quinta-feira, 7 de janeiro de 2021

Trump incita turba contra Congresso para travar democracia

 


Já se aproximava das 6h no Brasil, agora na manhã de hoje, quando no exercício ritual de comando do Senado o vice-presidente americano Mike Pence declarou eleitos Joseph R. Biden Jr e Kamala D. Harris. Na Geórgia, enquanto isso, o reverendo Raphael Warnock e o documentarista Jon Ossoff foram eleitos senadores, confirmando assim que o Partido Democrata terá maioria na Câmara e no Senado durante o biênio 2021-22. Há vinte anos o estado só elegia republicanos — ontem foram dois da oposição, de uma só tacada. E assim o processo eleitoral americano enfim terminou. Não há mais passos ou possibilidade de reverter, o Congresso Nacional sancionou o resultado da corrida presidencial. Mas não era para ter sido tão tarde. Deputados e senadores tiveram de parar por várias horas seu trabalho pois tiveram a vida posta em risco. Também ontem, pela primeira vez em mais de 200 anos de história, um presidente americano incitou uma turba em fúria para que invadisse o Parlamento de forma a impedir que a escolha popular fosse confirmada. (The Hill)

Justamente quando o Congresso se reunia para homologar a eleição presidencial, Trump foi à frente dos jardins da Casa Branca de onde discursou para a turba, repetiu sua afirmação sem qualquer prova de fraude eleitoral, e a incitou. “Nós vamos agora andar até o Capitólio”, ele disse, “e vamos celebrar nossos bravos senadores e deputados e deputadas, e talvez não celebremos alguns deles.” A multidão atravessou então os quase três quilômetros que separam a residência presidencial do Congresso e, após pressionar, vários ganharam acesso ao prédio pegando a segurança desprevenida. Mike Pence foi o primeiro evacuado às pressas, depois por ordem os senadores e os deputados — mas ainda havia parlamentares no plenário do Senado quando os vândalos o invadiram. Um homem desfilou com uma bandeira confederada — símbolo daqueles que, nos anos 1860, quiseram cindir o país. Uma dupla substituiu a bandeira nacional no exterior do Parlamento por uma na qual se inscrevia apenas o nome do líder em letras garrafais — Trump. Outro circulou com na camiseta a estampa Campo Auschwitz. Invadiram gabinetes de deputados e senadores, fotografaram o que estava nas telas dos computadores largados às pressas, ocuparam sem ter sido eleitos os assentos no plenário incluindo aquele dedicado ao presidente da Casa. Discursaram. Quando a prefeitura de Washington pediu ao Departamento de Defesa ajuda da Guarda Nacional, ouviu não. O assalto ao Capitólio já durava duas horas quando Joe Biden apareceu. “Este é um assalto ao que há mais sagrado na América”, afirmou. “O trabalho de debater os temas do povo.” E então chamou Trump à responsabilidade. “Apareça em cadeia nacional, cumpra seu juramento, defenda a Constituição e exija o fim do cerco.” Poucos minutos depois, nas redes sociais, veio o vídeo do presidente. “Vão para casa”, pediu. “Nós amamos vocês.” Demorou ainda mais de hora para que a Guarda Nacional, agora convocada pelo vice-presidente, pudesse evacuar enfim o prédio.

Ao todo quatro pessoas morreram por conta da invasão ao Capitólio. (Estadão)

Há um debate ocorrendo nos altos escalões do Partido Republicano a respeito de Mike Pence invocar a 25a Emenda. Com sua assinatura, de metade dos ministros, e o voto de dois terços do Congresso podem destituir o presidente por incapacidade. (Axios)

Facebook e Twitter suspenderam o direito de Trump publicar posts em suas redes, temerosos de siga incitando violência. (Vox)




Baleia Rossi (MDB-SP) lançou oficialmente na quarta sua candidatura à sucessão do aliado Rodrigo Maia (DEM-RJ) na presidência da Câmara. Porém, durante o seu discurso, chamou a atenção a ausência de representantes do PT e do PDT, que, formalmente, fazem parte do grupo de 11 partidos que o apoia.

Já o candidato do centrão e do Planalto, Arthur Lira (PP-AL), abriu uma nova frente de disputa ao condenar a votação remota, via aplicativo, na eleição na Câmara, marcada para o dia 1º de fevereiro. Rodrigo Maia defende que ao menos os deputados em grupos de risco possam votar remotamente, mas Lira argumenta que os eleitores tiveram a obrigação de comparecer pessoalmente para votar no pleito municipal, e que é de se esperar que os deputados façam o mesmo.




Um dia depois de dizer que o Brasil estava “quebrado” e que não “conseguia fazer nada”, o presidente Jair Bolsonaro deu uma curva de 180º e afirmou que o país “está bem, uma maravilha”. Para ele, a culpa da repercussão de sua fala foi da “imprensa sem vergonha”. À tarde, ele se reuniu fora da agenda com 17 ministros, incluindo Paulo Guedes, que estava de férias.




Mas o dia terminou com uma notícia ruim para Bolsonaro e seus filhos. Segundo Lauro Jardim, o governador em exercício do Rio, Cláudio Castro, escolheu para procurador-geral do MP estadual Luciano Mattos, primeiro colocado na eleição interna da categoria. O Planalto pressionava Castro a nomear o quarto colocado, Marcelo Monteiro, abertamente ligado à família do presidente. Caberá a Mattos dar andamento a processos contra Flávio e Carlos, os filhos mais velhos de Bolsonaro. (Globo)

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