sexta-feira, 15 de janeiro de 2021

Análise de Mídia - 15/01/2021

 

DOS JORNAIS DE HOJE: As capas de Folha, Estadão e O Globo destacam o caos em Manaus e a morte de pacientes por asfixia em função da falta de oxigênio. A manchete vem acompanhada de uma foto em que aparentemente um profissional da saúde está sendo consolado por outro. Já a capa do Valor destaca a crítica a Jair Bolsonaro feita por João Doria.
A Folha de S.Paulo publica entrevista com a ex-mulher de Arthur Lira que denuncia o ex-companheiro por agressão além de outras acusações. Além disso, o jornal mantém a cobertura sobre o que pode ser o fim das forças-tarefa e, dessa vez, consegue se aprofundar um pouco mais no tema e oferecer alguma informação que tenha validade para o seu público leitor. A Folha também aborda as polêmicas envolvendo o ajuste fiscal que o governo do Estado de São Paulo e mostra que não há perspectiva de que o Bolsa Família tenha capacidade de suprir todas as famílias que estão necessitando de auxílio. Outra reportagem aponta como deve ser o programa Casa Verde Amarela que vai substituit o Minha Casa, Minha Vida. A Folha é oúnico dos jornais que publica informações sobre o pedido de exoneração coletiva de diretores do Ibama após a exoneração de um dos líderes do órgão.
O Estadão informa que a estratégia do governo federal para conquistar apoio para a candidatura de Arthur Lira esbarra no Orçamento federal. No ano passado, o Planalto já deixou de pagar mais de R$ 19 bilhões em emendas parlamentares e novas promessas seriam difíceis de serem cumpridas. O jornal mantém a cobertura sobre o projeto que altera a relação dos governos estaduais com as polícias militar e civil. Hoje, o Estadão ouve o ex-ministro do Supremo Celso de Mello. No caderno de economia, o Estadão publica entrevista com o presidente da General Motors América do Sul. Ele faz críticas à narrativa de que as indústrias querem subsídios e coloca a culpa das dificuldades do setor na burocracia e na alta carga de impostos. O executivo ainda reforça que a GM não pretende deixar o país e que a estratégia atual é aumentar os preços e focar em carros mais caros. O que o jornal não discute é a consequência disso.
O Valor Econômico, por sua vez, informa que os secretários estaduais de Saúde estão contradizendo o Ministério da Saúde e afirmam que têm seringas estocadas em quantidade suficiente para atender aos grupos prioritários na vacinação contra a Covid-19. Sobre a saída da Ford, o jornal publica reportagem sobre um estudo que mostra os impactos provocados pelo fim das atividades da empresa no país. Além disso, o economista Samuel Pessôa faz uma análise sobre a indústria automobilística no Brasil.

 

CAPA – Manchete principal: *”Sem oxigênio e com disparada de casos, Manaus mergulha no caos”*

EDITORIAL DA FOLHA - *”STF moroso”*: Mesmo quando não falha, a Justiça certamente pode tardar. Esse parece ser o caso do Supremo Tribunal Federal, ao menos em temas criminais. Levantamento da Folha mostrou que, a despeito da limitação do alcance do foro especial adotada em 2018, o trabalho da corte não se tornou mais célere. Foi justamente para atender à demanda da sociedade por julgamentos mais tempestivos de autoridades que o foro especial —não raro associado de forma errônea à impunidade— passou a valer somente em investigações de crimes cometidos durante o mandato e relacionados ao cargo do acusado. Mas a redução de casos em análise no STF não resultou, ao menos até o momento, na superação de atrasos que se verificam em diferentes fases do processo penal. Como mostrou este jornal, o tribunal leva, em alguns casos, mais de três anos para decidir se aceita ou não uma denúncia da Procuradoria-Geral da República. Entre os 82 inquéritos públicos e em segredo de Justiça que tramitam na corte e miram 60 políticos, 12 aguardam decisão dos magistrados. Em 41 casos, as investigações estão em andamento.
A fila abarca um conjunto suprapartidário de nomes, que obviamente cresceu nos últimos anos em razão da Operação Lava Jato. Cumpre observar que os inocentes têm mais a perder com a delonga. O Supremo peca por falta de transparência na administração do próprio tempo. Seu presidente tem o poder discricionário de pautar os casos a serem examinados no plenário do tribunal, que hoje incluem as ações penais. Há empecilhos mais estruturais. Diferentemente da Suprema Corte dos EUA, o STF trata de um amplo leque além da constitucionalidade de leis. O resultado é um acúmulo exagerado de tarefas. Como um tribunal de vocação constitucional, o Supremo não está equipado para levar adiante processos penais inteiros. Os incentivos institucionais à morosidade, ademais, são numerosos. Aqui podem ser citados os pedidos de vista pelos ministros que extrapolam, sem punição direta, o prazo regimental, além de dificuldades burocráticas como lentidão em notificações judiciais. Esta Folha defende reorientar o STF para o seu caráter constitucional, reduzindo por lei a sua competência originária em ações penais. A morosidade impõe custo reputacional ao Supremo Tribunal e obstrui o provimento oportuno da Justiça, alimentando a percepção, correta ou não, de impunidade.

HÉLIO SCHWARTSMAN - *”O papelão do Instituto Butantan”*: O que a onda populista que varre o mundo ensina é que é possível sabotar o sistema sem violar formalmente nenhuma de suas regras. Hugo Chávez não cometeu crime quando reduziu limites às reeleições; Viktor Orbán seguiu os trâmites legais quando redesenhou o Judiciário húngaro para servi-lo. O corolário disso é que, se o cidadão pode ter seu campo de ação limitado só pelas leis, figuras que desempenham papel-chave no sistema precisam cumprir as regras na forma e no espírito. A necessidade do "fair play" não está restrita à política. Ela é ainda mais vital na ciência. Se pesquisadores fraudam ou embelezam os dados de seus trabalhos, minam a confiança na própria comunicação da ciência, que é o que a viabiliza como atividade colaborativa e cumulativa. Se cada cientista tivesse de refazer pessoalmente todos os passos de seus antecessores, nós ainda estaríamos discutindo se a Terra é redonda, não só nas redes sociais, onde todos os delírios são permitidos, mas também na academia.
Faço essas reflexões como um lamento. Foi patética a participação do Instituto Butantan na entrevista coletiva da semana passada, em que se anunciou uma eficácia de 78% para a Coronavac. Na mais honesta entrevista desta semana, quando mais dados foram revelados, ficamos sabendo que a eficácia apurada no estudo foi de 50,4%. Os 78% representavam o recorte de casos que demandaram alguma assistência médica, não o total de sintomáticos. Até acho que os 78% são um número mais relevante que os 50,4%, mas o "fair play" científico não tolera que se propagandeie o primeiro sem nem mencionar o segundo, como se fez na primeira coletiva. Que um político medíocre e marqueteiro como João Doria tenha aprontado essa é esperado. Que o Butantan, que conhecia os dados, tenha chancelado a patacoada é um desserviço à ciência. Penitencio-me diante do leitor por ter reproduzido os 78% sem questionamento.

BRUNO BOGHOSSIAN - *”Asfixia da saúde em Manaus é fracasso grosseiro de governos na pandemia”*: A asfixia da rede de saúde de Manaus é o retrato mais grosseiro do fracasso do país no combate à pandemia. O governador do Amazonas, Wilson Lima (PSC), soube há uma semana que teria problemas no fornecimento de oxigênio. O estado enfrenta uma disparada de internações por Covid-19, mas ele disse ao site O Antagonista que foi surpreendido pelo esgotamento do material. A tragédia nacional é fruto da incompetência extraordinária, da falta de senso de emergência, do desprezo pela vida e da covardia de muitos governantes. No fim de 2020, Lima viu hospitais cheios e determinou o fechamento do comércio para conter o alastramento do vírus. Acuado por protestos fomentados por políticos bolsonaristas, o governador desistiu e mandou reabrir as lojas. Os dez meses de pandemia deixaram um rastro de vilania e delinquência. Não é difícil colher provas para responsabilizar os protagonistas do morticínio. Autoridades incapazes de providenciar itens essenciais e uma política eficiente para salvar vidas são partes de um capítulo importante desse processo. Meses antes da falta de oxigênio em Manaus, Jair Bolsonaro dizia que seu governo havia repassado verba para os estados e que "ninguém faleceu" no país "por falta de UTI ou respirador". Era 2 de junho de 2020, e os hospitais estavam lotados em muitas cidades. Naquele dia, foram registrados 1.262 óbitos.
Bolsonaro e coautores nada fizeram para evitar essas mortes. Ao contrário, empurraram os brasileiros para uma roleta-russa: estimularam aglomerações, negaram ao país um plano célere de vacinação e ofereceram, no lugar de cuidados sérios, um coquetel de medicamentos ineficazes, sob o rótulo enganoso de "tratamento precoce". De passagem por Manaus nesta semana, o ministro da Saúde reforçou a oferta de cloroquina, reconheceu a falta de oxigênio na cidade e disse que a única solução era esperar um novo carregamento. Eduardo Pazuello deu de ombros (literalmente) e declarou: "Não tem o que fazer".

PAINEL - *”Governo define logística e convoca PF e PRF para escoltar vacinas; Anvisa ainda não deu aval”*: A logística para a entrega nacional das vacinas já está desenhada, mesmo antes de a Anvisa aprovar o uso. Polícia Federal e Polícia Rodoviária Federal foram convocadas pelo Ministério da Justiça para fazer a escolta no aeroporto do Galeão no domingo (17), mesmo dia em que a agência promete divulgar seu parecer sobre os imunizantes. Além da vacina que chega da Índia, a de Oxford, o governo fala na hipótese de distribuir também no domingo a Coronavac, do Butantan. Os secretários de Segurança Pública terão reunião nesta sexta (15) para discutir detalhes. A ideia para a vacina que vem da Índia é: a PF e a PRF recebem os lotes no Galeão, transportam para a Fiocruz para colocar etiquetas exigidas pelas autoridades brasileiras, e depois retornam ao aeroporto do Rio, para serem levados aos estados. Nos estados, as vacinas serão entregues às polícias locais, que ficarão responsáveis pela distribuição.

PAINEL - *”'Não temos estradas, nosso isolamento geográfico é uma sentença de morte', diz prefeito de Manaus”*: O prefeito de Manaus, David Almeida (Avante), afirma que a falta de oxigênio na rede hospitalar da capital é culpa do isolamento geográfico da cidade, onde se acessa apenas por avião ou barco. “Esse isolamento nos torna distantes e diferentes, não temos acesso ao resto do Brasil e isso, neste momento, é uma sentença de morte. Se tivéssemos a estrada não estaríamos passando pelo que estamos passando”, diz ele, referindo-se à BR-319, cujo calçamento é alvo de preocupação de ambientalistas. Uma vez aberta a via, teme-se que seja o início de um foco novo de desmatamento na Amazônia. O asfaltamento da via, no entanto, é pedido antigo de políticos da região. A queixa voltou à tona porque um dos gargalos na entrega de oxigênio em Manaus é, segundo o prefeito, a baixa capacidade de entrega de aviões militares frente à necessidade. Duas aeronaves da Força Aérea estão entregando cerca de 12 mil metros cúbicos de oxigênio por dia. A necessidade atual, porém, é de 76 mil metros cúbicos. A produção local não chega a 30 mil metros cúbicos. “Está faltando oxigênio na rede particular, então não é uma questão do Estado. Os hospitais grandes todos estão colapsando. Tem suprimento de apenas horas de oxigênio. Se não chegar vai ser uma mortandade imensa”.
É outro isolamento, que não foi feito pela população, que levou à explosão de casos, segundo admite o prefeito. No fim do ano, o governador Wilson Lima (PSC) tentou baixar um lockdown. Foi pressionado por empresários, comerciantes e por políticos e voltou atrás. A prefeitura não acionou nenhuma proibição. “Eu pedi para as pessoas ficarem em casa. Antes de assumir eu já vinha falando. Isso é reflexo das festas de fim de ano. Tudo isso desaguou agora”, afirma o prefeito. “Manaus está de luto, toda família tem um amigo, um parente morto. Quando entra na sua casa e você vê o problema, você acaba se convencendo”, afirma. “Ainda tem aqueles radicais que querem insuflar por questões políticas e tudo mais, mas a maioria já aderiu às recomendações.” Agora, Almeida afirma que vai reduzir para 25% ou 30% a frota de transporte coletivo e acredita que o toque de recolher decretado nesta quinta (14) pelo governador deve ajudar a frear o aumento do número de casos. “A população começou a entender há três, quatro dias. Hoje, o isolamento está em 60% mas precisamos chegar a 90%, manter o distanciamento”.
O prefeito afirma que as redes sociais ajudaram a propagar informações que levaram as pessoas a desacreditarem nas medidas de restrição. “O pessoal não quis ficar em casa. Redes sociais são uma terra de ninguém… É como Raul Seixas já dizia, não posso entender tanta gente aceitando a mentira”, afirmou. “Hoje está dramático, amanhã será também se não chegar oxigênio, uma tragédia. Tudo o que concerne à prefeitura está sendo feito, mas se tudo der errado, é a morte. E mesmo depois disso, é preciso um sepultamento digno. Tudo isso está sendo providenciado, prevendo o caos.” Almeida teve Covid-19 no ano passado e pretende replicar para a população o seu tratamento, apesar da controvérsia na comunidade médica. Ele fala em adotar o tratamento precoce contra a Covid-19, mas não com hidroxicloroquina, como defende Jair Bolsonaro. O coquetel que ele promete distribuir contém ivermectina, azitromicina, vitaminas C e D, corticóide e paracetamol. O tratamento contra os efeitos da Covid-19 foi alvo de evolução desde a descoberta da doença e atualmente médicos consideram que nenhum remédio oferece resultado efetivo para evitar o agravamento da doença, que ocorre em uma parcela menor de indivíduos. O político, no entanto, diz que recebeu o tratamento em Manaus e quer comprar os medicamentos para distribui-los em massa. “Vou distribuir sim, porque precisa diminuir a carga viral. Precisa aumentar a imunidade das pessoas. Com isso, diminui contágio”.

PAINEL - *”Estados cobram Ministério da Saúde critérios sobre a divisão das vacinas”*: Estados ainda aguardam, porém, a definição sobre quais serão os critérios para a divisão do número de vacinas. Eduardo Pazuello (Saúde) havia indicado que a distribuição seria feita de acordo com o tamanho dos grupos prioritários em cada estado, mas ainda não deu certeza. Os gestores regionais informaram ao ministério quantos idosos com mais de 60 anos vivem em instituições de saúde, qual a população indígena e quantos são os 15% dos profissionais de saúde de cada estado que serão os primeiros a serem imunizados. Nova reunião está prevista para esta sexta (15).

PAINEL - *”Autoridades do Amazonas creem ter convencido Ministério da Educação a adiar Enem em Manaus”*: Representantes do Amazonas acreditam que convenceram o Ministério da Educação a não insistir na aplicação do Enem neste domingo (17) em Manaus, dado o agravamento da Covid-19, e acreditam que foi construído um acordo para que a prova seja adiada para abril.

ENTREVISTA - *”Lira me esganou, fez ameaça para mudar depoimento e me usou como laranja, diz ex-mulher de candidato na Câmara”*: Ex-mulher do deputado Arthur Lira (PP-AL), Jullyene Lins, 45, afirma, em entrevista à Folha, que o parlamentar, candidato à presidência da Câmara, a agrediu fisicamente e depois a ameaçou para que mudasse um depoimento sobre acusações que ela havia feito contra ele. Jullyene foi casada por dez anos e tem dois filhos com Lira. Ela recebeu a reportagem nesta quarta-feira (13) e pediu para que o local não fosse revelado. Em outubro passado, ela solicitou à Justiça de Alagoas medidas protetivas contra o deputado. Conforme mostrou a Folha, o ministro Luís Roberto Barroso, do STF (Supremo Tribunal Federal), decidiu enviar à Vara de Violência Doméstica do Distrito Federal acusações feitas por ela sobre Lira em uma ação de injúria e difamação de 2020. Em nota assinada por seu advogado, Lira afirma que o conteúdo das declarações de sua ex-mulher é "requentado" e que ele foi absolvido das acusações dela pelo STF. "O resultado deste processo é de conhecimento público, inclusive, por parte deste veículo de comunicação, de forma que, a repetição e veiculação da falsa acusação, atrai a responsabilidade penal e cível não só de quem a pratica, mas também de quem a reproduz, ante a inequívoca ciência da sua falsidade", disse a nota assinada pelo advogado Fábio Ferrario. Jullyene pede o enquadramento de Lira na Lei Maria da Penha e necessidade de proteção urgente. Ele recorre da decisão de Barroso, baseada em pedido da Procuradoria-Geral da República para que o caso fosse enviado a um juizado de Violência Doméstica.
Na entrevista, ela chorou quatro vezes e disse que Lira, hoje candidato ao comando da Câmara com o apoio do presidente Jair Bolsonaro, a fez mudar o seu depoimento no processo em que afirmou ter sido agredida pelo deputado, em 2006. Após esse recuo, Lira foi absolvido em 2015. “Me agrediu, me desferiu murro, soco, pontapé, me esganou”, disse. “Ele me disse que onde não há corpo, não há crime, que 'eu posso fazer qualquer coisa com você'”, afirmou. “Aquilo era o machismo puro, o sentimento de posse." Ela afirmou ainda ter sido usada como laranja. “Ele abriu uma empresa com meu nome e até hoje não tenho vida fiscal.”
- A senhora entrou com um pedido de medida protetiva contra o deputado em outubro do ano passado. Por que fez isso?
- Por causa de ofensas que ele me fez, por pessoas me procurando pedindo para eu mudar depoimentos, meus filhos [que estão com 14 e 21 anos] sendo usados contra mim. Ele fez alienação parental com os meninos. Não foi uma violência só física, como aconteceu anos atrás, foi psicológica, o que passo até hoje. É muito constrangedor.

- Neste caso e no que acusa Lira de injúria no STF, a senhora anexou novamente as fotos do processo de lesão corporal que moveu contra o deputado, de 2006. Por que esse movimento só agora?
- Porque existe uma coisa chamada consciência. Posso ter feito aquilo [mudar depoimento] na época porque, se não o fizesse, ele disse que iria tomar meus filhos de mim, porque quem tem o poder é ele e faz o que quer e desfaz. Ele disse: se você não desmentir isso, tiro os meninos de você. E agora eu estou sem os meus filhos porque ele tomou isso de mim.

- O que aconteceu em 2006?
- É muito doloroso lembrar. Porque ele era o pai dos meus filhos, saiu de casa porque já estava com uma pessoa há anos e aguentei aquela situação. De repente, saiu de casa, meu filho com 23 dias de nascido. Ele foi à minha casa, quando abri a porta, me agrediu, me desferiu murro, soco, pontapé, me esganou. A minha sorte foi a babá do mais velho, que ouviu meus gritos e ligou para a minha mãe, que apareceu lá, mas eu estava desfalecendo já. Muito apanhada. Ele me chutou no chão, mas não queria falar disso porque dói tanto lembrar. A situação toda durou 40 minutos. Ele parava, me xingava, me chamava de vagabunda e de outros nomes horríveis. Aquilo era o machismo puro, o sentimento de posse, que acho que tem até hoje. Tudo tem que estar no domínio dele, no comando dele, a arrogância e a prepotência. Ele é assim.

- Houve testemunhas?
- Minha mãe e meu irmão viram tudo. Fui na delegacia e no IML, que não estava funcionando nesse dia. Tive que ir no dia seguinte, logo cedo quando abriu. Foram a babá, o médico, e as pessoas que estavam lá [no IML]. É muito constrangedor, nenhuma mulher merecia passar por isso.

- O deputado já tinha tido esse tipo de comportamento?
- Só gritos, xingamentos, isso sim. Ele sempre foi destemperado, explosivo, mas nunca pensei que pudesse chegar a isso. A gente acha que vai acontecer, aí você recua, ou se cala, se tranca, corre, vai para o banheiro para não chegar às vias de fato. Porque ele é muito estúpido, quem conhece sabe, é ignorante. A sensação de que o poder dá mais força a ele.

- E por que a senhora mudou o seu depoimento depois?
- Porque fui ameaçada, coagida. Se depusesse dizendo o que tinha acontecido, ele ia tirar os meninos de mim. Ele foi muito claro. Depois disso, fiquei péssima. Imagina uma mulher ter que se calar diante de tudo o que falou e ser passada de mentirosa. Eu posso hoje até responder pela minha mentira e estou aqui. Mas prefiro ter a minha consciência limpa do que carregar isso que carrego até hoje. Da minha família contra mim, defendendo ele. Ninguém quer mais falar mais nada. Eu perdi meus filhos do mesmo jeito. Hoje não tenho mais nada.

- Como foi feita essa ameaça?
- Ele sempre manda alguém dar um recado ou fazer alguma coisa, dar um telefonema. Mas nesse caso ele foi lá na minha casa, entrou sem eu saber, acho que ninguém nem sabe disso, vai saber agora, em primeira mão, e me chamou para conversar e disse: “Veja bem o que você vai dizer, que eu resolvo a sua vida, mas você tem que me livrar disso”. Eu disse não, mas é o certo. Eu vou mentir? Aí ele deu um tapa na mesa e disse “ou você fala o que eu quero ou você vai perder os meninos porque quem manda aqui sou eu, o que eu quiser eu faço e aconteço. Ou você faz isso, ou nunca mais você vai ver seus filhos”.

- Quando foi isso?
- Uns dias antes de eu ser ouvida. A partir disso, meu advogado sumiu. E aí foram me buscar em casa, o motorista com o segurança e fui até lá. Eu fui levada. O advogado que me acompanhou foi do escritório dele, que defendia ele, disse o que era para eu falar ou quando falar. Eu era cutucada por debaixo da mesa. Depois disso, fiquei destruída porque não era eu ali. Foi muito constrangedor. Então não vou mais mentir em relação a isso. Entrei em depressão, fiquei sem norte.

- Meses depois desse caso, a senhora registrou outro boletim de ocorrência contra o deputado por ameaça. O que aconteceu?
- Ele disse que ia pegar os meninos de qualquer jeito e acabou, e não era dia de visita dele. Disse: "Você sai da minha frente que eu vou entrar”. Liguei para a polícia e denunciei de novo. Depois, consegui uma medida protetiva na Justiça, de não poder frequentar o mesmo local, ficar distante tantos metros.

- A senhora também enviou um pedido de ajuda em janeiro do ano passado ao Ministério da Mulher.
- Comecei desde 2019 a mandar vários emails denunciando, relatando o que estava passando, violência psicológica, física, patrimonial. Eu não saía de casa, quando saía era com uma turma de pessoas mais velhas. Porque eu tinha medo de andar na praia se chegasse algum sujeito, um flanelinha e me esfaqueasse. Como ele [Lira] disse, onde não há corpo não há crime, né?

- Ele disse isso?
- Ele me disse que onde não há corpo, não há crime, que "posso fazer qualquer coisa com você". Nos auges da ira dele, ele fala isso. Isso foi logo quando a gente se separou e me agrediu. Eu também não dirigia carro, tenho medo. E batida de trânsito? Um acidente? Vem um cara, se estranha comigo e me mata? É o que mais a gente vê hoje em dia. Eu sou refém da minha própria casa. Não tenho mais paz.

- E o que o ministério da ministra Damares [Alves] fez?
- Fui ouvida numa audiência virtual em setembro do ano passado, para ver que não é coisa de agora. Disseram que iriam mandar a documentação necessária a cada setor, como PGR [Procuradoria-Geral da República], MP [Ministério Público] de Alagoas, voltar para a Vara de Família, que a gente sabe que não resolve nada e ficou por isso mesmo. Disseram que iriam entrar em contato e ficou por isso mesmo.

- Por que a senhora diz que ele lhe tirou os seus filhos?
- Ele não me deu mais condições de criar os meus filhos financeiramente a partir do momento em que corta a pensão. Fiquei com dívidas. Não queria esse tipo de confusão, só que infelizmente quando chega algum cargo que ele vai ocupar, todo mundo vai em cima. Luto para isso não é de agora, não é porque ele vai ser candidato a presidente da Câmara. Há anos que estou pleiteando isso. Ele me deve pensão de quase R$ 600 mil, que não é de agora.

- A senhora também testemunhou em processos de corrupção envolvendo Lira, como o da Taturana, que mirou em esquemas de desvios na Assembleia Legislativa de Alagoas quando ele era deputado estadual. O que disse?
- Que eu via os malotes de dinheiro chegando, via tudo. As reuniões, tudo que rolava, mas ele mandava eu sair. Ele dizia que o dinheiro vinha de venda de fazendas, gados, ou que era para ele comprar fazenda, que tinha recebido dinheiro de fulano. Às vezes ele me mandava contar para ver se estava certo.

- A senhora também já afirmou que foi usada como laranja por Lira. Como foi isso?
- Fui usada como laranja por ele. Foi uma empresa que ele me colocou como laranja junto com a esposa de outro deputado na época. Depois disso, eu não tenho mais vida fiscal, tributária. Respondo a causas trabalhistas, não posso ter conta em banco, nada.

- E o esquema na Assembleia, como foi?
- Foi um esquema que a gente recebia, como várias pessoas, e ninguém ia trabalhar. Ele que me colocou lá, era o primeiro secretário. Eu estava lotada no gabinete dele e já era casada com ele. Ele tirou empréstimos inclusive usando nomes de outras pessoas, como o meu, usando como pagamento o meu salário.

- Reportagem da Folha sobre o seu processo ter sido enviado à Vara de Violência Doméstica de Brasília foi criticada por uma deputada da base do governo, Carla Zambelli (PSL-SP), que chamou de fake news.
- Ela devia se ater aos fatos e ao processo para poder falar alguma coisa. Ela está sendo leiga e desumana. Se isso está vindo a tona agora, não posso fazer nada. Então ela me respeite e, quando ela quiser saber da verdade, se atenha a ouvir os dois lados. Eu estou à disposição dela. Só não aceito usar o meu nome e dos meus filhos nacionalmente. Se tem acordo com ele, não me interessa, mas não use meu problema para alavancar nada.

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*”Modelo da PGR para substituir forças-tarefas da Lava Jato esbarra em estrutura”* - Principal aposta da Procuradoria-Geral da República para assumir investigações de forças-tarefas como as da Lava Jato, os Gaecos (grupos de atuação de combate ao crime organizado) não estão estruturados para demandas dessa complexidade, segundo três dos cinco coordenadores desses grupos no MPF (Ministério Público Federal). Os Gaecos são referência em combate ao crime organizado nos Ministérios Públicos estaduais e tiveram a sua criação possibilitada no MPF por meio de uma resolução de 2013. O primeiro Gaeco de investigações federais, no entanto, só começou a atuar no início de 2020, em Minas Gerais. Entre 2013 e 2020, foram as forças-tarefas como as da Lava Jato e da Greenfield que se destacaram com grandes investigações sobre suspeitas de organizações criminosas. O formato de força-tarefa, porém, é temporário, precisa de renovação constante e é considerado institucionalmente precário pela PGR, atualmente comandada por Augusto Aras. Por isso, há uma transição de investigações desse modelo para os Gaecos, que são permanentes, com integrantes designados para um mandato de dois anos, renováveis.
Desde o ano passado, a PGR instalou Gaecos nas Procuradorias da República em cinco estados: Paraíba, Amazonas, Pará e Paraná, além de Minas. Neles, os coordenadores normalmente são eleitos e selecionam um grupo de procuradores locais para acompanhá-los, que passam por aprovação dos superiores. Os Gaecos dão suporte a outros procuradores do MPF nos estados que precisarem de reforços em apurações de combate ao crime organizado. O problema que os coordenadores e também a ANPR (Associação Nacional dos Procuradores da República) apontam é que, ao contrário de boa parte dos Gaecos estaduais, os do MPF não têm estrutura para investigações mais complexas e aprofundadas, como as da Lava Jato. Procurada, a PGR diz que tem feito estudos realocar recursos e dar estruturas aos grupos —hoje, diz, os recursos disponíveis estão com as forças-tarefa. Segundo o órgão, esses estudos envolvem oferecer aos Gaecos servidores exclusivos e também a possibilidade de gratificações aos integrantes por acumulação de serviço.
Os procuradores também não têm, atualmente, exclusividade para atuar nos Gaecos e precisam acumular com as funções que já tinham. A exclusividade de integrantes das forças-tarefa sempre foi apontada como um dos motivos para o sucesso da Lava Jato. “Somos seis colegas, ninguém tem dedicação exclusiva, não tem um contador específico para o Gaeco ou um agente da Polícia Federal específico para o Gaeco, que é o que acontece no MP do Amazonas”, diz o coordenador do Gaeco do MPF no Amazonas, Henrique de Sá Valadão Lopes. “Eles [MP estadual] têm núcleo de inteligência, têm núcleo de diligência, têm núcleo para guardar material apreendido em busca e apreensão. Eles funcionam como um núcleo de investigação mesmo.” Segundo ele, o trabalho demandado de um Gaeco não é como o serviço rotineiro. Em grandes investigações, aponta, é necessário dedicação e tempo, inclusive para reuniões com outros órgãos, como Receita Federal, Polícia Federal e Procuradoria da Fazenda. Para Valadão Lopes, migrar do modelo de força-tarefa para o de Gaeco só vai dar certo se houver ao menos uma estrutura similar à disposição das equipes, com servidores e equipamentos como softwares de análises de dados, além da exclusividade. “Sem exclusividade, sem estruturação, sem equipamento e sem pessoal, a gente não vai conseguir dar o mesmo tipo de resultado que as Lavas Jatos conseguiram dar. Isso é certo. Infelizmente, porque a gente quer”, afirma Valadão Lopes. “Fizemos concurso para isso, estudamos um tempão para chegar aqui e na hora que assumir tentar reverter em serviço de qualidade para a sociedade.”
"Se isso tudo não for trazido para dentro dos Gaecos, vai ficar só no papel. Formalmente o Gaeco está criado, mas ele não existe na verdade." Na Paraíba, o coordenador do Gaeco do MPF, procurador Tiago Misael, tem as mesmas queixas. O grupo de seis procuradores vai completar um ano e conseguiu viabilizar apenas recentemente, junto à chefia local, um servidor para trabalhar para eles. “Os Gaecos do MPF ainda estão em processo de sedimentação institucional e conquista de forças para desenvolvermos as expectativas depositadas em nós”, diz Misael. “Sem estrutura e sem exclusividade, o trabalho vai ser pífio. Ninguém é super-homem”, acrescenta. Em Minas, o primeiro Gaeco do MPF do país também tem seis integrantes, nenhum deles exclusivo, e também não tem uma estrutura adequada. O coordenador do grupo, procurador Lucas de Morais Gualtieri, diz acreditar que essa formatação é um modelo transitório.
A instalação do grupo foi um passo para que, depois, se pudesse "iniciar uma estruturação", segundo Gualtieri. “Houve um esforço muito grande porque estamos estruturando um grupo do zero, aquela história de erro e acerto. A gente faz um modelo, vê se dá certo e ajusta, não obstante termos a experiência dos Ministérios Públicos estaduais, que é muito rica", diz. Ele afirma não saber quais articulações têm sido feitas pela PGR para a transição do modelo de forças-tarefas para Gaeco, mas supõe que possa haver transferências de parte das estruturas que estão nas equipes da Lava Jato. Se isso acontecer, ele vê a mudança como vantajosa, porque ao contrário das forças-tarefas o Gaeco tem caráter permanente. Das três forças-tarefas que existiam na Lava Jato no início do ano passado, uma já foi encerrada, a de São Paulo. Não houve modelo de transição e o destino das investigações ainda é uma incógnita. Já a Lava Jato do Paraná, a primeira de todas, foi adiada até outubro, mas incorporada ao Gaeco local. Foi retirada a exclusividade da maioria dos procuradores que atuam no caso e apenas 3 dos 13 continuam se dedicando integralmente à operação. ​ A força-tarefa do Rio, a mais importante do país nos últimos anos, foi adiada até o fim de janeiro, e ainda não foi anunciada a solução que a PGR dará às investigações e ao grupo. Com a intenção de descentralizar as decisões, a PGR tem apontado que as chefias do MPF nos estados é que devem decidir se darão exclusividade para os integrantes dos Gaecos. No entanto, nos estados com um número pequeno de procuradores, como Amazonas e Paraíba, os coordenadores veem dificuldades na possibilidade de construir um consenso dentro da própria unidade.
"Você vai pedir para um colega ter mais trabalho? Se isso não vier de cima [exclusividade], acho muito difícil construir dentro do estado", questiona Misael, da Paraíba. Ele sugere uma padronização nacional para esses casos, que parta de Brasília. Propõe que, mesmo que não seja concedida exclusividade, ao menos haja redução na carga de outros trabalhos para procuradores que integram os Gaecos. A resolução de 2013 que instituiu a possibilidade de Gaecos no MPF prevê, preferencialmente, pelo menos dois membros exclusivos nos órgãos instalados no Rio e em São Paulo e pelo menos um em estados populosos como Minas Gerais, Bahia, Paraná, Rio Grande do Sul e outros. Além disso, cada Gaeco deveria ter "estrutura de pessoal mínima de um técnico administrativo um analista processual". Para o presidente da ANPR, Fábio George Cruz da Nóbrega, mesmo que haja mudança no modelo utilizado no MPF, de forças-tarefas para Gaeco, "há pilares que, necessariamente, precisam ser observados para garantir a eficiência dos trabalhos". "A estrutura adequada, material e humana, precisa ser garantida e, da mesma forma, é imprescindível que os profissionais escolhidos tenham dedicação exclusiva. Nos cinco Gaecos já criados no MPF, de um ano para cá, essas garantias não foram implementadas", diz ele.​
PGR DIZ QUE EXCLUSIVIDADE DEVE SER NEGOCIADA NOS ESTADOS
Procurada, a PGR diz em nota que como a criação dos Gaecos é um processo recente, está realizando estudos para a realocação de recursos "considerando os limites orçamentários do MPF, para dar estrutura a esses grupos". "Os estudos envolvem levantamento para oferecer aos Gaecos funções comissionadas (servidores exclusivos) e possibilidade de pagamento de Geco (Gratificação por Exercício Cumulativo de Ofício) para os integrantes. Hoje, os recursos disponíveis estão com forças-tarefas", diz o órgão. Afirma ainda que o órgão técnico-científico do MPF, a Secretaria de Perícia, Pesquisa e Análise, dará apoio aos Gaecos. Em relação à exclusividade, diz que ela "fica a cargo da respectiva unidade do MPF, que deve analisar a complexidade dos casos, a necessidade, entre outros fatores". "A PGR não nega exclusividade a nenhum membro do MPF, desde que sua unidade tenha concordado em desonerá-lo de suas funções. Toda vez que há uma desoneração, há custos para o MPF —com remanejamento de membros para cobrir as funções deixadas​", afirma. Diz ainda que o órgão não pode admitir novos membros ilimitadamente devido ao teto de gastos. Negociar com as próprias chefias nos estados a exclusividade é possível, diz a PGR, porque "no modelo vigente, são justamente as unidades de menor porte que têm cedido membros para as forças-tarefas localizadas nas Procuradorias de porte maior​".
+++ Hoje, sim, a Folha consegue mostrar exatamente qual é a diferença entre as forças-tarefa e os Gaecos. Antes, o jornal publicou reportagem dizendo apenas que o fim das forças-tarefa coloca em risco a qualidade de investigações sobre corrupção. Interessante é que as falas dos promotores contradizem a lógica da Folha. Alguns reclamam da falta de infraestrutura, mas defendem que trata-se de uma situação transitória. Agora, é esperar que o jornal acompanhe o que vai acontecer mantendo o público informado.

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*”Banir Trump foi a decisão certa, mas abre precedente perigoso, diz presidente do Twitter”* - O presidente do Twitter, Jack Dorsey, afirmou nesta quarta-feira (13) que a decisão de banir Donald Trump da plataforma após a invasão ao Congresso dos EUA na semana passada foi correta, mas abre um precedente perigoso. Em uma publicação na rede, Dorsey afirmou que "não comemora nem sente orgulho" de ter banido Trump, apesar de reconhecer que o caso se tornou "uma circunstância extraordinária e insustentável" que obrigou a empresa, segundo ele, a "focar todas as ações na segurança pública". "Acredito que essa foi a decisão certa para o Twitter", escreveu Dorsey. "Os danos offline resultantes da fala online são comprovadamente reais e impulsionam nossas políticas e a aplicação delas acima de tudo." O presidente da plataforma disse, entretanto, que considera os banimentos "uma falha em promover uma conversa saudável", embora existam "exceções claras e óbvias". "Ter que realizar essas ações fragmenta a conversa pública. Elas nos dividem. Elas limitam o potencial de esclarecimento, redenção e aprendizado. E abrem um precedente que considero perigoso: o poder que um indivíduo ou empresa tem sobre uma parte das conversas públicas globais", afirmou. Dorsey acrescentou que aqueles que não concordam com as regras do Twitter "podem simplesmente procurar outro serviço de internet", embora tenha ressaltado que outras empresas "também decidiram não hospedar o que consideram perigoso", em referência às ações de banimento tomada por outros gigantes da tecnologia, como Facebook e YouTube. "Este momento pode exigir essa dinâmica, mas a longo prazo será destrutivo para o nobre propósito e os ideais da internet aberta. Uma empresa que toma a decisão de se moderar é diferente de um governo que remove o acesso, mas a sensação é mesma."

*”Eleição em Uganda marca conflito de gerações entre cantor pop e ditador”*

*”Empresários fazem proposta alternativa para corte de subsídio do ICMS”* - Empresários e industriais formularam uma proposta alternativa para o fim da isenção de ICMS (Imposto sobre a Circulação de Mercadorias e Serviços) previsto no programa de ajuste fiscal de São Paulo proposto pelo governo de João Doria (PSDB-SP). A principal medida seria a postergação do corte de subsídios. Segundo os organizadores da proposta, a segunda onda da Covid-19 está mais forte do que se previa e o fim do auxílio emergencial vai tirar R$ 40 bilhões por mês da economia, o que pode ter um impacto muito grande na receita das empresas. A proposta do grupo, que falou com a reportagem com a condição de não ter seus nomes revelados, é que o benefício seja mantido por cerca de quatro meses para que as empresas possam se preparar e tenham um fôlego até a recuperação da economia. Seis setores teriam direito a essa prorrogação: alimentos, borracha, aço, saúde, embalagens e autopeças.
Segundo eles, a crise causada pela pandemia do coronavirus abalou as empresas e agora não é hora de aumentar impostos, o que o fim da isenção promove na prática. Eles pedem também, que cada setor deve ter a oportunidade de discutir caso a caso durante este período da suspensão para chegar ao melhor denominador comum para todos. O governo estadual anunciou o ajuste fiscal e a reforma administrativa para o estado de São Paulo em outubro do ano passado. O resultado esperado era de um aumento de R$ 7 bilhões na arrecadação que seria usado para cobrir um déficit estimado em 2021 de R$ 10,4 bilhões, resultante da crise econômica e queda de arrecadação devido à pandemia. No início do ano, o governo anunciou que cancelaria alguns dos cortes de 20% de benefícios. Ficariam fora insumos agropecuários para a produção de alimentos e medicamentos genéricos. Nesta sexta-feira (15), dia em que os aumentos passam a valer, o governo prevê publicar no Diário Oficial o decreto com as novas regras do ajuste e com a relação de setores envolvidos, incluindo os que já têm a garantia que não serão atingidos.
No mesmo dia, está marcada uma reunião entre uma equipe do governo e os empresários que estão atuando em favor dessa demanda para tratar a questão. Os empresários estão apreensivos porque, segundo eles, o assunto virou capital político. O corte vem sendo usado por adversários políticos de Doria, como Paulo Skaf, presidente da Fiesp (Federação das Indústrias do Estado de São Paulo), e até o presidente Jair Bolsonaro (sem partido). O governo é alvo de sucessivos protestos últimos dias, mesmo depois de a gestão paulista ter mantido algumas isenções do imposto. A principal preocupação tem a ver com o alcance do recuo do governador, o principal temor é que seja algo apenas temporário. Na quinta-feira (7), produtores rurais promoveram um “tratoraço” em diversas cidades do interior de São Paulo. Na sexta (8) foi a vez dos permissionários e produtores que atuam na Ceagesp (Companhia de Entrepostos e Armazéns Gerais). Nesta semana, oito entidades ligadas ao setor de saúde e à indústria farmacêutica divulgaram na segunda-feira (11) uma carta ao governador de São Paulo, João Doria. Eles pediam a manutenção do benefício de ICMS concedido aos medicamentos. Na terça-feira (12), a Apas (Associação Paulista de Supermercados) lançou um manifesto contra o aumento.
E nesta quinta-feira (14), a Ceagesp (Companhia de Entrepostos e Armazéns Gerais de São Paulo) anunciou a distribuição de 3.000 kits de alimentos. Segundo permissionários, a companhia sempre realiza a doação de alimentos às quintas, mas a prática ganhou peso político nesta edição para pressionar Doria. Em Presidente Prudente, região oeste do estado de São Paulo, cerca de 500 veículo entre automóveis, caminhões, tratores, motos e utilitários percorreram as principais ruas da cidade e fizeram um buzinaço em protesto à medida. O governo, por meio da Secretaria de Planejamento, Orçamento e Gestão do estado, afirma que é possível incorporar essas reduções dos benefícios fiscais nas margens de lucro que foram crescidas. “O setor agropecuário registrou evolução no faturamento de R$ 23 bilhões em 2019 para quase R$ 31 bilhões em 2020”, afirma o governo em nota. A pasta também é categórica ao afirmar que não haverá prejuízo para a saúde. Segundo eles, a legislação que reduziu os benefícios fiscais a medicamentos usados para aids e câncer, por exemplo, deixou aberta a possibilidade de ser concedido o benefício a outras entidades beneficentes e assistenciais.

ENTREVISTA - *”Temos de resolver nossos problemas sem o governo federal, diz secretário de SP”*
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*”Ajuste fiscal paulista em 2021 pode incluir tributo maior sobre herança”* - O governo de São Paulo prepara a implementação de seu pacote de ajuste fiscal para compensar a queda de receitas causada pela pandemia do novo coronavírus. As medidas têm como objetivo buscar ao menos R$ 8 bilhões em recursos e incluem uma reforma administrativa para enxugar a máquina pública, enquanto a proposta apresentada pelo governo federal segue parada no Congresso. Além disso, o governo de João Doria (PSDB) planeja enviar em 2021 uma nova proposta para ampliar a tributação sobre heranças e contratar novos estudos sobre a Sabesp (Companhia de Saneamento Básico do Estado de São Paulo) para analisar a privatização, a venda de ações excedentes ao controle ou a capitalização da empresa. Enquanto essas tarefas não ficam prontas, o governo já iniciou sua reforma administrativa com o processo de liquidação de estatais. A iniciativa é parte do projeto de lei apresentado à Assembleia Legislativa em agosto e aprovado em outubro. Enquanto isso, a reforma administrativa do presidente Jair Bolsonaro (sem partido) foi enviada em setembro ao Congresso após ser adiada por cerca de um ano e ainda não tem data para ser discutida formalmente pelos parlamentares.
Mauro Ricardo, secretário de Projetos, Orçamento e Gestão do estado, afirma que a celeridade na aprovação foi alcançada graças à articulação política e à discussão com diferentes partidos antes mesmo da apresentação da proposta. Para ele, a diferença em relação ao governo federal é uma questão de determinação política. "É uma questão de vontade política de fazer. [O governo federal] não faz porque precisa eventualmente de autorização legislativa ou esbarra em algum obstáculo em algum ministério", afirmou em entrevista à Folha. "Não é fácil, porque você precisa enfrentar as corporações dessas organizações. Então tem que ter determinação. Talvez o que falte no governo federal seja falta de vontade política e articulação", disse. Nem tudo, no entanto, foi como o governo paulista planejou. O pacote sofreu desidratações, como a retirada pelos deputados da maior parte das estatais, autarquias e fundações a serem extintas. Das empresas, ficaram na lista de eliminação apenas CDHU (Companhia de Desenvolvimento Habitacional e Urbano) e EMTU (Empresa Metropolitana de Transportes Urbanos). As funções serão absorvidas por outros órgãos.
Essas e outras retiradas fizeram a economia do pacote cair em um terço, forçando cortes em outras partes do orçamento em 2021. Ainda assim, o governo paulista diz que a economia resultante foi de R$ 8 bilhões. O valor seria suficiente para bancar 3,5 milhões de novos beneficiários no Bolsa Família, a título de comparação. O programa de transferência de renda é pago pelo governo federal, que debate há meses alternativas para elevar o número de atendidos com corte de outras medidas, até agora sem sucesso. A proposta de reforma administrativa paulista é mais enxuta que a federal, mas gera mais consequências no curto prazo, mesclando programas de demissão voluntária de servidores com desestatização de órgãos. Já a proposta elaborada pela equipe do ministro Paulo Guedes (Economia) é vista como mais ampla e complexa.
Seus principais efeitos são a longo prazo, já que o texto poupa os atuais servidores e volta-se à criação de vínculos de trabalho com o poder público sem estabilidade. A professora Alketa Peci, da FGV/Ebape (Escola Brasileira de Administração Pública e de Empresas da Fundação Getulio Vargas), afirma que a diferença de velocidade entre as propostas paulista e federal está no conteúdo. O texto estadual é visto como mais objetivo e claro, o que facilitou a negociação com o Legislativo. "A proposta de São Paulo não brinca com duplos objetivos. É bem cirúrgica e tem uma natureza administrativa e organizacional, por ter como foco o ajuste fiscal e promover a extinção de organizações", afirmou. "Já a federal tem um grande defeito de não focar organizações, mas vínculos trabalhistas, o que torna difícil analisar onde esses vínculos serão encadeados dentro da estrutura do Estado, dificultando a negociação", disse Peci. "Também tivemos números jogados no ar, como a menção a uma economia de R$ 300 bilhões [em dez anos, segundo Guedes]. Aí se perde a possibilidade de uma discussão realista", afirmou a professora.
Outro ponto da proposta federal gerou desconfiança ao tentar colocar na Constituição o direito de o presidente da República eliminar ou fundir órgãos, autarquias e ministérios sem discussão com o Congresso. Hoje, é preciso aval do Parlamento para isso. São exemplos de autarquias federais órgãos que cuidam desde assuntos sociais e de proteção ao ambiente como o Incra (Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária), o Ibama (Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Renováveis) e o ICMBio (Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade) até universidades federais, agências reguladoras e o Banco Central. "Há essa agenda oculta que o Congresso e outros grupos organizados temem com uma reforma do governo. No governo Bolsonaro, oscilamos entre a percepção de incompetência e a existência de uma agenda oculta", afirma. De qualquer forma, Peci diz que uma reforma federal é necessária porque a máquina pública não estaria respondendo aos anseios da sociedade. Para ela, os parlamentares vão liderar o tema em 2021 e melhorar o texto enviado pelo Executivo. "Apesar de estar demorando, o Congresso vai conseguir fazer isso", disse.

*”Governo de SP lança sistema que agiliza processo de abertura de empresas”*
*”Quem pode comprar e comercializar vacinas no setor privado no Brasil são clínicas, diz entidade do setor”*

*”No Reino Unido, empresa pede desculpas por tentar comprar vacinas contra Covid-19”* - Após tentar comprar vacinas contra a Covid-19 diretamente de clínicas que prestam serviço ao sistema público de saúde britânico, a empresa imobiliária Hacking Trust acabou se desculpando publicamente no último final de semana. No Reino Unido, assim como na Europa em geral, a venda de vacinas e sua distribuição fora dos serviços públicos não é cogitada enquanto todos os grupos prioritários não tiverem sido imunizados. Além da escassez atual de imunizantes, autoridades de saúde europeias dizem que o motivo é de saúde pública: as vacinas não impedem a transmissão, e fornecê-las a jovens por via privada pode dar a eles uma falsa segurança, elevando o risco para os idosos e doentes. Outro argumento apresentado é o de que é preciso ter controle centralizado de quem está recebendo cada uma das duas doses e de seus efeitos. No Brasil, na semana passada, o Ministério da Saúde defendeu a possibilidade de compra de vacina pela iniciativa privada depois que o SUS estiver abastecido. Grandes empresários que querem comprar vacinas para a Covid-19 afirmaram ao governo que, para isso, estão dispostos a doar uma parte para o governo. O Hacking Trust, que negocia imóveis de luxo, chegou a oferecer 5.000 libras (mais de R$ 35 mil) a clínicas gerais de Bristol (sudoeste da Inglaterra) e Worthing (sul do país). Em e-mail, obtido pelo jornal britânico The Telegraph, a empresa imobiliária disse que o dinheiro poderia ser doado a instituições de caridade ou passados diretamente aos profissionais contatados.
Em comunicado, a empresa afirmou que apenas tentou comprar vacinas que estariam sendo desperdiçadas: “Ouvimos dizer que algumas vacinas não estavam sendo utilizadas devido a consultas perdidas. Pedimos desculpas por nossas boas intenções terem sido mal interpretadas. À luz das críticas recebidas, queremos sublinhar que nunca foi nossa intenção omitir filas ou listas de espera. Só estávamos interessados ​​em saber sobre vacinas para o mesmo dia sendo jogadas fora”. O Hacking Trust não afirmou a quem se destinavam os imunizantes. O e-mail foi enviado da filial do Hacking Health Trust da empresa, especializada em "procurar comprar propriedades médicas comerciais em todo o país". Segundo o jornal britânico “The Sun”, em dezembro médicos particulares relataram que estavam sendo “bombardeados” por pacientes que propunham pagar para “pular a fila” da vacina. Ao veículo, Roshan Ravindran, dono de uma clínica em em Wilmslow (norte da Inglaterra), afirmou que clientes ofereceram 2.000 libras (mais de R$ 14 mil) por uma dose.
Na Dinamarca, entidades empresariais também sugeriram que o setor privado pudesse atuar na imunização contra o coronavírus, mas a autoridade de saúde afirma que o país vai manter sua campanha pública e gratuita. No Brasil, o processo para a compra de 5 milhões de doses da vacina indiana Covaxin pelas clínicas privadas brasileiras está “muito bem encaminhado” e a aquisição será feita assim que sair registro definitivo do imunizante no Brasil. A afirmação é do presidente da ABCVAC (Associação Brasileira das Clínicas de Vacina), Geraldo Barbosa, que integrou a comitiva que visitou as instalações da empresa na Índia, na semana passada. A Bharat Biotech, fabricante da Covaxin, deve pedir o registro na Anvisa (Agência Nacional de Vigilância Sanitária) no próximo mês. A negociação do setor privado para vacinação tem despertado polêmica. Especialistas em saúde pública dizem que, por se tratar de uma vacina ainda pouco disponível no mundo, a oferta no setor privado pode criar uma disputa com o SUS, aumentando as desigualdades e atrasando a imunização dos grupos prioritários.

*”Cobertura do Bolsa Família cai após o fim do auxílio emergencial”* - O número de beneficiários do Bolsa Família deve cair em janeiro, na contramão da expectativa de aumento de famílias atendidas em 2021 após o fim do auxílio emergencial. A cobertura do programa neste mês está prevista para ser a menor desde o início da pandemia: 14,232 milhões de famílias. No fim de 2020, eram 14,273 milhões. São 41 mil famílias a menos para receber o benefício neste início de ano. O recuo contradiz o discurso do governo ao apresentar o projeto de Orçamento de 2021, quando projetou 15,2 milhões de famílias em situação de pobreza e extrema pobreza recebendo a transferência de renda. Já são cerca de 1,4 milhão de famílias esperando para entrar no programa. Essa fila é formada por pessoas que já tiveram o cadastro aprovado pelo Ministério da Cidadania e, portanto, se enquadram nos critérios. Isso, porém, não garante o recebimento do benefício. Falta o governo liberar a ampliação da cobertura. Segundo o Ministério da Cidadania, o “Bolsa Família, por força legal, só pode atender a um número de famílias que seu orçamento comporta”.
Em janeiro, o benefício médio a ser pago por família também deve cair, em função, principalmente, da composição dos lares —o valor sobe de acordo com a quantidade de filhos ou com a renda. Antes da crise da Covid-19, o repasse médio por família foi de R$ 201,58, em valor corrigido pela inflação de março a dezembro. Agora, em janeiro de 2021, a transferência de renda deve ser, em média, de R$ 190,57. O governo de Jair Bolsonaro ainda não deu reajuste ao benefício do programa. O último aumento foi em julho de 2018, na gestão do ex-presidente Michel Temer (MDB). Técnicos do governo avaliam mudanças no programa para que, na prática, o valor médio chegue a R$ 200. Isso, porém, não compensa a inflação acumulada desde o último reajuste. Em julho de 2018, o benefício foi de R$ 188, mas, corrigindo o dado pela inflação, foi o equivalente a R$ 208,35 em valores de hoje. Portanto, as mudanças no Bolsa Família em estudo pelo governo não repõem o poder de compra dos beneficiários, pois a defasagem chega a 11%
Além disso, o plano de subir o benefício médio para R$ 200 não é consenso no governo, já que a medida pressionaria ainda mais o orçamento do programa, reduzindo a capacidade de atender a mais famílias na crise do coronavírus. Se o valor for corrigido, a verba será suficiente para transferir renda a 14,5 milhões de famílias em situação de pobreza e de extrema pobreza. Sem reajuste, o repasse mensal de R$ 190, em média, cobriria mais de 15,2 milhões de famílias, como previsto no projeto de Orçamento de 2021. “A atualização para R$ 200 é insuficiente para repor a inflação. Não existe uma periodicidade para essas correções. É uma fragilidade do programa, pois depende de ato discricionário do Executivo. Mas o adequado é que o reajuste seja regular”, avalia a especialista em políticas públicas Letícia Bartholo.
A piora da situação das famílias e o aumento da fome são observados na ponta pelo diretor-executivo da Ação da Cidadania, Kiko Afonso. A entidade atua em todas as regiões do país e tem entre suas principais atividades a distribuição de alimento a famílias carentes, sendo responsável pela campanha “Natal Sem Fome”. Afonso afirma que o início de 2021 traz uma combinação trágica de fatores que devem atingir com força a população mais pobre. Segundo ele, há uma associação de continuidade da pandemia, ampliação do desemprego, aumento do preço dos alimentos, fim do auxílio emergencial e falta de perspectiva para o Bolsa Família, que segue estagnado e com fila de espera superior a 1 milhão de famílias. “Não tem nada no curto prazo que nos dê um alento. A gente está muito preocupado, a nossa visão é de uma piora imediata, já muito grave. A gente percebe isso nas famílias que a gente atende, são pessoas que não têm nada”, disse. “Estamos tentando fazer nossa parte, mas só o governo tem capacidade de tomar decisões e ajustar a economia para garantir a alimentação das pessoas. E não estamos vendo ação do governo”.
No primeiro ano da gestão Bolsonaro, foi liberada a 13ª parcela aos beneficiários do Bolsa Família. Em 2020, os valores recebidos subiram temporariamente por causa do auxílio emergencial —que variou de R$ 300 a R$ 600 por mês. Mas, para 2021, nenhuma dessas medidas está prevista. O orçamento está estimado em R$ 34,9 bilhões, sem a previsão de pagamento do 13º às famílias atendidas. Em 2019, a verba, corrigida pela inflação, foi de R$ 35,8 bilhões e, mesmo assim, o governo teve que, nos últimos dias do ano, remanejar dinheiro da Previdência e outras áreas para conseguir cumprir a promessa do 13º benefício. Além da defasagem no valor médio transferido para as famílias, o governo também deveria, na avaliação de especialistas, ajustar os critérios para ter direito a entrar no programa.
O Cadastro Único do Bolsa Família considera, desde 2018, em extrema pobreza pessoas com renda mensal de R$ 89 por membro da família. Rendimentos entre R$ 89,01 e R$ 178,00 são classificados como situação de pobreza. É possível acessar o programa mesmo sem filhos. Pelo critério do Banco Mundial, a extrema pobreza inclui rendimento de até US$ 1,90 (R$ 10,09) por dia, equivalente a R$ 302,70 por mês por pessoa. Se encaixam na pobreza, para a entidade, pessoas com renda entre US$ 1,91 e US$ 5,50 (R$ 29,21) per capita por dia, equivalente a R$ 876,30 por mês. Durante o ano passado, o governo chegou a apresentar um plano para substituir o Bolsa Família por um novo programa, chamado de Renda Brasil. A assistência teria valor mais alto e número maior de beneficiários. No entanto, divergências entre governo e Congresso fizeram a ideia ser engavetada. O principal entrave é a falta de consenso sobre a fonte de recursos para financiar o programa. Também há resistência de políticos, inclusive de Bolsonaro, a fazer ajustes no Orçamento que abririam espaço para novos gastos sociais.

*”Governo deve editar MP com novo reajuste do salário mínimo de R$ 1.100 para R$1.102”*
*”Sob pressão de Bolsonaro, BB avalia revisar programa de enxugamento”*
*”Ministério Público do Trabalho abre 3 inquéritos para acompanhar demissões na Ford”*
*”Montadoras não querem incentivo, mas competitividade, diz presidente de associação”*

*”Ford anunciou investimento de US$ 580 milhões para ampliar produção na Argentina”*
*”Biden prepara pacote de US$ 1,9 tri em gastos”*

*”Decreto do governo prevê que Casa Verde e Amarela atenda 1,2 milhão de famílias até o fim de 2022”* - O presidente Jair Bolsonaro (sem partido) editou nesta quinta-feira (14) um decreto que regulamenta o programa Casa Verde e Amarela, substituto do Minha Casa Minha Vida, iniciativa na área habitacional lançada pelo ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT). O texto, que estabelece como meta o atendimento de 1,2 milhão de famílias até o fim de 2022, só será publicado no "Diário Oficial da União" desta sexta-feira (15), mas a Secretaria-Geral da Presidência da República antecipou alguns trechos. Um deles diz que o decreto determina que famílias comandadas por mulheres sejam priorizadas para atendimento com dotações orçamentárias da União e com recursos de alguns fundos. Também terão prioridade, segundo divulgado pelo Palácio do Planalto, famílias de que façam parte pessoas com deficiência, idosos, crianças e adolescentes. De acordo com a Secretaria-Geral, o decreto trata de critérios e periodicidade para a atualização dos limites de renda e das subvenções econômicas com recursos orçamentários da União.
O texto divulgado pelo governo nesta quinta-feira informa que o Ministério do Desenvolvimento Regional poderá estabelecer outros critérios de priorização, bem como facultar a estados e municípios e às entidades privadas sem fins lucrativos promotoras de empreendimentos habitacionais a inclusão de outros requisitos que relacionados a situações de vulnerabilidade econômica e social locais. Também são abordados no decreto metas, prioridades, tipo de benefício destinado às famílias, conforme localização e população, e as faixas de renda, bem como a periodicidade, a forma e os agentes responsáveis pela definição da remuneração devida aos agentes operadores e financeiros para atuação no programa Casa Verde e Amarela. Os detalhes, no entanto, não foram antecipados. Segundo a Secretaria-Geral, o programa terá duas frentes de atuação. Uma buscará produção, aquisição ou requalificação, subsidiada ou financiada, de imóveis novos ou usados. A outra tem como foco combater a inadequação habitacional através da urbanização de assentamentos precários, da melhoria habitacional rural e urbana e da regularização fundiária urbana.
De acordo com o governo, os imóveis poderão ser disponibilizados aos beneficiários sob a forma de cessão, de doação, de locação, de comodato, de arrendamento ou de venda, mediante financiamento ou não, em contrato subsidiado ou não, total ou parcialmente, conforme grupo de renda familiar. Os Ministérios do Desenvolvimento Regional e da Economia ou os conselhos gestores dos fundos que constituem recursos do programa são responsáveis pelos critérios de elaboração e priorização de projetos, os procedimentos de seleção de beneficiários, os padrões edilícios e urbanísticos, as atribuições do poder público municipal e estadual, das entidades privadas, a distribuição regional dos recursos e as demais diretrizes e condições gerais para contratação e execução. O Desenvolvimento Regional define também a remuneração devida aos agentes operadores e financeiros do programa. A lei que institui o Casa Verde e Amarela foi sancionada por Bolsonaro na terça-feira (12). Bolsonaro vetou o dispositivo que estendia ao Casa Verde e Amarela as regras do regime tributário aplicáveis às construtoras atualmente submetidas ao regramento do Minha Casa, Minha Vida, que dispõem sobre o recolhimento unificado de tributos equivalente a 4% da receita mensal auferida pelo contrato de construção.
O governo justificou que a proposição não apresenta estimativa de impacto orçamentário nem medidas compensatórias. Além disso, a medida não observa, segundo o Executivo, a legislação que estabelece que o prazo de vigência do benefício fiscal deve conter cláusula de, no máximo, cinco anos. Com o Casa Verde e Amarela, o governo pretende retomar obras paradas das administrações anteriores e regularizar imóveis de famílias de baixa renda, além de aumentar a oferta e reduzir juros para financiamento imobiliário. O objetivo do programa é reduzir o déficit habitacional no país, hoje estimado em 6 milhões de moradias, permitindo também investimentos privados e de fundos externos. A meta é atender quase dois milhões de famílias até 2024, com foco no Norte e no Nordeste. A ideia é que nas duas regiões seja oferecida uma taxa de juros a partir de 4,25%. E um percentual a partir de 4,5% para o Sul, Sudeste e Centro-Oeste. Ao lançar o Casa Verde e Amarela, o ministro Rogério Marinho (Desenvolvimento Regional), afirmou que o programa busca tratar de forma diferente regiões mais carentes e com índices de desenvolvimento humano mais baixos.
Na ocasião, ele também indicou que, no momento, o programa não deve contemplar novas famílias na faixa com maiores subsídios, que hoje beneficia pessoas com renda de até R$ 1.800. Os contratos já assinados no Minha Casa, Minha Vida, porém, serão concluídos, diz o governo. O sistema de faixas do Minha Casa, Minha Vida foi alterado no Casa Verde e Amarela. O programa anterior tinha as faixas um (para famílias com renda de até R$ 1.800), um e meio (renda entre R$ 1.800 e R$ 2.600), dois (entre R$ 2.600 e R$ 4.000) e três (entre R$ 4.000 e R$ 7.000). Agora, serão três grupos. O primeiro, com renda de até R$ 2.000, poderá acessas benefícios como receber imóvel subsidiado, acessar financiamento com juros reduzidos, fazer regularização fundiária e reformas no imóvel. Os grupos dois (R$ 2.000 a R$ 4.000) e três (R$ 4.000 a R$ 7.000) terão acesso a financiamentos com taxas de juros um pouco mais altas do que o primeiro patamar, além da regularização fundiária. Os detalhes serão definidos em regulamentação posterior. O novo programa tem como meta regularizar 2 milhões de moradias até 2024. De acordo com o texto aprovado pelo Legislativo e agora sancionado por Bolsonaro, o governo pode alterar por decreto o valor máximo do imóvel financiado e as faixas de renda das famílias beneficiadas no Casa Verde e Amarela.

NELSON BARBOSA - *”Tributação e inovação automotiva”*: A decisão da Ford de deixar o Brasil reacendeu o debate sobre desonerações dadas às montadoras de veículos. Segundo reportagem da Folha, de 2000 a 2021, o total de gasto tributário com o setor automotivo deve atingir R$ 69 bilhões, R$ 3,1 bilhões por ano, em valores de 2021. A cifra parece elevada, mas faltou dizer que, no mesmo período de 22 anos, R$ 69 bilhões correspondem a cerca de 1% do valor bruto produzido pelo setor automotivo brasileiro. Dado que o segmento é altamente tributado no Brasil, com impostos federais e estaduais (só de ICMS são 12%, enquanto o IPI sobre carros varia de 7% a 25%), o valor divulgado pela Folha não é bombástico para quem entende do setor. O setor automotivo é muito desonerado por ser muito onerado. Carga tributária excessiva e complexa gera desoneração tributária igualmente excessiva e complexa.
Vários analistas culpam os governos do PT por terem barateado o preço do automóvel, pois isso criou mais congestionamento e aumentou a poluição. A crítica às vezes vem de quem já possuía veículo e acha que isso deveria continuar sendo privilégio para poucos. São aquelas pessoas que gostam de exclusão social. Devem ser ignoradas. A crítica válida está no efeito de mais carros sobre congestionamento e poluição, mas a solução dos dois problemas não é manter automóvel como bem de luxo. A solução é tributar o uso do automóvel e a utilização de combustíveis fósseis. Traduzindo do economês, mais IPVA e Cide combustível em vez de IPI e ICMS elevados na venda de veículos. Desoneração da compra e oneração do uso de veículos é a abordagem adotada em vários países desenvolvidos, sendo que alguns adotam até uma espécie de Cide-trânsito, para desestimular o uso de automóvel da hora do rush. A implementação desse tipo de “incentivo” ao uso mais racional de veículos em grandes cidades depende de estrutura de monitoramento eletrônico, o que não se monta rapidamente, mas é o caminho a seguir. E, ainda na questão da poluição, a tributação pode ser instrumento para estimular o desenvolvimento de novas tecnologias de propulsão automotiva, como motores híbridos e elétricos. Vários países estão fazendo isso, mas por aqui ainda estamos engatinhando.
Há 12 anos, o governo Lula até cogitou lançar programa de incentivo para veículos híbridos e elétricos, mas infelizmente a iniciativa foi abortada devido a divergências dentro da indústria e do governo. Naquela época, os críticos achavam que estimular propulsão elétrica prejudicaria carros flex, sem atentar que o desenvolvimento de um motor híbrido-flex poderia ser uma das respostas do Brasil à transição energética no setor. Hoje, diante da corrida mundial por inovação automotiva, que já está chegando a veículos autônomos (aqueles que “dirigem sozinhos”), acho que até o fã mais arraigado de “Velozes e Furiosos” se convenceu que precisamos mudar de enfoque. A saída da Ford pode abrir oportunidade para a entrada de novos agentes no Brasil e, quem sabe, para nova estratégia de política pública. O foco deve ser a inovação e incluir aporte de recursos em um centro nacional de inovação automotiva, uma espécie de “ITA” para veículos, com desenvolvimento de produtos e processos por engenheiros nacionais. O mercado automotivo mundial está em crise, mas também em transformação. Podemos perder o que já temos, mas também aproveitar a janela para desenvolver o que nunca tivemos: design e produção nacional de veículos. Temos recursos humanos e tecnológicos para tanto, mas será que temos governo?

*”Samsung lança novos smartphones Galaxy, visando consumidores cansados da pandemia”*
*”Oxigênio acaba em hospitais de Manaus; pesquisador diz que leitos viraram câmara de asfixia”*
*”Colapsada, Manaus tenta importar oxigênio da Venezuela”*

*”Pazuello diz que período chuvoso e falta de 'tratamento precoce' pioraram cenário de Manaus”* - Diante de um novo pico de casos de Covid-19, de pacientes morrendo sem oxigênio nos hospitais e ainda sem dar início à campanha de vacinação, o presidente Jair Bolsonaro (sem partido) reclamou de cobranças e seu ministro da Saúde, general Eduardo Pazuello, atribuiu o colapso no Amazonas a fatores como umidade e falta de tratamento precoce. “No período chuvoso, a umidade fica muito alta e você começa a ter complicações respiratórias. Então, este é um fator”, disse Pazuello. Além disso, o ministro afirmou que Manaus não teve a efetiva ação no "tratamento precoce" com o diagnóstico clínico no atendimento básico, o que agravou os casos da doença. Na avaliação de cientistas, não há tratamento precoce para a Covid. Pazuello afirmou ainda que a infraestrutura hospitalar de atendimento especializado também é bastante reduzida, sendo, em termos percentuais, uma das menores do país. “Se você juntar estes dois fatores e colocar o clima, você vai ter uma grande procura por estrutura e por tratamento especializado”, disse. Segundo o ministro, faltam, principalmente, recursos humanos e oxigênio. Isso porque a produção da empresa White Martins, que fornece oxigênio para Manaus, chegou ao limite. “Ela se mantém no limite, e a demanda, que é a procura pelo oxigênio na capital, por exemplo, subiu seis vezes. Então, já estamos aí em 75 mil metros cúbicos de demanda diária na capital e 15 mil metros cúbicos de demanda diária no interior”, disse.
Ele afirmou que duas aeronaves da FAB (Força Aérea Brasileira) já estão trabalhando para enviar oxigênio à capital do Amazonas e que outras duas aeronaves serão empregadas na sexta-feira (15). “Chegaremos a seis aeronaves no circuito, totalizando aí algo em torno de 30 mil metros cúbicos de [áudio falha] partindo de Guarulhos, nesta ponte aérea”, ressaltou. O ministro admitiu que o sistema de saúde da cidade entrou em colapso e que 480 pessoas aguardam na fila por leitos. Disse ainda que a remoção dos pacientes para outros estados já começou a ser feita. “Este período que temos pela frente de 5, 6 dias são os períodos mais críticos, onde nós não chegaremos lá com toda esta estrutura”, disse. Bolsonaro pouco falou sobre Manaus. Nos momentos em que tratou da pandemia, defendeu o que chama de "tratamento precoce" –com medicamentos como a hidroxicloroquina, que não têm eficácia comprovado para a Covid-19– e reagiu às críticas pelo atraso no começo da vacinação. “Alguns querem botar no meu colo, no do Pazuello, como nós somos os genocidas. E olhe o que nós fizemos para que não aumentasse o número de óbitos no Brasil”, disse Bolsonaro. Ele voltou a relativizar a vacinação pelo mundo e pediu paciência.
“Alguns reclamam que o Brasil está atrasado, o governo está atrasando, o governo não tomou providência para a vacinação. Calma”, disse o presidente. Bolsonaro chegou a dizer que há três vacinas em análise pela Anvisa (Agência Nacional de Vigilância Sanitária). Foi corrigido pelo ministro. A agência irá se pronunciar no domingo (17) sobre os imunizantes produzidos pela Fiocruz e pelo Butantan. “Senhores, nós queremos muito que isso dê certo, que seja aprovado o uso emergencial e, depois, o registro, para que a gente possa vacinar o nosso país, independentemente de qual seja esta vacina. É a Anvisa que tem que nos proteger e nos dizer qual o melhor caminho”, disse Pazuello. Bolsonaro afirmou que o Brasil melhorou sua posição no ranking de mortes por milhão de habitantes devido ao tratamento precoce. “Até poucos meses, o Brasil estava um dos primeiros em mortes por milhões de habitantes. Agora, está em 23º, 24º. Por quê? Pelo tratamento precoce, não tem outra explicação. Graças ao voluntarismo de algumas dezenas de milhares de médicos que resolveram levar avante isso”, avaliou.
O presidente voltou a dizer que a população vacinada no mundo ainda é pequena e o governo federal já vem se preparando para a vacinação há meses. “O que é que a gente precisa compreender? Há uma estratégia do governo federal com o SUS, que já foi desenhada há seis meses atrás. Nós estamos na cronologia correta dessa estratégia e nós vamos em janeiro iniciar essa vacinação.” Pazuello calculou que, em janeiro, o Brasil terá “2, 6 ou 8 milhões de doses” e afirmou que “já vamos nos tornar o segundo, talvez o primeiro, dependendo dos Estados Unidos”. “E quando nós entrarmos em fevereiro com a nossa produção em larga escala e com o nosso PNI, que tem 45 anos, nós vamos ultrapassar todo mundo, inclusive os Estados Unidos”. O ministro voltou a dizer que o Brasil irá negociar todas as vacinas que estejam disponíveis e forem aprovadas pela Anvisa. Apesar da polarização entre Bolsonaro e o governador João Doria (PSDB-SP) por causa da imunização, ele afirmou que a vacina Coronavac, que no país está sendo produzida pelo Instituto Butantan, será importante para ajudar a controlar a doença. "A vacina do Butantan vai ser muito importante se aprovada pela Anvisa, ela vai nos trazer a oportunidade de não agravar a doença. As pessoas que tomarem a vacina pelo menos não terão a doença agravada, não cairão na UTI e num respirador."

*”Em 14 dias do ano, cidades do interior de SP já têm mais mortes por Covid do que em novembro inteiro”*
*”Prevalência de Covid-19 triplica em bairros ricos de SP”*
*”Recuperar-se de Covid-19 pode dar imunidade a 83%, mas não evita transmissão, indica estudo”*
TATI BERNARDI - *”Tetinha”*

*”Covas libera reabertura de escolas na capital paulista em 1º de fevereiro”*
*”Com avanço da Covid-19, oito estados têm mais de 80% das UTIs ocupadas”*
*”Em reunião com prefeitos, Pazuello diz que vacinação contra Covid começará dia 20”*
*”Anvisa cobra dados do Butantan e da Fiocruz e diz que atraso compromete análise emergencial de vacinas”*

*”Avião da Azul que buscará 2 milhões de doses da vacina de Oxford tem voo adiado”*
*”Vacinação em SP não terá critério para ordenar fila, diz secretário da Saúde”*
*”Na produção da Coronavac, mulheres dominam inspeção e 124 colaboradores extras aceleram a montagem”*
*”Assim como Coronavac, vacina de Oxford tem falhas na divulgação”*
JULIO ABRAMCZYK - *”A importância da transmissão sem sintomas na Covid-19”*

AMBIÊNCIA: *”Servidores entregam seus cargos no Ibama após exoneração de líder técnico”* - Um pedido de exoneração coletiva de todos os chefes titulares e substitutos do processo sancionador do Ibama foi feito na última segunda-feira e confirmado na quarta (13), paralisando todo o trabalho nas área de análise, conciliação e aplicação de sanções do órgão. O movimento acontece em resposta a uma decisão do coronel da PM e novo superintendente de apuração de infrações ambientais do Ibama (Siam), Wagner Tadeu Matiota. Ele chegou ao cargo no fim de dezembro e, na última sexta, pediu a exoneração do coordenador nacional do processo sancionador ambiental, Halisson Peixoto Barreto. A decisão foi confirmada em publicação do Diário Oficial nesta quinta (14). Em reação ao anúncio de exoneração do líder técnico, os chefes titulares e substitutos das seções comandadas por Barreto colocaram seus cargos à disposição através de um ofício, ao qual o blog teve acesso. “Ante o pedido de exoneração de Vsa. [em referência a Barreto], formulado pelo superintendente da Siam; e considerando a conjuntura criada a partir deste ato, colocamos à disposição da administração, com a consequente exoneração dos atuais chefes, os cargos de chefes titulares e substitutos da Divisão de Contencioso Administrativo (Dicon), Serviço de Apoio à Equipe Nacional de Instrução (Senins), Divisão de Conciliação Ambiental (Dicam) e Serviço de Apoio à Análise Preliminar (Saap)”, diz o ofício.
Líder técnico no Ibama desde 2013, Barreto comandava uma equipe de cerca de 300 servidores, responsável por processar as multas aplicadas pelo Ibama e indicar a sanção. Ele também se dedicou, nos últimos dois anos, a implementar o processo de conciliação ambiental idealizado pelo ministro do Meio Ambiente, Ricardo Salles. “Vale aqui ressaltar que o senhor Halisson trabalhou exaustivamente na construção e implementação de todo o processo sancionador ambiental, nos moldes em que está se almejando que funcione”, diz uma carta assinada por 31 servidores do Ibama do Rio Grande do Sul e enviada ao presidente do Ibama na última terça-feira. “Tal situação causa extrema insegurança e estranheza pelo fato de ocorrer justamente quando o rito vai finalmente ser implementado”, completa a carta. O blog apurou que a motivação pode estar ligada à disputa de militares pelo poder do Ibama, hoje presidido pelo procurador da Advocacia Geral da União (AGU), Eduardo Fortunato Bim. Bim tentou reverter a exoneração de Barreto ao longo desta semana, segundo fontes ligadas ao órgão, mas terminou por aceitar o encaminhamento do novo superintendente, que tem autonomia para esse tipo de decisão. “Não vislumbro óbices ao atendimento da solicitação do Superintendente da Siam, destacando, contudo, os relevantes serviços prestados pelo servidor em questão”, afirmou Bim em despacho na última quarta.
A ex-presidente do Ibama, Suely Araújo, lembra que o governo atual afastou as principais lideranças que ocupavam cargos na autarquia. “A saída do ex-diretor de fiscalização, Luciano Evaristo, por exemplo, um líder reconhecido, era esperada, é um cargo alto. Mas tiraram o coordenador geral de fiscalização e o coordenador de operações (Renê Oliveira e Hugo Loss) após uma grande operação no Pará dar certo. Na fiscalização ambiental trocaram todos os coordenadores e chefes. Agora tiram o líder da instrução e julgamento dos processos sancionadores”, elenca. “Tiram-se as lideranças, desmotiva-se a equipe, enfraquece-se a política pública. Chegam onde querem chegar, na fragilização da autarquia que ‘incomodava’”, afirma Araújo, que atualmente atua como especialista sênior em políticas públicas do Observatório do Clima. O presidente do Ibama e o ministro do Meio Ambiente não retornaram aos contatos do blog.

MÔNICA BERGAMO - *”Autoridades temem que nova cepa do coronavírus se espalhe com transferência de pacientes de Manaus”*

MÔNICA BERGAMO - *”Vereador e deputado entram com ação contra a retomada de aulas presenciais em SP”*: O vereador paulistano Celso Giannazi (PSOL) e o deputado Carlos Giannazi (PSOL) protocolaram uma ação popular contra a Prefeitura e o Governo de São Paulo pedindo que a Justiça suspenda a decisão dos Executivos municipal e estadual de permitir as aulas presenciais em escolas da capital paulista. “O prefeito [Bruno Covas] diz que ficará a critério dos pais [a ida às aulas]”, afirma o vereador. “Mas a presença de todos os profissionais da educação, além dos trabalhadores da cozinha e limpeza, será obrigatória. Isso movimenta milhares de pessoas.”​

MÔNICA BERGAMO - *”Governo Bolsonaro cobra Prefeitura de SP por supostos atrasos em pagamentos da Lei Aldir Blanc”*
MÔNICA BERGAMO - *”Primeira reunião de 2021 do Conpresp será no dia 18 de janeiro”*
MÔNICA BERGAMO - *”MAM-SP firma parceria com FGV para realização de cursos e pesquisas sobre o mercado das artes”*

CAPA – Manchete principal: *”Sem oxigênio, Manaus vê morte por asfixia em hospitais”*

*”Liminares com prazo – STF deve aprovar proposta para submeter imediatamente ao plenário decisões individuais”*
*”Maia e Bolsonaro se empenham na eleição da Câmara”*
*”MDB não se engaja para eleger Simone no Senado”*
*”Primeira candidatura feminina não une senadoras”*
*”PDT anuncia apoio a Pacheco, candidato de Bolsonaro”*

*”Bolsonaro e filhos migram para rede social russa”*
*”Manaus sufocada – Oxigênio acaba, pacientes morrem por asfixia, e ministro admite colapso”*
*”Mutações em proteína do vírus preocupam cientistas”*
*”Governadores cobram informações sobre a distribuição de vacinas”*

*”Mudança de planos – Após pressão de Bolsonaro, Banco do Brasil pode rever enxugamento”*
*”Crise no BB provoca temor de ingerência política”*

 

CAPA – Manchete principal: *”Pacientes morrem por falta de oxigênio em hospitais de Manaus”*

EDITORIAL DO ESTADÃO - *”O penoso caminho da vacina”*: Enfim, o governo federal parece dar-se conta de que, para superar a pandemia do novo coronavírus, não há elixir mágico e é preciso vacinar a população. Segundo o ministro da Saúde, Eduardo Pazuello, a vacinação contra a covid-19 deverá começar na próxima quarta-feira, dia 20. Talvez esse longo e tortuoso processo para o início da vacinação tivesse sido um pouco mais breve e retilíneo – gerando menos apreensão na população –, se o presidente Jair Bolsonaro e o intendente Eduardo Pazuello tivessem assimilado uma das habilidades previstas para o 7.º ano do Ensino Fundamental na Base Nacional Comum Curricular. Trata-se de documento de caráter normativo que define as aprendizagens essenciais que todos os alunos devem desenvolver ao longo das etapas e modalidades da Educação Básica. A décima habilidade prevista na área de ciências para alunos do 7.º ano (12 anos) é “argumentar sobre a importância da vacinação para a saúde pública, com base em informações sobre a maneira como a vacina atua no organismo e o papel histórico da vacinação para a manutenção da saúde individual e coletiva e para a erradicação de doenças”. A Base Nacional Comum Curricular, na parte referente ao Ensino Fundamental, foi aprovada em 2017.
De fato, parece que Jair Bolsonaro e Eduardo Pazuello tiveram dificuldades com a habilidade prevista para a garotada de 12 anos. Ao longo dos últimos meses, por exemplo, trabalharam como se não soubessem que a vacinação contra a covid-19 exige seringa e agulha. Agora, no entanto, parecem ter finalmente captado que a população quer a vacina. E desejam transformá-la em um grande palanque eleitoral. Antes mesmo de ser divulgada a data de início da vacinação, o Ministério da Saúde informou que haverá na próxima terça-feira, dia 19, um evento no Palácio do Planalto para festejar a vacina. Não sabe se haverá seringa e agulha para todos – sete Estados não têm estoque suficiente de seringas e agulhas para vacinação contra a covid-19 –, mas o Ministério da Saúde já definiu qual será o slogan da cerimônia: “Brasil imunizado, somos uma só nação”.
Depois de tantas dificuldades colocadas pelo governo de Jair Bolsonaro para a vacinação contra a covid-19, a ideia de realizar um evento festivo-eleitoral no Palácio do Planalto soa a escárnio contra a população. Não há notícia de algum governo no mundo que tenha tido o descaramento de começar a vacinação contra a covid-19 com um evento em sua sede oficial. Em geral, como o bom senso e a saúde pública recomendam, os esforços estão voltados para vacinar os grupos prioritários. O evento do dia 19 é mais um sintoma das enormes dificuldades de Jair Bolsonaro e Eduardo Pazuello para “argumentar a importância da vacinação para a saúde pública”. A corroborar que o Palácio do Planalto vê a vacina como questão político-eleitoral, o governo federal informou que proibirá a aquisição de vacinas por empresas para imunização de funcionários. A notícia foi dada no dia 13 por representantes dos Ministérios da Saúde, das Comunicações e da Casa Civil a empresários, em reunião organizada pela Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp).
A vacinação contra a covid-19 promovida por empresas para seus funcionários pode reduzir os gastos públicos e agilizar o processo de imunização da população, além de favorecer o retorno à normalidade da atividade econômica, com consequências positivas sobre o emprego e o ambiente de negócios. Fornecer ou não vacina para funcionários é uma decisão unicamente empresarial na qual governo algum deveria se meter. No entanto, o liberal governo de Jair Bolsonaro prefere declarar que a vacinação contra a covid-19 é monopólio estatal. É impressionante a capacidade do governo de Jair Bolsonaro de transformar até mesmo aquilo que seria uma boa notícia – a disponibilidade de vacinas contra a covid-19 para a população –, num grande imbróglio. O penoso quadro revela a importância de cuidar da educação de todas as crianças, para que todas elas, sem exceção, desenvolvam as habilidades previstas na idade correspondente. Com isso serão evitados muitos problemas no futuro.

*”Promessas para eleições esbarram em orçamento”* - As promessas feitas pelo Palácio do Planalto para atrair votos em benefício de seus aliados nas eleições que renovarão o comando da Câmara e do Senado esbarram no orçamento apertado deste ano. O cenário das contas públicas é crítico para a liberação de emendas parlamentares e aumento de gastos. Além disso, o projeto de lei do Orçamento, enviado pelo governo ao Congresso, no ano passado, prevê um aumento de R$ 30,5 bilhões nas despesas, que precisa ser acomodado no teto de gastos. O Planalto já tem “pendurada” uma conta de R$ 19 bilhões de emendas não pagas no ano passado, como mostrou o Estadão. A cifra, indicada por deputados e senadores para transferir verbas a seus redutos eleitorais, vai “competir” com as despesas programadas para o Orçamento deste ano. Agora, emendas extras e cargos estão sendo negociados pelo governo, nos bastidores, para favorecer a candidatura do deputado Arthur Lira (Progressistas-AL), chefe do Centrão, à presidência da Câmara.
A votação do projeto de lei do Orçamento será depois das eleições para o comando da Câmara e do Senado, marcadas para fevereiro. As emendas parlamentares ao Orçamento são indicadas por deputados e senadores, que destinam recursos para obras em suas bases e funcionam como moeda de troca com o Executivo. Neste ano, o governo está prometendo liberar recursos adicionais para quem apoiar seus candidatos. O presidente Jair Bolsonaro entrou nas negociações. Cobrou publicamente a adesão da bancada ruralista à campanha de Lira, já se reuniu com deputados de vários partidos para pedir votos e também disse ter “simpatia” pela candidatura de Rodrigo Pacheco (DEM-MG) ao comando do Senado. Além das emendas oferecidas pelo Planalto, que deu carta-branca a Lira e ao presidente do Senado, Davi Alcolumbre (DEM-AP), para fazer as ofertas em nome do governo, os próprios candidatos defendem propostas que elevam despesas e não têm como ser cumpridas. Principal adversário de Lira, o candidato do MDB, Baleia Rossi (SP), defendeu a prorrogação do auxílio emergencial enquanto a pandemia não acabar. Disse, porém, que todas as soluções precisam estar dentro do teto de gastos, a regra constitucional que limita o crescimento das despesas de um ano para outro à variação da inflação. “Ficar de braço cruzado é que não adianta. Vamos cobrar o governo que se reorganize e estabeleça prioridades”, afirmou Baleia, por meio de sua assessoria.
Lira, por sua vez, negou que esteja negociando emendas em troca de votos, com aval do Planalto. “Os deputados e senadores sabem melhor do que qualquer servidor do Executivo quais são as necessidades de suas localidades, de seu eleitorado, da população”, disse ele. “Tudo deve ser olhado com base no teto de gastos. Esse é um importante limite que precisamos respeitar.” As emendas impositivas (individuais e de bancada) para este ano somam R$ 16, 3 bilhões. Na hipótese de contingenciamento do Orçamento, que deve ocorrer em março, mesmo essa rubrica, porém, pode ser bloqueada na mesma proporção do corte de verbas. “Vai ser preciso tratar essas emendas a pão e água e tudo isso faz os dentes rangeram no mundo político”, disse o pesquisador do Insper Marcos Mendes. Para ele, a prioridade do País em 2021 não pode ser obras em redutos de parlamentares. “Eles deveriam direcionar esses recursos para o Bolsa Família, para que mais famílias vulneráveis, afetadas pela covid, pudessem ser assistidas”, destacou.
Pressão. No Senado, tanto Rodrigo Pacheco, do DEM, como a candidata do MDB, Simone Tebet (MS), são pressionados por bancadas a pautar uma nova rodada do auxílio emergencial, caso vençam a eleição. “O auxílio emergencial, observando os critérios da Lei de Responsabilidade Fiscal e o limite do teto de gastos, ainda que com menor valor, tem, sim, que estar na agenda de qualquer candidato”, disse Simone Tebet. Pacheco evita tocar no assunto por estar em uma sinuca de bico. De um lado, tem apoio de Bolsonaro, que não se comprometeu com a continuidade do benefício. De outro, é cobrado por partidos como PT e PDT, que viraram aliados, mas pressionam pela prorrogação do auxílio.

*”PDT apoia Pacheco, que reúne maioria no Senado”*

*”Celso vê ‘retrocesso inaceitável’ em projeto das polícias”* - O ministro aposentado do Supremo Tribunal Federal (STF) Celso de Mello disse ontem que os projetos de lei que tiram poder de governadores sobre polícias são um “retrocesso inaceitável”. O ex-decano do Supremo abriu mão do silêncio que marca sua postura desde a aposentadoria, em outubro do ano passado, para criticar a proposta que prevê mandato de dois anos para os comandantes-gerais e delegados-gerais e impõe condições para que eles sejam exonerados antes do fim do prazo. “A padronização nacional dos organismos policiais estaduais, com expressiva redução do poder e competência dos Estados-membros, se implementada, traduzirá um ato de inaceitável transgressão ao princípio federativo”, disse Celso de Mello à reportagem.
“Não se pode ignorar que a autonomia dos Estados-membros representa, em nosso sistema constitucional, uma das pedras angulares do modelo institucional da Federação”, afirmou o ministro aposentado. “Qualquer proposição legislativa que tenda à centralização em torno da União Federal, com a consequente minimização da autonomia estadual, significará um retrocesso inaceitável em termos de organização federativa.” Como revelou o Estadão na segunda-feira, o Congresso se prepara para votar dois projetos de lei orgânica das polícias civil e militar que sugerem mudanças na estrutura das polícias, como a criação da patente de general, hoje exclusiva das Forças Armadas, para PMs, e de um Conselho Nacional de Polícia Civil ligado à União. No caso da Polícia Militar, a sugestão é para que a nomeação do comandante saia de uma lista tríplice indicada pelos oficiais. O texto prevê que a destituição, por iniciativa do governador, seja “justificada e por motivo relevante devidamente comprovado”. Na Polícia Civil, o delegado-geral poderá ser escolhido diretamente pelo governador entre aqueles de classe mais alta na carreira. A dispensa “fundamentada”, porém, precisa ser ratificada pela Assembleia Legislativa ou Câmara Distrital, em votação por maioria absoluta dos deputados. O projeto de lei que pretende remover alguns dos controles que governadores de Estado têm sobre suas forças policiais também invade atribuições da Polícia Federal em relação à fiscalização e regulação de empresas particulares de segurança privada, conforme avaliação de representantes e entidades do Ministério Público e da PF ouvidos pelo Estadão.
O novo modelo é defendido por aliados do Palácio do Planalto no momento em que o presidente da República, Jair Bolsonaro, endurece o discurso da segurança pública para alavancar sua popularidade na segunda metade do mandato. A divulgação da medida provocou a reação de gestores estaduais, que já se mobilizam contra a iniciativa. O governador de São Paulo, João Doria (PSDB), acusou Bolsonaro de querer “intimidar governadores através de força policial militar”. Instituições de classe, por outro lado, defendem a proposta. Para o presidente da Associação de Delegados de Polícias do Brasil (Adepol), Rodolfo Laterza, é “histeria” associar os projetos ao “golpismo”. Celso destacou que, em 1831, o então presidente da província de São Paulo, Rafael Tobias de Aguiar, sancionou projeto que criou, em São Paulo, o Corpo de Guardas Municipais, núcleo embrionário da atual Polícia Militar estadual. Dificilmente, o fundador da Polícia Militar do Estado de São Paulo chancelaria uma proposta claramente centralizadora e detrimentosa dos poderes e competência das unidades locais, pois foi ele, Tobias de Aguiar, quem, ao lado do Padre Feijó, insurgiu-se, na histórica Revolução Liberal de 1842, contra a concentração de poderes na esfera do governo central imperial”, acrescentou.
Supremo. Também crítico às propostas, o atual decano do STF, Marco Aurélio Mello, afirmou que os projetos pecam pela “falta de razoabilidade e conflitam com a Constituição Federal”. “Contrariam o princípio federativo, mais ainda se houver concentração do poder de acionamento. A Polícia Civil é investigativa e a Militar, repressiva”, disse o magistrado, que se aposentará do tribunal em julho, ao completar 75 anos. Segundo o Estadão apurou, os ministros do Supremo já discutem reservadamente o tema entre si, ainda que não tenham conhecimento integral dos textos. Um magistrado da Corte, que pediu para não ser identificado, concorda com Celso de Mello, e considera a proposta “ruim” e avalia que a medida, caso seja aprovada no Congresso, pode tornar os governadores “reféns” das polícias. Uma das preocupações é com o timing em que as discussões estão sendo feitas, pouco depois que extremistas apoiadores de Donald Trump invadiram o Capitólio. Na semana passada, Bolsonaro disse que, “se nós não tivermos o voto impresso em 2022, nós vamos ter problema pior que os Estados Unidos”. Integrantes do Supremo apontam que a influência de Bolsonaro sobre as polícias é maior que a de Trump sobre a força policial nos Estados Unidos.

*”Doação de alimentos com ato anti-Doria”* - Com um coronel reformado da Polícia Militar à frente da empresa e opositores a João Doria (PSDB) em sua operação, a Companhia de Entrepostos e Armazéns Gerais do Estado de São Paulo (Ceagesp) se transformou no principal reduto bolsonarista de São Paulo. O local foi o palco ontem de um protesto contra o aumento de impostos de alimentos – do qual Doria já recuou – em que 60 toneladas de alimentos foram distribuídos à população. A Ceagesp deu apoio institucional ao protesto, realizado pelos vendedores que trabalham no entreposto. Seguranças da companhia organizaram a fila de milhares de pessoas que foram até lá receber cestas com frutas, verduras e legumes, distribuídas com ajuda do pessoal administrativo. A entrega se deu ao som do hino nacional. O coronel reformado da PM Ricardo Mello Araujo preside a Ceagesp desde outubro do ano passado. Ex-comandante das Rondas Ostensivas Tobias de Aguiar (Rota), grupo famoso pelos índices de letalidade policial, o PM se aproximou de Bolsonaro ainda em 2017. Araújo foi procurado pelo então deputado após dizer em entrevista que os salários dos PMs eram baixos e que votaria em Bolsonaro para presidente.
Já parte dos permissionários tem atritos antigos com governos tucanos. Em 2016, comerciantes ficaram contrariados com as propostas de remoção da Ceagesp do local onde ela está, na Vila Leopoldina – alvo da cobiça de urbanistas e do setor imobiliário. Doria, como prefeito e como governador, reforçou esses compromissos, mas se viu impedido de realizar a transferência após Bolsonaro vetar a medida – a Ceagesp é uma empresa federal e a palavra final sobre o plano é de Brasília. Bolsonaro esteve na Ceagesp no fim de dezembro para anunciar que não haveria privatização. Foi recebido por uma multidão vestida de verde e amarelo. O presidente da Ceagesp disse que a distribuição de alimentos já ocorre às quintas-feiras. “Os comerciantes tiveram a ideia de fazer uma manifestação inteligente, que era usar essa doação para fazer uma super doação e mostrar que esse aumento do governador é uma insanidade”, disse Araújo, ao justificar o apoio institucional ao protesto. “Esse negócio de ‘fique em casa’ funciona para quem tem dinheiro”. Araújo negou, porém, que o apoio aos comerciantes fosse uma ação política contra o governador. “O que ele está fazendo é uma insanidade, mas distribuímos alimentos todas as quintas.” O presidente do Sindicato dos Permissionários em Centrais de Abastecimento de Alimentos do Estado de São Paulo (Sincaesp), Claudio Furquim, elogiou a gestão de Araújo dizendo que ele retirou indicações políticas da companhia, e disse que o protesto de ontem não era uma disputa política entre os governos federal e estadual. “Estamos aqui para sensibilizar o governador para revogar definitivamente o aumento dos alimentos”.
Protesto. A notícia da distribuição gratuita de cestas com frutas, legumes e verduras, que totalizavam 10 quilos de alimentos, atraiu uma fila de quase três quilômetros, da Estação Ceasa da Companhia Paulista de Trens Metropolitanos (CPTM) até o portão 7 da Ceagesp. As pessoas, muitas delas de chinelos, levaram sacolas de feira ou carrinhos. Mas apenas 3 mil senhas haviam sido distribuídas – os comerciantes, que previam doar 30 toneladas de alimentos, dobraram o total para 60, diante do público. A multidão se dispersou pouco depois da 14h, quando uma tempestade atingiu a região.

*”Governo paulista enfrenta judicialização do ajuste fiscal”*

*”Na reta final de seu mandado, Trump perde apoio e se volta contra aliados”*
*”Temendo violência, Washington se fecha uma semana antes da posse”*
*”Hora de Trump prestar contas por seus atos”*
*”Reino Unido barra voos do Brasil e 15 países para conter nova cepa”*

*”Hospitais do Amazonas colapsam por falta de oxigênio e pacientes morrem asfixiados”*

*”Bolsonaro volta a minimizar vírus”* - Diante da crise em Manaus, o presidente Jair Bolsonaro voltou a minimizar o impacto da doença no País, a defender o tratamento precoce com remédios sem eficácia comprovada, e pediu “calma” para quem acusa o governo de atraso no início da vacinação. Sobre Manaus, o ministro da Saúde, Eduardo Pazuello, declarou que “a responsabilidade é da prefeitura e do governo”. Ele admitiu que a cidade vive “colapso” na saúde, mas disse que a pasta “apoia em todos os aspectos”. Os dois participaram de transmissão em vídeo nas redes sociais.

*”Demanda quintuplicou e Brasil pede ajuda dos EUA”* - O Brasil pediu ajuda aos Estados Unidos para tentar socorrer a rede de saúde do Amazonas após o estoque de oxigênio acabar em vários hospitais de Manaus ontem. O pedido é que um avião da US Air Force auxilie no transporte de cilindros de oxigênio para a cidade. “Tem lugar que tem oxigênio, mas não tem uma aeronave que o transporte em cilindro”, afirmou o deputado federal Marcelo Ramos (PL-AM). “Estamos tentando, junto à embaixada dos EUA, a liberação de um avião da Força Aérea americana, um Galaxy, para levar o oxigênio”, afirmou ele. O Estadão confirmou com o Itamaraty que o pedido já foi feito e a embaixada dos Estados Unidos disse estar “em contato com as autoridades brasileiras para tratar do assunto”.
A Força Aérea Brasileira também tem atuado para tentar socorrer a rede de saúde amazonense. Anteontem, uma aeronave levou 8 toneladas de equipamentos hospitalares. Outros dois aviões Hercules C-130 partirão de Guarulhos (SP) com mais cilindros. A White Martins, que produz oxigênio hospitalar em Manaus, não está conseguindo suprir a “demanda exponencial” do sistema amazonense e tenta viabilizar a entrega de suas outras plantas. Ela avalia a disponibilidade do insumo em suas operações na Venezuela e “atua para viabilizar sua importação”. Nas contas da White Martins, a demanda por oxigênio disparou cinco vezes mais em duas semanas, alcançando um volume de 70 mil metros cúbicos por dia. A empresa consegue produzir apenas 28 mil metros cúbicos por dia. Empresas privadas também se movimentam para ajudar. A regional da Moto Honda da Amazônia disse, em nota, que doou 14 cilindros. A Whirlpool formalizou a doação de mais de 3 mil metros cúbicos de oxigênio. De São Paulo, 32 tanques criogênicos aguardam o apoio do governo para serem levados até o Amazonas.

*”Famílias tentam comprar cilindros por conta própria”*
ENTREVISTA: JESEM ORELLANA, epidemiologista da Fiocruz-Amazônia - *”Explosão de casos em Manaus é de nova cepa”*
*”Anvisa cobra mais dados sobre vacinas”*
*”Vacinação terá início no dia 20, afirma Pazuello a prefeitos”*

*”Aplicativo estimula uso de remédio sem eficácia comprovada”* - O ministro da Saúde, Eduardo Pazuello, lançou nesta semana em Manaus (AM) o TrateCOV, aplicativo que estimula a prescrição de medicamentos sem eficácia comprovada contra o novo coronavírus. O uso do programa é restrito a profissionais de saúde. A capital do Amazonas vive novo colapso na saúde. Segundo o próprio ministério, após o diagnóstico, que é sinalizado pelo aplicativo a partir de uma pontuação definida pelos sintomas do paciente, o TrateCOV sugere a prescrição de hidroxicloroquina, cloroquina, ivermectina, azitromicina e doxiciclina. O tratamento muda conforme os dados apresentados pelo paciente. Estes medicamentos não têm eficácia comprovada contra a covid-19, são rejeitados pela Organização Mundial da Saúde (OMS) e pela Sociedade Brasileira de Infectologia (SBI), mas viraram aposta do governo Jair Bolsonaro no combate à doença. O presidente mandou turbinar a produção da cloroquina e buscou doação de hidroxicloroquina, medicamentos hoje encalhados nos estoques do governo federal. O aplicativo também indica o uso do corticoide dexametasona, que é recomendado pela SBI para casos mais graves.
A Saúde afirma que o uso do TrateCOV poderá ser “ampliado para outras regiões do país”. “A ação do Ministério da Saúde tem como objetivo fornecer mais um mecanismo que dará maior segurança e agilidade no diagnóstico da covid-19, visando reduzir o risco de internações e óbitos”, diz a pasta. Mais de 340 médicos de Manaus foram habilitados para usar o aplicativo. O Estadão fez uma simulação no site do TrateCOV. Apontando um caso hipotético de paciente com sintomas recentes da covid-19, como febre e falta de ar, a indicação do aplicativo é o “tratamento precoce” e a realização de um exame do tipo RT-PCR. O médico, então, teria de sinalizar se o paciente vai ou não receber o “tratamento precoce”. Se a resposta for “não”, é preciso justificar a escolha – por exemplo, pela “recusa do paciente”, “contraindicação médica” ou “falta do medicamento”. Se a resposta for “sim”, são indicados os medicamentos sem eficácia comprovada. No vocabulário do Ministério da Saúde e nos documentos oficiais, tratamento precoce significa a prescrição da cloroquina, entre outros medicamentos.

ENTREVISTA: CARLOS ZARLENGA, presidente da General Motors América do Sul - *”Acredito que ainda vale a pena investir no Brasil”*: Na semana em que um dos assuntos mais comentados foi o fim da produção de carros da Ford no Brasil e o risco de outras empresas tomarem o mesmo rumo, o presidente da General Motors América do Sul, Carlos Zarlenga, que há dois anos também ameaçou fechar operações, afirma que o tamanho do mercado brasileiro ainda é atrativo para investimentos no setor. “Acredito que ainda vale a pena investir no Brasil”, diz. A GM retomou, no início do mês, o plano de aplicar R$ 10 bilhões ao longo de cinco anos anunciado em 2019 e que estava suspenso desde março, no início da pandemia da covid-19. Crítico do sistema tributário, que encarece o produto nacional e as exportações, o executivo ressalta que reformas precisam continuar, especialmente a tributária. Com cinco fábricas e líder de vendas no País, o grupo mudou sua estratégia de precificação em plena crise e vendas em queda acentuada, ação também adotada por outras montadoras. “Aumentamos os preços acompanhando a desvalorização do real, algo que não fazíamos há muito tempo”, diz. “Acho que é uma forma de voltar à rentabilidade.”
• Como o sr. viu o anúncio da Ford de fechar suas fábricas?
- Não vou comentar sobre um concorrente num momento de decisões tão difíceis.

• Diante das discussões que ocorreram, algumas colocando em dúvida a capacidade de o Brasil atrair investimentos, o sr. acredita que o País tem futuro como fabricante de automóveis?
- O País terá este ano uma indústria de 2,5 milhões a 2,8 milhões de carros, alta de 25% ou mais em relação ao ano passado, embora não seja uma boa referência por ter sido um ano de muita queda. É uma recuperação que ainda não nos leva aos números de 2019, mas é forte e tem grande oportunidade de continuar nos próximos anos. Então, acredito que ainda vale a pena investir no Brasil.

• Custo Brasil, burocracias e carga tributária são empecilhos?
- São problemas de longa data e temos de trabalhar para mudar esse quadro.

• Também voltou-se a falar que o setor depende de subsídios.
- Quando falam que a indústria se acostumou com subsídios, eu digo: 45% a 50% de imposto sobre o preço do carro, enquanto nos EUA é 12%, de que subsídio estão falando? O que tem é uma tentativa de chegar a algo um pouco mais perto de ser razoável, mas nem assim, pois o Brasil tem tarifas duas a três vezes maiores que a média de outros países. Dizer que a indústria depende de incentivos e que não melhorou sua produtividade é uma falta de informação. A pressão tributária é asfixiante. Então, a adequação da política fiscal, do tamanho do Estado e a reforma tributária são fundamentais. O próprio governo fala da importância de se trabalhar uma agenda de competitividade para toda a indústria e entendo que isso vai ocorrer, inclusive para as exportações. Em nenhum outro país a exportação é taxada. O Brasil carrega de 15% a 18% de imposto em cada carro exportado, o que impede nossa competição lá fora.

• Em 2019, o sr. chegou a falar em suspender investimentos, o que resultaria em fechamento de plantas. Ainda é preciso alguma medida desse tipo?
- Lá atrás, se não fizéssemos investimentos, não haveria renovação de produtos e haveria esse risco. Mas conseguimos fazer acordos e anunciamos investimentos que já começamos a aplicar, como na produção da nova Tracker. O cenário de investimentos que precisávamos está aprovado. Não temos planos agora de fechar plantas nem no Brasil nem na América do Sul. A fábrica de Gravataí é a mais eficiente do mundo para o segmento de carros pequenos e médios. Fizemos a lição de casa em produtividade, redução de custos e eficiência.

• A empresa retomou neste mês o plano de aporte de R$ 10 bilhões até 2024, que estava suspenso desde março. Há mudanças em relação ao projeto inicial?
- Paramos no início da pandemia porque não sabíamos qual seria o impacto da queda nas vendas no nosso caixa. Agora, o mercado voltou a operar em níveis razoáveis e decidimos retomar o investimento, principalmente em novos produtos. A única mudança é que vai atrasar um ano e vai até 2025.

• Como foi 2020 para a GM?
- Adotamos uma estratégia que pode nos ajudar a voltar à rentabilidade. Retomamos a política de preços baseada na planilha de custos. Aumentamos preços num patamar que não ocorria há muito tempo, acompanhando a desvalorização do real. A indústria parou de pensar em ganhar participação de mercado sacrificando margens e assim há mais chances de ser rentável.

• Por que no passado os custos cambiais não eram repassados?
- Historicamente, não havia repasses por desvalorização do real. Em 2018 e 2019, chegamos a ter produto que era melhor não vender, pois o custo de material era mais alto que o de venda. Agora, vamos operar num ambiente em que o preço será definido de forma racional, pois uma política predatória não funciona para ninguém. Antes, ficávamos perguntando se a desvalorização seria por longo ou curto prazo e ninguém repassava toda a perda, mas as desvalorizações anteriores não foram tão fortes. Em 2020, foi realmente complicado. Teve momento em que o dólar chegou perto de R$ 6 – em 2019, estava em R$ 3,90. No ano, a desvalorização foi de 30% e o aumento médio para nossos carros foi de 13%.

• Esse repasse é suficiente para recuperar ganhos?
- Há um universo de problemas que se mantêm, como o custo Brasil e a pressão tributária que já comentei. Se não fosse isso, os volumes de produção e vendas seriam bem melhores.

• A empresa abrirá mão de produtos mais baratos para ter rentabilidade com carros mais caros?
- Não serão só produtos de maior valor. Se o real desvalorizar ainda mais e (o dólar) for a R$ 8, vou repassar para o preço do Onix (o mais barato da marca). É uma variável que não controlo. Se desvaloriza, tenho de repassar. Do contrário, minha operação não é sustentável.

• É possível saber se os reajustes afastaram compradores?
- Não dá para saber qual foi o impacto dos aumentos e o da covid na queda das vendas, mas nossa participação de mercado se manteve bem. No quarto trimestre, as vendas já ficaram perto do que foi em 2019, mesmo com preços bem mais altos. Bons produtos no Brasil funcionam. A Tracker, por exemplo, era 11.º no ranking de vendas no segmento de SUVs e passou a ser a número um. O cliente recompensa quando se lança carros que ele quer.

• A GM pretende focar a produção em modelos de maior rentabilidade, os mais caros, como outras montadoras estão fazendo?
- A GM sempre está focada nos segmentos de maior rentabilidade. A Tracker tem fila de espera porque tem mais demanda do que capacidade de produção. O Onix, carro mais vendido do Brasil, tem benefício de escala. Estamos concentrando investimento nos segmentos que achamos que vão crescer mais e ter maior retorno.

• O sr. vê a recente parceria entre a Foxconn e Geely como modelo para o futuro do setor?
- O futuro está na mudança tecnológica, na eletrificação, no carro autônomo e até na mobilidade aérea. Nesta semana, a GM mostrou na CES (Consumer Eletronics Show), nos EUA, um protótipo de carro voador. A GM vai investir US$ 27 bilhões e lançará 30 modelos globalmente até o fim de 2025. As parcerias são interessantes.

• O Brasil está sendo preparado para a mudança tecnológica?
- Aqui vai demorar mais para chegar essas tecnologias, mas, como sempre, acabam chegando, às vezes, mais rápido do que se espera. O ciclo de tecnologia ocorre de forma e prazo diferentes em cada país.

*”Renault vai focar em carros de maior valor”* - O presidente mundial da Renault, Luca De Meo, disse ontem que a estratégia do grupo para os próximos cinco anos é focar na produção de veículos de maior lucratividade, ou seja, mais caros, desafio que se estende também à filial brasileira – que hoje tem o Kwid, um carro de entrada na faixa de R$ 50 mil, como o mais vendido da marca. “Vamos direcionar nosso negócio da participação de mercado para a lucratividade”, afirmou. Ao divulgar o novo plano quinquenal para o grupo, De Meo citou que o Brasil vem apresentando melhora na “qualidade do negócio” e que a matriz estuda novos produtos para a fábrica de São José dos Pinhais (PR). “Ganhar participação do mercado não é prioridade (para a filial), mas sim buscar lucratividade e dar uma contribuição maior para os negócios da companhia.” Desde o ano passado, a Renault do Brasil foi liberada da meta estabelecida em 2017 pelo então dirigente da montadora, Carlos Ghosn, em sua última visita ao País, de buscar uma fatia de 10% do mercado local. Em 2019, a marca estava perto de atingir o objetivo, ao fechar o ano com 9% de participação nas vendas de automóveis e comercias leves. Livre da meta, no ano passado a empresa reduziu consideravelmente as vendas diretas (feitas a frotistas e locadoras a preços com baixa margem de lucro) e fechou 2020 com fatia de 6,8% do mercado, com 131,6 mil unidades vendidas, resultado com impactos também da crise provocada pela covid-19, que levou a uma queda de 26% nas vendas totais do mercado brasileiro.
Investimentos. A Renault deve anunciar nos próximos meses um novo plano de investimentos no País já visando a nova estrutura do grupo, que definiu plataformas conjuntas de produção com a aliança global que inclui Nissan e Mitsubishi. Ontem, De Meo afirmou que 80% dos lançamentos previstos para os próximos cinco anos serão produzidos em três plataformas comuns, o que reduz custos e melhora a eficiência. Serão modelos elétricos e híbridos. De Meo, ex-executivo da Fiat e da Volkswagen, assumiu o posto em julho, meses depois do escândalo que envolveu o executivo franco-brasileiro Ghosn, que foi preso no Japão e, quando obteve liminar para sair, fugiu para o Líbano. Ele citou em entrevista a um grupo de jornalistas, após a apresentação do novo plano – batizado de “Renaulution”, em alusão à palavra revolução –, que “infelizmente” foi preciso reduzir um turno de trabalho na fábrica brasileira, que resultou no corte de 470 vagas. Hoje, a montadora francesa emprega 6,5 mil funcionários.
Fórmula F1. No projeto divulgado no ano passado, a companhia estabeleceu o corte de 10 mil empregos mundialmente e uma economia de ¤ 2 bilhões em custos fixos até 2022. De Meo acrescentou mais ¤ 1 bilhão na conta até 2025. Além disso, informou que, ao usar plataformas compartilhadas, o custo de produção de cada automóvel da marca deve cair ¤ 600 também ao longo de cinco anos. O plano apresentado ontem inclui a decisão de reduzir a capacidade produtiva das plantas de 5 milhões para 3,6 milhões de unidades ao ano. Líder em vendas de carros elétricos na Europa, a eletrificação da gama de produtos da marca também passa a ser prioridade, assim como a recuperação e geração de margens de lucro. Outro anúncio foi que a marca Renault será substituída na Fórmula 1 pela Alpine, justamente para divulgar a marca de luxo da companhia. O grupo detém também as marcas Dacia e Lada.

*”Campos Neto tenta reverter demissão do presidente do BB”*

*”Bolsonaro veta alívio para dívidas dos Estados”* - O presidente Jair Bolsonaro vetou um alívio de R$ 17,3 bilhões nas dívidas de Estados e municípios com organismos multilaterais (como Banco Mundial e BID) e despertou a ira de secretários de Fazenda, que viam no dispositivo um dos maiores benefícios aos Estados e municípios que procuraram ajustar suas contas e mantêm boa nota na classificação de risco do Tesouro. A avaliação é que o veto à lei que renegociou a dívida dos governos regionais prejudica quem fez o ajuste, enquanto os Estados superendividados que aderirem ao Regime de Recuperação Fiscal (RRF) continuarão tendo acesso ao benefício. O relator do projeto na Câmara, Mauro Benevides (PDT-CE), afirma que o Congresso deve derrubar o veto e restituir o alívio, que havia sido acordado com o governo como contrapartida à redução na duração do RRF – o programa de socorro para Estados superendividados. Entre os Estados, São Paulo seria o mais prejudicado pelo veto presidencial. O alívio em 2021 para as finanças comandadas pelo governador João Doria (PSDB) seria de R$ 2,3 bilhões. Já para o município do Rio de Janeiro, com Eduardo Paes (DEM) à frente da Prefeitura, a suspensão da dívida seria de R$ 509 milhões.
Ao Estadão/Broadcast, o deputado contou que, logo que o teor dos vetos foram divulgados pelo Palácio do Planalto, os secretários de Fazenda começaram a ligar indignados com a decisão do governo federal. Benevides criticou ainda a justificativa apresentada, de que a suspensão da dívida fere a Constituição – ao mesmo tempo em que o alívio foi mantido para os Estados do Rio de Janeiro, Minas Gerais e Rio Grande do Sul, que vão aderir ao RRF. “Quero que, tecnicamente, o governo explique que é constitucional para um, e não para outro”, critica Benevides, que já foi secretário de Fazenda do Ceará. Segundo ele, o alívio na dívida com os organismos federais (R$ 7,3 bilhões para os Estados e R$ 10 bilhões para os municípios) beneficiar iaos Estados com nota A, B eC, as mais altas no ranking do Tesouro que avalia a situação de sustentabilidade dos governos regionais( Aéo melhor pagador ).“Faz erode verde casa no Brasil não é reconhecido pelo Ministério da Economia”, acusa o deputado pedetista. O Ministério da Economia havia estipulado um teto de R$ 10 bilhões para a suspensão dessas dívidas, que seriam honradas pelo governo federal por um ano. A proposta era conceder o benefício só para os Estados. Na tramitação do projeto, Benevides incluiu os municípios, mas buscou compensar coma redução de dez para nove anos no prazo de vigência do RRF. Pelos seus cálculos, a troca garantiu um ganho de R$ 24 bilhões ao Tesouro, enquanto rendeu a “mágoa” do governador do Rio Grande do Sul, Eduardo Leite, que defendia prazo maior.
Benevides diz que o governo quebrou o acordo, mas prefere não entrar em questões políticas que poderiam ter levado o presidente a vetar o texto. Fontes de dois Estados consultadas pelo Estadão/Broadcast, que preferem falar na condição de anonimato, não descartam a possibilidade de viés político na decisão do veto. O secretário de Fazenda do município do Rio, Pedro Paulo, que foi o autor do projeto na Câmara, não vê esse viés político, mas aponta que os recursos para o Rio, que serão usados para o pagamento de dívidas externas, seriam importantes para as finanças do município para o enfrentamento da covid-19. Bolsonaro também vetou uma mudança que endureceria a proibição a gestores em fim de mandato de assumir obrigações com gastos e obras sem deixar dinheiro em caixa para bancá-las. Apesar de o dispositivo integrar a Lei de Responsabilidade Fiscal (LRF), tema mais afeito ao Ministério da Economia, o veto foi feito a pedido da Casa Civil e da Secretaria-Geral da Presidência. Procurado, o Ministério da Economia não comentou e recomendou que a reportagem pedisse explicações à Casa Civil e à Secretaria-Geral. Os órgãos não responderam até a conclusão desta edição. O Tesouro Nacional informou que, com o veto, permanece em vigor a regra anterior, que exige dinheiro em caixa para cobrir as despesas contratadas nos últimos dois quadrimestres do mandato.

 

CAPA – Manchete principal: *”João Doria acusa Bolsonaro de ação ‘desumana’”*

*”Guedes se prepara para voltar às suas propostas”* - Entre fevereiro e setembro governo quer aprovar reformas

*”Governo estuda adiar imposto de novo para dar fôlego a empresas”* - Medida para impulsionar atividade seria acompanhada de antecipação do pagamento do 13º salários de aposentados e pensionistas do INSS

*”Brasil abre compra pública a estrangeiro”* - País fará ainda este mês primeira oferta dentro da acordo global

*”Manaus vive caos, com hospitais sem oxigênio”* - Médicos têm de escolher quais pacientes serão atendidos

*”Pazuello afirma que cidade entrou em colapso e situação é ‘extremamente grave’”*

*”Secretarias contradizem Ministério da Saúde e negam falta de seringas”* - Governos estaduais cujos estoques de seringa para a vacinação contra a covid-19 foram apontados como insuficientes pelo Ministério da Saúde negaram ontem a informação. No ofício encaminhado pela pasta chefiada pelo ministro Eduardo Pazuello ao Supremo Tribunal Federal (STF) no dia 8 de janeiro, e tornado público agora, Acre, Bahia, Espírito Santo, Mato Grosso do Sul, Paraíba, Pernambuco e Santa Catarina teriam estoques insuficientes para suprir a demanda inicial, em caso de disponibilidade imediata das 30 milhões de doses necessárias para imunizar o público-alvo da primeira fase da vacinação. A primeira etapa inclui profissionais de saúde, idosos com mais de 75 anos, pessoas com 60 anos ou mais que vivem em asilos e instituições psiquiátricas, além de indígenas, quilombolas e ribeirinhos. O governo da Bahia - Estado mais populoso da lista com mais de 15 milhões de habitantes - informou que o Ministério da Saúde “errou” ao informar o STF sobre o quantitativo de seringas e agulhas em estoque nos Estados brasileiros e citar apenas 232 mil seringas na Bahia. “Este quantitativo refere-se à seringa que vem da Índia com trava, 0,05 ml, acompanhando a vacina BCG. Diferente do informado, a Secretaria da Saúde do Estado da Bahia (Sesab) possui 10,2 milhões de seringas e agulhas em estoque para a vacinação contra o coronavírus (covid-19). Adicionalmente, foram adquiridas 19,8 milhões de seringas e agulhas, com a entrega de 4 milhões nos próximos 15 dias, 4 milhões em fevereiro e o restante nos meses de abril, maio e junho", informou em nota a Secretaria de Saúde da Bahia.
Desmentido semelhante veio do governo de Pernambuco. “A Secretaria de Saúde de Pernambuco (SES-PE) esclarece que não procede a informação que o Estado não possui estoque suficiente de seringas e agulhas para começar a vacinação contra a covid-19. Apesar de o fornecimento do imunizante e dos insumos para aplicação serem de responsabilidade do governo federal, o governo de Pernambuco antecipou a compra de seringas e dispõe de 3,9 milhões de unidades em estoque, vai receber mais 2,8 milhões de seringas até o fim de janeiro e outras 7,5 milhões já foram adquiridas e devem chegar ao estado até o fim do mês de fevereiro, totalizando 14,2 milhões de unidades. Este quantitativo é mais do que suficiente para a imunização dos grupos prioritários da campanha de vacinação.” A Secretaria de Saúde de Santa Catarina, por sua vez, informou que o Estado possui 3 milhões de agulhas e 9,5 milhões de seringas estocadas, número bem superior aos de 590 mil kits relatado pelo Ministério da Saúde.
Outros governos, como o da Paraíba, não soltaram nota, mas garantiram à imprensa local possuir estoque suficiente de materiais à vacinação. O portal G1 informou que “atualmente, 286 mil seringas estão disponíveis na Secretaria de Estado da Saúde da Paraíba e 242 mil estão em trânsito para chegar nos próximos dias”. Outras 400 mil seringas, informou o G1, são esperadas pelo governo local junto com a primeira dose da vacina a ser enviada pelo governo federal e a compra de 1,8 milhão de seringas está em andamento. No documento do Ministério da Saúde, a Paraíba aparece com um estoque de apenas 311 mil seringas. Diante dos dados desencontrados, o ministro do STF Ricardo Lewandowski determinou que os Estados divulguem suas próprias informações sobre o estoque de material necessário à vacinação. Os governos estaduais negam, ainda, sua responsabilidade sobre a oferta de seringas para a campanha de vacinação contra covid-19, contestando afirmações do Ministério da Saúde, segundo o qual, “via de regra, as aquisições são realizadas pelos próprios entes federados, cabendo à União o fornecimento dos imunobiológicos necessários para as execuções das ações de imunização”. Por esse motivo, informara a pasta no ofício, a pasta “não possui estoque disponível para a realização da referida campanha de vacinação”.

*”Média de casos de covid supera 55 mil por dia e a maior da pandemia”* - Mortes seguem em elevação, aponta consórcio de veículos de imprensa

*”Governador pede ajuda a outros Estados para contornar falta de oxigênio no AM”*

*”Governo prevê que 5 milhões serão vacinados neste mês”* - Bolsonaro nega falta de preparo da administração federal

*”Falta de dados ameaça anúncio da Anvisa no domingo”* - Liberação das vacinas contra a covid-19 pode ficar para depois

*”Saída da Ford impacta vários setores”* - O fim da produção da Ford no Brasil pode representar perda de até 0,06% no Produto Interno Bruto (PIB) brasileiro de 2021 - o que representa R$ 3,8 bilhões - e de 0,28% no resultado acumulado ao longo de 20 anos até 2040 (R$ 16 bilhões). Os cálculos são de pesquisadores do Centro de Desenvolvimento e Planejamento Regional, da Universidade Federal de Minas Gerais (Cedeplar/UFMG). As estimativas não consideram eventual substituição da produção da Ford por concorrentes nem a incorporação de suas fábricas por outras empresas. Mas, mesmo que isso ocorra, as perdas para a economia ainda seriam significativas e não há cenário de impacto neutro, dizem os pesquisadores. O estudo aponta destruição de mais de 50 mil vagas formais de trabalho diretas e indiretas só neste ano devido à decisão da Ford, considerando toda a cadeia produtiva. As perdas de postos de trabalho se acentuariam até 2025 (com mais de 70 mil), mas aos poucos vão sendo reduzidas, até pouco mais de 11 mil em 2040.
É este um dos aspectos que tornam mais grave a decisão da Ford, segundo especialistas: o efeito cascata em outros ramos da cadeia de suprimentos de uma montadora de peso, sobretudo siderurgia, plástico, borracha e química. Há quem acredite, no entanto, na tendência de substituição dessa produção por concorrentes em um cenário de alta capacidade ociosa do setor no Brasil, em torno de 40%. O estudo é feito a partir de um modelo de simulação que contempla a relação entre os setores da economia (matriz de insumo-produto do IBGE) e usa outros indicadores como a Relação Anual de Informações Sociais (Rais). É considerado um crescimento médio anual do PIB de 2,2% nos próximos 20 anos. “A saída da Ford fatalmente vai encolher a produção do setor em 2021 e no médio prazo, com impacto na cadeia produtiva e no emprego. É um setor que tem muitos encadeamentos industriais. O modelo também capta queda de geração de renda desses trabalhadores, que afeta outros setores como serviços e agricultura”, diz um dos autores, o professor de economia da UFMG Edson Domingues.
A preocupação com o impacto em outros setores é compartilhada pelo pesquisador em Desenvolvimento Industrial (SARChI-ID) da Universidade de Joanesburgo Paulo César Morceiro. Ele aponta que a indústria automobilística é um dos maiores multiplicadores da economia e gera mais que o dobro de produção que a média da economia. “O setor automobilístico arrasta uma malha de fornecedores, especialmente nos setores de autopeças, metalurgia, plástico, borracha e material elétrico e eletrônico, mas também setores de pós-produção, como seguros e postos de combustíveis”, afirma. Mesmo que marcas concorrentes absorvam a produção da Ford, devido à capacidade ociosa no setor, alerta Domingues, este processo se dará com um “esforço muito menor de investimento em maquinário, pagamento de salários e compra de insumos”. Segundo o especialista, mesmo no melhor dos cenários, em que novas empresas assumam as plantas abandonadas, a operação seria enxugada, com produção modesta em um primeiro momento e menor número de empregados. Um agravante no mercado de trabalho é a qualificação dessa mão de obra, segundo Silvio Sales, ex-coordenador da Pesquisa Industrial Mensal do IBGE: “Não há dúvida de que o principal impacto imediato é no mercado de trabalho, principalmente considerando que é uma mão de obra mais qualificada, com salários acima da média da economia”.
Em cenário em que metade da produção da Ford seja assumida por concorrentes, Domingues afirma que é possível falar que os impactos sobre o PIB e emprego seriam também próximos à metade, em função do modelo usado no estudo. Significa que a perda ficaria em 0,03% do PIB (R$ 2 bilhões). Especialistas veem mais impacto imediato no mercado de trabalho que no nível de produção da indústria. Pesquisador do Instituto de Pesquisa Economica e Aplicada (Ipea), Leonardo Carvalho acredita na conquista do espaço de mercado da Ford pelas concorrentes. “Em termos de produção, a saída da Ford não inspira preocupação porque estamos falando de um mercado com alto grau de substituição. Isso já vinha ocorrendo com a própria Ford, que, nos últimos anos, foi ultrapassada por asiáticas que vêm ganhando espaço”, diz Carvalho. Mais do que o impacto do fim da produção de uma montadora, no entanto, o que está em debate é o próprio futuro da indústria automobilística no país, reforçam pesquisadores e economistas. Em todo o mundo, o setor passa por uma transformação profunda com o avanço do carro elétrico, os debates sobre a mobilidade urbana e a menor demanda por veículos pelas gerações mais novas. No Brasil, enfrenta problemas comuns a toda a indústria, como falta de infraestrutura, desorganização tributária e flutuação forte do câmbio, mas também dificuldades de competitividade que vêm do modelo adotado desde o início da produção automotiva nacional.
Economista-chefe do Instituto de Estudos para o Desenvolvimento Industrial (Iedi), Rafael Cagnin vê com preocupação a situação da indústria automobilística, que enfrenta “um turbilhão de transformações em todo o mundo”. “Existem desincentivos sistemáticos ao investimento produtivo no Brasil devido às deficiências estruturais.”

*”Proteção tirou competitividade, afirma Samuel Pessôa”* - A indústria automobilística brasileira tem problemas específicos, para além dos entraves da indústria como um todo, que vêm do modelo adotado desde sua origem, com pouca especialização. Esse perfil dificulta o ganho de escala, essencial nesse setor, e provoca preços elevados e falta de competitividade. A análise é do economista Samuel Pessôa, pesquisador associado do Ibre/FGV e sócio diretor do Julius Baer Family Office. Ele alerta que essa situação se torna ainda mais intensa neste momento, de transformação da indústria automobilística em todo o mundo, em razão do avanço do carro elétrico. Pessôa acredita que o setor vá encolher no Brasil nos próximos anos, fruto também da estratégia “errada” usada nas últimas décadas, de elevado protecionismo comercial. “Para não dar prejuízos, uma linha de automóvel tem que produzir 300 mil unidades por ano. E pouquíssimas plantas brasileiras produzem isso. Qual é a diferença em relação à Embraer, por exemplo? A Embraer não faz tudo: ela não atua em alguns mercados de aviação e está conectada às cadeias globais de valor, importa insumos e exporta com preços competitivos. A indústria automobilística brasileira faz tudo de quase tudo e não é competitiva”, diz.
Para contornar esta falta de competitividade, aponta Pessôa, um dos caminhos foi um protecionismo, na expectativa que isso ajudasse o setor “a ganhar musculatura”. Ele cita, por exemplo, um estudo do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea) que mostrava que proteção efetiva da indústria automobilística era de quase 100% até 2015. Ele acredita que a indústria automobilística brasileira deve encolher nos próximos anos, em uma proporção maior do que a esperada para o movimento no mundo todo, em função da revolução do carro elétrico. A única alternativa para escapar dessa tendência seria seguir com aumento das tarifas de importação, mas isso não faz sentido, diz, e é preciso reconhecer que a estratégia para o setor deu errado. “Não vejo muita solução. A gente perdeu nos últimos 60 anos muitas oportunidades para pensar esse setor. Tem que manter a proteção alta para não ter choque, mas tem que ter um mecanismo de redução da proteção ao longo do tempo. O setor tem que se abrir. Não pode ter uma política de proteção eterna”, defende o pesquisador.

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