segunda-feira, 26 de outubro de 2020

Chile abraça um futuro sem a Constituição de Pinochet

 

Brasil


O Chile escolheu superar a herança mais pesada de Augusto Pinochet, a Constituição vigente. Os cidadãos aceitaram a oferta das instituições políticas de iniciar um caminho constituinte para canalizar o descontentamento, que explodiu em forma de protesto e violência há exatamente um ano, em outubro de 2019. Logo de imediato, os resultados iniciais confirmavam uma vitória esmagadora daqueles que querem mudar a carta fundamental: 78%, contra 22% que rejeitaram a ideia de substituí-la. O movimento chileno não é liderado pelas instituições clássicas, como partidos e sindicatos. Portanto, nenhuma força política poderia reivindicar uma vitória que, acima de tudo, foi protagonizada pelos cidadãos. De Santiago, a correspondente Rocío Montes narra como foi o dia de votação —com participação popular maior que a esperada—, conta como a notícia foi recebida e celebrada pela população e analisa os impactos dessa mudança para o futuro dos chilenos.

"Ante a total ingovernabilidade, uma classe política desprestigiada conseguiu finalmente fazer política e canalizar esse fenômeno multifacetado através de um processo constituinte, que significa transformar em palavras o gás lacrimogêneo, as balas de borracha, o incêndio de museus e igrejas. A violência pode continuar, mas cada vez mais reduzida e condenada por todos. Durará pouco", avalia historiadora chilena Sol Serrano, em entrevista sobre as consequências que o Chile deve colher dos protestos que resultaram na derrubada da Constituição de Pinochet.

E ainda nesta edição, reportagem especial de Daniela Mercier percorre a trajetória de Lélia Gonzalez (Belo Horizonte, 1935-1994), um dos maiores nomes do feminismo negro brasileiro e mundial. “Por que vocês precisam buscar uma referência nos Estados Unidos? Eu aprendo mais com Lélia Gonzalez do que vocês comigo”, resumiu Angela Davis, ícone norte-americano, ao visitar o Brasil em 2019. A abrangência e a atualidade de seu pensamento da mineira pode ser vista agora na coletânea Por um feminismo afro-latino-americano, lançada nesta segunda-feira pela editora Zahar. A obra reúne textos de 1975 a 1994, período que compreendeu o fortalecimento de movimentos sociais e a redemocratização, processos dos quais Gonzalez participou ativamente.  “É muito difícil aceitar que uma autora tão relevante, tão expressiva, tenha ficado no ocultamento por tanto tempo”, afirma a socióloga Flavia Rios, uma das organizadoras do novo livro e coautora de uma biografia da ativista.

Também trazemos mais um capítulo da série sobre os Estados Unidos que vai às urnas na próxima semana escolher quem comandará a Casa Branca pelos próximos quatro anos. A correspondente Amanda Mars percorreu, quatro anos depois, os condados dos três Estados-chave na vitória de Donald Trump em 2016 e nos quais Joe Biden joga suas fichas para ocupar a presidência. "Em um país de 330 milhões de habitantes, menos de 80.000 votos em um punhado de condados de Wisconsin, Michigan e Pensilvânia fez inclinar a balança para o republicano com margens que não chegavam a um por cento."


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