O domingo foi um dia em que o Brasil viveu um lampejo de esperança. Numa inédita reunião transmitida ao vivo, a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) aprovou duas vacinas para a covid-19, a Coronavac, produzida pelo Instituto Butantan, e a de Oxford, que chega em parceria com o laboratório Fiocruz. A sensação de que se pode voltar a viver em algum momento foi sintetizada pela primeira vacinada do país, a enfermeira Mônica Calazans, ao dizer que o retorno à normalidade no país e no mundo depende das pessoas se vacinarem. “A população precisa acreditar na vacina. Falo como brasileira, mulher negra. Acreditem na vacina", afirmou. Mônica, de 54 anos, é enfermeira na UTI do Instituto Emílio Ribas, em São Paulo, e estava ao lado do governador João Doria para tomar o imunizante, rodeada de jornalistas e fotógrafos. Doria cumpriu a promessa de que começaria a vacinar os paulistas assim que a Coronavac fosse aprovada. O governador tucano não iria deixar de capitalizar o momento. Mas o ministro da Saúde, Eduardo Pazuello, acusou o golpe ao aparecer de máscaras e recomendando o distanciamento social. Até ele parecia se render à ciência, negligenciada pelo presidente Jair Bolsonaro. Pazuello criticou jogadas de marketing, numa clara alusão a Doria. Nesta segunda, porém, é Pazuello quem participa de um ato simbólico para distribuir as 6 milhões de doses disponíveis no Brasil da Coronavac a todos os Estados –1,3 milhão ficam em São Paulo. A guerra política entre São Paulo e o Governo Bolsonaro deixa claro que a aprovação da vacina é apenas uma etapa de um longo caminho que o país tem para vencer o coronavírus. Como diz Miguel Nicolelis, colunista do EL PAÍS e coordenador do projeto Mandacaru, um coletivo de pesquisadores voluntários no combate à pandemia, “a decisão da Anvisa é uma vitória a ser celebrada, mas existem ações em paralelo que precisam ser tomadas imediatamente”, afirma o cientista, que defende que o Brasil deveria adotar um lockdown nacional, de duas ou três semanas, para frear a onda de novas infecções e ganhar tempo para a imunização gradual. Seis milhões de doses são poucas para um país de 210 milhões habitantes. O país ainda vive problemas agudos, como o dramático colapso de Manaus, que teve oferta até da Venezuela para estancar a crise. A imagem de Bolsonaro saiu tremendamente arranhada e a pressão para responsabilizá-lo judicialmente pela pandemia só cresce. Para nós, só resta seguir nos cuidando para não piorar o caos. | |||||
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