Como o país inteiro esperava, a diretoria da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), autorizou por unanimidade o uso emergencial da CoronaVac, representada no Brasil pelo Instituto Butantan, e da vacina de Oxford/AstraZenenca, da Fiocruz. O que talvez não fosse esperado foi o rápido movimento do governador João Doria (PSDB). Tão logo a autorização foi anunciada, o governo de São Paulo, ao qual o Butantan é ligado, fez a primeira aplicação do imunizante, com Doria acompanhando in loco a vacinação da enfermeira Mônica Calazans, de 54 anos. Mônica foi uma das participantes dos testes da CoronaVac, mas tomou o placebo, não a vacina. Uma indígena, a técnica de enfermagem Vanuzia Costa Santos, de 50 anos, também foi vacinada. Em seguida, Doria comandou uma coletiva com ataques fortes ao presidente Jair Bolsonaro e ao ministro da Saúde, general Eduardo Pazuello. O ministro acusou o golpe, dizendo que Doria desprezou “a lealdade federativa” e fez “uma jogada de marketing” com a vacina. Em seguida, como mostra o Painel, da Folha, mandou um convite aos governadores para uma cerimônia simbólica de entrega das vacinas, hoje em São Paulo. O início da vacinação nacional está mantido para o dia 20, às 10h. Doria reagiu dizendo que a CoronaVac só está no Brasil devido a “investimento do governo de estado de São Paulo”, sem qualquer verba federal. Na sexta-feira, o ministério solicitou por ofício, reforçado no sábado, o envio de todo o estoque de CoronaVac do Butantan, seis milhões de doses, para distribuição entre estados e municípios. O governador diz que vai manter em São Paulo 1,6 milhão de doses e entregar os 4,6 milhões restantes. O estado vai continuar vacinando hoje, começando por 30 mil profissionais do Hospital das Clínicas, que devem estar imunizados até sexta-feira. A exigência do ministério na entrega de todas as doses do Butantan contrasta com a postura adotada durante os últimos meses pelo governo federal. Em outubro, Bolsonaro, que se referia à CoronaVac como “vacina da China”, desautorizou a compra do imunizante, anunciada na véspera por Pazuello. Ainda na semana passada o presidente ironizou a eficácia de 50,38% do imunizante. Mas a CoronaVac virou a única opção com o fiasco da importação frustrada de vacinas da Índia. Painel: “A decisão de João Doria de aplicar a primeira vacina neste domingo gerou mal-estar. Em grupo de WhatsApp de governadores, Wellington Dias (PT-PI) disse que a atitude foi lamentável. ‘O entendimento sempre foi o Brasil numa mesma data. Um estado coloca os demais como de segunda categoria’, escreveu. A insatisfação chegou a Eduardo Pazuello, que sentiu confiança para convidar governadores a um ato simbólico nesta segunda-feira.” (Folha) Autoridades e políticos de todos os matizes comemoraram a aprovação das vacinas. O presidente Jair Bolsonaro, porém, não se manifestou até o momento. Lauro Jardim: “O 7 x 1 de João Doria sobre Jair Bolsonaro ontem, no Dia D, aconteceu também nas redes sociais. No Twitter, nos posts que citavam Doria, as hashtgas que estiveram em evidência foram #adeusbolsonaro e #vemvacina — embora não houvesse nenhum movimento estruturado de apoio a Doria. A rede bolsonarista tentou levantar hashtags positivas como #bolsonoarotgulhodobrasil e #bolsonaroate2026, mas em vão, de acordo com um levantamento inédito da consultoria Bites.” (Globo) Em tempo, nem a Fiocruz nem o Butantan têm neste momento insumos para produzir as vacinas aqui. O instituto já usou os 600 litros recebidos da China, e a fundação ainda não tem data para receber o material. Ver João Doria na TV patrocinando a primeira aplicação da vacina no país não foi o único dissabor de Bolsonaro. Durante a reunião, transmitida ao vivo, em que decidiram a liberação das vacinas, diretores da Anvisa reafirmaram que não existe tratamento precoce nem remédios cientificamente comprovados, ao contrário do que apregoa o Ministério da Saúde. Paralelamente ao espetáculo midiático em torno da vacina, Manaus continua a sofrer com a falta de oxigênio para os doentes. Não faltam histórias trágicas, como a de Joecy Coelho da Silva, que morreu aos 83 anos, mesmo com parentes se revezando para bombear oxigênio manualmente. Empresas privadas e personalidades estão doando cilindros do gás para os hospitais amazonenses. O governo federal admitiu ao STF que sabia com detalhes da situação crítica do oxigênio em Manaus desde o dia 8, seis dias antes do colapso, mas não explicou porque não tomou providências. (Folha) Já a elite amazonense escapa da crise pagando até R$ 170 mil por UTIs aéreas que levem seus doentes para outros estados. (Globo) O problema é que também acabaram os jatinhos. (Intercept) E no dia em que o Brasil passou a ter oficialmente uma vacina, foram registrados 518 óbitos, elevando o total a 209.868, com média móvel de mortes nos últimos sete dias em 961, o que indica crescimento. Baleia Rossi (MDB-SP) e Arthur Lira (PP-AL), adversário na disputa pela presidência da Câmara, divergem em muitas coisas, mas têm muito em um comum. Um bom exemplo é a Proposta de Emenda Constitucional que determina a prisão após condenação em segunda instância. Nenhum dos dois a vê como prioridade. (Globo) Alexei Navalny, opositor russo envenenado em agosto de 2020 e tratado na Alemanha, voltou ontem à Rússia. Foi preso ainda no aeroporto. |
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