segunda-feira, 25 de janeiro de 2021

Análise de Mídia - 25/01/2021

 

DOS JORNAIS DE HOJE: A questão do impeachment continua sendo abordada pelos jornais. Mas não de forma igual. A Folha de S. Paulo mostra que após as manifestações dos grupo de esquerda, ocorreram manifestações de grupos de direita pelo impeachment. Além disso, o jornal informa sobre um manifesto assinado por ex-alunos da Escola Politécnica da USP que também pede o impeachment. O assunto reaparece sem ser o tema central na reportagem sobre a resposta do governo à carta do presidente da Pfizer que informou que o Ministério da Saúde recusou a oferta de 70 milhões de doses da vacina produzida pela empresa. Aliás, a repercussão desta carta está em todos os jornais. Além dessas reportagens, a Folha ainda tenta enaltecer João Doria em seu editorial que teve como base uma fração da pesquisa do Instituto Datafolha. O levantamento aponta que há uma porcentagem maior de pessoas que consideram que Doria foi mais eficiente do que Bolsonaro com relação à pandemia. Mas a pesquisa de opinião, neste caso, parece ter um ponto de partida já muito enviesado.
O jornal O Globo trata da pressão sobre o governo, mas a questão fica mais presente em artigos de opinião que não foram reproduzidos aqui. O jornal carioca e o Estadão entrevistaram a senadora Simone Tebet, candidata à presidência do Senado, e em ambos a manchete aborda o entendimento da senadora de que não há motivo para impeachment. A pauta do Estadão sobre o impeachment está presente no editorial do jornal que faz duras críticas a Jair Bolsonaro. Além disso, o Estado de S. Paulo publica reportagem sobre a taxa de apoio que Bolsonaro tem no Congresso e faz um malabarismo percentual para coloca-lo à frente da ex-presidenta Dilma Rousseff.
O Valor Econômico, por sua vez, publica reportagem sobre a insatisfação do mercado e do setor privado em geral com o governo Bolsonaro. Outra questão que o Valor Econômico e a Folha levantam é sobre a volta do auxílio emergencial. Enquanto grandes empresários criticam a proposta, secretários estaduais e parlamentares reivindicam o retorno do auxílio.

 

CAPA – Manchete principal: *” Bolsonaro perde de Doria em avaliação da pandemia”*

EDITORIAL DA FOLHA - *”O triunfo de Doria”*: A disputa política entre o governador de São Paulo, João Doria, e o presidente Jair Bolsonaro, que se desenhou desde o início da pandemia de Covid-19, vai, por ora, pendendo a favor do paulista.Segundo pesquisa Datafolha, 46% dos brasileiros entendem que Doria (PSDB) fez mais para combater o coronavírus do que Bolsonaro, apontado por apenas 28% como o mais empenhado na tarefa. A sondagem captou um momento crucial da crise sanitária, marcado pelos esforços para a vacinação e controlar os efeitos devastadores de uma nova onda de contágios. Nas duas frentes, em especial na corrida pela vacina, o governador tucano sobrepôs-se de maneira incontestável ao mandatário federal. Colhe o reconhecimento pela coordenação de medidas com vistas a manter a oferta de leitos nos hospitais do estado e suprir o país com um imunizante, o primeiro a ser utilizado em escala nacional. Em contraste com a inércia negacionista e caótica de Bolsonaro, Doria submeteu suas ações a critérios técnicos e soube recorrer aos meios de que São Paulo dispõe para liderar a busca por objetivos que deveriam ser prioridade da administração federal. É o caso notório da parceria entre o Instituto Butantan e a farmacêutica chinesa Sinovac Biotech para fabricar a Coronavac.
Não se discute que as movimentações de Doria foram incentivadas por ambições políticas —são conhecidas suas pretensões de se projetar como nome nacional para lançar-se à Presidência em 2022. Esse é um caso, porém, em que a disputa pela esfera pública revela-se virtuosa. A busca responsável pelo bem da população, não obstante inclinações ideológicas, é, afinal, o que deveria pautar a atuação de governantes e legisladores. Já Bolsonaro visa sua reeleição, mas o faz de maneira desastrosa. Subestimou os efeitos do vírus, interveio no Ministério da Saúde por motivos eleitorais, fez campanha contra a vacina, propagandeou medicamentos inúteis e persiste nos ataques às normas sanitárias. A tragédia da falta de oxigênio no Amazonas, além do fiasco na aquisição de imunizantes, com a contribuição do despautério diplomático de seu governo, são os resultados recentes dessa atuação deplorável. A favor do presidente, restam os impactos declinantes do auxílio emergencial —obra, na realidade, do Congresso. Natural que nesse quadro Bolsonaro perca popularidade e se veja pressionado por movimentos pró-impeachment, enquanto Doria e outros governadores, apesar das agruras econômicas, sejam mais bem avaliados na gestão da pandemia —notadamente pelos mais expostos aos riscos e conscientes da dramaticidade da situação.
+++ Assim como João Doria e Jair Bolsonaro, o editorial da Folha também atua com interesses políticos. Do contrário, o texto mencionaria que apesar de ser melhor que Bolsonaro no combate à pandemia, João Doria quis privatizar o Instituto Butantan, diminuiu os investimentos no desenvolvimento científico e, pior, apoiou Jair Bolsonaro na eleição presidencial.

MAURO LUIZ DE BRITTO RIBEIRO - *”O Conselho Federal de Medicina e a Covid-19”*:
Infelizmente, até o momento, sabe-se muito pouco sobre a Covid-19. Os avanços científicos registrados foram para pacientes em UTI em que a intubação tardia, a posição prona (de bruços) e o uso de corticoides e anticoagulantes diminuíram as mortes. É assustador notar que todas as medidas de prevenção, até agora, parecem ter impacto reduzido na disseminação dessa doença. Existem inúmeras questões que aguardam respostas da ciência em relação à Covid-19. Cito algumas: o “lockdown” previne mais a transmissão do que medidas de distanciamento social? Pacientes que já contraíram a moléstia estão imunes? A mutação do vírus é mais grave do que a forma anterior? Lamentavelmente, no Brasil, há uma politização criminosa em relação à pandemia entre apoiadores e críticos do presidente da República. Assuntos irrelevantes relacionados à Covid-19 dominam o noticiário, com discussões estéreis entre pessoas sem formação acadêmico-científica na área de saúde, dando opiniões como especialistas, porém com cunho político e ideológico.
Além disso, profissionais não médicos, que se autodenominam cientistas, com imenso acesso à mídia, falam sobre tudo, inclusive temas médicos sobre os quais não têm competência para opinar —e sempre evocando a ciência, como se fossem os únicos detentores do saber, disseminando informações falsas que desinformam e desestabilizam a já insegura sociedade brasileira. Infelizmente, a politização também atingiu sociedades de especialidades médicas e grupos ideológicos de médicos, principalmente quanto ao chamado tratamento precoce, com hidroxicloroquina, ivermectina e azitromicina. Esses grupos pressionam de todas as maneiras o Conselho Federal de Medicina (CFM), em razão de sua competência legal de determinar qual tratamento farmacológico é ou não experimental no Brasil, para que recomende ou proíba o tratamento precoce. Existem na literatura médica dezenas de trabalhos científicos mostrando benefício com o tratamento precoce com as drogas citadas acima. Outros tantos apontam que elas não possuem qualquer efeito benéfico contra a Covid-19. Em outras palavras, a ciência ainda não concluiu de maneira definitiva se existe algum benefício ou não com o uso desses fármacos.
O CFM abordou o tratamento precoce para a Covid-19 no parecer nº 4/2020 em respeito ao médico da ponta, que não tem posição política ou ideológica e exerce a profissão por vocação de servir e fazer o bem; que recebe, consulta, acolhe e trata o paciente com essa doença. No texto, o CFM delibera que é decisão do médico assistente realizar o tratamento que julgar adequado, desde que com a concordância do paciente infectado —elucidando que não existe benefício comprovado no tratamento farmacológico dessa doença e obtendo o consentimento livre e esclarecido. O ponto fundamental que embasa o posicionamento do CFM é o respeito absoluto à autonomia do médico na ponta de tratar, como julgar mais conveniente, seu paciente; assim como a autonomia do paciente de querer ou não ser tratado pela forma proposta pelo médico assistente. Deve ser lembrado que a autonomia do médico e do paciente são garantias constitucionais, invioláveis, que não podem ser desrespeitadas no caso de doença sem tratamento farmacológico reconhecido —como é o caso da Covid-19—, tendo respaldo na Declaração Universal dos Direitos do Homem, além do reconhecimento pelas competências legais do CFM, que permite o uso de medicações “off label” (fora da bula).
O parecer nº 4/2020 não apoia nem condena o tratamento precoce ou qualquer outro cuidado farmacológico —tampouco protocolos clínicos de sociedades de especialidades ou do Ministério da Saúde. Ele respeita a autonomia do médico e do paciente para que ambos, em comum acordo, estabeleçam qual tratamento será realizado. Para aqueles que insistem em atacar publicamente o conselho federal, fazendo pressão para que mude este parecer, visando apoiar ou proibir o tratamento precoce, esclarecemos que essas ações políticas são inúteis —como têm sido até agora e continuarão sendo. As posições do CFM têm como objetivo o que é melhor para a população e o respeito absoluto aos médicos na ponta —estes, sim, os verdadeiros heróis, a quem rendemos todo o nosso reconhecimento.
*Mauro Luiz de Britto Ribeiro - Presidente do Conselho Federal de Medicina (CFM)

PAINEL - *”Empresas buscam governo por aval para comprar 33 milhões de doses da vacina de Oxford”*: Empresas privadas brasileiras negociam com o governo uma autorização para importar 33 milhões de doses da vacina de Oxford/Aztrazeneca. Segundo empresários, as tratativas ocorrem com o Ministério da Saúde. O plano é que a pasta edite um ato descrevendo as condições para a liberação. Pelo acordo em andamento, metade do total dos imunizantes seria doado ao SUS (Sistema Único de Saúde). O restante iria para funcionários e familiares das companhias que fazem parte da negociação. De acordo com quem está na articulação, estão no grupo para adquirir as vacinas ao menos 12 firmas. Um texto que circula entre empresários cita grandes companhias que estariam no grupo inicial que têm interesse na vacina: Vale, Gerdau, JBS, OI, Vivo, Ambev, Petrobrás, Santander, Itaú, Claro, Whirlpool e ADN Liga. A ideia é aumentar o número de empresas e incluir quem tiver interesse. Cada uma receberia o equivalente ao que comprou. O objetivo das companhias é garantir a imunização de ao menos parte de suas equipes para manter as atividades em funcionamento. A vontade aumentou depois de o governo ter enfrentado entraves para conseguir importar vacinas e insumos. Os 33 milhões de doses —a unidade é estimada US$ 23,79— são a quantidade disponibilizada pela Aztrazeneca e poderiam chegar ao Brasil em fevereiro. Segundo empresários, a conversa com o farmacêutica é conduzida pela Dasa, que detém laboratórios e hospitais. No início do mês, o ministro Eduardo Pazuello (Saúde) disse que a prioridade seria o SUS e “uma vez supridas” as demandas do sistema, as empresas poderiam comprar vacinas disponíveis. Segundo empresários, o governo sinalizou que liberaria a importação. Procurado, o Ministério da Saúde não respondeu. A Dasa também não.

PAINEL - *”Estudo do IPEA mostra que nova onda de Covid-19 não é acompanhada de mais ações de distanciamento”*: Estudo publicado pelo IPEA intitulado “A segunda onda da pandemia (mas não do distanciamento físico): Covid-19 e políticas de distanciamento social dos governos estaduais no Brasil” mostra que o aumento no número de casos e óbitos por Covid-19 não tem provocado o endurecimento de regras de isolamento pelos estados. Segundo a pesquisa, a taxa de rigor das medidas para evitar aglomerações caiu de 6,3 para 2,9 de abril a dezembro de 2020 em uma escala de 1 a 10 —queda de 54%—ao passo que as mortes subiram de 27 para 92 por milhão de habitantes.

PAINEL - *”Ex-alunos da Politécnica da USP atingiram mil assinaturas por impeachment de Bolsonaro em 5 horas e esperam chegar em 5 mil”*: Os engenheiros da Escola Politécnica da USP conseguiram 1.000 adesões em menos de cinco horas para um manifesto em que pedem o impeachment de Jair Bolsonaro. Eles criticam o presidente por debochar do novo coronavírus. O objetivo de quem organizou o texto é conseguir 5.000 assinaturas até poucos dias antes da eleição para a presidência da Câmara, no dia 1º de fevereiro.

PAINEL - *”Nova decisão de Gilmar reforça falta de protagonismo da presidência do STF durante recesso”*: A decisão de Gilmar Mendes, do STF, de suspender o julgamento sobre o foro adequado para investigar o senador Flávio Bolsonaro (Republicanos-RJ) foi mais uma que ofuscou o protagonismo da presidência do Supremo no recesso judiciário, comandado por Luiz Fux e Rosa Weber. Quatro dos 11 ministros do STF (Supremo Tribunal Federal) abriram mão do recesso de fim de ano e das férias.

PAINEL - *”Juiz faz discurso negacionista e contra imprensa em posse como presidente do Tribunal de Justiça de Mato Grosso”*: O juiz federal Carlos Eduardo Contar fez discurso negacionista na posse como presidente do Tribunal de Justiça de Mato Grosso do Sul. Indiretamente, ele chamou as críticas a remédios como cloroquina de levianas. Disse que “se não curam, podem simplesmente no campo da possibilidade ajudar na prevenção ou diminuição do contágio.” Ele ainda conclamou os pares a retornar com "segurança", "pondo fim à esquizofrenia e a palhaçada midiática fúnebre, honrando nossos salários e nossas obrigações.​"

PAINEL - *”Parlamentares pró-Arthur Lira vão fazer campanha por deputada em vaga no STF”*
PAINEL - *”Para tentar frear MDB, Alcolumbre cede e oferece ao partido candidatura à vice-presidência do Senado”*

*”Para 46%, Doria faz mais que Bolsonaro contra Covid-19, diz Datafolha”* - Para 46% dos brasileiros, o governador João Doria (PSDB-SP) fez mais contra a pandemia da Covid-19 do que Jair Bolsonaro. Já 28% apontam o presidente como político mais empenhado na tarefa do que o tucano. Os números foram aferidos pelo Datafolha em pesquisa nacional realizada nos dias 20 e 21 de janeiro. Foram ouvidas, por telefone, 2.030 pessoas, e a margem de erro é de dois pontos para mais ou menos. Não souberam dizer qual dos políticos rivais trabalhou mais contra o novo coronavírus 13%, enquanto 11% disseram que nenhum deles o fez e 2%, que ambos combateram a crise. O resultado vem após a vitória política de Doria sobre Bolsonaro na corrida pela vacinação no Brasil. Defensor de uma abordagem científica da crise desde o começo, o tucano se antagonizou ao negacionismo esposado pelo presidente. O episódio mais recente do embate entre os dois prováveis adversários na disputa pelo Planalto em 2022 foi a dita guerra das vacinas. Doria, de posse estadual do imunizante de origem chinesa Coronavac, forçou o governo federal a se mexer ao lançar um plano local de vacinação. Ao fim, apesar de Bolsonaro dizer que não compraria a "vacina chinesa do Doria", ela foi a única disponível no Brasil para começar a campanha de imunização na semana passada. Até a foto da primeira pessoa vacinada o tucano assegurou para seu governo.
Doria já disse que a Coronavac e a postura proativa em relação à crise seriam ativos eleitorais e previu que o imunizante poderia nacionalizar seu nome. Na pesquisa, há homogeneidade nas regiões do país em relação à avaliação sobre Doria. Ela sobe entre aqueles que se dizem com "muito medo" do vírus, para 57% a 19%. No sentido contrário, que diz não temer o Sars-CoV-2, diz que Bolsonaro trabalhou mais contra a crise (46%) do que o paulista (24%). Na mesma linha, quem afirma viver uma vida normal na pandemia acha que Bolsonaro (46%) está à frente de Doria (28%). A curva se inverte nas categorias seguintes: quem toma cuidados (45% em favor do tucano ante 31% do presidente), quem só sai de casa na necessidade (50% a 20%) e quem está isolado (57% a 22%). Há um empate de percepção entre os mais ricos, que ganham mais de 10 salários mínimos mensais. Neste grupo, Doria vai melhor para 41%, ante 37% de Bolsonaro. No geral, o manejo da crise pelo presidente é mal avaliado, embora a população não o culpe diretamente pelas mortes pela Covid-19. Em relação à pesquisa anterior, em 8 e 10 de dezembro, subiu de 42% para 48% o índice dos que acham o desempenho de Bolsonaro ruim ou péssimo no setor. Sua rejeição geral, no mesmo período, subiu de 32% para 40%. Aprovam o trabalho do titular do Planalto 26%, empate técnico com o dado de dezembro, 30%. Quem o acha regular oscilou de 27% para 25%. Não o consideram culpado pelas quase 220 mil mortes no país pela Covid-19 47% dos entrevistados, ante 52% em dezembro. Acham que Bolsonaro é um dos culpados, mas não o principal, 39% (eram 38% antes). E apontam o dedo acusador conto único responsável pelos óbitos 11% (antes eram 8%).
Bolsonaro é mais bem avaliado na gestão da crise por quem tem de 45 a 49 anos e os mais ricos, 33% de ótimo e bom. É pior visto entre quem tem curso superior, com 57% de ruim ou péssimo. O grupo que mais o exime de culpa por mortes é o daqueles que dizem não temer o vírus, com 75% compartilhando tal opinião. Também o veem como isento os moradores do Sul (53%) e os menos instruídos (56%). ​O desempenho geral de governadores também foi objeto do Datafolha. Depois de um teto de 58% de aprovação em abril, o número está estabilizado em 42%, ante 41% em dezembro. O ruim/péssimo foi de 30% para 26% e o regular, de 28% para 30%. Os mais velhos, com 60 anos para cima, são os que têm a melhor avaliação dos governadores (49% de aprovação). Em termos regionais, o Sudeste é o mais insatisfeito (34% de ótimo/bom), enquanto moradores do Norte/Centro-Oeste (45%), Nordeste (47%) e Sul (54%) aprovam seu governantes. O desempenho do Ministério da Saúde, alvo de intensas polêmicas ao longo da pandemia, é aprovado por 35% e reprovado por 30%. A pasta teve seu pico de ótimo e bom em abril, antes da queda do ministro Luiz Henrique Mandetta por não concordar com a orientação negacionista de Bolsonaro —76% de aprovação. Os números foram caindo para o patamar atual ao longo da breve gestão de Nelson Teich e da interinidade, seguida de efetivação, do general Eduardo Pazuello. A insatisfação é maior entre os mais ricos (50% de ruim e péssimo) e a aprovação, maior no Sul (40%).

*”Criticado por postura na pandemia, Bolsonaro faz passeio de motocicleta em Brasília”* - Sob críticas sobre sua postura no combate à pandemia do coronavírus, o presidente Jair Bolsonaro (sem partido) passeou de motocicleta neste domingo (24) na capital federal. Na companhia de seguranças, o presidente dirigiu por cerca de uma hora. No trajeto, ele chegou a parar em uma banca de frutas, mas logo subiu de volta no veículo com a chegada da imprensa. O passeio ocorre no momento em que partidos de oposição e entidades da sociedade civil defendem a instauração de um processo de impeachment diante do discurso negacionista do presidente. Para tentar evitar a abertura de um procedimento , Bolsonaro intensificou a articulação nos últimos dias pela eleição do líder do centrão, Arthur Lira (PP-AL), para o comando da Câmara dos Deputados. O líder do governo na Casa, Ricardo Barros (PP-PR), por exemplo, foi escalado para ajudar Lira na tentativa de virar votos hoje a favor do presidente nacional do MDB, Baleia Rossi (SP), candidato do presidente Rodrigo Maia (DEM-RJ). Acuado, o Palácio do Planalto resolveu ajustar o discurso para evitar uma piora do cenário e começou, sob a orientação do ministro Fábio Faria (Comunicação), a implementar um plano de comunicação.
A reação tem sido divulgar todos dias iniciativas do Poder Executivo de combate à pandemia, em um esforço para rebater discurso de partidos de oposição de que o Poder Executivo tem sido negligente. Como parte da estratégia, o ministro da Saúde, Eduardo Pazuello, foi enviado no sábado (23) a Manaus sem "voo de volta", como definiu a pasta. A viagem, sugerida pelo Palácio do Planalto, ocorreu no mesmo dia em que a PGR (Procuradoria-Geral da República) pediu ao STF (Supremo Tribunal Federal) pra investigar o ministro sobre a crise em Manaus. A solicitação aumentou a pressão, sobretudo entre integrantes da cúpula militar, para que o general da ativa do Exército deixe o comando da Saúde para não prejudicar a imagem das Forças Armadas. Apesar de estar incomodado com a postura do ministro, o presidente Jair Bolsonaro tem afirmado que, por enquanto, não pretende trocar Pazuello. No pedido feito ao STF, o procurador-geral da República, Augusto Aras, ressaltou que, em relação à crise enfrentada por Manaus, Pazuello tem "dever legal e possibilidade de agir para mitigar os resultados". Ele observou ainda que uma eventual omissão seria passível de responsabilização cível, administrativa ou criminal. "Mostra-se necessário o aprofundamento das investigações a fim de se obter elementos informativos robustos para a deflagração de eventual ação judicial', disse.​
+++ Uma notícia que não informa nada de novo.

*”Após esquerda, grupos à direita promovem carreatas contra Bolsonaro”* - Um dia depois das manifestações de políticos e organizações de esquerda pelo país, com pedidos de impeachment contra o presidente Jair Bolsonaro, neste domingo (24) grupos da direita protagonizam a mobilização nas ruas pelo afastamento. Convocados pelos grupos Vem pra Rua e Movimento Brasil Livre (MBL), manifestantes vestidos de verde e amarelo fazem carreatas em várias cidades do país, entre elas, Rio de Janeiro e São Paulo, além de municípios do interior paulista. No Rio de Janeiro, os manifestantes saíram em carreta da Barra da Tijuca, na zona oeste, e foram até Ipanema, na zona sul. Eles fizeram um buzinaço pelo impeachment. Algumas pessoas colaram em seus carros cartazes lembrando o número de mortos pelo coronavírus no país. Muitos veículos levavam bandeiras do Brasil.
Antes da saída dos veículos, os manifestantes cantaram o Hino Nacional e fizeram um minuto de silêncio pelos mortos vítimas da Covid-19. Em São Paulo, os manifestantes seguiram em comboio pela Avenida Paulista. Pessoas de motos e bicicletas participaram do ato. Durante o ato, os manifestantes também deram palavras de ordem contra o ministro Gilmar Mendes, do STF (Supremo Tribunal Federal). Eles pediam “Fora, Gilmar”. O MBL e o Vem Pra Rua protagonizaram a mobilização pelo impeachment da então presidente Dilma Rousseff, em 2016. No sábado, grupos convocados por líderes de esquerda, de partidos como PT e PSOL, além de sindicatos, promoveram carreatas contra Bolsonaro em capitais. Coordenador nacional do Vem pra Rua, Renato Sella diz que o grupo traz para os manifestos uma ação sem bandeiras políticas. Por esse motivo, diz, o movimento decidiu fazer suas carretas separadamente, da esquerda. “Respeitamos a esquerda, mas na nossa ação a única bandeira é a do Brasil.” Conforme Sella, o movimento estima que pelo menos 250 carros tenham participado da carreata em São Paulo.

*”Ex-alunos da Escola Politécnica da USP pedem impeachment de Bolsonaro em manifesto”* - Em manifesto, ex-alunos e membros da comunidade da Escola Polítécnica da USP (Universidade de São Paulo) criticam o governo de Jair Bolsonaro (sem partido) e pedem seu impeachment. O texto, assinado por mais de 400 engenheiros, condena cortes em investimentos em tecnologia, critica a degradação ambiental e afirma que a pandemia da Covid-19 escancarou o desprezo à ciência e ao papel do Estado como gestor de crises. "Há deboche sobre os efeitos da doença, desprezo em relação à situação financeira das famílias, empresas, prefeituras e governos estaduais. Os profissionais do SUS são colocados em risco, e ao mesmo tempo, se veem sem suporte e sem qualquer respeito por seu conhecimento acumulado e provado", afirma o manifesto. O texto pede uma nova forma de ajuda financeira às famílias mais pobres, de maneira que possam ficar em casa e fazer isolamento social e, assim, prevenir a disseminação do vírus. O auxílio emergencial, pago pelo governo federal, teve fim em dezembro. O manifesto também defende a ampla vacinação contra o coronavírus e afirma que os avanços defendidos não serão possíveis enquanto o presidente agir no sentido oposto. "É por nossa responsabilidade como politécnicos e brasileiros que nos associamos a todos os democratas para deixar pública a nossa indignação e exigir o impedimento do sr. Jair Messias Bolsonaro, nos termos da nossa Constituição e das nossas leis, por comprovada soma de crimes de responsabilidade, devidamente apontados nas dezenas de petições já protocoladas no Congresso Nacional", finaliza o texto.
Outros três abaixo-assinados pedindo o impeachment de Bolsonaro foram divulgados nos últimos dias. Um deles foi organizado por ex-alunos da Faculdade de Direito do Largo São Francisco, da USP, que, reuniu mais de 1.450 assinaturas. Outro foi elaborado por ​ex-alunos da Escola Paulista de Medicina da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp). O documento teve mais de 300 assinaturas. O terceiro é de um grupo de cerca de 700 ex-alunos da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (USP). Neste sábado (23) e no domingo, manifestantes pediram o impeachment de Bolsonaro em carreatas em capitais pelo país. O primeiro ato foi impulsionado por partidos de esquerda. Também houve protesto em favor do impeachment de Bolsonaro em outras cidades pelo país, como Rio de Janeiro, São Paulo e Recife.

*”Não temos apoio popular para abrir processo de impeachment, diz Simone Tebet”*
CELSO ROCHA DE BARROS - *”A vacina deu a medida de Bolsonaro”*

*”STJ suspende interrogatório pedido por ministro da Justiça contra advogado que criticou Bolsonaro na TV’* - O STJ (Superior Tribunal de Justiça) suspendeu o interrogatório ao qual o advogado Marcelo Feller, que criticou o presidente Jair Bolsonaro na CNN, seria submetido como parte do inquérito policial solicitado contra o comentarista da emissora pelo ministro da Justiça, André Mendonça. Mendonça usou a Lei de Segurança Naconal para pedir a abertura do inquérito contra Feller após este citar estudos e afirmar que o discurso de Bolsonaro era responsável por pelo menos 10% das mortes por Covid-19 no país. A fala foi feita no quadro "O Grande Debate", da CNN. "Ao requisitar a instauração do inquérito policial, o ministro de Estado da Justiça e Segurança Pública afirmou que a opinião emitida pelo paciente no programa televisivo expressaria acusação contra 'o senhor presidente da República de ter cometido assassinato em massa por omissão durante a pandemia do novo coronavírus", afirma a decisão assinada pelo ministro Jorge Mussi. "Não obstante a discordância que possa surgir em relação mentários do paciente, de uma breve análise de seu conteúdo, não é possível extrair lesão real ou potencial à integridade territorial, à soberania nacional, ao regime representativo democrático, à federação ou ao Estado de direito, mas tão somente severa crítica à postura do presidente da República frente à pandemia de Covid-19", segue o texto. Na época do comentário de Feller, o ministro do STF (Supremo Tribunal Federal) Gilmar Mendes tinha acusado o Exército de se associar a um “genocídio” na crise do novo coronavírus. Feller também comentou: “Não é o Exército que é genocida, é o próprio presidente, politicamente falando”. Mendonça já pediu investigações com base na Lei de Segurança Nacional também contra os colunistas da Folha Ruy Castro e Helio Schwartsman, contra o jornalista Ricardo Noblat e o cartunista Aroeira.

*”Juízes veem 'blindagem', e advogados, reação a 'abusos' com proposta de nova regra para busca e apreensão em escritórios”* - Um projeto de lei que busca tornar mais rígidas as regras para busca e apreensão em escritórios de advocacia começou a tramitar na Câmara dos Deputados no fim do ano passado. De um lado, procuradores e juízes veem na proposta uma tentativa de blindagem. De outro, advogados defendem que, diante de abusos, a alteração busca coibir que tais medidas sejam autorizadas com base em elementos frágeis. Um dos argumentos da advocacia a favor do projeto é que, por conter documentos não apenas de advogados, mas de seus clientes, ter critérios rigorosos para que a busca e apreensão ocorra nos escritórios é importante para resguardar as informações dos clientes e assim o direito à ampla defesa dos cidadãos. O projeto é visto como resposta à operação deflagrada pela Polícia Federal, em setembro do ano passado, que investiga suposto esquema de desvios de recursos públicos do Sistema S e que envolveu mandados de busca e apreensão a diversos escritórios de advocacia, entre eles de Frederick Wassef, que atuou na defesa da família do presidente Jair Bolsonaro, e de Cristiano Zanin e Roberto Teixeira, advogados do ex-presidente Lula. Apresentado pelo deputado e também advogado Paulo Abi-Ackel (PSDB/MG), o projeto traz diferentes alterações no Estatuto da Advocacia e a Ordem dos Advogados do Brasil (OAB), que é uma lei federal. Ele teve requerimento de regime de urgência aprovado em dezembro —o que encurta a tramitação—, no entanto, acabou não sendo votado antes do fim do recesso.
Entre as mudanças propostas, a que gerou mais polêmica veda “a quebra da inviolabilidade do escritório ou do local de trabalho do advogado com fundamento meramente em indício, depoimento ou colaboração premiada, sem a presença de provas periciadas e validadas pelo Poder Judiciário”. Apesar de a Constituição e o Estatuto da Advocacia garantirem a inviolabilidade do advogado, ela não é absoluta. Quando o advogado é investigado por um crime, ela já pode ser quebrada. A atual redação do Estatuto da Advocacia prevê que “presentes indícios de autoria e materialidade da prática de crime por parte de advogado, a autoridade judiciária competente poderá decretar a quebra da inviolabilidade”. Dessa forma, a mudança principal que este ponto do projeto de lei pretende é elencar elementos que não seriam suficientes para motivar um mandado de busca e apreensão em escritórios de advogados. As regras gerais sobre busca e apreensão estão no Código de Processo Penal, que determina que o mandado de busca e apreensão deve ser fundamentado, mas que não traz detalhes quanto ao que é suficiente ou não para essa fundamentação. Além disso, com a vigência da Lei Anticrime, em caso de colaboração premiada, medidas como busca e apreensão não podem ser autorizadas “com fundamento apenas nas declarações do colaborador”.
Daniella Meggiolaro, que é vice-presidente do IDDD (Instituto de Defesa do Direito de Defesa) e presidente da Comissão Especial de Direito Penal da OAB-SP considera que, diante da ocorrência de medidas de busca e apreensão contra escritórios de advocacia que vê como abusivas, o projeto de lei é positivo pois deixa claro que é preciso que haja fundamentos inequívocos para que elas sejam autorizadas. “Evidentemente, quando um advogado comete crime e quando há provas suficientes para que medidas mais graves sejam tomadas, sem dúvida elas devem ser tomadas” afirmou. Já o procurador de Justiça e presidente do Instituto Não Aceito Corrupção, Roberto Livianu, vê a proposta como abusiva e considera que a regra, se aprovada, colocaria os escritórios de advocacia à margem da lei. Para ele, ao colocar que a busca e apreensão não pode ser autorizada “meramente com fundamento em indício”, o projeto está minimizando a importância de um indício. “Eu concordo que o juiz tem que ser muito cuidadoso e criterioso. Se o juiz não é cuidadoso, não é criterioso, que ele responda nos termos da lei”, defendeu Livianu, que disse que, caso extrapole os limites legais, juiz e promotor podem ser punidos por abuso de autoridade. Outro ponto referente às regras de busca e apreensão no projeto e que foi alvo de crítica em nota de associações de procuradores diz que a análise dos documentos e dispositivos pertencentes a advogado, em caso de apreensão ou interceptação, será acompanhada por representante da OAB e do advogado investigado.
O presidente da Ajufe (Associação dos Juízes Federais do Brasil) Eduardo André Brandão também se coloca contrário à proposta que, segundo ele, sob a ideia do garantismo, pretende criar uma blindagem dos escritórios. “O que vale para qualquer estabelecimento, tem que valer para os escritórios de advocacia”, defende ele. Segundo Brandão, o projeto procura limitar a atuação do Judiciário e do Ministério Público. Questionado sobre como chegar a um equilíbrio do poder de investigação, de modo que não seja ilimitado, ele defendeu que ambos devem se ater ao que é efetivamente necessário ao processo. De acordo com ele, “todos os juízes são equilibrados, todos têm essa preocupação em preservar as garantias dos acusados, dos réus, em não prejudicá-los além do que uma investigação já prejudica”. O presidente da Comissão Nacional de Defesa das Prerrogativas da OAB, Alexandre Ogusuku, diz que os mandados de busca e apreensão muitas vezes não são específicos e pormenorizados, como está previsto no Estatuto da Advocacia. “Isso não vem sendo muito observado no Brasil, os mandados permanecem em boa parte genéricos, os escritórios são invadidos e são apreendidos computadores, onde se guardam documentos e informações de todos os clientes daquele advogado, não apenas do cliente investigado”, disse.
Mesmo entre quem defende a mudança, entretanto, há quem critique a redação da proposta, principalmente pela exigência de “provas periciadas e validadas pelo Poder Judiciário” para autorizar a busca e apreensão. Este ponto também é criticado pelo presidente da Ajufe, porque, segundo ele, faria com se invertesse a ordem do processo. O advogado criminalista e presidente do Instituto Baiano de Direito Processual Penal Vinícius Assumpção concorda que o uso do termo pode gerar questionamentos. Ele explica que a expressão prova validada judicialmente não tem uma tradução legal exata, e que ela pode dar a entender que é preciso que o Judiciário se manifeste primeiro sobre uma prova, para só então a busca e apreensão ser autorizada. “É demandar do Judiciário a apreciação de elementos que somente o processo de fato vai permitir que sejam postas em debate”, explica.
Em seu parecer, o relator do projeto de lei, o deputado Lafayette de Andrada (Republicanos-MG) propôs uma redação alternativa que retirou a expressão. Para Assumpção, a alternativa dada pelo relator neste ponto é mais técnica e afasta parte das críticas. Já a advogada e professora de direito penal na FGV-SP Raquel Scalcon acredita que seria necessário um controle maior sobre buscas e apreensão no geral. “Eu defenderia inclusive uma mudança nesse sentido [do projeto de lei] no Código de Processo Penal, não apenas para escritórios.” Segundo Scalcon, o problema está na fundamentação para realização de busca e apreensão. "O problema é que o Código de Processo Penal diz hoje que a busca está autorizada quando 'fundadas razões' a autorizarem. O que são fundadas razões? O que não são fundadas razões?", questiona ela. "O ideal seria conceituar isso e ainda dar exemplos do que não seriam fundadas razões". No entanto, em relação ao projeto de lei que foi apresentado, Scalcon vê problema na redação devido ao uso de termos imprecisos do ponto de vista jurídico, como indício e prova validada judicialmente. “Uma busca e apreensão é algo que vai ser imediatamente noticiado. Tem uma questão sobre a imagem que, por mais que você diga [depois] ‘ele é inocente, não vamos nem denunciar, ou ele é absolvido’, a perda na imagem é irreparável, demora muito tempo para reparar isso”, disse.

*”Presidente de Portugal se reelege; populista fica em 3º”*

TODA MÍDIA - *”China atrai e vai se tornando 'a economia indispensável'”*: Na manchete do Wall Street Journal ao longo do domingo, "China ultrapassa Estados Unidos como destino número 1 para novos investimentos estrangeiros" (abaixo, com Xangai em novembro). Em letras menores, "EUA ocuparam o primeiro lugar por décadas". Foi o foco principal de outros veículos financeiros americanos, como CNBC, com a avaliação de que o presidente Xi Jinping, que abre o Fórum Econômico Mundial nesta segunda, "está posicionando a China como a economia indispensável". Para o WSJ, os dados mostram que "a pandemia acentua a mudança no centro de gravidade da economia global" para a Ásia. Cita investimentos crescentes de Walmart, Tesla e Disney na China, em contraponto aos quatro anos de pressão da Casa Branca para as empresas americanas deixarem o país. Os dados da ONU mostram ainda que os novos investimentos externos caíram pela metade no Brasil, em linha com outras economias maiores da América Latina —com exceção do México, com queda inferior a 10%.
BIDEN & AMLO
O Council on Foreign Relations chegou a comparar o presidente do México a um "cachorro" rosnando para os EUA, no New York Times, mas o jogo pesado dos lobbies de Washington não funcionou e Joe Biden ligou para Andrés Manuel López Obrador. Abordaram imigração e comércio, segundo agências, com o americano prometendo rever as políticas "draconianas" de seu país. "O México é o maior parceiro comercial dos EUA" hoje, explicou a Bloomberg.
PERDIDO NA TRADUÇÃO
Os ataques a AMLO em Washington se acentuaram depois que ele exigiu e obteve o retorno de um ex-ministro mexicano de defesa, preso no aeroporto nos EUA por suposta ligação com tráfico. Sites mexicanos e americanos, como Vice, tiveram acesso às evidências e apontaram erros primários de tradução dos investigadores americanos, em pontos centrais da acusação, e inconsistência na própria atribuição de mensagens ao ex-ministro.
'AMERICA FIRST' 2
O WSJ noticiou que Biden detalha nesta segunda-feira a sua proposta "Compre [produto] Americano", que está sendo "vista com desconfiança por outros países". Em especial, pelo Canadá, já atingido com a suspensão do oleoduto Keystone pelo novo presidente. Também Donald Trump teve o seu "Buy American", sublinhou o jornal, questionando os efeitos da iniciativa.

MATHIAS ALENCASTRO - *”Geopolítica da vacina só vai melhorar se Bolsonaro abolir campanha anti-China”*
*”Na Índia, campanha de vacinação vê resistência de profissionais de saúde”*
*”Kremlin diz que manifestações pró-Navalni não irão 'balançar o barco' de Putin”*
*”Em discurso, Maduro diz que Venezuela está disposta a virar a página com governo Biden”*

*”Cidades com melhor desempenho no emprego receberam mais auxílio emergencial”* - Os municípios que tiveram os melhores resultados na geração de empregos com carteira assinada durante a pandemia são, em sua maioria, localidades que tiveram uma maior cobertura no pagamento do auxílio emergencial. Entre as 500 cidades com melhor desempenho no mercado formal de trabalho de março a novembro, 357 têm mais beneficiários do programa do que a média nacional. O número representa 71,4% dos municípios que ficaram no topo do ranking do emprego na pandemia. O pagamento do auxílio emergencial está mais presente nesses municípios do que no restante do país. De todas as 5.570 cidades do Brasil, 57,1% tiveram uma cobertura acima da média nacional. Para a economista Cecília Machado, professora da EPGE (Escola Brasileira de Economia e Finanças) da FGV e colunista da Folha, era esperado que o auxílio tornasse a economia mais dinâmica durante o pagamento do benefício, especialmente das cidades menos populosas e de mais baixa renda. Em alguns casos, como nos lares atendidos pelo Bolsa Família, o valor recebido em 2020 superou a renda de anos anteriores. "Os recursos acabaram gerando consumo nessas cidades. Mas o consumo gerado pelo auxílio não pode ser visto como a melhor política de emprego. Esses empregos não estavam lá antes por outros motivos", afirmou.
A ajuda financeira destinada a desempregados e trabalhadores informais no ano passado foi responsável pela sobrevida da atividade econômica em muitos locais, suavizando o impacto da crise da Covid-19 no PIB (Produto Interno Bruto) do país. A transferência temporária de renda, que variou de R$ 300 a R$ 1.200, beneficiou 67,9 milhões de pessoas, o que representa 32,1% da população brasileira. De maneira geral, o Brasil fechou vagas com carteira assinada (tipo de contratação mais cara para o empregador) desde o início da pandemia, apesar dos resultados positivos nos últimos meses. Ao todo, foram fechados 112 mil postos de trabalho de março a novembro de 2020 —dado mais recente do Caged (Cadastro Geral de Empregados e Desempregados), divulgado pelo Ministério da Economia. Nos municípios onde a cobertura do auxílio emergencial ficou acima da média nacional, houve um saldo positivo de vagas nesse período: 105 mil vagas. Nas localidades em que o pagamento do benefício foi menor do que no total do país, houve um resultado negativo de 217 mil postos. Os 500 municípios do topo do ranking do emprego são aqueles que apresentaram, em novembro, o melhor saldo proporcional de vagas formais em comparação com a quantidade de carteiras assinadas que existiam antes da pandemia, em março. São principalmente cidades pequenas, que representam pouco mais de 1% do mercado de trabalho nacional. Nesses locais, foram criados 156.600 postos de março a novembro —o que representa um crescimento de mais de 20% do estoque de vagas que existia antes da pandemia. Quase metade desses 500 municípios com alto índice de criação de vagas formais fica no Nordeste: são 247 cidades dos nove estados da região.
Ao longo da pandemia, dados do governo já apontavam que o benefício teve um impacto significativo na economia do Nordeste. Isso explica parte do desempenho do mercado de trabalho. O efeito estimado foi de 5% sobre a atividade de municípios da região nos primeiros meses em que o benefício foi pago. Ao fim do programa, em dezembro, o Ministério da Economia afirmou que a gradual retomada da economia no país provocou "uma redução expressiva no grau de dependência das famílias" ao longo da pandemia. Em setembro, o valor do benefício, que era de R$ 600, foi cortado pela metade. No fim do ano, o governo decidiu não prorrogar a transferência. Diante do repique no número de infecções e de mortes relacionadas à Covid-19, alguns estados estão retomando medidas de distanciamento social, o que reacendeu o debate sobre a necessidade de volta do auxílio emergencial em 2021. Na sexta-feira (22), secretários de Fazenda, Finanças ou Tributação de 18 estados pediram, em carta dirigida ao Congresso, a ajuda dos parlamentares para que o governo federal estenda o benefício em virtude da pandemia da Covid-19. O Ministério da Economia tenta resistir à pressão. O argumento é que o custo de uma nova rodada de pagamentos prejudicará ainda mais a saúde das contas públicas, visto que o rombo sofreu forte expansão no ano passado.
Machado diz acreditar que, se o benefício for retomado, o programa tem de ser menor. "Muito cirúrgico", completou, de forma que os recursos sejam transferidos para aqueles realmente afetados pelas medidas de restrição. "O mercado de trabalho formal tem se recuperado, mas há incertezas em relação ao futuro. A pandemia tem evoluído, e a retomada plena da economia depende da vacinação [contra a Covid-19]", disse a economista. Para Aninho Mucundramo Irachande, professor do Instituto de Ciência Política da UnB (Universidade de Brasília), o benefício emergencial acabou tendo um efeito colateral: aumento da inflação. Com isso, a renda dos mais pobres, em 2021, sem o auxílio, deve ser corroída. Por isso, ele diz acreditar que o programa, inclusive por pressões políticas, será restabelecido em um modelo muito semelhante ao que vigorou em 2020. "Mesmo com o novo aumento do número de mortes, não acho que o impacto da pandemia no mercado formal em 2021 será como antes. Já temos a experiência da primeira onda [do coronavírus], quando as atividades foram sendo retomadas após alguns meses. Além disso, demitir funcionário com carteira assinada é caro no Brasil e, depois, será difícil preencher a vaga", disse Irachande. Para gerar mais empregos e estimular a formalização, o ministro Paulo Guedes (Economia) aposta na redução do custo de contratação. No entanto, as principais medidas em estudo pela pasta dependem de apoio da ala política do governo e do Congresso, que são resistentes à proposta de criação de um imposto semelhante à CPMF para bancar a desoneração da folha de pagamentos. Além da dificuldade de conseguir reduzir os encargos sobre os contratos formais de trabalho, o governo não conseguiu ainda achar uma solução permanente para a promessa de ampliar o Bolsa Família. Com poucos recursos no Orçamento, o programa social atendeu em janeiro a menos famílias do que no ano passado, elevando a pressão política pela prorrogação do auxílio emergencial.

OPINIÃO - *”Concentração de riqueza no Brasil é ainda maior que a de renda”*
PAINEL S.A. - *”Pandemia derruba oferta de trabalho para pessoas com deficiência”*
PAINEL S.A. - *”Restaurantes podem não respeitar fechamento aos finais de semana em SP, diz setor”*
PAINEL S.A. - *”Shopping Center Norte lança comércio eletrônico em fevereiro”*

PAINEL S.A. - *”Serviços para reformas e mudanças foram os mais buscados em 2020, diz empresa”*
PAINEL S.A. - *”Profissionais de saúde pública passaram mais de 120 mil horas em reuniões virtuais para combate à Covid-19”*
*”Investidor precisa diversificar mais para vencer a inflação, dizem analistas”*
MARCIA DESSEN - *”Debêntures participativas de emissão da Vale”*

RONALDO LEMOS - *”Incríveis obras em domínio público em 2021”*
*”Confiança na economia é central para superar crise da Covid-19, diz Davos”*
*”Startup americana abre processo seletivo para presidente negro no Brasil”*
*”Ibope Inteligência, que faz pesquisas de opinião, irá fechar no fim de janeiro”*

*”Poluição volta a 'velho normal' em SP após melhora inicial com quarentena”*

*”Reconhecimento de recusa de oferta da Pfizer amplia críticas a atuação de Bolsonaro na pandemia”* - Após o Ministério da Saúde reconhecer ter recusado tentativas iniciais da Pfizer para vender vacinas ao país, as críticas à gestão do governo de Jair Bolsonaro (sem partido) na pandemia aumentaram. Partidos de oposição voltaram a pedir o impeachment do presidente. Apesar de a americana Pfizer ter chegado a enviar uma carta de intenção para a venda de 70 milhões de doses ao Brasil, a pasta de Eduardo Pazuello (Saúde) afirmou, em nota neste sábado (23), que um acordo com a empresa "causaria frustração em todos os brasileiros". A companhia procurou o governo, mas não houve avanços. Em dezembro, o presidente da Pfizer no Brasil, Carlos Murillo, disse que seria possível começar a vacinação quase imediatamente após um registro emergencial da Anvisa (Agência Nacional de Vigilância Sanitária). Dependendo da celeridade do órgão, as doses poderiam ser aplicadas já em janeiro. Em reunião virtual com deputados, ele chegou a se comprometer com a entrega das doses até os pontos de vacinação a serem definidos pelo governo, não só o desembarque em um aeroporto brasileiro. Ao reconhecer que as negociações foram rejeitadas, o Ministério da Saúde afirmou que doses da Pfizer "seriam mais uma conquista de marketing, branding e growth [jargões do mundo corporativo relativos ao incremento da marca] para a produtora de vacina, como já vem acontecendo em outros países".
"Já para o Brasil, causaria frustração em todos os brasileiros, pois teríamos, com poucas doses, que escolher, num país continental com mais de 212 milhões de habitantes, quem seriam os eleitos a receberem a vacina", afirmou, em nota, o governo, alegando que empresa, que desenvolveu uma vacina em conjunto com a BioNTech, previa entrega de 2 milhões de doses no primeiro trimestre, "número considerado insuficiente pelo Brasil." A importação do mesmo montante (2 milhões) da vacina de Oxford pela Fiocruz na sexta-feira (22), por outro lado, foi celebrada pelo Ministério da Saúde, em meio a críticas e falhas que colocam em risco o cronograma de vacinação no Brasil, como a falta de insumos. Além disso, ao justificar a recusa às negociações com a empresa americana, o Ministério da Saúde e Palácio do Planalto não mencionaram o total que era negociado, previsto em 70 milhões de doses. Para a presidente do PT, deputada federal Gleisi Hoffmann (PR), a nota divulgada pelo governo “é pura confissão de culpa". "Perdemos 70 milhões de doses nessa brincadeira!”. “É a confissão de um crime: a sabotagem da vacinação no Brasil”, escreveu o deputado Marcelo Freixo (PSOL) numa rede social. Partidos de esquerda usam as críticas à atuação de Bolsonaro na pandemia para sustentar pedidos pela abertura de um processo de impeachment. O Ministério da Saúde ficou pressionado após a "CNN Brasil" divulgar uma carta encaminhada pelo CEO mundial da Pfizer, Albert Bourla, ao presidente Jair Bolsonaro e alguns ministros em 12 de setembro.
O documento mostra que a empresa fez um apelo para que o governo fosse célere em fechar um acordo com a empresa devido à alta demanda mundial pela vacina. "Quero fazer todos os esforços possíveis para garantir que doses de nossa futura vacina sejam reservadas para a população brasileira, porém celeridade é crucial devido à alta demanda de outros países e ao número limitado de doses em 2020”, dizia o documento, segundo divulgado pela emissora. Em resposta, o governo confirma ter recebido a carta e ter feito reuniões com a empresa, mas diz que "cláusulas leoninas e abusivas que foram estabelecidas pelo laboratório criam uma barreira de negociação e compra". Entre as cláusulas, estão que o Brasil fizesse um fundo garantidor em conta no exterior e que fosse assinado um termo que isentasse a empresa de responsabilidade por eventuais efeitos da vacina. Para o governo, "representantes da Pfizer tentam desconstruir um trabalho de imunização que já está acontecendo em todo o país, criando situações constrangedoras para o governo brasileiro, que não aceitarão (sic) impos ições de mercado". Como argumento, o governo cita o total de contratos já obtidos de vacinas, que envolvem 354 milhões de doses –destes, no entanto, boa parte ainda são dependentes da liberação de insumos da China para que possa haver produção no Brasil. Em meio às críticas, a nota diz ainda que "em nenhum momento fechou as portas para a Pfizer", mas que aguarda "posicionamento diferente do laboratório". O governo também argumenta que a vacina da Pfizer precisa ser armazenada e transportada entre -70°C e -80°C, mas não cita que a empresa apresentou uma solução para isso. O Ministério da Saúde ressaltou ainda que o laboratório não disponibiliza o diluente para cada dose, que ficaria a cargo do comprador; não apresentou sequer a minuta do seu contrato e tampouco tem uma data de previsão de protocolo da solicitação de autorização para uso emergencial ou mesmo o registro junto à Anvisa.
Nos últimos dias, a Pfizer tem informado que as cláusulas seguem o modelo de contratos com outros países. Nos bastidores, a empresa tem apontado ainda que só deve pedir aval para uso emergencial de doses de vacinas no Brasil caso tenha um contrato fechado com o governo. Até agora o Brasil tem duas vacinas: a de Oxford e a Coronavac. Ambas tiveram seu uso emergencial aprovado pela Anvisa no último dia 17. Os primeiros vacinados com o imunizante de Oxford/Astrazeneca no Brasil foram médicos da Fiocruz. A fundação aplicou as doses em um evento neste sábado (22) no Rio de Janeiro, enquanto as remessas que chegaram da Índia eram entregues ao Ministério da Saúde. A fila começou com três médicos, e depois mais sete trabalhadores da saúde da linha de frente contra a COVID-19. A pesquisadora Margareth Dalcomo, que tem se destacado na defesa da vacina durante a pandemia, foi um deles. “Vai chegar o dia em que nós realmente vamos poder comemorar”, disse ela. “Hoje é um dia simbólico, mas nós vamos comemorar de verdade quando tivermos 70% da população brasileira vacinada, com as duas boas vacinas produzidas pelos dois grandes laboratórios brasileiros, Fiocruz e Butantan.”

*”Sob pressão para sair do cargo, Pazuello viaja a Manaus sem 'voo de volta'”*
TABATA AMARAL - *”É o povo quem decide”*
*”O mau exemplo do STF na pandemia: aglomeração, omissão de diagnóstico e tentativa de furar fila”*

*”Em colapso, Rondônia anuncia transferência de doentes com Covid-19 e pede médicos”* - O governador de Rondônia, Marcos Rocha (PSL), anunciou em pronunciamento sábado (23) à noite que chegou a um acordo com o governo federal para transferir pacientes que estão em fila de espera para tratamento da Covid-19. Sem vagas para mais atendimentos, ele fez ainda um apelo para que médicos vão até o estado ajudar as equipes de saúde. "Temos equipes, mas tem uma profissão que faz grande falta: os médicos, aqueles que vão comandar essas equipes. Eu faço um apelo ao senhor doutor, a senhora doutor que, por favor, venha nos ajudar, ajudar os rondonienses porque nós temos os leitos, mas está faltando o senhor e a senhora para ajudar os demais integrantes da equipe de saúde", afirmou. Segundo Rocha, um contato feito ontem com o ministro da Saúde, Eduardo Pazuello, garantiu que o governo federal deve transferir pacientes e ajudar a desafogar a rede de saúde sem vagas para novos pacientes. No sábado, 543 pessoas estavam internadas tratando a doença em hospitais de Rondônia. "Nós passamos o dia em contato com o governo federal, com o general Pazuello, e ele de pronto disse que iria atender o nosso pedido e de fazer a transferência dos pacientes que estão na fila de espera e quantos mais forem necessários para outros hospitais federais do nosso país", disse. O estado enfrenta um aumento sem precedentes no número de casos confirmados, que mais que quintuplicou em apenas três semanas: em 1º de janeiro foram confirmados 270 casos, e na sexta foram 1.422. Ontem o estado confirmou mais 933 casos e 12 mortes.
Diante do cenário, o governador fez um apelo para que a população não faça festas e aglomerações. "Eu tive essa doença, sei como ela é ruim. Eu perdi amigos, perdi ontem, inclusive, um grande amigo. Não podemos permitir que essa doença se amplie. Então, rondonienses, vamos manter a união de não disseminarmos esse vírus maldito que tem dilacerado famílias. Esse vírus não escolhe rico ou pobre; homem ou mulher; preto ou branco", diz. Ontem, o prefeito de Porto Velho, Hildon Chaves (PSDB), disse que o sistema de saúde da capital e do estado de Rondônia estão em colapso. A suspeita é que a nova variante com origem no estado vizinho, o Amazonas, seja responsável pela explosão de casos. "A situação hoje é muito mais grave daquela que tivemos no auge da pandemia em junho e julho. Hoje o sistema de saúde de Porto Velho está em colapso, todos os leitos da prefeitura e do governo estão ocupados. Provavelmente viveremos uma situação parecida com a que vimos no Amazonas", diz. Segundo o prefeito, assim como relataram médicos ao UOL, os casos atuais que chegam de Covid-19 estão com maior gravidade e com avanço muito mais rápido que visto na primeira onda. "Nós não temos a confirmação científica ainda [que a nova cepa de origem do Amazonas] está circulando aqui, mas a probabilidade e os sintomas hoje são muito parecidos: há um agravamento muito rápido; o que antes levava uma semana a dez hoje está em coisa de três, quatro dias. Isso leva a um estresse muito rápido a rede", afirma.

ENTREVISTA DA 2ª - *”Esquerda precisa sair da bolha e dialogar com direita na educação, diz professor”*: Com forte presença em sindicatos e em parte da academia, segmentos da esquerda ligados à educação resistiram ao ensino remoto no início da pandemia do coronavírus e, agora, grande parte opõem-se à retomada das aulas presenciais. Para o professor Gregório Grisa, esse campo político tem se isolado cada vez mais no debate educacional e precisa dialogar com setores de direita e centro-direita se quiser contribuir para mudanças efetivas na área. A crítica vem de dentro. Docente do Instituto Federal do Rio Grande do Sul, mestre e doutor em educação pela UFRGS (federal do RS), com pós-doutorado em sociologia pela mesma universidade, Grisa se define como alguém de centro-esquerda. Em recente artigo, ele defendeu a necessidade de uma autocrítica no campo progressista, que definiu como constituído de grupos mais à esquerda. Esse olhar para dentro, em seu entendimento, seria vital para entender como movimentos como o Escola Sem Partido ganharam respaldo no país e por que ONGs empresariais têm tomado da academia e de outras entidades educacionais o protagonismo no debate público da área. “A posição de provocador nem sempre é confortável, mas reputo necessário que a esquerda ou centro-esquerda oxigene suas práticas e premissas na educação”, disse em entrevista à Folha. "Temos dificuldade para olhar os nossos dogmas e identificar nossas responsabilidades em todo o processo histórico recente.”
- O senhor fez recentemente um texto com “uma provocação ao campo progressista na educação”. Como viu o posicionamento desse campo em relação à educação na pandemia?
- No início da pandemia, o debate central era ofertar ensino remoto ou não, depois a necessidade de fazê-lo se tornou imperiosa. Em maio de 2020, já afirmei que os setores que se agarravam ao princípio da igualdade de acesso para que nada fosse oferecido estavam cometendo uma injustiça com os mais pobres. Também defendi que a escola é um cinturão de proteção social que deve se manter ativo. A longa duração da inatividade das escolas estava no horizonte, e já eram claros os indícios de que o governo federal não iria liderar nenhuma coordenação para o retorno delas e que teria grandes dificuldades em combater a doença. Penso que a resistência inicial com a oferta de ensino remoto por parte de alguns grupos do campo progressista inibiu, em alguma medida, a capacidade de planejamento de escolas e redes em relação ao que era possível fazer. Com o passar do tempo isso foi mais bem contornado. Por outro lado, me filio às exigências de que para garantir segurança e cumprir protocolos sanitários é necessário recursos extras e priorização política para a educação.

- De que forma a resistência inicial à oferta de ensino remoto inibiu a capacidade de planejamento?
- Quando me refiro à resistência inicial, falo tanto do sentimento de que o fechamento das escolas não iria durar tanto e que se poderia aguardar um tempo sem atividades, quanto da resistência inicial fundada na tese de que ofertar atividades remotas poderia ferir alguma isonomia. Enquanto ficamos debatendo à exaustão questões conceituais, o tempo foi passando, e o planejamento foi afetado. Mas não se pode confundir essa crítica com qualquer culpabilização dos professores em relação à qualidade da oferta do ensino remoto. Esses profissionais tiveram de se reinventar e viram seus trabalhos se precarizarem. Não pode ser assim.

- Sindicatos de professores que, no início da pandemia, eram contra o ensino EAD, hoje também se opõem à volta às aulas presenciais. No caso de São Paulo, pregam a volta só após a vacinação da população, o que deverá levar meses. Como vê essa postura?
- É difícil comentar sobre um estado ou cidade em específico. Os sindicatos são plenos de direitos para tomarem suas posições e ações políticas, algo absolutamente legítimo. Minha posição é de que é fundamental empreender todos os esforços para que as escolas de educação básica reabram o quanto antes, em segurança. Há regiões em que a situação para janeiro ou fevereiro será muito complicada, entretanto, há contextos em que se pode começar a retomada, com revezamento e inicialmente de forma híbrida. A experiência de vários países demonstra que a reabertura das escolas não causou um aumento significativo do contágio, o desafio é garantir os protocolos e isso não pode ser pensado sem envolver toda a comunidade escolar. Profissionais no grupo de risco devem ser preservados e os professores devem estar entre os primeiros a serem vacinados. Minha posição também decorre da não idealização do isolamento social por parte dos estudantes, em especial os mais pobres. Essas crianças e jovens estão sujeitas ao vírus, infelizmente. Se garantirmos distanciamento social na escola, mais atividades ao ar livre, em espaços ventilados, com EPIs, teremos os profissionais preservados também.

- O senhor cita a escassez de pesquisas com evidências empíricas e estatísticas na área educacional. Acrescento que os economistas parecem ter ganhado espaço nessa área. Por que isso ocorre? A formação dos pesquisadores da área educacional é falha? Há preconceito com métricas?
- Não se trata de a área educacional ter uma formação falha para a pesquisa, mas de ela priorizar em demasia as dimensões principiológicas, políticas, ensaísticas, teóricas. Essas abordagens constituem o campo e são importantes, mas a realidade vem demandando que se ampliem as pesquisas empíricas que aliem métodos qualitativos aos quantitativos, que sejam longitudinais e façam mais avaliações dos resultados práticos das ações e políticas educacionais. A cultura de produzir pesquisa nesses moldes parece ser mais disseminada no campo da economia e o protagonismo dos profissionais dessa área no debate educacional também se deve a isso, afora o maior prestígio social e uma maior circulação desses profissionais nas instituições políticas e na própria imprensa. Vale dizer que há sim pesquisas na educação que recorrem a metodologias calcadas em estatística, mas não é a regra. Não diria que existe um preconceito generalizado em relação a métricas, mas o fato de metodologias quantitativas não terem tanto espaço na formação faz com que elas sejam vistas como ferramentas “de outras áreas”. Há o elemento político também, quando se fala em métricas, muitos as remetem a “testes padronizados”, “rankings” a uma espécie de “medição” do que é a aprendizagem. Alguns setores não simpatizam com essas avaliações sob o argumento de que elas não abarcam a complexidade dos fenômenos educativos. Realmente elas têm muitos limites, mas são ferramentas importantes.

- Quais as consequências para a esquerda dessa postura mais reativa em relação à educação no debate público?
- A consequência é ficar cada vez mais ensimesmada, crendo se fortalecer em círculos em que já tem hegemonia. Por basicamente dois motivos a esquerda não pode tomar a educação como uma pauta em que apenas ela pode dar as cartas. O primeiro é que a população brasileira não é de esquerda em sua maioria. Pesquisas de opinião que aferem as preferências das pessoas em relação aos costumes e temas morais mostram como o brasileiro tem um perfil conservador. O segundo é que, se pensarmos nas recentes eleições municipais, a gestão educacional brasileira (educação infantil e ensino fundamental) está, na ampla maioria dos casos, nas mãos de partido de direita ou de centro-direita. Prefeitos do PSDB vão governar o maior número de habitantes, pois venceram nas grandes cidades. Não há como pensar em incidir na melhoria da educação pública sem um amplo e perene diálogo com estes setores políticos. Em tempos de debate sobre “frente ampla”, resta evidente que nenhuma corrente ideológica conseguirá governar o país de forma unilateral, sem fazer política e compor. Para angariar a confiança das pessoas e de fato modificar o padrão de financiamento e de qualidade da educação, teremos de tornar essa uma pauta da maioria das forças políticas, para além do discurso.

- Qual pauta educacional da esquerda poderia ser encampada por essas administrações de direita ou centro-direita? É possível pensar em algum exemplo?
- Para dar alguns exemplos, divido as pautas em estruturais e curriculares. Entre as estruturais, uma pauta que deveria ser de todos, mas que a esquerda destaca com mais frequência, é a qualificação das condições de trabalho dos professores e da infraestrutura das escolas. A lei do Piso Salarial do Magistério prevê que o docente tem direito de que um terço da composição da sua carga horária seja dedicada para planejamento, estudos e correções das avaliações. Isso muitas vezes não é respeitado, a sobrecarga de horas aula é comum em muitas redes. Com o advento de um Fundeb mais equitativo e com recursos adicionais nos próximos anos, é importante que as gestões encampem a ideia de que as escolas devem ser espaços dignos, com instalações minimamente descentes. O gargalo brasileiro em termos de infraestrutura é enorme, e no debate sobre a regulamentação do CAQ (Custo Aluno Qualidade) teremos a oportunidade de mexer no desenho e no padrão de financiamento da educação básica. A formação continuada garantida de forma qualificada e frequente é outra pauta que pode ser construída junto às diferentes gestões do país. Cito também o atendimento à primeira infância com a garantia de creche de qualidade, em especial para a população mais vulnerável. Entre as pautas curriculares, uma importante é a real implementação da Lei 10.639/2003 [sobre ensino de história e cultura afrobrasileira] e das Diretrizes Curriculares das para a Educação das Relações Étnico-Raciais. Embora a esquerda tenha uma voz mais ativa em relação a essa questão, penso que se trata de pauta transversal. E cito ainda o respeito à liberdade de cátedra dos professores, a garantia de autonomia das redes e escolas para definirem suas metodologias, seus projetos e, principalmente, a parte diversificada do currículo. Vivemos um tempo em que tais garantias são pautas legítimas do campo progressista e elas devem ser respeitadas pelas gestões locais e regionais.

- De que forma o isolamento da esquerda no debate educacional está ligado à receptividade de ideias como as do movimento Escola Sem Partido no Brasil?
- Antes de mais nada é importante registrar que esse movimento merece todas as derrotas que já sofreu no STF, que praticamente o soterrou do ponto de vista jurídico. As causas pelas quais parte da sociedade simpatiza ou apoia movimentos como esses são várias, não pretendo entrar nesse particular. O que posso comentar é que, quando me deparo com formações e debates educacionais constituídos de falas unívocas, por vezes panfletárias, que misturam a fala do sindicato com o da atividade que deveria ter um caráter técnico ligado a profissão, penso que isso pode ter favorecido a receptividade dessas ideias pela população. Inúmeras vezes percebi a comunidade escolar saturada dessas experiências. O desafio da esquerda parece ser, além de tentar compreender as razões políticas e sociológicas que permitiram a eclosão de um conservadorismo autoritário, o de identificar como sua postura pode ter contribuído para isso. Como sair da bolha adotando narrativas que só fazem sentido para a bolha? Como deixar de pregar para convertidos se é exatamente o que é feito nos debates da área?

- Agora queria propor um olhar sobre outro lado, o das ONGs e institutos de educação ligados ao empresariado e ao setor financeiro, que costumam ser vistos com desconfiança pela esquerda. Elas costumam apresentar seu trabalho como baseado em evidências. É possível existir um olhar meramente técnico, e não político, sobre as evidências? Essa postura também não interdita o debate, no sentido de que quem defende outra posição seria obscurantista?
- Esse mantra do “baseado em evidências” já soa como caricato para mim. Ninguém é dono das evidências, elas têm seus contextos e condicionantes, estão sujeitas a interpretações. O que existe são resultados que vão se consolidando com o tempo e dados que mostram que determinada medida irá provocar essa ou aquela externalidade. O adequado é que aqueles grupos que defendem seu argumento com as melhores evidências prosperassem no debate público, isso ocorreu no debate do Fundeb, mas em política não é sempre assim. Essa reivindicação das “evidências” tem em si um elemento estético e de linguagem também. Quanto mais você se apresenta dotado dos elementos usados nas áreas de prestígio das ciências, mais aceito e escutado você é. A educação é permeada pela política, como tudo. A gestão educacional é um processo complexo de trabalho coletivo que requer, entre outras coisas, o convencimento dos atores que estão na ponta. Mas a educação é permeada pela técnica também. Gestões que alcançam resultados satisfatórios são aquelas em que a maioria dos docentes se sentem capacitados para exercer seu trabalho e identificam que seus esforços, individuais e coletivos, produziram bons resultados. Entre as entidades privadas é preciso fazer distinções também. Muitas estão alinhadas a interesses específicos sim, de abertura de mercado para determinados grupos econômicos; já outras defendem determinada perspectiva por realmente terem aquela visão programática e política. Mas dialogar com as “ONG empresariais” é tido como sacrilégio para alguns grupos de esquerda.

*”Cachoeiras e trilhas no extremo sul de SP dão respiro à vida na metrópole”*
*”Ministro avalia que Inep 'acertou' em prever alta abstenção para organizar aplicação do Enem”*
*”Uma criança morre e dez pessoas ficam feridas após perseguição policial na Grande SP”*
*”Com forte chuva, Florianópolis registra morte de mãe e filha em desabamento de muro”*

MÔNICA BERGAMO - *”No Sudeste, 16% avaliam que nem Bolsonaro nem Doria fazem diferença no combate à Covid-19, mostra Datafolha”*: No Sudeste, cujo maior estado é São Paulo, governado por João Doria (PSDB-SP), 16% das pessoas acreditam que nem o tucano nem o presidente Jair Bolsonaro estão fazendo diferença no combate à epidemia do novo coronavírus. O índice é superior aos registrados nas demais regiões do país, que ficam entre 7% e 8%, segundo pesquisa feita pelo Datafolha. Na região Sul, apenas 12% avaliam que seus governadores vêm tendo um desempenho ruim ou péssimo no combate à Covid-19, ante 24% no Nordeste, 25% no conjunto das regiões Norte e Centro-Oeste e 32% no Sudeste.​

MÔNICA BERGAMO - *”Senador convoca ministro da Educação para esclarecer falhas na aplicação do Enem”*
MÔNICA BERGAMO - *”Prefeitura de SP chega a 2 milhões de marmitas distribuídas a população de rua”*
MÔNICA BERGAMO - *”CineSesc lança podcast que veiculará conversas com cineastas paulistanos”*
MÔNICA BERGAMO - *”Renata Carvalho será curadora da Semana da Visibilidade Trans da Casa 1”*

MÔNICA BERGAMO - *”Livro de direito internacional com artigos de ministros do STF e do STJ será lançado no dia 28”*: O professor da Faculdade de Direito da USP Gustavo Monaco e a procuradora federal Maria Rosa Loula coordenam dois volumes da obra “Direito Internacional e Comparado: Trajetória e Perspectivas”, que traz artigos de ministros do Supremo Tribunal Federal e de ministros do Superior Tribunal de Justiça. Os livros serão lançados no dia 28 de janeiro, às 11h, em live no YouTube. O evento terá a participação do professor catedrático da Universidade de Coimbra, em Portugal, Rui Manuel Moura Ramos, que é homenageado na obra.

CAPA – Manchete principal: *”Na pandemia, exclusão digital agrava desigualdade”*

*”Disputa nos bastidores – Três evangélicos tentam se cacifar para vaga que será aberta no STf em julho”* - A promoção do juiz federal carioca William Douglas dos Santos a desembargador no Tribunal Regional Federal da 2ª Região, prevista para fevereiro, vai expor mais um lance da disputa silenciosa que ocorre nos bastidores pela próxima vaga de ministro do Supremo Tribunal Federal (STF), a ser indicada em julho, após a aposentadoria do ministro Marco Aurélio Mello. Juízes de primeiro grau costumam ser preteridos na corrida que, além de William Douglas, já tem outros dois nomes se movimentando nos bastidores: o ministro da Justiça, André Mendonça, e o presidente do Superior Tribunal de Justiça (STJ), Humberto Martins. No fim do ano passado, o senador Flávio Bolsonaro (Republicanos-RJ) recebeu em seu gabinete o juiz carioca que vai virar desembargador para tratar da nomeação. O magistrado é o preferido de lideranças evangélicas como o bispo Estevam Hernandes, da Igreja Renascer em Cristo, e o missionário R.R. Soares, da Igreja Internacional da Graça de Deus, além de ser visto com bons olhos pela maioria da bancada da Bíblia no Congresso Nacional.
— Os evangélicos já representam quase 40% da população e não há nenhum ministro evangélico no STF, apenas católicos e judeus. André Mendonça é um bom nome, mas talvez não tenha a capacidade jurídica de William Douglas — afirma R.R. Soares, da Igreja Internacional da Graça de Deus. — Ele é um homem íntegro, de família, com princípios e valores cristãos. Seria um bom nome, mas há outros — completa Estevam Hernandes.
Quem colocou as igrejas como atores preponderantes no processo foi o próprio presidente Jair Bolsonaro. Em 2019, ele prometeu entregar uma das duas vagas que tem direito a preencher durante o mandato para alguém “terrivelmente evangélico”. Quando selecionou o piauaiense Kassio Nunes Marques para a vaga do decano Celso de Mello, Bolsonaro deixou as lideranças irritadas por não serem contempladas. O pastor Silas Malafaia, líder da Assembleia de Deus Vitória em Cristo e um dos seus principais apoiadores, gravou vídeos contra a escolha, e o rompimento da aliança com o Planalto quase aconteceu. Em outubro do ano passado, para aplacar a ira da bancada evangélica, o presidente dobrou a aposta no discurso e disse em evento da Assembleia de Deus que escolheria não apenas um fiel, mas um pastor para o STF. Se realmente cumprir a promessa, apenas William Douglas e André Mendonça preencheriam os requisitos. Malafaia, que até o ano passado apresentava-se como defensor do nome de William Douglas, passou a não se opor mais caso o ministro da Justiça de Bolsonaro seja indicado. “Ele contemplaria os evangélicos”, tem dito a interlocutores. Nas últimas semanas, André Mendonça subiu na bolsa de apostas para a Corte por dois motivos: tem se mostrado leal ao presidente, seja batendo recorde de abertura de inquéritos com base na Lei de Segurança Nacional em cima de críticos do Planalto ou atacando seus adversários (no fim do ano disparou nas redes contra o ex-ministro Sergio Moro). Além disso, Mendonça não é rejeitado no STF, sendo elogiado com frequência pelo presidente Luiz Fux.
— André representa os nossos valores, é um grande jurista e tem experiência em Brasília. Sabe como a engrenagem funciona — afirma o deputado federal Marco Feliciano (Republicanos-SP), um dos mais próximos de Bolsonaro na bancada evangélica.
As trajetórias dos dois favoritos ao posto são distintas. William Douglas, de 53 anos, tem no currículo três décadas como advogado, delegado, defensor público e juiz, além de uma carreira de sucesso com a venda de livros (são 59 ao todo nas áreas de preparo para concursos públicos, desenvolvimento pessoal e outros). Já Mendonça, de 48 anos, começou como advogado da BR Distribuidora e ingressou na carreira de advogado da União em 2000, onde exerceu diversas funções até ser nomeado no início do governo Bolsonaro como chefe da Advocacia-Geral da União (AGU).
Universal sem posição
Atualmente, o que une William Douglas e Mendonça são as críticas de quem quer trabalhar contra a nomeação de cada um. Mendonça é alvo de comentários negativos por ser presbiteriano e a igreja não ser representativa politicamente para o meio evangélico, além de ter um artigo publicado elogiando a eleição de Lula em 2002. Já William Douglas vem sendo questionado em segmentos conservadores por ser historicamente favorável a políticas afirmativas de inclusão, como as cotas para negros em universidades públicas. Por ora, é incerta a postura da Igreja Universal do Reino de Deus, a denominação evangélica brasileira com maior participação na política, controlada pelo bispo Edir Macedo. O presidente do Republicanos, o advogado Marcos Pereira, chegou a ser cogitado para a vaga, mas ele nega a ambição. Antes de ser preso, o ex-prefeito do Rio, Marcelo Crivella, sinalizou que sua intenção era apoiar o juiz William Douglas. Macedo ainda não se manifestou sobre o tema. Correndo por fora, o presidente do STJ, o adventista Humberto Martins, de 64 anos, vem aumentando seu cacife com dois movimentos: comparecendo a eventos evangélicos e sinalizando que sua nomeação poderia abrir outra vaga em uma corte superior. O alagoano tem como ativo a entrada em diferentes segmentos políticos. Foi nomeado por Lula para o STJ em 2006 com apoio do senador Renan Calheiros (MDB-AL). Hoje, mantém canal aberto com o deputado federal Arthur Lira (PP-AL) , rival de Calheiros e candidato apoiado por Bolsonaro na disputa pela presidência da Câmara. E é elogiado na família presidencial por ter aberto, de ofício, uma investigação no ano passado em cima do juiz Flávio Itabaiana, responsável pelas quebras de sigilo de Flávio Bolsonaro no inquérito das rachadinhas. Pesam contra o ministro as investidas da operação Lava-Jato contra o seu filho, Eduardo Martins, investigado por uma suposta influência em julgamentos na Corte.
— Humberto Martins é amigo e competente, assim como William Douglas e André Mendonça. Pena ter apenas uma vaga — afirma o bispo Robson Rodovalho, da Igreja Sara Nossa Terra.
Caso não atenda aos anseios evangélicos mais uma vez, o nome que voltou a circular na última semana como hipótese de nomeação é o do atual procurador-geral da República, Augusto Aras. Em comum, Aras, William Douglas, André Mendonça e Humberto Martins apresentam o mesmo tipo de discurso para o meio político: as operações de combate à corrupção dos últimos anos foram importantes, mas é preciso corrigir os excessos.

*”Alvo da PGR, Pazuello viaja para Manaus”*
ENTREVISTA: SIMONE TEBET, candidata à presidência do Senado – *”Não vejo ameaça à democracia no momento”*
*”Ausência pandêmica – Segundo dia de provas do Enem tem abstenção recorde de 55,3%”*

ENTREVISTA: Yin Weidong, CEO da Sinovac - *”A nossa vacina pode mudar o rumo da pandemia no Brasil”*: Comandante da Sinovac, a farmacêutica chinesa que produz uma das duas únicas vacinas contra a Covid-19 aprovadas até o momento no Brasil para uso emergencial, Yin Weidong defende a eficácia do imunizante que será produzido no país pelo Instituto Butantan. A CoronaVac é o imunizante, aposta, “capaz de frear a pandemia no Brasil”.
— Nosso foco é nos “três nãos”: não à necessidade de tratamento médico, não à doença severa e não à morte. De acordo com a fase três dos testes clínicos, esse objetivo pode ser alcançado — diz o CEO.
Yin disse ainda que a nova variante da Covid-19 detectada no Amazonas preocupa os chineses, mas que testes mostraram que a CoronaVac oferece proteção também para algumas das novas mutações do vírus. O novo surto de Covid-19 que colocou o gigante asiático em alerta nas últimas semanas acabou alterando na última hora o local da entrevista. É que a região em que se localiza a nova unidade da Sinovac onde está sendo fabricada a CoronaVac entrou em lockdown após a descoberta de novos casos do vírus. A Sinovac antecipou que o presidente da empresa não responderia a duas questões: sobre o envolvimento de Yin Weidong num caso de suborno a um funcionário de uma agência reguladora chinesa entre 2002 e 2011; e sobre detalhes do contrato da Sinovac com o Butantan que teriam impedido o instituto brasileiro de divulgar os resultados completos dos testes clínicos feitos no Brasil. Mais tarde, o laboratório enviou nota ao GLOBO em que esclarece que a Sinovac "está concentrada no progresso significativo da CoronaVac, fazendo a sua parte em uma missão extremamente importante para ajudar a combater a pandemia global. As alegações contra o presidente da Sinovac foram feitas mais de uma década atrás. Observamos que nem a empresa nem Yin jamais foram processados judicialmente por qualquer autoridade governamental em conexão com essas alegações". Já o acordo com o Instituto Butantan, informa a nota, "prevê que os resultados clínicos devem ser confirmados por ambas as partes. O objetivo é que os resultados sejam precisos e nós estávamos totalmente conscientes de que os resultados seriam eventualmente levados a público pela Anvisa para registrar a vacina".
- A CoronaVac pode frear a pandemia no Brasil?
- Este é o nosso objetivo. Encontramos no Instituto Butantan um parceiro com muitos anos de experiência na área de vacinas. Estou confiante em que podemos mudar a situação da pandemia no Brasil. Nosso objetivo é evitar que as pessoas, uma vez infectadas, necessitem de tratamento, de hospitalização, que corram risco de vida. Resolver esse problema significa reduzir o fardo para toda a sociedade. Nosso foco é nos “três nãos”: não à necessidade de tratamento médico, não à doença severa e não à morte. De acordo com a fase três dos testes clínicos, esse objetivo pode ser alcançado.

- Como vê a diferença entre as medidas de controle na China e no Brasil, onde o presidente Jair Bolsonaro inicialmente se opôs à aquisição da CoronaVac?
- A China adotou um sistema de isolamento obrigatório. Quando há uma infecção, o isolamento é feito de forma rápida e completa e temos kits de testes em quantidade suficiente para rapidamente rastrear os casos. Neste momento a China tem mais de 100 casos por dia, o que já é muito alto para nós. Mas não quero fazer julgamentos políticos ou de sociedades. Na China é muito fácil detectar a origem das infecções. No momento, a maioria é de casos importados. Na China há menos fontes de transmissão e facilidade de detecção e controle. O Brasil tem muitas fontes de transmissão, é muito difícil controlar. Sobre o presidente do Brasil e suas ações políticas, não estou muito a par, não posso comentar.

- Quando será o próximo envio dos insumos para a produção da CoronaVac no Brasil?
- A data exata não sei dizer, mas já fechamos o fornecimento de milhões de doses ao Butantan, mais até do que para o mercado chinês. Na China, fornecemos vacinas para mais de 20 províncias, cerca de 10 milhões de doses. Entendo a preocupação das pessoas. O mundo inteiro está ansioso para ter as vacinas, todos os governos estão na expectativa de tê-las. Há uma escassez planetária no suprimento de vacinas. Não é uma questão que afeta apenas a população brasileira. Nós faremos o máximo para implementar o fornecimento de acordo com o contrato. Construímos uma nova linha de produção para 500 milhões de doses. Isso significa que seremos capazes de dobrar a nossa produção, ou seja, um bilhão de doses por ano. Nossa cooperação com o Butantan é principalmente para fornecer o produto semipronto, e eles concluirão o processo. Assinamos um contrato comercial e vamos executá-lo. Acreditem no Butantan e na parceria com a Sinovac.

- O resultado global de eficácia de 50,38% da CoronaVac foi recebido com algum ceticismo no Brasil. Qual a sua avaliação?
- Está cientificamente provado pelos testes clínicos realizados no Brasil, na Turquia e na Indonésia que a vacina oferece proteção. Há um eixo vertical que mostra de alto a baixo os níveis de proteção capazes de prevenir hospitalizações, tratamento médico, sintomas leves e infecção. No alto do eixo temos os sintomas severos e as hospitalizações, para os quais a proteção é de 100%. Em seguida há a proteção para prevenir a necessidade de tratamento médico, que é de 78%. Nos sintomas leves e médios a proteção é mais baixa. A conclusão foi a de que o nível geral de proteção é de 50%.

- E qual o motivo disso?
- Os casos moderados perfazem 85%, e a maioria apareceu entre profissionais de saúde. Pense nisso: se uma pessoa é atacada pelo vírus uma vez, a proteção cai para 90%, se então é atacada três vezes cai para 70%, se atacada muitas vezes cai para 50%. Por ser um profissional de saúde, eu fui exposto a ambientes altamente infectados, o número de ataques é muito maior do que em outros grupos da sociedade. Por isso o índice geral de 50% de proteção. O Butantan realizou uma contribuição única para o mundo, pois outras pesquisas de vacinas não cobriram tantos profissionais de saúde. E não revelaram o nível de proteção para casos leves. Que outro laboratório, além do nosso, fez testes clínicos em três países tão diferentes? Tanto os ensaios realizados no Brasil, como na Turquia e na Indonésia, mostraram a eficácia da vacina. Isso não é algo em que você deve acreditar? Ou prefere acreditar no índice de 90% dos EUA? Qualquer pessoa racional entende.

- Como então o senhor vê a comparação com os resultados das vacinas da Moderna e da Pfizer (95% de eficácia) e da Oxford (70%)?
- Sou um cientista, não faço especulações sem pesquisas. Acredito nos resultados da nossa vacina, não farei comparações. Mas uma coisa posso dizer. O verdadeiro efeito de prevenção de epidemia é a eficácia da vacina multiplicada pelo índice de vacinação da região: esse é o índice real de prevenção. Por isso espero que cada vez mais pessoas sejam vacinadas no Brasil, só assim será possível tratar casos graves e seu país poderá voltar a ter uma vida normal. No futuro, o novo coronavírus poderá ser algo como o vírus da gripe.

- Uma nova variante do coronavírus encontrada em Manaus aumentou a preocupação das autoridades de saúde mundo afora. A CoronaVac oferece proteção contra ela?
- Essa é a nossa maior preocupação, mas neste momento estamos fazendo testes de larga escala em 18 diferentes localidades no Brasil e eles têm mostrado que a vacina oferece proteção contra esta variante em circulação no país. Também fizemos teses na China com uma variante europeia e comprovamos que a vacina também oferece proteção.

- A Sinovac não divulgou os resultados consolidados de eficácia da CoronaVac. Qual a razão disso?
- O Butantan irá nos transferir os resultados e eles serão submetidos à Administração Nacional de Produtos Médicos (ANPM) da China. Em breve entregaremos todos os dados de nossos parceiros (também Turquia e Indonésia) e aí iremos publicá-los.

*”Desigualdade – Exclusão digital cresce na pandemia e deve frear mobilidade social no país”* - A pandemia agravou a desigualdade no acesso à internet no Brasil, o que pode deixar cicatrizes sociais em crianças e jovens: com a exclusão digital e a disparidade no acesso à educação, o risco de os filhos não conseguirem ter renda superior à dos seus pais quando adultos aumenta. O alerta é do Instituto de Mobilidade e Desenvolvimento Social (IMDS), criado recentemente pelos economistas Arminio Fraga, ex-presidente do Banco Central, e Paulo Tafner. Os dados cruzados pelo instituto mostram que só 29,6% dos filhos de pais que não tiveram qualquer instrução têm acesso à banda larga. Nos lares onde os pais têm curso superior, essa parcela sobe para 89,4%. E mais: 55% dos filhos de pais sem instrução não têm acesso à internet. A fatia cai para 4,9% quando os pais concluem a universidade. Segundo Tafner, diretor-presidente do instituto, já é certo que o país vai piorar no indicador de mobilidade social entre gerações, que tem avançado desde a década de 1960 com a universalização da educação básica:
— Um dos principais caminhos para aumentar a mobilidade social é a educação. No caso do Brasil, na pandemia, ampliou-se esse fosso digital. Os meninos e meninas que estão em escolas particulares têm aula remota. E praticamente nenhuma escola pública teve aula presencial ou remota. A possibilidade de mobilidade social foi diminuída.
Claudia Costin, diretora do Centro de Excelência e Inovação em Políticas Educacionais da Fundação Getulio Vargas (FGV) e ex-secretária municipal de Educação do Rio, cita pesquisa que mostra que 68% das chances do sucesso de uma criança na escola dependem da escolaridade dos pais.
— Um ano letivo fora da escola vai afetar de forma muito mais importante as famílias que estão em situação de maior vulnerabilidade, em casas onde os jovens se acumulam na cozinha com o resto da família para tentar aprender, compartilhando um celular.
Duas realidades
Samara Victória e Ana Bueno de Freitas, ambas com 18 anos, moram na Zona Sul do Rio e compartilham do mesmo objetivo: conquistar uma vaga em uma universidade pública. Para isso, as duas estudaram on-line no ano passado para se preparar para o Enem. Mas um abismo social e digital separa as duas jovens, que moram na Rocinha e em Copacabana, respectivamente. Samara sonha em ser médica e tenta pela segunda vez uma vaga no curso de Medicina. Ela acompanhou aulas remotas no pré-vestibular comunitário da Rocinha . Apesar de ter acesso a Wi-Fi e celular com 4G, o serviço é pré-pago e seu pacote de dados, limitado.
— Às vezes o Wi-Fi falha, e eu preciso rotear a internet do celular. Mas já tive que sair mais cedo da aula porque a internet do celular ia acabar.
Em 2020, Samara perdeu o pai. A mãe perdeu o emprego, e a filha a tem ajudado a montar uma barraca em uma feira perto de casa. Já Ana pôde se dedicar integralmente ao estudo durante a pandemia. Concluiu o ensino médio no ano passado e pretende cursar Direito ou História. Com acesso à internet em casa e no celular, acompanhou as aulas on-line do colégio, fez aulas remotas particulares e ainda teve acesso a um curso preparatório a distância:
— Eu me vejo numa condição de muito privilégio. Tive um escritório em casa, computador, acesso a professores, psicóloga e não tive de trabalhar nem em casa.
Pobreza digital
O sociólogo Carlos Ribeiro, do Iesp/Uerj, afirma que ainda é difícil prever se a mobilidade social vai diminuir, mas certamente a desigualdade nas chances de ter um futuro melhor que o dos pais vai aumentar com a perda do ano letivo entre os mais pobres:
— Entre a origem e o destino socioeconômico, a educação tem efeito muito forte. Ter esse desastre na educação é muito ruim.
O risco da exclusão digital é global, e os efeitos podem ser mais intensos num país que é o nono mais desigual do mundo como o Brasil. O Relatório de Riscos Globais de 2021, do Fórum Econômico Mundial, divulgado na semana passada, alerta que “um crescimento da lacuna digital pode maximizar as fraturas sociais e minar as perspectivas de uma recuperação inclusiva”. Para Marcelo Medeiros, sociólogo e professor visitante na Universidade de Princeton, o acesso digital é, hoje, um direito fundamental e “não foi incluído na Constituição na década de 1980 porque o mundo era diferente”. Agora, deveria ser incluído:
— Como focamos na erradicação da fome, da pobreza pela renda, temos que focar na erradicação da pobreza digital.

 

CAPA – Manchete principal: *”Com número limitado de doses, prefeitos disputam vacinas”*

EDITORIAL DO ESTADÃO - *”A pequenez de Bolsonaro”*: Apostura antirrepublicana do presidente Jair Bolsonaro é mais uma entre tantas evidências de que ele não cabe no cargo que ocupa. A bem da verdade, jamais coube. A notória mediocridade de seu currículo, por assim dizer, e a intolerância a tudo e a todos que contrariem seus interesses já apontavam desde antes da eleição que, caso ele chegasse à Presidência, como de fato chegou, a Nação haveria de lidar com o mais nefasto governo de sua história. Em vez de se moldar à dignidade da Presidência da República, Jair Bolsonaro a rebaixou como nenhum outro presidente antes dele. Em sua rinha contra o governador de São Paulo, João Doria, o presidente esgarça ainda mais os limites aceitáveis das lides políticas próprias da democracia. Por raiva, medo, inveja ou outros sentimentos inconfessáveis em relação ao tucano, o comportamento de Bolsonaro põe em risco projetos de interesse da população do maior Estado da Federação.
Há dezenas de obras em São Paulo que dependem fundamentalmente do aval da União, da ação de Ministérios ou de financiamentos de bancos públicos. A esmagadora maioria delas tem sido sabotada pelo governo central, por ordem de Bolsonaro. O presidente da República proíbe ministros e assessores de atender a qualquer pedido do governo paulista. Quem desobedecer à ordem, conversar e “fizer graça” com Doria está sujeito a “cartão vermelho”. Quão mais mesquinho pode ser o presidente? Uma das obras em risco é a construção do Piscinão de Jaboticabal, que é fundamental para solucionar o problema das enchentes do Rio Tamanduateí e dos Ribeirões dos Couros e dos Meninos. Mas a angústia das famílias ribeirinhas, que sofrem ano após ano com as enchentes, é irrelevante para Bolsonaro diante de sua necessidade de impor um revés político para alguém que ele trata não como um governador de Estado que lhe faz oposição, e sim como um inimigo figadal. A obra está orçada em R$ 300 milhões e seria financiada pela Caixa, de acordo com o secretário estadual de Infraestrutura e Meio Ambiente, Marcos Penido. Mas, de uma hora para outra, a linha de crédito foi “congelada”. A fim de concluir a obra, o governo paulista vai buscar recursos no Tesouro do Estado. A construção de uma ponte entre Santos e Guarujá é mais uma obra atrasada em função das disputas políticas entre o governo federal e o Estado de São Paulo. Não há desembolso de dinheiro público na obra, que será custeada pela concessionária Ecovias, mas a ponte precisa passar por uma área do Porto de Santos, que está sob responsabilidade federal. Sem a autorização do Palácio do Planalto, a obra não anda.
Por meio de nota, tanto a Caixa como o Ministério da Infraestrutura afirmaram que pautam a análise dos projetos “por critérios estritamente técnicos” e de maneira “isenta”. Espera-se que seja assim. Mas é no mínimo estranho que as obras que dependem do governo federal justamente no Estado governado pelo maior desafeto de Bolsonaro tenham um andamento tão acidentado. A ira de Jair Bolsonaro contra João Doria aumentou significativamente após o início da vacinação contra a covid-19 em São Paulo, mas não é de hoje que o presidente atua para dificultar o avanço de projetos importantes para os paulistas e para os paulistanos. Há muito tempo se negocia a devolução da área do Campo de Marte para a Prefeitura de São Paulo. Mas, no que depender de Jair Bolsonaro, o Campo de Marte pode até deixar de ser um aeroporto, mas não será reintegrado pelo Município. O presidente tem planos de instalar ali uma escola cívico-militar. Em abril de 2019, Bolsonaro também firmou compromisso com o governo paulista para transferir a gestão da Ceagesp para o âmbito estadual. A ideia do governador João Doria é mudar o entreposto da Vila Leopoldina para outro local. Mas, no final do ano passado, o presidente renegou a própria assinatura e afirmou que nada muda na Ceagesp enquanto ele ocupar o cargo. O presidente age contra os interesses dos brasileiros, os de São Paulo em particular.

*”Média de apoio a Bolsonaro só supera índice de Dilma”* - O presidente Jair Bolsonaro contou com uma base de votos na Câmara menor que a de antecessores nos dois primeiros anos de mandato. Mesmo com o apoio de partidos do Centrão e o alinhamento maior de deputados desse bloco ao Palácio do Planalto, a adesão a Bolsonaro supera apenas a observada durante o governo de Dilma Rousseff (PT) pouco antes do impeachment, em 2016. Para cientistas políticos ouvidos pelo Estadão/broadcast, o quadro representa risco para o presidente no momento em que cresce a pressão por seu afastamento. Levantamento do Observatório do Legislativo Brasileiro (OLB), produzido pela Universidade Estadual do Rio de Janeiro (UERJ), revela que, na primeira metade de seu mandato, Bolsonaro teve, em média, apoio de 72,5% na Câmara. O índice considera o alinhamento dos deputados com a liderança do governo em todas as votações, excluindo aquelas nas quais houve consenso, como o decreto de calamidade pública para enfrentar a pandemia de covid-19. Apesar de ter maioria na Câmara para aprovar projetos de seu interesse, Bolsonaro enfrenta dificuldades. Não sem motivo: o porcentual de 72,5% indica que o apoio parlamentar ao governo é inferior à base que sustentava seus antecessores desde a gestão de Luiz Inácio Lula da Silva (2003 a 2006 e 2007 a 2010). A média de apoio ao governo em votações nominais na Câmara no primeiro mandato de Lula, por exemplo, foi de 77,1% até junho de 2004 (mais informações nesta página). Já o ex-presidente Michel Temer, que assumiu o governo após o afastamento de Dilma Rousseff, obteve respaldo de 73,7% dos deputados no período em que permaneceu no cargo, até o fim de 2018. Nos meses que antecederam o impeachment de Dilma, no entanto, a adesão ao governo petista era de 58,2%.
Agora, diante do agravamento da pandemia de covid-19 e de erros do governo na condução da crise, a aprovação ao governo Bolsonaro caiu e foram registrados nos últimos dias em diversas cidades panelaços e carreatas com o mote “Fora Bolsonaro” (mais informações nesta página). O presidente mudou a estratégia de comunicação, como mostrou o Estadão, e agora aposta na chegada das vacinas ao Brasil para superar o desgaste. Na arena política, Bolsonaro tem distribuído cargos e emendas para indicados do Centrão. O cenário, no entanto, é de muita turbulência. Partidos de oposição como PT, PDT, PSB, Rede e PC do B prometem protocolar amanhã uma ação que pede a saída de Bolsonaro, sob o argumento de que ele tem sido negligente com a saúde da população. Bolsonaro, por sua vez, se movimenta para eleger o deputado Arthur Lira (Progressistas-al), líder do Centrão, como presidente da Câmara. O principal adversário de Lira é o deputado Baleia Rossi (MDB-SP), apoiado pelo atual presidente da Casa, Rodrigo Maia (DEM-RJ), e por uma frente de siglas de centro e de esquerda. Cabe ao presidente da Câmara arquivar ou dar andamento a pedidos de impeachment contra o chefe do Executivo. Atualmente, há 56 pedidos ativos de afastamento de Bolsonaro. A expectativa é que se Lira ganhar a eleição vai engavetar todos eles.
‘Cálculo político’. “O alinhamento nas votações é um indicador insuficiente para medir a possibilidade de impeachment, mas, certamente, sinaliza que a perda de apoio entre os parlamentares pode influenciar nas articulações para evitar a abertura de um impeachment”, afirmou a cientista política Débora Gershon, uma das autoras do estudo do Observatório do Legislativo Brasileiro. “O cenário atual, com queda de popularidade, é árido para o presidente, mas ainda não coloca o impeachment à vista. O elemento novo é o aumento da temperatura política fora do Congresso. Isso, sim, muda o cálculo político do parlamentar.”
Com a adesão ao governo, o Centrão se aproximou ainda mais de outros partidos conservadores, desde 2019 fiéis ao governo, como PSL e PSC. A distância desse grupo com a oposição criou um “fosso” no centro político da Câmara e aumentou a polarização nas votações. No ano passado, de acordo com o levantamento do Observatório do Legislativo Brasileiro, nenhuma legenda ficou “em cima de muro”. “A base é fluida e instável porque são poucos os que acreditam verdadeiramente nas pautas do governo, exceto a econômica. Por isso, a cada votação dá-se novo rearranjo de forças. O Centrão segura, mas não garante”, disse o deputado Fábio Trad (PSD-MS), integrante de um dos partidos que apoiam Lira, mas que não declarou em quem vai votar. Durante o ano passado, quando o Brasil começou a enfrentar a pandemia de covid-19 e o Congresso dedicou a maior parte dos projetos ao enfrentamento da crise, os deputados mais alinhados ao governo nas votações foram PSL, PL, Progressistas, Patriota, Novo, Republicanos, PSC e MDB. As notas médias de governismo ficaram próximas a 8, em uma escala que vai de 0 a 10. Na outra ponta, como era esperado, os oposicionistas PSOL, PT, PC do B, Rede, PSB, PDT, PV e Cidadania se mantiveram distantes da orientação do Planalto nas votações, com notas de 1 a 4.
+++ A manchete da reportagem é ridícula, assim como a forma como o texto inclui a taxa de apoio no Congresso que a ex-presidenta Dilma tinha. O jornal menciona apenas o apoio logo antes do golpe, mas sem mencionar o período específico. Além disso, o texto não aponta qual era a taxa durante o primeiro mandato. Desnecessária a reportagem e a forma como o Estadão se refere ao mandato de Dilma Rousseff.

*”MBL e Vem Pra Rua agora miram presidente”*

ENTREVISTA: SIMONE TEBET, candidata à presidência do Senado - *”Neste momento, o impeachment não tende a prosperar”*: A senadora Simone Tebet (MDB-MS), candidata à presidência do Senado, avalia que não há clima político para um processo de impeachment contra o presidente Jair Bolsonaro. Apesar da “apreensão” nas ruas com o atraso na vacinação contra a covid-19, a parlamentar não vê hoje ambiente para o Congresso afastar o chefe do Executivo. “Neste momento, o impeachment não tende a prosperar”, afirmou a parlamentar, em entrevista ao Estadão/broadcast. Para a senadora do MDB, o auxílio emergencial precisa ser discutido com urgência. Ela lançou, porém, a responsabilidade para o governo federal. Em uma tentativa de se contrapor ao adversário e candidato do Palácio do Planalto, Rodrigo Pacheco (DEM-MG), afirmou que não se pode mexer no teto de gastos. Admitiu, porém, uma nova rodada do auxílio emergencial por crédito extraordinário, que fica fora da limitação. Confira os principais trechos da entrevista:
• A senhora vê pessimismo nos rumos da crise da covid-19?
- Há pessimismo porque não é a vacina que está dando o tom no Brasil, é a doença. Não temos um cronograma claro de vacinação que possa apontar quando retomar a atividade econômica sem ameaça de lockdown. Enquanto a molamestre for a doença, e não a vacina, o clima vai ser de apreensão. Isso se reflete nas ruas, na irritação, na angústia e em alguns casos no desespero, como em Manaus.

• A permanência do ministro da Saúde, Eduardo Pazuello, no cargo ficou insustentável?
- Nessa última semana, houve uma mudança de 180º na postura do Ministério da Saúde. Vamos acompanhar os próximos dias. O Congresso pode convidar o ministro para falar, e é até saudável que o faça. É muito importante separar esse momento de qualquer outro. Temos um inimigo comum. Ou unimos forças agora e resolvemos a questão da vacinação e depois discutimos responsabilidades ou vamos morrer abraçados. É hora de uma bandeira branca da paz.

• A demora da vacina impõe a retomada do auxílio emergencial?
- É imprescindível, no dia 1º de fevereiro, começar a discussão sobre a continuidade do auxílio emergencial com o governo federal. Não pode ser 60 nem 30 milhões de brasileiros, o cadastro tem que ser filtrado com os números que nós não temos. O governo federal tem que entrar nessa discussão. Esse auxílio tem que vir nos limites fiscais. Não podemos dar agora um analgésico e depois matar o paciente de fome porque faltou dinheiro para tudo. Desta vez, o Congresso vai ter de acompanhar a decisão política e econômica do governo federal em relação ao valor e ao tempo do auxílio. Apesar de difícil, é possível ter um espaço fiscal.

• A equipe econômica e o mercado resistem a um crédito extraordinário, fora do teto de gastos, para o auxílio. É possível?
- Se for a única saída, terá que ser por medida provisória criando um crédito. Mas pode haver uma alternativa a ser apresentada pelo próprio governo em um possível corte em gasto tributário ou alguma gordura, abrir mão de iniciar algum grande investimento.

• A crise aumentou a pressão por um processo de impeachment. Vê base para isso?
- Um processo de impeachment, antes de ser jurídico, de haver ou não crime de responsabilidade, é um processo político. Não existe impeachment no Brasil sem rua, manifestação popular e vontade da população. A maioria da população, talvez pela preocupação com o sistema de saúde e atraso de vacinação, é contra. Não analisei juridicamente os pedidos. Neste momento, o impeachment não tende a prosperar. Qualquer análise de possível crime eu deixo para o Ministério Público e o Judiciário em uma discussão sobre crime comum.

• A senhora quer deixar o presidente tranquilo em relação ao impeachment ao prometer uma relação harmônica?
- Eu não mudei de lado. Eu continuo sendo uma senadora independente. Essa harmonia depende da independência. Qualquer ingerência do Executivo em candidaturas fere a independência e não é boa para a democracia. Eu não preciso tranquilizar o governo porque eu votei mais a favor do governo do que o próprio candidato do governo. Tenho uma pauta econômica muito próxima da pauta liberal do governo federal.

*”Pazuello se instala em Manaus após PGR pedir inquérito”*

*”Países ricos pagarão conta por falta de vacinas para nações pobres, diz estudo”* - O monopólio do fornecimento de vacinas contra a covid19 pelas nações ricas ameaça desencadear mais do que uma catástrofe humanitária. A consequente devastação econômica acabará afetando essas nações de maneira talvez mais intensa do que os países em desenvolvimento, segundo estudo encomendado pela Câmara Internacional de Comércio, organização que promove e assessora os negócios em todo o mundo. No cenário mais dramático – em que as nações ricas estarão completamente vacinadas até o meio do ano e os países pobres em grande parte excluídos –, o estudo aponta que a economia global sofrerá perdas superiores a US$ 9 trilhões (cerca de R$ 49 trilhões), uma soma maior do que o PIB do Japão e da Alemanha juntos. Metade disso seria absorvido por países ricos como Estados Unidos, Canadá e Reino Unido. No cenário que os pesquisadores definem como mais provável, em que os países em desenvolvimento vacinarão metade das suas populações até o final deste ano, a economia mundial amargará perdas que vão de US$ 1,8 trilhão (R$ 9,8 trilhões) a US$ 3,8 trilhões (R$ 20,7 trilhões). Mais da metade se concentrará nos países ricos.
O estudo conclui que a distribuição equitativa das vacinas será interessante para todos os países, principalmente aqueles que dependem mais do intercâmbio – o levantamento dá fim à tese de que compartilhar as vacinas com os países pobres seria só uma forma de caridade. “Evidentemente, todas as economias estão conectadas entre si”, disse Selva Demiralp, economista da Koc University em Istambul, que trabalhou no Federal Reserve, em Washington, e uma das autoras do estudo. “Nenhuma economia poderá recuperar-se plenamente se as outras não se recuperarem.” Demiralp afirmou que a iniciativa filantrópica global conhecida como Acelerador ACT – que visa proporcionar recursos contra a pandemia aos países em desenvolvimento – garantiu que contribuirá com cerca de US$ 11 bilhões (R$ 60 bilhões) para uma meta fixada em US$ 38 bilhões (R$ 207 bilhões). O estudo apresenta a justificativa econômica para fechar este fosso. Os US$ 27 bilhões (R$ 147 bilhões) restantes podem parecer uma soma enorme, mas são uma ninharia se comparados aos custos que o mundo terá de arcar se permitir que a pandemia continue. A ideia aceita em geral de que a pandemia não respeita fronteiras nem raças nem divisão de classes foi promovida por altos executivos e gurus das empresas. O conceito foi desmentido pela realidade, ou seja, a covid-19 levou à morte e à destruição da sobrevivência econômica dos trabalhadores dos escalões mais baixos, e algumas das minorias raciais, enquanto os altos funcionários puderam trabalhar em suas casas.
No campo do comércio internacional, porém, não há onde se esconder do coronavírus, como conclui o estudo. As cadeias de suprimentos globais continuarão a ser interrompidas se o vírus continuar a se espalhar. Uma equipe de economistas de Koc University, Harvard e Universidade de Maryland examinou os dados de 35 setores em 65 países e produziu uma ampla análise das consequências da distribuição desigual das vacinas para a economia. Se nos países em desenvolvimento a mão de obra continuar sem trabalho por causa dos lockdowns exigidos pela pandemia para deter o avanço do vírus, terão menos dinheiro para gastar, reduzindo as vendas para as exportadoras na América do Norte, Europa e Extremo Oriente. As multinacionais dos países avançados também lutarão para garantir peças para as suas máquinas, componentes e commodities. As conclusões acrescentam um complicador ao pressuposto básico de que a pandemia deixará a economia mundial menos igualitária do que nunca. Embora isto seja real, uma forma impressionante de desigualdade – o acesso às vacinas – poderá suscitar problemas universais.
A iniciativa de fornecer recursos adicionais aos países pobres ganhou um impulso com a posse do presidente Joe Biden. O governo Trump não contribuiu para a causa. O diretor responsável pelo combate à pandemia do governo Biden, Anthony Fauci, anunciou que os Estados Unidos participarão da campanha para que todos tenham as vacinas. Muitos países pobres entraram na pandemia com ônus da dívida que absorviam a maior parte da receita dos seus governos, limitando os seus gastos destinados à saúde. Os credores particulares recusaram-se a participar de um modesto programa de suspensão da dívida elaborado pelo G-20. O Banco Mundial e o Fundo Monetário Internacional prometeram a maior parte da ajuda, mas não desembolsaram a maior parte dos recursos. “Nenhuma economia, por grande que seja, estará imune dos efeitos do vírus, a não ser que a pandemia seja dominada em todas as partes do mundo”, afirmou John Denton, secretário-geral da Câmara Internacional de Comércio. “A compra de vacinas para o mundo em desenvolvimento não é um ato de generosidade. É um investimento essencial dos governos, se quiserem recuperar as próprias economias”.

*”Hospitais dos EUA estão perto do limite”*

*”Ataque ao Capitólio expõe rede global de extrema direita”* - Sem uma liderança específica, mas unidos pela ideologia racista impulsionada pelas mídias sociais, adeptos da extrema direita construíram uma rede de conexões reais e online que preocupa autoridades em diferentes países. Quando ocorreu a invasão no Capitólio em Washington, em 6 de janeiro, radicais de extrema direita do outro lado do Atlântico celebraram. Jürgen Elsässer, editor da revista de extrema direita mais proeminente da Alemanha, assistiu ao vivo o ataque. “Estávamos acompanhando como uma partida de futebol”, disse. Quatro meses antes, Elsässer havia participado de uma passeata em Berlim onde uma multidão de manifestantes tentou, mas não conseguiu entrar à força no prédio que abriga o Parlamento alemão. “Eles realmente conseguiram criar esperanças de que haja um plano”, disse. “Ficou claro que isso era algo maior.” Os adeptos dos movimentos racistas de extrema direita em todo o mundo compartilham mais do que uma causa comum. Extremistas alemães viajaram para os EUA para competições de atiradores. Os neonazistas americanos visitaram colegas na Europa. Militantes de diferentes países se unem em campos de treinamento da Rússia e Ucrânia à África do Sul. Por anos, adeptos da extrema direita compartilharam teses ideológica e se inspiraram em encontros secretos em zonas pouco conhecidas da internet. A diferença é que não havia até agora um ato concreto de violência como no Capitólio.
Em conversas online, muitos viram a invasão como um momento de ensinamento – sobre como seguir em frente e perseguir o objetivo de derrubar governos democráticos de uma maneira mais concreta. “Extremistas, céticos do coronavírus e neonazistas estão inquietos”, afirmou Stephan Kramer, chefe de inteligência doméstica do Estado da Turíngia, no leste da Alemanha. Há uma mistura perigosa de euforia pelos desordeiros que chegaram tão longe e frustração por não ter levado a uma guerra civil ou golpe, disse ele. Ainda é difícil mensurara o quanto os vínculos entre extrema direita americana e seus pares europeus podem ser profundos e duráveis. No entanto, as autoridades estão cada vez mais preocupadas com uma rede de ligações internacionais difusas e temem que essas conexões, já encorajadas na era Donald Trump, tenham se tornado mais determinadas desde a invasão do Parlamentos dos EUA. Um relatório recente encomendado pelo Ministério das Relações Exteriores alemão descreve “um novo movimento de extrema direita violento, transnacional, sem liderança e apocalíptico” que surgiu na última década.
Os extremistas são alimentados pelas mesmas teorias de conspiração e narrativas de “genocídio branco” e “a grande substituição” das populações europeias por imigrantes, concluiu o relatório. Estão nos mesmos espaços online e se encontram em festivais de música com bandas que têm letras que enaltecem a supremacia branca e a extrema direita. “As cenas neonazistas são bem conectadas”, disse Kramer. “Não estamos falando apenas de curtidas no Facebook. Estamos falando de neonazistas viajando, se encontrando, celebrando juntos.” Em 2019, o diretor do FBI, Christopher Wray, alertou que os supremacistas brancos americanos estavam viajando para o exterior para treinar com grupos nacionalistas estrangeiros. Mas as ligações transnacionais podem ser mais inspiradoras do que organizacionais, disse Miro Dittrich, especialista em redes radicais de extrema direita. “Não é tanto forjar um plano concreto, mas sim criar um potencial violento.” E há divisão entre os seguidores de extrema direita sobre se essas alianças são valiosas ou viáveis. Para muitos, a ideia de um movimento nacionalista internacional é não é coerente com os seus ideais. “Há um sentimento comum e uma troca de ideias, memes e logotipos”, disse Martin Sellner, ativista austríaco de extrema direita do movimento Geração Identidade. “Mas os campos políticos na Europa e na América são muito diferentes.”

*”Portugal reelege conservador em aliança com a esquerda”*

*”Com nº limitado de doses, trabalhadores da saúde e prefeitos disputam vacina”* - Após a euforia do começo da imunização, o número limitado de doses de vacina contra a covid-19 distribuídas pelo Brasil cria conflitos. Cidades, muitas delas vizinhas, reclamam da quantidade recebida. De outro lado, profissionais de saúde e hospitais disputam remessas e trocam acusações de favorecimento. Os órgãos de controle também questionam critérios de rateio e investigam os fura-fila – as denúncias envolvem secretários e até prefeitos. O Ministério da Saúde estima que o 1.º lote de 6 milhões de doses da Coronavac é suficiente para as duas aplicações em 2,8 milhões de pessoas – 4% dos 68,8 milhões dos grupos prioritários do Plano Nacional de Imunização (PNI). Agora, o público-alvo são profissionais de saúde, idosos em residenciais de longa permanência e indígenas. Com doses limitadas, em muitos casos a conta não fecha. O conflito mais notório foi no Amazonas. Promotoria e Tribunal de Contas questionaram divergências de dados da divisão entre municípios e cobraram a lista de vacinados. Manaus, que viu hospitais colapsarem há onze dias, até suspendeu a vacinação de quinta-feira a anteontem após denúncias de desvios e fura-fila – é investigado se secretários municipais estão entre os imunizados.
A prefeitura de Manaus não comenta a lista, mas promete um comitê de ética para apurar casos e impor sanções. A Justiça mandou vetar a 2.ª dose para quem tomou indevidamente e determinou a divulgação diária da lista de vacinados. Tabatinga – na fronteira com Peru e Colômbia – teve de devolver 3.657 doses após o governo estadual refazer contas. Já Parintins, Coari, Autazes e Novo Airão alegam ter recebido menos que o anunciado pelo Estado, que não explicou as divergências. Segundo o governo, de 58 cidades abastecidas, 33 receberam só para a 1.ª dose, por questões de armazenamento, e só Tabatinga recebeu a mais. No sul da Bahia, as cidades de Banzaê e Euclides da Cunha receberam 1.712 e 1,1 mil doses, respectivamente. As vizinhas Ribeira do Pombal e Itapicuru levaram 343 e 130. Todas têm cerca de 50 mil moradores. Fábio Villas Boas, secretário de Saúde da Bahia, admite receber queixas. “Muitos não sabem os critérios. Às vezes, as cidades têm o mesmo número de habitantes, mas uma tem índios ou hospitais.” Do total de Banzaê e Euclides, por exemplo, 80% são para indígenas.
São José da Lapa, na Grande Belo Horizonte, também contesta. São 372 profissionais de saúde e 87 idosos em instituições de longa permanência. A cidade recebeu 97 doses, mas esperava 670. O prefeito Diego Silva (Avante) diz ter calculado prioritários na população de 25 mil. “Não encontramos lógica no total de vacinas enviadas para alguns municípios e no número menor para outros.” Em nota, a Secretaria de Saúde de Minas informa que o rateio foi conforme “dados alimentados pelos gestores municipais” em sistemas federais e afirma ter reserva para suprir possíveis divergências. Presidente do Conselho de Secretários de Saúde e titular do Maranhão, Carlos Lula também vê insistência de prefeitos. “Ligam, mandam e-mail, mensagem de Whatsapp e até sinal de fumaça. Perdemos um bom tempo para conversar e acalmá-los. A pressão vai ser até conseguirmos imunizar todos”, diz ele, sem citar os insatisfeitos. Nos próximos dias, devem ser distribuídas mais 4,1 milhões de doses da Coronavac, além de dois milhões da vacina de Oxford, trazidas da Índia.
Na ponta. A vacina também opõe colegas da saúde. Com o 1.º lote, só há o suficiente para imunizar 34% dos trabalhadores da área. A orientação é priorizar os da linha de frente contra a covid-19, mas há denúncias de desrespeito aos critérios ou assimetrias entre unidades de saúde da mesma região. Como o Estadão revelou, a Secretaria Municipal de Saúde de São Paulo reclamou que profissionais do Hospital das Clínicas foram mais vacinados que equipes da linha de frente das redes paulistana e privada. O Estado disse que a estratégia leva em conta a limitação de doses e que os imunizados no HC têm contato com infectados. O Ministério Público pediu esclarecimentos sobre o caso. O Sindicato dos Médicos de São Paulo defende incluir todos os profissionais de saúde que lidam com o público. “Com o aumento dos casos, não existe paciente pouco suspeito de ter o vírus. Quem tem 30 ou 40 pacientes por dia é um profissional com grande risco de contaminação”, diz Augusto Ribeiro, diretor da entidade. Em Manaus, a Justiça obrigou a prefeitura a informar por que o Pronto Socorro 28 de Agosto, referência em atendimento à covid, diz ter recebido só 623 doses, de 3 mil pedidas. Na planilha enviada pelo município à juíza, consta total de 1.411. A gestão não disse ao Estadão o motivo da discrepância.
Enfermeira do 28 de Agosto, Jacqueline Mello já foi imunizada e defende incluir equipes de limpeza, maqueiros e porteiros na lista para receber doses. “Todos correm risco, entram em contato com pacientes.” Mário Vianna, do Sindicato dos Médicos amazonense, diz haver denúncias de prioridade ao “staff dos hospitais em detrimento de quem é da linha de frente. O Ministério da Saúde enviou ofício semana passada a secretários estaduais e municipais, em que defende o cumprimento das diretrizes nacionais. Em Porto Alegre, trabalhadores da saúde do Pronto Atendimento Cruzeiro do Sul até restringiram o atendimento na quinta-feira, em protesto pelo adiamento da vacinação das equipes, que seria naquele dia e foi remanejado para hoje. A prefeitura da capital gaúcha diz que a imunização hoje segue o cronograma original.

*”Carta à Pfizer expõe gestão ineficiente, dizem especialistas”* - As críticas públicas da gestão Jair Bolsonaro à proposta da Pfizer para venda de vacinas contra covid-19 foram vistas por especialistas como atestado da inabilidade em pôr de pé um plano amplo e eficiente de imunização. O temor agora é que a guerra de narrativas afaste outras farmacêuticas com quem o Ministério da Saúde ainda poderia obter mais doses, num momento de alta de casos e óbitos. A pasta de Eduardo Pazuello divulgou anteontem nota acusando a Pfizer de buscar “marketing” na negociação e indicou pontos que, na visão do governo, pesaram contra o acordo com a farmacêutica americana. Esses obstáculos são contestados por especialistas. A Pfizer não comenta. A sucessão de trapalhadas do governo na pandemia levou partidos a discutirem o impeachment do presidente. Uma das razões citadas pela pasta é o fato de a Pfizer só ter acenado com dois milhões de doses no 1º trimestre. “Para o Brasil, causaria frustração”, disse a Saúde, “pois teríamos, com poucas doses, que escolher, num país continental com mais de 212 milhões de habitantes, quem seriam os eleitos a receberem a vacina”, prosseguiu.
Mas Pazuello foi na última sexta-feira ao Aeroporto de Guarulhos para recepcionar a mesma quantidade de doses da vacina Oxford/astrazeneca que o ministério importou da Índia para acelerar a imunização, após o governador de São Paulo, João Doria (PSDB), sair na frente com a Coronavac. Em 2020, o governo chegou a negociar com a Pfizer 70 milhões de doses para 2021, mas a compra não avançou e o Brasil perdeu lugar na fila, apesar de alertas da farmacêutica para a alta demanda. “Dois milhões de doses (da Pfizer) eram pouco em setembro, (mas) sexta-feira recriaram uma ‘fonte luminosa’ e um ‘coreto’ para receber a mesma dosagem (da Oxford ”, criticou o epidemiologista Paulo Lotufo, da USP, no Twitter. “Foi tomada decisão consciente. Não negociaram, mas não previram que isso ia gerar muitas críticas”, diz o professor do Insper e doutor em Economia Thomas Conti. “Minha maior preocupação é que desviar a responsabilidade para o laboratório pode afastar outros fornecedores. O governo politizou a relação com a Pfizer.”
A vacina da Pfizer tem logística complexa, pois precisa ser armazenada entre 70°C a 80°C negativos. Lotufo, porém, listou medidas que permitiriam aproveitaras doses, como enviar lotes de vacina a capitais do Norte e fazer aplicações em hangares e salas de aeroporto, esvaziados na pandemia. Para ele, esse plano dispensaria “superfreezers”, pois as doses sairiam da caixa térmica diretamente para o braço das pessoas. “Se (o envio das doses) ocorresse em dezembro, hoje a catástrofe estaria minimizada no Norte”, escreveu. Carla Domingues, epidemiologista e chefe do Programa Nacional de Imunização (PNI) de 2011 a 2019, diz ser difícil avaliar o contrato, pois a íntegra não foi divulgada, para ver se há “cláusulas leoninas e abusivas”, como diz a Saúde. Mas questiona o fato de sermos o único país a ter problema para negociar com a Pfizer, enquanto americanos e europeus compraram. “A dificuldade é porque o Brasil não se planejou para essa vacina, de enorme complexidade.” Conti ainda vê inconsistências na fala do governo: entraves como a ausência do diluente (que seria soro fisiológico comum) e de reposição do gelo seco para manter frascos na temperatura correta seriam resolvidos com planejamento. Sobre eximir a fabricante de responsabilização civil em caso de efeitos adversos, ele diz que essa cláusula já existe há décadas em países desenvolvidos, inclusive para outras vacinas, e é recomendada pela Organização Mundial da Saúde (OMS).
Fundo. Nos Estados Unidos, o Programa Nacional de Compensação por Danos de Vacinas existe desde 1988 e indeniza quem eventualmente sofra efeitos colaterais após tomar vacinas cobertas pelo fundo (como as de difteria, tétano e hepatite A e B ). De 2006 a 2018, foram aplicadas 3,7 bilhões de doses, e só 5.317 compensações pagas. O fundo, diz Conti, foi criado após uma onda antivacina ter aumentado ações contra farmacêuticas, desestimulando a fabricação e reduzindo a oferta de imunizantes. Para ele, o Brasil poderia criar um fundo similar.

*”Pandemia e desemprego movimentam mercado de ensino profissionalizante”*

 

CAPA – Manchete principal: *”Piora da pandemia eleva pressão por novo auxílio”*

*”Funai muda regra sobre identidade indígena”* - A Fundação Nacional do Índio (Funai) vai tornar mais rígido o processo de reconhecimento da identidade étnica dos indígenas. Além do processo de autodeclaração, agora será necessário comprovar o vínculo cultural, histórico e tradicional de ocupação ou habitação entre a etnia e algum ponto do território brasileiro. Em entrevista ao Valor, o presidente da Funai, Marcelo Xavier, argumentou que as novas regras são necessárias para evitar fraudes, como na obtenção de benefícios sociais e de vagas em universidades. A medida não afetará a preferência para vacinação contra covid-19, uma vez que só têm preferência os indígenas que vivem em aldeias. A fixação de critérios complementares ao da autodeclaração indígena foi aprovada em reunião da Diretoria Colegiada da fundação, que foi realizada na noite da quinta-feira passada. “Não há nada que impeça a pessoa de fazer a autodeclaração, mas quando ela pretende receber benefício, como cota universitária, benefício social, direito a territorialidade, há necessidade de preenchimento de alguns requisitos”, disse Xavier. “A medida visa a reforçar a identidade étnica de quem realmente merece a proteção estatal, para evitar a banalização.”
Segundo o IBGE, o número de pessoas que se autodeclaram indígenas quase triplicou nos últimos três levantamentos, feitos entre 1991 e 2010. O número passou de 294.131 para 817.963. A Funai não tem dados sobre as supostas fraudes envolvendo a declaração de identidade por indígenas. Segundo Xavier, o sistema estava mais suscetível a irregularidades pois bastava a autodeclaração para que fosse reconhecido o pertencimento a uma etnia. Agora, os novos pedidos passarão por um processo administrativo que irá verificar a identificação do indivíduo por grupo étnico existente, conforme definição lastreada em critérios técnicos/científicos, e cujas características culturais sejam distintas da sociedade não indígena. Um dos principais organismos de defesa dos direitos indígenas, o Instituto Socioambiental (ISA) criticou as mudanças e considerou a resolução um ato de “racismo institucional”. “A se confirmar a exigência de processo administrativo para o reconhecimento da identidade indígena, se caracterizará uma situação de racismo institucional por parte do próprio órgão indigenista, visando excluir a maior parte da população indígena brasileira das políticas públicas e da titularidade dos direitos garantidos aos índios pela Constituição”, disse a entidade, em nota enviada ao Valor.
O ISA também afirmou que a postura da Funai é “mesquinha, ao querer reduzir minorias étnicas com golpes burocráticos”, e será judicializada. As mudanças implementadas pela Funai também objetivam limitar os pedidos de reconhecimento de território e evitar reivindicação de terras por indígenas estrangeiros, diz o ISA. Uma preocupação da Funai é com uma migração, por exemplo, dos indígenas venezuelanos da etnia warao. A resolução foi elaborada com base em entendimento da Procuradoria Federal Especializada junto à fundação. Xavier afirma que, ainda que se considere que a identidade e o pertencimento étnico não sejam conceitos estáticos, mas processos dinâmicos de construção individual e social, a ausência de critérios pode banalizar a identidade indígena.
+++ Grupos anti-indígenas se apropriaram da Funai. A reportagem do Valor poderia ter aumentado a pressão sobre a medida permitindo que mais entidades indigenistas falassem na reportagem.

*”Europa e EUA se fecham mais para viajante com passagem pelo Brasil”* - Áustria se junta ao grupo de países que restringe a entrada de brasileiros e pessoas que tenham transitado pelo país para conter variantes do novo coronavírus

*”País supera marca de 217 mil mortos por covid-19”* - Total de pessoas infectadas no Brasil se aproxima de 9 milhões

*”Piora da pandemia dá início a onda de revisões para o PIB”* - Parte dos analistas diz que restrição à atividade reduzirá expansão neste ano de 4% a 4,5% para 2% a 3%

*”Para Ibre/FGV, 1º semestre já está comprometido”* - No Boletim Macro da entidade, estabilidade prevista para primeira metade do ano foi revista para ligeira queda

*”Auxílio evitou taxa de desemprego maior, diz estudo”* - Quase 500 mil pessoas saíram da força de trabalho no segundo trimestre de 2020 em função do benefício

*”Bolsonaro quer vincular auxílio a PEC emergencial”* - O presidente Jair Bolsonaro é favorável à prorrogação do auxílio emergencial, mas entende que isso não pode ser feito sem que seja aberto um espaço no Orçamento. A posição reflete pressões que ele vem sofrendo de sua base no Congresso e da ala política do governo, de um lado, e da equipe econômica, de outro. Interlocutores que conversaram com o presidente sobre o tema disseram ao Valor que Bolsonaro não está propenso a romper com a cartilha do ministro Paulo Guedes e flexibilizar o teto de gastos para pagar o benefício. Tampouco cogita, no momento, emplacar no Congresso um novo Orçamento de Guerra, instrumento com o qual excluiu gastos sociais e outros relacionados à pandemia do cálculo do teto em 2020. “Se não tem dinheiro, melhor nem fazer [a prorrogação do auxílio”, tem repetido Bolsonaro, segundo um desses interlocutores. A atitude ainda não leva em conta a pesquisa Datafolha, que mostrou na última sexta-feira uma alta de 32% para 40% na rejeição ao presidente. Entretanto, o próprio Bolsonaro já previa que o fim dos desembolsos teria reflexos negativos na sua popularidade. O presidente tem se mostrado favorável à fórmula, que lhe foi levada por auxiliares, de patrocinar a aprovação da PEC Emergencial, ou PEC dos Gatilhos, a fim de abrir espaço no Orçamento para esse gasto social. Mas, para aprová-la, o Congresso teria que superar uma forte resistência do funcionalismo público em relação à proposta.
Também há discussões alternativas no Palácio do Planalto a respeito de promover mudanças no Bolsa Família em vez de prorrogar o auxílio. Uma ideia em análise passa por ampliar a base de beneficiários do programa, além de aumentar o valor dos pagamentos. Nas tratativas dentro do governo, ainda não se chegou a um valor para o auxílio ou o reajuste do Bolsa família. Tudo isso dependeria também da abertura de espaço no Orçamento. Em conversas com líderes partidários, interlocutores do Palácio do Planalto têm sentido que há “uma vontade unânime de aprovar a extensão do auxílio”. E que existe uma “apreensão” dos parlamentares relacionada à baixa velocidade da vacinação contra o coronavírus - medida vista como necessária para reanimar a economia. Isso, dizem as fontes, tem aumentado a disposição no Congresso e em setores do governo em favor de maiores gastos sociais. Entretanto, afirma uma fonte palaciana, grande parte da base aliada no Congresso já entendeu que é preciso aprovar a ajuda, “mas com responsabilidade”. Isso significa não fazer loucura do ponto de vista orçamentário.
Técnicos da área econômica admitem que a medida daria um “estímulo passageiro” à economia. Mas defendem que o Brasil só vai crescer de forma sustentável e gerando emprego e renda quando retomar o ajuste fiscal. Por isso, o discurso no ministério comandado por Paulo Guedes não tem se alterado: não há recurso no caixa para manutenção deste gasto e que a situação fiscal do país é crítica. Para este ano, a meta de déficit primária do setor público de R$ 250,89 bilhões, sendo que R$ 247,118 bilhões do governo central, e a relação dívida bruta/PIB vai ultrapassar 90%. “Temos regras fiscais que esse ano voltam [a valer]: ‘regra de outro’, teto de gastos apertado, fora a necessidade de refinanciar dívida em um ambiente inóspito”, explica um técnico, que se queixa das pressões pela extensão do auxílio. “Todos querem fazer bondades.” Os técnicos do Ministério da Economia ainda alertam para o fato de a renovação do benefício pressionar ainda mais a inflação. Ou seja, “daria com uma mão e retiraria com a outra”. Planalto e Economia aguardam o desfecho das eleições da mesa da Câmara e do Senado, em fevereiro, para voltar a defender o texto original das PECs do ajuste fiscal (Pacto Federativo, Emergencial e dos Fundos) e a votação do Orçamento de 2021. A lei terá que ser ajustada para absorver gastos maiores esperados para este ano como, por exemplo, no pagamento de benefícios previdenciários.

*”Governo já espera retração econômica no 1° trimestre”* - Avaliação é de que início do ano será muito difícil para a economia

*”Em carta, secretários de 18 Estados pedem que benefício volte a ser pago”* - Governos estaduais divergem sobre retorno ao estado de calamidade pública

*”TCU deve aprovar crédito extra de 2020”* - Governo também não precisará respeita limite de restos a pagar

*”Empresários veem crise política minar chances de retomada do crescimento”* - Os tropeços do governo federal na condução da campanha de vacinação para combater a covid-19 colocam em risco a retomada do crescimento do país. É crescente a insatisfação de empresários e do mercado financeiro, inclusive entre industriais e o alto escalão da Faria Lima que apoiavam declaradamente até há pouco tempo o governo de Jair Bolsonaro. Porém, mesmo com as recentes pesquisas indicando queda de popularidade do presidente, ainda há a percepção no setor privado de que não há força para o impeachment. A indicação de que o governo poderá criar um novo auxílio emergencial é criticada por parte dos empresários, que veem na medida um sinal de que Bolsonaro deverá enterrar as chances de colocar as agendas de reformas econômicas na pauta de votação e adotará de vez um viés populista. “Se o governo voltar a conceder auxílio e não sinalizar nada de reformas, não há possibilidade de volta dos investimentos no país”, diz um empresário de infraestrutura e energia. Para ele, o presidente conduziu mal a questão sanitária, com negacionismo, e insiste em manter o ministro da Saúde, Eduardo Pazuello, no cargo.
Para outro industrial, que tem negócios dentro e fora do país, a crise política e as incertezas econômicas deverão retrair os investimentos de empresas no mercado local, uma vez que o ambiente de negócios é desfavorável e o custo Brasil é alto por conta da emaranhada estrutura tributária. Empresários e executivos também não poupam críticas ao ministro da Economia, Paulo Guedes. “Ele é brilhante, mas não conseguiu implementar a agenda econômica. Preferiu comprar uma briga com o Rodrigo Maia [atual presidente da Câmara dos Deputados]”, diz um alto executivo da Faria Lima, que até há poucos meses participava de “lives” com o ministro. “Não é o momento de se discutir auxílio emergencial”, acrescenta. Para outra fonte, o ministro Paulo Guedes “virou um zumbi no governo”, mas há um risco pior, caso ele saia, e Bolsonaro opte por um nome que reforce o viés populista. A insatisfação com o governo é crescente nos bancos. As queixas vão da “incompetência” demonstrada na gestão das vacinas - nas palavras de um banqueiro - à falta de medidas concretas para que o país volte a crescer de forma sustentável e com equilíbrio fiscal. Para um dos executivos mais importantes do setor bancário, a economia vinha se recuperando surpreendentemente bem, com grande impulso do crédito, mas agora as incertezas voltaram e o país está “flertando com a criticidade” diante da segunda onda da pandemia e da possível retomada do auxílio fiscal sem a realização das reformas. “O país não tem nem Orçamento aprovado”, lembra.
Na visão desse interlocutor, a combinação de uma segunda onda da covid-19 com o surgimento de variantes do coronavírus e a desorganização no processo de vacinação forma um caldo preocupante no âmbito político. “Tem uma tragédia nas ruas. A gente começa a se preocupar com a possibilidade de se instaurar um caos social no país.” Essa fonte questiona em que medida e com qual velocidade essa situação poderá implodir o capital político de Jair Bolsonaro. Apesar disso, o executivo considera remotas as chances de um impeachment - aponta risco de 3 ou 4 numa escala de zero a 10 -, já que ainda não se vê um clamor popular nesse sentido e os novos líderes do Congresso dificilmente com essa pauta. Ele diz também que o afastamento de Bolsonaro não é seu cenário preferido pelo desgaste que um processo desse tipo gera. “Infelizmente, incompetência não é suficiente para o pedido de impeachment”, diz um banqueiro. Outro executivo do mercado financeiro afirma temer que o presidente se torne cada vez mais refém do Centrão. Essa fonte diz estar muito pessimista com as perspectivas para o primeiro semestre, com um começo de ano mais fraco que o normal para os negócios, inflação em alta, possibilidade de subida das taxas de juros, dificuldades na vacinação e crise política.
As eleições para as presidências da Câmara e do Senado são, neste momento, foco de total atenção dos bancos. Uma das fontes ouvidas pelo Valor deposita nas novas lideranças do Legislativo grande parte das expectativas de uma melhora no clima. Segundo ele, sem um aceno conciliador na política, o país não vai se reorganizar tão cedo. Há uma preferência mais clara do setor por Rodrigo Pacheco (DEM-MG), candidato à presidência do Senado, também apoiado por Bolsonaro. Em relação ao processo na Câmara, os bancos têm sentimentos mistos, a despeito das investidas de Arthur Lira (PP-AL) no mercado financeiro. Uma fonte do setor vê tanto em Lira quanto no Baleia Rossi (MDB-SP) a capacidade de ajudar a apaziguar os ânimos. “Um por ser apoiado pelo governo e outro por ser conciliador, o saldo é que ambos conseguiriam fomentar um ambiente de concertação”, diz. Para outro executivo de banco, entretanto, o dólar pode ir a R$ 6 e a bolsa cair “uns 20 mil pontos” se Lira vencer, pois afetaria a confiança no país. Ele também critica o fato de Pacheco acenar com a volta do auxílio emergencial e a derrubada do teto de gastos. No sábado, Baleia Rossi (PSDB-SP) e Rodrigo Maia (DEM-RJ) reuniram-se em um hotel com 15 executivos e gestores para ouvi-los falar sobre compromisso com as reformas, caso ganhe, em evento da XP. Baleia tem dito que vai colocar pautas em votação e não tem compromisso com a esquerda. Entre empresários e mercado financeiro, há também receio sobre a corrida eleitoral. Boa parte vê Bolsonaro forte para 2022, sobretudo se houver uma polarização entre direita e esquerda. Para um empresário da indústria, contudo, o governador de São Paulo, João Doria (PSDB) poderia ser um forte candidato, se conseguir se aliar a um nome de centro-esquerda.

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