuldades e confrontos que tendem a surgir agregam mais interferências à já caótica dinâmica do espaço urbano e seus habitantes. Com a concessão de alvarás para atividades de baixo risco, de forma digital e automática, a administração pública se concentraria naquilo “que realmente importa, que são as operações que podem oferecer maior risco”, disse o secretário especial de Desburocratização, Gestão e Governo Digital, Caio Paes de Andrade, em nota, no dia do lançamento da resolução. “A proposta do governo traz mais riscos que benefícios. As consequências das obras sofrerem atrasos no licenciamento é menor do que o impacto de ações que venham a ser conflitantes com o interesse público”, afirma o arquiteto e urbanista Fernando de Mello Franco.
A ideia de reduzir o tempo na liberação de licenciamento de obras é positiva para o ex-secretário de Desenvolvimento Urbano de São Paulo, Fernando Chucre. Segundo ele, a maior parte dos pedidos, hoje, refere-se a pequenos projetos. “É preciso tirar esses processos do balcão da prefeitura. Não se pode penalizar a sociedade porque alguém não cumpre a regra”, diz. Segundo ele, a maior parte dos projetos são legais e prazo de espera chega a representar 10% do custo da obra. Chucre diz que, embora polêmica, a ideia coincide com uma iniciativa paulistana, que criou o Sistema de Licenciamento Eletrônico de Construção. Essa foi, no entanto, uma decisão tomada pelo próprio município. Torná-la nacional, diz, traz entraves jurídicos. A resolução do ministério retira dos municípios a atribuição constitucional de licenciar obras e expedir alvará para a atividade. Especialistas demonstram preocupação. O professor de Direito da Fundação Getúlio Vargas, André Rosilho, afirma que, mesmo sem conhecer a resolução com detalhes, considera “complicado” que um tema que altera normas municipais venha de uma resolução e não de uma mudança na legislação. “A resolução parece estrangular competências municipais como também se mostra indiferente a aspectos importantes da segurança coletiva. Sua constitucionalidade, no plano formal e material, é duvidosa”, afirma Saul Tourinho Leal, advogado constitucionalista e sócio de Ayres Britto Consultoria Jurídica e Advocacia.
Para ele, a propriedade privada tem função social, que, no caso do direito à cidade, se realiza pelo cuidado urbanístico, pela participação dos moradores nos debates públicos relativos a temas que impactem a vida nas cidades e pelo respeito à competência municipal constante do artigo 30 da Constituição. “Parece óbvio que, mais uma vez, dificuldades e confrontos advirão”, diz Philip Yang, fundador do Instituto de Urbanismo e Estudos para a Metrópole (Urbem). Para esse ativista urbano, a maior preocupação é que o serviço público de licenciamento será substituído por empresas habilitadas pelo ministério, que integrarão o chamado Mercado de Procuradores Digitais de Integração Urbanístico de Integração Nacional. “Buscando desesperadamente reverter situações de impasse em processos aprobatórios, o Ministério da Economia lança serviço de licenciamento de obras a ser conduzido por empresas privadas”, afirma Yang. Para ele, “competência municipal por excelência, o licenciamento de obras passa a ser exercido, ainda que de forma optativa, pelo mercado com a interveniência do governo federal”.
Não é de hoje que Yang acompanha os debates que emperram o desenvolvimento saudável dos centros urbanos. Um deles é o Projeto de Intervenção Urbana do centro de São Paulo, que visa possível requalificação da área. “De um lado, agentes do mercado imobiliário clamam pela redução dos valores de outorga onerosa, de outro, entidades de classe, academia e movimentos sociais acusam o governo de entregar de graça o centro às incorporadoras, e exigem valores mais elevados de outorga”, afirma. Ainda em São Paulo, na Vila Leopoldina, projeto de reconversão de bairro industrial para uso misto segue travada na Câmara Municipal há um ano e meio. “O projeto empaca dado o enfrentamento que coloca em lados opostos comunidades vulneráveis da região e condomínios de classe média, contrários ao assentamento das favelas no próprio bairro”.

*”Resolução que facilita alvará não vai gerar caos, diz secretário”* - Governo pretende manter os atuais termos de texto que visa desburocratizar o processo para construção de imóveis considerados de “baixo risco”

*”Doria sai vitorioso da ‘guerra da vacina’”* - Autorização da Coronavac pela Anvisa permitiu ao governo de São Paulo fazer ontem primeira aplicação

*”Plano nacional inicia na quarta, diz ministro”* - Pazuello diz que Brasil tem condições de vacinar até 1 milhão por dia

*”Governador de SP ataca ‘negacionismo’”* - Durante a coletiva, um grupo de médicos vacinou profissionais da saúde e indígenas

*”Anvisa defende imunização e manda recados ao governo federal”* - Em reunião de cinco horas, diretores destacam a autonomia e a competência do corpo técnico da agência

*”Governadores vão a Brasília em busca de detalhes”* - Eles também irão pedir celeridade à Anvisa na liberação do uso emergencial das vacinas produzidas no país

*”Amazonas faz Estados acenderem sinal de alerta”* - Em 21 Estados e no DF, novo coronavírus está em expansão

*”Manaus vive semana de desespero e mais de 150 morrem nos últimos 3 dias”* - Mesmo com a chegada do oxigênio em muitas unidades de saúde, o insumo tinha hora para acabar e não era suficiente para suportar a demanda

*”Juristas pedem à PGR que denuncie Bolsonaro por sabotar vacinação”* - O descaso de Jair Bolsonaro com a efetivação de um plano de vacinação para o país levou um grupo de 352 pessoas, formado por juristas, intelectuais, artistas e ambientalistas, a solicitar a abertura de uma ação criminal contra o presidente da República no Supremo Tribunal Federal (STF), responsabilizando-o por “sabotar e frustrar” o processo de imunização de modo a colocar em risco a saúde pública. A petição foi ajuizada na Procuradoria-Geral da República (PGR) na sexta-feira e é dirigida ao chefe do órgão, Augusto Aras - única autoridade com competência para denunciar o presidente da República na eventualidade da prática de crime comum. “O presidente Jair Bolsonaro é um delinquente que indiscutivelmente tem praticado, reiteradamente, vários crimes ao longo do período em que vem ocupando a função presidencial”, afirmou ao Valor o ex-ministro da Justiça José Carlos Dias, um dos signatários do documento. O ex-ministro fez referência às atitudes adotadas por Bolsonaro desde o início da pandemia, como a minimização da doença que já matou mais de 2 milhões de pessoas no mundo e cerca de 210 mil no Brasil; o encorajamento público do uso de medicamentos sem comprovação científica de eficácia para combater a covid-19, como a cloroquina e a ivermectina; e o estímulo frequente à formação de aglomerações em locais públicos, com apoiadores reunidos sem máscara em seu entorno. “O presidente da República tem fomentado toda sorte de subterfúgios e sabotagens para retardar ou mesmo frustrar o processo de vacinação, embora o país seja historicamente reconhecido como referência internacional de prevenção de doenças por meio imunobiológico”, diz o texto da petição.
A peça jurídica enfatiza a postura de Jair Bolsonaro de desestimular e questionar repetidamente a eficácia da vacinação para combater o coronavírus. “Em lugar de engajar-se nas tratativas com fornecedores internacionais [de vacinas] e motivar as instituições nacionais de pesquisa e desenvolvimento a realizarem suas missões institucionais, dedicou-se a levantar dúvidas sobre a efetividade das vacinas e ressaltar a facultatividade da sua aplicação”. A petição destaca ainda que recentes pesquisas de opinião revelaram o aumento do percentual de brasileiros que declararam que não se vacinarão contra a covid-19 após o presidente da República colocar em dúvida e atribuir falsos efeitos colaterais a diversos imunizantes. “A situação pode ainda ter se agravado após o pronunciamento do representado [Bolsonaro] informando que não vai tomar qualquer vacina, por entender que já teria anticorpos em razão de ter contraído a doença ainda no início da pandemia de covid-19”. A petição também registra postagens de Bolsonaro nas redes sociais. Em uma delas, um seguidor que se identifica como um jovem de 17 anos faz um apelo para que o presidente não compre a vacina do Butantan para evitar “interferência da ditadura chinesa”. Em letras maiúsculas, Bolsonaro responde: “Não será comprada”.
O documento conta com nomes de juristas como Celso Antônio Bandeira de Mello, Antonio Claudio Mariz de Oliveira, Alberto Zacharias Toron, Igor Tamasauskas, Marco Aurélio Carvalho e o ex-secretário de Justiça de São Paulo, Belisario dos Santos Junior. Também assinam o pedido enviado a Aras o ex-ministro da Fazenda Luiz Carlos Bresser-Pereira, o ex-secretário de Saúde de São Paulo, Gonzalo Vecina Neto, e ainda o escritor Milton Hatoum, a autora e filha de Jorge Amado, Paloma Jorge Amado, o cineasta Walter Salles, as atrizes Marieta Severo e Paula Lavigne, o ex-jogador e comentarista esportivo Walter Casagrande e a deputada federal Sâmia Bomfim (Psol-SP). Sobre o fato de o procurador-geral da República ter sido indicado ao cargo por Bolsonaro fora da tradição da lista tríplice composta por meio de votação, o ex-ministro José Carlos Dias ressalta que o dever de Augusto Aras é analisar a representação pelo viés jurídico. “Essa é uma outra questão, a responsabilidade do procurador-geral da República é cumprir com o seu dever, ainda que eu não possa dizer se ele irá ou não cumpri-lo”.

*”Liberação de vacinas é exaltada mas presidente silencia”* - Aprovação pela Anvisa do uso emergencial das vacinas CoronaVac e da AstraZeneca foi comemorada por integrantes do Legislativo e do Supremo, e contrastou com silêncio de Bolsonaro

*”Estados reabrem pressão para sustar precatórios”* - Pandemia da covid-19 fez com que Estado de São Paulo procurasse dilatar o prazo

*”Alianças no Senado não devem se repetir nas eleições de 2022”* - A aliança entre DEM, PP, PSD e Republicanos em torno da disputa ao comando do Senado, reproduzindo a coligação que marchou com o PSDB na última eleição presidencial, não deve se repetir em 2022. Com projetos de poder distintos, a dissolução desse bloco está no horizonte: o PP já manifestou apoio à reeleição de Jair Bolsonaro, o DEM articula um bloco com MDB e PSDB, enquanto o PSD fala em lançar pela primeira vez uma candidatura própria à presidência da República. Em 2018, o apoio do DEM à candidatura presidencial do tucano Geraldo Alckmin implicou como contrapartida os votos da bancada do PSDB à recondução de Rodrigo Maia (DEM-RJ) à presidência da Câmara em 2019. Desta vez, entretanto, apesar das avaliações de que a eleição para as Mesas Diretoras da Câmara e do Senado equivale a uma prévia da sucessão presidencial, as principais lideranças dos partidos que protagonizam o pleito rechaçam essa interpretação, e afirmam que a aliança é pontual.
O presidente nacional do PP, senador Ciro Nogueira (PI), que já se comprometeu com o palanque de Bolsonaro, disse ao Valor que as negociações do grupo não abrangem 2022. No entanto, ele pondera que a união dos partidos na disputa pelo comando do Senado “é uma boa sinalização, um bom diálogo”. Para Nogueira, se os candidatos apoiados pelo bloco vencerem o pleito, esse resultado facilitará a evolução das conversas em relação à sucessão presidencial. “Vou trabalhar para isso”, adiantou. DEM, PSD, PP e Republicanos uniram-se formalmente em torno da candidatura de Rodrigo Pacheco (DEM-MG) à presidência do Senado. A postulação de Pacheco é o resultado do esforço do presidente Davi Alcolumbre (DEM-AP), impedido de tentar se reeleger, a preservar a cadeira na cota do DEM, que se viu diante do risco de perder, em uma tacada, a direção das duas Casas. Na Câmara, o bloco oficial em torno da postulação do deputado Arthur Lira (PP-AL) reúne PP, PSD e Republicanos. O DEM aparece do outro lado, oficialmente, no bloco de apoio a Baleia Rossi (MDB-SP), capitaneado por Rodrigo Maia. Mas a bancada rachou, e alguns deputados seguiram o ex-líder do DEM Elmar Nascimento (BA) na adesão à candidatura de Lira. O DEM colocou sobre a mesa de negociações que a prioridade da sigla é eleger o presidente do Senado. Por isso, as direções nacionais de DEM e PP fizeram um acerto: em troca do apoio do PP no Senado, o DEM fez um pacto de não agressão a Lira na Câmara.
Um interlocutor do presidente nacional do DEM, ACM Neto, argumenta que a postura da sigla não poderia ser outra, até porque, no Senado, o MDB é o principal adversário de Pacheco. Em contrapartida, o PP não poderia exigir que o DEM se desligasse do bloco de apoio a Baleia na Câmara, porque seria um desgaste insuportável para Maia. Este aliado de ACM Neto relata que o diálogo do DEM com outras legendas, voltado para 2022, está mais afinado com MDB, Cidadania e Podemos. Segundo esta fonte, Republicanos também estaria no radar do grupo. O PSDB também integra esse movimento, mas o sentimento entre os participantes do grupo é de que os tucanos devem participar de espírito aberto, com a disposição de apoiarem ou serem apoiados. Segundo esta fonte, a eventual candidatura presidencial do governador de São Paulo, João Doria, não poderá ser imposta ao bloco. Esse grupo sonha com a candidatura presidencial de Luciano Huck, o qual, segundo interlocutores do apresentador de TV, “quer ser candidato”, mas só vai se posicionar no fim deste ano. A avaliação nesse grupo de partidos quanto ao ex-ministro da Justiça Sergio Moro é de que ele hoje é carta fora do trabalho. Se não quiser se unir ao PP no palanque de Bolsonaro, ACM Neto terá de administrar a dissidência interna, porque ao menos os governadores de Goiás, Ronaldo Caiado, e de Mato Grosso, Mauro Mendes, que tentarão a reeleição, gostariam de ter o presidente em seus respectivos palanques em 2022.
Nesse jogo, o PSD começou a ensaiar um voo solo em 2022, impulsionado pelo resultado das eleições municipais. Ao eleger 655 prefeitos, a sigla fundada pelo ex-prefeito de São Paulo Gilberto Kassab em 2011 se tornou a terceira com o maior número de prefeituras, atrás apenas de MDB e PP. A vitrine do PSD foi a reeleição do prefeito de Belo Horizonte (MG), Alexandre Kalil, no primeiro turno, com 63,3% dos votos válidos - a segunda votação mais expressiva do país, atrás apenas do novo prefeito de Salvador (BA), Bruno Reis (DEM). A proeza alçou Kalil ao posto de favorito para o governo de Minas Gerais em 2022. Favoritismo que transformou em determinante o apoio do PSD à candidatura de Pacheco ao Senado, porque o postulante do DEM ao comando da Casa é igualmente pré-candidato ao governo mineiro. No acordo que selou o apoio do PSD ao DEM no Senado - e que não é admitido por nenhum dos dois lados - Pacheco retira a pré-candidatura ao governo mineiro. E se derrotar Simone Tebet (MDB), é provável que o PSD apoie sua tentativa de reeleição para o cargo em 2023. Nas conversas com interlocutores, Kassab coloca dois nomes sobre a mesa para representar o partido na corrida presidencial: o governador do Paraná, Ratinho Jr., e o senador Otto Alencar (BA). O presidente do Republicanos e primeiro vice-presidente da Câmara, Marcos Pereira (SP), disse ao Valor que as alianças entre as quatro legendas que miram a eleição de Rodrigo Pacheco no Senado e Arthur Lira na Câmara são pontuais, e que em nenhum momento discutiu com os demais partidos a reedição do bloco em 2022.

*”Em desvantagem, Simone Tebet tenta voto feminino”* - Parlamentar do MDB negocia apoio do PSL

*”Vacina só terá efeito após três meses, afirma especialista”* - Pedro Curi Hallal, da Universidade Federal de Pelotas, diz que país terá que manter medidas de controle

*”Cenário caótico de Manaus pode se repetir no país, alerta pesquisador”* - Nova linhagem do coronavírus reforça a necessidade do isolamento social, segundo especialista da Fiocruz Amazônia

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